octavio ianni e a faculdade de filosofia, ciÊncias e ... · publicação, em 1965, de estado e...
TRANSCRIPT
OCTAVIO IANNI E A FACULDADE DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS E LETRAS
(USP).
Jeanne Gomes de Brito1
Resumo
O presente artigo analisa a trajetória intelectual do sociólogo Octavio Ianni, em especial o momento em que Ianni esteve na Faculdade de Ciências e Letras da USP (década de 1950 até 1969), a fim de analisar os estudos da UNESCO; do grupo d’O Capital; os trabalhos em torno do CESIT e a sua participação na Revista Civilização Brasileira. Temos como objetivo principal analisar o pensamento político-social do sociólogo Octavio Ianni – percebendo as metamorfoses do seu olhar sociológico, no que diz respeito à metodologia e aos temas por ele analisados, as metamorfoses ocorridas com a sua trajetória e as metamorfoses relativas aos processos históricos e sociológicos do Brasil – e com isso devemos investigar o período de gestação e solidificação da obra de Ianni.
Palavras-chave: Octavio Ianni; pensamento político; relações raciais; Estado e
sociedade civil; populismo; industrialização.
OCTAVIO IANNI E A SUA TRAJETÓRIA INTELECTUAL NA USP.
Introdução
A reflexão sociológica caminha, indubitavelmente, pela busca de se interpretar o país
sob diversos ângulos. Tal assertiva traz à cena a necessidade de se compreender a constituição
das idéias sociológicas, requerendo, portanto, um estudo do lugar social2 dos intelectuais.
Nessa linha argumentativa, é importante serem analisadas as contingências que
influenciaram as escolhas dos sujeitos, ou seja, quais os fatores (acadêmicos, históricos,
políticos, pessoais e sociais) que foram decisivos a ponto de determinarem os rumos de sua
trajetória.
1 Mestre em Sociologia pela UNESP – Araraquara e Historiadora pela UNESP – Franca. Publicações: BRITO, Jeanne Gomes de. Octavio Ianni: da metamorfose do povo à democracia popular. In: Cadernos de Campo. Araraquara, v.11, p.17-31, 2005 e BRITO, Jeanne Gomes de. As Relações Raciais sob a Perspectiva Analítica do Sociólogo Octavio Ianni. In: Matiz, ano 2, nº2, 2006.2 Este não é um lugar estritamente espacial, como no caso de Octavio Ianni é a USP, mas está ligado às idéias sociológicas, ou seja, às tendências temáticas, às orientações teóricas e, também, refere-se ao momento histórico, que, por conseguinte, influencia sobre a forma de se interpretar o país. Em outras palavras, trata-se da idéia de escola, que, obviamente, deve ser mediada levando em consideração as diversidades e, às vezes, até divergências entre os intelectuais de um determinado grupo, mas, muitas vezes, existe uma unidade interna entre eles que os identifica e os agrega.
1
A Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP é o locus referencial de seus
primeiros estudos. Nosso trabalho abrange meados dos anos cinqüenta, quando Ianni
defendeu sua Dissertação de Mestrado3, até o ano de 1969, pois foi nesse momento em que
aconteceram as aposentadorias compulsórias devido à truculenta decisão política do então
presidente da república Costa e Silva. Portanto, é propriamente na Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras onde se fundamenta o seu talento para a tarefa de professor, se germina a
sua vocação científica e se estreitam os laços interpessoais.
Cabe destacar a presença de seu orientador, o sociólogo Florestan Fernandes, que ao
agregar em torno da Cadeira I de Sociologia uma sólida gama de pesquisadores, buscava a
consolidação institucional da Sociologia, enquanto refletia acerca das condições do espaço e
da ampliação do papel do profissional das Ciências Sociais.
Sobretudo, seus assistentes (Octavio Ianni, Fernando Henrique Cardoso, Marialice
Mencarini Foracchi, Maria Sylvia Franco e Renato Jardim Moreira) estavam imbuídos pelo
ecletismo das tradições teóricas4 marcadas em Florestan e nutridos pelas mesmas formações e
matrizes teóricas, fato que lhes conferia uma identidade de grupo, ou seja, lhes caracterizava
enquanto “escola uspiana”.
Na busca de se diferenciar de autores avaliados por eles como autodidatas,
estabeleciam os limites do que deveria ser considerada ciência. Por isso, tinham a necessidade
de adequar os estudos sociológicos a um padrão de rigor teórico-metodológico e manter uma
linguagem hermética que se pauta na justificativa de alicerçar e institucionalizar a Sociologia
nacional no cânone universitário, tendo como horizonte o modelo científico da Sociologia
estrangeira, a exemplo da francesa, norte-americana e alemã. Assim, esses intelectuais
pretendiam romper com a tradição ensaística do século XIX que perdurava até meados dos
anos 50, portanto, este foi o momento que se iniciou a inflexão das pesquisas sociológicas.
Os estudos pertinentes às relações raciais no Brasil, entre negros e brancos, foram
incentivados pela tentativa mundial da UNESCO de contornar a atmosfera tensionada durante
a II Guerra Mundial5, nas esferas étnicas, políticas, econômicas, sociais e culturais. Por essa
3 Raça e Mobilidade Social em Florianópolis. São Paulo: USP, 1957.
4 No que diz respeito às orientações metodológicas deste grupo de intelectuais, Florestan Fernandes foi essencial, levando ao debate a contribuição dos fundadores das Ciências Sociais – Marx, Weber e Durkheim – e de autores críticos à contemporaneidade, a exemplo de Lukács, Sartre, Mannheim e Goldman. Sobretudo, faz-se necessário ressaltar também o surgimento de um marxismo universitário, estimulado pela geração de seus assistentes de pesquisa que acaba por configurar uma renovação do pensamento crítico. Ver: LAHUERTA, M. Intelectuais e Transição: entre a política e a profissão. 1999. 271 f. Tese (Doutorado em Ciência Política) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo. 1999.
5 Vale recordar a disseminação das ideologias fascistas e nazistas por toda a Europa durante este período.
2
razão, este órgão encomenda uma pesquisa sobre a situação racial no Brasil, cujo cientista
responsável pelos estudos relativos à questão racial na cidade de São Paulo era Roger Bastide.
Por sua vez, Bastide convida Florestan Fernandes para participar do projeto “O Preconceito
Racial em São Paulo”.
Como frutos diretos e indiretos desse projeto foram produzidos vários trabalhos a
respeito das relações raciais no Brasil. Dentre eles podemos destacar a Dissertação de
Mestrado de Octavio Ianni Raça e Mobilidade Social em Florianópolis (1957) e o livro
elaborado em co-autoria com Fernando Henrique Cardoso Cor e Mobilidade Social em
Florianópolis. Aspectos das relações entre negros e brancos numa comunidade do Brasil
Meridional. (1960). Nesses estudos, os autores fizeram uso de algumas técnicas utilizadas por
Florestan Fernandes e Roger Bastide, a exemplo da aplicação de questionário, recurso
bastante comum nesse tipo de pesquisa etnográfica.
Em 1958, os assistentes de Florestan Fernandes, Octavio Ianni e Fernando Henrique
Cardoso, juntamente a Ruth Cardoso, Paul Singer, Arthur Giannotti e Fernando Novais, além
de alguns estudantes, fundaram o grupo de estudos d’ O Capital, com vistas a inaugurar um
marxismo acadêmico que se diferenciasse das análises estruturalistas presentes no ISEB, na
CEPAL e no PCB.
Fundamentado no viés analítico da dialética marxista, Ianni defende, em 1960, sua
Tese de Doutorado Negros na Sociedade de Castas, publicada em 1961 sob o título As
Metamorfoses do Escravo: apogeu e crise da escravatura no Brasil Meridional.
Notadamente, em fins dos anos 50 aconteceu uma nítida expansão da cadeira I de
Sociologia, haja vista a ampliação da relação do grupo ao redor de Florestan com a FAPESP e
com as editoras (Difusão Européia do Livro, Martins, Nacional, Pioneira), verificando-se
assim a facilitação na divulgação de seus trabalhos.
Soma-se também o fato de que nesse período, mais precisamente em 1962, ocorreu a
implantação do projeto do CESIT (Centro de Estudos de Sociologia Industrial e do Trabalho),
cujos recursos para a sua criação advinham do governo do estado de São Paulo, Carvalho
Pinto, e, posteriormente da Confederação das Indústrias de São Paulo (CNI) e da FAPESP.
Vale deixar claro que o CESIT surgiu associado à cadeira I de Sociologia. A sua
fundação implicou na consolidação institucional, na diversificação das atividades e na
reorientação da temática do grupo de assistentes dirigidos por Florestan, à medida que a
tônica de seus estudos passava a ser o desenvolvimento sócio-econômico do Brasil moderno e
os efeitos da industrialização de São Paulo, marcando a emergência de uma espécie de
Sociologia crítica. (ARRUDA, 1995).
3
Expressivos desta guinada, são os livros de Octavio Ianni nos quais ele analisa os
aspectos políticos e econômicos presentes na relação entre o Estado e a sociedade civil, nos
referimos a Industrialização e Desenvolvimento Social no Brasil (1963) e a sua Tese de
Cátedra O Estado e o Desenvolvimento Econômico no Brasil (1964), denominada após a sua
publicação, em 1965, de Estado e Capitalismo: estrutura social e industrialização.
O regime político-militar instaurado em 1964, inegavelmente, transforma os rumos da
vivência política brasileira que se tentava fazer democrática. De súbito, também altera o meio
universitário no que diz respeito à sua estrutura e à maneira como cada componente, ou grupo,
vai refletir e/ou agir diante da realidade constituída, aderindo ou combatendo o governo.
