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oemObservatrio da Emigrao
Empresrios portuguesesno Luxemburgouma primeira aproximao
Jos Carlos Marques
Instituto Politcnico de Leiria, CICS.Nova (ncleo de Leiria) e CES, Coimbra
OEm Working-Paper 01 maio de 2015
Este artigo constitui um estudo preliminar sobre os empresrios portugueses no exterior,
centrado no caso dos portugueses no Luxemburgo. Caracteriza-se, na primeira parte,
a evoluo da emigrao portuguesa para aquele pas e a sua insero no mercado
de trabalho. Na segunda parte, aprofunda-se o conhecimento sobre as atividades
empreendedoras dos emigrantes portugueses e analisam-se diferentes fatores com impacto
sobre a criao e o desenvolvimento de prticas empreendedoras entre os portugueses
no estrangeiro. [Palavras-chave: emigrao portuguesa, empreendedorismo migrante]
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Title Portuguese entrepreneurs in Luxembourg: a preliminary approach.
Abstract This paper is a preliminary study of Portuguese entrepreneurs abroad, focused on
the case of the Portuguese in Luxembourg. We characterize, in the first part, the evolution of
Portuguese emigration to that country and their integration into the labour market. In thesecond part we analyse the entrepreneurial activities of Portuguese emigrants and analyse
different factors that impact on the creation and development of entrepreneurial practices
among Portuguese abroad.
Keywords Portuguese emigration, migrant entrepreneurship.
Receo: 30 de Setembro de 2014.
Aprovao: 25 de maro de 2015.
Nas publicaes do OEm usa-se a notao anglo-saxnica dos nmeros:
os milhares so separados por vrgulas e as casas decimais por pontos.
Observatrio da Emigrao
Av. das Foras Armadas, ISCTE-IUL, 1649-026 Lisboa, Portugal
Tel. (CIES-IUL): + 351 210464018
E-mail: [email protected]
www.observatoriodaemigracao.pt
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ndice
ndice de quadros e figuras .................................................................................................. 4
Introduo .......................................................................................................................... 5
1 Portugueses no Luxemburgo ...................................................................................... 6
2 Empreendedorismo dos portugueses no Luxemburgo ............................................... 10
2.1 Caracterizao dos inquiridos ........................................................................................... 11
2.2 Atividade empresarial ....................................................................................................... 13
2.3 Determinantes do desenvolvimento do empreendedorismo: a ao de fatores deatrao e de repulso ....................................................................................................... 16
2.4 Dificuldades experimentadas no processo de criao empresarial e no decurso
da atividade da empresa ................................................................................................... 19
2.5 A construo e manuteno de relaes econmicas externas por parte dos
empreendedores portugueses no exterior ....................................................................... 22
Notas finais ....................................................................................................................... 24
Referncias bibliogrficas .................................................................................................. 25
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ndice de quadros e figuras
Quadros
Quadro 1 Empresas criadas .................................................................................................... 13
Quadro 2 Caractersticas das empresas.................................................................................. 14
Quadro 3 Nacionalidade dos empregados, clientes e fornecedores ...................................... 15
Quadro 4 Incentivos e presses para o desenvolvimento da atividade
empresarial ............................................................................................................. 18
Quadro 5 Dificuldades sentidas no perodo inicial da constituio da empresa
(% de respostas positivas) ...................................................................................... 21
Quadro 6 Dificuldades sentidas no funcionamento da empresa (% de respostas
positivas) ................................................................................................................. 21
Figuras
Figura 1 Entrada e sada de portugueses no Luxemburgo, 1970-2012 .................................. 6
Figura 2 Evoluo da populao estrangeira e da populao portuguesa no
Luxemburgo, 1960-2013 ........................................................................................... 7
Figura 3 Principais sectores de atividade dos portugueses, 2011 .......................................... 8
Figura 4 Condio perante a atividade econmica dos portugueses, 2011 ........................... 9
Figura 5 Caractersticas sociodemogrficas dos inquiridos .................................................. 12
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Introduo
O Luxemburgo constitui, juntamente com outros pases na Europa, um renovado destino da
emigrao portuguesa contempornea que se intensificou, em especial, com o acentuar da
crise econmica nacional. A acuidade com que este fluxo migratrio se desenvolveu nos
ltimos anos, no deve, contudo, fazer esquecer que a emigrao portuguesa para o
Luxemburgo uma realidade contnua desde os anos 60 do sculo XX, apresentando ao longo
do tempo diferentes ritmos e intensidades. A anlise da insero econmica dos emigrantes
portugueses no Luxemburgo (e em particular das suas prticas empreendedoras) que se
esboa neste artigo reflete esta longa histria.Numa primeira parte do artigo descreve-se, de forma sinttica, a evoluo da emigrao
portuguesa para o Luxemburgo e a sua insero no mercado de trabalho luxemburgus. Numa
segunda parte, procura-se aprofundar o conhecimento sobre as atividades empreendedoras
dos emigrantes portugueses (uma rea que, como mostra uma recente bibliografia sobre a
emigrao portuguesa, no tem merecido um estudo aprofundado no conjunto dos estudos
sobre a emigrao portuguesa)1e analisar os diferentes aspetos que influenciam a criao e
desenvolvimento de prticas empreendedoras por parte dos portugueses no estrangeiro.
Recorre-se para esta anlise a um inqurito realizado, em 2012, a empresrios portugueses no
Luxemburgo. Como indica o ttulo do artigo, trata-se de uma primeira aproximao ao estudo
dos empresrios emigrantes portugueses, a qual, por isso, sofre das limitaes prprias de
qualquer abordagem inicial.
1Na referida bibliografia que coteja a produo cientfica sobre a emigrao portuguesa entre 1980 e 2013, existem
apenas seis referncias que abordam, por vezes de forma indireta, as prticas de empreendedorismo dos
emigrantes portugueses (Candeias, Gis, Marques e Peixoto, 2014).
