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OFICINAS DE GESTÃO

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OFICINASDE

GESTÃO

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Oficinas de Gestão é uma publicação do Instituto Ethos, distribuída gratuitamente aos participantes da Conferência Internacional 2005 - Empresas e Responsabilidade Social.

Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade SocialRua Francisco Leitão, 469, 14º andar, conj. 1407Pinheiros, São Paulo, SP - 05414-020Tel.: (55 11) 3897-2400Fax: (55 11) 3897-2424www.ethos.org.br

Colaboradores do Instituto EthosBenjamin Gonçalves (coordenação e edição de texto), Leno F. Silva,Karinna Bidermann Forlenza (captação de patrocínio),Paulo Itacarambi, Tábata Villares (coordenação do evento)

Colaboradora voluntáriaNaia Hamasaki

Coordenadores voluntários das Oficinas de GestãoBeat Grüninger (B&SD Desenvolvimento Econômico e Social), Cláudio Boechat (Fundação Dom Cabral)e Eduardo de Souza Martins (Elabore Assessoria Estratégica em Meio Ambiente)

Participantes voluntários dos grupos de referênciaAdriana Perroni Balerini (Unimed do Brasil), Amadeu da Costa Rodrigues (Banco ABN Amro Real), Angélica Marquez (Bob’s), Carla Maria Neves Inácio (Amanco Brasil), CarlaMoscatelli (Banco ABN Amro Real), Carmem Lucia Canalli (Copel), César Fernandes (Comgás), Cristiane Samarra (Natura), Iranise Pedro (AxialPar), Isabel Vasconcellos(Instituto Telemig Celular), Janice Dias (Petrobras), João Bosco Reis da Silva (CST), Jorge Luiz Saldanha da Silva (Banco do Brasil), José Marcos Cessel (Elektro), José Oscivaldos Santos (Klabin), Juliana Cassita Andrigueto (Holcim), Karina Aguilar (Natura), Leonardo Gloor (Fundação Belgo), Liane Freire (Shell), Luiz Cláudio Ferreira Castro (CSN),Madelon Piana (Companhia Vale do Rio Doce), Marcelo Vespoli Takaoka (Y. Takaoka Empreendimentos), Marcos Bayton Egydio Martins (Instituto EcoFuturo), Maria GiselaGerotto (Comgás), Regina Zimmernann (Amanco Brasil), Rose Pinheiro (Bayer), Sérgio José Leite Dias (Samarco), Simone Guimarães (Shell), Sueme Mori Andrade (Embraco),Tomás Carvalhaes Carmona (Serasa), Umberto Caldeira Cinque (VCP) e Wagner de Siqueira Pinto (Banco do Brasil)

Tiragem: 1.000 exemplaresJunho de 2005

Esclarecimentos importantes sobre as atividades do Instituto Ethos:1. O trabalho de orientação às empresas é voluntário, sem nenhuma cobrança ou remuneração.2. Não fazemos consultoria e não credenciamos nem autorizamos profissionais a oferecer qualquer tipo de serviço em nosso nome.3. Não somos entidade certificadora de responsabilidade social nem fornecemos “selo” com essa função.4. Não permitimos que nenhuma entidade ou empresa (associada ou não) utilize a logomarca do Instituto Ethos sem nosso

consentimento prévio e expressa autorização por escrito.Para esclarecer alguma dúvida ou nos consultar sobre as atividades de apoio do Instituto Ethos, contate-nos, por favor, pelo serviço “Fale Conosco” do site www.ethos.org.br.

Impresso em Reciclato 90 g/m2 da Suzano Papel e Celulose, o offset brasileiro 100% reciclado.

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Apresentação

“Responsabilidade social empresarial é a forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os

quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando

recursos ambientais e culturais para gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais.”

Instituto Ethos

A s primeiras Oficinas de Gestão foram estruturadas pelo Instituto Ethos para a ConferênciaNacional 2004 - Empresas e Responsabilidade Social. Para prepará-las convidamos seiscoordenadores voluntários que, com a colaboração de dezenas de empresas, aceitaram o desafio

de sistematizar o aprendizado desenvolvido na adoção de práticas socialmente responsáveis nos processosde gestão. O resultado desse trabalho coletivo pode ser encontrado na publicação Processos Gerenciais —Responsabilidade Social Empresarial, que está sendo apresentada na Conferência deste ano para serutilizada como instrumento prático de incorporação dos princípios da responsabilidade social empresarialno cotidiano das organizações.

Com o mesmo intuito e utilizando a mesma metodologia, preparamos duas novas Oficinas de Gestão paraserem aplicadas nesta Conferência Internacional 2005 - uma sobre meio ambiente e outra sobre diálogos eparcerias com as partes interessadas. Além disso, reapresentamos a oficina sobre primeiros passos emresponsabilidade social empresarial, lançada no ano anterior e atualizada para este evento com estímulo aparcerias. O documento Oficinas de Gestão que ora apresentamos traz a síntese desses três trabalhos etambém pode ser utilizado como orientação na implementação de ações práticas nas empresas.

A oficina Gestão Ambiental para a Sustentabilidade, coordenada por Eduardo de Souza Martins, da ElaboreAssessoria Estratégica e Meio Ambiente, aborda o papel estratégico do gerenciamento das questõesambientais no planejamento voltado para o desenvolvimento sustentável, tratando das ferramentasutilizadas pelas empresas. Enfoca também questões conceituais sobre a inserção da gestão ambiental nasestratégias de fortalecimento dos tangíveis empresariais e sua repercussão prática no cotidiano dasempresas.

Conduzida por Cláudio Boechat, da Fundação Dom Cabral, a oficina Primeiros Passos em ResponsabilidadeSocial Empresarial procura abordar os principais desafios encarados por quem deseja iniciar uma gestãosocialmente responsável, em que a ética da parceria e os valores da solidariedade e da cooperação devemprevalecer nas práticas das empresas.

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A terceira oficina aqui apresentada trata dos Diálogos e Parcerias com as Partes Interessadas, sob acoordenação de Beat Grüninger, da B&SD Desenvolvimento Econômico e Social. Seu objetivo é promover aaproximação da empresa com suas partes interessadas pela prática de parcerias e diálogos efetivos.Procura também estabelecer fundamentos para um processo que atenda a exigências específicas e sebaseie num entendimento comum sobre o conceito de diálogo.

Este documento representa o esforço dos coordenadores e das empresas convidadas para compor os gruposde referência em apresentar um instrumento de reflexão para os participantes de cada oficina. Emborahouvesse uma estrutura de trabalho definida, cada grupo teve liberdade e autonomia para estruturar adinâmica da atividade de modo que o resultado expressasse as discussões, os dilemas levantados, assoluções encontradas e a vivência de cada um que participou do processo.

Agradecemos a todos que colaboraram para a realização deste trabalho, cujo conteúdo não pretende serum guia sobre como agir, mas um estímulo para que cada participante procure construir novos caminhosno seu dia-a-dia.

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Oficina de Gestão 1

Oficina de Gestão Ambientalpara a Sustentabilidade

Coordenação:Eduardo de Souza Martins (Elabore AssessoriaEstratégica em Meio Ambiente)Tel.: (61) 322-1006;e-mail: [email protected]

Apoio do Instituto Ethos:Tábata Villares Tel.: (11) 3897-2422;e-mail: [email protected]

Grupo de referência:

Amanco BrasilRegina Zimmernann, gerente de Engenharia deMateriais, Meio Ambiente, Saúde, Segurança eQualidadeTel.: (47) 461-7154;e-mail: [email protected]

AxialParIranise Pedro, gerenteTel.: (11) 5501-7778;e-mail: [email protected]

Compannhia Siderúrgica de Tubarão (CST)João Bosco Reis da Silva,especialista em Meio AmbienteTel.: (27) 3348-2091;e-mail: [email protected]

Companhia Siderúrgica Nacional (CSN)Luiz Cláudio Ferreira Castro, gerente-geral de Meio Ambiente e Garantia da QualidadeTels.: (24) 3344-6694 e (24) 3344-6565;e-mail: [email protected]

Instituto EcoFuturoMarcos Bayton Egydio Martins,diretor-superintendenteTel.: (11) 3037-9047;e-mail: [email protected]

KlabinJosé Oscival dos Santos,diretor de Meio Ambiente e EnergiaTel.: (11) 3046-5798;e-mail: [email protected]

NaturaKarina Aguilar, analista de Meio AmbienteTel.: (11) 4446-2696;e-mail: [email protected]

Samarco MineraçãoSérgio José Leite Dias,gerente institucional de Meio-ambienteTel.: (31) 3559-5179;e-mail: [email protected]

Votorantim Celulose e Papel (VCP)Umberto Caldeira Cinque,gerente de Meio Ambiente CorporativoTel.: (11) 3269-4387;e-mail: [email protected]

Y. Takaoka EmpreendimentosMarcelo Vespoli Takaoka, presidenteTel.: (11) 4133-3399;e-mail: [email protected]

1. Introdução

A gestão ambiental se converteu emdimensão definitiva dos negócios.Sua expressão vai desde a interação

do processo produtivo com os contextos maisimediatos relacionados com insumos e vizinhanças,geralmente tratado na obtenção da conformidadelegal, passa cada vez mais pelos instrumentos emecanismos financeiros, focados na redução deriscos, e alcança, no final da cadeia, o consumidor,que sinaliza com preocupações crescentes que vãoda qualidade do conteúdo dos produtos à qualidadesocioambiental dos processos produtivos.

A influência dos valores ambientais nosnegócios deve continuar se expandindo, como é ocaso da responsabilidade pós-consumo, que tem opotencial de melhorar muito a ecoeficiência dos

processos com o desenho de produtos e reciclagemde materiais. O cuidado do negócio com a cadeiaprodutiva pode gerar transformações importantesnas interações de fornecedores e prestadores deserviço, na escolha de materiais, no conceito deobsolescência e na relação com o consumidor.

No mesmo sentido apontam os balançossocioambientais, que evoluem como referênciaspara qualificar de forma dinâmica as externa-lidades geradas pelos negócios e as iniciativas desolução que têm como fundamento custos contá-beis ou não.

O desafio da produção ambientalmentesustentável projeta-se também como elementofundamental de sobrevivência e competitividadeempresarial para os anos que virão. Os impactosambientais adversos da implantação e ampliaçãode empreendimentos não são mais barganhadosapenas por geração de empregos e dinamização

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econômica. A evolução da qualidade ambiental ede vida não necessita ser contraditória com os objetivos dos negócios e suas repercussõeseconômicas.

Os próximos anos farão convergir ecologia eeconomia como ciências que tratam da mesmaquestão: o gerenciamento da escassez. A adoção eprática desses valores dependem das parcerias, doreconhecimento da interdependência e da capaci-dade de estabelecer cooperações com base emreciprocidades sinérgicas para realização de objeti-vos comuns. A finalidade desta oficina é compar-tilhar experiências e criar referências sobre as par-cerias para os processos e sistemas de gestãoambiental que possam ser multiplicadas.

2. Os desafios da sustentabili-dade ambiental

A sustentabilidade ambiental de umaempresa é resultado de um processo complexo deinterdependência, capaz de se ajustar às dinâmicasdos contextos, que opera tanto em sistemashierárquicos dos processos de comando e controlequanto nas lógicas da emergência, de baixo paracima.

No desenvolvimento de negócios, a susten-tabilidade ambiental depende da promoção deredes interinstitucionais integradas capazes de seadaptar e se readaptar em função de objetivoscomuns construídos com a participação social,buscando a melhoria permanente dos balançosfundamentais que garante a qualidade de vida.

O desafio é encontrar referências que bali-zem a condução dos negócios e contribuam para aconstrução de uma sociedade sustentável. Isso sedá por meio do uso eficiente dos recursos naturais,

da redução ou eliminação de emissões e resíduos,do aperfeiçoamento permanente baseado noestímulo da criatividade e introdução de inovações,da racionalização de custos e do atendimento dademanda que promova a competitividade, e dadisponibilização de informações socioambientaissobre os processos produtivos, suas fontes derecursos, suas destinações de resíduos e emissões.

O melhor caminho para a construção dasustentabilidade ambiental de um empreendimen-to é focar na centralidade do negócio (o mercado,o lucro, o fornecimento de matérias-primas, aescolha tecnológica, o processo produtivo, a logís-tica) e, com base nesses requerimentos, funda-mentar escolhas a partir de uma visão sistêmica eda avaliação das suas conseqüências para os ba-lanços considerados fundamentais. A escolha dosbalanços depende de cada contexto de atuação donegócio (local de atuação, setor produtivo ouestágio de evolução da empresa).

Várias questões podem exemplificar isso:

• Quanto e como os investimentos melho-ram a qualidade de vida do capitalhumano produtivo e de outros atoresenvolvidos direta e indiretamente?

• Em que dimensões e como as tecnologiase matérias-primas selecionadas poupamrecursos naturais?

• Qual é a melhor localização espacial paracontribuir com a integridade da paisageme a manutenção dos recursos hídricos?

Em geral, a maioria das empresas apresentacompromissos ambientais em suas políticascorporativas e divulga informações da sua atuaçãosocioambiental. Porém, quando as avaliações seorientam para verificar as práticas de interna-lização financeira das iniciativas ambientais ou demonitoramento ambiental das atividades, o

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número de empresas comprometidas é bem menor.Evoluir de um desejo de ser sustentável parapráticas que vão além do atendimento burocráticoda conformidade legal ou das certificações volunt-árias depende da inclusão de valores que permeiemtoda a estrutura gerencial e de operações daempresa. Sem educação e motivação de cada atorenvolvido na cadeia do negócio sobre os significa-dos ambientais das suas escolhas nos processos, aconstrução da sustentabilidade ficará comprometida.

3. O significado da parceria nagestão ambiental

A gestão ambiental sustentável não podeser assumida somente como o resultado daaplicação de tecnologias, do atendimento dasexigências legais, da obtenção de certificados e dosmodelos de gestão, mas como um processo culturaldas organizações produtivas, nas quais os valores eas atitudes são determinantes para o sucesso dosnegócios.

A expressão da cultura empresarial deve ser capaz de adotar e melhorar o desempenhoambiental das atividades produtivas de formapermanente e sintonizada com os contextos deatuação dos negócios. Assim encarada, aconstrução da sustentabilidade ambiental nuncaterá fórmula pronta, mas será fruto de um processode aperfeiçoamento constante, fundamentado norespeito às pessoas e ao ambiente natural, nainteração com as partes interessadas no negócio,no aprendizado contínuo e no reconhecimento deque nenhuma iniciativa econômica se faz ou seorganiza sem a interação com os outros.

