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Veterinária Atual Mensal / nº 68 / janeiro 2014 / 5(Continente) Revista profissional de medicina veterinária Entrevista Luís Montenegro: "as universidades têm de começar a fazer uma turma lecionada em inglês" Genética em suinicultura Oftalmologia veterinária: olhar mais longe

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VeterináriaAtual Mensal / nº 68 / janeiro 2014 / 5€ (Continente)

Revista profissional de medicina veterinária

—Entrevista Luís Montenegro:"as universidades têm de começar a fazer uma turmalecionada em inglês"

—Genética em suinicultura

Oftalmologiaveterinária:

olhar mais longe

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VeterináriaAtual

Animais de Produção

“A genética é um fatorindispensável para a produção atualde suínos”A evolução da genética nas últimas décadas tem sido fundamental para a suinicultura modernapermitindo, em conjunto com os avanços na nutrição, o aumento da produção de carne por porcainstalada, resultante de uma maior prolificidade, mas também de uma melhoria dos índices de con-versão e crescimento dos animais.

texto: emília freire

suinicultura – genética

João Santiago, gerente operacional do AIM – Centro de Insemi-nação do Litoral Alentejano, assegura que “a genética é um fa-tor indispensável para a produção atual de suínos, quer a nívelintensivo, como a nível extensivo”. Gonçalo Pimpão e FranciscoSepúlveda, respetivamente diretor-geral e diretor técnico da Topi-

de suinicultura, pois é nos animais que são utilizados todos osmeios disponíveis, recursos humanos, alimentos, medicamentos,instalações, energia, tudo roda em volta dos animais, pelo que omelhoramento genético é a base da suinicultura atual”.Também o médico veterinário Manuel Ferreira Joaquim, diretor daSustaurusvet, considera que “a genética, juntamente com a nutri-ção, são as duas áreas que permitem o aumento da produção decarne por porca instalada a que temos vindo a assistir nos últimostempos. Este aumento de carne produzida resulta não só de uma

anos 90 desmamávamos abaixo dos dez leitões por parto e umporco atingia um peso de abate quase aos sete meses, hoje as li-nhas genéticas modernas permitem desmamar acima de 11 e atin-gir o peso de abate por volta dos cinco meses e meio/seis meses”.O gerente operacional do AIM CIALA salienta que a genética é

-ce da descendência a nível de sanidade (doenças sexualmente

-nho médio diário, percentagem carne, qualidade cárnica e con-trolo da consanguinidade e homogeneidade dos animais (com a

-zido de varrascos)”. E os responsáveis da Topigs Portugal acres-centam que “através do melhoramento genético é possível reduziro Índice de Conversão Alimentar, aumentar a produtividade porreprodutora, aumentar a vitalidade dos animais e consequente-

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mente diminuir os custos de produção em geral”.-

cial é atualmente uma ferramenta disponível para qualquer suini-cultor (com uma exploração industrial ou familiar)”, frisando que“a compra de sémen representa 0,7% para os custos globais deuma exploração de suínos e pode condicionar o sucesso a nívelreprodutivo e produtivo”. Principalmente porque permite utilizar agenética/raça que melhor serve os interesses do produtor, a nívelda produção e comercialização. Evitando também a transmissãode doenças sexualmente transmissíveis, como é o caso da Au-jeszky, que Portugal se encontra atualmente num programa deerradicação.“A nível da reprodução, facilita todo o maneio reprodutivo, cons-tituição de maiores grupos de porcas (com monta natura um var-rasco cobre uma porca, com a inseminação podemos inseminarvarias porcas com mesmo varrasco), mais higiene, utilização de

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declarações à VETERINÁRIA ATUAL.

O responsável do AIM CIALA revela que “as inovações nas últi-mas três décadas têm sido enormes no que diz respeito à insemi-

todas essas evoluções/inovações”. Como curiosidade adianta:

processamento de doses seminais estamos à frente dos EstadosUnidos. Portugal tem um dos maiores centros de inseminaçãomultigenéticos da Península Ibérica, com a mais moderna tecno-logia e melhor equipa técnica e humana”.As últimas inovações que surgiram foram a Inseminação Pós-cervical e as colheitas de sémen automáticas, “que a AIM CIALAjá possui”, acrescenta. “Ao nível genético a evolução também temsido grande. De referir que a evolução genética é trabalhada anível das empresas de genética a nível mundial (que produzemvarrascos e fornecem os varrascos aos centros de inseminação)”,revela João Santiago.Enquanto Manuel Joaquim adianta que “as grandes inovações