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1 Portugueses no Luxemburgo
A partir do final dos anos de 1960, os portugueses comeam a representar um dos principais
grupos de imigrantes que anualmente chegam ao territrio luxemburgus, assumindo, a partir
de 1986, o lugar cimeiro na hierarquia numrica dos cidados estrangeiros que anualmente
chegam ao Luxemburgo.2
Os dados das entradas e sadas de portugueses no Luxemburgo (figura 1) permitem
identificar dois momentos centrais na formao da comunidade portuguesa. O primeiro, entre
o final dos anos 1980 e meados dos anos 1990, em que as entradas representaram sempre
mais do dobro das sadas anuais. O segundo, a partir de 2003 em que se repetiu, a nveis maiselevados, o verificado no primeiro momento.
Em resultado desta evoluo do fluxo migratrio, os portugueses tornaram-se, a partir
de 1981, a principal comunidade de imigrantes no Luxemburgo, representando, em 2013,
36.9% do total de estrangeiros residentes no pas e 16.4% da populao total.
Figura 1 Entrada e sada de portugueses no Luxemburgo, 1970-2012
Fonte STATEC (vrios anos, disponvel em http://www.statistiques.public.lu).
2Para uma anlise aprofundada da histria da emigrao portuguesa no Luxemburgo, veja-se Beiro (1999) e
Arroteia (1986).
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2007
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2011
Saldo migratrio Entradas Sadas
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Figura 2 Evoluo da populao estrangeira e da populao portuguesa no Luxemburgo, 1960-2013
Fonte STATEC (vrios anos, disponvel emhttp://www.statistiques.public.lu)
Em termos demogrficos a populao portuguesa no Luxemburgo pode ser
caracterizada como jovem (com uma idade mdia de 32.9 anos) e com uma repartio por
sexo ligeiramente enviesada a favor do sexo masculino (52.5%).3
Em termos de habilitaes escolares, trata-se de uma populao em que predominam
os baixos nveis de escolaridade (45% dos portugueses com mais de 14 anos apenasfrequentaram o ensino primrio e 24% o nvel inferior do ensino secundrio),4seguidos pelos
nveis de formao intermdios (sobretudo de natureza profissionalizante). A anlise dos nveis
de formao por grupo etrio permite verificar que os baixos nveis de formao predominam,
praticamente, em todos os grupos etrios, embora com uma proporo decrescente medida
que se observam os grupos de idade mais jovens. Assim, 80 ou mais por cento dos portugueses
com 40 e mais anos apenas apresentam como nvel de qualificao escolar o ensino primrio
ou o nvel inferior do ensino secundrio (percentagem que sobe para mais de 90% nos
emigrantes com 55 e mais anos). Nos grupos de idade mais jovens a proporo dos detentores
de nveis de formao mais baixos reduz-se para 69.2%, entre os que tm entre 35 e 39 anos, e
para 45.4% no caso dos que tm entre 25 e 29 anos. Assiste-se, deste modo, a uma expanso
3Dados referentes ao recenseamento da populao de 2011.
4O nvel inferior do ensino secundrio equivalente ao 9 ano em Portugal (Portaria n. 699/2006 de 12 de julho).
0,0
10,0
20,0
30,0
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150.000
225.000
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1960 1970 1981 1991 2001 2011 2013
Total de estrangeiros Portugueses % de portugueses
http://www.statistiques.public.lu/http://www.statistiques.public.lu/http://www.statistiques.public.lu/http://www.statistiques.public.lu/ -
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temporal da formao escolar dos portugueses no Luxemburgo, embora a um nvel inferior ao
registado pela populao total (STATEC, 2013).5
interessante observar que, tratando-se de uma migrao de cariz laboral, somente
51.2% dos portugueses se encontram ativos no mercado de trabalho luxemburgus. Este dadoreflete o desenvolvimento dos processos de reagrupamento familiar e da formao das
famlias portuguesas no Luxemburgo. Assim, da populao inativa, 22.7% so estudantes e
7.3% so reformados. ainda de notar que 4.9% dos inativos se encontram numa situao de
desemprego.
Figura 3 Principais sectores de atividade dos portugueses, 2011
Fonte STATEC (vrios anos, disponvel em http://www.statistiques.public.lu)
A insero dos portugueses no mercado de trabalho luxemburgus marcada pela
concentrao de uma parte importante dos emigrantes nos sectores de atividade
tradicionaisda construo civil (23.6%) e do comrcio, hotelaria e restaurao (16.5%)
(figura 3). Para alm destes sectores de referir a relevncia assumida pelo sector dos servios
de apoio que emprega 10.3% dos portugueses. Os dados relativos aos sectores de atividade
dos jovens ativos (15 a 29 anos) mostram que estes tendem a apresentar algumas diferenas
em relao estrutura ocupacional geral dos portugueses, embora se mantenha o padro
ocupacional global. Verifica-se, no grupo dos ativos jovens, uma ligeira diminuio no sector da
5Na populao total a percentagem dos que possuem nveis mais baixos de formao de 19.2% para os jovens
entre os 25 e 29 anos, 21.7% para os que tm entre 30 e 34 anos e 27.1% para a populao entre os 35 e 39 anos
(STATEC, 2013).
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Indstrias
transformadoras
Construcao Comrcio,
transportes,restaurao e
hotelaria
Actividades,
cientficas,tcnicas,
administrativas eservicos de apoio
Administrao
pblica, educao,sade e serviosde apoio social
Outros sectores
Total 15-29 anos
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construo civil (21.7%) e um aumento no sector do comrcio, restaurao e hotelaria (31%) e
em sectores que, em termos gerais, ocupam menos portugueses: os servios (17.6%) e a
administrao, educao e sade (12%).
Quanto condio perante a atividade econmica, a esmagadora maioria dos ativosportugueses encontra-se a trabalhar por conta de outrem (92.1%) (figura 4). Os trabalhadores
por conta prpria representam, em 2011, 3.5% dos ativos (no total 1,384 pessoas) e os
restantes 4.4% distribuem-se por ativos em formao (2%) e pelos que no indicaram o seu
estatuto profissional (2.4%).6
Apresentadas de forma sinttica algumas das caratersticas da populao portuguesa no
Luxemburgo, importa, de seguida, olhar para as prticas empreendedoras destes portugueses.