Logo após a conflagração do golpe de 1964, a primeira geração do grupo de Seminário
sobre Marx se dissolveu. Octavio Ianni foi convidado a participar da Revista Civilização
Brasileira6 em 1965, fazendo parte do Conselho de Redação até 1968, quando a revista foi
fechada em virtude do AI-5. Em 1969, Ianni, juntamente com outros professores, foi
aposentado compulsoriamente pelo regime militar e neste momento se integrou com alguns
ex-membros do Grupo de Seminário e outros pesquisadores ao CEBRAP7 (Centro Brasileiro
de Análise e Planejamento), dirigido por Fernando Henrique Cardoso. O CEBRAP teve início
com incentivos da Fundação Ford e posteriormente da FAPESP e do BID (Banco
Interamericano de Desenvolvimento).
A institucionalização das Ciências Sociais e os estudos raciais.
Para realizar uma investigação mais circunstanciada acerca de uma parte da produção
intelectual de Octavio Ianni – como já foi exposto, esse trabalho abrange meados da década
de 1950 até 1969 –, este texto tem um caráter introdutório e panorâmico devido à necessidade
de se conhecer o cenário acadêmico e histórico do qual emanaram suas primeiras obras.
Considerando também que o universo acadêmico muitas vezes foi objeto de reflexão das
análises sociológicas de Ianni.
Destarte, o estudo da trajetória intelectual de Octavio Ianni dentro da Universidade de
São Paulo nos remete, inevitavelmente, aos primórdios da formação desta instituição
educacional, uma vez que Ianni faz parte da 2a geração de intelectuais cujo propósito foi
romper com os laços da elite paulista que havia sido a principal responsável pela construção
6 De acordo com Carlos Guilherme Mota a revista foi “[...] um dos marcos fundamentais na história da cultura e do pensamento político progressista no Brasil no século XX[...]” (MOTA, 2000, p. 205).7 Posteriormente o CEBRAP tornou-se uma referência para os intelectuais de oposição, quebrando com a relação puramente acadêmica e projetando-os internacionalmente. (LAHUERTA, 1999).
4
da USP. Sobretudo, tal rompimento se estendeu em direção à tradição sociológica vigente até
os anos 40.
A Sociologia brasileira iniciou seu processo de institucionalização nos braços do
Estado e alicerçou-se numa rica ensaística erudita, cuja influência adveio da literatura
européia. Porém, apesar de a Sociologia brasileira ter recebido uma forte inspiração do
paradigma europeu – e, posteriormente, do norte-americano também – pode-se constatar que
quanto ao nascimento das Ciências Sociais, cada país delineou a sua origem de forma distinta.
Em outras palavras, nos países de desenvolvimento capitalista clássico, as Ciências Sociais se
processaram no seio da sociedade civil, já no caso da Sociologia brasileira o seu surgimento
ocorreu distante da expressão da vida social. Além de, a princípio, os intelectuais brasileiros
terem ignorado a Universidade como fonte de conhecimento científico, a exemplo de Oliveira
Vianna. (VIANNA, 1994).
Dentro da arena política pós 1930, cujo momento de disputas político-ideológicas
estava fervilhando, tanto autoritários, democratas, conservadores católicos, liberais e
socialistas concordavam com a necessidade de se criar universidades no Brasil. De acordo
com Maria Hermínia Tavares de Almeida, dentre os vários projetos para a modernização do
ensino superior, predominou aquele de caráter conservador e centralizador, conferindo pouca
autonomia, grande regulamentação, uniformidade institucional e controle governamental8.
(ALMEIDA, 1989).
Na pugna de resgatar a hegemonia política do estado de São Paulo, que havia sido
perdida na Revolução de 1930, um grupo de intelectuais paulista elaborou o projeto de
fundação da Universidade de São Paulo. Esse grupo estava vinculado à liderança política e
intelectual de Júlio de Mesquita Filho (dono do jornal O Estado de São Paulo) e contava com
o apoio da Associação Brasileira de Educação (ABE) e da ABC. Numa perspectiva intelectual
e política de fortalecimento das forças paulistas, esse projeto centrou-se na criação da
Faculdade de Filosofia Ciências e Letras (FFCL-USP), cuja meta consistia em formar novas
elites capazes de construir um projeto nacional modernizador, em particular através da ação
de cientistas sociais. (SHOZO,1999). Com isso, em 1934, durante o governo de Armando
Salles de Oliveira, fundou-se a Universidade de São Paulo. Nesse sentido, São Paulo se
8 Convém lembrar que, no campo político, a década de 30 foi marcada pela ascensão de Getúlio Dornelles Vargas ao poder através da Revolução de 1930 e também pelo movimento constitucionalista do estado de São Paulo (1932). No que se referem às esferas educacional, científica e tecnológica, cabe mencionar importantes mudanças no âmbito nacional, tais como a Reforma Francisco de Campos (1932); o ativismo dos pioneiros da escola nova; a criação da Universidade do Distrito Federal (UDF), em 1935; o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), em 1934, em São Paulo; o Instituto Nacional de Tecnologia (INT), em 1934, no Rio de Janeiro; o Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP), em 1937, no Rio de Janeiro; o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 1938. (ALMEIDA, 1989; SHOZO, 1999).
5
colocou como o esteio da ciência e os seus intelectuais voltaram os seus interesses para a
dimensão da profissionalização do trabalho intelectual.
Diferentemente da realidade paulista, no início dos anos 40, o Rio de Janeiro abriu
espaço para que sua elite intelectual fosse encaminhada para o poder público estatal, esse fato,
de alguma forma, poderia implicar em bloqueios à autonomia desses intelectuais. Em
contrapartida, São Paulo estava cada vez mais imersa no padrão de racionalidade técnico-
científica, buscando se colocar numa posição “séria” e moderna.
Embora estes intelectuais de prestígio, como Mário de Andrade, Sérgio Milliet e
Oswald de Andrade, fossem referências importantes, a geração seguinte – que tinha em
Florestan Fernandes uma de suas figuras mais expressivas – passava a rechaçar a dominação
cultural e o monopólio social do poder controlado pelo liberalismo da oligarquia paulista e
com isso também se contrapunha ao modelo de intelectual associado às atividades políticas.
Vale ressaltar que o processo de institucionalização das Ciências Sociais e a criação da
Universidade de São Paulo estavam em sintonia com as inflexões pelas quais passava o estado
de São Paulo no que diz respeito ao setor produtivo. Por conseguinte, pode-se constatar que
no estado houve a ampliação do mercado consumidor, a promoção da modernização nos
sistemas de ensino e na produção cultural, além do aumento ao incentivo à profissionalização
dos setores médios. (MICELI, 1989).
Não obstante, algumas mediações devem ser feitas, haja vista que esta nova geração
de intelectuais ainda dependia dos padrões culturais demarcados pela elite oligárquica, pois
permanecia uma precariedade no mercado cultural vigente, além de persistirem as restrições
impostas pelo poder político. Apesar de esses intelectuais não se colocarem enquanto porta-
vozes das oligarquias paulistas, de forma paradoxal, a intelectualidade se “ [...] subordina a
seu horizonte ideológico, inclusive porque se aliou a elas contra Getúlio Vargas e o Estado
Novo.” (LAHUERTA, 1999, p. 18).
Portanto, a nova geração de 40 tinha as suas bases fincadas na universidade. E, como
já foi sublinhado, além de seus membros terem o Estado como objeto de duras críticas,
paralelamente, eles desprezavam a tradição ensaística da geração passada e com ela também
rejeitavam a forma como os estudiosos enfocavam suas análises dentro de uma perspectiva
dos grandes e longos acontecimentos históricos. Nesse sentido, a escola paulista afirmava que
o ensaísmo nega o rigor científico, cuja exposição de idéias é elaborada de modo sistemático e
cujo suposto teórico é formulado a partir da aplicação do método empírico. Sobremaneira, o
rigor e o empirismo eram o cerne dos estudos etnográficos que estavam ganhando espaço por
6
meio do incentivo de professores estrangeiros que se instalaram no Brasil. (ARRUDA, 1995;
VIANNA, 1994).
Nessa mesma linha de reflexão, Renato Ortiz, ao se basear na análise de Octavio Ianni,
afirma:
Até a década de 40, a produção do pensamento sociológico no Brasil se fazia dentro de um contexto em que literatura, filosofia, discurso político, beletrismo, se misturavam. Uma disciplina marcada pelo ecletismo e pelo ensaísmo, que se construía sobre o fundamento de afirmações genéricas que prescindiam de um trabalho sistemático de pesquisa. Na verdade, não existia ainda um espaço específico, no interior do qual o saber sociológico pudesse se autonomizar, ele se espalhava pelas escolas de Medicina, de Direito e pelos Institutos Históricos e Geográficos. [...] (ORTIZ, 1990, p. 165).
Sem dúvida, a presença dos estrangeiros – no primeiro momento, a dos franceses –
contribuiu para a ruptura com os velhos modelos e lançou as bases de uma Sociologia de
caráter racional desde a organização estrutural da disciplina sob o molde meritocrático das
cátedras, passando pelos estudos socioculturais – sobre os índios, os negros, o folclore – de
matriz, essencialmente, durkheimiana.
Um dado importante para se compreender a presença francesa no Brasil diz respeito à
instabilidade do contexto político-econômico pela qual passava a França, o que, por
conseguinte, acarretou na ausência de investimentos nas pesquisas da área de humanas. Desse
modo, o Brasil se mostrou como uma possibilidade positiva da carreira em ciências sociais.
Somando-se o fato de que os franceses viram um potencial ainda desconhecido e inexplorado
no que concerne à diversidade étnica brasileira, em especial, a indígena. Dentro dessa
perspectiva, o Brasil se apresentou como o celeiro ideal na construção de novos paradigmas
para os estudiosos que aqui chegavam. (MASSI, 1989).
Roger Bastide é um dos grandes representantes da intelectualidade francesa que se
instalou no Brasil a fim de desvendar o novo mundo que se abriu dentro do universo das
Ciências Sociais. Sua obra é marcada pela crítica à Sociologia de Durkheim e pela meta de
formular novos procedimentos metodológicos que fossem adequados ao ponto de trazer à tona
descobertas originais. (BRAGA, 1996).