Vem dessa interação a necessidade de moti-var, mobilizar e organizar parcerias. Para a gestãoambiental, os parceiros são essenciais. De forma

simplificada e sem ser exaustivos, podemos indicaras seguintes contribuições esperadas dos parceiros:

• Como consultores na realização de estudose análises, nas avaliações de pré-viabilidadee na obtenção da conformidade legal;

• No fornecimento de equipamentos eserviços de gestão ambiental relacionadoscom o processo produtivo e seu monito-ramento;

• Na escolha de tecnologias para melhoriado desempenho ambiental (materiais eenergia);

• Na capacitação e formação de gestoresambientais associados à cadeia produtiva;

• Na gestão de resíduos, reuso e reciclagem;

• Na solução de passivos ambientais;

• No manejo de paisagens, que inclui arecuperação e a conservação da biodi-versidade, do solo e dos recursos hídricos;

• Na promoção de redes de comunicaçãocom os públicos de interesse;

* No desenho e implementação de planos decontingência para situações de criseambiental;

• Nas ações voluntárias para melhoria dascondições socioambientais de vizinhanças;

• Na implementação de iniciativas de patro-cínio ambiental orientado para o forta-lecimento da imagem empresarial.

A relevância dessas atividades para osucesso dos negócios transforma as parcerias emtema estratégico: Como escolher os parceiros?Quais são os atributos do relacionamento? Comomelhorar continuamente a cooperação com oparceiro?

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4. Parcerias visando a sustentabilidade ambiental — diretrizes

O tema parcerias ambientais requerconsiderações sobre duas dimensões: a primeira dizrespeito ao objeto da aliança — a sustentabilidadeambiental; a segunda se refere aos valores-chave ea diretrizes para a construção de cooperaçõesverdadeiras e duradouras.

A sustentabilidade é um conceito que possi-bilita a aderência de todos os setores e atividades.Em desvantagem a essa universalidade, o conceitoganha muitas vezes destaque no discurso, mas nãoencontra correspondência na prática.

Tal condição transforma a sustentabilidadeambiental em conceito que depende de construçãosocial, do diálogo, da solução de conflitos e deconvencimentos entre as partes interessadas. Asustentabilidade assume significado efetivo quandodefine princípios, adota diretrizes e fixa parâmetrosque serão melhorados de forma contínua. Uma dasmaneiras de tratar o conceito pode ser o de trans-formar cada princípio da sustentabilidade emrelações que expressem os balanços ambientaisrelacionados aos processos envolvidos no negócio.Assim, além de apontar condições a ser melhoradas,a elas são associados indicadores e uma referênciade acompanhamento temporal.

Os balanços ambientais devem serescolhidos em função dos interesses das partesinteressadas e de suas interações e compreensãodos contextos socioambientais. A seguir sãoapresentados alguns exemplos:

a. Integridade dos processos naturais versusnecessidades humanas

O acesso aos recursos naturais e seucomprometimento devido aos processos de conver-são de paisagem e poluição impõem restrições quedevem ser praticadas com a alteração dos padrõesde consumo, combinadas com a racionalização douso de materiais e de energia e com a adoção detecnologias ecoeficientes. Esses limites e cuidadosdevem buscar a manutenção dos ciclos vitais eestar fundamentados na antecipação aos poten-ciais problemas, prevenindo escassez e precavendodesastres. A prática desse balanço não se baseiaem apartar a dimensão humana da dimensãonatural, mas sim no entendimento de pertenci-mento recíproco, na aceitação da dependência queimpõe limites.

b. Apropriação privada de recursos naturaisversus externalidades negativas coletivizadas

Atualmente a gestão ambiental é vista comosinônimo de conflito: num dos pólos está o privado,acessando recursos e mantendo suas atividades; nooutro, o interesse coletivo, reagindo às perdas ecomprometimentos de seu ambiente. Muitas vezessem interação adequada e sem mediação, esseconflito alimenta intermináveis disputas adminis-trativas e judiciais, que restringem investimentos ecomprometem vantagens competitivas.

A condução de um negócio necessita sercapaz de qualificar e quantificar suas externa-lidades e assumir iniciativas em conjunto com aspartes interessadas que signifiquem soluçõescompensatórias e mitigadoras e que atendam àsexpectativas do contexto. Esse processo nãodepende exclusivamente dos mecanismos formais,mas da obtenção de legitimidade social para atuarempresarialmente. Em geral a oferta de empregos emaior dinâmica econômica são insuficientes para a

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legitimação, como também são efêmeras asiniciativas de atendimento com apoios difusos epontuais. A perspectiva efetiva desse balanço é ada interdependência do negócio com os contextossocioambientais de sua cadeia produtiva.

c. Necessidades do presente versuscomprometimento da capacidade deatender à necessidade do futuro

Levamos séculos para introduzir de formasistemática a noção de limite, de finitude dosrecursos. Apesar do conceito estabelecido, nossosprocessos econômicos ainda não valoram essaslimitações, operando ora para acelerar o esgota-mento de recursos, ora na crença de que as solu-ções tecnológicas sempre serão capazes de suprir aevolução do consumo e solucionar suas conse-qüências ambientais. Essa situação sinaliza oaprofundamento dos desequilíbrios sociais, atri-buindo a segmentos e países papéis secundários desupridores de bens e serviços degradadores.

A adoção desse balanço depende deassumirmos o quanto fazemos parte do futuro e osignificado disso para as realizações humanas. Seassumíssemos a postura inconseqüente sugeridapela máxima de que “no futuro estaremos todosmortos”, o que seria das gerações mais novas comas quais convivemos? O que seria de empreen-dimentos que dependem de décadas para seviabilizar? Como organizar os fundamentos de umaempresa séria senão com a perspectiva de longoprazo? A consideração e a construção do futurofazem parte do nosso processo civilizatório. Cuidardo balanço entre o presente e o futuro depende daadoção do princípio da precaução. A precaução nãodeve se pautar na atitude paralisante diante dosriscos, mas nas escolhas conscientes em função daspossibilidades humanas e dos limites ambientais.

d. Indivíduo versus coletivo

O acesso à qualidade ambiental deve seruniversal. Os eventuais prejuízos ambientais a indi-víduos em decorrência do atendimento ao interessepúblico ou de iniciativas privadas devem ser repa-rados e compensados.

e. Áreas naturais ou restauradas versusáreas antropizadas

A intervenção humana alcança níveisincríveis de conversão dos ambientes naturais. Aprioridade deve ser para a manutenção decoberturas originais ou em sucessão natural.Porém, em muitos casos, a necessidade é deintervenção com caríssimos processos de restau-ração ou reabilitação. A manutenção de áreasnaturais cumpre os papéis de preservar populaçõesbiológicas, manter os ciclos da água e dosnutrientes e oferecer capacidade de armazena-mento de gases de efeito estufa e da diversidadebiológica para garantir recursos genéticos. Essebalanço deve ser buscado com a gestão depaisagem, harmonizando a manutenção de áreasverdes, ou naturais, a conservação dos mananciaishídricos e o manejo sustentado de recursos.

A implementação desses balançosdepende de parcerias as quais, para seremefetivadas, demandam cuidados que podem fazerdiferença. Vejamos:

• Seleção de parceiros – A escolha devecomeçar com a verificação dos potenciaisaliados, evoluir na construção gradual deconfiança e consolidar a relação noconhecimento recíproco e na identificaçãode objetivos.

• Clareza de papéis dos atores envolvidos -É comum, em condições de fragilidade do

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poder público e de carência de serviços ede infra-estrutura, o empreendedor assumircompromissos com investimentos e gestãode atividades públicas. Ou a sociedadeorganizada adotar o papel do setor público.Essas situações não costumam ser estáveise tendem a se desqualificar diante daprimeira crise. Para o estabelecimento dealianças, é fundamental a compreensão e orespeito pelo papel de cada agente social.As definições abaixo são algumas dentre asmuitas possíveis:

- Papel do setor público — Ao Executivo,Legislativo e Judiciário incumbe protegera sociedade e os bens coletivos, assegu-rar o acesso universal aos direitos sociaise aos serviços básicos e garantir o papelsocioambiental da atividade econômica.

- Papel da sociedade organizada — Aosambientalistas cabe a responsabilidadede fiscalizar, criticar e contribuir para amelhoria do desempenho ambiental doEstado e do setor privado, atuar naimplementação de estudos e na presta-ção de serviços visando ao aperfei-çoamento da gestão ambiental, e atuarcontra iniciativas que comprometam ointeresse público. As entidades ambien-talistas têm um amplo espectro deposicionamento e formas de atuação,todos importantes para defender ointeresse público e os bens coletivos.

- Papel do setor privado - O papel centraldas empresas é o de conceber e investirem negócios competitivos de forma res-ponsável, pagando seus impostos epromovendo a dinamização econômicanas suas áreas de atuação. O setor priva-do não deve e nem pode substituir opoder público, e suas práticas de respon-sabilidade socioambiental devem ser

inclusivas, promotoras da autonomia eestruturantes, evitando todas as formasde paternalismo e a filantropia pontual.

• Objetivos comuns — Uma parceria sefirma com base na clareza das intenções,no compartilhamento e na convergênciade visões e expectativas das partes inte-ressadas. Para os parceiros é fundamentalreconhecer a complementaridade e esco-lher objetivos que façam diferença, isto é,que signifiquem agregação de valor paraambos os lados. Na área ambiental, asempresas são, em geral, carentes desuporte e cooperação em diversos temas:solução de infra-estrutura e serviçosessenciais (como capacitação de pessoalem gestão ambiental, sistema de moni-toramento regional e destinação deresíduos); no desempenho ambiental dacadeia e supridores de matéria-prima; e nagestão da melhoria ou conservação daspaisagens afetadas pela atividade (orde-namento urbano e biodiversidade, porexemplo).

• Planejamento da parceria — Tem condiçõesde ocorrer depois de superadas as fases deconhecimento recíproco, verificação de ex-pectativas, definição do papel de cada partena cooperação e entendimento de aonde sepretende chegar. São muitos os caminhospara definir o planejamento de uma par-ceria, mas é fundamental estabelecer:

- Resultados e impactos — O desenho dasresultantes da aliança deve ser coerentecom o reforço das missões dos parceirose significar a melhoria dos balançosambientais estrategicamente escolhidos.

- Esforço de gestão — O compromisso efe-tivo com as parcerias requer tempo degestão para um relacionamento intensoe interlocutores bem definidos.

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- Aporte de meios — Além de recursosfinanceiros, a empresa deverá aportarcompetência humana e infra-estrutura.

- Definição de atividades — A naturezadas atividades pode ser bastante diversae incluir desde capacitação atéfinanciamento de obras e compra deequipamentos.

- Acompanhamento das atividades — Oprojeto deve ser desenhado para avaliaro alcance dos resultados e verificar osimpactos pretendidos.

• Avaliação permanente e transparência —Necessitam ser combinadas na fase doplanejamento e dispor de atividades queconsiderem os seguintes aspectos:

- Escolha de indicadores de resultado e deimpacto padronizados e comparáveiscom iniciativas similares.

- Forma de verificação que compartilheresponsabilidades dos parceiros e, sepossível, inclua uma avaliação indepen-dente (auditoria externa).

- Disponibilização de informações organi-zadas e sistemáticas para os públicos deinteresse da parceria.

- Esclarecimento de como os resultadospoderão ser apropriados em relatórios emateriais veiculados com a finalidade depromoção de relacionamento, propa-ganda ou marketing.

5. A prática da parceria naconstrução da sustentabili-dade ambiental

Adotando o ciclo comum de negócios, otema das parcerias para gestão ambiental serátratado a seguir em cada grande etapa, identi-ficando as práticas dominantes, suas conse-qüências e as oportunidades para melhoria dedesempenho ambiental com base na cooperaçãocom parceiros.

5.1. Concepção e desenvolvimento de

negócios

Novos empreendimentos e expansõesgeralmente demandam cuidados especiais com osaspectos ambientais. Mesmo sem a definição dedetalhes, a concepção e o desenvolvimento doempreendimento parte de um conjunto de refe-rências tais como oportunidade de mercado,expectativas favoráveis de logística e alternativasde caminhos tecnológicos. Em geral é nessespontos que os empreendedores concentram suasvantagens competitivas. Apesar de essenciais parao sucesso das iniciativas, esses aspectos isola-damente são insuficientes para quem busca asustentabilidade. Para a dimensão ambiental,outras questões merecem atenção na fase deconcepção de negócios:

• O ambiente tem capacidade para suportarnovos impactos decorrentes do negócioem desenvolvimento?

• A oferta de infra-estrutura coletiva, deserviços básicos, e as condições do poderpúblico são capazes de atender o aumentode demanda decorrente do novo negócio?

• Quem são os atores sociais do contextopotencialmente interessados no empreen-dimento? Quais os seus valores? Como se

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organizam, se expressam e se comunicam?Quais são suas expectativas e motivaçõesem torno da qualidade de vida e daintegridade ambiental do lugar? Quais aspotenciais parcerias com a iniciativaempresarial?

• Quais os pontos ambientalmente sensíveisdo negócio em concepção? Existem alter-nativas para eliminá-los, reduzir seusefeitos adversos ou compensá-los? Quaisos melhores caminhos para dar trans-parência a esses pontos e como tratá-losno processo formal e com as partesinteressadas?

• Como o conjunto das respostas acimapode afetar o conceito, a localização, aengenharia, a escolha tecnológica, osriscos, as contingências financeiras e ofuturo desenho de gestão do negócio?

São dois os tipos de parceiros nessa fase:O primeiro tem caráter de consultoria estratégica edeve conhecer a realidade do contexto, o negócio,o arcabouço normativo e o processo decisório dopotencial empreendedor. O esforço da análiseambiental na pré-viabilidade deve se concentrarem estabelecer um conjunto de interpretações eimplicações para o negócio que subsidie a tomadade decisão para o seu desenvolvimento. Elas serãofundamentais para oferecer diretrizes para oequacionamento da locação, definição de demandade infra-estrutura e serviços, requerimentos paraengenharia, indicações para os estudos de impactoambiental, solução de suprimentos, procedimentoslegais a ser atendidos e endereçamento dasdemandas potenciais das outras parcerias.

Vale ressaltar que, embora essenciais, amaioria dessas questões não pode ser atendidacom os meios exclusivos do empreendedor.

Neste ponto deve ser tratado o segundotipo de parceiros na fase de concepção — os

parceiros potenciais. Daqui devem nascer aidentificação das parcerias, as quais, caso o projetoseja instalado, devem ser fundamentais paraalcançar objetivos comuns. Para a identificação deoportunidades de parcerias ambientais, o empreen-dedor deve ter consciência do conjunto de aspectosambientais essenciais e relevantes para a susten-tabilidade do negócio, o qual não pode ser conduzidocom os meios e mecanismos exclusivos da empresa.

Uma lista de exemplos pode ser esclarece-dora, no caso de grandes projetos que impliquemconsumo intensivo de insumos e de energia:

• O saneamento básico, para oferecerqualidade de vida aos funcionários;

• A conservação da biodiversidade no entor-no, fundamental inclusive para manter osmananciais de água;

• O monitoramento ambiental integrado daregião, para diferenciar fontes e garantir acapacidade de suporte da atmosfera;

• A destinação adequada dos resíduos.

A escolha dos parceiros deve considerar asmelhores cooperações para agregar valor tantopara o negócio quanto para os contextosenvolvidos em toda a cadeia. Na fase de implan-tação e expansão, em geral, a empresa está embusca de legitimar os investimentos, tanto nadimensão formal quanto na social. Em muitoscasos, nessas situações o melhor é:

• Mostrar que a empresa possui uma histó-ria de parcerias;

• Indicar que tipo e para que se pretendeformar parcerias;

• Indicar quais as expectativas de atributosdos parceiros desejados;

• Informar como e quando as parceriasserão construídas.

