observando o orçamento participativo de porto alegre

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    Observando o Oramento Participativo de Porto Alegre

    anlise histrica de dados:perfil social e associativo, avaliao e expectativas

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    Tomo Editorial Ltda. Fone/fax: (51) 3227.1021

    [email protected] www.tomoeditorial.com.brRua Demtrio Ribeiro, 525 CEP 90010-310 Porto Alegre RS

    F294o Fedozzi, LucianoObservando o Oramento Participativo de Porto Alegre anlise

    histrica de dados: perfil social e associativo, avaliao e expectativas. /

    Luciano Fedozzi Porto Alegre : Tomo Editorial, 2007.48 p.

    ISBN 978-85-86225-49-9

    1. Cincia Poltica. 2. Anlise Histrica. 3. Oramento Participativo.4. Perfil Social Porto Alegre. 5. Perfil Associativo Porto Alegre. 6.Sistema de Governo. I.Ttulo.

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)Bibliotecria responsvel: Vera Lucia Linhares Dias CRB-10/1316

    CDD 321.8

    do autor1 edio 2007

    Direitos reservados Tomo Editorial Ltda.

    EditorJoo Carneiro

    DiagramaoTomo Editorial

    Capa

    Atelier @Arte

    RevisoPaulo Campos

    A Tomo Editorial publica de acordo com suas linhas e conselho editoriais que podem ser conhecidos emwww.tomoeditorial.com.br.

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    Observando o Oramento Participativo de Porto Alegre

    anlise histrica de dados:

    perfil social e associativo, avaliao e expectativas

    Luciano Fedozzi

    Observatrio da Cidade de Porto AlegreUFRGS

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    AGRADECIMENTOS

    A pesquisa de 2005 no teria sido possvel sem a colaborao vo-luntria de alunos do curso de Cincias Sociais da UFRGS e de servidoresda Administrao Municipal, alm da imprescindvel cooperao da Ge-rncia do OP da Prefeitura de Porto Alegre, nas pessoas de Paulo Silva,Roberto Medeiros Proena, Antonio Carlos Damasceno Lima, Jlio Pujole Marcos Salina. Foi decisivo o trabalho de Itamar Antonio Spanhol, comsua vasta experincia de OP e sua convico inabalvel no protagonismopopular.

    Os alunos integrantes da pesquisa em 2005 foram: Andr Luis Bor-ges Martins, Carlos Augusto Fonseca Pereira, Caroline Souza de Qua-dros, Cristina Comelli da Silva, Gerson de Lima Oliveira, Jane de OliveiraJohann Follmann, Mara Yoshara Catacora, Maurcio Michel Rebello, Rafa-el Dal Santo, Rebeca Campani Donazar. Os seguintes servidores tambmparticiparam da enquete desse ano: Carlos Augusto Fonseca Pereira, Clia

    Teresinha S. Lucas, Demtrio Luis Alves Maia, Edson Luis Quadros Tha-deu, Gilmar Mariani, Joo Celso Bertuol, Jnatas Pedroso Prates, Lianedos Santos, Lorena Moraes, Mara Andra Machado Brite da Silva, PauloCsar Silva de Castro, Wagner Trindade Marques. Da mesma forma, sougrato colaborao dos conselheiros do OP Ronaldo Endler e Roberto I.R. Jacubaszko.

    Agradeo profundamente ao NAE (Ncleo de Assessoria Estatsti-ca), por meio da professora Elsa C. Mundstock, do Departamento deEstatstica da UFRGS, assim como ao Labors (UFRGS), nas pessoas deprofessor Ivaldo Gehlen (Departamento de Sociologia) e da sociloga Iara

    Kunde Dikcel, e tambm a Ademir Barbosa Koucher, do IBGE, pelas pre-ciosas contribuies.

    Finalmente, extendo os agradecimentos equipe tcnica do Ob-servapoa, Adriana Furtado, Valria D. Sartori Bassani e Carlos EduardoGomes Macedo, e ao coordenador do Observatrio, Plnio A. ZalewskiVargas, pelo apoio e a anlise crtica sobre o conjunto dos dados aquiapresentados.

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    SUMRIO

    PREFCIO ....................................................................................................7APALAVRADAUFRGS ....................................................................................9APALAVRADACOMUNIDADEDO ORAMENTO PARTICIPATIVO...........................10APALAVRADO OBSERVATRIODACIDADEDE PORTO ALEGRE ..........................11

    INTRODUO ............................................................................................131. Perfil dos participantes do OP ...................................................................... 151.1 Sexo ............................................................................................................... 151.2 Idade .............................................................................................................. 161.3 Nveis de ensino ............................................................................................. 171.4 Raa/Etnia ....................................................................................................... 181.5 Renda familiar ................................................................................................. 191.6 Profisso ou ocupao ................................................................................... 201.7 Situao de emprego ..................................................................................... 211.8 Jornada de Trabalho ....................................................................................... 22

    2 Caractersticas da participao ................................................................... 232.1 Nmero de participantes ............................................................................... 232.2 Participao em anos anteriores e taxa anual de adeso ao OP .................... 232.3 Participao nas instncias do OP .................................................................. 242.4 Conhecimento das regras do OP .................................................................. 262.5 Falar no OP .................................................................................................... 28

    3 Vnculos do pblico do OP com organizaes da sociedade civil .............. 303.1 Participao em entidades entre os integrantes do OP ................................ 303.2 Preferncias partidrias dos integrantes do OP ............................................ 33

    4 Percepo e avaliao do OP ..................................................................... 344.1 Razes da participao ................................................................................... 34

    4.2 Poder de deciso dos participantes no OP.................................................... 375 Expectativa quanto ao futuro do OP na gesto 2005-2008 ....................... 39

    5.1 O OP foi derrotado nas eleies municipais de 2004? .................................. 395.2 Durante o atual governo (2004-2006), o OP vai continuar existindo at

    quando? ......................................................................................................... 405.3 Expectativa sobre a situao do OP na gesto 2005-2008............................ 415.4 Agentes sociais e sustentabilidade do OP ...................................................... 425.5 A relao entre a Governana Solidria Local e o OP ................................... 44

    CONSIDERAESFINAIS ...............................................................................45BIBLIOGRAFIA.............................................................................................45

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    PREFCIO

    A publicao deste trabalho de pesquisa coincide com a celebrao doprimeiro aniversrio do Observatrio da Cidade de Porto Alegre (Observa-poa) que resulta da cooperao entre a Administrao Pblica Municipal, seuOramento Participativo, e a Unio Europia, por meio do Programa URB-AL e do Observatrio Internacional de Democracia Participativa. O Obser-vapoa tambm constitudo por instituies importantes para a sociedadebrasileira, como a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), aPROCEMPA (Empresa de Tecnologia da Informao e Comunicao de Por-to Alegre), a Fundao de Economia e Estatstica do RS (FEE), o Departa-mento Intersindical de Estatstica e Estudos Socioeconmicos (DIEESE) e aPontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul (PUCRS).

    Criado como um espao e uma ferramenta de anlise, produo edemocratizao do conhecimento e da informao, o Observapoa temse dedicado a apreender os impactos produzidos pelos processos de par-

    ticipao democrtica na sociedade e na gesto pblica porto-alegrenses,em especial aqueles consagrados ao Oramento Participativo, mas tam-bm seus limites e desafios. desse terreno slido que o Professor LucianoFedozzi nos oferece uma mirade de olhares em Observando o OramentoParticipativo de Porto Alegre.

    O aforisma que propaga que as coisas boas devem ser submetidas tempestade encontra sua justificativa no presente trabalho, onde a maisrica experincia de participao popular e controle social sobre a coisapblica submetida, tambm, a altas temperaturas de anlise e que tes-tam sua capacidade de permanncia no tempo. O resultado que segura-

    mente o leitor encontrar no ser recheio para sofismas, prprios da mpoltica, mas argumentos e trilhas nunca testados, que podero apontarcaminhos de sada alternativos nos labirintos auto-referentes que, a rigor,todo sistema construdo pela ao social coletiva produz como subpro-duto de seu esforo utpico.

    As trilhas oferecidas por Luciano Fedozzi so instigantes e sematerializam nas respostas oferecidas pelos cidados e cidads que parti-cipam do processo do OP a perguntas certamente formuladas no auge datempestade ou do insuportvel calor. o caso do papel do ato de falar

    nas reunies e assemblias. Quanto se fala no OP? Quantos falam no OP?Quem fala no OP? Falar um exerccio de cidadania?

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    Sabe-se que entre os gregos a poltica constitua-se num fim e suaessncia era a liberdade. Liberdade entendida como a ausncia de cons-trangimentos para a tomada de decises relativas aos destinos da Plis,fossem eles de ordem privada, econmica ou mesmo pela interdio dofalar do outro. Conversar, dialogar e deixar e sentir-se em condiesde falar, portanto, eram pressupostos da liberdade e, logo, da poltica,sem o qu o espao pblico declinaria pelo baixo exerccio das opinies.