Em concomitância ao processo de institucionalização das ciências sociais brasileira,
ocorreu o desenvolvimento do projeto da UNESCO9 acerca da questão racial no Brasil. Mas,
9 Criada em 1946, com o nome de Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), ela se tornou um tipo de fórum intelectual responsável pelas orientações das ações da ONU. (MAIO, 1997).
7
apesar do estabelecimento desse projeto ter sido pioneiro no sentido de incentivar um
conjunto de pesquisas sobre as relações raciais em estados brasileiros (São Paulo, Bahia,
Pernambuco, Rio de Janeiro), já existia no Brasil uma tradição de estudos raciais, basta citar
as obras de Gilberto Freyre, Arthur Ramos, Nina Rodrigues, ou algumas análises, mesmo que
esparsas, de Oliveira Vianna, Sérgio Buarque de Holanda e Euclides da Cunha.
Em fins dos anos 40, surgiu a campanha de luta contra o racismo dentro da UNESCO.
Esse também foi o momento, especificamente 1949, em que o mexicano Jaime Torres Bodet
foi nomeado para o cargo de diretor-geral desse órgão e que o médico alagoano Arthur Ramos
assumiu o posto de diretor do Departamento de Ciências Sociais dessa instituição.
Dessa forma, em 1950, o Brasil foi escolhido para ser objeto de análise científica e
política no que diz respeito às relações raciais, pois o país era retratado internacionalmente
sob o signo da democracia racial, haja vista que durante os anos 30 e 4010, os intelectuais – em
especial Gilberto Freyre que já tinha uma projeção no ambiente acadêmico externo –
propalavam a imagem de um país miscigenado, cujo nível de tensão entre as raças era baixo.
É preciso recordar que o clima mundial de pós-guerra estava requerendo um balanço
analítico (nas esferas: política, psicológica e econômica) acerca das razões que
desencadearam a II Guerra Mundial, no sentido de investigar o seu desfecho e de avaliar
maneiras preventivas a fim de evitarem posteriores conflitos. A necessidade de sistematizar
essas reflexões em forma de pesquisa nos leva a compreender a importância que as Ciências
Sociais assumem nesse período. Sobretudo, os membros da UNESCO tinham por finalidade
aprender com um país periférico as “lições” de convivência pacífica, sem preconceito racial.
(MAIO, 1997). Na mesma medida, era interessante para o Brasil participar desse projeto, pois
na perspectiva tanto de políticos como de intelectuais, a exemplo do próprio Arthur Ramos,
havia a pretensão de que as portas para a modernidade fossem abertas.
Porém, os estudos da situação do negro em São Paulo – assim como no Rio de Janeiro
– surgiram como um contraponto aos anseios da UNESCO, tendo em vista que a população
negra paulista, além de conviver com a herança do passado escravocrata, enfrentava a difícil
situação que o fim desse período impingiu, pois essas pessoas foram abandonadas sem ter o
aparato necessário para estabelecer a sua cidadania após a abolição da escravatura e o advento
do capitalismo. Por conseguinte, em São Paulo se formou uma sociabilidade com aspectos de
tensões raciais evidentes, haja vista certos padrões de comportamento e valores sociais
10 Deve-se destacar que os estudos sobre o negro no Brasil foram realizados por intelectuais e, em sua maioria, nordestinos, a exemplo de Arthur Ramos, Édison Carneiro e Gilberto Freyre, que enfocavam em suas análises a região Nordeste, deixando de lado outras formas de sociabilidade que haviam sofrido as inflexões do processo de urbanização e de industrialização, como aconteceram com cidades do porte de São Paulo. (MAIO, 1997).
8
carregados de esteriótipos contra o negro e estes esteriótipos representaram obstáculos à sua
mudança social.
Paradoxalmente, o projeto da UNESCO chegou tanto na Escola Livre de Sociologia e
Política (ELSP) quanto na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL) para ampliar os
estudos sobre os problemas étnicos que já estavam sendo encaminhados por Donald Pierson,
Herbert Baldus, Roger Bastide, Virginia Bicudo, Oracy Nogueira, Emilio Willems, entre
outros.
O sociólogo francês, Roger Bastide, era a principal referência de Alfred Métraux
(diretor do setor de relações raciais na UNESCO) no Brasil, por isso, Métraux outorgou-lhe o
cargo de presidente do comitê do projeto em São Paulo. Dessa maneira, Bastide – então
professor da cadeira de Sociologia II do Departamento de Ciências Sociais da FFCL/USP –
convidou o seu assistente Florestan Fernandes11 para participar do projeto que foi enviado à
UNESCO em 1951, sob o título “O Preconceito Racial em São Paulo”.
Enquanto Florestan ficou com a parte mais substantiva da pesquisa, dedicando-se à
análise histórico-sociológica da sociedade paulistana, Bastide se envolveu com o trabalho
sociográfico da pesquisa de campo, pois como já havia deixado claro a Métraux, para ele era
insuficiente o desenvolvimento teórico com a ausência do trabalho prático. Com isso, “ [...]
revela a Métraux sua intenção de criar um centro de estudos da comunidade negra de São
Paulo, abrangendo brancos e negros e que, entre outras coisas, poderia intervir junto aos
poderes públicos.” (MAIO, 1997, p. 116-117). Dessa maneira, Bastide reuniu-se com
representantes da comunidade negra de São Paulo a fim de esclarecer os objetivos da pesquisa
a ser desenvolvida.
Enfim, os estudos a respeito das relações étnico-raciais ganharam projeção
internacional e se ampliaram. Exemplo disso é o fato de Florestan, ao assumir o posto de
regente da Cadeira de Sociologia I, em 1954, ter gerado em torno de si uma plêiade de jovens
intelectuais – Octavio Ianni, Maria Sylvia Carvalho Franco, Renato Jardim Moreira, Fernando
Henrique Cardoso e Marialice M. Foracchi (a única que foge da temática) –, cujos primeiros
trabalhos tratavam da problemática racial.
11 De um lado, Bastide tinha necessidade de dividir as tarefas com alguém de sua confiança, pois precisava de tempo para elaborar sua Tese de Doutorado, além do seu objetivo de retornar à França. Por outro lado, Florestan estava na fase de conclusão de sua tese de doutorado e pretendia retomar a sua pesquisa sobre a aculturação dos sírio-libaneses. Enfim, apesar de Florestan ter negado o pedido de Bastide, o respeito e a insistência do mestre venceram. Além disso, a pesquisa científica no Brasil não dispunha de recursos financeiros, então, uma oportunidade que pudesse trazer respaldo financeiro não poderia ser desprezada.
9
Portanto, pode-se dizer que, fruto indireto do conjunto de pesquisas patrocinadas pela
UNESCO sobre as relações étnico-raciais, encontra-se a Dissertação de Mestrado de Octavio
Ianni, Raça e Mobilidade Social em Florianópolis, e em 1960 é publicado em co-autoria
com Fernando Henrique Cardoso o livro intitulado Côr e Mobilidade Social em
Florianópolis (Aspectos das relações entre negros e brancos numa comunidade do Brasil
Meridional), As Metamorfoses do Escravo (1962) e Raças e Classes Sociais no Brasil
(1966), além, é claro, os trabalhos dos outros assistentes de Florestan Fernandes12.
Como já se constatou, não existiam pesquisas acerca da região meridional brasileira
(Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul) no que tange aos estudos raciais. Assim, tanto na
perspectiva de Ianni quanto na de Cardoso, o estudo sobre essa região ganha relevância
devido ao seu peculiar desenvolvimento histórico-social e econômico. Pois, nestes estados:
1) não se desenvolveu neles, em grande escala, uma exploração de produtos tropicais do tipo colonial;
2) em conseqüência, o regime escravocrata teve menor extensão e intensidade do que em outras áreas do país;
3) finalmente, a colonização estrangeira (principalmente alemã, italiana e polonesa), nos moldes em que se processou, contribuiu para a elaboração de padrões de convivência racial diversos do que prevaleceram nas zonas tradicionais. (CARDOSO; IANNI, 1960, p. XXVI).
Dessa maneira, segundo os autores, as condições sociais de negros e de mulatos no sul
do Brasil são distintas das situações em que viviam negros e mulatos que possuíam como
legado a economia colonial tradicional. Por isso, até o ano de 1955 (ano em que foi realizada
a pesquisa de campo), eles ainda conviviam com os resquícios da ordem escravocrata, isso
significa que o aparato material permanecia relativamente estável desde o passado e, dessa
maneira, negros e mulatos se encontravam em posições desfavoráveis para ascenderem
econômica e socialmente.
No sentido de investigar o padrão das relações inter-raciais, em particular da cidade de
Florianópolis, desde a sua formação até a configuração dos limites da integração e da
mobilidade social na atualidade (1955), os autores alicerçam-se no molde teórico-
metodológico do survey, aliando rigor teórico com o trabalho empírico.
Em nossa leitura, Ianni trabalha com a premissa de que a discriminação é determinada
pela situação econômica e, nesse viés, o preconceito de cor pode ser apresentado como
preconceito de classe.
12 A exemplo de: Capitalismo e Escravidão no Brasil Meridional (1962), de Fernando Henrique Cardoso e Homens Livres na Ordem Escravocrata (1969), de Maria Sylvia de Carvalho Franco.
1
Com isso, Ianni afirma:
Aliás, considerando-se o material empírico disponível, quanto mais elevada a classe a que pertence o branco, mais preconceituoso parece ser este. Exatamente o oposto do que afirmam os mulatos e negros que sobem, o que sòmente pode ser explicado pelo refinamento da sua capacidade de ajustamento. (CARDOSO; IANNI, 1960, p. 173).
Dessa forma, Ianni realiza uma importante discussão em torno da ideologia do branco,
do negro e do mulato. Ideologia cuja natureza está imbuída pela essência do mito da
branquidade.
O mito da branquidade consiste, em poucas linhas, na luta pelo “melhoramento” da
raça. Em outras palavras, o termo “melhoramento” pode ser traduzido pelo termo
“branqueamento”. Então, negros e mulatos buscavam a ascensão social e econômica, o que
poderia trazer-lhes a oportunidade de clarear a raça, por meio da miscigenação13.