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Diálogo com a comunidade

Empresa líder no setor de mineração estádesenvolvendo novo projeto em região de poucainfra-estrutura e baixo nível deinstitucionalização do poder público. Suaatuação produtiva é prevista por décadas e oempreendimento tem potencial para alterarprofundamente o contexto local, cujacomunidade vive do extrativismo e enfrenta asdificuldades da fronteira de expansão agrícola.

Para lidar com o desafio da transparência oprojeto foi levado para discussão com dezenasde comunidades do entorno do projeto, emlinguagem acessível e mostrando as vantagens edesvantagens da iniciativa.

Os comentários, críticas e sugestões foramincorporados ao planejamento da implantação,empregados na solução dos compromissos decompensação exigidos para obtenção daconformidade legal e articulados com osinstrumentos de responsabilidadesocioambiental da companhia. O processopermitiu conhecer os atores sociais, suasorganizações e definir as oportunidades e osdesafios para a construção de uma parceria delongo prazo.

O portfolio de parcerias e seus resultadosdevem fazer parte dos argumentos de umaempresa em processo de expansão, ou implanta-ção, para justificar seus compromissos socioam-bientais. No entanto, nessa fase a escolha de novosparceiros pode ser confundida com o processo deobtenção de apoios sociais para expansão.

5.2. Operação de negócios

Uma vez implantado, o negócio deveorientar suas parcerias para agregar valor tantopara os acionistas quanto para os contextossocioambientais. Os benefícios buscados podem serexemplificados pelos seguintes ganhos:

• Conquista e permanência nos mercados— Cada vez mais exigentes quanto à quali-dade ambiental de produtos, processos deprodução e vida residual pós-consumo, osconsumidores ditam uma nova regramercadológica na qual o “ambientalmenteamigável” é reconhecido como valor realna cadeia de consumo. Os desempenhosde processos e produtos só se tornampossíveis com parcerias, tanto na área deserviços para gestão quanto no supri-mento adequado de insumos.

Parceria com Fornecedores

Atuando na sensível área de acesso àbiodiversidade, a empresa teve a capacidade deorganizar extrativistas como fornecedores. O desafio foi superado com investimentos nomanejo sustentável do extrativismo das espéciesexploradas, na remuneração justa pelos insumosfornecidos, na melhoria da qualidade dos ativosnaturais produzidos, na repartição dosbenefícios gerados pelo negócio em virtude doacesso aos recursos naturais, no pagamentopelo uso de imagens destinadas àcomercialização e divulgação da iniciativa, eainda no patrocínio de projetos dedesenvolvimento local. Baseada nessesuprimento de ativos naturais a empresadesenvolveu uma linha de produtos sustentáveisconcebidos para ocupar novos mercados efortalecer a imagem institucional desustentabilidade.

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• Ecoeficiência — Redução e controle decustos são um dos principais elementos desobrevivência. As melhorias de processofocadas nesse conceito (prevenção depoluição na fonte, com controle de perdase desperdícios, gerando menores consumosespecíficos de matérias-primas, de água ede energia por tonelada produzida) ajudamna economia de matérias-primas e energia,contribuem para a redução de custos demanutenção e melhoram os rendimentosindustriais, além de atuarem diretamentena redução dos custos relacionados com otratamento das emissões de poluentes e deresíduos e com as ações de remediação depassivos ambientais. Além da “parceriainterna” para a gestão ambiental, a ecoe-ficiência depende de acesso a tecnologias emanutenção de equipamentos, suprimentose serviços essenciais.

Educação ambiental

Diversas empresas investem na educaçãoambiental de seus funcionários. As estratégiasem geral contextualizam a atuação de cadapessoa no processo e esclarece sobre as linhasde conseqüências ambientais e de custos para aempresa. Essas abordagens contínuas, comenvolvimento de toda a empresa, com apoio detodos os setores e avaliadas de forma constante,têm permitido criar atitudes e soluções com osseguintes resultados:

• Coleta, armazenamento, reutilização edestinação adequada de resíduos;

• Redução de ocorrências ambientais;

• Redução de emissões;

• Redução no consumo de água e energia;

• Redução de custos por unidade produzida.

• Acesso a capital — A capacidade de ala-vancagem perante as entidades de finan-ciamento nacionais e internacionais estácada vez mais intimamente ligada àcapacidade de demonstrar responsabili-dade ambiental e ser reconhecida pelodesempenho socioambiental. A conformi-dade ambiental legal é verificada pelasinstituições financeiras mediante audi-torias, nas quais as evidências das boaspráticas e de enquadramento legal são mi-nuciosamente conferidas. A aceitação so-cial é verificada pelo nível dos conflitosinstalados e pelas soluções encontradas. Oobjetivo disso é, obviamente, a redução dorisco de empréstimo para o agente financia-dor, que entende que passivos ambientaisgerados pelo projeto podem, em última análise, comprometer a saúde financeira dotomador.

• Valor dos papéis — Índices diferenciadosde empresas que operam de formasocioambientalmente responsável de-monstram que seu valor no mercado deações é superior. Em geral, a valorizaçãoestá relacionada à redução de riscos deconformidade legal, a cuidados de gestãoque reduzem a possibilidade de acidentese à promoção e cuidado com os contextosda cadeia produtiva, os quais minimizamos conflitos socioambientais. Além dosriscos, também se considera que os inves-timentos em meio ambiente e em respon-sabilidade social empresarial refletem asolidez da empresa (só estão aptas abuscar o triple bottom line —resultadofinanceiro, social e ambiental —as empre-sas que têm negócios sólidos, capacidadeprodutiva e organização). Se o mercado deativos valoriza esses perfis de empresa, asparcerias que contribuem para sua cons-trução também fazem parte da formaçãode valor dos papéis no mercado.

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• Imagem e reputação corporativa. O quea empresa faz para construir suaimagem perante seus públicos deinteresse, ou a visão que o público temde sua atuação, é cada vez maisassociado ao desempenho ambiental esocial. Não há hoje grandes marcas quesobrevivam sem boas práticas ambien-tais e sociais. Empresas que atuam nocenário brasileiro e internacional experi-mentaram fortes ameaças e, em algunscasos, até mesmo a extinção de suasmarcas em decorrência de práticasinadequadas ou inseguras. Por mais quea empresa faça seu dever de casa quantoà comunicação e propaganda, sua repu-tação só se consolidará com base noposicionamento de vários formadores deopinião, dentre eles um grande contin-gente em condições de emitir avaliaçõesde forma independente. A coerência dacomunicação e o testemunho de parceiroscom credibilidade são decisivos paraformar uma boa reputação socioambiental.

Para todos os ganhos da empresa deveexistir uma correspondência de vantagens para oparceiro, as quais podem ser resumidas em:

• Suporte financeiro — Os recursos envol-vidos devem ser coerentes com os custosdas atividades, as remunerações de pes-soal devem guardar coerência com custosde mercado e as diferenças positivas deorçamento devem ter previsão de forta-lecimento e consolidação institucional. Osapoios devem comportar o fortalecimentodo parceiro visando sua autonomia ediversificação de fontes de suporte.

• Fortalecimento institucional — Noâmbito da parceria, o fortalecimento deveser percebido de forma ampla, incluindo,se necessário, a solução de passivosformais, a capacitação para gestão, amelhoria de infra-estrutura, o planeja-mento estratégico e a diversificação deparcerias.

• Expansão de atuação — A consolidaçãoinstitucional depende de um alcance quemuitas vezes significa aumentar a atuaçãonos assuntos de interesse. Quando existeconvergência entre empresa e parceiro noque se refere a públicos e áreas de interes-se, as possibilidades de expansão são bem-vindas.

Parcerias em favor da imagem

O futuro da unidade dependia de expansão em plena área de Mata Atlântica. A empresa investiu naprodução de conhecimento sobre a reconversão de áreas degradadas, criando modelos de restauraçãode florestas que utilizam até 150 espécies nativas. Os modelos de regeneração se transformaram emreferências para a região e permitiram os compromissos de restauração de áreas degradadas depequenos produtores rurais do entorno.

O resultado esperado é que, para cada hectare em que houve interferência pelo processo produtivo,pelo menos dez sejam recuperados. As parcerias com unidades de pesquisa, produtores, ambientalistase poder público formaram um “estoque de boa vontade” que foi fundamental para a empresa obter aslicenças ambientais e a aceitação social para continuar operando e contribuindo para a melhoriaambiental da região.

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• Criação de competência — Uma parceriabem-sucedida gera capacitação, conhe-cimento e estruturação de meios parasolução de problemas que são importantesem diversas situações.

5.3. Encerramento de atividades

Alguns negócios, principalmente os queutilizam recursos naturais não renováveis, têm seuencerramento planejado; outros são encerrados porcircunstâncias e conveniências. Porém, pelo menospara efeito de avaliação econômica, todos osprojetos prevêem um tempo de existência. Prepararo encerramento de um empreendimento, ou deuma unidade, é essencial para uma relação respon-sável com o local e seus agentes sociais. Na reali-dade, o encerramento será mais conseqüente econsistente quanto maior for o cuidado com seuplanejamento. Para a área ambiental, são relevantes:

• Levantamento adequado de passivosambientais, atuais ou potenciais, derivadosdo tempo de funcionamento ou encerra-mento da unidade;

• Estudo de alternativas para reorientaçãodos fornecedores de serviços e insumos;

• Estudo de reaproveitamento ou recon-versão de espaços e infra-estrutura;

• Avaliação e preparação do capital humanopara lidar com a nova realidade;

• Sistematização do processo de encerramen-to com as parcerias e meios necessários.

Raros são os negócios que fazem previsãode contingência para o encerramento. Também asprevisões formais de contribuições obrigatóriaspara lidar com o fim de atividades econômicas sãopouco efetivas para preparar os contextos paradiversificar suas atividades e minimizar os efeitosdecorrentes desse processo.

A parceria no encerramento é funda-mental. Vejamos:

• Com antecedência, deve-se incentivar opoder público a orientar parte dos recursosarrecadados com a atividade para diversi-ficação econômica;

• A recuperação ou reconversão de áreasutilizadas nos processos produtivosdepende do poder público e dos empreen-dedores para dinamizar novas iniciativas;

• A recolocação de pessoal dedicado àgestão ambiental está condicionada àcapacitação, à identificação de alternati-vas de ocupação na área e à indução denovas atividades econômicas;

• O equacionamento de passivos ambientaispode envolver ações de longo prazo, com aparticipação de consultores e prestadoresde serviço em gestão, e o acompanhamen-to do poder público.

Solução para o encerramento

Uma antiga mineração em contexto periurbanotransformou seu encerramento em oportunidadede alternativa econômica e solução para oproblema de abastecimento de água. Algumasminerações dependem, para seu funcionamento, docontrole de áreas relativamente grandes; encerradaa exploração, esses espaços podem cumprir papéisimportantes na criação de alternativas de lazer e deserviços para dinamizar a economia local.

Além do uso alternativo do espaço, a cava minera-da se converteu em importante reservatório deágua para servir de estoque estratégico para supri-mento de um grande centro urbano. Para comple-tar a solução, a posição da cava permite suprirdiversas demandas sem necessidade de bombea-mento, utilizando somente a força da gravidade. A solução só foi possível com alianças locais e com o poder público.

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Coordenação:Cláudio Boechat (Fundação Dom Cabral)Tel. : (31) 3589-7377 e-mail: [email protected]

Apoio do Instituto Ethos:Tábata Villares Tel.: (11) 3897-2422e-mail: [email protected]

Grupo de referência:

Bob’sAngélica Marquez, coordenadora deResponsabilidade SocialTel.: (21) 8162-7013e-mail: [email protected]

CopelCarmem Lucia Canalli, assistente de gerênciaTel.: (41) 331-2314e-mail: [email protected]

Companhia Vale do Rio DoceMadelon Piana, gerente de ComunicaçãoTel.: (31) 3279-5526e-mail: [email protected]

Instituto Telemig CelularIsabel Vasconcellos, gerente de Projetos SociaisTel.: (31) 3259-4456e-mail: [email protected]

Unimed do BrasilAdriana Perroni Balerini, consultora deResponsabilidade SocialTel.: (11) 3265-9747e-mail: [email protected]

Oficina de Gestão 2

Primeiros Passos em Responsabilidade Social Empresarial,com Estímulo a Parcerias

Introdução

“Parceria é um tipo especial de relação de cooperação em que as partes envolvidas, apoiadas na confiança e na transparência de intenções e atos,

compartilham princípios e valores e coordenam suas ações de modo a alcançarobjetivos definidos em comum acordo. Em uma parceria não apenas os custos

e benefícios são compartilhados. A participação equilibrada dos parceiros em todo o processo, do estabelecimento das regras que o presidem ao desenho

do plano e execução das atividades, é condição indispensável para o sucesso dos propósitos e manutenção da parceria. A parceria não é apenas uma

forma inteligente de melhor aproveitamento dos recursos e ampliação dos impactos das ações. É, antes de tudo, uma condição para construirmos

uma sociedade sustentável apoiada em relações justas e democráticas.”

Instituto Ethos

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Q ualquer que seja o porte de umaempresa, sua criação é sempre umfato marcante na vida de seus

fundadores. Eles imprimem à nova organização seujeito de ser, o que eles acreditam ser a boa formade explorar uma oportunidade de negócios. Oempreendedor é um guerreiro, quer conquistar,fazer acontecer. Guerreiros lutam às vezes porideais, outras por posses, ou mesmo por suasobrevivência.

Porém, pelo simples existir, a empresacongrega pessoas que passam a trabalhar para essaidéia inicial, estabelece relações com clientes,fornecedores, governo local. Influencia a vidasocial em seu entorno e, se vier a crescer, verá suainfluência aumentar e alcançar esferas cada vezmais distantes e abrangentes.

Naqueles momentos iniciais, forja-se apersonalidade da empresa nascente, reflexo daconsciência de sua serventia. Toda a trajetória danova organização vai depender da força da energiadessa mensagem inicial. Uma empresa só seestabelece, cresce e dá lucro quando atende aalguma necessidade humana, seja ela básica ousofisticada, voltada para a sobrevivência físicamesmo das pessoas ou para a realização de seussonhos e desejos. Então, qual a origem da existên-cia da empresa? O lucro é a justa e necessáriaremuneração do empreendedor por sua iniciativa,pelos riscos que assume. Mas ele só virá se osprodutos forem desejados, vendidos e consumidos,e se a empresa for respeitada e admirada. O balan-ceamento entre os ganhos dos empreendedores edos demais interessados é a questão a ser perma-nentemente resolvida.

O que é o começo da gestãoda responsabilidade socialempresarial (RSE) com estímulo a parcerias?

