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IMPRENSA NACIONAL-CASA DA MOEDA José Esteves Pereira O essencial sobre SILVESTRE PINHEIRO FERREIRA

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Page 1: Oessencialsobre SILVESTREPINHEIRO FERREIRA · 9 II IDEIAS FILOSÓFICAS 1. Silvestre Pinheiro Ferreira representa para o pensamento luso-brasileiro um dos seus momentos mais significativos

IMPRENSA NACIONAL-CASA DA MOEDA

José Esteves Pereira

O essencial sobre

SILVESTRE PINHEIRO FERREIRA

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IBIOGRAFIA

Silvestre Pinheiro Ferreira nasceu em Lisboa a31 de Dezembro de 1769, filho de «fabricantes» deseda da Manufactura do Rato. Estudou na Congre-gação do Oratório, na casa de Nossa Senhora dasNecessidades, com destino à carreira eclesiástica,que decidiu abandonar em 1791.

Dá aulas de Filosofia Racional e Moral noColégio das Artes da Universidade de Coimbra, apartir de 1794. Pensador de espírito independentee aberto a novas concepções gnosiológicas, de raizsensualista e empirista, com algum pendor para arestituição de Aristóteles, de quem traduziu, direc-tamente do grego, as Categorias, vê-se envolvidoem equívocos próprios de uma época agitada nomeio académico coimbrão. É feita uma busca à sua

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residência por ocasião de uma ida a Lisboa. A ines-perada devassa interessou o reitor, o principal Cas-tro (D. Francisco Rafael de Castro, 1750-1816),então na Corte, que lhe prestou apoio reforçado,por recomendação do abade Correia da Serra (JoséFrancisco Correia da Serra, 1750-1823). PinheiroFerreira vem, então, a desempenhar funções diplo-máticas como secretário da Legação da Haia,estreitamente ligado à actuação de António deAraújo e Azevedo (1754-1817), futuro conde daBarca, a quem acompanha numa viagem de obser-vação cultural e política, pela Europa, entre o Ou-tono de 1798 e os finais de 1799. Fez parte dessegrand tour, também, o morgado de Mateus (1758--1825). S. P. F. aprofunda os seus conhecimentosda realidade europeia, na época final do Stürm undDrang, e no momento em que a emigração aris-tocrática francesa tem papel de relevo. Voltará aBerlim, em 1802, na qualidade de encarregado deNegócios. A experiência diplomática irá motivá-lo,aliás, ao longo da vida, para uma fecunda reflexãoe teorização de direito internacional e prática diplo-mática. Casa-se com Dorotheia von Leitholdt, que,para efeito do consórcio, abjurou da confissão lu-

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terana. Demitido em 1804, permanece na capitalprussiana e faz algumas viagens de carácter semi-diplomático. Assiste, em Berlim, a prelecções deFichte e Schelling e frequenta, aplicadamente, oscursos dos filósofos naturalistas Karstens (1803--1804) e Werner (1804-1805).

Com a aproximação dos exércitos napoleónicos,sobretudo depois da batalha de Friedland, em 14 deJunho de 1807, e do Tratado de Tilsit, em 7 de Julhodesse mesmo ano, vê-se obrigado a abandonarBerlim, de imediato, na altura em que Napoleãoficava mais livre para se voltar para o OcidenteEuropeu e para enfrentar a Inglaterra. Dirigindo--se à corte portuguesa no Brasil, os primeiros tem-pos não são fáceis, nem para si nem para a suafamília, e era menor, também, a possibilidade deapoio por parte do seu protector António de Araú-jo e Azevedo, ofuscado pela preponderância polí-tica de D. Rodrigo de Sousa Coutinho.

A partir de 1813, no Rio de Janeiro, S. P. F.inicia um curso de filosofia que foi publicando naImprensa Régia, intitulado Prelecções Filosóficassobre a Teoria do Discurso e da Linguagem, aEstética, a Diceósina e a Cosmologia, e, no ano

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seguinte, em resposta a um pedido de conselho doPríncipe Regente, endereçado também ao conde dePalmela, nas vésperas da elevação do Brasil aReino Unido ao de Portugal, preconiza reformasque, no seu entender, poderiam suster a eclosão derevoluções liberais, de teor mais radical. O seuparecer transparece nas Memórias Políticas sobreos Abusos Gerais e Modo de os Reformar e Pre-venir a Revolução Popular. Tratava-se de umprojecto que pretendia dar novo rumo ao absolu-tismo reformista em definitiva crise. Na sequênciado movimento de 26 de Fevereiro de 1821, é cha-mado a exercer funções de ministro dos NegóciosEstrangeiros e da Guerra, e será nessa qualidadeque acompanha D. João VI a Lisboa, a fim de juraras bases da Constituição. Em 4 de Julho de 1821,lê o discurso do rei, um texto que, com toda a pro-babilidade, redigira, ou, pelo menos, esboçara, e quemotiva protestos de uma parte significativa dosconstituintes, atendendo ao papel excessivamente in-terventivo que era atribuído ao rei. No entanto, de-pois de curto interregno, o ministro de D. João VIassumirá o Ministério dos Negócios Estrangeiros dogoverno do Vintismo até ao seu termo.

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Começará, a partir dessa data, para S. P. F. umprogressivo afastamento da cena política, reforçadopor um longo exílio em Paris, onde permanece atéao princípio da década de 1840, entregando-se aextensa e aprofundada meditação filosófica, jurídica,social e política. Mais uma vez recorre ao ensino,dando aulas num colégio de emigrados peninsula-res. Estabelece uma ponte entre o jusnaturalismomais avançado e as concepções utilitaristas deBentham, em obras como o Précis d’un Cours deDroit Public Interne et Externe, de 1830, e o Ma-nual do Cidadão em um Governo Represen-tativo.

Em 1831 é consultado para avaliar, com outrosconselheiros, a situação em Portugal e as medidasa tomar face a uma eventual mudança de governode D. Miguel, considerado como ilegítimo. As suasposições e as de Filipe Ferreira de Araújo e Cas-tro (1771-1849), indefectível amigo do filósofo, queo acompanha nos alvitres, merecem a desaprova-ção de José Ferreira Borges (1786-1838), emigra-do em Londres, provocando acesa polémica.

Em Paris, dedica-se, igualmente, a estudos denatureza social e económica de que são exemplo

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o Projecto de Banco de Socorro e Seguro Mú-tuo, de 1836, e o Projecto de Associação paraa Melhoria da Sorte das Classes Industriosase o Précis d’un Cours d’Économie Politique, am-bos de 1840.

Regressado a Portugal, em 1842, é particular-mente bem acolhido por gerações mais novas, tendocolaborado em revistas e jornais daquele tempo,nomeadamente em A Revolução de Setembro.

Em 1844 envolve-se em polémica com Antó-nio Feliciano de Castilho na sequência de um pe-queno texto, A Oração do Cristão, que publicarano periódico O Cristianismo, peça importante paracompreender os seus pontos de vista teodiceicosque desenvolveu em obra inédita, redigida em fran-cês, e que, só muito recentemente, foi traduzida epublicada.

Morre em 1 de Julho de 1846. Está sepultadono Cemitério dos Prazeres.

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IIIDEIAS FILOSÓFICAS

1. Silvestre Pinheiro Ferreira representa para opensamento luso-brasileiro um dos seus momentosmais significativos. No espaço cultural portuguêsdos princípios do século XIX, com a docência e apublicação das Prelecções Filosóficas, assistia-sea um primeiro momento superador da reflexãocondicionada pela hegemonia da filosofia naturalque a reforma de 1772 consagrara no ensino uni-versitário. O filósofo tomou uma posição crítica faceao empirismo mitigado e infecundo quanto à espe-culação e aprofundamento das questões. As Pre-lecções Filosóficas sobre a Teoria do Discursoe da Linguagem, a Estética, a Diceósina e aCosmologia foram publicadas, no Rio de Janeiro,à medida que iam sendo ministradas aos alunos.

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Enquanto lições imediatamente publicadas, reflec-tem a oralidade característica da docência. As Pre-lecções são em número de trinta e ao longo dosfascículos vai surgindo uma argumentação rica evariada, sempre pautada por um fio condutor deanálise, revendo-se temas, problemas, leituras eautores. É particularmente significativo o comentáriorecorrente das Categorias de Aristóteles, que tra-duzira para apoio da docência. Parece indiscutível,também, que os assuntos iam sendo tratados emfunção da dinâmica do curso e das próprias inter-venções dos alunos, como nos informa no início daúltima prelecção.

As ideias filosóficas silvestrinas, presentes naslições ministradas no Brasil, no Colégio de S. Joa-quim, serão desenvolvidas e sistematizadas emParis, a partir de 1826, ano em que, dos prelos dacasa editora Rey et Gravier/J. P. Aillaud, surge oEssai sur la Psychologie. No entanto, as linhasde força do pensamento do autor, delineadas noprincípio do século, permanecerão, de um modogeral, ao longo da sua vida. O curso fluminenseteve significativa repercussão através das folhas doCorreio Brasiliense, de Hipólito José da Costa,

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onde surgiu a primeira objecção polémica de quePinheiro Ferreira nos dá conta. Respondendo àargumentação do periódico que apresentava oexemplo dos mudos e surdos de nascença paracontestar que não havia discurso onde faltasse alinguagem, S. P. F. retorquia que ela não se cir-cunscrevia, no seu pensamento, à linguagem daspalavras, mas comportava, também, a expressãopelos gestos, como acontece com os surdos-mudos.

A obra de S. P. F. não mereceu atenção apre-ciável durante o século XIX e a primeira metadedo século passado. É evidente que o filósofo tive-ra prestígio nos meios políticos, sociais e culturais,fora membro da Academia das Ciências e cor-respondente do Instituto de França, concitara o res-peito de alguns vultos contemporâneos nacionais eestrangeiros, especialmente pelos seus escritos denatureza jurídico-constitucional e pelas traduções deVattel e de Charles de Martens, mereceu diciona-rização em obras importantes como a Enciclopé-die Larousse du XIXème Siècle e o Dictionnaired’Économie Politique, de Cocquelin e Guillaumin,e colaborou na Enciclopédie Moderne, de Courtin.

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No entanto, a esta notoriedade nunca viria a cor-responder uma significativa repercussão intelectual.

Em Portugal, Adrião Pereira Forjaz de Sampaio(1810-1874), ainda em vida do filósofo, ao organi-zar os primeiros cursos de economia política e esta-tística, utiliza bibliografia recomendada por PinheiroFerreira. Depois, António Augusto Teixeira de Vas-concelos (1816-1878) preocupar-se-á com a obrae a personalidade do filósofo, utilizando-o, também,o reconhecido José Félix Henriques Nogueira (1823--1858) nos seus Estudos sobre a Reforma em Por-tugal (1851). Mas será apenas com Joaquim JoséLopes Praça (1844-1920) que Pinheiro Ferreirapassa a ser autor conhecido das novas geraçõesde Oitocentos. Nas vinte páginas que lhe dedica naHistória da Filosofia em Portugal, de 1868, comtodas as limitações expositivas, Praça tenta situaro pensamento do filósofo e, mais tarde, nos Estu-dos sobre a Carta Constitucional (1878) será, jul-gamos, o primeiro a posicionar-se, criticamente, pe-rante o jusfilósofo e constitucionalista. É com JoãoJosé Lousada de Magalhães que, em 1881, surge,em alemão, a primeira interpretação de conjunto daobra de Pinheiro Ferreira, a que se seguem, no

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século XX, estudos de Ferreira Deusdado, Cabralde Moncada, Joaquim de Carvalho, Delfim Santos,José Marinho, Lúcio Craveiro da Silva, AntónioPaim, António Braz Teixeira, Maria Luiza RangelCoelho, Maria Beatriz Nizza da Silva e José Este-ves Pereira, entre outros. Não podemos deixar desalientar, no Brasil, a persistente e meticulosa aná-lise de António Paim e de Vicente Barreto dedi-cada ao ministro de D. João VI. De facto, se aedição das Prelecções Filosóficas feita em Por-tugal no Boletim da Universidade de Coimbra,em 1960, não teve difusão significativa, a brasileira,de 1970, ao cuidado de António Paim, tornou co-nhecido o filósofo. Só em época mais recente foipossível, entretanto, divulgar, melhor, os escritos doautor. Deve-se a Pinharanda Gomes uma ediçãopublicada pela Guimarães Editora, em 1974, da tra-dução silvestrina das Categorias aristotélicas euma pequena, mas muito significativa, antologia detextos, de 1977. A Imprensa Nacional-Casa daMoeda reeditou as Prelecções Filosóficas, em1996, em 1999 disponibilizou a tradução do Essaisur la Psychologie, que inclui, no mesmo volume,as Noções Elementares de Filosofia, além de

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outros escritos filosóficos, e, em 2005, publicou otexto original e a tradução (a cargo de RodrigoCunha) da obra inédita Théodicée (1845), com umexcelente prefácio de António Braz Teixeira.