O marxismo acadêmico e o conhecimento sociológico como forma de intervenção
racional na realidade.
Notadamente, os anos 50 são marcados pelo horizonte ideológico do
desenvolvimentismo e do nacionalismo, cujo desejo maior se configurava na busca de se tirar
o Brasil da condição de atraso, proporcionando-lhe os benefícios do progresso industrial, do
avanço tecnológico e de um controle racional no sistema sócio-econômico. E, para isso,
considerava-se necessário, dentre outros fatores, romper com o poder da oligarquia agrária,
superar a visão alienadora do povo e resistir ao imperialismo, em especial o norte-americano.
(LAHUERTA, 1999).
No cenário internacional, configuram-se tribulações geradas pelos acontecimentos na
União Soviética, com a morte de Stálin em 1953 e o advento da Guerra Fria, e, na América
Latina, com a vitória da Revolução Cubana (1959), sob a liderança de Fidel Castro, fazendo
ressurgir a esperança da concretização de um mundo socialista em todo o continente
americano. Dessa maneira, esses acontecimentos se tornavam referências para as análises e
ações dos partidos comunistas, o que na ótica dos intelectuais paulistas esse sentimento
conferia-lhes um dogmatismo. (SCHWARZ, 1998).
13 Sabe-se que esses acontecimentos não se realizaram de forma automática, pois estão inseridos numa formação histórica que envolve ações sociais complexas, como foi o processo de desagregação da ordem social-escravocrata. E, obviamente, não se pretende fazer uma leitura simplista da obra do autor, por isso, essas questões serão discutidas no capítulo seguinte.
1
No âmbito nacional, o país se comoveu com o suicídio do então presidente Getúlio
Vargas, em 1954, elevando ao poder, em janeiro de 1956, Juscelino Kubitschek de Oliveira,
cujas propostas políticas estavam respaldadas pela concretização de um modelo
desenvolvimentista, a exemplo da construção de Brasília. Nesse sentido, ocorreu uma
concentração de poder no campo do Executivo que passava a convocar para o seu lado a
tecnocracia na instância administrativa a fim de “[...] dinamizar e ampliar a esfera da atuação
estatal, rumo ao ‘inevitável’ desenvolvimento.” (ROMÃO, 2003, p. 63). Então, o Brasil
ganhava tons de um país moderno na tentativa de solapar o atraso que o distanciava dos países
de capitalismo avançado.
É dentro dessa atmosfera que, em 1958, jovens intelectuais – os sociólogos Octavio
Ianni e Fernando Henrique Cardoso, o então estudante de história Fernando Novais, o filósofo
José Arthur Giannotti, o economista Paul Israel Singer e a antropóloga Ruth Cardoso, além
dos estudantes: Bento Prado Jr., Francisco Weffort, Gabriel Boloffi, Michel Lövy e Roberto
Schwarz – formaram o grupo de estudos multidisciplinar denominado “O Capital”, com o
objetivo principal de constituir um olhar crítico e científico superior na esfera acadêmica da
USP. Nesse sentido, a escolha da obra clássica de Karl Marx se daria pelo fato de fornecer
instrumentos importantes para a compreensão da singularidade sócio-política do Brasil
(SCHWARZ, 1998), além de possibilitar a compreensão das “[...] estruturas do capitalismo da
época [...]”. (GIANNOTTI, 1998, p. 116).
Por essa razão, inauguravam uma nova interpretação do Brasil e uma “nova maneira
de compreender Marx”, ou seja, essa sua visão sobre Marx era “‘Nova’ em relação ao
marxismo oficial adotado pela maioria dos partidos comunistas, ‘nova’ por estar longe da
relação teoria/prática, ´nova’, pois se inseria na universidade [...]”. (SILVA, 1997, p. 72).
Além disso, num contexto imediato, esses intelectuais procuravam dialogar com a
produção científica vigente e, com isso, em fins dos anos cinqüenta e início dos sessenta, seus
principais alvos de crítica eram os estudos metodológicos da corrente estrutural-funcionalista.
Portanto, houve o aprofundamento das análises do grupo no que se refere ao método dialético,
podendo-se perceber claramente através do artigo de Fernando Henrique Cardoso O método
dialético na análise sociológica, publicado em 1962 na Revista Brasileira de Ciências
Sociais, as duras críticas que esses cientistas lançavam sobre o funcionalismo e o
estruturalismo, além da anunciada ruptura com a influência de Florestan Fernandes.
Nessa linha, de acordo com Milton Lahuerta, o grupo tinha três adversários teóricos
bem definidos, o primeiro trata-se de Florestan Fernandes, pois, de certa forma, pretendiam
1
estabelecer uma autonomia intelectual e superar a forte influência de Fernandes e, por isso,
não o convidaram para participar do grupo de seminário.
Em segundo lugar, o grupo d’ O Capital se contrapunha às concepções sobre o
subdesenvolvimento elaboradas pelo Centro de Estudos Para a América Latina (CEPAL) –
agência da ONU – que era influenciada pelo método estrutural-funcionalista.
Superficialmente, pode-se dizer que o grupo se posicionava contra a tese de que a estrutura
produtiva agro–exportadora colocava os países periféricos em desvantagem absoluta em
relação aos países centrais. Para que essa situação fosse superada, deveria haver um projeto
nacional autônomo e emancipador no qual o Estado, através da substituição das importações e
da aliança com a burguesia industrial, incentivasse o mercado interno e o desenvolvimento
industrial a fim de elevar o nível de vida das massas e romper com a dependência externa.
Essa linha de pensamento vai ao encontro das teses do PCB, com base no programa da III
Internacional, que apostava na revolução democrático–burguesa como meio de os países
periféricos chegarem ao socialismo. Além disso, na esfera política, os paulistas rechaçavam a
aproximação do PCB com o Estado Novo.
Todavia, convém que se faça um parêntese para trazer à cena um debate muito
interessante entre Octavio Ianni e Fernando Henrique Cardoso a respeito da noção de
nacionalismo. Quando em 1957 – um ano antes de instaurarem o grupo de seminários sobre
Marx – Cardoso publicou o artigo intitulado Desenvolvimento econômico e nacionalismo, na
Revista Brasiliense.
Fernando Henrique se reporta ao nacionalismo como uma ideologia capaz de unificar
a visão de mundo da burguesia, da classe operária urbana e rural, da classe média e do
campesinato, tornando-se possível, dessa maneira, a revolução nacional contra o imperialismo
e contra o latifúndio. Portanto, ao retomar a tese do Partido Comunista sobre a “aliança de
classes”, o autor faz uma análise do nacionalismo no sentido de colocá-lo como o padrão de
desenvolvimento político-econômico o qual o Estado deveria seguir para que fosse
impulsionado o crescimento do setor econômico a fim de que houvesse a redistribuição justa
da renda nacional14.
14 Como notoriamente se sabe, Fernando Henrique Cardoso revê as suas posições sobre a concepção do nacionalismo e da tese de “alianças de classes” após o aprofundamento de suas leituras acerca do materialismo histórico e, principalmente, nos seus estudos relativos ao empresariado industrial dentro do CESIT. Haja vista a formulação sobre o desenvolvimento de um capitalismo brasileiro, no qual seria impossível realizar uma revolução nacional por meio de uma “aliança de classes” entre o operariado e a “burguesia nacional”, pois, dentre vários fatores, esta última não existia, e, grosso modo, o capitalismo associado implicaria no estreitamento dos laços entre a burguesia brasileira e as burguesias européias e norte-americanas.
1
Em contraposição, Ianni publicou na Revista Brasiliense o artigo denominado
Aspectos do nacionalismo brasileiro. Na sua visão, o Brasil estava inserido dentro de uma
estrutura conflitante na qual a ideologia nacionalista se fazia propícia. Em outras palavras, ao
mesmo tempo em que as indústrias brasileiras surgiam, o país tinha que adequar as suas
políticas econômicas às transformações do capitalismo internacional. Desse modo, a ideologia
nacionalista serviu aos interesses econômicos da burguesia nacional que estava se protegendo
da concorrência do imperialismo capitalista (de países europeus e, principalmente, dos
Estados Unidos da América). Nesse viés, alguns partidos – com certeza refere-se ao Partido
Comunista – se aliariam à burguesia industrial e propagaram a ideologia nacionalista para as
massas, com o intuito de “conscientizá-las” (IANNI, 1957a; ROMÃO, 2003).
Por fim, ao se retomar a discussão em torno dos opositores teóricos do grupo paulista,
verifica-se que eles também refutavam, com veemência, o ensaísmo sociológico e o
nacionalismo do ISEB15. De modo geral, seus membros acreditavam numa lógica
emancipadora que atribuía à industrialização como o único meio de transformar o povo em
sujeito político, ou seja, a racionalidade só poderia advir do avanço industrial da nação que
proporcionaria uma “conscientização” do povo e, por conseguinte, essa “conscientização” se
modificaria em ruptura revolucionária.
Portanto, segundo Daniel Pècaut:
[...] “desenvolvimentismo” – síntese, como vimos, entre o processo econômico “objetivo” e a visão subjetiva da construção sócio-econômica da nação. Aí reside o meio de se evitar a questão política. Como lógica imanente ao real, orientado teleologicamente e portador de significado, o crescimento econômico era, por si só, constitutivo do fenômeno político. Ele instaura a cisão: forças progressistas versus forças retrógradas; define a unidade: a nação; fundamenta a tomada de decisões: o “projeto”; garante a relação entre sociedade civil e o Estado: a ideologia. (PÈCAUT, 1990, p. 134).