Figura 4 Condio perante a atividade econmica dos portugueses, 2011
Fonte STATEC (vrios anos, disponvel em http://www.statistiques.public.lu)
6Os dados relativos caraterizao econmica dos portugueses resultam de um levantamento solicitado ao servio
estatstico luxemburgus (STATEC).
Conta de outrm; 92,1%
Conta prpria; 3,5%
Aprendizes; 2,4%
Sem indicao; 2,4%
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2 Empreendedorismo dos portugueses no Luxemburgo
Os dados relativos insero econmica dos emigrantes portugueses no Luxemburgo, atrs
apresentados, mostram que a percentagem dos que trabalham por conta prpria no
quantitativamente muito significativa. Como, contudo, reconhecem diversos autores, no
obstante a importncia relativa das atividades de empreendedorismo imigrante para as
economias dos pases de acolhimento, no deve ser descurado o significado substantivo e as
implicaes prticas destas atividades para os prprios imigrantes.7A aferio destas
consequncias prticas significa conhecer se o autoemprego constitui uma opo face ao
desemprego, se cria oportunidades de trabalho para um indivduo e/ou os seus co-nacionais,se confere recursos econmicos, se possibilita ou assenta na manuteno de relaes
transnacionais, etc. (Lightet al., 1994; Portes e Sensenbrenner, 1993).
A aplicao de um questionrio aos empresrios portugueses no Luxemburgo procurou,
precisamente, contribuir para o conhecimento destes aspetos, atravs da incluso de um
conjunto de questes dirigidas:
a) caracterizao da atividade empresarial dos emigrantes portugueses;
b) identificao dos principais determinantes do desenvolvimento das prticas
empreendedoras, possibilitando, assim, conhecer a influncia dos recursos individuais e
de grupo e a ao de fatorespull epush(de incentivo e de presso);
c) anlise dos problemas e das necessidades de apoio sentidas pelos empresrios de
origem imigrante e, em particular, a relevncia dos recursos familiares e co-nacionais
no processo de desenvolvimento empresarial;
d) ao reconhecimento da construo e manuteno de relaes econmicas externas por
parte dos empreendedores portugueses no exterior, em particular as relaes
econmicas mantidas com o pas de origem.
7 Utilizar-se-o de forma indiferenciada ao longo do texto as designaes empreendedorismo imigrante e
empreendedorismo tnico. Reconhece-se, contudo, que o empreendedorismo tnico se refere a prticas de
autoemprego de um segmento da sociedade cujos membros partilham (ou acreditam partilhar) uma origem tnica
e cultural comum e que se envolvem em atividades partilhadas nos quais esta origem comum constitui um
elemento central, enquanto a noo de empreendedorismo imigrante se limita aos indivduos que efetivamente
encetaram um movimento migratrio (excluindo, por isso, aqueles que nasceram no pas de acolhimento) (Volery,
2007; Yinger, 1985).
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2.1 Caracterizao dos inquiridos
Antes de prosseguir com a anlise dos dados do inqurito, importa apresentar, de forma
breve, as caractersticas dos inquiridos. O inqurito foi aplicado entre janeiro e fevereiro de2012 a 156 empresrios portugueses no Luxemburgo (ou seja, a aproximadamente 11% dos
portugueses que, segundo o Censo de 2011, trabalhavam por conta prpria). Naturalmente
que o nmero de inquiridos e a metodologia de amostragem utilizada dificilmente permitem
extrapolar os resultados obtidos para a generalidade dos emigrantes empreendedores
portugueses no Luxemburgo.8Contudo, esse tambm no constitua o objetivo central da
investigao realizada, a qual foi orientada pelo interesse em expandir o conhecimento sobre
as atividades empreendedoras dos emigrantes portugueses, uma rea que, como referido na
introduo, tem estado pouco presente nos estudos sobre a emigrao portuguesa.Dos 156 inquiridos, 58% eram do sexo masculino e um pouco mais de dois teros
(70.5%) tinham entre 35 e 54 anos (figura 5). Quanto ao ano da primeira entrada no
Luxemburgo, pode notar-se que 32.3% emigrou nos anos 1990 e 21.9% na primeira dcada do
sculo XXI. Os dados relativos entrada no Luxemburgo, em especial as que decorrerem
durante a ltima dcada do sculo XX, indicam a manuteno do fluxo migratrio portugus
para este pas aps o anunciado final dos movimentos emigratrios nacionais. Os sectores
econmicos em que se inseriam os emigrantes antes de se tornarem independentes eram os
do alojamento e restaurao (32.1%), construo civil (13.7%), comrcio (15.3%), o sector
imobilirio e sector dos outros servios (11.5%, referentes sobretudo, prestao de servios
domsticos, limpezas e servios pessoais, etc.).
8A tcnica de amostragem seguida foi a de bola de neveque se reveste de especial utilidade num estudo de cariz
mais exploratrio, no qual se procura uma primeira aproximao ao tema que permita uma posterior sustentao e
desenvolvimento de um estudo mais aprofundado. A tcnica da bola de nevefoi constrangida pela imposio de
quotas relativas ao gnero e ao sector de atividade. Procurou-se, deste modo, incluir migrantes ativos em
diferentes sectores de atividade e uma proporo importante de homens e mulheres, assumindo que ambos os
sexos apresentam diferentes oportunidades no mercado de trabalho e na prossecuo de uma atividade
independente.
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Figura 5 Caractersticas sociodemogrficas dos inquiridos
Fonte Inqurito aos empresrios portugueses no Luxemburgo, 2012
Homens;58,3
Mulheres;41,7
Sexo dos inquiridos (%)
14,7
39,7
30,8
12,2
2,6
0
10
20
30
40
50
25-34 35-44 45-54 55-64 65-69
Idade (%)
23,2 22,6
32,3
21,9
0
5
10
15
20
25
30
35
1968-1979 1980-1989 1990-1999 2000-2011
Ano de entrada (%)
6,1
11,5
13,7
15,3
32,1
0 20 40
Imobiliria e prestao deservios
Outros
Construo
Comrcio
Alojamento e restaurao
Sector de actividade antes actividadeindependente (%)
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2.2 Atividade empresarial
A maioria das empresas dos participantes no inqurito foi criada no sculo XXI e, emparticular, a partir de 2006 (44.2%). Neste perodo, foram, sobretudo, os emigrantes que
chegaram ao Luxemburgo na ltima dcada do sculo XX, ou na primeira dcada do
sculo XXI os principais responsveis pelo desenvolvimento de uma atividade
empresarial (respetivamente, 32.4% e 38.2%).