    E segue a tempestade e o calor. O exerccio contnuo da participa-o transforma e enriquece o imagstico dos porto-alegrenses? Em quemomento deste exerccio o simples morador passa a exercer o papel decidado e cidad, vencendo os diques do estado da natureza, da demandapela demanda e passando a valorizar a democracia como valor universal,que os transforma subjetivamente e, ato contnuo, impacta na realidade

    social e nas instituies? O OP cria e recria novas instituies ou muitasvezes as reproduz? Qual a importncia da renda, da educao, do gneronas escolhas e na posio ocupada por cada ator ao longo dessa trajetria?

    Essas so apenas algumas trilhas oferecidas pelo autor da pesquisae pelo pblico do OP. Muitas mais sero encontradas ao longo da sualeitura, como aquela que problematiza o esprito de autonomia do pro-cesso de participao e que tem sido castigada por intermitentes tempes-tades ao longo dos ltimos anos.

    Mas no poderia deixar de sublinhar um dos resultados da pesquisae que demonstra o quanto o Oramento Participativo ainda preserva espa-os privilegiados de dilogo com a inovao. Como todos sabem, o atualgoverno municipal, liderado pelo Prefeito Jos Fogaa, passou a desenvol-ver em Porto Alegre o Programa Governana Solidria Local, que busca, apartir dos territrios, criar uma cultura de solidariedade e cooperao, ca-paz de contribuir para a emergncia de uma nova gerao de polticas p-blicas, baseada na co-responsabilidade entre todos os atores sociais, sejameles governamentais, privados, no-governamentais e voluntrios.

    Pois perguntados, em 2005, durante as assemblias e no incio donovo governo, se a Governana Solidria Local poder ajudar a melhorar

    o Oramento Participativo, 42,9% dos entrevistados que j tinham ouvi-do falar nessa forma de participao naquele momento ainda uma idia responderam afirmativamente. Se havia alguma dvida sobre a permann-cia do OP em Porto Alegre e sobre seu futuro, penso que essa respostasinaliza o quanto esse processo capaz de sobreviver s tempestades e saltas temperaturas. Capacidade esta que s as coisas boas tm. Virtude dasobras sociais que no temem o dilogo e, portanto, a renovao.

    Czar BusattoSecretrio de Coordenao Poltica e Governana Local

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    APALAVRADAUFRGS

    com muita satisfao que a Universidade Federal do Rio Grandedo Sul v concretizado, nesta publicao, mais um dos produtos de suaPesquisa e Extenso universitria. A Pr-Reitoria de Extenso da UFRGSconta com projetos, coordenados por Luciano Fedozzi, do Programa dePs-Graduao em Sociologia, relacionados com o tema da gesto de-mocrtica das cidades e que so promovidos pela Rede URB-AL, da UnioEuropia, em parceria com a Prefeitura Municipal de Porto Alegre e ou-tras instituies. Esses projetos tm o objetivo de atender demandas dosetor pblico, de agncias internacionais de cooperao e de agentes dasociedade civil do Brasil, para investigao e capacitao nos temas daparticipao social e das polticas pblicas.

    nesse contexto que a presente obra oferece o resultado de pes-quisa efetivada junto ao Observatrio da Cidade de Porto Alegre, apre-sentando, de forma indita, anlise sobre dados histricos referentes

    participao e ao associativismo que ocorrem no Oramento Participati-vo em nossa cidade. preciso tambm que se destaque o valor dos registros, aqui lan-

    ados, para especialistas, participantes do OP e para o pblico em geral,que encontrar elementos para avaliao e o planejamento de aes fu-turas. Igualmente, em seu conjunto, os dados analisados possuem poten-cial para outros estudos sobre regras de funcionamento e participaoem organizaes sociais.

    Por ltimo, e de efeito no menos importante, esta publicao ser-ve para somar-se a outros trabalhos, indicadores das aes de pesquisa e

    extenso universitria em parcerias, cada vez mais desejveis, entre auniversidade, o poder pblico e outras instituies. Tais indicadores ser-vem, no s para avaliar o desempenho dos agentes dessas aes conjun-tas, como tambm para analisar a transformao da cultura poltica e aspolticas pblicas de aprimoramento da cidadania e da democracia.

    Sara Viola RodriguesPr-Reitora de Extenso da Universidade Federal do Rio Grande do Sul

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    APALAVRADACOMUNIDADEDO ORAMENTO PARTICIPATIVO

    Creio que essa pesquisa importante no s para o pblico do OP,mas tambm para a cidade como um todo. Os dados revelam vrios pro-blemas da realidade do pas, ao mostrarem, por exemplo, o quanto anossa sociedade ainda patriarcal: as mulheres buscam seus direitos,quando no esto submetidas aos homens, que costumam fazer isso porelas ou ento no deixam que elas sejam ativas. Alm disso, possvelperceber como o OP um instrumento para que os mais pobres tenhamacesso s decises, embora tambm haja setores de classe mdia partici-pando. Mas, por outro lado, so as pessoas com mais idade e mais expe-rincia que esto lutando. Os jovens no esto juntos construindo a cida-de. Eles no esto participando dos movimentos para melhorar a sua ci-dade e a democracia. E isso muito preocupante porque nos faz pergun-tar: como estar a cidade e a democracia daqui a vinte anos?

    Por isso, esses dados podem nos ajudar a refletir para melhorar

    no s o OP, mas a sociedade como um todo. Acredito que o acesso aomaterial deste livro e a apropriao do seu contedo, pelas comunidadesdo OP e integrantes das demais instncias de participao, dos movimen-tos sociais e de outras experincias de democracia que ocorrem hoje nomundo so muito importantes e sero teis para avaliar a participao, jque trazem dados recentes de nossa histria.

    Silvia Terezinha O. RodriguesRepresentante do Oramento Participativo

    no Conselho Gestor do Observapoa

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    APALAVRADO OBSERVATRIODACIDADEDE PORTO ALEGRE

    com muita satisfao que o Observatrio da Cidade de PortoAlegre Observapoa, juntamente com a Universidade Federal do RioGrande do Sul, publica a presente pesquisa sobre o pblico do Oramen-to Participativo de Porto Alegre.

    A publicao resulta de uma das pesquisas subsidiadas pelo projetoObservatrios Locais de Democracia Participativa, que financiado peloprograma URB-Al, criado pela Unio Europia em 1995, no qual o Obser-vapoa se integra. O programa URB-Al foi criado com o objetivo de ampliaro intercmbio de experincias entre as autarquias locais da Unio Euro-pia e da Amrica Latina. Ele est organizado em redes de cooperaosegundo temas especficos, com vistas a resolver problemas de desenvol-vimento urbano local. O projeto dos Observatrios Locais de Democra-cia Participativa foi uma proposta da Rede 3 (Democracia na Cidade), apartir do Observatrio Internacional de Democracia Participativa, sedia-

    do e coordenado pela cidade de Barcelona. Assim, os Observatrios Lo-cais tm o objetivo de acompanhar as experincias de democracia partici-pativa a fim de propiciar informaes e estudos que permitam conhecer eavaliar comparativamente a qualidade das mltiplas formas de participa-o, na gesto local, praticadas nas cidades associadas ao projeto. Alm dePorto Alegre e Barcelona, participam do projeto as cidades de BuenosAires, Donostia, El Bosque, Saint Denis, La Paz e So Paulo. So espaosde disseminao de informaes e de promoo de experincias e parti-cipao popular nas cidades.

    Nesse sentido, a presente publicao uma contribuio para que

    Porto Alegre e as demais cidades possam refletir a respeito da trajetria doOP e dos desafios para sua continuidade. Alm disso, os dados aqui expos-tos podem auxiliar para se conhecer melhor uma das mais importantes ex-perincias da democracia participativa do pas. Essas e tambm outras infor-maes valiosas, para qualificar e avaliar a participao em Porto Alegre,podem ser encontradas no site do Observatrio: www.observapoa.com.br

    Adriana FurtadoEquipe Tcnica do Observatrio da Cidade de Porto Alegre

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    INTRODUO

    A histria da participao popular, na gesto pblica de Porto Ale-gre, no perodo de redemocratizao do pas, rica e contm uma mul-tiplicidade de facetas a serem analisadas e debatidas por todos aquelescomprometidos com o aprofundamento da democracia e a transforma-o social. O OP se constituiu, a partir de 1989, como espinha dorsaldessa histria recente e, como tal, vem atraindo o interesse de diversosagentes dos movimentos urbanos, dos partidos polticos e dos atores in-ternacionais.

    Com o OP, Porto Alegre se tornou referncia mundial sobre asprticas de participao popular. No obstante, apesar de sua qualidadeem termos de co-gesto e de sua longevidade, devido legitimidade ad-quirida na opinio pblica porto-alegrense, a experincia do OP passou asofrer uma espcie de sndrome dos pioneiros. Ou seja, o sucesso setransformou, paradoxalmente, em obstculo necessria inovao cons-

    tante, que processos dinmicos e complexos, como o OP, requerem. Aconstruo de interpretaes tericas idealizadas e mitificadoras, assen-tadas no sucesso internacional do modelo at sua visvel estagnao nofinal dos anos 1990 , foi um fator que contribuiu para essa dogmatizao,pois dissipou, quando no rechaou de forma maniquesta, o exerccio daautocrtica permanente. O OP se encontra em uma encruzilhada de suahistria por razes mltiplas, que no so recentes, embora fatos novos,advindos do contexto indito de alternncia do poder, faam parte dela.