2. Silvestre Pinheiro Ferreira acorda para osproblemas filosóficos nas aulas da Congregação doOratório. Durante o tempo em que ali estudoupontificava o magistério do P.e Teodoro de Almeida(1722-1804). Prolongava-se, entre os padres deS. Filipe de Néri, o preceptorado do P.e João Bap-tista (1705-1761), que, através das aulas no fim daterceira década de Setecentos, pretendera «resti-tuir» o «Aristóteles» da Física, «estragado» pelasvárias leituras escolásticas, ao mesmo tempo quedebatia as teses cartesianas, incorporava o atomis-mo gassendista e anunciava Newton. Todas essasquestões viriam a ser mais bem explicitadas na suaobra Philosophia Aristotelica Restituta et Illus-trata qua experimentis qua raciociniis nuper in-ventis (1748).

Entre as razões que se apontam para o aban-dono do Oratório, por parte de S. P. F., estariam,possivelmente, objecções a algumas ideias do P.e Teo-

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doro de Almeida e às orientações gerais da filoso-fia que eram seguidas na Congregação. O que élíquido é o facto de, no ambiente Néri, ter o jovemSilvestre a possibilidade de ler e discutir muitasquestões da filosofia natural que, aliás, o interes-sarão sempre. Na década de 1790, a leitura deCondillac constituiu, por seu turno, um desafio aocânone em que se formara. As posições críticasque Pinheiro Ferreira não deixará de tomar, emrelação ao filósofo francês, não diminuem o impactodas concepções deste, quer na elaboração gnosioló-gica, quer na implícita preocupação por uma teoriade linguagem, bem patente nas Prelecções. A su-gestão teórica de sistema, na economia do seu la-bor especulativo, poderá ser, também, condillaquia-na, como acontecera, uma década antes, com ojuseconomista Joaquim José Rodrigues de Brito(1753-1831).

Entretanto, S. P. F., em 1798 e 1799, teve opor-tunidade de ver, de perto, o que de mais significa-tivo se passava nos principais centros culturais epolíticos da Europa. A discussão de ideias que segeraram na esteira da Ilustração, do Liberalismo edo Pré-Romantismo tocam-no especialmente. No

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ambiente europeu da emigração culta circulava,também, a influência mental inglesa, que o pode terinfluenciado nalguns pressupostos de sentimentalis-mo moral e utilitarista. Em Berlim, entre 1802 e1807, além de assistir ao desenvolvimento do idea-lismo alemão, terá oportunidade de confrontar assuas concepções gnosiológicas e a temática da lin-guagem com autores de formação naturalista. Masvirá a distanciar-se dos «Heraclitos da Alemanha»,como caracterizará Fichte e Schelling, na linha dopróprio Kant, contemporâneo do processo final dalibertação do pensamento alemão dos quadros es-treitos e formais do wolfianismo.

A posição filosófica de raiz sensualista, emboramoderada, de S. P. F., que se pretende continua-dor de Aristóteles, Bacon, Leibniz, Locke e Con-dillac, afastam-no, quer do transcendentalismo kan-tiano, quer do idealismo, quer, mais tarde, e poridênticos motivos, dos eclécticos. Importa, todavia,não perder de vista que o apreço demonstrado, nãosó pelas lições dos filósofos naturalistas, com quemmais directamente privou, Karstens e Werner, mas,também, pelas sistematizações de Lineu, denotamum posicionamento que explica o seu distancia-

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mento em relação ao que considera, quase depre-ciativamente, em Fichte e Schelling: fragilidade dediscurso e conceptualização imprecisa. A desvalo-rização a que procede do discurso de Fichte eSchelling deve entender-se, de facto, como umacrítica à insuficiência, naqueles pensadores, de umalinguagem filosófica bem construída, na exactamedida que para Pinheiro Ferreira importava, muitorigorosa nomenclatura dos factos experienciados,necessários a uma sistematização capaz e a umateorização adequada que viabilizasse um bom mé-todo de análise para os vários domínios do saber.Julgamos, a este propósito, que S. P. F., quandochega a Berlim, tem já ideias bem assentes sobrea problemática gnosiológica a que adere, marcadas,entretanto, pela influência do sensualismo de Con-dillac, temperado pelo empirismo lockiano. Assimse percebe que, nas Prelecções Filosóficas, surjacom alguma frequência, não só a referência aris-totélica, mas, também, as valiosas contribuiçõespara uma linguagem apurada dos diferentes ramosde ciência.

Quando, a propósito de Kant, ou da sua escola,dizia que ela se explicava por dois pontos cardeais,

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dar a antigas palavras novas e arbitrárias acep-ções e revestir de nomes novos ideias triviais,entende-se que a injunção crítica silvestrina é pers-pectivada através das exigências de constituição deciência (da matemática à teodiceia), tanto quantoo posicionamento de Pinheiro Ferreira relativamenteà organização dos factos da experiência está nosantípodas do transcendentalismo de Kant.

3. Importa sublinhar, por fim, nesta caracteri-zação de influências, confrontos e superações, queo filho espiritual do Oratório se situa, permanente-mente, por oposição a um reducionismo empiristaou sensualista, na exacta medida em que subjaz àsua especulação a harmonização de signo leibni-ziano de Deus, Homem e Mundo. E, por essa via,justamente se verá confrontado com o problema daTeodiceia, objecto de uma obra de fôlego que es-tava pronta na altura em que faleceu (TeologiaNatural na nomenclatura adoptada, em 1813). Umindicador vivo das preocupações teodiceicas, a quenos referimos, parece definir-se mais, no fim davida, por ocasião da polémica propiciada sobre oseu texto Da Oração do Cristão, publicado em

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1843, no jornal O Cristianismo, ou de modo maiselaborado na Teodiceia, redigida em francês, da-tada de 1845, que deixou inédita.

O teor das considerações silvestrinas sobre aoração como adoração caíram mal ao romantismocatólico de António Feliciano de Castilho (1800--1875), que defendia o valor preferentemente im-petrativo das preces. A propensão teodiceica, umtanto ou quanto descarnada, do escrito de S. P. F.colidia com o tradicionalismo de Castilho na linhada poética do cristianismo de Chateaubriand e dasposições mais aceites de Gerbet (1798-1864), apo-logista de Lamennais, autoridades aduzidas e, emtodo o caso, reforçadas pela recorrência apologé-tica da obra tutelar O Deísmo Refutado por SiMesmo, de Bergier (1715-1790).

4. Ao travejamento ontognosiológico do «siste-ma» de S. P. F. importava, portanto, a teórica dalinguagem, a revivescência e purificação da retó-rica e a definição sintáctica e pragmática do dis-curso. É necessário ter em mente que foi peranteo efectivo impasse de mediação discursiva, verifi-cada a inútil pretensão harmonizadora dos novos ra-

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ciocínios e experimentos (o cientismo, portanto), ea antiga filosofia de Aristóteles (através do desenro-lar tardio, e pouco brilhante, da outrora luminosa Se-gunda Escolástica) que S. P. F. persegue uma fun-damentação de base empirista, na esteira de Lockee de Condillac. Esta fundamentação virá a ser, sub-sequentemente, elaborada pela atenção devida aopapel do entendimento que julga e raciocina, a partirdos dados sensoriais. Houve, assim, uma utilizaçãomodernizante de Aristóteles em S. P. F.

A importância atribuída às Categorias de Aris-tóteles, que o filósofo traduziu, considerando-asimprescindíveis para o acompanhamento das Pre-lecções Filosóficas (o texto de aulas práticas, porassim dizer), prende-se, essencialmente, com a exi-gência de discorrer com acerto e falar com cor-recção, recuperando, por essa via, o cânone aristo-télico da retórica, no sentido de criar nomenclaturaprecisa para os factos da ciência que, no seu tem-po, procuravam constituir-se. A própria definição desubstância é, em Pinheiro Ferreira, não o suporteontológico das qualidades das coisas, mas o com-plexo de qualidades dadas pela experiência sensí-vel e posteriormente combinadas ou sistematizadas.

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Poderemos afirmar, pois, que S. P. F. solicita odiscurso aristotélico para o estudo das noções ge-rais que são comuns a todos os conhecimentos hu-manos, adequando as categorias aristotélicas (redu-zidas à substância, à qualidade e à relação) a umametodologia expositiva (ordenada e sistematizada)do conhecimento: a estratégia discursiva silvestrinatem como um dos seus objectivos fundamentais oenriquecimento da nomenclatura integradora dasideias e das analogias efectivas com os objectos aque as ideias se reportam. Por outro lado, o seudiscurso ontológico é indissociável do problema doconhecimento, tanto quanto o é de uma teoria dalinguagem, no horizonte de uma Mathesis univer-sal, de um nexo de constituição dos saberes aosníveis do pensar, do ser e do comunicar e do valo-rar, consignados no âmbito da Diceósina. Devesalientar-se, por fim, o desiderato de uma arte depensar, referência basilar da sua pedagogia filosó-fica, tal como a desejava incutir aos pupilos dasaulas do Colégio de S. Joaquim.

5. Para S. P. F., pelas sensações (ou pelasideias, quando o objecto está ausente) apuram-se

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os factos, organizados em nomes e frases, cons-tituindo-se, por essa via, uma Nomenclatura quevirá a ser desenvolvida em Sistema, Teoria e Mé-todo. O ponto de partida filosófico é o do sensocomum. Mas a pretendida depuração discursivaexige todo um processo de inteligibilidade que bus-que o assentimento de princípios susceptíveis deaplicação, a partir de observações que nos permi-tem conhecer os objectos individuais e os esta-dos individuais de cada um deles: os factos.

Esta presencialidade do facto é, também, pre-sencialidade discursiva. Há correspondência pro-porcional entre as ideias e as palavras. A homolo-gia de pensamento e linguagem desenvolve-se naorganização do pensamento silvestrino através decomplexidade crescente. É com base na enuncia-ção clara e distinta dos factos que se acede à ins-tância organizativa do sistema. Pelas observaçõesindividuais dos objectos que vamos acumulandoverificamos que eles se dispõem por si mesmos nonosso espírito. O sistema vem a ser o agrupamentodos factos por classes, ordens, géneros, famílias econsequentes subdivisões. Todavia, conhecer umgrande número de factos ou possuir uma nomen-

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clatura rica e saber classificar os objectos em sis-tema não é suficiente. É necessário, através dateoria da ciência, vincular os factos já sistemati-zados ao conhecimento da causa, da razão e doefeito dos fenómenos. Atinge-se então, no proces-so de conhecimento e de constituição do saber, onível de um sistema regido por princípios e passí-vel de permanente revisão, advertidos os acertose os erros que exigem um método. Dada a impor-tância que o problema do Método assume, justifica--se que ele se identifique com a filosofia da ciên-cia. No índice recapitulativo que acompanha acolecção das Prelecções, Pinheiro Ferreira virá aapresentar uma definição integradora e constitutivade Filosofia enquanto reunião das doutrinas queconstituem o Método geral e comum a todas asCiências.