Quanto forma de incio da atividade, a quase totalidade dos inquiridos (99.3%)
comprou uma empresa j existente e s uma minoria percorreu todo o processo de criao
inicial de uma empresa. A forma jurdica escolhida para a constituio da empresa foi,
maioritariamente, a sociedade annima (55.6%), seguindo-se formas de propriedadeindividuais (35.3%) ou de sociedade unipessoal (5.2%).
Quadro 1 Empresas criadas
Indicador % N
Ano de criao
At 1980 5.2 8
1981-1990 10.4 16
1991-2000 20.1 31
2001-2005 20.1 31
2006-2011 44.2 68
Forma de propriedade
Empresrio em nome individual 35.3 54
Sociedade unipessoal por quotas 5.2 8
Sociedade annima 55.6 85
Outra 3.9 6
Forma de financiamento
Poupanas pessoais 40.9 63
Crdito bancrio 39.0 60
Emprstimos de familiares/amigos 7.1 11
Poupanas e crdito bancrio 11.7 18
Outra 1.3 2
Fonte Inqurito aos empresrios portugueses no Luxemburgo, 2012.
Os recursos prprios (40.9%) ou institucionais (crdito bancrio) (39.0%) constituem os
principais recursos utilizados pelos portugueses no momento de criao da sua empresa. Os
recursos oriundos da comunidade (familiares ou amigos) assumem uma proporo bastante
reduzida (apenas 7.1% afirmaram recorrer a este tipo de ajuda). Este reduzido acesso aos
recursos econmicos da comunidade assinalvel atendendo a que a insuficincia de recursos
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econmicos e financeiros constitui uma das principais dificuldades apresentadas pelos
emigrantes empreendedores portugueses. Parece, assim, que, ao contrrio do
frequentemente sugerido na literatura relativa ao empresarialismo imigrante (ver, por
exemplo, Light, 1987; Light e Gold, 2000; Smallbone et al., 2003), a escassez de capitaisprprios no , no caso dos empresrios portugueses, compensada pelo acesso a mecanismos
de solidariedade financeira oriundos da comunidade ou da famlia.
Uma elevada proporo das empresas criadas pelos inquiridos so de pequena ou mdia
dimenso quer em termos de nmero de empregados (at 9 empregados), quer em termos de
volume de negcio (geralmente inferior a 75 mil euros) (quadro 2).
A anlise dos sectores em que os emigrantes portugueses constituram as suas
empresas mostra que estes so, sensivelmente, os mesmos sectores em que exerceram a sua
ltima ocupao antes de se tornarem independentes, a saber: o sector do alojamento erestaurao (57.8%), do comrcio (16.9%) e do imobilirio e prestao de servios (11.7%). O
sector da construo civil , do conjunto de sectores mais significativos em termos de insero
dos portugueses, o que apresenta uma percentagem inferior de autoemprego. Acreditamos
que tal se justifica pelos elevados valores de investimento em capital geralmente associados a
uma atividade empresarial neste sector.
Quadro 2 Caractersticas das empresas
Indicador % N
Sector de atividade
Alojamento e restaurao 57.8 89
Comrcio 16.9 26
Imobilirio e prestao de servios 11.7 18
Construo 3.2 5
Outro 10.3 16
Nmero de empregados
Nenhum 17.5 27
1 a 9 67.5 104
10 a 29 9.7 15
30 e mais 5.2 8
Volume de negcios
At 75,000 86.3 132
75,000 a 150,000 13.7 21
Fonte Inqurito aos empresrios portugueses no Luxemburgo, 2012.
O cruzamento do sector de atividade anterior atividade empresarial com o sector de
desenvolvimento empresarial no Luxemburgo mostra que para 40.5% dos inquiridos no
houve qualquer alterao e que para os restantes a alterao foi, maioritariamente, do sector
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da construo civil para os sectores do alojamento e restaurao ou do comrcio e do sector
do comrcio para o do alojamento e restaurao e da prestao de servios. A comparao
entre os sectores de atividade, apesar de permitir detectar uma relao interessante entre o
ltimo sector de trabalho por conta de outrem e o primeiro em que desempenha umaatividade por conta prpria, no elucida sobre toda a experincia profissional anterior do
emigrante. A partir de entrevistas conduzidas a informadores privilegiados (que servem,
sobretudo, para completar as informaes obtidas a partir do inqurito) possvel afirmar que
uma parte substancial dos empresrios portugueses no Luxemburgo criou a sua empresa em
atividades onde, numa fase anterior do seu percurso profissional, desenvolveram uma
atividade laboral. Assim, por exemplo, muitos decidem tornar-se independentes no sector da
restaurao porque trabalharam durante algum tempo como empregados neste sector,
adquirindo a competncias relativas ao funcionamento do sector (em termos de clientes,fornecedores, possibilidade de lucro, etc.).
A reduzida participao familiar no processo de financiamento inicial da empresa, atrs
mencionada, no significa que a famlia, ou a restante comunidade portuguesa, se mantenha
margem do funcionamento da empresa aps a sua formao. Assim, quase 40% dos inquiridos
afirmaram que empregavam pelo menos um membro da sua famlia e aproximadamente trs
quartos dos inquiridos indicaram que os seus empregados eram exclusivamente de
nacionalidade portuguesa (quadro 3).
Quadro 3 Nacionalidade dos empregados, clientes e fornecedores
Nacionalidade Maioria dos empregados (%) Maioria dos clientes (%) Principais fornecedores (%)
Portuguesa 78.3 43.1 9.0
Portuguesa e outra 7.8 30.7 9.7
Luxemburguesa 3.9 19.0 72.9
Outra 10.1 7.2 8.4
Total (N) 129 153 155
Fonte Inqurito aos empresrios portugueses no Luxemburgo, 2012.