    Os desafios complexos enfrentados pelo OP no sero superadospor reducionismos ou explicaes mecanicistas, j que dizem respeito: a)

    qualidade da ao coletiva dos participantes (a exemplo das questes daautonomia, da ampliao da conscincia social, da capacidade de inova-o permanente e do exerccio do controle social; b) ao imprescindvelpapel pr-ativo do governo para a sustentabilidade do ciclo participativo,que vai alm da varivel financeira, tais como: transparncia orament-ria, produo e socializao de informaes necessrias tomada de de-cises, acessibilidade e eficcia administrativas; c) qualidade do contratoestabelecido entre ambos, comunidades e governo, no processo de co-gesto (co-responsabilidade, avaliao dos resultados, incluso de agen-

    tes ainda pouco presentes no OP, sejam de segmentos especficos comojovens, idosos, pessoas com deficincia, setores de extrema pobreza

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    ou representativos de organizaes temticas da cidade); tudo isso co-nectado d) ao difcil desafio de superar a fragmentao e emprender co-nexo virtuosa entre o OP e as demais instncias da ampla rede participa-tiva construda junto Administrao de Porto Alegre.

    Os dados ora apresentados objetivam contribuir nos limites deuma suscinta anlise quantitativa para a reflexo crtica de todos os queesto comprometidos com o aprimoramento do OP e da rede participa-tiva de Porto Alegre. Os dados resultam de duas pesquisas complemen-tares. A primeira, sobre dados j produzidos e publicados em anos ante-riores (por iniciativas de ONGs, como Fase e Cidade, juntamente com aAdministrao Municipal e outros pesquisadores). A segunda fruto dainvestigao sobre os participantes em 2005, primeiro ano da nova ges-to poltico-administrativa. Essa ltima utilizou a mesma metodologia

    empregada nas pesquisas anteriores: amostra aleatria simples (intervalode 10 pessoas) nas assemblias de 2005, totalizando 1.505 questionrios(10,45% dos participantes). A margem de erro de 5% para mais oupara menos. Em conjunto, os dados permitem a comparao histrica deinformaes organizadas em cinco itens: 1) perfil socioeconmico dosparticipantes; 2) caractersticas da participao; 3) vnculos com a socie-dade civil; 4) percepo e avaliao do OP; e 5) expectativa quanto ao seufuturo na gesto 2005-2008.

    Nesses itens utilizou-se, por vezes, de cruzamentos estatsticosentre variveis, a exemplo do tempo de participao no OP e rendafamiliar. O termo associao estatstica utilizado na anlise derivadode testes (Qui-quadrado) para verificar a existncia de correlao rele-vante entre variveis cruzadas.

    Luciano FedozziPrograma de Ps-Graduao de Sociologia da UFRGS

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    1 A cota mnima de 50% para ambos os sexos na composio das chapas concorren-tes ao COP e aos Fruns de Delegados foi adotada como recomendao, isto , semcarter obrigatrio, no IV Congresso da Cidade (2003).

    2 Esses dados vo ao encontro do conhecido adgio popular (ou esteritipo machista?)

    sobre as aptides distintas dos gneros: cuidadoras no caso das mulheres e ra-cionais ou calculistas no caso dos homens.

    1. Perfil dos participantes do OP

    Nesse item sero apresentados dados socioeconmicos sobre a

    evoluo do perfil do pblico que participa do OP comparativamente aosdados da populao de Porto Alegre (designados, nas tabelas, pelo termopopulao). Para tal, sero apresentados os resultados da investigaorealizada com os participantes em 2005 juntamente com dados obtidospor pesquisas em anos anteriores.

    1.1 SexoO pblico do OP, historicamente, apresentou relativa paridade en-

    tre mulheres e homens nas assemblias, como verificado na primeirapesquisa, em 1993. Entretanto essa relativa igualdade da participao fe-

    minina, inclusive nas Associaes de Moradores (AMs), no se refletianas instncias representativas do OP, como o Conselho do OramentoParticipativo (COP) e os Fruns de Delegados. Nesses espaos de maiorpoder, os homens constituiam maioria. A partir de 1998, as mulheresreverteram a situao. Em 2005, tornaram-se maioria (52,8%) inclusiveentre os que j foram eleitos conselheiros (53,5%) e delegados (52,4%),configurando representatividade semelhante da populao da cidade(IBGE, 2000) (Tabela 1) 1.

    Em 2005, as mulheres tornaram-se majoritrias (54,5%) nas Regies

    e, os homens, nas Temticas (presena masculina de 53,2%). Nas instnci-as Temticas, as mulheres se fazem presente de forma avassaladora na deSade e de Assistncia Social (80%), provavelmente em razo das enti-dades conveniadas e dos programas de assistncia. Os homens, ao contr-rio, so amplamente majoritrios na Temtica de Desenvolvimento Eco-nmico e Tributao (70%)2. Quanto idade, as mulheres prevalecem nafaixa mdia (34-60 anos) e os homens tendem a prevalecer tanto entre osjovens (16-33 anos), como entre os que tm mais de 60 anos.

    A participao feminina, no obstante, continua em desvantagemquando analisados os tipos de laos familiares de ambos os sexos. A pre-

    sena das mulheres proporcional somente nas condies em que ela seencontra independente dos laos de matrimnio. Isto , as mulheresso maioria entre os solteiros, vivos e separados, enquanto oshomens o so na condio de casados. O estado civil uma varivelque diferencia os gneros quanto s oportunidades de eleio para as

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    instncias do OP (assim como nas Associaes de Moradores): entre oseleitos conselheiros(as), as mulheres esto associadas situao soltei-ra (62%). Os homens, situao casados (71,4%). Entre os que jforam delegados(as) tambm h associao das mulheres com os estadoscivis vivos (81,3%) e separados (65%). Os homens, mais uma vez,o esto com casados (57,7%). Tambm nas Associaes de Moradoresas mulheres esto correlacionadas condio de separadas (69%), eos homens situao de casados (61%). Em concluso, as mulherescasadas, em especial das camadas populares, que no contam com traba-lhadores domsticos, enfrentam barreiras para participar do OP e dasentidades da sociedade civil, seja por causa da dupla jornada de trabalhoou porque a relao patriarcal assim o determina o homem representaa famlia nos negcios pblicos. Apesar do avano da participao femi-

    nina proporcionado pelo OP, a igualdade no exerccio da cidadania, comorequisito para a emancipao feminina, ainda encontra desafios no supe-rados e que se expressam tambm na prtica do OP.

    1.2 IdadeO pblico do OP tende a ser constitudo por pessoas com idade

    proporcionalmente mais avanada quando comparado populao da ci-dade, conforme mostram todas as pesquisas (Tabela 2). Os dados histri-cos indicam duas tendncias: a) crescimento percentual da participaodos mais novos (16 a 25 anos) (de 15,8%, em 1995, para 19%, em 2005),assim como os que tm 50 anos ou mais; e b) diminuio da faixa de idadeintermediria (entre 34 a 41 anos). Apesar do crescimento da participa-o dos jovens entre os anos 1995 e 2005, a faixa de idade entre 16 a 25anos (assim como entre 26 a 33 anos) sub-representada no OP, emcomparao populao da cidade. O desequilbrio dentre as faixas deidade patente quando so analisados os dados sobre o perfil dos eleitospara as instncias do OP. Os indivduos, a partir de 42 anos (incluindoacima de 60), esto fortemente associados com as funes representati-vas (COP e Fruns de Delegados). O grupo com idade igual ou superior a50 anos forma quase a metade dos eleitos conselheiros (43,96%). Con-

    trariamente, pequena a presena da juventude (16 e 25 anos) nas instn-cias de representao do OP: eles correspondem a 19% do total, mas

    TABELA1 PARTICIPAOPERCENTUALNO OP PORSEXO (1993-2005) (%)

    Fonte: Nunez e Fedozzi (1993); Fase, PMPA, Cidade e Abers (1995);Cidade (1999, 2002, 2003); Fedozzi (2005); IBGE (2000).

    Sexo 1993 1995 1998 2000 2002 2005 Conselheiros Delegados Populao

    Feminino 46,7 46,8 51,4 57,3 56,4 52,8 53,5 52,4 53,3Masculino 46,6 52,2 48,4 41,5 43,3 47,2 46,5 47,6 46,7NR 5,7 1,0 0,2 1,3 0,4 - - - -Total 100 100 100 100 100 100 100 100 100

    (2005) (2005) (2000)

    Observa 1ago2007.P65 1/8/2007, 20:0616

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    caem para 1,72% entre os eleitos conselheiros e para 8,12% entre oseleitos delegados. Essa situao tambm ocorre com os que tm idadeat 33 anos. Quanto ao tipo de instncias, enquanto os jovens participammais das Regies (20,3% contra 13,9% nas Temticas), o grupo acima de50 anos participa mais das Temticas (33,6% contra 25% nas Regies).

    1.3 Nveis de ensinoComparando-se com a ltima pesquisa (Cidade, 2002), os dados

    de 2005 demonstram aumento da escolarizao dos participantes. A com-parao dos nveis de ensino dos participantes em 2005 com a populaode Porto Alegre (IBGE, 2000) demonstra as seguintes relaes: proporcio-

    nalidade no ensino fundamental; maior presena de pblico com ensinosecundrio; menor presena de pessoas com ensino superior (Tabela 3).Em 2005, o OP atraiu mais os setores com ensino mdio.