crescimento dos animais e redução do índice de conversão”, mas“reforço mais uma vez que estas melhorias só se conseguiramexpressar porque houve igualmente um grande desenvolvimentoda nutrição e do maneio”. O diretor da Sustaurusvet, empresa quepresta serviços veterinários, considera que “no futuro prevê-seque estes índices continuem a melhorar, embora mais lentamente,o que vai permitir ao setor ser mais sustentável e responder aogrande repto, que é alimentar o cada vez maior número de pesso-as”. O médico veterinário salienta ainda que “a nível nacional háum excelente trabalho realizado com as raças autóctones, pelasassociações, nomeadamente o porco alentejano e o bísaro, nomesmo sentido de aumentar as suas produções e os tornar maissustentáveis”. (Ver Caixa)

“O produtor de suínostem atualmente, a nívelgenético, a opção à suamedida, produzir porcoscom a genética/raça quemelhor vá ao encontro dasua eficiência produtiva ede acordo com a procurano mercado e com aespecificidade requeridapelo consumidor”,João Santiago, gerente operacional do AIM CIALA

Raças autóctones concentram esforços naconservação—Existem três raças autóctones de suínos em Portugal– o Alentejano, o Bísaro e o Malhado de Alcobaça – ecomo têm efetivos reduzidos estão classificadascomo ameaçadas de extinção. Assim têm “comoprincipal preocupação a conservação dos efetivos eprincipalmente da diversidade genética existente, queserá de extrema importância para o melhoramentogenético”, explica Hugo Miguel Paixim, técnicoda Associação Nacional dos Criadores do PorcoAlentejano (ANCPA). Existe o Programa de Conservaçãoe Melhoramento Genético da Raça Porco Alentejano,que é gerido atualmente pelo AgrupamentoComplementar de Empresas do Porco Alentejano,A.C.E., mas os esforços concentram-se na conservação.No entanto, refere Hugo Paixim, “em paralelo comessa conservação trabalha-se no melhoramento quetem como principais objetivos avaliar e melhoraros seguintes parâmetros: prolificidade, número departos por ano, capacidade maternal, velocidade decrescimento e características da carcaça”.O PCMGA teve início em 2011 e dura até 2013,estando prevista depois a sua revisão e atualização,e nele participam todos os animais inscritos noLivro Genealógico, que atualmente conta comaproximadamente 5.800 porcas reprodutoras divididaspor 150 criadores. Em relação à raça Bísara, Carla Alves,secretária técnica da Associação Nacional de Criadoresde Suínos da Raça Bísara (ANCSUB), facultou-nos umdocumento onde se destaca que “o porco bísaro é umadas três raças autóctones nacionais, o que significaque é um património genético único e português. Talcomo qualquer tipo de património, seja material ouimaterial, é responsabilidade do Estado e de todos oscidadãos a sua conservação e, se possível, melhoraras suas condições. No caso das espécies e raças deanimais falamos de conservação e melhoramentogenético. Ou seja, de que forma podemos preservarou aumentar a variabilidade genética intra-racial”. Nomesmo documento adianta-se que “no caso particularda raça bísara, como tem um efetivo reduzido (3.200fêmeas reprodutoras e 315 machos reprodutores), fazmais sentido concentrar esforços para a conservação,do que para o melhoramento. É essencial, nesta fase,manter ou até aumentar a variabilidade genética dapopulação e reduzir a endogamia ou consanguinidade,que resulta dos emparelhamentos entre animaisque são parentes e que leva à perda irremediável degenes que já não vão ser adquiridos pelas geraçõesfuturas. A partir do momento em que já há algumasustentabilidade da variabilidade genética, então fazsentido melhorar características na raça, para que oscriadores tirem da sua exploração melhores proveitos”.

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Portugal na rota do melhoramento genético mundialPor seu lado, o diretor-geral e o diretor técnico da Topigs Portugalfrisam que “dado o constante intercâmbio de genes – principal-mente através da importação de doses de sémen – que existe en-tre Portugal e os vários núcleos genéticos da Topigs espalhadospela Europa, sendo que alguns desses núcleos estão localizadosem Portugal, a evolução genética ocorrida no nosso país está emlinha com a evolução genética dos principais países europeus,tais como a Holanda, França, Espanha e Alemanha”. E adiantam:“o melhoramento genético de uma das linhas maternas da Topigs,a linha A, é feito Portugal, em conjunto com Espanha e França.Esta linha A é uma linha com base em Large-White e que é carac-terizada pela sua robustez e maneio fácil em países de clima maisquente. Assim existem três explorações portuguesas localizadasno Alentejo que participam ativamente no programa de melhora-mento genético da Topigs, o que mostra a importância de Portugaldentro da empresa”.