Os dados relativos nacionalidade dos empregados, clientes e fornecedores permitem
notar que as empresas formadas por portugueses, embora tenham uma forte componente
nacional em termos da estrutura de trabalhadores e da estrutura de clientes, no subsistem
sem a interao com a sociedade luxemburguesa, a qual assume um papel central no
fornecimentos dos bens s empresas detidas por portugueses. Trata-se de um resultado
natural que, em grande medida, decorre do sector de atividade da maioria das empresas
restaurao e pequenos comrciosque tm necessidade de promover o abastecimento dos
seus produtos nos fornecedores locais, prximos da rea de ao das empresas.
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Em termos de uma distino frequentemente realizada nos estudos de empresarialismo
imigrante (entre o funcionamento empresarial em mercados fechados formados por cotnicos
ou co-nacionais ou em mercados abertos) possvel verificar que os empresrios portugueses
no Luxemburgo no se encontram limitados a um mercado especfico (quadro 3): no caso dosfornecedores o mercado aberto assume maior preponderncia, no caso da estrutura de
clientes assiste-se a uma situao mais diversificada (embora com predominncia dos
nacionais portugueses) e no caso dos empregados verifica-se uma maior ao dos recursos da
comunidade e do funcionamento do mercado de co-nacionais.
2.3 Determinantes do desenvolvimento do empreendedorismo: a ao de fatores de
atrao e de repulso
Os diversos autores que tm analisado o empreendedorismo imigrante tm identificado a
influncia de um conjunto de fatores no desenvolvimento de prticas de autoemprego por
parte da populao migrante. Particularmente relevantes nos ltimos anos tm sido os
estudos que propem uma abordagem multidimensional e que reconhecem a relevncia da
interao entre fatores individuais e condies ambientais ou situacionais (Kloosterman e
Rath, 2001; Waldingeret al., 1990). Como refere Oliveira (2004), no so somente os recursos
comunitrios e as oportunidades na sociedade de acolhimento em si que determinaro a
iniciativa empresarial, mas tambm a capacidade que o indivduo tem de aproveitar os
recursos e as oportunidades.9As oportunidades incluem as possibilidades para aceder ao
mercado e s condies de funcionamento do mercado de trabalho, ou aos recursos, que
podem at ser caractersticas partilhadas por determinado grupo e que constituem uma via
para iniciativas de autoemprego (Putz, 2002).
Em sntese, tm sido apresentados os seguintes fatores como explicativos do
desenvolvimento do empreendedorismo imigrante:
a) os recursos individuais: em especial a disponibilidade de capital humano e financeiro.
A reconhecida limitao de acesso aos recursos financeiros necessrios ao
financiamento da constituio das atividades empreendedoras, tem, segundo diversos
estudos, sido compensada pela recursos existentes na comunidade imigrante e, em
especial, pelo apoio familiar (Sanders e Nee, 1996; Smallboneet al., 2003).
9Veja-se, ainda, Portes e Zhou (1999).
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b) os recursos do grupo tnico ou co-nacional e o capital social. Atende aos recursos
tnicos e ao capital social, isto , aos recursos materiais e imateriais que podem ser
mobilizados pelos membros dos grupos tnicos para a prossecuo das suas atividades
empreendedoras (Granovetter, 1985; Portes e Sensenbrenner, 1993).c) os fatores estruturais. Reconhece a importncia das condies no pas de destino, isto
das oportunidades existentes na sociedade de acolhimento, no desenvolvimento do
empreendedorismo imigrante. Ateno particular dedicada ao dos mercados e
estrutura do mercado de trabalho, assim como aos fatores legais e institucionais (Rath,
2000, Waldingeret al., 1990).
d) os incentivos e presses (factores push e pull). Identifica dois conjuntos de motivos
extremos para o desenvolvimento de atividades empreendedoras: motivos relacionados
com a autorrealizao (pull) e motivos decorrentes de uma economia de necessidade(push). Nos primeiros motivos dominam o desejo de autonomia, de independncia e a
liberdade de escolha, enquanto nos segundos so preponderantes os fatores
relacionados com a resposta a uma situao ou ameaa de desemprego, ou a
insatisfao com a relao laboral (incluindo a insatisfao com as condies
remuneratrias) (Clark e Drinkwater, 2000; Dawson e Henley, 2012; Dawsonet al., 2009;
Hillmann e Rudolph, 1997).10Reconhece-se que na prtica a constituio de uma
atividade empreendedora quase sempre o resultado de um conjunto de incentivos e
de presses, pelo que a simples categorizao das motivaes apenas em dois polos
extremos no suficiente para a compreenso integral das razes do desenvolvimento
de uma atividade empreendedora.
Admite-se no presente estudo que as iniciativas empreendedoras no so determinadas
somente pelos recursos (humanos e financeiros) disponveis, mas tambm por certos
incentivos e presses e que as decises relativas ao desenvolvimento de uma atividade
empresarial so complexas, combinando, em grau varivel, um conjunto diversificado de
motivaes. A identificao destes incentivos e presses (ou destes fatorespushepull)
particularmente interessante quando se procura conhecer os motivos que desencadearam a
prossecuo de uma atividade independente por parte dos imigrantes.
No mbito deste estudo, considerou-se importante conhecer as razes que conduziram
adoo de uma atividade independente e, em particular, conhecer se esta foi iniciada mais
10Os fatores de atrao e de repulso que conduzem adoo de prticas empreendedoras so na literatura (em
particular na produzida no mbito do Global Entrepreneurship Monitor) conhecidas, tambm, por
empreendedorismo baseado na necessidade e empreendedorismo baseado em oportunidades (Reynolds et al.,
2002).