    Analisando-se a srie histrica dos dados, observa-se que, em 2005,houve queda acentuada do pblico com nvel de ensino fundamental con-figurando, juntamente com o ano de 2000, um dos menores percentuais

    Fonte: Fase, Cidade, PMPA e Abers (1995); Cidade (1999, 2002, 2003); Fedozzi (2005); IBGE (2000).

    TABELA2 PARTICIPAOSEGUNDO FAIXAETRIA (1995-2005) (%)

    Total Conselheiros Delegados (2000)16 a 25 15,8 17,3 17,6 19,5 19,0 1,7 8,1 24,326 a 33 19,1 15,1 16,4 17,4 15,0 6,0 8,3 15,934 a 41 23,0 22,7 20,4 19,9 16,7 12,9 19,3 16,742 a 49 18,8 19,4 18,6 18,6 21,7 35,3 26,9 13,850 ou + 22,4 25,2 25,9 24,5 19,0 34,5 26,9 14,6(At 2002) (50 a 60) (50 a 60)Mais de 60 - - - - 8,6 9,5 10,5 14,7

    NR 0,9 0,3 1,1 0,1 0,0 - - -Total 100 100 100 100 100 100 100 100

    2005Idade 20021995 1998 2000 Populao

    Fonte: Fase, Cidade, PMPA e Abers (1995); Cidade (1999, 2002, 2003); Fedozzi (2005); IBGE (2000).

    TABELA3 PARTICIPAONO OP SEGUNDO NVEISDE ENSINO (1995-2005) (%)Nveis de ensino 1995 1998 2000 2002 2005 Conselheiros Delegados Populao

    (2005) (2005) (2000)Sem instruo 5,5 3,0 4,7 3,8 1,5 0,0 0,0 6,56

    Alfabetizado - - 2,1 2,6 1,2 - - -Fundamental incomp. 37,0 46,0 34,3 44,4 33,4 19,8 28,3 40,09Fundamental completo 12,1 12,2 10,9 13,3 14,3 3,5 15,7 7,62Ensino fundamental 49,1 58,2 45,2 57,7 47,6 23,3 44,0 47,71(Total parcial)Mdio incompleto 12,6 7,5 10,4 7,8 11,8 14,6 10,3 8,88Mdio completo 18,6 13,1 13,7 16,0 22,0 35,4 27,7 15,47Ensino mdio 31,2 20,6 24,1 23,8 33,8 50,0 38,0 24,35(Total parcial)Ensino superior 14,2 16,1 20,1 12,0 15,5 26,7 18,0 21,38completo e incompletoNR - 2,0 3,8 0,1 0,4 - - -

    Total 100 100 100 100 100 100 100 100

    Observa 1ago2007.P65 1/8/2007, 20:0617

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    desse segmento (47,6%). Adotando-se os nveis de ensino como possvelcritrio para o grau de incluso dos setores sociais desfavorecidos, obser-va-se que os maiores percentuais de participantes com ensino bsico ocor-reram nas pesquisas de 1998 e 2002, com cerca de 58% (Cidade, 2002).Entretanto a soma dos percentuais das situaes sem instruo, alfa-betizado e ensino fundamental chegou a 64,1% na pesquisa de 2002(Cidade, 2002). Dentre a populao, esses mesmos nveis de ensino so-maram 54,2% (IBGE, 2000).

    Assim como nas pesquisas anteriores, percebe-se que o contin-gente de menor escolarizao no se faz representar proporcionalmentenas instncias eletivas do OP. Como visto, dentre os participantes emgeral, 47,7% possui instruo bsica (2005), mas esse percentual cai para23,3% entre os que j foram eleitos conselheiros e para 44% entre os

    delegados. Os Fruns de Delegados so instncias intermedirias e, por-tanto, mais fiis ao perfil social da base participante das assemblias.A distribuio comparativa entre as Regies e as Temticas tambm

    demonstra diferenas. Em 2005, mais de 60% nas Temticas possua ensi-no mdio (36,8%) ou superior (27,7%). Nas Regies, como j identifica-ram pesquisas anteriores, prevaleceu o ensino fundamental (completo ouincompleto), que chegou a praticamente 50% dos participantes. O pblicodas Regies, comparativamente ao das Temticas, possui nitidamente umperfil social caracterizado por menor renda e menor nvel de ensino.

    1.4 Raa/EtniaOs dados sobre raa/etnia nas pesquisas de 1995, 2000 e 2002 de-

    monstram o potencial inclusivo do OP tambm nesse aspecto. Em 1995,chama a ateno o baixo percentual de auto-identificao com a etnia ne-gra, contrastando com o percentual mais elevado de outras autodenomi-naes (morena, mulata, mista, loira, etc.). Em 1995 e 2000, 14%se identificou como outras raas/etnias nesse sentido referido. Nas pes-quisas seguintes (Cidade, 2000 e 2002)3 (Tabela 4), praticamente dobrouos que se identificaram como negros, o que pode significar tanto o cresci-

    mento de sua participao no OP como o aumento da conscincia racial/tnica no pas. Nas pesquisas de 2000 e 2002, as etnias indgena e amarelaapresentaram percentuais maiores do que representam na populao dePorto Alegre (IBGE, 2000). Em termos gerais, ao longo do tempo, acen-tuou-se a sub-representao dos brancos e a sobre-representao dos ne-gros e indgenas, tanto nas assemblias como nas instncias eletivas (COP e

    3 Em 2005, os entrevistados no foram inquiridos sobre esse item, assim como outrosnormalmente pesquisados (1995, 1998, 2000 e 2002). Devido relativaimprevisibilidade sobre a realizao da investigao no momento em que iniciara

    uma nova gesto, a opo foi por diminuir o nmero de questes, a fim de tornarmais factvel a pesquisa.

    Observa 1ago2007.P65 1/8/2007, 20:0618

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    Delegados). Esse dado se confirma mesmo quando so somados os per-centuais dos negros e dos pardos constantes da pesquisa do IBGE (2000)(8,7 + 7,8 = 16,5% contra 23% de negros no OP, em 2002).

    1.5 Renda familiarOs dados sobre renda familiar talvez sejam os que demonstrem,

    de forma mais objetiva, o carter inclusivo do OP. A maioria dos partici-pantes pertence s camadas com renda inferior distribuio verificadana populao da cidade. Em Porto Alegre, 31,1% dos habitantes possu-am renda familiar at 2 SM (salrios mnimos) (IBGE, 2000), contra49,8% dos participantes do OP nessa mesma faixa de renda (2005). Poroutro lado, enquanto 16,5% da populao da cidade percebia renda fa-

    miliar de mais de 12 SM (IBGE, 2000), no OP esse percentual de3,4% (2005). (Tabela 5).Os dados histricos indicam aumento relativo da populao de baixa

    renda no OP, em especial, na faixa at 2 (SM) (39,4%, em 2002, para49,8%, em 2005). Somando-se o percentual de renda de at 2 SM como percentual de 2 a 4 SM chega-se a 76,2% (2005), ndice bem superiorao verificado nessa faixa de renda na populao (57,2%) (IBGE, 2000). Jna faixa mais de 12 SM, o decrscimo de praticamente 50% (de 7,2%,em 2002, para 3,4%, em 2005). Confirma-se a tendncia apontada porestudos anteriores, que mostram o pblico das Regies com perfil de

    renda menor comparativamente ao pblico das Temticas. Essas ltimasapresentaram 42,5% com renda at 2 SM, contra 53,6% das Regies.Nas faixas situadas acima de 8 SM, os percentuais se invertem: so 15,5%nas Temticas e 9,3% nas Regies.

    Tambm na varivel renda se verifica diferenas entre os eleitosrepresentantes, especialmente para o Conselho do OP (COP), e os noeleitos. H perda de representatividade dos que possuem menor renda.Na faixa at 2 SM, o percentual de 49,8% cai para 30% entre os eleitosconselheiros (2005). Os que pertencem a famlias de baixa renda (at 2

    SM) esto fortemente associados condio de no terem sido elei-tos conselheiros e delegados. Os eleitos esto associados s faixas de

    TABELA4 PARTICIPAOSEGUNDORAA/ETNIADECLARADA (%)

    Fonte: Fase, Cidade, PMPA e Abers (1995); Cidade (2002, 2003); IBGE (2000).

    Etnia declarada

    NegroBrancoIndgena

    AmareloOutrasPardoNR

    1995

    10,871,4

    --

    14,11,02,7100

    2000Total

    20,962,33,60,54,4-

    8,3100

    23,055,76,6-

    14,8-

    0,1100

    Delegados26,062,63,10,87,6--

    100

    Conselheiros24,061,44,10,4

    10,2--

    100

    Populao(2000)

    8,782,40,50,2-

    7,80,4100

    2002

    Observa 1ago2007.P65 1/8/2007, 20:0619

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    renda de 2 a 4 SM e de 4 a 8 SM. Por isso, na faixa de renda de 2 a 4SM, observa-se inverso da situao de sub-representao no COP: so36,3% entre os conselheiros, contra 26,4% entre os participantes emgeral (2005). Os delegados praticamente no apresentam diferenas noquesito renda em relao ao pblico do OP.