Nesta hierarquização de um processo constitu-tivo do discurso filosófico, a ciência, na sua desig-nação mais universal, aparece inserida no estudodas faculdades do espírito e das propriedades doscorpos. As primeiras inscrevem-se no terreno daPsicologia, para a qual é necessária uma Teoriadas Sensações que abranja todas as doutrinas que

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tem por objecto as faculdades do espírito. Quantoàs propriedades dos corpos, que se inscrevem naesfera das Ciências Físicas, há que distinguir entrea abordagem das propriedades dos corpos semformarem a sua existência, isto é, sem experiência,de tudo o que está para além da pura possibilidadehipotético-dedutiva da Matemática. Teremos assimque distinguir, nas Ciências Físicas, entre as Ciên-cias Matemáticas e a Cosmologia, que exige aconsideração de um Sistema Geral do Mundo.

6. A Ciência, enquanto tem por objecto as fa-culdades do espírito, desenvolver-se-á através daIdeologia, da Gramática, da Etologia e da Estética,importando sublinhar o que no autor correspondeà sensibilidade, faculdade passiva, e a esponta-neidade, força que a alma exerce sobre o corpo.O complexo das duas faculdades que o espírito eo corpo possuem de operar um sobre o outro é de-signado pelo filósofo união da alma com o corpo.

Este ponto da meditação silvestrina é crucial,permitindo um vínculo do conhecimento das facul-dades do espírito (de pensar ou desejar, enquantodiferentes modos de sentir) ao mundo moral. Daqui

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decorre que o bom, o justo e o agradável, por umlado, e o belo, por outro, são os objectos dos nos-sos desejos. Quanto aos três primeiros, inscrevem--se numa Teórica da Virtude ou Diceósina. Quantoao segundo aspecto, constituem-se através de umaTeórica do Bom Gosto ou da Estética. A Diceó-sina, enquanto espaço de análise axiológica, estáconsiderada de tal modo que não se reduza ao tra-tamento puro da Ética. Tomando em consideraçãouma releitura de Platão e de Aristóteles, a esferade reflexão proposta diz respeito às virtudes gené-ricas e comuns a todos os estados que se pode-riam inscrever na ética, enquanto definida como tra-tado das virtudes e dos vícios, independentementedas considerações sociais. Por extensão e aprofun-damento é na Diceósina que se trata da filosofiados deveres do cidadão e das sociedades e da pró-pria realidade económica. No que concerne à Esté-tica, S. P. F. não lhe atribui estatuto autónomo,inserindo-a, antes, dentro do paradigma corrente daimitação.

7. O pensamento cosmológico silvestrino apre-senta-se amplamente exposto na Quinta Prelecção,

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sob a égide de Leibniz, ao dizer que o presenteestá prenhe de futuro […]. Qualquer das móna-das, de que o universo se compõe, é representa-tiva do mesmo Universo. A partir do fenómenodas marés, Silvestre Pinheiro exemplifica relaçõesque envolvem a influência do Sol e da Lua sobrea Terra e explicam o processo lento de formaçãodo Universo regido por leis através de modos di-ferenciados. Em cada um dos fenómenos queacontecem em qualquer substância, temos sempreum efeito que tem por causa todas as substânciasdo Universo, colectivamente. Esta legalidade e di-namismo expresso em universal harmonia, em queestá presente, além do espírito de Leibniz, o deNewton, ajusta-se bem à economia do discurso desensibilidade monadológica de Pinheiro Ferreira,apresentando-se a cosmologia como estudo siste-mático da fenomenalidade física: de onde deduziráa Criação e Deus como causa do Universo.

8. A matriz teológica dos deveres para comDeus e a retribuição divina consoante as virtudesou os vícios, no plano da salvação, não entra emconflito, em S. P. F., com a realização colectiva do

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Bem, expresso numa concepção ética de cariz maisfilosófico. Frente ao sentido teológico e finalista,perfila-se uma leitura ética de meios em que con-tam, sobretudo, os móbeis de acção, mas em que,igualmente, o nexo teológico está subjacente, porum viés teleológico. O problema ético é, porém,indissociável da própria teoria do conhecimento doautor. Como já vimos, S. P. F. não se revê numsensualismo estrito. À faculdade passiva de sentiropõe a força motriz, o exercício activo da almasobre o corpo. O que não implica, todavia, quenesta indiscernível relação se possa colher umaexplicação suficientemente clara no pensador luso--brasileiro. Sem dúvida se distinguem as acçõescorpóreas das mentais. Se, nas acções corpóreas,se distingue o agente e o paciente, já não se passaa mesma coisa nas acções mentais. Não obstantese constatar a disposição do agente e do paciente,nem sempre o possível efeito se produz e os espíri-tos na presença de muitos motivos escolhem eoptam e por isso são livres. Mas, em todo o caso,como ir desta constatação ao seu fundamento?

Em nota ao § 156 das Noções, S. P. F. buscauma resolução da aporia, aludindo a alguns pseudo-

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filósofos que têm pretendido combater a liberdadedo homem. Todos eles se fundavam, na sua opi-nião, na falsa definição que se costuma dar de li-berdade, ou seja, o poder de agir, ou não, segundoa nossa vontade. A liberdade seria a faculdade denos determinarmos na presença de vários bens poraquele que nos agrada mais. Ora, o que o filósofoportuguês pretende contestar é que haja um objectoexterno que condicione as nossas opções. A expe-riência de cada um atesta, pelo contrário, que napresença de vários motivos, ora optamos por um,ora por outro, sem se poder assinalar objecto al-gum externo que seja causa das nossas determi-nações.

A escolha racional e volitiva entre o bem e omal talvez ganhe mais visibilidade, ainda, se tiver-mos presente o interesse que o problema suscitava,nomeadamente junto dos «ideólogos» franceses.Maine de Biran e Destutt de Tracy, cujas obrasS. P. F. conhecia bem, mas que apreciava com re-servas, referem-se à indiscernibilidade da liberdadee da vontade. Ora o que se verifica no pensamentosilvestrino é, justamente, a permanente aporia queresulta dessa mesma relação de liberdade e de

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vontade. As escolhas que fazemos, como actos danossa vontade, podem considerar-se como efeitoscuja razão reside na alma; ou como efeitoscuja razão existe nos corpos. Para Pinheiro Fer-reira, apenas para a origem corpórea dos actos épreciso um maior cuidado de análise, já que, no queconcerne às escolhas de natureza espiritual, elas seapresentam como acções livres. No que respeitaaos actos corpóreos, ou se sabe serem eles mes-mos efeitos de que a alma foi agente e então se-rão também actos livres, ou aquele estado doscorpos a que essa vontade ou essa escolha seseguiu é efeito cuja razão não existiu na alma, masno nosso ou em outros corpos. O problema remete--nos à união da alma com o corpo. O que acabarápor ser possível nesta relação unitiva é, portanto,enumerar mudanças, no corpo e na alma, emboraseja possível a remissão retroactiva para uma fun-damentação que converge, no fundo, em Deus.

Na busca do fundamento de acção, os respec-tivos móbeis (que importarão, sobremaneira, ao seuutilitarismo político) configuram uma via teleológicade pensamento que explica, também, de certomodo, quer a sua confiança reflectida nos valores

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liberais, quer o distanciamento relativamente a po-sições marcadamente providencialistas. No cerneda reflexão ética silvestrina deparamos com a fe-cundidade de um pensamento que tem que servisto, no fundo, através da relação harmoniosaentre a Fé e a Razão.

9. A reflexão teodiceica é compreensivelmenteum tema incontornável na meditação silvestrina ereflecte a influência permanente de Leibniz. Entreo ponto de partida sensista da sua ontognosiologiae a harmonia cósmica cuja explicação última nãose encontra ao alcance da razão humana emergea necessidade da revelação. Mas não fica prejudi-cado, por isso, o tratamento filosófico que se ins-creve na religião natural enquanto expressão dospreceitos da moral universal fundados na experiên-cia e na razão e presentes nas nossas acções li-vres. A meditação teodiceica silvestrina resolve-se,pois, numa harmonização de razão e fé. A presen-ça do mistério, da profecia ou do milagre não éverdade contraditória. Apenas transcende a capa-cidade da razão por sua natureza limitada.

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IIIIDEIAS POLÍTICAS

1. Silvestre Pinheiro Ferreira assume uma po-sição crítica perante o desenrolar das circunstân-cias políticas portuguesas e europeias num períodocrucial do liberalismo (de 1820 a 1846) depois dese ter envolvido na actividade política dos fins doAntigo Regime e do Vintismo, na sua qualidade deministro dos Negócios Estrangeiros.

Os pressupostos filosófico políticos silvestrinossão de cariz moderado, com alguma atenção pres-tada a Montesquieu, na medida exacta em que seafasta do individualismo e da «vontade geral» deRousseau. O contratualismo do pensador portuguêsparte de uma continuidade histórica e é avesso àtirania da representação popular que possa desa-guar na forma política da oclocracia (exercício dopoder abusivo da multidão). É manifesta a defesa

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destas ideias no discurso que proferiu nas Cortes,em 1821, em nome de D. João VI.

Silvestre Pinheiro Ferreira não parte, pois, deuma sociedade vista a partir do pessimismo hob-besiano, por exemplo. Os homens convencidos deque lhes é impossível, por si sós, defender as suaspessoas e propriedades contra os mais fortes pen-saram que, reunidos em sociedade, se poderiamassegurar, a todos reciprocamente, o gozo dos seusdireitos e obrigar cada um ao cumprimento dos seusdeveres. O homem não cede, portanto, direitos,antes assume a necessidade de prover à sua exis-tência numa sociedade que se constitui e se desen-volve historicamente. Condorcet é um autor em queS. P. F. se revê, quer na ideia de progresso, querna teorização e prática eleitoral. Em todo o caso,é sempre necessário interpretar os actos pelos re-sultados. Quando é necessário provar a justeza daaplicação do epíteto de justo, de honesto ou dedesonesto, numa acção livre, o único meio possí-vel para aí chegar consiste em examinar os resul-tados que se devem esperar de tais acções.

Coerente com a raiz sensualista e o influxo es-piritualista que marca toda a sua especulação,

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acrescida da leitura, muito própria, que faz deBentham, S. P. F. considera o indivíduo e o cida-dão numa perspectiva de alguma reserva quanto aatitudes voluntaristas que possam perturbar a viabi-lização de uma meritocracia com algo de emulativo.

O sentido de justiça que preside à sua refle-xão parece não ser alheio à influência institucionalnapoleónica, de carácter hierarquizante de funçõese ao enquadramento jurídico de uma sociedade areconstruir sobre os destroços revolucionários. Em1844, dois anos antes da sua morte, Pinheiro Fer-reira lembrava, reportando-se a 1799, que onde nãohavia leis só podia haver anarquia. E quanto àFrança, lembrava o facto providencial de um ho-mem ter arrancado a nação do abismo, dando-lheum sistema de leis orgânicas que, no regresso dadinastia bourbónica, obstou a que se consumasseuma recaída nos ferros do absolutismo.