Destarte, um dos pontos de discordância do grupo d’ O Capital em relação ao ISEB é
o fato de que, na análise de alguns membros desse órgão, a principal contradição não se
encontrava no antagonismo de classes e sim na contradição entre a nação – que compreende a
15 Sob decreto do governo interino de Café Filho, foi criado em julho de 1955, o Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB), cujo cargo de diretor foi assumido por Roland Corbisier. Apesar de autônomo, o ISEB estava ligado ao Ministério da Educação e Cultura, cujo ministro era Cândido Motta Filho, que havia apoiado a sua criação. Dentre vários intelectuais que fizeram parte do instituto, podemos citar Álvaro Vieira, Anísio Teixeira, Cândido Mendes, Ewaldo Correia Lima, Guerreiro Ramos, Hélio Jaguaribe, Nelson Werneck Sodré e Roberto Campos. Cabe ressaltar a presença de um pluralismo teórico dentro do ISEB, o que marca, portanto, as diversidades internas do grupo, causando até o pedido de demissão de alguns de seus participantes.
1
burguesia nacional, intelectuais, operariado e estudantes – e a anti–nação – sinônimo de
imperialismo, latifúndio, direita militar, etc.
Nesse viés, a concepção dualista, a exemplo das análises de alguns membros do ISEB,
passa a ser rechaçada pelo grupo paulista. Pois, a teoria da dualidade constrói uma análise a-
histórica e mecanicista, tendo em vista que as desigualdades são percebidas como coisas
antagônicas e não como algo contraditório que está articulado à realidade nacional.
Ao se contraporem a essas interpretações, os intelectuais paulistas buscavam realizar
dentro do referencial marxista uma análise acadêmica, assim, na visão de Luiz Fernando
Silva, tanto Ianni, como José Arthur Giannotti e Fernando Henrique Cardoso procuram:
[...] relacionar categorias marxistas (modo de produção, classes sociais, força de trabalho, consciência de classe) ao referencial conceitual weberiano (ação social, conexão de sentido, racionalização, etc.). Em outras palavras, tentou-se uma abordagem analítica dos fenômenos sociais, tendo como parâmetro um referencial histórico-estrutural, ao lado de uma referência sobre a subjetividade (consciência social) [...] (SILVA, 1997, p. 72-73).
Em outros termos, pode-se dizer que Octavio Ianni ao analisar a inserção do Brasil no
sistema capitalista mundial e a sua transição para uma ordem social competitiva, utiliza-se dos
referenciais marxistas. Mas, por outro lado, ao tratar da sociedade senhorial escravocrata e de
sua organização estamental, Ianni está alicerçado na vertente analítica weberiana. (VIANNA,
1999).
Nesta perspectiva, a coexistência do desenvolvimento de uma sociedade industrial
pautada numa ordem social competitiva, com a permanência de valores e de padrões culturais
do passado escravocrata tornava-se o nó górdio para esses intelectuais que estavam vivendo
num período de democratização do país.
Aliado a esse e, também, a outros fatores (tratados posteriormente em nossa
dissertação de mestrado), Octavio Ianni elabora sua Tese de Doutorado: Negros na
Sociedade de Castas (1961), que passa a se chamar As Metamorfoses do Escravo: apogeu
e crise da escravatura no Brasil Meridional, após a sua publicação pela editora Difel, em
1962. Nessa obra o autor faz uma análise, como bem assinala o subtítulo do livro, do período
concernente ao apogeu e à crise da escravatura no Brasil meridional.
Com isso, Ianni investiga as transformações econômicas responsáveis pelo processo
de desagregação da ordem escravocrata, que, por sua vez, também influenciaram na
metamorfose do escravo em negro e mulato. Contudo, a sua cidadania ainda não podia ser
vivenciada de forma plena, pois a discriminação, que era um mecanismo de manutenção da
1
distância social gerada no regime escravocrata entre brancos e negros, ainda não havia sido
dissolvida, e, portanto, o negro e o mulato eram vistos ainda como ex-escravos.
Nesse trabalho, o autor está claramente se contrapondo à tradição de pesquisa do
século XIX. Esses estudos estavam influenciados pelos cientistas europeus que tinham na
base de suas análises a inspiração da corrente darwinista, por conseguinte, atribuíam ao negro
uma posição de inferioridade biológica, e, com isso, justificavam que a mestiçagem era algo
maléfico para a etnicidade branca. (MARTÍNEZ-EÇHAZÁBAL, 1996). Nesse sentido, Ianni
aponta a visão etnocêntrica de Raymundo Nina Rodrigues, denominando-o de ideólogo, à
medida que este fazia uso da ciência para fundamentar sua ideologia racista.
Ianni também se contrapõe à vertente analítica da antropologia culturalista boasiana,
tendo, a partir da década de 30, Gilberto Freyre como a figura emblemática. Nesses estudos, a
mestiçagem era percebida como um fator positivo, à medida que ela era um elemento
fundante e favoravelmente diferenciador.
Dessa maneira, era propalado o mito da democracia racial por meio das pesquisas
culturalistas, tendo em vista que tais análises consideravam a aceitação dos elementos
culturais africanos e a alforria como concessões do patriarcalismo e como algo propulsor do
avanço da democracia no Brasil. Contrariamente a essas posições, Ianni pensa que tais
“concessões” apenas reforçavam o paternalismo e dificultavam os negros de definirem sua
identidade, pois, após a abolição eles ainda eram parte de uma categoria social à margem da
sociedade, não estando integrados nem política nem economicamente. (BASTOS, 1996).
Do ponto de vista teórico-metodológico, a essa altura Octavio Ianni já está alicerçado
na análise dialética do materialismo-histórico. Dessa forma, procura demonstrar a importância
da ordem social escravocrata para a acumulação de riqueza do então sistema capitalista que
passa a solapar o regime escravocrata na medida em que ele se expande a ponto de
transformar os meios de produção. Em outras palavras, a força humana escrava passa a ser
substituída por instrumentos de trabalho mais eficazes e por uma quantidade menor e menos
dispendiosa de trabalhadores livres.
Nesse sentido, o autor analisa os elementos de singularidade que vão configurando a
metamorfose do escravo em negro e mulato, negando, assim, as análises dualistas que os
colocam numa categoria de marginalidade, a exemplo das análises de Gilberto Freyre e
Euclides da Cunha, que dividem o Brasil em dois mundos heterogêneos e subordinados. 16
16 De acordo com Maria Lúcia Braga, Roger Bastide assume uma postura crítica acerca das interpretações dualistas de Euclides da Cunha e Gilberto Freire.
1
Por sua vez, após o surgimento do grupo de estudos d’ O Capital, nota-se uma inflexão
da temática trabalhada pelos autores – apesar da mudança na linha de pesquisa, o foco
analítico continua sendo a singularidade do desenvolvimento do Brasil dentro da realidade
capitalista internacional. Isto significa que os intelectuais paulistas deslocaram-se do tema das
relações raciais para a investigação acerca do desenvolvimento sócio-econômico do Brasil
moderno e para os efeitos da industrialização de São Paulo.
Tendo em vista a necessidade do grupo em torno da cadeira de Sociologia I de se
inserir no debate da política nacional e de ampliar as suas relações nos cenários acadêmico e
político brasileiro, em novembro de 1961 foi aprovada a criação do Centro de Sociologia
Industrial e do Trabalho (CESIT) na Congregação da FFCL-USP. Em dezembro do mesmo
ano, sua aprovação se deu no Conselho Universitário da USP, mas só em 28/02/1962 é que o
governador do estado de São Paulo, Carvalho Pinto, transformou o projeto em realidade por
meio do decreto nº. 3.9854.
Foram elaborados dois projetos iniciais que deram visibilidade ao Centro, são eles: o
survey “A Empresa Industrial em São Paulo”, que compreendia na investigação acerca das
indústrias existentes nas cidades de São Paulo, de São Bernardo, de Santo André, de São
Caetano e de Guarulhos; e o principal deles “Economia e Sociedade no Brasil: análise
sociológica do subdesenvolvimento”, abrangendo um estudo a respeito do processo de
industrialização no país, cujos temas centrais eram: a mentalidade do empresário industrial; a
intervenção construtiva do Estado; a mobilização da força de trabalho; os fatores societários
residuais do crescimento econômico no Brasil. (ROMÃO, 2003).
Sobretudo, é interessante destacar as participações decisivas de Florestan Fernandes e
de Fernando Henrique Cardoso no que diz respeito às estratégias políticas no CESIT.
No que se refere a Florestan Fernandes, nota-se que houve uma tentativa implícita de
recuperar seu lugar de “líder”, recolocando-se a partir de um ponto de vista “marxista”, ainda
que temperado por Mannheim. Era como se ele estivesse “revidando” a petulância dos seus
assistentes, mostrando-lhes que continuava na frente – do ponto de vista intelectual – e que se
abria à questão da mudança e da intervenção do sociólogo, sem perder de vista o aspecto do
rigor intelectual.
Pode-se afirmar que a idéia de se criar o CESIT surgiu em meio às reflexões de
Florestan em sua busca de compreender o lugar da sociologia brasileira e projetá-la no campo
da sociologia internacional. No entanto, para que esse fato se transformasse em realidade seria
preciso conhecer as peculiaridades do desenvolvimento capitalista no Brasil e, de certa forma,
1
“testar” a validade do teor explicativo das teorias clássicas elaboradas nos países de
capitalismo original dentro da realidade singular de um “país periférico” como o Brasil.
Na visão de Fernandes, a ciência e a tecnologia eram as vias seguras para um “país
subdesenvolvido” alcançar a sua modernização. Mas, sobretudo, precisaria haver a superação
de dois empecilhos: em primeiro lugar, a herança social e o horizonte cultural que entravavam
as tentativas de inovação; em segundo lugar, o fato das instituições, das técnicas e dos
conhecimentos transplantados nem sempre se adequarem à realidade dos fenômenos sociais
presentes. Por isso, o transplante de experiências científicas e tecnológicas de “países
adiantados” para os “países periféricos” deveria acontecer de uma maneira que houvesse a
adaptação dessas experiências à situação sócio-cultural de cada país.