    Fonte: Cidade (1999, 2002, 2003); Fedozzi (2005); IBGE (2000)

    TABELA5 RENDAFAMILIARDOSPARTICIPANTESDO OP (1998-2005)4 (%)Salriosmnimos

    At 2De 2 a 4De 4 a 8De 8 a 12Mais de 12NRTotal

    1998 2000 Conselheiros DelegadosPopulao

    (2000)20022005

    Total

    30,926,121,19,7

    12,2-

    100

    24,929,322,710,013,1

    -100

    39,429,918,45,17,20,4100

    49,826,413,04,33,43,1100

    30,136,322,16,25,3-

    100

    46,5227,1117,415,723,23

    -100

    31,126,119,27,1

    16,5-

    100

    4 Na pesquisa de 1995, foram adotadas outras faixas de renda familiar, com a seguintedistribuio em salrios mnimos (SM): at 1 SM (9%); de 2 a 3 (30,5%); de 4 a 5 SM

    (17,9%); mais de 5 SM (34%); sem resposta (8,5%). A maioria dos participantesnaquele ano (57%) percebia renda familiar de at 5 SM.

    1.6 Profisso ou ocupaoOs dados relativos profisso no apresentam diferenas significa-

    tivas em relao ltima pesquisa (Cidade, 2002). A ocupao serviomanual sem qualificao (servente, auxiliar de servios gerais, cozinhei-ra, etc.) voltou a responder pelo maior percentual (24% dos participan-tes). As outras ocupaes com maiores percentuais so as de serviono manual sem qualificao (9,77%) (tendncia de crescimento), do-mstica ou faxineira (7,2%), do lar (6,6%) e professor (5,25%). Pro-fessores e estudantes somam cerca de 10%, expressando a mobiliza-o da comunidade escolar, apesar da diminuio dos professores em 2005.

    Uma das ocupaes que mais cresceu a do mercado informal(ambulantes, camels e artesos) (1,4% em 1998, 7% em 2002 e 4,7%em 2005), provavelmente refletindo as transformaes que vem ocor-rendo no mundo do trabalho e os conflitos gerados pela ocupao e ouso do espao pblico urbano. Por outro lado, a pequena presena hist-rica dos segmentos empresariais diminuiu mais ainda em 2005, tais como

    os microempresrios (1,7% em 1998 para 0,27% em 2005), os empre-srios (0,47% em 2005), e as ocupaes ligadas produo rural da cida-de (agricultura e pecuria) (0,4% em 2005 para 0,6% em 1998).

    Dentre as profisses que apresentaram queda acentuada, com cercade 100% menos do que em 2002, destacam-se os trabalhadores da cons-truo civil (de 5,3% para 2%), a ocupao do lar (de 12,8% para6,6%) e os microempresrios j citados.

    Observa 1ago2007.P65 1/8/2007, 20:0620

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    Verifica-se associao estatstica entre os que j foram eleitos con-selheiros e as seguintes ocupaes: comerciante autnomo, servios comqualificao universitria, trabalhadores da indstria, agricultores/pecua-ristas e empresrios. Entre os que j foram delegados, a associao se dcom os comerciantes autnomos e professores. As profisses ligadas aosservios manuais sem qualificao (servente, auxiliar de servios, etc.),que so maioria nas assemblias, esto associadas estatisticamente res-posta no terem sido eleitos conselheiros.

    1.7 Situao de empregoOs dados histricos sobre a forma de exerccio profissional reafir-

    mam a presena marcante de duas situaes que, somadas, chegam a maisde 40% dos participantes: empregado privado com carteira assinada e

    autnomo (Tabela 6). Comparando-se com as pesquisas anteriores a 2005,as situaes profissionais com tendncia de diminuio so as do lar, deempregado privado sem carteira assinada, e a de empregador. O per-centual dos desempregados e dos servidores pblicos cresceu mais de100% entre as pesquisas de 1995 a 2005. A presena dos aposentados semanteve constante nas pesquisas, com cerca de 10% (2005).

    O perfil dos que j foram eleitos conselheiros constitudo, deforma majoritria, pelas situaes de emprego que possibilitam flexibili-dade nos horrios de trabalho. A soma dos autnomos, desemprega-dos e aposentados chega a 62,6% entre os conselheiros e 54,3% en-tre os delegados (2005). Entre aqueles que j participaram das instnciasde representao, COP e Fruns de Delegados, os autnomos obtm,com larga margem, o maior percentual: so praticamente 40% entre osconselheiros e quase 30% entre os delegados (2005). Mas, como servisto na anlise sobre a jornada de trabalho, o tempo livre, emboraimportante, no pode ser tomado como a nica varivel na explicaosobre a ocupao de postos de representao no OP.

    Fonte: Fase, Cidade, PMPA e Abers (1995); Cidade (2002, 2003); Fedozzi (2005).

    TABELA6 ATIVIDADEOCUPACIONALDOSPARTICIPANTESDO OP (%)

    Emprego privado c/carteira assinadaEmpregado privado s/carteira assinada

    AutnomoEmpregador(a)Servidor pblicoDo larDesempregado(a)

    Aposentado(a)OutrasNR

    Total

    1998 2000Delegados Conselheiros

    2002 2005Total

    29,48,4

    19,93,43,48,26,8

    11,43,795,31

    100

    8,45,7

    18,92,6

    12,110,715,910,84,9-

    100

    21,04,3

    21,90,78,2

    11,214,19,88,20,6

    100

    22,55,2

    22,90,6

    10,37,0

    14,710,2

    -6,62

    100

    20,703,7

    27,50,5

    13,07,7

    13,513,4

    --

    100

    15,893,7439,20,9

    12,14,6

    12,111,2

    --

    100

    Situao de emprego

    Observa 1ago2007.P65 1/8/2007, 20:0621

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    Fonte: Cidade (1999, 2002, 2003); Fedozzi (2005)

    TABELA7 HORASDE TRABALHODOSPARTICIPANTESDO OP (1998-2005) (%)

    Horas de trabalho semanal 1998 2000Delegados Conselheiros

    20022005

    Total33,13,2

    12,637,513,9

    -100

    39,13,1

    11,633,812,4

    -100

    37,02,1

    13,735,810,70,7100

    37,12,7

    24,622,113,6

    -100

    32,72,5

    23,624,316,8

    -100

    28,22,9

    17,534,017,4

    -100

    Sem trabalho remuneradoAt 14 horasDe 15 a 40 hDe 40 a 48 hMais de 48 hNR e NSTotal

    1.8 Jornada de TrabalhoOs dados sobre o tempo dedicado ao trabalho, por parte dos integran-

    tes do OP, demonstram duas tendncias distintas. Por um lado, elevado per-

    centual dos sem trabalho remunerado (mais de 30% em todas as pesquisasanteriores e, em alguns anos, chegando a quase 40%) (Tabela 7). Por outrolado, parcela do pblico com longa jornada de trabalho, acima de 40 h/sema-nais e mesmo acima de 48 h de trabalho. Somados, esses dois percentuaischegam a cerca da metade dos participantes nas assemblias (51,4% em 1998),(46,2% em 2000) e (46,5%, em 2002). Em 2005, a soma desses mesmospercentuais diminuiu para 35,7%. No se verifica associao entre maior tem-po de participao no OP (em termos de anos) e jornada de trabalho commaior horas livres. Ao contrrio, a partir de 5 anos ou mais de participao, omaior percentual o da jornada de trabalho de 40 a 48 h/semanais (41%).

    Nas instncias representativas do OP, os delegados apresentamdados semelhantes aos participantes em geral, com os dois plos de me-nor e maior tempo dedicado ao trabalho. Mas, entre os que j foramconselheiros, observa-se mudana do quadro: ocorre diminuio do p-blico sem trabalho remunerado (de 37% nas assemblias para 28%entre os conselheiros) e aumento do pblico com longa jornada de traba-lho (de 35,7% nas assemblias para 51,4% entre os que foram conselhei-ros). Isso indica, por inferncia, a possibilidade de que, entre os conse-lheiros, haja pessoas com elevada jornada de trabalho, mas cuja situaode emprego lhes permite flexibilidade em termos de administrao dotempo (veja-se que os autnomos representam praticamente 40% dosque j foram eleitos conselheiros Tabela 6).

    Em seu conjunto, os dados revelam que o tempo livre, por si s, no condio para a participao, seja nas assemblias ou nas instncias que exi-gem maior dedicao ao OP. H percentuais importantes que indicam prov-vel tempo livre (cerca de 1/3 do pblico) dos participantes, mas que tam-bm mostram parcela significativa destes com elevada jornada de trabalho. Acondio que parece realmente facilitar a participao dada pelas situaes

    sem horrio de trabalho fixo, tais como autnomos e aposentados, comovisto (Tabela 6), secundada pela situao dos desempregados.

    Observa 1ago2007.P65 1/8/2007, 20:0622

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    2 Caractersticas da participao

    O presente bloco de informaes abordar aspectos quantitativos

    da evoluo do OP, assim como dados relativos aos vnculos com as ins-tncias do mesmo e os graus de conhecimento sobre a dinmica da parti-cipao. Tambm sero apresentados dados sobre vnculos dos partici-pantes do OP com organizaes da sociedade civil. A fim de no distor-cer a quantificao dos participantes (j que, at 2001, os mesmos indiv-duos podiam participar das duas rodadas anuais) foi adotado o critrio daassemblia de maior participao, na primeira ou na segunda rodada.