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por fatores de atrao ou motivada por uma presso resultante da limitao das
oportunidades no mercado de trabalho. No se pretendendo discutir de forma aprofundada a
ao de todos estes fatores no processo de autoemprego dos emigrantes portugueses no
Luxemburgo, debruar-nos-emos de seguida apenas sobre os incentivos e as presses dosemigrantes de modo a conhecer, nesta primeira abordagem, os motivos que conduziram ao
desenvolvimento de prticas empreendedoras por parte dos emigrantes portugueses. Trata-
se, sobretudo, de fatores subjetivos, apontados pelos inquiridos no momento da inquirio,
restando conhecer a relevncia efetiva de cada um destes fatores no processo de deciso de
desenvolvimento de uma atividade independente.
Quadro 4 Incentivos e presses para o desenvolvimento da atividade empresarial
Questo Motivo/indicador Fator %
ideia da famlia Famlia Incentivo 4.7
mudana nas circunstncias familiares Famlia Presso 1.3
tinha esse objetivo quando emigrei Disposio/realizao Incentivo 0.6
tinha capital para investir Disposio Incentivo 3.9
sentia essa necessidade Disposio/realizao Incentivo 1.3
queria trabalhar por conta prpria Autonomia Incentivo 19.3
oportunidade para obter proveitos prprios Autonomia Incentivo 14.3
tinha uma boa ideia de negcio Reconhecimento de oportunidade Incentivo 4.7
tinha bons contactos para parceiros de negcios Reconhecimento de oportunidade Incentivo 1.1
surgiu a oportunidade Reconhecimento de oportunidade Incentivo 26.3
conhecia bem o sector de negcio Reconhecimento de oportunidade Incentivo 13.1
estava desempregado Desemprego Presso 1.3
estava insatisfeito com a minha situao anterior Insatisfao Presso 9.0
Nota As razes que conduziram ao desenvolvimento da atividade empresarial foram aferidas atravs de uma questo de
resposta mltipla (limitada a um mximo de trs respostas). Apresentam-se no texto as percentagens de respostas assinaladas.
Fonte Inqurito aos empresrios portugueses no Luxemburgo, 2012.
Os dados do quadro indicam que os fatores de atrao (incentivos) parecem ser os mais
importantes na deciso de constituio de uma empresa (no total, estes fatores obtiveram
89.3% das respostas). O reconhecimento de oportunidades, em conjunto com o conhecimento
do sector de negcio, constituem importantes motivos na prossecuo de uma atividade
independente (39.4% das respostas), o que sugere a importncia do conhecimento do sector
de atividade (decorrente, por exemplo, de uma experincia profissional anterior) no processo
de constituio das empresas. O desejo de adquirir independncia ou de obter proveitos
prprios recolhe, igualmente, um nmero elevado de respostas (33.6%). Os inquiridos
atriburam uma menor relevncia no processo de deciso aos fatores repulsivos (ou, de
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presso), tais como insatisfao com a situao laboral anterior, ou o desemprego
(respetivamente 9.0% e 1.3% das respostas).11
A categorizao dos motivos de constituio de uma atividade empresarial
independente em fatores de presso e de incentivo, apesar de interessante do ponto de vistaanaltico e til para o desenvolvimento de polticas promotoras do empreendedorismo, ignora
que no processo de tomada de deciso intervm, frequentemente e de forma conjunta, ambos
os conjuntos de fatores. Por exemplo, os inquiridos que consideraram que na origem da sua
iniciativa empresarial esteve a insatisfao com a sua situao laboral (fator de presso),
indicaram, tambm, como motivao a identificao de uma oportunidade ou o desejo de
trabalhar por conta prpria (fatores de incentivo). No total, 33.3% dos inquiridos associaram
um fator de presso a um fator de incentivo e os restantes apenas identificaram fatores de
atrao. , assim, importante reconhecer que ambos os conjuntos intervm, em diferentesgraus, no processo de constituio de uma atividade empreendedora e que se torna
necessrio conhecer a importncia relativa de cada um destes fatores e a importncia efetiva
de cada um dos fatores apresentados no processo de deciso (o que no possvel de ser
realizado com o dados do inqurito que se tm vindo a usar).
2.4 Dificuldades experimentadas no processo de criao empresarial e no decurso
da atividade da empresa
A deciso de iniciar uma atividade empreendedora associa-se identificao dos recursos
(conhecimentos, capital econmico, capital social, etc.) disponveis para prosseguir a
concretizao da iniciativa empresarial. Trata-se neste lugar, sobretudo, de identificar os
constrangimentos experimentados pelos migrantes no processo de constituio e
desenvolvimento da sua atividade. No mbito do presente estudo, os inquiridos foram
questionados sobre os problemas experimentados em dois momentos distintos: aquando da
criao da empresa e durante o perodo de funcionamento da mesma.
Como mostram os dados do quadro seguinte, as dificuldades experimentadas pelos
empreendedores portugueses no Luxemburgo no momento de criao da empresa so,
sobretudo, de natureza estrutural (questes de financiamento, problemas de pessoal,
insuficincia de clientes e dificuldade em encontrar instalaes). A insuficincia de recursos
financeiros e a dificuldade de aceder s instituies de crdito surgem como fatores
11 semelhana da maioria das respostas a questes sobre eventos passados, as respostas dadas pelos inquiridos
podero ter sido influenciadas pelo enviesamento autojustificado que tende a sobrevalorizar os efeitos positivos,
isto , os fatores de atrao (Pearsonet al., 1994).
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estruturais particularmente constrangedores no incio da atividade empresarial. de assinalar,
igualmente, a relevncia atribuda escassez de recursos humanos. Trata-se de um dado
interessante se tomarmos em considerao que, como mencionado atrs, a maioria dos
empregados que trabalham nas empresas dos inquiridos so de nacionalidade portuguesa.12Ainda no mbito dos obstculos estruturais, as questes burocrticas (contato com as
instituies e gesto do processo administrativo) surgem, embora com menor relevncia,
como o terceiro conjunto de dificuldades experimentadas pelos empreendedores portugueses
no incio da sua atividade empresarial. A menor importncia atribuda a estes dois fatores
poder ser justificada pelo conhecimento prvio do funcionamento da sociedade
luxemburguesa e, em particular, do sector de atividade em que os emigrantes portugueses
iniciaram a sua empresa.