Por ser a resposta sistematizada da empresaàs demandas que vão além das originadas de suasrelações de mercado, a RSE está presente em maiorou menor grau na sua vida cotidiana, dependendodos valores praticados pelos que a lideram e arepresentam. Uma empresa com valores muito fo-cados em si mesma e nos ganhos que seus proprie-tários podem auferir tende a ter pouca noção desua importância para as partes que não se inseremnas regras de mercado. Empresas nessa situaçãotêm ações isoladas em seu relacionamento com asociedade e com a natureza. Usualmente essasações são desconectadas da estratégia e dosmétodos de gestão, e não refletem os princípios deparceria.

Em outro caso estão as empresas quedesde seu surgimento têm grande preocupaçãocom os empregados, com sua atuação ética nomercado, com o desenvolvimento das comunidadesvizinhas e da sociedade e com a preservação doplaneta. Seus fatores de sucesso incluem o com-prometimento dos empregados, relacionamentosconstrutivos com fornecedores, sua aceitação pelasorganizações de seu entorno e a pré-disposiçãopara atuar em parcerias. As ações dessas empresassão transparentes, são o seu jeito de ser. Mesmonesse caso, a gestão formal da empresa pode nãointegrar a RSE. Assim sendo, a RSE fica sujeita ariscos futuros de descaracterização pela naturaldeterioração das coisas não cuidadas.

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Por que começar?

Empresas são seres vivos e sociais. Vivemem sociedade, estabelecendo relações com outrasentidades para fazer seus negócios, manter-se emuma comunidade, cuidar das condições de trabalhoe de realização das pessoas que para ela dedicamparte de sua vida.

Quando a empresa, por iniciativa própriaou por cumplicidade inconsciente, adota umaatitude que desequilibra essas relações, as outraspartes interessadas se manifestam e tentam resta-belecer o equilíbrio. O inverso também é válido: aempresa pressiona as outras partes quando umadelas causa desequilíbrio no relacionamento. Ouseja, a pressão das partes interessadas é um moti-vador bastante comum para se iniciar a implemen-tação da RSE.

Ao mesmo tempo, estar integrada sauda-velmente ao ambiente em que vive prepara aempresa para se manter no negócio por tempoindeterminado. Nesse caso, há um interessenegocial, de formação de uma boa imagem que lheforneça uma legítima licença para operar, conferi-da formal ou informalmente pelas partes interes-sadas e entendida como criação de um ambientesaudável e propício para os negócios, em que todasas instâncias interessadas ou atingidas pela ativi-dade empresarial sejam contempladas e correta-mente harmonizadas.

Parceria, solidariedade ecooperação desde osprimeiros passos

Considerando a realidade de um ambientede negócios cada vez mais influenciado pelas ques-tões sociais e ambientais, a reflexão sobre aspotencialidades da articulação de parcerias para aconstrução de uma sociedade sustentável e o papelsinérgico exercido pelas redes deve permear osprimeiros passos. No mundo inteiro, com efeito,empresas e organizações empresariais têm seengajado no processo de articulação de redes deparceria como ferramenta das políticas e práticasde gestão socialmente responsável, construindo oureforçando um autêntico patrimônio de valorescompartilhados, especialmente focado na promo-ção da solidariedade e da cooperação.

Sob esta ótica, os primeiros passos da RSEjá deverão incorporar os valores da cooperação eda parceria como etapa primordial da jornada desensibilização da comunidade empresarial e deconsolidação de uma nova visão de mundo, ampa-rada por referências éticas e abordagens sistêmicas.Uma “ética da parceria” edificada desde osprimeiros passos transformar-se-á, dessa forma,numa autêntica ferramenta de gestão, dentro deuma cultura empresarial socialmente responsável eorientada para o desenvolvimento sustentável.

Quais são os passos seguintes?

Dados os primeiros passos, muitas pessoasdentro da empresa estarão engajadas no fortale-cimento da empresa responsável, que busca suaprópria sustentabilidade e ao mesmo tempo a sus-tentabilidade das partes interessadas. Nessa situa-ção, o trabalho a realizar é o de dar consistência àsações da empresa, aproximando-as do comporta-mento ético e transparente, fortalecendo vínculosmútuos com as partes interessadas e aumentandosua eficácia por meio do permanente aprimora-mento de sua gestão.

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Desafios dosPrimeiros Passos

I ndependentemente da personalidadeda empresa ou do momento vivido por ela, os primeiros passos sempre

apresentam desafios para quem se dispõe a trilhá-los. Seis desses desafios foram selecionados paraeste texto, com base na verificação da experiênciade algumas empresas que participaram de suaconstrução.

Os iniciadores podem decidir enfrentá-lostodos ao mesmo tempo ou escolher um deles eestabelecê-lo como ponto de partida para encararos demais. A ordem em que os desafios estão colo-cados não pretende enfatizar uma prioridade, poiscada empresa demanda uma atuação diferenciadaem função do momento em que se encontra.

Desafio 1: sensibilizar e motivar a liderança

Nos primeiros passos para a incorporaçãoda gestão socialmente responsável nas empresas, aliderança geralmente é o fator que impulsiona asações de forma consistente. Historiadores, psicó-logos e sociólogos têm sempre estudado os líderescomo um fenômeno social da mais alta relevância.Uma das mais consistentes constatações é que aliderança depende da situação específica, da tarefaa ser realizada e das características dos subor-dinados ao líder.

Edgar Schein1 propõe uma categorizaçãodos tipos de liderança, conformada aos momentosdo ciclo de vida de uma organização. Assim:

• para criar uma empresa, o líder aparececomo um animador — com sua energia

pessoal ele enfrenta dificuldades, perse-gue alternativas, dá vida a uma organiza-ção que está em seu sonho;

• quando a organização já possui potencialpara viver e sobreviver, o líder se dedica aconstruir, e atua como criador de cultura;as crenças, os valores e as premissasmaiores do empresário são transmitidosaos modelos conceituais dos subordinados(só contratam pessoas que pensam comoeles, doutrinam e socializam os subordina-dos, utilizam seu próprio comportamentopara estimularem seus subordinados a agircomo eles);

• a organização de sucesso deixa sua juven-tude exposta a grande concorrência eprecisa se estabilizar para manter suasconquistas; nesta fase, a liderança tende ase desligar do líder fundador, gerentesprofissionais passam a influenciar na cul-tura para consolidar os elementos neces-sários para manter o crescimento — o líderé um sustentador da cultura;

• quando mudanças nas empresas sãoimpostas pelas mudanças externas, surgeo líder como agente de mudança, ensi-nando a empresa a desaprender o que nãoé mais necessário.

É necessário, portanto, ter claro o momen-to de vida da empresa para identificar que tipo deliderança está em vigor e traçar estratégias paraseu engajamento. Por outro lado, uma autênticapré-disposição do líder para agir em parceria comdiferentes atores requer dele a valorização da éticae da cooperação em todas dimensões de sua vida.

A liderança é exercida de maneiras diferen-tes, dependendo da estruturação organizacional

1 Em O Líder do Futuro, Peter Drucker Foundation, Editora Futura.

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mais adequada aos negócios da empresa. De umaforma geral e simplificada, a liderança pode ser maiscentralizada (como em empresas com operaçãolocalizada, em pequenas e médias empresas emesmo nas grandes empresas em época de altosriscos ou crises) ou mais descentralizada (como nasempresas com operação geograficamente espalha-da, nas grandes empresas e nas redes de empresasem esquema de franquia).

Outra característica que distingue asdiferentes formas de liderança é sua funda-mentação, ou seja, o fato que faz com que osseguidores legitimem uma liderança. Mais uma vezsimplificadamente, pode-se dizer que, nas empre-sas em que o “dono” é claramente identificado eatua no direcionamento das operações (seja direta-mente ou por meio de uma governança efetiva), afundamentação da liderança é a propriedade. Emoutros tipos de organização, porém, a liderança sedá por uma legitimação formal e compartilhada, naforma de eleição. É o caso das cooperativas. Apopularidade, entendida como a aceitação de umlíder que se dá por carisma e personalidade, é outrafundamentação.

Para sensibilizar a liderança, devem-seidentificar motivações legítimas que justifiquem aimplementação da RSE e mostrar resultados possí-veis de serem alcançados (dimensão, timing) -normalmente não basta sensibilizar garantindo,por exemplo, melhoria de imagem e aumento ime-diato de lucros.

Para mobilizar a liderança para o propósitoda implantação da RSE, portanto, é preciso analisaras características com que ela se manifesta naempresa, considerando:

• o momento vivido pela empresa no seuciclo de vida — cada tipo de líder(animador, criador de cultura, sustentadorde cultura ou agente de mudança) requeruma estratégia de sensibilização diferente;

• a estruturação mais centralizada oudescentralizada da empresa — que confor-ma lideranças igualmente mais centrali-zadas ou descentralizadas;

• a fundamentação da liderança — se é con-seqüência da propriedade ou da popula-ridade;

• o que motiva a liderança a agir.

Sensibilizar a alta administração é sempreum grande desafio; o processo pode demandar umlongo tempo. Além de ter persistência, é impor-tante lembrar que sempre é possível buscarcaminhos alternativos, como estabelecer aliançacom um líder que se comprometa mais facilmentecom o processo ou executar ações concretas comgrupos da empresa (desde que se evidenciem asoportunidades de resultados). Outra forma é com-partilhar permanentemente experiências bem-sucedidas de outras empresas.

Um cuidado essencial é deixar claro para oslíderes desde o começo que RSE e investimentosocial privado (investimento em ações sociais paraa comunidade) são conceitos diferentes, nãoexcludentes.

Desafio 2: adequar a cultura da empresa

A gestão da cultura empresarial é aindaum caminho em construção, porém muitasorganizações já estão obtendo excelentes resul-tados. Ao se analisarem as experiências bem-suce-didas de incorporação da RSE na gestão dasorganizações, percebe-se que, nos primeirospassos, a maioria delas atuou considerando comoponto essencial o conhecimento, a análise e agestão de sua cultura organizacional.

A identidade de uma organização é o quea diferencia das demais. Assim como a identidadede qualquer pessoa, a identidade empresarial

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determina sua reação nas situações surgidas emseu relacionamento com outras organizações epessoas. A cultura empresarial é o componente desua identidade que dirige, conscientemente ou não,a natureza das atitudes e do comportamento dequem a representa. A cultura formata o compor-tamento dentro de certos limites. Símbolos, exem-plos, ditados e histórias circulam na empresa econstituem o ambiente social em que se formatamos comportamentos. Cultura é o ambiente em quese “cultivam” as pessoas que nele compartilhamsocialmente suas vidas.

A cultura de uma empresa surge ainda emsua criação. Invariavelmente, os fundadores (sejameles grandes investidores financeiros, presidentesde grandes aglomerados empresariais, técnicoscom espírito empreendedor ou indivíduos simplescom iniciativas tímidas) são pessoas com talentoempresarial e que querem romper fases de suaprópria vida. Os fundadores vêem em sua criação aexpressão de sua vontade, uma atitude derealização pessoal e profissional. Além disso, criama empresa como espaço em que podem exercersuas habilidades — o que eles gostam e sabemfazer. E em sua personalidade carregam crenças evalores que conformam seu comportamento e suasorientações para o modo como devem se compor-tar as pessoas que são contratadas para participardessa criação. Sonhos, conhecimento e ação sejuntam em determinado momento e local paracompor uma organização que passa a ter vidaprópria. É nesses elementos (querer, saber e fazer)que se alicerça a identidade empresarial.

Depois de criada, uma empresa evolui emsuas propostas de crescimento, de aumento de suaimportância nas comunidades em que se insere. Oprocesso de crescimento tende a torná-la maiscomplexa, com grande probabilidade de, noemaranhado de decisões, crises e conquistas,perder-se a visibilidade da vinculação com oimpulso original da criação. Mesmo sem um funda-dor em quem se espelhar claramente, as pessoas

que trabalham em nome da empresa tomamdecisões com base em suas próprias crenças, o quevai conformando a cultura ao longo do tempo.Nessa situação, para gerenciar a cultura de umaempresa é preciso tornar claros os elementos desua identidade.

A prática atual da administração recomen-da a formulação dessa identidade em componentescomo missão, valores, crenças e visão. Qualquerque seja sua composição, uma identidade não secompleta se não contiver os sentidos da vontade (osonho, o querer), do conhecimento (o saber) e darealização (o fazer). Ao serem formuladas, a missãodelimita o campo de ação e a visão expressa odesejo quanto ao futuro da empresa. As crenças eos valores de uma empresa, no entanto, é que têma tarefa de guiar o comportamento dos que agemem seu nome ao realizar sua missão e perseguir suavisão de futuro. Nesse sentido, fica claro que osvalores são o elemento-chave para gerenciar acultura.

As empresas que declaram formalmenteseus valores tentam gerenciá-los, divulgando-os everificando se eles estão sendo obedecidos. Aoempreender os primeiros passos, tais empresasdevem avaliar se esses valores sustentam a incor-poração da RSE com estímulo a parcerias e se agestão da cultura organizacional é adequada. Adeclaração de valores, a missão e a visão são clarase de fácil compreensão? Estimulam o relaciona-mento ético e transparente com todas as partesinteressadas da organização? Incentivam a criaçãode parcerias, por meio de valores de cooperação econfiança?

A prática tem demonstrado que não ésuficiente espalhar cartazes para agir sobre a cul-tura empresarial. Mais do que um quadro na pare-de, os valores, a missão e a visão precisam expres-sar a identidade da organização, e isso só é possívelse esse referencial for fortemente compartilhadopela liderança e por todos os colaboradores no seu

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dia-a-dia. O comportamento dos dirigentes, incluí-dos os gerentes, é certamente um dos principaisindicadores da legitimidade desses postulados. Ogrande desafio é garantir a coerência entre o dis-curso e a prática.

Se a cultura da empresa não apresentarvalores adequados à gestão socialmente respon-sável, com estímulo a parcerias, a próxima etapaserá atuar de forma efetiva na gestão dessacultura, reforçando os valores éticos e cooperativose incorporando-os à tomada de decisão e à soluçãode dilemas no relacionamento com todas as partesinteressadas. Em organizações com esse perfil, agestão da cultura é ainda mais crítica. Uma culturaque não tenha valores éticos e que não considere aagregação de valor para todas as partes interes-sadas precisa ser mudada.

Independentemente da situação da orga-nização, a gestão da cultura é um processo-chave,que deve ser sistemático, com enfoque institu-cional e corporativo, com orientação estratégica eentendido como fator determinante para que a RSEaconteça. Não se muda efetivamente a cultura deuma empresa se os novos valores não se refletiremem novas práticas. O trabalho orientado para amudança da cultura empresarial precisa partir deuma liderança forte, confiável, exemplar e degrande poder de persuasão.

Conhecer, analisar a cultura da organi-zação e atuar na gestão da cultura existente sãoetapas que se aplicam a qualquer empresa, inde-pendentemente de segmento, porte ou estrutura. Oque pode variar é a estratégia, a metodologia ou asferramentas a serem utilizadas. Compartilharhistórias de parcerias de sucesso pode servir deincentivo e orientação para que outras organiza-ções busquem o caminho da RSE.