    2.1 Nmero de participantes

    Fonte: PMPA. Conforme assemblia de maior participao, na primeira ou na segunda rodada.*Criao das Plenrias Temticas. **Mudana no ciclo do OP para Rodada nica. ***OPpara servidores somente nesse ano com participao de 4.562 (no somados aosparticipantes da sociedade civil)

    TABELA8 COMPARECIMENTOANUALNAS ASSEMBLIASDO OP (1990-2006)Ano Assemblias Regionais Assemblias Temticas Total Participantes1990 628 - 6281991 3.086 - 3.0861992 6.168 - 6.1681993 6.975 - 6.9751994* 7.000 1.011 8.0111995 6.855 1.641 8.4951996 6.574 1.079 7.6531997 8.183 2.895 11.0781998 9.553 2.237 11.7901999 11.736 3.040 14.7762000 11.476 2.901 14.3772001 13.891 2.721 16.6122002** 13.323 3.918 17.2412003 11.640 3.345 14.9852004*** 9.141 4.196 13.3372005 10.948 3.424 14.3722006 8.653 2.883 11.536

    Fonte: Fase, Cidade, PMPA e Abers (1995); Cidade (1999, 2002, 2003); Fedozzi (2005).

    TABELA9 COMPARECIMENTONO OP EMANOSANTERIORESETAXADEADESO (%)Anos Comparecimento anterior Taxa de adeso Total1995 51,4 48,6 1001998 60,5 39,5 1002000 52,7 43,5 1002002 52,5 47,5 1002005 68,1 31,7 100

    2.2 Participao em anos anteriores e taxa anual deadeso ao OP

    Os dados sobre o comparecimento anterior no OP indicam que pelomenos metade dos participantes, em cada edio das pesquisas, j haviafreqentado o OP anteriormente (entre 51% em 1995 a 68% em 2005).

    Quanto aos percentuais de adeso de novos participantes (ou a taxa deatratividade do OP), chama a ateno o elevado ndice verificado em 1995

    Observa 1ago2007.P65 1/8/2007, 20:0623

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    (48%), em funo da expanso da dinmica instaurada nos primeiros anosde existncia do OP. Aps uma dcada (2005), constata-se a menor taxa derenovao dos participantes, com 31,7% de iniciantes. A adeso foi menorainda nas Temticas (24%) comparativamente s Regies (33,8%).

    possvel que a interrupo do ciclo crescente do nmero de partici-pantes, at seu auge em 2002, seja conseqncia, entre outras causas, daforte diminuio da capacidade de investimentos da Prefeitura, devido crisefinanceira revelada nesse ano. O atendimento das demandas comunitrias a principal motivao da participao, como ser visto adiante. Comparan-do-se os dados de 2005 com os demais anos, observa-se crescimento acen-tuado do percentual que disse participar mais de 6 anos (Tabela 10). Possi-velmente, a diminuio da taxa de renovao, j comentada, contribua paraesse dado. Mas interessante observar que 11,6% declarou j ter participa-

    do 11 anos ou mais das edies do OP (sendo 17,7% nas temticas e 10%nas Regies). Adotando-se o critrio de 8 anos ou mais de participao (quecorresponderia h metade do tempo de existncia do OP, em 2005) o per-centual chega a 16%. Talvez esse seja o pblico cativo do OP, independente-mente de razes ligadas s demandas por obras e servios.

    Fonte: Fase, Cidade, PMPA e Abers (1995); Cidade (1999, 2002, 2003); Fedozzi (2005).

    TABELA10 PERCENTUALDONMERODEANOSDEPARTICIPAO (1995-2005)N Anos 1995 1998 2000 2002 2005

    1 46,6 38,9 35,7 30,8 19,62 23,0 18,7 20,7 20,8 15,33 11,0 12,0 13,1 12,3 13,84 6,15 7,6 8,0 6,1 8,35 2,6 4,3 3,6 4,0 11,26 10,7 3,5 3,5 2,9 4,7

    Mais de 6 - 15,0 15,3 23,0 27,1100 100 100 100 100

    2.3 Participao nas instncias do OP2.3.1 Participao nas Regies e nas Temticas

    Desde a criao das Plenrias Temticas, em 1994, as pesquisascom os participantes do OP apuraram informaes sobre possveis dife-renas entre os pblicos das duas instncias de base, as Assemblias Regio-nais e as Temticas. Como se pode ver na Tabela 11, h tendncia decrescimento percentual da participao das mesmas pessoas nas duas ins-tncias (de 21%, em 1998, para 45,8% em 2002), apesar da diminuiodesse percentual verificado em 2005 (cerca de 35%).

    A observao emprica da evoluo histrica do OP vem demonstran-do que o carter das Temticas se modificou, assemelhando-se dinmicacentrada nas demandas que prevalece nas Regies. possvel que, no con-texto de diminuio da capacidade de atendimento das demandas, pela Pre-feitura, as comunidades tenham visto nas Temticas, cada vez mais, uma es-

    trutura de oportunidade para canalizar suas demandas prioritrias, duplican-do, na prtica, o processo de formao da hierarquia das prioridades para a

    Observa 1ago2007.P65 1/8/2007, 20:0624

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    aplicao dos recursos. Talvez essa hiptese esteja presente no fato de asTemticas Organizao da Cidade, Desenvolvimento Urbano e Ambiental(OCDUA) e Cultura apresentarem os maiores ndices de participao nasduas instncias, isto , nas Regies e nas Temticas. Em geral, o pblico dessasduas Temticas enfrenta dificuldades (objetivas e subjetivas) para conquista-rem suas demandas por habitao (no caso da OCDUA) e por cultura. Ahabitao sempre foi uma das prioridades do OP, em especial a regularizaofundiria, com maiores dificuldades de atendimento pela Prefeitura. J a cul-tura, na dinmica regional do OP e diante das carncias bsicas materiais,encontra dificuldades para sua aprovao como prioridade nas Regies. Almdisso, os temas da habitao e da cultura contam com ativismo social relativa-mente forte. A Temtica OCDUA constituda pelo pblico de menor renda(24% dentre os que tm renda familiar at dois SM). A Temtica de Cultura

    possui o maior percentual de jovens na faixa de 16 a 25 anos (30%) (2005).

    Fonte: Cidade (1999, 2002, 2003); Fedozzi (2005).

    TABELA11 PARTICIPAONASINSTNCIAS REGIONAISE TEMTICASDO OP (%)Reunies do OP que participa 1998 2000 2002 2005Somente regio 57,5 51,2 48,1 55,3Somente temtica 6,4 5,8 5,6 7,1Regio e temtica 21,3 21,4 45,8 34,9NS ou NR 14,9 21,6 0,4 2,7Total 100 100 100 100

    Eleitos no OP 2005Total Regies Temticas

    Conselheiro(a) 3,7 3,8 7,7 5,9 15,0

    Delegado(a) 15,3 15,4 27,9 22,4 49,1Fonte: Cidade (1999, 2002, 2003); Fedozzi (2005).

    TABELA12 PERCENTUALDOSELEITOS CONSELHEIROSE DELEGADOSNO OP (%)20021998

    2.3.2 Eleitos delegados e conselheiros do OP

    A verificao do contingente que j exerceu funes de represen-tao no OP importante para se conhecer os diferentes vnculos e asdiferentes oportunidades abertas para o exerccio de funes distintasem sua estrutura e dinmica de funcionamento. Percebe-se, em 2005,que houve crescimento dos percentuais de membros eleitos, tanto con-selheiros quanto delegados, que representam quase o dobro dos eleitosem comparao com as pesquisas anteriores.

    Na Tabela 12 pode-se ver que 7,7% j foi eleito conselheiro (contra3,8%, em 2002) e 27,9% delegado (contra 15,4%, em 2002). Nas Temti-

    cas, os percentuais so ainda maiores: 15% para conselheiros e 49% paradelegados (2005). O aumento percentual dos que j foram eleitos pode-sedever diminuio da taxa de renovao do pblico que adentra no OP, em2005, combinado com a hiptese de possvel maior permanncia, nas edi-es anuais, daqueles que tenham construdo vnculos mais slidos com oprocesso. Todavia, os dados comparativos das pesquisas de 2000 e de 2002

    Observa 1ago2007.P65 1/8/2007, 20:0625

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    j apontavam para a tendncia de crescimento do nmero de vezes deeleio dos conselheiros. Considerando-se a eleio por 5 vezes ou mais,foram 2,2%, em 2000, contra 5%, em 2002. Em 2005, a maioria dos que jtinham exercido a funo de conselheiro o fizeram por mais de uma vez,sendo 44,8% entre 2 a 4 vezes (contra 41,7% em 2002) (Tabela 13). Quantoaos delegados, 25% deles foi eleito 5 vezes ou mais, contra 15,6% em2002 (Tabela 14). O crescimento do exerccio da representao pelas mes-mas pessoas pode indicar tanto o vnculo cvico proporcionado pela demo-cracia participativa, como tambm a estagnao da renovao de lideran-as comunitrias, com certa apropriao das funes de representao,j que as regras prevm a reeleio dos conselheiros para no mximo doismandatos anuais consecutivos.