Para alm das dificuldades de natureza estrutural, os obstculos de ndole pessoaltambm contribuem para dificultar a fase inicial da constituio da empresa. Neste aspeto o
desconhecimento das leis do pas ou das tcnicas de gesto surgem como os fatores mais
relevantes para os inquiridos, seguidos pelos problemas com os scios. As dificuldades
relacionadas com aspetos considerados centrais na formao de uma empresa (ideia de
negcio, definio de estratgia e capacidade de organizao) so consideradas pouco
relevantes pelos inquiridos.
No geral, os emigrantes portugueses inquiridos atribuem aos fatores pessoais uma
relevncia menor que aos fatores estruturais. Trata-se de um resultado que no deixa de ser
natural atendendo a que o processo de criao empresarial requer, para alm de outros
fatores, determinadas caractersticas pessoais (por exemplo, ao nvel dos conhecimentos do
sector, da predisposio para o risco, etc.) cuja ausncia inibe a prossecuo de uma atividade
empresarial. Dado que o inqurito foi aplicado apenas aos que concluram o processo de
criao de uma empresa e que ainda detinham uma atividade empresarial, de admitir que
estejamos perante uma amostra positivamente selecionada, isto uma amostra em que os
referidos fatores pessoais (e, tambm os de natureza estrutural) apesar de se constiturem
como obstculo no foram suficientes para inviabilizar o desenvolvimento da atividade
empresarial.
Ultrapassados os obstculos iniciais constituio da empresa os emigrantes registam
uma evidente diminuio das dificuldades nos momentos posteriores. Esta reduo evidente
quer nas dificuldades de natureza estrutural, quer nas de natureza pessoal (quadro 6).
12 Poder admitir-se a hiptese da escassez de pessoal identificada pelos empregadores poder, aps o incio da
atividade, ser colmatada com o recrutamento de nacionais em Portugal.
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Quadro 5 Dificuldades sentidas no perodo inicial da constituio da empresa (% de respostas positivas)
Dificuldades sentidas % Nmero de respostas
Problemas com scios 14.2 141
Conhecimentos insuficientes de tcnicas de gesto 18.3 142
Ausncia de recursos econmicos ou financeiros 44.5 144
Falta de mo-de-obra disponvel 27.5 149
Ausncia de uma ideia de negcio ou oportunidade 4.1 128
Dificuldade no contacto com instituies no pas de acolhimento 12.5 144
Desconhecimento das leis no pas de acolhimento 19.0 147
Dificuldade em definir uma estratgia empresarial 4.8 146
Dificuldades de organizao e funcionamento 6.1 148
Dificuldade em obter informao adequada 10.8 148
Problemas no abastecimento de mercadorias 6.8 147
Falta de clientes 28.4 148
Dificuldades em encontrar instalaes apropriadas 20.7 150
Dificuldades de acesso a crdito bancrio 19.2 141
Racismo ou discriminao 19.1 147
Dificuldades de gesto do processo administrativo com as autoridades oficiais 10.2 147
Fonte Inqurito aos empresrios portugueses no Luxemburgo, 2012.
Quadro 6 Dificuldades sentidas no funcionamento da empresa (% de respostas positivas)
Dificuldades sentidas % Nmero de respostas
Problemas com scios 5.6 141
Conhecimentos insuficientes de tcnicas de gesto 6.9 145
Ausncia de recursos econmicos ou financeiros 18.5 146
Falta de mo-de-obra disponvel 12.9 148
Dificuldade no contacto com instituies no pas de acolhimento 4.1 146
Desconhecimento das leis no pas de acolhimento 6.1 147
Dificuldade em definir uma estratgia empresarial 4.1 147
Dificuldades de organizao e funcionamento 4.1 147
Dificuldade em obter informao adequada 4.8 147
Problemas no abastecimento de mercadorias 5.4 147
Falta de clientes 14.4 146
Dificuldades em encontrar instalaes apropriadas 6.8 147
Dificuldades de acesso a crdito bancrio 6.9 146
Racismo ou discriminao 10.2 147
Concorrncia 9.4 149
Dificuldades de gesto do processo administrativo com as autoridades oficiais 6.1 147
Fonte Inqurito aos empresrios portugueses no Luxemburgo, 2012.
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2.5 A construo e manuteno de relaes econmicas externas por parte dos
empreendedores portugueses no exterior
Analisadas as caratersticas do empreendedorismo portugus no Luxemburgo, importaconhecer em que medida esta atividade recorre s ligaes que o emigrante mantm com o
seu pas de origem para potenciar o funcionamento do seu negcio. Trata-se, no essencial, de
avaliar a extenso e intensidade das prticas de empreendedorismo transnacional entre os
portugueses empreendedores no Luxemburgo.13A este respeito, o questionrio usado
continha um conjunto de questes para, primeiro, aferir a relao que o emigrante mantinha
com o seu pas de origem e, segundo, para recolher informao sobre a utilizao dos contatos
com Portugal no desenvolvimento da atividade empresarial.
A generalidade dos emigrantes portugueses inquiridos exprime um relacionamentoprximo com o seu pas de origem, em particular com a realizao regular de frias em
Portugal,14ou a realizao de investimentos no pas (sobretudo, de natureza imobiliria,
dirigidos aquisio de casa prpria). A maioria dos inquiridos (56.8%) afirmou j ter realizado
algum investimento em Portugal e dos que ainda no realizaram investimentos no pas, 34.3%
indicaram pretender no futuro concretizar algum tipo de investimento em Portugal. Uma parte
desta percentagem de intenes futuras de investir no pas poder ser justificada pelo
contexto econmico desfavorvel que o pas atravessava no momento do inqurito. Os dados
do inqurito no permitem confirmar esta assero, mas permitem notar a existncia de uma
relao significativa entre os planos futuros dos inquiridos e as intenes de investimento. Dos
que indicaram no ter inteno de investir Portugal, 70.5% afirmaram pretender permanecer
definitivamente no Luxemburgo e 20.5% revelaram ainda no terem planos definitivos em
relao ao futuro.
Relativamente a outra forma tradicional de manuteno de relaes com o pas de
origem, o envio de remessas financeiras, a maioria dos inquiridos (73.5%) afirmou no enviar
dinheiro para Portugal.