2. A integração social e a harmonização polí-tica de S. P. F., embora dentro de meditação pró-pria, conflui nas ideias da corrente doutrinária dosmoderados, e em parte, também, em algumas con-cepções de Benjamin Constant (1767-1830), seu

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coetâneo, mesmo que a invocação deste seja, porvezes, pautada por alguma discordância. Trata-se,no fundo, de um projecto de conciliação de ordeme liberdade, no clima posterior a 1815 e adequado,sobretudo, à monarquia burguesa de 1830. Quantoa Benjamin Constant, além da proximidade da ca-racterização dos poderes, há coincidência de atitudena definição do indivíduo em sociedade, no equilí-brio do democratismo com a autoridade, e na har-monização da liberdade política com a propriedade.

Em relação à eventual sintonia, mais do que in-fluência directa, dos «doutrinários», na sua defesade «juste-milieu», é evidente a substituição do impé-rio da «pessoa» pelo império da «lei», como apa-rece reiterado em Royer Collard (1763-1845), oua crença num certo progresso integrador de fractu-ras sociais augurado por François Guizot (1787--1874). Mas a reflexão de S. P F., quando tem queinvocar doutrina, é sempre pessoal, nomeadamentena cuidada análise que empreendeu, quer relativa-mente à Constituição de 1822 e à Carta Constitu-cional de 1826, quer aos diplomas constitucionaiseuropeus.

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Em suplemento ao Cours de Droit PubliqueInterne et Externe, S. P. F. faz um exame críticonão só da Carta Constitucional outorgada por LuísFilipe de Orleans, de 7 de Agosto de 1830, mas,também, da Constituição decretada pelo Con-gresso da Bélgica, em 7 de Fevereiro de 1831, eda que foi promulgada para o Reino de Saxe em4 de Setembro do mesmo ano. São muito signifi-cativas as considerações que expende sobre omapa político-constitucional europeu do seu tempo,lembrando que, enquanto os países do Sul, atravésdos seus povos, apelaram para a revolução comoresposta à incapacidade reformadora dos governos,em contrapartida, na Europa do Norte, as classesprivilegiadas procuraram um equilíbrio a que nãofaltou, até, o enquadramento federalista.

No que respeita à Carta Constitucional fran-cesa, o aspecto mais discutido é o da função régiapara ilustrar as ideias que sempre defendeu dopapel interventivo do monarca, ao arrepio da fór-mula de que o rei reina mas não governa. Nointeresse do próprio fortalecimento do constitu-cionalismo liberal, deve ser dado um papel signi-ficativo ao monarca sem que tal implique uma re-

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condução a projecções de antigo regime como aque acabou por se verificar através das tirânicasordonnances de Carlos X, em relação às quais sejustificava legítima resistência, na medida em quejá passara o tempo em que um rei poderia afirmarque o estado era ele próprio (L’État c’est moi).

Em decisiva opção de regime representativo, aorigem do poder reside na Nação e, nesse sentido,o governo hereditário é um elemento extrínsecoenquanto origem e essência do poder monárquico.O Estado depende dos interesses e necessidadesda Nação. Sem pôr em causa a outorga constitu-cional. o que mais ressalta na argumentação dopensador é, recorrentemente, a falta de adequaçãodos princípios com a realidade. Como há-de dizer,quase no fim da vida, trata-se de constituições quenada constituem.

3. Na altura em que se dedicava a esta apro-fundada meditação sobre o estatuir de uma novaordem constitucional europeia ocorreu a crise por-tuguesa de 1831-1832. Silvestre Pinheiro Ferreirafoi uma das personalidades emigradas, que a pe-dido de D. Pedro se pronunciaram sobre a situação

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política do País e sobre a eventual restauração notrono de sua filha D. Maria da Glória. Na linha decoerência que preside à teoria e prática constitu-cional sugerida, não lhe restavam dúvidas (e ao seuamigo de sempre Filipe Ferreira de Araújo e Cas-tro, 1771-1849) de que o governo de D. Miguelestava ferido de ilegitimidade, na medida em quese não verificara, para o efeito, a condição do li-vre consentimento da Nação. Entretanto, na linhamoderada da suas concepções seria viável o esta-belecimento de uma convenção entre «liberais eiliberais», para resolver a «luta fratricida». O dis-tanciamento da realidade por parte do pensadorjustificaria atitudes polémicas vindas dos que viven-ciavam, com mais riscos, os acontecimentos. Foi ocaso de José Ferreira Borges (1786-1838), queantepunha à dissertação conciliatória de Silvestre ede Araújo e Castro o magistério dos factos. Fer-reira Borges lembrava que a promessa czaristarelativamente à revolta polaca de Novembro de1830 terminara mal. A solução convencional (queviria a ser, na realidade, o desfecho político) ou aamnistia deparava com a necessidade, no momento,de acções imediatas, invocando-se, no pensar e

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sentir vibrante de Ferreira Borges, a utilidade deum «negotiorum gestor» de um ditador. Em suma,os alvitres dos dois conselheiros teriam por hori-zonte as possibilidades da Carta Constitucional,no sentido de encontrar o modo mais adequado deuma transição para um regime constitucional na basede uma concórdia que os factos, no momento dapolémica, não permitiam.

4. Silvestre, em relação ao Vintismo e às crisesque se lhe seguiram, lembraria, sempre, a fragilidadeconstitucional acompanhada de excesso de volunta-rismo político e de ausência de leis orgânicas, tendoencontrado tempo, no contexto da intensa meditaçãoteórica e de análise político-constitucional, para ela-borar uma pedagogia cívica que se projectou numManual do Cidadão em um Governo Represen-tativo ou Princípios de Direito Constitucional, Ad-ministrativo e das Gentes (1834).

No modo de perguntas e respostas, Silvestrevai desenvolvendo no Manual uma teorização po-lítica de que apresentamos, apenas, os aspectosessenciais.

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Existem para o filósofo três princípios limina-res e incontornáveis: liberdade individual, segu-rança pessoal e propriedade real.

Por liberdade individual entende o gozo daliberdade de correspondência, de residência, de in-dústria e a livre manifestação de opinião, expondo,no contexto dos princípios enunciados e explicados,até que ponto há possibilidade de cercear direitos.

Quanto à segurança pessoal, estamos peranteum direito que implica duas ordens de deveres. Porum lado, não atentar contra a vida e a propriedadede ninguém, por outro lado, socorrer, na medidadas faculdades de cada um, todo o cidadão que,por razões de ordem natural ou em casos de ofensacontra a sua vida, saúde ou tranquilidade, necessi-tar de ajuda.

Finalmente, o direito de propriedade consistena faculdade que todo o cidadão possui de disporlivremente daquilo que obteve pelo seu trabalho, pordoação, mediante troca, compra ou por legítimaocupação.

A estes princípios fundamentais subjaz uma de-terminada leitura da origem da sociedade e organi-

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zação de poder enquanto meio legítimo e adequadode representação de interesses gerais de uma nação.

Em relação ao primeiro aspecto, S. P. F. dis-tancia-se da linha rousseuaniana da origem da so-ciedade e dos seus parâmetros contratualistas ar-gumentando que «mais exposto do que o homemsocial aos ataques dos homens e dos animais, as-sim como falto de meios para vencer a intempe-rança das estações e o incómodos que lhe oferecea natureza do terreno, o selvagem tem menos se-gurança pessoal, contrariado a cada passo por es-tes diversos obstáculos, em ultimo resultado tam-bém menos liberdade; e finalmente quanto àpropriedade, é geralmente reconhecido que ela nãose pode conservar sem a constante protecção dasleis. Donde se segue que o homem, longe de ha-ver feito sacrifício de uma parte de seus direitos,estendeu o círculo de seus gozos e por meio dasleis sociais assegurou o livre exercício de seus di-reitos melhor do que poderia fazer vivendo no es-tado de isolação» (Manual, I, I, § 23).

Quanto aos direitos e poderes políticos, S. P. Fconsidera o poder eleitoral, o legislativo, o judi-cial, o executivo e o conservador. Esta separa-

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ção de poderes, aparentada com aquela que Ben-jamin Constant defendera, difere nos pressupostosexplicativos e no modo como concebe o poderconservador.

5. Poder eleitoral. Para S. P. F. o poder eleito-ral consiste no direito de eleger e nomear para oscargos civis e políticos, e designar, igualmente, oscidadãos que, por seus serviços, se fazem benemé-ritos das recompensas nacionais mediante um pro-cesso gradativo.

Preocupado com a capacidade eleitoral, ao ar-repio de mecanismos de tendência plebiscitária oueleitoralista, S. P. F. distingue os que ao elegeremsão capazes de conhecer quais são as qualidadesrequeridas para o efeito dos que, embora não co-nheçam as ditas qualidades, conhecem quem possaestar ciente delas. Por fim, lembra a grande mas-sa dos que, definitivamente, não se encontram emcondições de emitir opinião fundada sobre quempossa ser elegível. A filosofia eleitoral de S. P. F.funda-se na esclarecida representação de interes-ses dos constituintes na medida em que aquelessejam, também, os interesses gerais da nação, e

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para tanto se devem escolher os que possuem osnecessários conhecimentos especializados.

É neste sentido que encontramos, na teoriza-ção proposta, uma cotação ou hierarquia a partirda seguinte seriação das doze «classes» de mora-dores que a S. P. F. parecem agrupar o universoprofissional do seu tempo:

1.a Agricultura;2.a Minas;3.a Artes e Ofícios;4.a Comércio;5.a Marinha;6.a Exército;7.a Obras Públicas;8.a Fazenda;9.a Justiça;10.a Instrução Pública;11.a Saúde Pública;12.a Secretaria de Estado e Negócios Es-

trangeiros.

Os representantes de cada classe seriam elei-tos pela classe imediatamente inferior, por membros

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da mesma classe ou da imediatamente superior.Entretanto, o boletim de voto consignaria graus deestima, devendo o eleitor considerar o candidatocomo superior, mediano, inferior, inibido, duvidosoou inadmissível. A soma dos valores numéricos deestima classificariam o candidato. O resultado se-ria, nesta perspectiva, eleger não o candidato quetem preferência aos olhos de cada eleitor, mas oque goza de mais alto grau de estima na opiniãode todos os eleitores.

6. Poder legislativo. O poder legislativo con-templava, para S. P. F., um sistema bicamaral: aCâmara dos Pares ou Senadores e a Câmarados Deputados. Reservava-se para a Câmara dosPares um claro sentido de representação regional,estando implicada na formulação apresentada umaprevenção expressa relativamente aos interesses dagrande propriedade, à ordem da nobreza e do en-volvimento de equilíbrios políticos no contexto par-lamentar, atendendo a que os interesses de classedeveriam redundar em interesse comum. Sublinha-ria o publicista, a esse propósito, o erro de se con-siderar que o rei representa a coroa, a Câmara dos

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Pares a grande propriedade (ou a nobreza) e aCâmara dos Deputados o terceiro Estado, quando,na verdade, toda e qualquer individuação represen-tativa de grupo ou de pessoa singular seria contrá-ria ao desiderato de fazer leis necessárias ao bemgeral do Estado. Como adverte em enxergo da suaargumentação sobre este tema, o mandato do le-gislador não é um poder absoluto na medida emque se tal se verificasse estaríamos perante o pri-vilégio contrário à lei comum e, consequentemen-te, violador do pacto social.

7. Poder judicial. O programa de S. P. F. rela-tivamente à organização da justiça é, em grandeparte, uma adaptação do sistema judiciário anglo--saxónico. Com o jurisconsulto ou juiz que acom-panha o júri visa-se a melhor aplicação da lei aoconcreto dos factos para a mais correcta atribui-ção da pena ou da absolvição. Dentro desta ordemde ideias, distingue júris de natureza geral e júrisde carácter especial, nomeadamente de teor téc-nico, por exemplo, no campo da agricultura ou docomércio.