    O perfil dos eleitos no OP apresenta assimetrias oriundas tanto

    dos diferentes nveis de ensino e de renda familiar, assim como da condi-o de gnero, como j vistos anteriormente.

    TABELA13 NMERODEVEZESDEELEIODOS CONSELHEIROS (%)

    Fonte: Cidade (2002, 2003); Fedozzi (2005).

    Nmero de vezes que foieleito(a) Conselheiro(a)?

    1 54,5 53,3 49,12 38,6 33,3 36,13 2,2 6,7 4,64 2,2 1,7 7,4

    5 ou mais 2,2 5,0 2,7Total 100 100 100

    2000 2002 2005

    Nmero de vezes que foieleito(a) Delegado(a)?

    1 62,9 45,5 33,12 20,9 21,7 21,93 12,7 11,1 12,54 4,9 6,1 7,6

    5 ou mais 3,8 15,6 25,0Total 100 100 100

    TABELA14 NMERODEVEZESDEELEIODOS DELEGADOS (%)

    Fonte: Cidade (2002, 2003); Fedozzi (2005).

    2000 2002 2005

    2.4 Conhecimento das regras do OPComparando-se globalmente os dados de 2005 com as pesquisas

    anteriores se percebe ampliao percentual sobre o nvel de conheci-mento das regras de funcionamento do OP: mais da metade dos partici-pantes disseram conhecer a maioria ou algumas das regras, contra34,4% em 2002 (Tabela 15). provvel que isso tambm se deva dimi-nuio do ingresso de novos contingentes no OP, isto , ao aumento per-centual da parcela que tm mais anos de participao. Trs condies

    interferem no processo de conhecimento das regras do OP: a) o maiortempo de participao; b) a experincia no exerccio de funes nas ins-

    Observa 1ago2007.P65 1/8/2007, 20:0626

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    tncias eletivas (conselheiro e/ou delegado); e c) o nvel de ensino dosparticipantes.

    5 Em funo da semelhana que as Assemblias Temticas assumiram com a dinmicadas Assemblias Regionais (baseada na escolha de prioridades), a pesquisa de 2005

    no se utilizou da pergunta qual a diferena entre as duas instncias?, como critrioutilizado anteriormente para testar o conhecimento das regras do OP.

    Fonte: Cidade (1999, 2002, 2003); Fedozzi (2005). * Em 1998, as categorias muito e mais oumenos foram consideradas equivalentes s utilizadas nas pesquisas posteriores,respectivamente, a maioria delas e apenas algumas. As demais categorias so idnticasem todas as pesquisas.

    TABELA15 CONHECIMENTODASREGRASDEFUNCIONAMENTODO OP (%)5

    Conhece as regras defuncionamento do OP? 1998* 2000 DelegadosConselheiros2002 2005Total10,739,119,428,02,8100

    18,425,318,533,3

    -100

    15,618,822,842,6

    -100

    25,7826,6418,2728,241,06100

    81,711,34,32,6-

    100

    61,324,310,83,6-

    100

    A maioria delasApenas algumasPoucasNo conheceNo sabe/no respondeuTotal

    O maior tempo de exposio ao processo tende a proporcionarmaior socializao das regras do jogo, mas isso no ocorre necessaria-mente. Somente a partir de 5 anos de participao que se verifica per-centual majoritrio (67,3%) associado resposta que diz conhecer amaioria das regras. So elevados os percentuais, entre o pblico queparticipa de 2 a 4 anos, que no conhecem (40%) ou conhecempouco (45%) as regras do OP, conforme pode ser visto na Tabela 16.

    Por sua vez, os grupos com nveis mdio e superior de ensino es-to associados s respostas que disseram conhecer a maioria das regras

    (mais de 50% com esses nveis de ensino), enquanto que a opo noconhece est associada ao pblico com ensino fundamental incompleto.Tambm h diferenas nas respostas entre o pblico das Regies e dasTemticas. O conhecimento da maioria das regras foi apontado por44,6% do pblico das Temticas e por 21% do pblico das Regies. Nooutro extremo, a resposta no conhece as regras atingiu 11,4% nas

    TABELA16 CONHECIMENTODASREGRASECRITRIOSDO OP, TEMPODE OP ENVELDE ENSINO (%)

    Fonte: Fedozzi (2005). *Completo e incompleto

    Conhecimento das

    regras e critriosde funcionamentodo OP

    Tempo de OP (anos) Nvel de Ensino*

    1 ano

    11,133,223,132,7100

    De 2 a 4

    25,938,021,414,8100

    De 5 a 7

    47,730,515,26,6100

    8 ou mais

    64,024,39,62,1100

    Fundamental

    14,725,419,440,6100

    Superior ouPs-Graduao

    Mdio

    30,230,620,019,2100

    A maioria das regrasApenas algumasPoucasNo conheceTotal

    53,524,312,210,0100

    Observa 1ago2007.P65 1/8/2007, 20:0627

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    Fonte: Cidade (1999, 2002, 2003) e Fedozzi (2005).

    TABELA17 FALARNASREUNIESDO OP (%)Costuma falar nasreunies do OP? 1998 2000 DelegadosConselheiros

    20022005

    Total5,96,8

    18,762,85,8

    100

    10,018,315,849,86,1

    100

    12,214,221,851,8

    -

    100

    10,57,2

    22,357,32,7

    100

    44,822,423,39,5-

    100

    26,715,536,021,9

    -

    100

    SempreQuase sempre

    s vezesNuncaN/R

    Total

    Temticas e 33% nas Regies. provvel que essa assimetria se devatanto ao maior tempo de participao do pblico das Temticas, assimcomo pelos diferentes nveis de ensino que caracterizam o perfil dos doispblicos, conforme j comentado.

    Esses dados, que mostram a exigncia de longo tempo de partici-pao e a influncia das diferenas oriundas dos nveis de ensino para asocializao do conhecimento sobre o funcionamento do OP, indicam,provavelmente, tanto a complexidade do processo (que parece aumen-tar a cada ano, inclusive com ampliao dos critrios tcnicos), como aausncia de uma metodologia efetivamente pedaggica, capaz de tornaracessvel para todos (em especial, para a grande maioria que pertence scamadas de baixa renda e de baixa escolaridade), o pleno domnio dasregras do jogo e dos critrios de funcionamento do OP. Como se sabe, a

    participao autnoma requer no somente o conhecimento das regrasdo jogo, mas tambm a participao igualitria no procedimento de suaelaborao. Essa uma condio para o exerccio do poder de comparti-lhar decises com os outros e com a Administrao Municipal.

    2.5 Falar no OPA anlise dos dados sobre falar no OP parece indicar, em princpio,

    no ter havido alterao significativa na comparao entre os anos pes-quisados. A partir de 1998, a resposta costuma sempre falar cresceu de5,9% para 10% (2000) e para 12% (2002). Em 2005, essa mesma res-posta foi apontada por 10,5%. A resposta que diz nunca costumar falar majoritria em todos os anos pesquisados, variando entre cerca de 50%a 60% dos entrevistados. Como esperado, conselheiros e delegados exer-citam muito mais a prtica discursiva nas instncias do OP (Tabela 17).

    Verifica-se diferenas na ao interativa pela fala quando so cruza-das as respostas dadas pelos entrevistados com fatores como: tempo departicipao, sexo, nvel de ensino e participao nas Regies e/ounas Temticas. O maior tempo de participao aumenta as possibilida-des de aprendizagens interativas e dialgicas. Os que disseram que falam

    sempre e quase sempre esto associados com o tempo de participa-o de 8 anos ou mais. J os que declararam nunca falar esto associa-

    Observa 1ago2007.P65 1/8/2007, 20:0628

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    dos com perodos de tempo de at 4 anos. No se pressupe que todosinterajam de forma discursiva. Mas, na perspectiva da aprendizagem de-mocrtica, espera-se que, com o passar do tempo, as pessoas sejam en-corajadas a dialogar com os outros. O fato de participar de 2 a 4 anos enunca falar significativo nesse sentido (representa 61% do pblicocom esse tempo de OP) (Tabela 18). Talvez esse dado seja um dos indica-dores da presena de um pblico que, por vezes, levado s reuniespor meio de prticas conhecidas como inchao, isto , para fazer n-mero, observadas em algumas assemblias Regionais e Temticas. Asjustificativas votar, ser chamado, convocado e convidado repre-sentam 9,6% das razes alegadas para participar.

    Assim como na avaliao sobre o conhecimento das regras do OP,o nvel de ensino tambm se mostra interveniente na prtica de falar no

    OP. Como se pode ver na Tabela 18, h correlao entre os diferentesnveis de ensino e a prtica de falar.Outro critrio importante a idade. Entre os que disseram sem-

    pre falar, apenas 9% esto na faixa dos 16-25 anos. Acima dos 42 anos,so 57% e acima dos 50 anos, so 40%. Na resposta que diz quasesempre falar, a faixa entre 42-60 anos corresponde a 43%. A juventudeque participa do OP (19% em 2005) parece ser menos ativa comparati-vamente aos outros. Tambm as mulheres exercitam menos a fala com-parativamente aos homens: obtiveram percentuais menores nas respos-tas sempre (46% a 54%) e quase sempre (39% a 60%), e maioresnas respostas s vezes (52% a 48%) e nunca (56% a 44%). Por fim,a atividade discursiva mais freqente nas Temticas: 22,4% disse falarsempre contra 7,7% nas Regies; 37% das Temticas nunca costumafalar nas reunies contra 64,6% nas Regies.