A elaboração de um código de condutaética pode ser muito útil e produzir um granderesultado nesse processo. Tal código tem o objetivode traduzir para as pessoas que representam a

empresa os valores para diversas situações do dia-a-dia. Usualmente, os códigos desse tipo têm sidoestruturados para endereçar os valores aosinteresses específicos de cada parte interessada. Aforma de produzir o código de conduta ética já éuma expressão da cultura, e uma criação partici-pativa muitas vezes simboliza por si própria umanova postura, mais compatível com a RSE. Aoproduzir seu código de conduta ética, a empresapode inicialmente envolver apenas os empregadose depois evoluir em ciclos periódicos para incorpo-rar outras partes interessadas. Por outro lado, aexistência de um código de conduta ética exige daempresa a instalação de novos processos para seucumprimento e atualização permanente. Mecanis-mos de auditoria são importantes recursos a seremutilizados pelos responsáveis pelo gerenciamentodo código.

Desafio 3: ouvir as partes interessadas

É imprescindível identificar as partesinteressadas e saber delas se a atuação da empresanos moldes estabelecidos em planos ou projetos écompatível com seus interesses. Para tanto, faz-senecessário apresentar objetivos e propostas daempresa e verificar, pela manifestação dos interes-sados, até que ponto vão ao encontro das expecta-tivas dos envolvidos.

O primeiro passo para superar esse desafioé ter o entendimento da impossibilidade de se falarem RSE com estímulo a parcerias sem considerarque, ao buscar diálogo, a empresa deve estarpreparada para incorporar às suas decisões osinteresses legítimos dos públicos, buscando equili-brar o processo com as estratégias da organização.Um relacionamento responsável só pode serestabelecido a partir do diálogo, para que então seconstrua a confiança mútua.

Na ânsia de se aproximar de suas partesinteressadas, muitas empresas incrementam enor-

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memente o que consideram ferramentas decomunicação — folhetos, vídeos, relatórios anuais,reuniões —, mas trabalham em uma única via. Aempresa fala cada vez melhor e até pode serentendida, mas não abre espaço para ouvir. Éverdade que, mais recentemente, os esforços emalgumas empresas têm se multiplicado, mas emgeral não são ainda ações sistemáticas e entendi-das de forma estratégica — pesquisas em suas maisdiferentes formas, organização de grupos interse-toriais, participação em conselhos e comitês,definição de ouvidor (ombudsman) e ferramentaspara estimular a manifestação das partes inte-ressadas, como caixa de sugestões, “fale conosco”,visitas e outras.

Percebe-se assim que, entendida a impor-tância desse processo, é necessário considerar queele não deve ser apenas pontual (só quando aempresa precisa), mas permanente, sistematizado.Precisa ser conduzido por todos que fazeminterface com representantes das partes interes-sadas, sob um enfoque institucional, com intencio-nalidade e orientação estratégica. Para tanto, faz-se necessário apresentar objetivos e propostas daempresa e verificar, pelas manifestações dosinteressados, até que ponto estão alinhados com asexpectativas dos envolvidos. Por outro lado, épreciso ética das partes interessadas para queatuem de forma co-responsável (não se transfor-mando de partes interessadas em partes interessei-ras), e que haja disposição para o estabelecimentode parcerias em prol de um desenvolvimentocompartilhado.

Também é importante avaliar se a culturada empresa sustenta essa busca por ouvir partesinteressadas. Há abertura, há confiança mútua?

Tendo conquistado a sensibilização e oentendimento, são estes os primeiros passos aserem trilhados na operacionalização para superaro desafio de ouvir as partes interessadas:

1. Identificar e mapear as partes interes-sadas e priorizar sua importância, se foro caso: é a partir do conhecimento quese torna possível estabelecer o diálogo;só conhecendo a outra parte pode haverconfiança e abertura para falar e ouvir;

2. Identificar temas de interesse dos públi-cos e priorizá-los a partir da estratégiada empresa;

3. Identificar as formas e situações dediálogo existentes na empresa (se jáexistem canais para ouvir as partesinteressadas);

4. Identificar oportunidades de melhoria,criação ou adequação das ferramentasde comunicação;

5. Sistematizar os processos de gestão dodiálogo: estabelecer procedimentos efluxos, registrar, monitorar e melhorarcontinuamente.

Esses passos se aplicam a qualquer empre-sa, independentemente de segmento, porte ouestrutura. O que varia são as ferramentas utilizadaspara trilhar cada passo, as quais podem ir das maissimples às mais sofisticadas.

A AA1000, por exemplo, é um documentoque descreve um padrão de gestão sistemática dorelacionamento com as partes interessadas. Embo-ra a implantação desse padrão não seja um dosprimeiros passos, seu estudo e compreensão certa-mente darão à empresa uma visão de conjunto deum sistema completo e vão auxiliá-la no planeja-mento dos primeiros passos desse desafio.

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Desafio 4: integrar a RSE aos sistemas de

gestão existentes

Sistemas de gestão são conjuntos depadrões, procedimentos e diretrizes que permitemuma gestão sistemática (coerente, permanen-temente melhorada, cíclica, com visão do todo e dopassar do tempo). Modelos estabelecidos inicial-mente na primeira metade do século passadoforam aprimorados por empresas, por países e pelacomunidade internacional, nessa ordem, eresultaram nos modelos consolidados pela ISO2 epor outras entidades de normalização nacionais einternacionais. Assim, a norma ISO 9000 (referenteà qualidade de produtos e serviços) e a ISO 14000(sobre a gestão dos impactos ambientais) setransformaram em ícones de qualidade da gestãoempresarial. Seguiu-se, na esteira, a criação da SA8000 e da OHSAS 18001, que, alicerçadas nomesmo modelo organizacional, integraram ele-mentos de relações de trabalho, saúde e segurançados trabalhadores, respectivamente. Os esforçosmais recentes são no sentido de integrar essessistemas em um só — o Sistema de Gestão Integrada.

Nos primeiros passos, deve-se avaliar oestágio de evolução dos sistemas de gestão daempresa. Caso não tenha havido ainda a sistema-tização da gestão, deve-se planejar com cuidado oesforço e o objetivo da implantação de um sistemade gestão no qual desde o começo sejam inseridosos aspectos inerentes à RSE.

Como regra geral, para integrar a RSE aossistemas de gestão existentes, devem-se utilizar asferramentas comuns aos mesmos. Nos primeirospassos, considera-se importante trabalhar osseguintes elementos dos sistemas de gestão:

• Missão, Visão e Valores

É comum que esses elementos refiram-seprimordialmente ao relacionamento com as partesinteressadas do mercado (clientes, fornecedores,acionistas, concorrentes), porém eles devem contero papel da organização na relação de seus negócioscom os colaboradores, a sociedade e o planeta.Deve-se explicitar de forma global como se dãoessas interações e quais os resultados que sepretende atingir. Com relação à visão, convém aorganização avaliar de forma responsável qual seráo futuro de sua atuação, de seus negócios e dasociedade. A organização deve também determinarseus valores, embutindo neles a responsabilidadede sua interação com seus colaboradores, com omercado, com a sociedade e com o meio ambiente.

• Objetivos empresariais

Convém que, aos interesses e objetivos donegócio, a organização alie os objetivos e interes-ses voltados para os impactos de sua atuaçãonegocial sobre as diversas partes interessadas:

- A empresa (público interno);

- O mercado (clientes, fornecedores, acionistas, concorrentes, mercado detrabalho);

- A sociedade (governo, mercado finan-ceiro, região de atuação, comunidade, apopulação do país ou até mesmo apopulação mundial, dependendo doporte da empresa);

- O planeta.

2 A International Organization for Standardization (ISO) é uma entidade com sede em Genebra, na Suíça, que congrega órgãos nacionais de normalizaçãode 151 países e se destina a elaborar padrões para especificações e métodos de trabalho nas mais diversas áreas. O Brasil é representado na ISO pelaAssociação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

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• Metas empresariais

Como os objetivos demonstram as inten-ções da organização, é importante que sejamtraduzidos em metas para que seus resultadospossam ser medidos e acompanhados. As metasdevem ser balizadas pelos princípios da susten-tabilidade.

• Procedimentos/processos (paramaterializar e alcançar as metas)

Com objetivos e metas desenvolvidos eamparados pela missão, visão e valores, as organi-zações agregam os princípios da RSE a seus proces-sos internos, muitas vezes formalizados por meio deprocedimentos operacionais, garantindo a padroni-zação e o controle das atividades planejadas.

• Monitoramento dos resultados

A ferramenta de monitoramento maispoderosa utilizada são os indicadores que, basea-dos nos objetivos, medem o desempenho dasatividades, fornecendo resultados reais que serãocomparados com as metas propostas. Umapanhado de indicadores voltados para a RSE ésugerido pelo Instituto Ethos — os IndicadoresEthos de Responsabilidade Social Empresarial. Oprocesso de auditoria também é muito importantena verificação do atendimento às diretrizesdefinidas para os processos ligados à RSE, fonte deinformação fundamental para a tomada de açõescorretivas, preventivas e de melhoria. Para o moni-toramento também são usadas avaliações epesquisas com os diversos atores do processo.

• Análise e tomada de ações corretivasou preventivas

Esta é a ferramenta mais importante parapromover a integração da RSE com os sistemas degestão da empresa ao longo do tempo. Tendo emmãos todas as informações geradas pelo sistemapor meio do monitoramento, os gerentes daempresa discutem o resultado das atividades em

reuniões de análise crítica. Recomenda-se que taisreuniões sejam realizadas com a presença dosresponsáveis pelos resultados, e que a direçãoparticipe da reunião de análise crítica dosresultados da empresa como um todo. Nessas reu-niões são avaliados todos os dados gerados pelosistema, proporcionando informações reais e defácil compreensão para as tomadas de decisão.Com essas informações, a alta direção pode pro-porcionar as diretrizes de melhorias na adaptaçãodas ações da empresa aos seus negócios e aosdiversos agentes envolvidos, reavaliando todo oprocesso, desde sua concepção (missão, visão evalores) até o resultado obtido (monitoramento).

Finalmente, o sistema de gestão deve serconcebido e gerenciado de forma a envolver umnúmero cada vez maior de pessoas, por meio dodespertar da vontade individual e coletiva, paragerar o clima necessário ao alcance do objetivo deintegrar a RSE à gestão — despertar na empresa anoção de que ela precisa se mobilizar com empe-nho para tornar-se efetivamente um instrumentode promoção da justiça social e do desenvol-vimento econômico.

Desafio 5: atingir todos os gerentes

Quando o objetivo da empresa é iniciar umprocesso consistente de implementação de práticasde gestão focadas na RSE, com estímulo aparcerias, é de suma importância estabelecer umaestratégia de engajamento de líderes — aquinomeados de gerentes —, posto que, sem suaparticipação efetiva, o processo tende a perderforça. Gerentes são as pessoas reconhecidas pelaempresa como responsáveis por equipes e porfunções. Em suas mãos são entregues, entre outras,as tarefas de desdobrar diretrizes, representar osinteresses da organização, orientar equipes eajudar a dar o rumo da trajetória da empresa.Quanto maior o número de gerentes compro-metidos com os princípios da RSE e das parcerias,maior a chance de sucesso.

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Na verdade, mais do que um engajamentopuro e simples, despertar a “paixão” desses agentesexecutivos representa a garantia de que o objetivoserá, pelo menos, levado em conta na atuação pro-fissional da equipe. Essa paixão deve traduzir-se ematitudes que tragam consigo a força do exemplo.

Nos primeiros passos, a grande dificuldadea superar é estabelecer uma visão compartilhada,na forma de um ideal comum. A maneira mais fácilde contorná-la é procurar no próprio contexto dedemandas da empresa um modo de satisfazer con-comitantemente desejos, necessidades e as estra-tégias do negócio.

A comunicação clara de um ideal positivo eempolgante é uma estratégia eficaz para alcançartodos os gerentes no processo de implementação naempresa das práticas de gestão socialmenteresponsáveis.

É também uma boa tática explicitar que aimplementação de práticas de RSE vem promover ofortalecimento da imagem positiva da organização,contribuindo para a melhoria da qualidade dasrelações estabelecidas com as diversas partes inte-ressadas e para o desenvolvimento socioeconômicodo país — demandas crescentes do mercado atual.Isso amplia o horizonte de atuação da empresa ecoloca sua missão em outro patamar. Ou seja, elevaa missão empresarial à categoria de ideal comum,transformando-a num agente promotor do bem.

Também é válido analisar com os gerentesos impactos sociais, ambientais e econômicos pro-movidos por suas ações sobre os diferentes públi-cos de relacionamento. Essa iniciativa contribuipara o entendimento de que a gestão da RSE éatribuição de todos.

Se a tendência do mercado é exigir dasempresas uma postura socialmente responsável, épreciso que os gerentes entendam, pela constantediscussão do tema, que os públicos interessadosmerecem esse comprometimento e que isso pode

ser lucrativo para o negócio, estimulando a partici-pação e a criatividade de todos.

A participação nos processos de decisãocompromete mais as pessoas, faz com que tanto oalcance quanto os resultados das ações sejam niti-damente maiores e por isso deve ser estimulada.

Desafio 6: definir indicadores de resultados

Uma máxima da gestão é que só se conse-gue gerenciar aquilo que se mede. A base dessamáxima é que a medição permite uma percepção,necessariamente parcial, do fenômeno observado.Por outro lado, uma constatação científica é que,ao se introduzir a medição de um fenômeno,altera-se o próprio fenômeno.

Sempre que se busca medir o resultado dealguma ação, é preciso ter em mente que eledecorre de um processo. Portanto, para começo deconversa, ao intencionar gerenciar um processo, épreciso diferenciar e estabelecer indicadores deprocesso e de resultado. O que distingue processode resultado é a relação que se tem com cada um:aquilo sobre o qual temos autoridade ou controle(os meios) denominamos processo; aquilo sobre oqual temos responsabilidade (os fins) denomi-namos resultado. Resultado é sempre referenciadoao exterior da empresa ou às pessoas dos colabo-radores, ou seja, às partes interessadas.

Para uma primeira estruturação dos indica-dores de resultado, é necessário definir que mudan-ças se pretende proporcionar para as partesinteressadas, estabelecendo-se assim metas deresultados. Metas são indicadores com data marca-da para serem alcançados. A partir daí é que sepodem decidir as estratégias e os planos de açãopara atingir as metas de resultados. É nesse processode planejamento que se cotejam os recursos dispo-níveis, especialmente os financeiros e humanos.Nesse momento, os indicadores de processo sãotrazidos à tona, pois se busca a racionalização do

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uso de recursos. E então é possível estabelecer asmetas de processo.

Após o planejamento, os indicadores deprocesso e de resultado definidos devem ser perma-nentemente monitorados, para verificar se a atua-ção está realmente orientada para o alcance dasmetas, tanto de processos quanto de resultados.

Como exemplo, podem ser apresentados osindicadores de um programa de reforço da empre-gabilidade realizado em parceria por empresas,governos e ONGs:

Quanto ao “aumento médio da empregabi-lidade”, é evidente que se deve criar algum indica-dor para medi-lo, e aí reside uma das dificuldadesdo estabelecimento de indicadores. Para dirimir oproblema, a empresa poderia, por exemplo, pedir aavaliação de currículos em relação às demandas eofertas do mercado de trabalho, e daí extrair umindicador numérico útil.