Desse modo, Florestan procurava colocar em prática as formulações teóricas
elaboradas a partir da disciplina Sociologia Aplicada ministrada por ele durante os anos de
1956 a 1959, no curso de Ciências Sociais, pois foi daí que apareceu a idéia de aplicação
prática do conhecimento sociológico. Em virtude disso, a partir de 1960 o autor construiu um
projeto com vistas a intervir na realidade de maneira racional, aliando, de forma adaptativa, os
conhecimentos científicos da Escola de Chicago, no que tange a sua experiência em
investigação empírica, à tradição de sociologia durkheimiana e de autores como Marx,
Sombart, Freyer e Mannheim.
Esta “intervenção na realidade social” consistiria no desenvolvimento de instrumentos
científicos capazes de “perceber o potencial de transformação da realidade que cada ‘agente
social’ poderia permitir”, com isso, “O sociólogo deixaria de confinar-se ao papel de mero
formulador das alternativas de ‘mudança social provocada’ para ser elemento ativo no
‘controle racional’ da mudança [...]”. (ROMÃO, 2003, p.23-24).
Assim, baseado em Mannheim, Florestan sobrepõe a noção de ciência enquanto guia
das transformações sociais, à medida que o sociólogo deve dirigir a intervenção racional
acima de interesses de grupos, sejam eles de burgueses ou de trabalhadores, dos partidos ou
do Estado.
Entre os anos de 1960 e 1961, Florestan Fernandes e os seus assistentes Octavio Ianni
e Fernando Henrique Cardoso se inseriram no debate público, ao participarem ativamente da
Campanha de Defesa da Escola Pública, sendo convidados a proferir palestras, entre elas na
FIESP, e a participar de encontros sindicais. Toda essa movimentação no universo da política
acadêmica os levou a elaborar artigos em revistas, como a Anhembi, Boletim do Centro
Latino-Americano de Pesquisas Sociais, Revista Brasileira de Ciências Sociais, Revista
Brasiliense, Revista Brasileira de Estudos Políticos, etc.
1
Dentro desse contexto, surgiram textos em defesa da Universidade Pública, como o
artigo de Ianni em co-autoria com Cardoso As exigências educacionais do processo de
industrialização, publicado pela Revista Brasiliense no final de 1959; e o texto Educação e
mudanças sociais, formulado em 1961 por Ianni, fruto de suas comunicações expostas tanto
no Seminário sobre a Reforma Universitária, promovido pela União Estadual dos Estudantes,
em São Paulo, quanto no I Seminário Nacional de Reforma Universitária, realizado pela
União Nacional dos Estudantes, em Salvador.
Apesar de terem sidos derrotados, a Campanha representou uma importante projeção
da imagem desses intelectuais, principalmente, a de Florestan. E, como já foi exposto, o
sociólogo estava imerso nas reflexões acerca do planejamento de uma intervenção racional no
que diz respeito aos dilemas da nação.
Concomitantemente, abriram-se muitas oportunidades de ação para os cientistas
sociais com a valorização do planejamento governamental durante a gestão de Carlos Alberto
Carvalho Pinto, no estado de São Paulo (1959-1962).
Com Carvalho Pinto no poder, a Universidade passava a ter uma função privilegiada
no que tange à esfera administrativa, uma vez que o governador implementou o Plano de
Ação, coordenado pelo subchefe da Casa Civil, Plínio de Arruda Sampaio, que contava com a
colaboração de professores da USP, como Delfim Neto, Ruy Leme e o arquiteto Mendes da
Rocha.
Na ótica de Wagner Romão, o estabelecimento do Plano de Ação foi parte de uma
estratégia política do poder Executivo, cujo objetivo era aproximar-se da Universidade a fim
de manter a Assembléia Legislativa sob o seu controle, tendo em vista que suas ações seriam
agilizadas “[...] sob o pretexto de tratarem de ‘reformas necessárias’ ao desenvolvimento do
estado de São Paulo e do país”. (ROMÃO, 2003, p. 64). Dessa forma, dentro de uma
atmosfera desenvolvimentista seria bastante favorável ao governo fundamentar as suas ações
políticas no referencial técnico-científico.
Essa união fortaleceu e legitimou tanto o governo quanto a Universidade,
diferentemente da experiência turbulenta que a Universidade passara durante a gestão do
governador Jânio Quadros, entre 1954 e 1958, período em que intelectuais como Octavio
Ianni, Maria Sylvia de Carvalho Franco, Maria Isaura de Queiroz e Marialice Mencarini
Foracchi trabalharam na Universidade sem nenhuma ou pouca remuneração.
Portanto, a fundação do CESIT foi viabilizada pelo apoio do governador Carvalho
Pinto e, com isso, a cadeira de Sociologia I conseguiu expandir o seu número de
pesquisadores e ampliar a captação dos recursos financeiros.
1
Além do prestígio intelectual e institucional de Florestan Fernandes, destacou-se a
habilidade política de Fernando Henrique Cardoso, cuja participação no Conselho
Universitário da USP (1957-1958 e no ano de 1961) rendeu importantes conquistas, a
exemplo do seu empenho em eleger Antônio Barros de Ulhôa Cintra, da Faculdade de
Medicina, para reitor da USP em 1961. Com Ulhôa Cintra na reitoria, estreitaram-se os laços
entre a USP e o governo estadual, elevando-se, portanto, as dotações destinadas à
Universidade, a exemplo da própria construção da Cidade Universitária e da luta de diversos
setores da USP para a criação da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
(FAPESP).
Por sua vez, Fernando Henrique foi um dos grandes responsáveis pela aprovação da
criação do CESIT no Conselho Universitário. Há que se ressaltar que Fernando Henrique
contou com a ajuda do sociólogo francês Alain Touraine na elaboração da proposta de
fundação desse centro. Tendo em vista que Touraine fazia parte de um grupo liderado por
Georges Friedmann, cujo centro de pesquisa estava relacionado com os estudos da sociologia
industrial de Paris, o qual Fernando Henrique Cardoso já mantinha contato desde meados da
década de 1950.
Enfim, com a instalação da FAPESP, as articulações políticas de Cardoso fizeram
valer a facilitação de captação de financiamentos destinados à cadeira de Sociologia I, além, é
claro, não se pode deixar de mencionar a presença de Florestan Fernandes enquanto
representante das Ciências Humanas no Conselho Técnico Científico da FAPESP. Portanto,
percebe-se que as relações políticas abriram portas, principalmente naquele momento em que
os processos de liberação de auxílios pela FAPESP ainda estavam sendo estabelecidos.
Desse modo, a captação de recursos por meio da FAPESP representou autonomia da
Universidade diante do governo estadual, pois o critério de auxílios e de financiamento de
bolsas não estava nas mãos do poder Executivo, haja vista que o próprio corpo acadêmico
compunha os principais cargos desta instituição.
Em 1962, a área de Ciências Humanas e Sociais da USP (Sociologia, Ciência Política,
Antropologia, Filosofia, Letras, Direito, Economia e Psicologia) recebia 6% do valor total de
recursos concedidos pela FAPESP, sendo que destes 6%, a cadeira de Sociologia I ficava com
25%, que eram destinados aos estudos sobre as indústrias de São Paulo, possibilitando até
viagens internacionais de Octavio Ianni à London School of Economics, a fim de estudar
Sociologia do Desenvolvimento Industrial e de Fernando Henrique a Paris na École Pratique
Des Hautes Études, Laboratoire de Sociologie Industrielle, dirigido por Alain Touraine. Já
2
em 1963, os auxílios para a área de Ciências Humanas e Sociais foram reduzidos, e ainda
quase a metade deles era canalizada para o CESIT.
Porém, antes da própria instalação da FAPESP, o CESIT já recebia financiamentos da
Confederação Nacional das Indústrias (CNI), cujo diretor era Fernando Gasparian, amigo de
adolescência de Fernando Henrique. Em 1961, Gasparian, a pedido de Cardoso, concedeu
uma doação ao CESIT relativa a sete vezes o orçamento anual da cadeira de Sociologia I, no
valor de Cr$ 10.000.000,00. (ROMÃO, 2003).
As principais obras do CESIT fizeram parte do projeto “Economia e Sociedade no
Brasil” e foram concluídas entre os anos de 1963 a 1966. Dentre elas, podemos destacar:
Empresário Industrial e Desenvolvimento Econômico no Brasil (1964), de Fernando
Henrique Cardoso; Trabalho e Desenvolvimento no Brasil (1965), de Luiz Pereira;
Desenvolvimento Econômico e Evolução Urbana: análise da evolução econômica de São
Paulo, Blumenau, Porto Alegre, Belo Horizonte e Recife (concluído em 1966, mas
publicado em 1968), de Paul Singer; Industrialização e Desenvolvimento Social no Brasil
(1963) e Estado e Capitalismo: estrutura social e industrialização no Brasil (1965), de
Octavio Ianni.
Em seu livro Industrialização e Desenvolvimento Social no Brasil (1963), Ianni tem
como objetivo central avaliar alguns dos principais problemas sociais que foram gerados pelo
desenvolvimento da industrialização num país fortemente agrário como o Brasil, são eles:
[...] a formação da sociedade de classes; os obstáculos e as possibilidades abertas à instalação de formas racionais de organização das atividades produtivas e da administração pública; as manifestações da ideologia empresarial na época de formação da indústria; o nacionalismo; as condições e as expressões da consciência proletária; a proletarização e o radicalismo no comportamento político operário; a crise das instituições tradicionais, com o esgotamento de tôdas as possibilidades; as perspectivas abertas à reorganização das instituições. [...] (IANNI, 1963, p. 11-12).
O livro Estado e Capitalismo: estrutura social e industrialização no Brasil (1965)
– na verdade, é a sua Tese de Cátedra que passa a ter este nome após a sua publicação –
contribuiu para o debate em torno dos conceitos de dualidade e do capitalismo de Estado.
Nele, o autor analisa a forma como o Estado diversifica e amplia suas atribuições devido à
metamorfose do capital que se converteu da economia agrícola-exportadora em economia
agrário-industrial, encontrando, assim, possibilidades de expandir o mercado interno e
transformar as estruturas. Nessa perspectiva, após 1930, o Estado, caracteristicamente
2
patriarcal, transformou-se em Estado burguês e a industrialização brasileira passou a definir
suas estruturas de modo a se associar ao capitalismo internacional, tendo como principal
objetivo a consolidação da acumulação capitalista, propiciada pelo dirigismo estatal.