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8. Poder executivo. Para S. P. F., o poder exe-cutivo consiste na faculdade de dispor as forças dacomunidade a bem do cumprimento das legítimasdecisões dos diversos poderes políticos do Estado.No contexto da explanação, S. P. F. faz um elencodas diversas formas políticas, que, para o pensa-dor, são as seguintes: a monarquia, em que a di-recção do poder político é confiada a uma pessoa,e a oligarquia, quando o poder é confiado a umcorpo colectivo. A monarquia pode ser democrá-tica (onde não há privilégios) ou aristocrática (ondehá privilégios). A monarquia aristocrática pode, porseu turno, ter uma feição electiva, hereditária,representativa, absoluta, despótica e tirânica.A propósito da monarquia hereditária, S. P. F. es-clarece, todavia, que a expressão é viciosa por dara entender que na sucessão ao trono há algumacoisa que se pareça com um direito de propriedade.A realeza, na óptica do publicista, sendo umemprego público, não é propriedade de ninguém.O princípio de representação, no entanto, ocupa umespaço determinante, bem como a exigência de res-ponsabilidade para todos os empregos e a publici-dade de todos os actos.

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A propósito da irresponsabilidade régia e daexpressão corrente de que o rei reina mas nãogoverna, defende, com certa veemência, para omonarca um papel de concepção e direcção arti-culado com execução responsável dos ministros deEstado. Os actos da realeza são reescritos, assi-nados pelo monarca e referendados pelos ministros,sempre a bem das atribuições que a Constituiçãolhe confere.

Silvestre Pinheiro Ferreira, que procura a ne-cessária neutralidade nas análises que empreendee é, sempre, muito parco na ilustração histórica dareflexão sistemática a que procede, traria à cola-ção, no entanto, como exemplo incomparável doslimites do exercício político do monarca, a raizpopular do poder régio em Portugal (mau gradopequenas excepções) desde D. Afonso Henriquesaté D. Pedro IV, invocando, a propósito, o arti-go 12 da Constituição do Império do Brasil, queconsignava que todos os poderes políticos são de-legação da nação.

9. Poder conservador. O poder conservadorapresenta-se como instância harmonizadora e mo-

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deradora, ao salvaguardar os direitos que com-petem a cada cidadão, contribuindo para que seassegure a independência dos distintos poderes po-líticos de modo a que não sejam usurpadas com-petências próprias.

Silvestre Pinheiro Ferreira estava em sintonia,nesta matéria, com a influente teorização desen-volvida por Benjamin Constant, que, aliás, não es-quece: «A opinião de um publicista tão ilustre comoo Sr. Benjamin Constant a este respeito é tantomais preciosa para mim que, tendo eu própriomeditado sobre tal assunto, cheguei aos mesmosresultados, com a única diferença de que este poderme parece inerente ao exercício dos outros qua-tro, o legislativo, o executivo, o judiciário e o elei-toral, enquanto que o Sr. Benjamin Constant oconsidera como um apanágio da realeza. Eu dei--lhe o nome de poder conservador.» (Manual, I,I, § 125.)

No entendimento de S. P. F., o exercício destepoder residiria nos cidadãos que poderiam usar dodireito de petição ao procurador de justiça, masencontrava-se, igualmente, consignado no exercíciodos vários poderes, numa base inspectiva. Estava

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prevista, ainda, no âmbito do exercício do podermoderador, a resistência legal, em todos os casosem que uma autoridade administrativa ou judicialordenasse ou proibisse o que por nenhuma lei fos-se ordenado ou proibido.

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IVIDEIAS SOCIAIS

1. No cerne das opções de S. P. F., quanto amatérias de natureza social e económica, importasublinhar, por um lado, a sua tematização de uti-litarismo e, por outro lado, a contemporização pos-sível entre as concepções clássicas liberais da eco-nomia e os possíveis correctivos de natureza social.O utilitarismo silvestrino exprime-se pelo universa-lismo da utilidade, sem cair num pragmatismo egoís-ta. O maior bem possível de todos em geral, e decada um em particular, de sentido imanente, é ca-racterizado pela busca do maximum de felicidadepossível, dentro da sociedade historicamente cons-tituída.

Avesso ao legalismo virtuoso de Rousseau,S. P. F. aproxima-se e supera o utilitarismo cal-

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culado de Bentham. Ao antepor o acto moral e so-cial, de sentido utilitarista (the greatest happinessto the great number), pretende responder ao «es-tado de isolação», acima referido a propósito daideia de pacto, querendo apontar para soluçõespolíticas que harmonizem os múltiplos interessessem descurar todo um projecto de reformas, aefectivar, dentro do próprio sistema liberal. Foi, jus-tamente, neste sentido que veio a propor um con-junto de medidas que fizessem face ao pauperis-mo das classes laboriosas no termo da primeirametade de Oitocentos.

Com o Projecto de Banco de Socorro e Se-guro Mútuo (1836) e, sobretudo, com o Projectode Associação para a Melhoria da Sorte dasClasses Industriosas (1840), Pinheiro Ferreira pre-tendia, ao fazer uma leitura social objectiva doeconómico, avançar com propostas que lhe pare-ciam viabilizadoras de uma diminuição da crisesocial avassaladora de que é exemplo a análise deEugène Buret, De la Misère des Classes Labo-rieuses en France et en Angleterre (1840). EmParis, pôde o publicista observar, privilegiadamente,as reacções do proletariado, em face da concen-

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tração da propriedade agrária e industrial que an-tecedeu o desenlace revolucionário de 1848.

2. No seu projecto de associação, PinheiroFerreira remonta às utopias de Platão, TommasoCampanella, Jean Bodin, Thomas More, FrançoisFénelon, mas detém-se, especialmente, nas ideiasdo conde de Saint-Simon (1760-1825), de CharlesFourier (1772-1837) e de Robert Owen (1771--1858), dos quais recebe alguma inspiração. Toda-via, não será excessivamente admirador destessocialistas utópicos, o que se compreende, dado oteor utilitário e pragmático das suas propostas, quenão via como perigosamente paralelo, ou con-traposto, aos regimes políticos existentes. O intuitodas medidas preconizadas por S. P. F. era, antes,o de assegurar dispositivos susceptíveis de funciona-mento no interior do próprio Estado liberal. O pro-jecto de associação que se tinha em vista poderiaser abrangido pela figura jurídica dos contratos lí-citos. S. P. F. pretendia, no fundo, alertar para umareforma social urgente e necessária, embora nãose encontre no seu associacionismo qualquer gritode revolta.

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3. O projecto associativo gizado por S. P. F.,que envolvia o sector agrícola, comercial e indus-trial, estava organizado do modo que a seguir sedescreve. Os presidentes das câmaras municipaisconvidariam os cidadãos emancipados para se fa-zerem inscrever na lista do ofício, profissão ou em-prego de que derivasse a sua subsistência. As ins-crições seriam enviadas, depois, ao administradordo distrito, que encaminharia o processo para opoder central. A seguir, o secretário de Estado dosNegócios do Reino convidaria os representantes dasdiversas províncias para a assembleia central decada grémio. Não nos é possível desenvolver aquias diferentes e complexas disposições gremiais,mas poderemos sublinhar, em todo o caso, a mo-dernidade imprimida aos esquemas organizativos,educativos e assistenciais. Por exemplo, nas com-petências das assembleias associativas constava asuperintendência na importação de máquinas, o con-vite a especialistas estrangeiros para ensinarem no-vos processos e o envio de industriosos para outrospaíses e a promoção de intercâmbio entre os gré-mios. Às direcções gremiais, por seu turno, esta-vam cometidas, entre outras, funções de gestão,

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como eram a fiscalização de matérias-primas, aaquisição do equipamento, o controlo da qualidade,a prospecção do mercado, o conhecimento dos me-canismos reguladores de preços e a marca co-mercial.

Quanto ao ensino, no seio da associação, alémdo nível primário, secundário e preparatório, previa--se a concessão de bolsas para frequência do en-sino superior. A assistência e a ocupação de tem-pos livres seriam concretizadas através de casas desaúde e instalações destinadas ao teatro, ao exer-cício físico e a jogos sedentários lícitos. A propostaassistencial não era apenas de cariz preventivo, jáque se pretendia fazer face a situações de margi-nalidade, tais como a «roda» das crianças abando-nadas e expostas, a mendicidade, a vadiagem, aprostituição e a criminalidade em geral.

4. As perspectivas éticas de S. P. F. apontampara um utilitarismo altruísta que transparece dosseus projectos reformistas. Na superação das ten-sões «resolvidas» pelo teor ecléctico das suas po-sições, podemos ver, todavia, a fecundidade de umareflexão sobre a crise de pensamento e valores

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oitocentistas. Se a acção política de Pinheiro Fer-reira não foi muito continuada, em todo o caso, otempo teórico que é próprio da sua especulaçãoreflecte, lucidamente, as possibilidades e as frus-trações do Estado liberal. Seria um erro pensar,também, que a elaboração teórica, ou o discursoeminentemente didáctico do pensador, se encontramabissalmente distantes das realidades do seu tem-po. Naquilo que diz respeito ao pensamento social,transparecerá a emergência teórica e prática doliberalismo económico a que, igualmente, prestou adevida atenção. Em 1846, precisamente no ano emque morre, ainda cita, convicto dos seus pontos devista estruturalmente liberais (não obstante a preo-cupação social reformista), a significativa obra deBastiat, Cobden et la Ligue ou l’agitation an-glaise pour la liberté du commerce, que veio alume em 1845.

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VIDEIAS ECONÓMICAS

1. As ideias económicas de S. P. F. têm a suaprimeira expressão no curso de filosofia que minis-trou no Rio de Janeiro a partir de 1813, dentro dospressupostos gnosiológicos e axiológicos empiristase sensualistas que modelam o seu utilitarismo, noâmbito da diceósina. A época em que prelecciona,no Brasil, nos fins do Antigo Regime, não lhe per-mitiram, todavia, mais do que um delineamento dateorização posterior marcada já pelo processo libe-ral. Importa referir, também, que a discussão ga-nha especial significado por se inscrever no debate,ainda pertinente, entre os fisiocratas e as formula-ções pós-smithianas.

Silvestre Pinheiro Ferreira só a partir de mea-dos dos anos 30 de Oitocentos voltará a publicitar

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os seus pontos de vista de natureza económica, demodo sistematizado e acompanhados de uma atentareflexão social, suscitada pelas consequências docapitalismo. As solicitações pedagógicas, recorren-tes das aulas que veio a ministrar no colégio dosemigrados de Silvella, motivaram a escolha paralivro de texto de uma súmula dos Principles ofPolitical Economy, de McCulloch, que circularia,também, em tradução portuguesa, impressa emLondres, Projecto de Banco de Socorro e SeguroMútuo, publicado quatro anos antes. De âmbitoeconómico, mas em que se manifesta o conjuntodas preocupações sociais e política, é o conjuntode artigos e reflexões que, depois do seu regressoa Portugal, em 1842, teve oportunidade de escre-ver, intervindo no ambiente político do cabralismo,Questões de Direito Público e Administrativo,Filosofia e Literatura; sobre matéria fiscal, arti-gos em A Revolução de Setembro, de Junho aJulho de 1846, uma série de artigos a que deu otítulo Das Reformas na Administração da Fazen-da Publica; Das Condições da Existência dosCaminhos de Ferro em Geral e das Suas Con-sequências quanto às Relações Internacionais

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em Particular e Demonstração das Vantagensdas Sociedades de Socorro Mútuo Comparadascom as Instituições Denominadas Montepios.Encontramos três ciclos de pensamento económi-co (e social) em S. P. F.:

1.o ciclo: reflexões teóricas sobre matériaseconómicas no âmbito do curso de filo-sofia que ministrou no Rio de Janeiro(1813-1821);

2.o ciclo: estruturação do pensamento polí-tico, económico e social do autor, emParis (1826-1842);

3.o ciclo: projectos de reformas para a so-ciedade portuguesa no período cabralista(1842-1846).