Nos primeiros passos, é muito difícil ter cla-reza sobre a diferença entre indicadores de processoe indicadores de resultado. A título de exemplo, cus-tos são fatores sobre os quais temos autoridade eportanto constituem indicadores de processo. No en-tanto, pela sua importância, são usualmente consi-derados como indicadores de resultado. É crucialfazer um grande esforço para definir indicadores queefetivamente reflitam os resultados pretendidos.

Uma dificuldade extra se apresenta na defini-ção de indicadores de resultado de ações e projetossociais. Muitas variáveis influenciam os fenômenossociais, e diferenciar os resultados alcançados pelasações da empresa pode ser uma tarefa das maisingratas.

Os Indicadores Ethos de ResponsabilidadeSocial Empresarial são excelente fonte de consulta einspiração, servindo tanto para a sensibilização doslíderes quanto como ferramenta de diagnósticoinicial e de monitoramento. Nos primeiros passos, osIndicadores Ethos podem mesmo ser adotados comoo modelo de indicadores da empresa. Nesse caso, éimportante verificar se as principais questões daempresa estão refletidas adequadamente neles. Etambém diferenciar os indicadores de processo dosde resultado.

Indicadores de processo

Percentual de empregados que aderem ao programa

Percentual de empregados que completam os cursos

Avaliação dos programas dos cursos feita pelos empregados

Custos individuais médios, cobertos pela empresa e totais

Quantidade de organizações parceirizadas

Indicadores de resultados

Avaliação de cada funcionário feita pelos instrutores oufacilitadores dos cursos

Número de funcionários beneficiados e de cursos concluídos

Custo médio bancado pelos próprios empregados

Aumento médio da empregabilidade do grupo beneficiado,

comparado com ações similares realizadas sem parceria

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1. Introdução

A expressão “diálogo com as partes interes-sadas” é encontrada com freqüência nos relatóriossociais ou de sustentabilidade das empresas. Omovimento da responsabilidade social empresarialde fato fez com que as empresas prestassem maisatenção aos interesses de suas partes interessadas.Em decorrência disso, surgiram iniciativas de diálogoe de parcerias com o objetivo de fortalecer egerenciar as relações com esses públicos.

Existe, porém, uma variação muito grandena qualidade e conceituação dessas iniciativas, que

em alguns casos cumprem e em outros descum-prem as mínimas exigências para o que podemoschamar de diálogo ou parceria verdadeiros. Adeficiência que se observa em alguns casos não sedeve necessariamente à falta de consideração pelaempresa da importância do tema, mas surge emconseqüência da ausência de definições e deorientações sobre a gestão de diálogos e parcerias.

A oficina “Gestão de Parcerias e Diálogoscom as Partes Interessadas” tem o objetivo defomentar a prática de um diálogo efetivo e sériocom as partes interessadas e tenta estabelecer osfundamentos para um processo que responda aexigências específicas e se baseie num entendi-mento comum do conceito de diálogo.

Oficina de Gestão 3

Gestão de Diálogos e Parcerias com as Partes InteressadasCoordenação:Beat Grüninger (B&SD DesenvolvimentoEconômico e Social)Tel. : (11) 3051-4600;e-mail: [email protected]

Apoio do Instituto Ethos:Tábata Villares Tel.: (11) 3897-2422;e-mail: [email protected]

Grupo de referência:

Amanco BrasilCarla Maria Neves Inácio, coordenadora deResponsabilidade Social e Comunicação InternaTel.: (47) 461-7252;e-mail: [email protected]

Banco ABN Amro RealAmadeu da Costa Rodrigues, gerente deSuprimentosTel.: (11) 2192-2231;e-mail: [email protected]

Carla Moscatelli, analista financeiraTel.: (11) 2192-2132;e-mail: [email protected]

Banco do BrasilJorge Luiz Saldanha da Silva, analista sêniorTel.: (61) 310-5770; e-mail: [email protected]

Wagner de Siqueira Pinto, analista masterTel.: (61) 310-3604;e-mail: [email protected]

BayerRose Pinheiro, coordenadora de ComunicaçãoEmpresarialTel.: (11) 5694-5582;e-mail: [email protected]

ComgásCésar Fernandes, superintendente de ComunicaçãoTel.: (11) 4504-5018;e-mail: [email protected]

Maria Gisela Gerotto, coordenadora do ProgramaAprendiz ComgásTel.: (11) 4504-5604;e-mail: [email protected]

ElektroJosé Marcos Cessel, coordenador deResponsabilidade SocialTel.: (19) 3726-1432;e-mail: [email protected]

EmbracoSueme Mori Andrade, especialista emResponsabilidade SocialTel.: (47) 441-2774;e-mail: [email protected]

Fundação BelgoLeonardo Gloor, gerente de Programas EspeciaisTel.: (31) 3219-1272;e-mail: [email protected]

HolcimJuliana Cassita AndriguetoTel.: (11) 5180-8805;e-mail: [email protected]

NaturaCristiane Samarra, analista sênior deResponsabilidade CorporativaTel.: (11) 4446-2418;e-mail: [email protected]

PetrobrasJanice Dias, coordenadora de Projetos SociaisTel.: (21) 3224-1719;e-mail: janicedias@petrobrás.com.br

SerasaTomás Carvalhaes Carmona, coordenador deResponsabilidade SocialTel.: (11) 6847-8950;e-mail: [email protected]

ShellLiane Freire,Tel.: (21) 3984-7777;e-mail: [email protected]

Simone GuimarãesTel.: (21) 3984-7777;e-mail: [email protected]

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Participaram da formatação da oficina e dacriação deste documento básico várias empresasque já praticaram algum tipo de diálogo ouparceria com efetividade. Os casos relatados seencontram na quarta parte deste documento. Alémde contar com as contribuições de empresas prati-cantes, a oficina se baseia em conceitos da normaAccountAbility AA1000, a principal ferramentautilizada para padronizar a gestão das relaçõescom as partes interessadas por meio de mecanis-mos de engajamento.

Este documento oferece em sua primeiraparte uma definição dos principais conceitos, cons-truindo em seguida um modelo de engajamentoque será espelhado nos casos práticos apresenta-dos na parte final.

2. Conceitos

Diálogos com as partes interessadas egestão de parcerias descrevem um campo de ativi-dades muito amplo. Para entender melhor o contex-to no qual devemos situar essas atividades, podemosaplicar alguns fundamentos conceituais básicos econsensuais. Uma grande parte das definiçõesdescritas a seguir está em concordância com aAA1000, uma norma que busca padronizar o sistemade gestão das partes interessadas. Também usamosdefinições já elaboradas no âmbito do InstitutoEthos de Responsabilidade Social Empresarial:

Parceria

“É um tipo especial de relação de cooperação emque as partes envolvidas, apoiadas na confiança,na transparência de intenções e atos, comparti-lham princípios e valores e coordenam suas açõesde modo a alcançar objetivos definidos em comum

acordo. Em uma parceria não apenas os custos ebenefícios são compartilhados. A participaçãoequilibrada dos parceiros em todo o processo,desde o estabelecimento das regras que o presidematé o desenho do plano e execução das atividades,é condição indispensável para o sucesso dospropósitos e manutenção de parceria. A parcerianão é apenas uma forma inteligente de melhoraproveitamento dos recursos e ampliação dosimpactos das ações. É, antes de tudo, uma condi-ção para construirmos uma sociedade sustentávelapoiada em relações justas e democráticas.” 3

Stakeholder

“Termo em inglês amplamente utilizado para de-signar as partes interessadas, ou seja, qualquerindivíduo ou grupo que possa afetar o negócio, pormeio de suas opiniões ou ações, ou ser por ele afe-tado: público interno, fornecedores, consumidores,comunidade, governo, acionistas, etc. Há umatendência cada vez maior para se considerarstakeholder quem se julgue como tal, e em cadasituação a empresa deve procurar fazer ummapeamento dos stakeholders envolvidos.” 4

Neste documento, em lugar do termo“stakeholders”, usaremos a expressão “partes inte-ressadas”, com o mesmo significado.

Diálogo

É o processo de conversar com as partes interes-sadas, corresponder-se com elas ou consultá-las deforma multilateral, em busca de um entendimentocomum. No diálogo, a empresa e as partes interes-sadas se expressam de forma livre e sem restrições.Diálogo exige disciplina para ouvir com a disponi-bilidade de considerar outros pontos de vista. Aempresa tem o compromisso de responder, mas aspartes interessadas devem saber que nem sempretodas as questões poderão ser consideradas.

3 Aliança Capoava (Ashoka, Avina, Instituto Ethos e Gife). Alianças & Parcerias: Mapeamento das Publicações Brasileiras sobre Alianças e Parcerias entreOrganizações da Sociedade Civil e Empresas. São Paulo, maio de 2005.4 Instituto Ethos. Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial. São Paulo, junho de 2005.

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Engajamento

De acordo com a norma AA1000, podemos incluir o diálogo num processo maior de engajamento. “Como engajamento, entendemos o processo de buscar pontos de vista das partesinteressadas na construção do relacionamentocom a organização” 5.

Gestão

Refere-se à forma como os diálogos são conduzi-dos e gerenciados pela empresa. Inclui todos osprocessos relevantes, a atribuição de responsabili-dades e o eixo do planejamento do tempo.

Em relação ao teor dos diálogos, apresen-tamos adiante outra definição importante, a da“materialidade” dos diálogos. A materialidade serefere principalmente ao tratamento, nos diálogos,dos principais assuntos críticos existentes na rela-ção da empresa com certos públicos.

REFLEXÃO

Direito a resposta

É preciso ressaltar que o diálogo não deve serencarado apenas como uma troca de informações.O processo é muito mais abrangente e pressupõeação. Tão importante quanto desenvolver umprocesso estruturado de consulta, é analisar oresultado dessa consulta e incorporar as questõesidentificadas nas decisões do negócio.

Após a implementação das ações propostas, ouaté mesmo da verificação da impossibilidade deefetuá-las, a empresa deverá reportar-se devolta às partes interessadas. Reuniões emateriais informativos podem ser usados paraassegurar uma comunicação contínua e adocumentação sobre os assuntos tratados.A credibilidade poderá ser rapidamente

construída se as partes interessadas perceberemque estão sendo levadas a sério.

Construção de parcerias

O resultado de um processo de diálogo pode sera construção de parcerias, que também reúnemexperiências e idéias de atores diferentes nasociedade. As parcerias são, entretanto, umaforma especial e muito mais influente deengajamento de atores estratégicos, que vaialém da consulta e do diálogo. Parceriassignificam ação conjunta.

Uma parceria bem-sucedida agrupa as forças deorganizações diferentes, tais como: ogerenciamento e o conhecimento técnico deempresas; a coordenação estratégica dogoverno; a competência em engajamento dasorganizações não-governamentais; e oconhecimento e os recursos das comunidades.Em parcerias bem-sucedidas, todos fazemaquilo que sabem fazer melhor.

5 AccountAbility. Glossário da AA1000.

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3. Gestão de Diálogos

3.1. Por que praticar diálogo e engajamento

3.1.1 Oportunidades para a empresa

Há uma série de razões que justificam aintegração de diálogo e engajamento das partesinteressadas na gestão da responsabilidade social daempresa. Apoiamos a apresentação dessas razõesem parte nas justificativas da aplicação da normaAA1000 (contidas no documento da norma):

Capacidade de responder a desafios. Pormeio de mecanismos de diálogo e obtenção deretorno sobre seu desempenho social e ético, aempresa consegue identificar e gerenciar melhor osimpactos, responder às necessidades e aspiraçõesde suas partes interessadas e gerenciá-las deacordo com seus objetivos e metas.

Preparação de decisões estratégicas eoperacionais. Consumidores, fornecedores e asociedade em geral são capazes de ver se o com-portamento de uma empresa condiz com suasaspirações e estão mais bem posicionados paraarticular suas opiniões. Uma organização, por suavez, terá informações mais sensíveis e exatas nasquais basear suas decisões e um clima de maiorconfiança para implementá-las.

Construção dos relacionamentos. Diálogospodem apoiar o aprofundamento das relaçõesbaseadas em valor ao longo da cadeia de forne-cimento da empresa e em outros processos deparceria. Sua adoção representa um trabalhoconjunto da empresa com parceiros para atingirboa prática em relacionamentos.

Gerenciamento do risco. Diálogos podemser essenciais para uma estrutura de controleinterno que permita à organização identificar,avaliar e gerenciar melhor os riscos que surgem de

seus impactos e relacionamentos com as partesinteressadas. Os riscos de reputação e marca estãoaí incluídos, bem como processos judiciais declientes, de funcionários e da comunidade em geral.

Melhoria da governança. Diálogos sistema-tizados podem desempenhar um papel-chave noapoio à governança de uma empresa. O padrão écolocado dentro do processo de controle da organi-zação, pelo qual ela assegura o alinhamento deseus valores e estratégia com seu comportamentoe os resultados de suas atividades.

Embora esta oficina esteja focada naadministração de diálogos com as partes interes-sadas e na gestão de parcerias, concentramos nestedocumento as reflexões sobre a gestão do diálogoque — em qualquer caso — é fator do sucesso paraqualquer parceria. Apenas as parcerias que sãofruto de um diálogo verdadeiro têm sustenta-bilidade. Procuramos integrar o conceito de parce-rias nos casos práticos apresentados no final dodocumento, com alguns exemplos bem-sucedidosdo meio empresarial brasileiro.

3.1.2 Oportunidades para as partesinteressadas

A teoria e a prática apresentadas neste do-cumento consideram o diálogo com todas as partesinteressadas (ver figura 1). Observa-se uma ten-dência a se restringir o conceito ao diálogo compúblicos externos, especialmente com a comunidade.

Diálogo oferece oportunidades para todasas partes interessadas. Engajamento é a maneirapela qual elas podem identificar e articular suaspreocupações e influenciar nas decisões, para queimpactos negativos (como emissões, barulho,transito, discriminação, falta de consideração etc.)sejam minimizados, maximizando-se benefíciospotenciais (como emprego, planos de participação,

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canais de comunicação etc.). À medida que osassuntos são reconhecidos e debatidos, as partesinteressadas se beneficiam das mudanças oumelhorias nas operações. O engajamento em sipode apresentar benefícios mais abrangentes aopromover a organização local da comunidade, dosfornecedores, dos empregados etc, construindocapacidade, habilitando as pessoas e criando umaestrutura dentro da qual é possível discutir eresolver outras questões de interesse comum. Aorganização das partes interessadas pode darpoderes por meio da abertura da participação ematividades-chave da empresa.

Figura 1: A empresa e suas partes interessadas

3.2. Como implementar diálogos

Como todo elemento de gestão, a imple-mentação de diálogos tem melhores resultadosseguindo um processo sólido de planejamento,execução e avaliação. Além disso, há uma série deprincípios que determinam a qualidade e validadedesse exercício. As diferentes modalidades dediálogo em si são variáveis e não respondem a

formatos predefinidos. Classificamos algumasmodalidades no final desta seção, mas a melhorilustração serão os casos práticos apresentados naúltima parte deste documento.