Para alm das referidas relaes dos emigrantes portugueses com o seu pas de origem,
as quais no so exclusivas dos emigrantes empreendedores, so de referir as relaes que os
empreendedores portuguese no Luxemburgo estabelecem com empresas em Portugal. Estas
relaes econmicas externas podem representar um potencial importante quer no incio do
13 Sobre a noo de empreendedorismo transnacional, veja-se, entre outros, Portes, Guarnizo e Haller (2002) e
Drori, Honig e Wright (2009).14
49.7% dos inquiridos afirmaram realizar regularmente frias em Portugal e 41.3% assinalaram realizar
ocasionalmente frias no pas. Somente 0.6% dos empresrios portugueses que responderam ao inqurito
afirmaram no fazer frias em Portugal.
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desenvolvimento da atividade empresarial, quer no decurso da mesma. Os contatos com
empresas, fornecedores e distribuidores no pas de origem podero permitir a ativao de
oportunidades de acesso privilegiado (em termos de custo e tempo) a recursos importantes
para os seus negcios. A ausncia de barreiras lingusticas e culturais e o conhecimento,explcito e implcito, das estruturas formais e informais do pas de origem, podero facilitar o
desenvolvimento das relaes comerciais dos empresrios portugueses com parceiros de
negcios em Portugal. A construo e evoluo destas relaes transnacionais no , contudo,
uma realidade evidente ou natural para todos os emigrantes empreendedores. A distncia
espacial e temporal (diferena entre o tempo da procura e o tempo da oferta de bens e
servios) e o tipo de indstria ou a natureza do produto ou servio comercializado exercem
uma forte influncia sobre a existncia e a intensidade das relaes econmicas externas dos
migrantes empreendedores.
15
Para os empreendedores portugueses no Luxemburgo as relaes comerciais com o pas
de origem constituem uma atividade regular (29%) ou ocasional (41.9%). O relacionamento
comercial com empresas, fornecedores ou distribuidores em Portugal mais intenso no
conjunto de sectores econmicos assentes na comercializao de bens de origem portuguesa.
A maioria dos inquiridos que afirmou manter relaes regulares ou ocasionais com empresas
em Portugal desenvolvem a sua atividade empresarial no sector do comrcio (16.5%) ou no
sector da restaurao (61.5%).
As relaes comerciais com o exterior no se limitam s empresas situadas no pas de
origem. Elas podem, igualmente, envolver outras empresas detidas por emigrantes
portugueses localizadas noutros pases de acolhimento. Embora se trate de uma questo
importante para aferir as relaes que se estabelecem entre os emigrantes empreendedores
portugueses residentes em diferentes pases e para analisar o potencial associado a este tipo
de interao, o instrumento usado para recolher os dados para este estudo no inclua
questes direcionadas a esta realidade.
15A estes fatores h a acrescentar, a nvel macro, o quadro regulatrio e institucional dos diferentes pases.
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Notas finais
Os dados relativos s prticas empreendedoras dos portugueses no Luxemburgo permitem
realizar uma caracterizao inicial desta realidade. Eles referem-se a um momento especfico
no tempo (o momento da inquirio) e no permitem, por isso, avaliar o desenvolvimento
longitudinal das atividades empresariais. Fica, deste modo, por conhecer o grau de sucesso ou
insucesso das empresas constitudas (particularmente as de constituio mais recente), ou as
alteraes verificadas na situao das empresas dos inquiridos. No obstante esta limitao
possvel assinalar que o empreendedorismo portugus no Luxemburgo constitui uma realidade
bastante presente e importante para a comunidade portuguesa a residente quer pelavisibilidade associada s atividades desenvolvidas, quer por se constiturem como espao de
insero laboral (e de sociabilidade) de muitos emigrantes portugueses. Concentradas,
principalmente, nos sectores do comrcio e da restaurao, as atividades empreendedoras dos
portugueses resultam, sobretudo, da identificao de oportunidades particulares no mercado
de trabalho e menos de constrangimentos impostos ao percurso laboral do emigrante (como,
por exemplo, o desemprego). A identificao destas oportunidades e o reduzido nvel de
dificuldades burocrticas experimentadas no processo de constituio da atividade
independente resultam dos conhecimentos sobre o funcionamento do sector da atividade
adquiridos num perodo em que os emigrantes empreendedores se encontravam a trabalhar,
frequentemente, nesses mesmos sectores como trabalhadores por conta de outrem.
Os resultados do estudo sobre o empreendedorismo portugus no Luxemburgo
apresentados de forma sinttica ao longo das pginas precedentes constituem um passo
preparatrio no estudo das prticas de empreendedorismo dos emigrantes portugueses. A
longo prazo espera-se conseguir alargar a anlise a outros contextos nacionais e conhecer os
desenvolvimentos contemporneos das prticas empreendedoras dos emigrantes portugueses
e, em particular, estudar o desenvolvimento de prticas empreendedoras transnacionais quer
entre os emigrantes portugueses residentes no exterior quer entre este e o seu pas de
origem.
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oemObservatrio da Emigrao
O Observatrio da Emigrao integra o Centro de Investigao e Estudos de Sociologiado Instituto Universitrio de Lisboa (CIES-IUL) e resulta de uma parceria entre o Instituto
e a Direo Geral dos Assuntos Consulares e das Comunidades Portuguesas (DGACCP).
Srie OEm Working-Paper | 01
Ttulo Empresrios portugueses no Luxemburgo: uma primeira aproximao
Autores Jos Carlos Marques
Edio Observatrio da Emigrao, CIES-IUL, ISCTE-IUL
Data maio de 2015
ISNN 2183-5438
DOI 10.15847/CIESOEMWP012015
URI http://hdl.handle.net/10071/8894
Como citar Marques, Jos Carlos (2015), Empresrios portugueses no Luxemburgo:
uma primeira aproximao, OEm Working-Paper, 01, Lisboa, Observatrio
da Emigrao, CIES-IUL, ISCTE-IUL. DOI: 10.15847/CIESOEMWP012015
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