2. Do primeiro ciclo importa reter o que ex-pende na Trigésima Prelecção Filosófica. No sen-tido abrangente da Diceósina, enquanto filosofia dosdeveres do cidadão e das sociedades, articulou asua doutrina com uma meditação renovada dostemas jusnaturalistas, dissertando sobre a felicidadee a civilização. A felicidade dos povos, na linha

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sensualista das suas coordenadas ontognosiológicas,resulta de um cálculo susceptível de fornecer asuficiência dos meios, quer para suprir a dor, querpara aumentar os prazeres. Os ricos e opulentosserão aqueles que são capazes de remover osmales e multiplicar e variar os gozos. E assim comoacontece na vida dos homens, também as naçõesvão adquirindo novas necessidades, sendo precisoverificar até que ponto as podem satisfazer ou não.

A imbricação moral na abordagem do econó-mico encontra-se bem expressa nas consideraçõesque faz sobre a civilização, que não tem que seidentificar, necessariamente, com riqueza, pois estaestá, sim, relacionada com situações de maior oumenor dependência. A dependência, ou melhor, in-terdependência, que é inerente às relações entre asnações não significa, todavia, o mesmo para asnações pobres e para as nações ricas. Há, por isso,um conjunto de princípios que permitem estabele-cer o mínimo de dependência tendente a tipificaras condições em que uma nação pode impor leisde mercado. Em primeiro lugar, não se deve estardependente de nenhuma outra nação em produtosessenciais. Em segundo lugar, não se deve depen-

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der de outras nações em produtos de menor in-teresse, se houver desvantagem comercial. Em ter-ceiro lugar, é necessário privilegiar as nações quenos comprem mais produtos quer agrícolas, querindustriais. Dadas as condições reais em que sedesenvolvia a situação portuguesa, a partir doBrasil, e na altura em que A Riqueza das Nações,de Adam Smith era bem acolhida, os alunos deS. P. F. descobriam uma pedagogia do económicoque corroborava a política de abertura ao comér-cio internacional, salvaguardando, em tudo aquiloque não fosse realmente adequado, algumas medi-das proteccionistas.

O modelo que se apresentava vinha fundadonas condições susceptíveis de optimizar as vanta-gens do mercado concorrencial. Na formação dovalor económico, o apreço, quer do vendedor, querdo comprador, relativamente a um produto entende--se acrescido pelo trabalho da sua prontificação.Definindo melhor os factores implicados, assumia--se que o apreço do vendedor decorria da perdadesse artigo em favor do comprador e da expec-tativa de fruição deste ao adquiri-lo. Servindo dereferência, ao custo da transacção, o caso de um

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bem único, o preço do mercado era estabelecidona razão directa da utilidade do género e na razãoinversa da sua abundância. Mas uma nação podeditar a lei do mercado através de um meio maisfácil, aproveitando os recursos próprios. No entanto,S. P. F. adverte que o recurso à produção indus-trial externa, quando uma nação não está em con-dições de a suprir, não deixa de ser favorável a umbom sistema de trocas comerciais. Sob o signo deum decidido livre-cambismo, sem prejuízo da figurade nação mais favorecida, a abertura à importaçãode produtos industriais colocava o professor numaposição de defesa do privilégio do comércio, emdetrimento de uma política de fomento industrial.Tal posicionamento vem a ser justificado por umaprofundamento da teoria do valor.

Como vimos, S. P. F. considera o apreço (istoé, a utilidade) e o trabalho como fontes do valor.Mas, nem sempre, a seu ver, o objecto em vendacusta trabalho atendendo a que pode dependerexclusivamente do apreço. Esta situação traduz-se,para o filósofo, em valor primitivo, sendo o valoracessório resultante do trabalho necessário para asua prontificação até ao mercado. A posição me-

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tódica silvestrina sobre a fortuna crítica e práticada fisiocracia e da economia política que vinhasendo construída na esteira do pensamento smithia-no é a de um certo distanciamento quanto à per-tinência de uma em desfavor da outra. Percebe--se, sobretudo, que há uma demarcação evidenteem relação às posições mais tardias do fisiocratis-mo. Para S. P. F., na altura em que ensina no Brasil,o que se lhe afigura mais nítido é que os fisiocra-tas (chama-lhes economistas por antonomásia)teriam expressado uma verdade irrefutável (e dirá,a propósito, que não há verdade inútil) consubstan-ciada na condição necessária de que o valor detroca de um objecto bruto, no lugar da sua produ-ção, é igual ao apreço tanto do vendedor como docomprador. Mas, por outro lado, não é menos ver-dade que o valor de troca de um objecto prontifi-cado, pela mudança de estado ou lugar, é igual nãosó ao apreço do vendedor e do comprador mastambém à soma de todos os produtos consumidosna sua prontificação.

Não obstante S. P. F. se ter interessado, inin-terruptamente, por matérias de natureza económicae social, só por volta de 1836 expõe, de novo, os

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seus pontos de vista sobre a matéria. Em 1839,com a publicação do resumo, em inglês e portu-guês, dos Principles of Political Economy, de Mc-Culloch e do Preliminary Discourse or Introduc-tion to a Course of Political Economy (introduçãoque se podia obter em volume separado) e, depois,com o Précis d’un Cours d’Économie Politique,de 1840, versão em francês do Preliminary Dis-course, estamos perante uma obra decisivamenteestruturada. Entretanto, para um melhor enquadra-mento da ciência, o Précis vinha acompanhado deuma bibliografia metódica, a primeira a aparecer emFrança, preparada por Hoffmanns, amigo de Sil-vestre.

3. A apresentação que S. P. F. faz das suasideias económicas, com objectivos pedagógico--didácticos, envolve uma posição muito clara rela-tivamente a algumas explicações correntes, quan-do discorda de todos aqueles que pretendem fundaro valor das coisas, exclusivamente, no custo primi-tivo, na procura, no preço do mercado, no capitalou no salário. Para Pinheiro Ferreira, qualquer dosaspectos considerados se lhe afigura mero elemento

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do custo primitivo que concorre para a actividadefinal, com o objectivo de uma distribuição socialequitativa. A configuração dos factores é a seguinte:

1.o A utilidade que o comprador espera doobjecto;

2.o O lucro que o vendedor espera obterda transacção;

3.o O valor atribuído por ambas as partesao objecto;

4.o O valor proposto pelo vendedor;5.o O preço de custo;6.o O preço do mercado.

O processo económico, por seu turno, envolveseis grupos de pessoas que participam em tal dis-tribuição social: o operário, o capitalista, o empre-sário, o director empresarial, o vendedor e o go-verno. Toda a arquitectura económica que PinheiroFerreira propõe, integrando o capital e o trabalho,parte da propriedade como elemento constitutivo efactor preponderante.

O papel do governo no processo, tal comoS. P. F. o entende, parece, à primeira vista, condi-

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cionar um sistema aberto de livre concorrência, nãopermitindo uma percepção clara do seu papel. Mascomo se vem a induzir de toda a teorização, nãosó económica como social, para S. P. F. o Estadonão aparece com um papel interventor ou regula-dor. A sua presença na estruturação do processoeconómico é a aceitação tácita do quadro legal queao governo compete, no seu exercício corrente,permitindo, ainda, por outro lado, que tal inserçãoautorize mecanismos correctores, de tipo associa-tivo, como foi possível ver em páginas anteriores.O resultado pretendido deveria saldar-se por umatradução económica do utilitarismo de onde parte,reiterando uma distribuição em que cada um rece-be conforme as suas obras e em que cada obra épaga conforme o seu mérito, repercutindo a re-presentação de interesses defendida no seu ideá-rio político. Todavia, em que medida a dinâmicasócio-económica liberal permite o reformismo so-cial? S. P. F. é um defensor estrénuo da proprie-dade industrial e adere, entusiasticamente, ao prin-cipio e à prática da divisão do trabalho como factorde riqueza, nomeadamente através de um investi-mento tecnológico acrescido: «C’est à la division du

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travail que les arts sont redevables de ce nombreprodigieux de machines dont le génie britanniquen’a cessé de les enrichir depuis deux siècles.»(Précis d’un Cours d’Économie Politique, p. 188.)A indesmentível confiança no progresso civilizacionalafasta S. P. F. quer do «babelismo» da máquina,quer das teses de Malthus, ao estabelecer a rela-ção entre população e subsistências. Intuía, noentanto, que a exploração industrial mecanizadaviria a produzir desemprego, parecendo-lhe viável,também, a absorção dos excedentes.

Entretanto, a referência fundamental de optimis-mo económico e social, de sinal utilitarista e prag-mático, de S. P. F. encontra-se, de facto, bem ilus-trado nas posições que assume perante a doutrinada população de Thomas Malthus (1766-1834). Emplena expansão do liberalismo, S. P. F. vai além daapreciação, algo distante, de McCulloch, em rela-ção ao problema. Contrapõe, aos que se limitam aconstatar a análise de Malthus, a possibilidade desuperar o problema da tensão entre população emtermos de subsistência, quer através de uma maiorexploração dos meios de riqueza disponíveis, querda maior racionalização dos processos, quer da

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captação de investimento por empresários de ou-tros países, quer de uma expansão comercial acres-cida. Confiante na possibilidade de um sistema in-ternacional de regulamentação de preços, no limiarda década de 40 de Oitocentos, Pinheiro Ferreiranão via razão para o alarme, há muito despoleta-do, pelo paradoxo de Malthus. Para S. P. F., ascondições básicas da riqueza nacional consistiamnuma população numerosa, moralizada e esclare-cida e num território fértil e bem explorado.

4. Nos últimos anos da sua vida, em Lisboa,S. P. F. produz significativos estudos de naturezaeconómica e financeira, sempre acompanhados deuma reflexão social. Alguns desses textos foramreunidos na obra Questões de Direito Público,Administrativo, Filosofia e Literatura. Não ten-do sido alteradas as posições teóricas do autor,esses textos permitem-nos, em todo o caso, subli-nhar pontos de vista sobre questões de naturezaestrutural e conjuntural e são um indicador precio-so da atenção que continuava a prestar aos pro-blemas do seu país, reforçada pela participaçãoparlamentar.

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Em matéria económica, assume particular sig-nificado, também, a resposta do sábio a algumasconsultas que Adrião Pereira Forjaz de Sampaioendereçou a S. P. F. a fim de viabilizar, em basessólidas, o ensino da Economia Política e da Esta-tística na Universidade de Coimbra.

O publicista tinha consciência da carência deinformação em áreas cruciais da administração eestava em sintonia com Adrião Pereira Forjaz nosentido de disponibilizar, em âmbito académico, umaformação adequada no campo da economia políti-ca e da ciência estatística, de teor matemático,nomeadamente utilizando o cálculo de probabilida-des aplicado aos factos sociais. Talvez comungasse,até, do desiderato de Forjaz, no sentido de vir a sercriada uma Faculdade de Ciências Económicas eAdministrativas. Desde Paris, e já em Lisboa, porvolta de 1843, S. P. F. fornecia indicações biblio-gráficas significativas e alguns conselhos para oestabelecimento do programa do professor coim-brão, indicando, entre outras, a Théorie de la Sta-tistique, de Gräberg de Hemso, o Traité de Statis-tique, de Dufau, e a Filosofia della Statistica, deMelchiore Gioia. O que estava em causa, quanto

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ao ensino da estatística, era o investimento emmeios de análise menos teóricos do que aqueles quefiguravam nos tratados dos economistas. Pretendia--se que se disponibilizassem esclarecimentos práti-cos complementares com o apoio de estatísticanumérica e não apenas de estatística descritiva.