3.2.1 Modelo de gestão de diálogos

Apresentamos na figura abaixo um modelobásico para a gestão de diálogos. Em linhas gerais,o modelo segue o processo AA1000, o qualutilizamos como referência para este tema. Omodelo é uma sugestão que destaca a importânciada fase de preparação dentro da empresa, quandotodas as partes interessadas (mesmo as“silenciosas”) e todos os assuntos críticos devem

ser listados. Assim, a vera-cidade do diálogo é maior.Mas o sucesso verdadeiroreside na execução correta,que o modelo em si não po-de garantir, apenas apoiar.

A fase de preparaçãoinclui o empoderamentodas partes interessadas parao diálogo, o que é decisivopara um bom resultado. Oempoderamento não estárefletido com maiores deta-lhes neste documento, masdeverá ser considerado ade-quadamente no processo.Sugerimos consultar ONGs

ou consultores especializados para essa tarefa. Comoempoderamento entendemos um processo depreparação da parte interessada, capacitando-a paraparticipar ativamente do diálogo.

O modelo separa os diálogos em quatrofases importantes: o planejamento, a implementa-ção, a avaliação e a integração. O modelo é cíclico,porém, num segundo ciclo, a fase de planejamento

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já pode ser abreviada, porque o mapa das partesinteressadas e dos assuntos críticos, uma vezestabelecido, tem necessidade de poucos ajustes.

Não há um tempo específico para a duraçãodesse ciclo de diálogos; a única exigência é queseja regular. Uma vez iniciado, o diálogo deve sercompletado e mantido, caso contrário a empresa searrisca a apresentar maior prejuízo do que antes doinício dos diálogos, demonstrando falta decredibilidade em sua gestão responsável.

Segue um detalhamento das principaisetapas contidas no modelo:

Figura 2: Modelo de Gestão do Diálogo

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Etapa

Mapeamento das partes interessadas

Mapeamento dos diálogos existentes

Identificação dos assuntos críticos

Priorização e preparação

Diálogos

Consulta interna e plano de ação

Respostas

Avaliação

Revisão do escopo

Criação de indicadores

Integração no sistema de gestão

Descrição

Mapeamento completo ou parcial dos públicos estratégicos usando as várias modalidadesdescritas abaixo.

Todas as formas de diálogo que já estão em funcionamento devem ser levantadas,analisadas e cotejadas com os princípios de diálogo. Se a empresa já tem um modoadequado de diálogo, não precisa reinventar a roda.

Assuntos críticos já estão sendo identificados de antemão para melhor preparação dosdiálogos e para permitir a priorização.

Deve existir um processo de seleção estratégica de temas e de públicos, um tipo de filtroque permita focar o diálogo. Esta etapa inclui a devida preparação de todos os envolvidosdentro da empresa, sem a qual nenhum diálogo deverá ser executado.

A condução dos diálogos pode acontecer dentro das diferentes modalidades descritasabaixo.

Nenhuma ação ou decisão poderá ser tomada sem que as áreas responsáveis dentro daorganização sejam consultadas. A ação deve ter sua viabilidade confirmada antes dequalquer resposta.

O diálogo é um processo bipolar, no qual as respostas para assuntos levantados devem serencaminhadas para as partes interessadas. Isso pode acontecer por meio de reuniões,relatórios etc.

A avaliação pós-diálogo servirá para preparar a integração e a ampliação da base para umsegundo ciclo.

De acordo com os recursos de que dispõe ou conforme o planejamento do diálogo, aempresa amplia a base das partes interessadas a serem consultadas.

A empresa, junto com os públicos consultados, desenvolve indicadores específicos para amedição de certos temas levantados. Trata-se principalmente de indicadores de resultadose, em menor incidência, indicadores de processo.

Toda ação de diálogo deve ser integrada a processos existentes, como pesquisas de climainterno, e ao processo das normas que demandam consultas às partes interessadas.

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3.2.2 Modalidades de diálogo

Listamos a seguir algumas modalidades eferramentas ligadas a cada fase, as quais podemser consideradas parte do planejamento, da imple-mentação e da integração de diálogos:

Fase

PLANEJAMENTO

Mapeamento das partes interessadas

Mapeamento dos diálogos existentes

Mapeamento de assuntos críticos

IMPLEMENTAÇÃO

Diálogos

Respostas

AVALIAÇÃO

INTEGRAÇÃO

Integração no sistema

Modalidades

• Oficinas de mapeamento• Estudo de escopo AA1000• Amostra representativa do município

• Estudo de escopo AA1000

• Pesquisa de percepção• Grupo-foco• Entrevistas

• Painel das partes interessadas (painel misto)• Conselho das partes interessadas• Painel por grupo de público• Fóruns• Grupo-foco• Entrevistas• Reuniões-cascatas• Ombudsman• Comitês com comunidade• Workshop de Planejamento Participativo para a Construção do Futuro do Município• Pesquisa de clima• Semana Interna de Prevenção de Acidentes de Trabalho (Sipat)

• Em painéis• Por meio de protocolos• Em relatórios• Pelo ombudsman/• Pelo site da empresa• Por fóruns específicos de discussão

• Avaliação do processo com inclusão das opiniões das partes interessadas• Pesquisa de percepção do processo

• Processos ISO 9001• Processo AA1000• Criação de indicadores específicos• NBR 16000

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A lista das modalidades sempre estaráincompleta, pois as formas de dialogar com os pú-blicos são diversas e dependem muito da prepara-ção dos próprios públicos e dos recursos que aempresa se dispõe a investir nesse trabalho.

O grande diferencial desses diálogos e dacomunicação corporativa é o fato de eles servirem aoutro objetivo, o de melhorar a gestão da empresaem relação às partes interessadas envolvidas. Nessesentido, mais importante do que as modalidades dosdiálogos são os princípios de qualidade que regemsua execução.

Nem todas as formas apresentadas acimaconstituem um diálogo propriamente dito. Váriasdelas correspondem a estágios ou formas iniciais. Aescolha da forma de dialogar com diferentespúblicos depende em grande parte das carac-terísticas dos assuntos discutidos. Podemos correla-cionar as características do assunto com a forma dediálogo praticado, mostrando uma possível evoluçãono nível do engajamento dos parceiros.

Figura 3: Correlação entre formas de diálogo ecaracterísticas dos assuntos

Vale ressaltar que a classificação do diálogocomo “inicial”, “intermediário” ou “avançado” nãosignifica uma valorização da forma, pois para cadaassunto existe uma forma apropriada de comuni-cação entre os diferentes públicos. O que faz a di-ferença num bom diálogo são os princípios de qua-lidade, apresentados na seção seguinte.

3.2.3 Princípios do bom diálogo

Em relação aos princípios de qualidade, anorma AA1000 fornece um subsídio importante.Apresentamos a seguir os princípios fundamentaispara a execução de um bom diálogo.

Em relação ao teor dos diálogos, os princí-pios determinantes são:

Materialidade.

“Diz respeito à necessidade de se incluir uma infor-mação significativa que possa afetar um ou mais

grupos de partes interessadas esua avaliação do desempenhosocial e ambiental da organização.” 6

Completude

De acordo com a norma AA1000,completude “diz respeito àinclusão imparcial nos processosde prestação de contas, ao longodo tempo, de todas as áreas apro-priadas de atividades rela-cionadas com o desempenhosocial e ético da organização”7.Em outras palavras, a empresanão pode omitir nenhuma de suas

áreas de atuação nem os impactos que gera, aindaque sejam pouco conhecidos.

6 AccountAbility. Glossário da AA1000.7 Idem.

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Em relação à condução dos diálogos, sãodeterminantes os seguintes princípios:

Inclusão

Refere-se ao fato de que as aspirações e necessi-dades de todos os grupos de partes interessadasdevem ser incluídas no diálogo. Os pontos de vistadas partes interessadas devem ser obtidas por umprocesso de engajamento que lhes permita expres-sar-se sem medo e sem restrições. A inclusão“requer a consideração das partes interessadas‘sem voz ativa’, como as gerações futuras e o meioambiente”.8 A inclusão deve permitir que gruposdiferentes da sociedade estejam representados.

Regularidade

“Diz respeito à necessidade de ação sistemática ena hora certa, para apoiar a tomada de decisão daorganização e de suas partes interessadas”.9 A regu-laridade obriga a empresa a continuar cada proces-so de diálogo iniciado em espaços de tempo regu-lares, não necessariamente um ano, mas de formaque solicitações expressas sejam respondidas emtempo hábil e monitoradas de forma contínua.

Acesso livre

“Diz respeito à comunicação apropriada e efetivapara as partes interessadas da organização.”10 Teracesso livre implica alcançar facilmente e de formabarata o material de comunicação destinado acada grupo de partes interessadas. Incluímos nesteprincípio o acesso fácil aos diálogos promovidos,respeitando-se as possibilidades econômicas decada parte interessada.

Neutralidade

“A informação deve ser apresentada com neutrali-dade, e a organização deve ser prudente em suainclusão e na descrição de sua posição.”11 Esteprincípio considera a necessidade de absoluta neu-tralidade na condução dos diálogos. O princípio

sugere um intermediador que facilite o diálogo. Afigura de um consultor externo (neutro) muitasvezes cumpre esse papel.

REFLEXÃO

“Terceirização dos diálogos”

Muitas vezes, as empresas terceirizam o diálogopor completo ou parcialmente. O terceiro podeser uma ONG, uma fundação ou umaconsultoria especializada. Consultores sãoexcelentes facilitadores e, quando necessário,devem claramente representar a empresa. Oengajamento, no entanto, não pode serterceirizado. É imprescindível que osrepresentantes da empresa assegurem umtempo adequado para um engajamento real epara a negociação de seus desdobramentosdentro da empresa. O mesmo deve ser observadoem relação aos benefícios que a empresa podeobter. Se a empresa quer beneficiar-serealmente da aprendizagem interna que resultados diálogos, a terceirização não é adequada.Outro ponto a ser considerado é que oseventuais bons resultados de um diálogoterceirizado podem ser atribuídos à atuação doterceiro e não da própria empresa que investiuno diálogo.

Compreensão

“Diz respeito ao entendimento da informação pelaorganização e suas partes interessadas, incluindoquestões de língua, estilo e formato. Termos técni-cos e científicos devem ser explicados.”12

Além dos princípios que direcionam acondução do diálogo, existe um outro, relacionadoao gerenciamento do diálogo em base contínua - oda integração:

8 AccountAbility. Glossário da AA1000. 9 Idem.10 Idem.11 Idem.12 Idem.

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Integração ou integração de sistemas

“Diz respeito a fazer com que os processos (...)sejam parte das operações, sistemas e política daorganização, e não sejam tratados como um exer-cício isolado. (...) A integração preocupa-se com oconhecimento e a aprendizagem da organização.”13

Em outras palavras, todo diálogo tem de ser alinhado com um processo já existente, como, porexemplo, uma pesquisa de clima interno, no casode diálogo com os funcionários.

Todos esses princípios diferenciam o bomdiálogo, que tem reflexo na gestão da empresa, deuma mera ação de comunicação. Mesmo assim, alinha entre comunicação e diálogo estratégico ébastante tênue.

Para dar uma idéia mais prática de processosde diálogo, apresentamos em seguida alguns casosde diálogos praticados por empresas brasileiras,todas participantes da preparação desta oficina.

13 AccountAbility. Glossário da AA1000.

4. Casos Práticos de Diálogo

Parte interessada engajada: COMUNIDADE LOCAL

EMPRESA DO SETOR PETROLÍFERO DIÁLOGO COM COMUNIDADES PESQUEIRAS LIGADAS À ATIVIDADE DE EXPLORAÇÃO

Objetivo do Diálogo:Identificar, antecipar e gerenciar questões delicadas com as comunidades locais, de maneira a impedir que se transformassem emconflitos e problemas de difícil solução.

Metodologia Aplicada:O primeiro passo do processo foi o mapeamento e a identificação do perfil das organizações da sociedade civil e empresaspesqueiras direta ou indiretamente influenciadas pela atividade petrolífera, utilizando a metodologia de diagnósticos dos gruposde interesse (stakeholders appraisal). Por meio desse mapeamento, procurou-se registrar o que pensam as organizações sobreessa atividade produtiva, subsidiando o processo de diálogo entre elas e a empresa. Para apoiar esta e outras atividades, garantir atransparência do processo e assegurar a isenção da análise, foi contratada uma ONG.

Num segundo momento, foi organizado um workshop na capital do Estado em que a empresa atua, o qual teve como objetivodebater a questão da exploração do petróleo em relação ao meio ambiente e apresentar os procedimentos que seriamimplementados pela empresa durante sua permanência no Estado. Participantes da comunidade acadêmica e do setor público, deONGs e das associações de pescadores e empresas de pesca identificaram as preocupações e expectativas positivas decorrentes dasatividades de investigação do petróleo na região. Todos os convidados para o workshop receberam um relatório com os resultados.

Um ano depois foi realizado um encontro reunindo cerca de 100 pescadores. No ano seguinte, a empresa deu início a um processode consulta com as associações de pesca, o qual representou mais uma oportunidade de contato e construção de parcerias comesse público. Em paralelo, a empresa realizou workshops para os quais foram convidados os principais stakeholders da região.

Aprendizagem da Empresa:As informações a respeito dos stakeholders devem ser compartilhadas por toda a organização, mesmo com setores que nãotenham ligação direta com o assunto, pois cria-se assim uma consciência sobre a importância dos stakeholders para o trabalho decada um. É também importante que representantes de diferentes setores estejam presentes nos contatos com os stakeholders.Isso faz com que as questões colocadas pelo público externo se tornem mais tangíveis e fáceis de ser trabalhadas internamente.

A atuação participativa junto às organizações da sociedade requer, antes de tudo, respeito e abertura, pois só assim é possívelincorporar as novas idéias e percepções para que as mudanças realmente aconteçam. Não se deve, portanto, esperar que o outroutilize a mesma linguagem e tenha as mesmas características. Respeitar as diferenças é o primeiro passo para a construção deuma verdadeira parceria com a comunidade.

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Parte interessada engajada: COMUNIDADE LOCAL

EMPRESA DO SETOR INDUSTRIAL DIÁLOGO COM COMUNIDADES VIZINHAS DAS UNIDADES INDUSTRIAIS

Objetivo do Diálogo:

Identificar os impactos sociais e ambientais da empresa nas comunidades vizinhas, bem como as percepções e expectativas dessascomunidades em relação à empresa.

Metodologia Aplicada:

O projeto segue alguns passos:

• Mapeamento das ruas da comunidade a serem pesquisadas/consultadas (as mais impactadas);

• Identificação de líderes comunitários e apresentação dos objetivos da empresa e da consulta — “permissão da comunidadepara a realização do trabalho”;

• Encaminhamento de uma carta aos moradores falando da visita que seria realizada proximamente (entrega pessoal);

• Participação dos voluntários como pesquisadores (colaboradores que participam do programa de voluntariado);

• Capacitação dos voluntários (treinamento);

• Realização da consulta conforme calendário previamente definido;

• Carta de agradecimento aos vizinhos e apresentação dos próximos passos;

• Tabulação dos dados;

• Análise dos dados a partir de uma matriz de avaliação de risco social, método de análise que definiu os planos técnicose de comunicação;

• Implantação de um plano de comunicação — matriz de comunicação — que incluiria pós-consulta, realização de umencontro com toda a comunidade pesquisada (com apresentação dos resultados, apresentação de ações mapeadas eabertura para sugestões de melhorias no processo), e contato permanente com lideranças comunitárias;

• Implantação dos planos técnicos para minimizar impactos;

• Monitoramento dos impactos.