Os desdobramentos ocasionados pelo Golpe Militar de 1964.
Ao observar os desdobramentos políticos, econômicos e sociais causados pela
instauração do Golpe de Estado de 1964, encontra-se o cenário universitário bastante abalado
em decorrência dessas transformações.
Em primeiro lugar, os setores dirigentes tanto no âmbito acadêmico quanto no governo
estadual já não eram os mesmos. Em outras palavras, a política educacional do então
governador do estado de São Paulo, Adhemar de Barros, era desfavorável à Universidade e o
Reitor da USP, Prof. Gama e Silva, da Faculdade de Direito, depois da eclosão do golpe,
intensifica a sua atuação política, de cunho conservador, e aproxima-se ainda mais das esferas
estadual e federal.
Nesse contexto, o reitor permitiu que o Inquérito Policial Militar (IPM) fosse instalado
na USP em busca de grupos políticos próximos à esquerda e, principalmente, ao comunismo.
Em virtude desses acontecimentos, Fernando Henrique foi levado ao DOPS para ser
interrogado, em seguida, vai para o Chile com receio de maiores represálias. Já Florestan, ao
se recusar de ser interrogado no IPM, foi levado preso. Na ótica de Milton Lahuerta, tais
perseguições se deram devido às posições ideológicas internas à Universidade e não
propriamente pelo envolvimento político destes intelectuais. (LAHUERTA, 1999).
A partir de 1964, as dotações concedidas pela FAPESP à área de Ciências Humanas e
Sociais foram drasticamente diminuídas, sendo que no ano de 1966 tanto a cadeira de
Sociologia I quanto o CESIT nada receberam, fato que demonstra a perda de sua força
política. (ROMÃO, 2003).
Em decorrência da fragilidade institucional pela qual passava a USP e pelo fato da
Faculdade de Filosofia ser um dos principais alvos de perseguição pelo regime, a cadeira de
Sociologia I, em especial o grupo em torno do CESIT, acelerou o término de suas pesquisas a
fim de os jovens intelectuais titularem-se para substituir os professores mais antigos.
Com isso, Florestan incentivava (aliás, desde o início dos anos sessenta) seus
assistentes a ingressarem nas outras cadeiras, a exemplo da tentativa de Octavio Ianni em ser
2
catedrático na cadeira de Sociologia II, em 1964, porém quem assumiu o cargo foi Ruy
Coelho17. (ARRUDA, 1995).
Com o golpe político de 1964, rompeu-se o fluxo democrático, ocasionando,
paradoxalmente, um incremento do debate político nas universidades e o fortalecimento de
uma cultura de oposição, sob a hegemonia da esquerda, colocando em cena a idéia de que a
recrudescência política trouxera a estagnação econômica. Nesta perspectiva, o cerne da
questão era compreender as possibilidades de desenvolvimento dentro de um quadro político
tomado pelo autoritarismo18.
Tendo em vista que não foram apenas os estudos dos intelectuais da FFCL-USP acerca
do marxismo que os levaram para o âmbito da cultura política da esquerda, mas também as
suas relações nas revistas, a exemplo da Revista Brasiliense, dirigida por Caio Prado Jr.,
inaugurada em 1955, na cidade de São Paulo e fechada em 1964. Sem disporem de veículos
para a divulgação de suas idéias, alguns desses intelectuais se aproximaram do núcleo carioca,
como ocorreu com a Revista Civilização Brasileira, da qual Octavio Ianni foi integrante do
Conselho de Redação19 desde o seu lançamento em 1965, no Rio de Janeiro.
Por outro lado, os primeiros participantes do Seminário sobre Marx saíram de cena
deste grupo, cujas atividades passaram a ser conduzidas por: Michel Lowy, Roberto Schwarz,
Ruy Fausto, Emília Viotti da Costa, Marilena Chauí, Sérgio Ferro, João Quartim de Moraes,
Francisco Weffort, Lourdes Sola, Cláudio Torres Vouga, Albertina de Oliveira Costa, Paulo
Sandroni, Beth Milan, Emir Sader, Eder Sader, entre outros. Assim, os componentes desta
segunda geração do grupo de leituras d’ O Capital voltaram os seus olhares para o tema da
práxis, surgindo, a partir de alguns de seus membros, a implantação da revista Teoria e
Prática, o que revela uma nova visão sobre o marxismo acadêmico, unindo ação e teoria.
Outro grupo de destaque na militância da Faculdade de Filosofia da USP era o ORM-
POLOP (Organização Revolucionária Marxista – Política Operária), cujos líderes eram Emir
17 Contudo, o fato de Florestan Fernandes – catedrático da cadeira de Sociologia I – deslocar os pesquisadores do CESIT (o qual Fernando Henrique era diretor) para a docência, criou atritos entre ele e Fernando Henrique.
18 Estas posições geraram o seu contraponto teórico, isto é, nesse período surgiram as análises sobre a teoria da dependência desenvolvidas por Fernando Henrique Cardoso e, posteriormente, com Enzo Faletto. Dentro da concepção de desenvolvimento econômico dependente, cada país da América Latina deveria ser analisado de acordo com as suas particularidades e não partindo do princípio que uma lógica emanada dos países centrais determinasse totalmente os rumos de sua política e economia internas. Neste viés, a dependência se daria em virtude da realidade de cada país, portanto, os atores políticos ganham relevância à medida que o jogo político interno “[...] definiria o uso a ser feito dessas variáveis econômicas [...]”. (LAHUERTA, 1999, p. 116).
19 Também compunham o Conselho de Redação: Roland Corbisier (secretário), Alex Viany, Álvaro Lins, Dias Gomes, Edison Carneiro, Ferreira Gullar, Nelson Werneck Sodré e Paulo Francis. Já no segundo momento, entre os anos de 1967 até 1968, o corpo redatorial resumia-se a Moacyr Felix (substituindo Ênio Silveira) e Dias Gomes (substituindo Corbisier). (MOTA, 2000).
2
Sader e Eder Sader, além dos professores Rui Mauro Marini e Theotônio dos Santos, da
Universidade de Brasília. A POLOP surgiu em 1961, em contraposição às propostas
reformistas do Partido Comunista, porém, a sua força política só foi ampliada “[...] depois do
golpe militar e, através do Grêmio Estudantil da Faculdade de Filosofia, lança a revista
Revisão que discutia o papel do estudante e do intelectual, contribuindo para o processo de
radicalização ética e de abertura para as ações guerrilheiras”. (LAHUERTA, 1999, p. 97).
Baseada na historiadora Ângela de Castro Gomes, verifica-se que a década de 1960 foi
o ponto de mudanças para os “estudos políticos”. Haja vista que os intelectuais, tomados pelo
impacto do autoritarismo, passaram a escolher temas de análise relativos ao momento em que
viviam.
O ambiente acadêmico da Faculdade foi marcado pela mudança de temas devido à
idéia de “dependência estrutural”. Em virtude dessa transformação, nos valemos da reflexão
de Octavio Ianni para compreender o sentido do conceito “dependência estrutural”:
Em nome dos princípios da interdependência, o que ocorreu, desde 1964, foi uma reformulação total de dependência externa do Brasil. Tanto as relações políticas como as econômicas, tanto as militares como as culturais passaram ou estão passando por uma redefinição. Em conseqüência, aprofunda-se ainda mais a dependência estrutural, que tem caracterizado a história da sociedade brasileira. Conforme sugere Hélio Jaguaribe, em 1964 inaugurou-se um regime colonial-fascista no Brasil; regime esse definido pela submissão aos princípios político-militares de uma geopolítica elaborada segundo a perspectiva de Washington, na primeira fase da Guerra Fria, dizemos nós. (IANNI, 1968, p. 223).
Nesse sentido, os cientistas sociais buscavam compreender as novas forças da
economia externa e das relações sociais internas e, por conseguinte, o que teria levado à
instalação do regime militar, fatores estes que, para Octavio Ianni20 e Francisco C. Weffort,
indicavam o fim do fenômeno populista.
Para Ianni, houve o rompimento da democracia populista que fundamentava a política
de massas, sendo que esta última se organizou durante a transição da economia tradicional
para a urbano–industrial. Isso posto, Luiz W. Vianna afirma que Ianni, na mesma direção de
Weffort, imputava à classe operária a incapacidade de defender a democracia e as suas
conquistas devido ao legado, adquirido com o nacional–populismo, de subordinação à
“burguesia nacional”. (VIANNA, 1998).
20 Ver o livro O Colapso do Populismo no Brasil, publicado em 1968.
2
Assim, o comportamento político das massas seria de subalternidade21, conseqüência
do pacto populista que integrou categorias antagônicas.
Com vistas a estimular o avanço no setor secundário, Getúlio Vargas deparou-se com
a urgência de se estabelecer políticas trabalhistas, tendo em vista a crescente pauperização que
surgia com a elevação da classe operária. Com isso, propiciou-se o acesso da camada
assalariada às instituições políticas e, sobretudo, como já foi assinalado, criou-se a política de
massas.
De acordo com o autor:
[...] a política de massas funcionou como uma técnica de organização, contrôle e utilização da fôrça política das classes assalariadas, particularmente o proletariado. De um lado, situam-se as exigências de poupanças para investimentos destinados a desenvolver o setor secundário. No outro, coloca-se a “revolução nas expectativas” dos trabalhadores. [...] (IANNI, 1968, p. 63-64).
Nesse viés, Ianni, ao se utilizar das categorias analíticas de Georg Lukács, afirma que
o fato do Estado assumir para si a responsabilidade do desenvolvimento econômico, formou-
se na consciência do proletariado uma visão reificada do aparelho estatal, colocando-o na
posição de objeto e o sujeito da História, isto é, o Estado passava a ser visto como se fosse
um órgão que devesse atender a todos os objetivos da classe operária. (IANNI, 1965b).