-ína, estando ativa em mais de 50 países. Sobre o trabalho diárioda empresa em Portugal, Gonçalo Pimpão e Francisco Sepúlvedainformam que “a nossa missão é combinar o nosso conhecimen-to/experiência em seleção e melhoramento genético suíno, para

produto dos nossos clientes, atendendo também às necessidades

Assim, “o nosso trabalho baseia-se na produção e seleção diáriade reprodutores de alto nível genético, na distribuição destes ge-nes pelas explorações nacionais, pelo envio de animais e sémen

para as explorações suinícolas”.

AIM CIALA “surge em 1997 com um pequeno centro de insemina-ção em Santiago do Cacém com capacidade para 20 varrascos”.

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efetivo de 250 varrascos de diferentes genéticas e produz anual-mente mais de meio milhão de doses de sémen, fornecendo maisde 50% do mercado nacional. Assegura semanalmente (duas ve-zes por semana) a entrega a nível nacional das doses seminaisaos suinicultores e dá assistência técnica ao nível da reproduçãoa todos os seus clientes”. O Centro principal da empresa é emSantiago do Cacém (CIALA), mas tem outro na Benedita e umcentro satélite do CIALA em Vendas Novas.

Genética ‘aplicada’

como o presunto, o médico veterinário Manuel Joaquim explica-nos que “a genética permite selecionar da variação que há napopulação animais com uma perna maior e mais musculada, daí

maiores e mais musculadas. Estas linhas genéticas poderão inte-

fala em patas, pode estar a ser referido a quantidade de carne(por exemplo um presunto de raça bísara tem mais carne que umpresunto de raça alentejana, aqui entra o fator genético) ou alturada perna. O mais importante no presunto é a quantidade de gor-

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Animais de Produção

dura intramuscular (devido à raça utilizada no cruzamento) queconfere à carne sabor e tenrura e a qualidade da gordura (devidoà alimentação). Mas qualquer destes fatores, quantidade de car-ne, percentagem de gordura intramuscular e altura da perna édeterminado pela porca e pelo varrasco – opção genética”.

alguns exemplos: para a produção de leitão de assar é utilizadaa raça bísara, que confere qualidades gastronómicas; na carnevendida nos talhos é valorizada a percentagem de carne magra,existe uma raça vocacionada para essa característica; para pro-dução de carne com qualidade (sabor e tenrura) existe tambémuma ou mais raças indicadas para esse objetivo. “O produtor desuínos tem atualmente, a nível genético, a opção à sua medida,produzir porcos com a genética/raça que melhor vá ao encontro

O diretor-geral e o diretor técnico da Topigs frisam ainda que “em-

picos com um peso considerável nos objetivos de seleção é odo peso dos presuntos. Nos núcleos genéticos destas linhas daTopigs são feitas dissecções em matadouro de um animal de cadaninhada para avaliar exatamente estas características de qualida-de de carcaça, como são o peso dos presuntos ou a espessura dolombo. Assim, podemos selecionar como pais da próxima geraçãoaqueles animais cuja descendência tenha as características dequalidade de carcaça por nós desejadas”.Sobre possíveis perigos para a saúde dos animais pelo ‘mau’ usoou abuso da genética, os especialistas consideram que não existe:

“O único problema pode ser a consanguinidade, mas com dosesseminais vindas de um centro de inseminação é pouco provável”.E isto porque “os centros de inseminação não fazem qualquermanipulação genética, limitam-se a recolher sémen, processa-locom qualidade e distribui-lo. A nível das explorações também nãohá qualquer risco da má utilização da genética”.

“A genética, juntamentecom a nutrição, sãoas duas áreas quepermitem o aumentoda produção de carnepor porca instalada(…), este aumento decarne produzida resultanão só de uma maiorprolificidade, mastambém de uma melhorados índices de conversão ecrescimento dos animais”Manuel Ferreira Joaquim, médico veterinário, diretor da

Sustaurusvet

“As inovações nas últimastrês décadas têm sidoenormes no que dizrespeito à inseminaçãoartificial em suínos” e“Portugal acompanhaa par e passo todas essasevoluções/inovações”João Santiago, gerente operacional do AIM CIALA

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