Aprendizagem da Empresa:

• Aprimoramento de uma gestão de diálogo;

• Criação de um método que possibilitou de fato o gerenciamento dos impactos e voto de confiança, conforme o objetivo doprojeto;

• Entendimento do que é responsabilidade social, até então associada principalmente a investimento social.

O projeto garantiu o que chamamos de licença social para operar; paralelamente a esse trabalho continuamos tendo programas eprojetos de investimento social, com a possibilidade de focar mais nas comunidades vizinhas à empresa.

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Parte interessada engajada: COMUNIDADE LOCAL, ONGs E PREFEITURA

EMPRESA DO SETOR COSMÉTICO DIÁLOGO COM A COMUNIDADE VIZINHA SOBRE DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL

Objetivo do Diálogo:

Promover a formação e a articulação de lideranças da sociedade civil, do setor público e da iniciativa privada com o objetivo deestruturar um planejamento estratégico a partir de um movimento comum, voltado para a implantação da Agenda 21.

Metodologia Aplicada:

a) Grupo de Trabalho Tripartite

Aliança para a constituição do Grupo de Trabalho Tripartite entre o poder público, a empresa e uma ONG ambiental, a partir de um processo de pesquisa e seleção de consultorias especializadas, além de visitas a municípios com experiência na implantação da Agenda 21.

b) Diagnóstico do município

Elaboração de um diagnóstico, com o apoio da uma ONG facilitadora, abordando os eixos político-administrativo, fiscal-financeiro,socioeconômico e físico-territorial. Esse foi um processo coletivo de fortalecimento do GT Tripartite, objetivando formular,preliminarmente, diretrizes orientadoras para ações voltadas para a gestão pública democrática e participativa e para a criação depolíticas de desenvolvimento sustentável. O GT Tripartite consolida-se com a entrega do diagnóstico e a assinatura do Termo deCooperação.

c) 1º. Encontro Pró-Agenda 21

Foi realizado o 1°. Encontro Pró-Agenda 21 da comunidade, com a participação de aproximadamente 150 pessoas dos diversossetores da comunidade local, para a divulgação do diagnóstico. Na ocasião, organizou-se uma comissão permanente demobilização e acompanhamento de políticas públicas, visando a estruturação do Fórum de Desenvolvimento Sustentável dacomunidade.

d) Projeto Comunidade Ativa

Com o objetivo de mobilizar a comunidade para identificar e formar canais de participação social e política, realizaram-se, emparceria com a ONG ambiental, oficinas de trabalho interativas em dois bairros em situação de vulnerabilidade social. As oficinasvisaram a instalação de embriões democráticos para discutir temas ambientais e sociais e o orçamento municipal. No final, os maisde 50 participantes se envolveram na elaboração de projetos-piloto de desenvolvimento dos bairros.

e) Comunicação

Uma linha 0800 foi colocada à disposição da comunidade para comunicação com a empresa.

Aprendizagem da Empresa:

A empresa, como importante articuladora do projeto, identificou uma grande oportunidade de contribuir para a melhoria dascondições de vida no município, sem com isso pretender substituir as demais forças locais, especialmente o poder público e aslideranças da sociedade civil.

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Parte interessada engajada: COMUNIDADE LOCAL, SETOR PÚBLICO, ONGs, CLIENTES E DEMAIS PÚBLICOS

EMPRESA DO SETOR FINANCEIRO PROMOÇÃO DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL SUSTENTÁVEL

Objetivo do Diálogo:

Promover o desenvolvimento das regiões em que o banco atua, gerando trabalho e renda de forma sustentável, inclusiva eparticipativa, pela adoção de práticas que respeitem as características culturais e vocações locais e permitam um salto dequalidade nos indicadores de desenvolvimento socioeconômico e ambiental.

Metodologia Aplicada:

A metodologia utilizada baseia-se no processo de “concertação”. A concertação, com o sentido de orquestração, é uma açãointegrada, harmônica e compartilhada a qual aglutina os vários agentes que possuem interveniência na cadeia de valor de umaatividade produtiva selecionada por uma localidade envolvida com ações de Desenvolvimento Regional Sustentável (DRS) doBanco do Brasil. Os agentes podem ser municipais, estaduais ou federais, pertencentes à área governamental ou à sociedade civil(empresas, entidades religiosas, entidades de classe, ONGs, universidades, o Sebrae, associações, cooperativas, movimentos sociaisetc.). Em nível local, esses agentes se organizam em uma Equipe de Trabalho DRS, que é responsável pela identificação daatividade produtiva, elaboração do Diagnóstico e Plano de Negócios DRS, implementação, monitoramento e avaliação. O processode concertação estimula a comunidade a apropriar-se da metodologia DRS e conduzir o seu processo de desenvolvimento.Asfiguras a seguir ilustram as dinâmicas da metodologia DRS (figura A) e do processo de concertação (figura B).

Aprendizagem da Empresa:

Desenvolvimento de competências organizacionais que permitem aliar à tradicional abordagem econômico-financeira aponderação de aspectos sociais e ambientais na prática negocial, como forma de desenvolver ações que sejam economicamenteviáveis, socialmente justas e ambientalmente corretas, respeitada a diversidade cultural.

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Parte interessada engajada: COLABORADORES/VOLUNTÁRIOS

EMPRESA DO SETOR ELÉTRICO DIÁLOGO ESTRUTURADO COM O PÚBLICO INTERNO

Objetivo do Diálogo:

Facilitar a interação entre colaboradores voluntários dispersos em 103 municípios, permitindo identificar formas inovadoras deatuação social, fomentar o voluntariado e contribuir para o fortalecimento da cultura de responsabilidade social.

Metodologia Aplicada:

A empresa criou um instituto que estabeleceu, documentou e implementou seu Sistema de Gestão da Qualidade para odesenvolvimento, implantação e gestão de projetos sociais, visando melhorar continuamente sua eficiência, eficácia e efetividade,de acordo com as exigências aplicáveis à NBR ISO 9001:2000. A promoção do diálogo transparente e contínuo com os públicosestratégicos é um dos quatro Objetivos da Qualidade. Esse público estratégico específico, o colaborador da empresa, estáespalhado em 103 municípios.

O Sistema de Gestão da Qualidade do instituto prevê procedimentos e instruções de trabalho para a promoção do diálogo comseus públicos estratégicos. O procedimento estabelece critérios para a gestão das interfaces com esses públicos e aplica asdisposições da norma AA 1000 respeitando todos os seus princípios: inclusão, completude, materialidade, regularidade, pró-atividade e auditabilidade.

As etapas do diálogo estruturado com os públicos estratégicos do instituto são:

• Procedimentos, instruções de trabalho e formulários específicos para:

a) gestão das interfaces com os públicos estratégicos;

b) relacionamento com os voluntários;

c) identificação de formas e meios de diálogo com os públicos estratégicos e influentes;

d) análise dos públicos estratégicos e influentes;

e) Declaração dos Princípios de Sustentabilidade.

• Comunidade virtual de voluntários na página do instituto para fomentar comunicação, relacionamento e integração entre eles.

• Criação de uma newsletter, publicação bimestral enviada a todos públicos estratégicos;

• Capacitação dos colaboradores voluntários, de acordo com o plano de treinamento previsto em cada projeto social.

Aprendizagem da Empresa:

Com o desenvolvimento do Sistema de Gestão da Qualidade certificado pela NBR ISO 9001:2000 e com a aplicação da norma AA1000, foi possível estruturar o diálogo com os públicos estratégicos do instituto, sendo que um deles é o colaborador da empresa.Um dos projetos desenvolvidos, o Prêmio Empreendedor Social, levou ao aumento da satisfação do público estratégico colaboradore aumentou o impacto das ações sociais implementadas e apoiadas pelo instituto e pela empresa.

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Parte interessada engajada: COLABORADORES

EMPRESA DO SETOR DE SERVIÇOS PARTICIPAÇÃO DO FUNCIONÁRIO NA GESTÃO DA EMPRESA

Objetivo do Diálogo:

O diálogo integra o fluxo de processos estruturados pela empresa para promover a participação do funcionário em sua gestão.É um projeto integralizador por excelência, desenvolvido com o esforço e a habilidade de 2.000 estrategistas (funcionários)talentosos.

Metodologia Aplicada:

O diálogo é um evento do ciclo do planejamento da empresa que conta com a colaboração de todos os funcionários. É aoportunidade para que todos possam contribuir para o crescimento da empresa.

A área de Desenvolvimento Humano conduz o processo e as ações, implementadas pelos níveis táticos e operacionais. Esteprocesso oferece o suporte necessário para estruturação do planejamento estratégico.

O envolvimento das gerências com todo o corpo funcional vem sendo fator decisivo no processo de gestão estratégica da empresa,em seus aspectos táticos e operacionais, a qual é apoiada pelas técnicas da Gerência de Projetos.

A metodologia divide-se em duas etapas:

1. A primeira etapa desse ciclo ocorre na sede e nas agências. No evento, todos os funcionários têm a oportunidade decontribuir para o planejamento estratégico com sugestões de melhoria dos processos tanto da sua área como daempresa

2. O próximo passo é unir as contribuições das agências e as da sede. Nesse ponto, as sugestões são classificadas como“operacionais” ou “estratégicas”. Esta parte do processo é conhecida como Feedback e é fundamental para acredibilidade e o sucesso do planejamento estratégico da empresa, uma vez que todos os participantes podemrastrear o destino dado às suas sugestões e entender melhor a estratégia da organização, sentindo-se assimestimulados a continuar contribuindo todos os anos.

Aprendizagem da Empresa:

O plano estratégico é atualizado anualmente, sendo utilizado como guia para o plano operacional. Ocorre no primeiro trimestre doano e é analisado criticamente ao longo do período, levando-se em conta as necessidades do mercado, as direções e estratégias eas eventuais mudanças nas necessidades e requerimentos dos clientes. O objetivo do processo de planejamento é aumentar asatisfação dos clientes internos e externos, desenvolver uma política de qualidade e assegurar a liderança nos negócios.

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Parte interessada engajada: FUNCIONÁRIOS

EMPRESA DO SETOR DE REFRIGERAÇÃO DIÁLOGO COM OS FUNCIONÁRIOS DO BRASIL E DE OUTRAS PLANTAS DO MUNDO

Objetivo do diálogo:

Disseminar e internalizar em toda a organização conceitos e princípios fundamentais da missão (para que existo), visão (onde querochegar) e valores (atitudes e comportamentos), visando à prática efetiva dos valores e à criação de uma cultura empresarial única.

Metodologia Aplicada:

A empresa convocou seus funcionários do Brasil e de outros países para um projeto de alinhamento cultural cujos objetivos eramdisseminar os conceitos e princípios da visão da organização, integrar e harmonizar todas as culturas que compõem a empresa ecriar uma cultura organizacional voltada para a alta performance e para a inovação.

O projeto foi planejado em três fases:

1. Sensibilização, auditoria cultural e diagnóstico de valores;

2. Disseminação, visão, missão e valores;

3. Internalização dos valores e reuniões de aprendizagem e de balanço.

A auditoria identificou as diferentes características da cultura organizacional de cada planta, por meio de pesquisa qualitativaaplicada com 10% dos funcionários. A metodologia utilizada foi a do holandês Fons Trompenaars, especialista em diversidadecultural nos negócios. Paralelamente à fase de sensibilização, a empresa realizou o diagnóstico de seus valores, em que os própriosfuncionários (10% do total) selecionaram os cinco valores que faziam mais sentido para a empresa.

O alinhamento do comportamento individual com a prática dos valores da empresa acontece por meio das Reuniões deAprendizagem e Reuniões de Balanço, nas quais os funcionários debatem o comportamento, a atitude da equipe diante de umasituação ocorrida na semana. O debate prossegue por aproximadamente 30 minutos, tendo como âncora os valores da empresa.Os funcionários identificam no fato real a prática e a não-prática desses valores. Nomes não são citados nem tampouco háacusações, e ninguém fica na defensiva. Com base em casos reais, os funcionários têm a oportunidade de expressar suas opiniões,fazer críticas e elogios sobre questões cotidianas.

Aprendizagem da Empresa:

O programa oferece aos funcionários a oportunidade de se desenvolver não apenas como profissionais, pelo aprendizado eaprofundamento de seu papel de líderes (média e alta gerência), mas também como pessoas (todos os funcionários).

Ao manter esse diálogo com seus funcionários, a empresa oferece a oportunidade para que todos se expressem, tendo como guiaos cinco valores escolhidos. Além disso, o programa abriu espaço que essa participação se intensificasse ainda mais, com aspessoas se manifestando também por meio de outras ferramentas, como o Canal Aberto, também utilizado quando, em algumasituação, um dos cinco valores não está sendo praticado.

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Parte interessada engajada: SINDICATOS

EMPRESA DO SETOR PETROLÍFERO ENGAJAMENTO DOS SINDICATOS PARA EDUCAÇÃO

Objetivo do Diálogo:

Aproximar a Federação Única dos Petroleiros da empresa para enfrentar um desafio que vai além das discussões salariais.

Metodologia Aplicada:

Ao lançar sua contribuição para o Programa Fome Zero, a empresa definiu como uma de suas ações a alfabetização de jovens eadultos. Criou-se então um projeto com o objetivo de atender 40 mil pessoas em fase de alfabetização e 1.600 alfabetizadores ecoordenadores. Para implementar essa ação, a empresa convidou o Instituto Paulo Freire (IPF) e a Federação Única dos Petroleiros(FUP) para serem parceiros do projeto. Sem dúvida, o IPF teria o conhecimento necessário para a metodologia e a gestão, e a FUPpoderia mobilizar seus parceiros para a articulação política, a formação das turmas (locais, envolvimento com as comunidades eestrutura) e acompanhamento do projeto.Um dos aspectos mais relevantes para a decisão de buscar a FUP como parceira era propor uma discussão no meio sindical arespeito da prática da responsabilidade social para além das questões pertinentes à luta sindical, e despertar o sentido daparticipação social com ações concretas desenvolvidas em projetos sociais. Dessa forma, a entidade poderia contribuir para asações do programa ao atuar afirmativamente propondo ações e articulações locais que possibilitassem uma mudança na vida deuma população tão empobrecida.O projeto é coordenado pelo Comitê Gestor Nacional (FUP, IPF e a empresa) e por comitês gestores nos quais os representantes daFUP — articuladores políticos — são representantes de sindicatos nos Estados.

Aprendizagem da Empresa:

A grande aprendizagem da empresa e dos parceiros foi a construção do diálogo e de alternativas para poder concretizar a ação,além de contribuir para um desenvolvimento local sustentável e um novo projeto de nação.