Essa concepção, característica da burguesia, passou a ser percebida como verdade pela
classe operária. Em especial, essa concepção refletia a inexperiência política de trabalhadores,
sem tradição política, cujo “[...] horizonte cultural está profundamente marcado pelos valôres
e padrões de poder, de liderança e submissão, etc [...]” (IANNI, 1968, p. 57).
A partir das análises de Ianni, pode-se constatar, claramente, dois pontos bastante
expressivos de suas análises críticas, um de cunho político e outro na esfera metodológica. O
primeiro refere-se à recusa ao populismo getulista; o segundo diz respeito à negação às teses
pecebistas, formuladas no horizonte ideológico do nacional-desenvolvimentismo, que
apostavam no caráter revolucionário da burguesia nacional. Assim, para se diferenciar do
marxismo praticado pelos comunistas, o autor se utiliza do arcabouço teórico de Max Weber e
21 Ver o seu artigo: IANNI, O. Populismo e classe subalterna. In: Debate e Crítica. São Paulo, n. 1, p. 7-17, jul./dez. 1973, no qual Octavio Ianni assimila o conceito de classe subalterna do italiano GRAMSCI, A. Concepção Dialética da História. Trad. Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966; GRAMSCI, A. Il Risorgimento. Torino: Giulio Einaudi Editore, 1955; e do inglês HOBSBAWM, E. Per lo studio delle classi subalterne. In: Società. Milano, anno XVI, n. 3, p. 426-449, 1960.
2
Georg Lukács e, nessa medida, traz à cena conceitos ignorados pela vertente do marxismo do
PC, como subjetividade, ideologia e consciência.
Dessa maneira:
Compreende-se então porque, na crítica às teses consagradas na esquerda, o debate da intelectualidade uspiana (pelas características de sua leitura de Marx e até por pressão da radicalização de seus estudantes) tenha se concentrado na questão da “consciência de classe”, para destacar sua ausência e a não percepção do proletariado, de seu papel histórico [...]. (LAHUERTA, 1999, p. 91).
Concomitante a essas elaborações, pode-se ressaltar a importância de estudos
fundamentados numa leitura marxista, – a exemplo de Rui Mauro Marini, Theotônio dos
Santos e André Gunder Frank – que em boa parte são tributários da derrota da esquerda
tradicional em toda a América Latina. Nessas discussões predomina a idéia de que o
capitalismo estava condenado à estagnação tendo como única solução o socialismo, portanto,
não se vislumbrava a possibilidade de desenvolvimento com dependência e com ausência de
democracia política.
De acordo com a leitura de Milton Lahuerta, em congruência às elaborações feitas por
Marini e por Theotônio, estava a posição tomada por Octavio Ianni, pois a situação de
desenvolvimento pela qual o país passava era determinada pela dependência estrutural
constituída pelas forças políticas da elite dirigente e, nesse esteio, o golpe de 64 representava
a opção pelo capitalismo dependente e associado. Portanto, Ianni não acreditava na “[...]
possibilidade de desenvolvimento econômico autônomo, sustentado no nacionalismo
econômico, numa política externa independente e na política de massas.” (LAHUERTA,
1999, p.102).
Porém, deve-se deixar claro que até o período (1969) em que realizamos as análises
das obras de Octavio Ianni, não encontramos nenhuma referência de sua parte a respeito da
estagnação econômica do país após o momento do golpe. Na verdade, o autor enfatiza o fato
das crises econômicas terem desencadeado, após 1961, um recrudescimento na política, o que
redundou no golpe de Estado de 1964.
Em dezembro de 1968, o presidente Costa e Silva decretou o Ato Institucional nº 5,
anunciando o escopo de repressões e de medidas antidemocráticas que viriam a se concretizar
em 1969, juntamente com os demais Atos (a exemplo do AI-14, que introduzia a pena de
2
morte) editados ao longo deste ano. (CRUZ; MARTINS, 1983). Portanto, em decorrência do
AI-5, a Revista Civilização Brasileira foi fechada.
Apesar do clima inóspito vivido pelo país, em 1968, Fernando Henrique retorna ao
Brasil, depois de seu exílio no Chile e na França. Todavia, no final de abril de 1969, diversos
intelectuais foram cassados através de aposentadorias compulsórias, dentre eles podemos citar
Octavio Ianni, Florestan Fernandes, Fernando Henrique Cardoso, Hélio Lourenço de Oliveira
(reitor em exercício da USP), entre outros. E as atividades no CESIT, por causa da reforma
universitária, também foram cessadas.
Dessa maneira, em 3 de maio de 1969, Cardoso colocou em prática o seu projeto
relativo ao centro de pesquisas fora dos muros da Universidade e, com isso, fundou o Centro
Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP), criado com incentivos da Fundação Ford e,
posteriormente, da FAPESP e do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). Tanto
Ianni quanto Florestan recusaram-se em integrar ao grupo devido ao fato de este ter sido
financiado pelo capital privado, pois isto implicaria numa contraposição aos seus princípios
de autonomia intelectual. Mas, apesar de, a princípio, Ianni ter sido reticente à proposta de
Cardoso, agregou-se ao CEBRAP no ano seguinte de sua fundação, contudo, em meados da
década de 1970, Ianni foi o primeiro a sair da instituição, pois acreditava que esse centro não
estava mais cumprindo a sua missão de resistência ao regime militar. (SORJ, 2001). Assim,
inaugurou-se uma nova etapa de sua trajetória intelectual.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARRUDA, M. A. N. A sociologia no Brasil: Florestan Fernandes e a “escola paulista.” In: MICELI, S. (org.) História das Ciências Sociais no Brasil. S.P: Ed. Sumaré: FAPESP, v.2, 1995.
BASTOS, E. R. Gilberto Freyre e a Formação da Sociedade Brasileira. São Paulo: PUCSP, 1986. (Tese de Doutorado).
______. Octavio Ianni: a questão racial e a questão nacional. In: CRESPO, R. A; FALEIROS, M. L. (orgs.) Humanismo e Compromisso: ensaios sobre Octavio Ianni. S. P: Ed. UNESP, 1996. (Seminários e Debates)
______. O pensamento social brasileiro e a escola sociológica de São Paulo. (no prelo)
2
BRAGA, Maria Lúcia de Santana. Roger Bastide, paisagista. In: MAIO, Marcos Chor. (org.) Raça, Ciência e Sociedade. R. J.: Fio Cruz / CCBB, 1996.
CARDOSO, F. H.; IANNI, O. Côr e Mobilidade Social em Florianópolis. Aspectos das relações entre negros e brancos numa comunidade do Brasil Meridional. (pref. de Florestan Fernandes). S. P.: Editora Nacional, 1960. (Brasiliana, vol. 307).
GOMES, A. C. Política: história, ciência e cultura etc. In: Estudos Históricos. R. J., v. 9, nº17, p. 59 – 83, 1996.
IANNI, Octavio. As Metamorfoses do Escravo: apogeu e crise da estrutura no Brasil Meridional. 2a. ed. São Paulo: Hucitec, 1988.
______. Estado e Capitalismo: estrutura social e industrialização no Brasil. 2a. ed. São Paulo: Brasiliense, 1989. 274p.
______. Industrialização e Desenvolvimento Social no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1963. (Retratos do Brasil, 19)
______. O Colapso do Populismo no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1968. (Retratos do Brasil, v. 70)
______. (org.) Política e revolução social no Brasil. R. J: Civilização Brasileira,1965.
______. Raças e classes sociais no Brasil. 3a. ed. S. P: Ed. Brasiliense, 1987.
LAHUERTA, M. Intelectuais e transição: entre a política e a profissão. 1999, 271 f. Tese (Doutorado em Ciência política) Universidade de São Paulo, São Paulo, 1999.
MAIO, Marcos Chor. A História do Projeto da UNESCO: estudos raciais e as ciências sociais no Brasil. R. J.: IUPERJ, 1997. (Tese de Doutorado).
MARTÍNEZ-ECHAZÁBAL, Lourdes. O culturalismo dos anos 30 no Brasil e na América Latina: deslocamento retórico ou mudança conceitual? In: MAIO, Marcos Chor. (org.) Raça, Ciência e Sociedade. R. J.: Fio Cruz / CCBB, 1996.
2
MOTA, C. G. Ideologia da cultura brasileira. 1933-1974. (Pontos de partida para uma revisão histórica). S. P: Ed. Ática, 2000. 303p. (Ensaios, 30)
PÉCAUT, D. Intelectuais e a política no Brasil. S. P: Ed. Ática, 1990.
ROMÃO, Wagner de Melo. A experiência do Cesit: sociologia e política acadêmica nos anos 1960. São Paulo: USP, 2003. 170 p. (Dissertação de Mestrado).
SCHWARZ, R. Um Seminário de Marx. In: Novos Estudos CEBRAP. nº 50, pp. 91-98, março 1998.
SILVA, L.F. Democracia e sociedade civil na década de 1970: uma análise da elaboração de intelectuais marxistas acadêmicos. In: Perspectivas: Revista de Ciências Sociais. S. P.: Ed. UNESP, vol. 20–21, p.39–63, 1997–8.
______. A discussão teórico-metodológica nos marxistas acadêmicos do grupo d’O Capital. In: Estudos de Sociologia. Araraquara: Departamento de Sociologia, nº 3, p.71–86, 1997.
SOUZA, Jessé. A ética protestante e a ideologia do atraso brasileiro. In: ______. (Org.) O Malandro e o Protestante. A tese weberiana e a singularidade cultural brasileira. Brasília: Editora UnB, 1999. p. 17-54.
VIANNA, L. W. Caminhos e descaminhos da revolução passiva. In: AGGIO, A. Gramsci: a vitalidade de um pensamento. S. P.: Ed. UNESP, 1998.
______. Intelectuais e a vida pública. In: Dados. v.37, nº 3, 1994.
______. Weber e a interpretação do Brasil. In: Novos Estudos CEBRAP. no 53, pp. 33-47, mar. 1999.
2