O diálogo epistolar de que temos conhecimen-to entre o velho mestre e o jovem lente de Coim-bra é um bom indicador da actualização teórica queS. P. F. tinha da matéria e justifica que tivesse sidomencionado, como já se disse, em verbete própriono Dictionnaire d’Économie Politique, de Coc-quelin e Guillaumin (1854). Importa, assim, prestaratenção a um conjunto de reflexões de S. P. F.entretanto disponibilizadas em periódicos lisbo-nenses.

5. No conjunto de três artigos, intitulado DasReformas na Administração da Fazenda Públi-ca, prontos em fins de Junho do 1846, no jornalA Revolução de Setembro (o último dos quais naedição de 1 de Julho, dia em que Pinheiro Ferreirafaleceu), assistimos ao ensaio de uma solução paraas momentosas questões fiscais. A matéria em

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apreço fora objecto de ampla discussão de que sãosignificativos indicadores alguns artigos da RevistaEconómica, de Fevereiro e Junho. As sugestõessilvestrinas sobre a matéria iam no sentido da pro-porcionalidade da taxação e da uniformização dosimpostos, devidamente articulados com medidas denatureza financeira, possibilitadas pelo tipo de ban-ca mutualista que advogava. Assumem especialsignificado, ainda, as posições, minimamente pro-teccionistas, relativas à questão pautal. O sistemafiscal visava, em suma, liberalizar o comércio e aindústria de impostos indirectos, diminuir o peso dascontribuições do sector imobiliário e, no que con-cerne ao problema das pautas alfandegárias, fran-quear os portos do reino a todas as nações, abrin-do um imenso mercado onde os produtos nacionais,tanto industriais como agrícolas, concorressem comos estrangeiros.

Postumamente, em 1851, no volume IV daRevista Popular, dirigida por Joaquim HenriqueFradesso da Silveira, além de uma biografia deS. P. F. foram publicados dois artigos seus. O pri-meiro, sobre a Demonstração das Vantagens dasSociedades de Socorro e Seguro Mútuo Com-

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paradas com as Instituições Denominadas Mon-tepios, que interessa compaginar com o Projectode Banco, e o segundo a propósito das consequên-cias políticas, sociais e económicas dos caminhosde ferro (Das Condições da Existência dos Ca-minhos de Ferro em Geral e das Suas Conse-quências quanto às Relações Internacionais emParticular). S. P. F. aborda neste artigo questõesde financiamento e exploração das linhas de cami-nho de ferro, então em pleno arranque na Europae nos Estados Unidos. A informação e os proble-mas que se pretendiam trazer a público constituem,também, uma intervenção destinada a dar opiniãosobre o previsto fomento viário português no mo-mento em que se começava a legislar sobre amatéria. Além do aspecto económico-financeiro cen-trado na intensa especulação que envolvia os em-preendimentos ferroviários, o publicista apresenta asvantagens e desvantagens de um meio de comuni-cação capaz de proporcionar melhores condiçõesde defesa, trocas linguísticas mais amplas, um me-lhor relacionamento e a eventual reunião de paíseslimítrofes (a França e os Países Baixos, por exem-plo). O novo meio de transporte estava, obvia-

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mente, destinado a produzir uma intensificação detrocas comerciais. A futurologia do sábio portuguêsnão saiu totalmente desmentida, como sabemos, setivermos em conta o processo de integração euro-peia. No artigo, escrito nos derradeiros anos de vidade Pinheiro Ferreira, fica demonstrado com sufi-ciente lucidez o lado positivo e negativo de uma rea-lidade que marcaria, profundamente, as relações in-ternacionais na segunda metade do século XIX. Masa união política, entrevista sem alfândegas internas,destinada à fusão da Europa em dois grandes ra-mos de uma só família, a oriental e a ocidental, nãoera futurada, em todo o caso, sem a advertênciade uma preparação que deveria ser antecipada-mente discutida e bem meditada.

Silvestre Pinheiro Ferreira, é bom sublinhar, nãoobstante a sua confiança estruturalmente liberal, noprogresso, na livre circulação de pessoas e bens,não deixa de ter em mente a necessidade de umreformismo interno ao próprio processo de naturezaeconómico-social. Assistimos, recorrentemente, auma chamada de atenção veemente, quer para asuperação da improvisação política no que respeitaa matérias de índole social e económica, quer para

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a extirpação da miséria («a geral miséria»). Mas,nem por isso, deixa de, cautelosamente, repudiarpresuntivas «comoções» de carácter revolucionárioque «desbaratam sem poder depois levantar».

6. Em todos os artigos do fim da vida do pu-blicista reiteram-se, afinal, os pontos de vista re-formistas, antes mais desenvolvidos e teorizados,permitindo definir a configuração de uma propostapara a crise da sociedade liberal e capitalista. Emprimeiro lugar, era urgente viabilizar uma reformado próprio Estado, aproximando as estruturas dasrealidades. Em segundo lugar, deveria proceder-sea uma dinamização da propriedade prestando aten-ção à sua função social. Em terceiro lugar, apre-sentava-se o desiderato da integração do capital edo trabalho no plano de uma possível e desejávelharmonização económica e social.

Esta reiteração reformista é, em tudo, confor-me ao pensamento do autor. Desde os propósitosde superação da tensão fisiocracia versus libera-lismo económico, passando pelo equilíbrio entre odemocratismo excessivo e a discricionariedade dopoder, até às propostas associativas, sem lugar para

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confronto com o estado liberal, S. P. F. apresenta--nos, efectivamente, um projecto consistente, em-bora pouco acolhido, para a superação da crisepolítica, social e económica que se viria a agudi-zar, não obstante a confiança do pensador portu-guês na Civilização e no Progresso.

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VIA OBRA

1808Notas ao Ensaio sobre os princípios de mecâ-nica. Obra póstuma de José Anastácio da Cunha,dado à luz por D. D. A. de S. C. (DomingosAntónio de Souza Coutinho) possuidor do ma-nuscrito autógrafo, Amsterdam, Of. de Belifantee Comp., reeditada em O Instituto (Coimbra),vol. V, e na Revista da Universidade de Coim-bra, n.o 19, 1960, pp. 1-16.Princípios de Mechanica, Amsterdam, Of. deBelifante e Comp., reeditada em O Instituto,vol. V, e na Revista da Universidade de Coim-bra, n.o 19, 1960, pp. 17 e segs.

1813Prelecções Philosophicas sobre a theorica dodiscurso e da linguagem, a estética, a diceosyna

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e a cosmologia, Rio de Janeiro, Impressão Ré-gia. São 30 as prelecções que saíram dos pre-los da Imprensa Régia. Aparecem, todavia, co-lecções diversas consoante o número deprelecções coligidas; 2.a ed., Escritos Filosófi-cos, in Revista da Universidade de Coimbra,1960, pp. 29-319; 3.a ed., S. Paulo, Grijalbo(Estante do Pensamento Brasileiro), 1970, comintrodução de António Paim e índice das 22 pri-meiras prelecções; 4.a ed., Lisboa, Imprensa Na-cional-Casa da Moeda, 1996, com introdução deJosé Esteves Pereira.

1814Categorias de Aristóteles, traduzidas do gregoe ordenadas conforme um novo plano, para usodas Prelecções Filosóficas, do autor, Rio de Ja-neiro, Imprensa Régia; 2.a ed., in Prelecções Fi-losóficas, 2.a ed., S. Paulo, Grijalbo (Estante doPensamento Brasileiro), 1970; 3.a ed., Lisboa,Guimarães Editores, 1974, com apresentação enotas de Pinharanda Gomes.

1821«Discurso mandado ler por Sua Magestade nasessão de 4 de Julho de 1821», in Clemente José

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dos Santos, Documentos para as Cortes Geraesda Nação Portugueza, Lisboa, Imprensa Nacio-nal, 1883, pp. 210-211.

1825Observations sur quelques passages du «ManuelDiplomatique» de Mr. le Baron Charles de Mar-tens, Paris, Imp. de Baucé Rusand.

1826Essai sur la Psychologie comprenant la théoriedu raisonnement et du langage, l’ontologie, l’es-thétique et la dicéosyne, Paris, Imp. de Béthune;reeditado em 1828. Traduzido para português,em 1999, por Rodrigo Cunha, em edição da Im-prensa Nacional-Casa da Moeda, conjuntamentecom as Noções Elementares de Filosofia.

1831Projectos de Ordenações para o Reino de Por-tugal, t. I (Carta Constitucional e Projecto deLeis Orgânicas), Paris; t. II (Exposição da CartaConstitucional e do Projecto de Leis Orgânicas);t. III (Projecto de Reforma das Leis Fundamen-tais e Constitutivas da Monarquia), Of. Typ. deCasimir.

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Observações sobre a Carta Constitucional doReino de Portugal e Constituição do Império doBrasil, Paris, Rey et Gravier; 2.a ed., 1853. Parecer sobre os Meios de Se Restaurar o Go-verno Representativo em Portugal por DoisConselheiros da Coroa Constitucional, Paris, Of.Typ. de Casimir.

1832Parecer sobre os Meios de se Restaurar o Go-verno Representativo em Portugal, seguido deNovas Observações que se Publicaram em Lon-dres sem Aquele Parecer, Paris, Of. Typ. deCasimir; foi reeditado no mesmo ano.Projecto de um Systema de providencias paraconvocação das Cortes Geraes e restabeleci-mento da Carta Constitucional sobre os meiosde se restaurar o governo representativo emPortugal; apêndice ao parecer de dois conse-lheiros da Coroa Constitucional, Paris, Of. Typ.de Casimir.

1834Manual do Cidadão em um Governo Represen-tativo ou Princípios de Direito ConstitucionalAdministrativo e das Gentes, t. I (Direito Cons-

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titucional), Paris, Of. Typ. de Casimir; t. II (Di-reito Administrativo e das Gentes), t. III (Pro-jecto de Código Geral das Leis Fundamentaise Constitutivas de uma Monarquia Representa-tiva), Paris, Rey et Gravier.Principes du droit public constitutionel, admnis-tratif et des gens ou manuel du cytoyen sous ungouvernement réprésentatif, Paris, Of. Typ. deCasimir.

1836Projecto de um Banco de Socorro e Seguro Mú-tuo, Paris, Rey et Gravier, reeditado em TextosEscolhidos de Economia Política e Social (1813--1851), introd. e dir. de edição de J. Esteves Pe-reira, Lisboa, Banco de Portugal, 1996, pp. 19--32.Essai sur les rudiments de la grammaire alle-mande, Paris, J. Merklein.

1837Breves observações sobre a constituição políticada monarquia portuguesa, decretada pelas côr-tes geraes, extraordinarias e constituintes reu-nidas em Lisboa no anno de 1821, Paris, Reyet Gravier.

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1838Observations sur la Charte Constitutionnelle dela France, Paris, Rey et Gravier, incorporadono t. III do Cours de Droit Public Interne etExterne.Observations sur la Constitution de la Belgique,Paris, Rey et Gravier, incorporado no t. III doCours de Droit Public Interne et Externe.Observations sur la Constitution du Royaumedu Saxe, Paris, Rey et Gravier, incorporado not. III do Cours de Droit Public Interne et Ex-terne.Cours de Droit Public Interne et Externe, avecles observations sur la charte de la France, dela Belgique et du Royaume du Saxe, Paris, Reyet Gravier.

1839Projecto de Código Político para a Nação Por-tuguesa, Paris, Rey et Gravier.Principles of political economy by Mr. MacCul-loch for the use of schools acompanied with no-tes and preceded by a preliminary discourse byMr. Pinheiro Ferreira, Paris, Fain et Thunot.Preliminary discourse to a course of politicaleconomy, Paris, Fain et Thunot.

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Noções Elementares de Filosofia Geral e Apli-cada às Ciências Morais e Políticas (Ontolo-gia, Psicologia e Ideologia), Paris, Rey et Gra-vier, reeditado em 1999, em edição da ImprensaNacional-Casa da Moeda, preparada por RodrigoCunha, conjuntamente com o Ensaio sobre aPsicologia.

1840Projecto de Associação para o Melhoramentodas Classes Industriosas, Paris, Fain et Thunot,reeditado em Textos Escolhidos de EconomiaPolítica e Social (1813-1851), cit., pp. 41-154.

1843«Da Oração do Cristão», O Cristianismo (dir.por João de Lemos), Coimbra, Dezembro; Re-vista Universal Lisbonense, tt. IV e V, Lisboa,1844-1845, publicada em J. Esteves Pereira, Sil-vestre Pinheiro Ferreira — O Seu PensamentoPolítico, Coimbra, Universidade de Coimbra,1974.Da Oração do Cristão, impressa em Roma comlicença da Sagrada Congregação encarregada doexame e da censura dos livros e a tradução ita-liana em frente, Lisboa, Imprensa Nacional, 1845

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(ed. de 275 exemplares). A polémica em tornoda Oração do Cristão (com as intervenções deSilvestre Pinheiro Ferreira e António Feliciano deCastilho) está publicada em J. Esteves Pereira,ob. cit., pp. 215-280.

1844«Da classificação das Ciências calculada paraservir de base a um systema racional d’instruçãopública», O Panorama, 3.o vol., 2.a série, Lis-boa, reeditado em J. Esteves Pereira, ob. cit.,pp. 310-319. «Reflexões sobre o método de escrever a his-tória das ciências e particularmente a da filoso-fia», Pantólogo, publicada por Maria Luiza Car-doso Rangel de Souza Coelho em A Filosofiade Silvestre Pinheiro Ferreira, Braga, LivrariaCruz, 1958, pp. 257-263, e mais recentementeem Silvestre Pinheiro Ferreira, Ensaio sobre aPsicologia, Noções Elementares de Filosofia eOutros Escritos Filosóficos, Lisboa, ImprensaNacional-Casa da Moeda, pp. 311-315.«Da independência dos poderes políticos nos go-vernos representativos», A Revolução de Setem-bro, n.o 967, de 20 de Junho, reeditado em J. Es-teves Pereira, ob. cit., pp. 285-288.

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«Dos princípios de hermenêutica aplicados à his-tória da jurisprudência constitucional», A Revolu-ção de Setembro, n.o 971, de 26 de Junho, reedi-tado em J. Esteves Pereira, ob. cit., pp. 288-290.Questões de direito público e administrativo,philosofia e litteratura, parte I, Lisboa; t. II (par-te III), Tip. Lusitana; t. III (parte IV), Tip. Lusi-tana (colectânea de artigos publicados, inicial-mente, no jornal A Restauração).«Reflexões sobre os diferentes métodos de con-feccionar os catálogos das bibliotecas», Pantó-logo, n.o 3, p. 20; n.o 4, p. 29.«Dos limites da autoridade dos clássicos em ma-téria de linguagem», Pantólogo, n.o 5, p. 71.«Dos sistemas absolutos em economia política»,Pantólogo, n.o 14, p. 107; n.o 18, p. 139. «Do sistema penitenciário», Revista Académica(Coimbra), n.o 18, p. 276 (continuado no n.o 19,p. 289, e n.o 21, p. 342).

1845Théodicée ou Traité Élémentaire de la ReligionNaturelle et de la Religion Révélé.«Das ciências em geral e a sua classificação emparticular», Aurora — Revista Mensal, n.o 1,p. 33, publicada por Maria Luiza Cardoso Ran-

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gel de Souza Coelho, in ob. cit., pp. 263-275;publicada também in Ensaios Filosóficos, Rio deJaneiro, PUC/Documentário, Brasília, ConselhoFederal da Cultura, 1979 (Textos Didácticos doPensamento Brasileiro, 6).«Dos bancos rurais», Aurora — Revista Mensal,n.o 2, p. 9.«Reflexão sobre várias práticas e instituiçõeseconómicas de previdência», Aurora — RevistaMensal, n.o 3, p. 60.Breves observações sobre o tratado concluído em1826 entre suas magestades o Imperador do Bra-sil e o Rei de França, Lisboa, Tip. Lusitana.Précis d’un cours de Droit Public, administra-tif et des gens, suivi d’un projet de code poli-tique pour la nation portugaise, Lisbonne, Imp.Nationale, 1845-1846.

1846«Da guarda nacional», A Revolução de Setem-bro, n.o 1525, de 16 de Junho.«Das reformas na administração da fazendapública», A Revolução de Setembro, n.os 1528,1531 e 1535, de 20 de Junho, 25 de Junho e25 de Julho, reeditado em J. Esteves Pereira,ob. cit., pp. 295-309.

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Théogonie, Extrait de l’Encyclopédie Moderne,de Courtin, vol. XXII, publicado em Maria LuizaCardozo Rangel de Souza Coelho, in ob. cit.,pp. 275-288.

Obra póstuma«Sobre as origens e afinidades das línguas»,Revista dos Açores, t. I, p. 13.«Das condições de existência dos caminhos deferro em geral e das suas consequências quan-to às relações internacionais em particular»,Revista Popular, 1851, vol. IV, pp. 3-6, reedi-tado em Textos Escolhidos de Economia Polí-tica e Social (1813-1851), cit., pp. 305-310. «Demonstração das vantagens das sociedades desocorro e seguro mútuo comparadas com asinstituições denominadas montepios», RevistaPopular, vol. IV, pp. 43-44, 56, 63-64, 112-113,reeditado em Textos Escolhidos de EconomiaPolítica e Social (1813-1851), cit., pp. 313-322.«Memórias políticas sobre os abusos gerais emodo de se reformar e prevenir a revolução po-pular, redigido por ordem do Príncipe Regenteno Rio de Janeiro em 1814-1815», Revista doInstituto Histórico e Geográfico Brasileiro, t. 47,1884, 1.a parte.

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Théodicée ou Traité Élémentaire de la ReligionNaturelle et de la Religion Révélée, prefácio deAntónio Braz Teixeira e tradução de RodrigoS. Cunha, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa daMoeda, 2 vols., 2005 (publicação do original etradução do ms. n.o 1113 da Biblioteca da Aca-demia das Ciências de Lisboa, redigido em fran-cês, datado de 1845).

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BIBLIOGRAFIA BREVE SOBRESILVESTRE PINHEIRO FERREIRA

CARVALHO, Joaquim de, «Evolução da historiografiafilosófica em Portugal até fins do século XIX» inBiblos, vol. I, Coimbra, 1946; integrado na ObraCompleta, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian,1981, vol. I, pp. 121-154.

COELHO, Maria Luiza Rangel de Souza, A Filosofiade Silvestre Pinheiro Ferreira, Braga, LivrariaCruz, 1958.

CUNHA, Rodrigo, A Teoria Silvestrina da Harmoniado Universo, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa daMoeda, 2008, com a bibliografia activa e passivamais actualizada de Silvestre Pinheiro Ferreira.

GOMES, J. Pinharanda, Silvestre Pinheiro Ferreira,Lisboa, Guimarães Editores, 1977, introdução eantologia de textos.

JOBIM, Leopoldo Collor, Absolutismo e Governo Re-presentativo, «Silvestre Pinheiro Ferreira e o

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Sistema Constitucional no Brasil e em Portugal(1769-1846)», Brasília, Câmara dos Deputados,Centro de Documentação e Informação/Coorde-nação de Publicações, 1991, pp. 17-48.

PAIM, António, História das Ideias Filosóficas no Bra-sil, 5.a ed., Londrina, Editora UEL, 1997, pp. 339--372.

PEREIRA, José Esteves, Silvestre Pinheiro Ferreira —O Seu Pensamento Político, Coimbra, Universi-dade de Coimbra, 1974.

SANTOS, Delfim, «O pensamento filosófico em Por-tugal — Silvestre Pinheiro Ferreira», in Portu-gal — Breviário da Pátria para os PortuguesesAusentes, Lisboa, 1946, p. 265.

——, «Silvestre Pinheiro Ferreira», in Perspectiva daLiteratura Portuguesa do Século XIX, vol. I,Lisboa, 1947, pp. 17-30.

SILVA, Lúcio Craveiro da, «Silvestre Pinheiro Fer-reira», in Actas do I Congresso de Filosofia,Braga, 1955, pp. 613-619.

SILVA, Maria Beatriz Nizza da, Silvestre PinheiroFerreira — Ideologia e Teoria, Lisboa, Sá daCosta, 1974.

SILVA, Nady Moreira Domingues da, O Sistema Fi-losófico de Silvestre Pinheiro Ferreira, Lisboa,ICALP, 1990.

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Silvestre Pinheiro Ferreira, Cadernos de Cultura, 1,Lisboa, Centro de História da Cultura da Univer-sidade Nova de Lisboa, 1998. Inclui uma extensabibliografia activa e passiva actualizada e estudosde Maria Luísa Couto Soares, António Braz Tei-xeira, Beatriz Nizza da Silva, António Paim e JoséEsteves Pereira.

SOARES, Maria Luísa Couto, A Linguagem como Mé-todo nas «Prelecções Filosóficas» de SilvestrePinheiro Ferreira, in Cultura — História e Filo-sofia, Lisboa, 1984 (sep.).

——, prefácio à tradução do Essai sur la Psycholo-gie comprenant la théorie du raisonnement et dulangage, l’ontologie, l’esthétique et la dicéosyne,Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1999.

TEIXEIRA, A. Braz, «Um filósofo de transição: SilvestrePinheiro Ferreira», in Rev. Bras. de Fil., 122,Abril-Junho, 1981.

——, História da Filosofia do Direito Portuguesa,Lisboa, Caminho, 2005, pp. 100-104.

TEIXEIRA, A. Braz, e PAIM, António, verb. «SilvestrePinheiro Ferreira», in Logos, Enciclopédia Luso--Brasileira de Filosofia, Lisboa, Verbo, 2 (1990),cols. 512-518.

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ÍNDICE

I — Biografia ................................................... 3

II — Ideias filosóficas ..................................... 9

III — Ideias políticas ...................................... 31

IV — Ideias sociais ......................................... 49

V — Ideias económicas .................................. 55

VI — A obra .................................................... 75

Bibliografia breve sobre Silvestre Pinheiro Fer-reira .............................................................. 87

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Colecção Essencial

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93. AVERRÓISCatarina Belo

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101/102. PADRE ANTÓNIO VIEIRAAníbal Pinto de Castro

103. A HISTÓRIA DA UNIVERSIDADEGuilherme Braga da Cruz

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105. SILVESTRE PINHEIRO FERREIRAJosé Esteves Pereira

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Composto e impressona

Imprensa Nacional-Casa da Moedacom uma tiragem de 800 exemplares.

Orientação gráfica do Departamento Editorial da INCM.

Acabou de imprimir-seem Maio de dois mil e oito.

ED. 1015573ISBN 978-972-27-1693-2

DEP. LEGAL N.o 275 725/08

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SILVESTREPINHEIROFERREIRA

IMPRENSA NACIONAL-CASA DA MOEDA

José Esteves Pereira

O essencial sobre

SILVESTRE PINHEIRO FERREIRA

9 7 8 9 7 2 2 7 1 6 9 3 2

ISBN 978-972-27-1693-2

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