    A ao discursiva se mostra importante tambm quando so anali-sados outros itens que constituem condies para a participao autno-ma, como o caso do conhecimento das regras de funcionamento doOP. O maior conhecimento est fortemente associado interao dis-cursiva no OP, assim como s motivaes da participao baseadas nas

    Fonte: Fedozzi (2005). *Completo e incompleto.

    TABELA18 COSTUMASEINSCREVERPARAFALARNASREUNIESDO OP, TEMPODE OP E NVELDE ENSINO (%)

    Costuma seinscrever para falarnas reunies do OP

    Tempo de OP (anos) Nvel de Ensino*

    1 ano

    5,57,0

    22,065,5

    100

    De 2 a 4

    8,25,324,961,6

    100

    De 5 a 7

    16,28,6

    30,344,9

    100

    8 ou mais

    24,217,132,526,3

    100

    Fundamental

    8,45,0

    20,366,2

    100

    Superior ouPs-Graduao

    Mdio

    12,58,524,854,2

    100

    SempreQuase sempre

    s vezesNunca

    Total

    15,012,326,945,8

    100

    Observa 1ago2007.P65 1/8/2007, 20:0629

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    Fonte: Fase, Cidade, PMPA e Abers (1995); Cidade (1999, 2002, 2003); Fedozzi (2005).

    TABELA19 FREQNCIARELATIVADAPARTICIPAODOPBLICODO OP EMENTIDADES

    Anos 1995 1998 2000 2002 2005Consel. Deleg. Regies Temticas

    Participaes em

    entidades (%)75,9 66,9 60,9 61,1 56,9 93,1 85,4 51,0 82,0

    2005

    noes de democracia, cidadania, participao e fiscalizao do proces-so, e de vnculos entre valores comunitrios e democracia. Diversa-mente os que justificam a sua participao somente por demandas, es-to associados resposta nunca costuma falar no OP. A interao dis-cursiva, como aprendizagem democrtica e de cidadania, ainda um gran-de desafio pedaggico para a evoluo mais igualitria das oportunidadesde crescimento social e individual criadas pelo OP.

    3 Vnculos do pblico do OP com organizaes da sociedade civil

    3.1 Participao em entidades entre osintegrantes do OP

    Nesse item, procura-se investigar as possveis relaes entre a di-nmica participativa instaurada pelo OP e o associativismo dos seus inte-grantes. Como se sabe, a criao do OP contou com uma base associativadas camadas populares em Porto Alegre com densidade e diversidadesignificativa, sendo esse um dos fatores que provavelmente influenciou aqualidade adquirida pelo processo de co-gesto na cidade. Tambm valedizer que a escolha da forma da participao, se individual e aberta ou pormeio da representao de entidades, como as Associaes de Morado-res, constituiu-se em discusso polmica no modelo que estava sendoconstrudo entre 1989-1992.

    De forma global, os dados comparativos indicam clara tendnciade diminuio do percentual de associativismo por parte do pblicoque participa do OP anualmente: passou de 76%, em 1995, para 57%(Tabela 19). Nas Regies, o percentual ainda mais baixo (51%), com-parativamente s Temticas (82%). As razes e o significado dessa ten-dncia merecem reflexo e pesquisa especfica. O carter aberto par-ticipao individual, entretanto, no parece constituir condio propciapara o encaminhamento de demandas ou para a ocupao de funesna estrutura e na dinmica do processo. Veja-se que 93% dos conse-

    lheiros e 85,4% dos delegados, em 2005, disseram participar de entida-des. Isto , as organizaes ou movimentos da sociedade civil continu-am desempenhando o papel de catalisadores e de mediadores da maiorparte da ao coletiva que se processa na dinmica do OP.

    Observa 1ago2007.P65 1/8/2007, 20:0630

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    As Associaes de Moradores continuam sendo com larga mar-gem (como o demonstram todas as pesquisas realizadas at agora) asentidades mais vinculadas ao processo de discusso oramentria. E issoprovavelmente pelo carter territorial de sua ao e por sua tradio deorganizao capilar na cidade6. O maior percentual de associativismo seencontra na faixa dos que participam entre 2 a 4 anos (34,8%). Entre-tanto, os percentuais de associativismo daqueles que participam de 8 a10 anos e de 11 anos ou mais, somam 28,7%. Ou seja, 1/3 dos parti-cipantes veteranos possui vnculos com organizaes sociais, o que podeindicar efeitos do OP no tecido associativo. Essa hiptese, entretanto,pode ser enganosa. Certamente eis um tema que requer maior investiga-o emprica no balano dos resultados obtidos pelo OP quanto ao forta-lecimento do tecido social comunitrio (Tabela 20).

    6 Ver o estudo de Marcelo Kunrath da Silva (UFRGS) sobre as caractersticas das AMs,

    que constitui o Projeto Mapa do Associativismo e da Democracia Participativa juntoao Observatrio da Cidade de Porto Alegre (www.observapoa.com.br).

    Fonte: Fedozzi (2005)

    TABELA20 TEMPODE OP EPARTICIPAOEMENTIDADESCIVISTempo de participao no OP (anos) Participao em entidades (%)

    1 15,4De 2 a 4 34,8De 5 a 7 21,1

    De 8 a 10 7,111 ou mais 21,6

    Total 100

    A Tabela 21 permite conhecer, de forma comparativa, o rol das

    organizaes sociais indicadas como a de maior vnculo pelos participan-tes nas edies pesquisadas. Trata-se das respostas dadas pergunta (comescolha nica): Qual entidade voc mais participa?. Chama a ateno odecrscimo percentual significativo de algumas delas, tais como: comis-ses de rua, partidos polticos, conselhos populares e sindicatos. As co-misses de rua, dentre outras motivaes, proliferaram-se vinculadas luta pela pavimentao e pelo saneamento bsico, demandas essas priori-zadas em grande parte na fase anterior do OP. J os sindicatos, historica-mente pouco presentes, passaram a se interessar pelo OP aps a criaodas Temticas (1994), mas voltaram presena nfima. Quanto aos parti-dos polticos, interessante notar que, apesar da alternncia de poder naAdministrao indita na histria do OP , eles obtiveram percentuaismenores de participao do que os verificados desde a pesquisa de 1998.

    J o decrscimo da participao nos Conselhos Populares ou Uni-es de Vilas altamente significativo na histria do OP. Essas organizaessurgiram no final da dcada de 1970 e nos anos 80 e desempenharam umpapel importante de mobilizao autnoma das comunidades a partir da

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    articulao de vrias entidades em uma mesma regio da cidade. Foi ocaso das regies Glria, Cruzeiro, Partenon, Norte e Lomba do Pinheiro,que j abarcavam a maioria dos ncleos de sub-habitao em expansodesde a dcada de 19607. Em 1995, a presena de pblico integrante des-sas organizaes autnomas chegou a ser de 61,5% na Glria, 30% noPartenon, 23,5% na Cruzeiro, 16,6% nas Ilhas e 13% na Regio Norte.Na Temtica de Sade, chegou a ser de 25%. Algumas Regies, em 1995,tambm apresentavam alto grau de vnculo com as Associaes de Mora-dores, como o caso da Cruzeiro (82%), da Sul (75%), da Norte (64%)e da Glria (61%) (Fase, PMPA, Cidade, Abers, 1995).

    O declnio da participao dos Conselhos Populares (de 3,9%, em1995, para menos de 1%, em 2005)8 pode indicar as dificuldades objeti-vas e subjetivas (como tempo e conscincia, respectivamente) para man-

    ter a autonomia dos movimentos populares frente ao Estado e s esferasde co-gesto. Em grande parte, os Fruns de Delegados passaram a subs-tituir a ao coletiva que antes ocorria pela mobilizao dos Conselhos,

    7 Sobre a ao dos movimentos populares em Porto Alegre e seu papel na criao doOP ver Baierle (1993), Fedozzi (2000) e Silva (2002).

    8 O percentual se refere pergunta com resposta nica Qual a entidade que maisparticipa?. A mesma pergunta com resposta mltipla indica um percentual maior departicipao dos Conselhos Populares: 8,7% em 1995, 4% em 1998, 3,7% em 2000,

    3,5% em 2002 (em 2005 foi solicitada apenas resposta nica). A tendncia, como sev, de queda percentual dessas organizaes.

    Fonte: Fase, Cidade, PMPA e Abers (1995); Cidade (1999, 2002, 2003); Fedozzi (2005). * A Tabela21 contm os percentuais de escolha nica para a entidade em que mais participa. evidenteque no caso da escolha mltipla h aumento dos percentuais, j que muitos indivduosparticipam em mais de uma entidade. ** Em 1995 e 1998, a contagem somou os percentuaisdos grupos religiosos e culturais.

    TABELA21 TIPOSDEASSOCIATIVISMODOSPARTICIPANTESDO OP (%)*

    Em qual entidade voc mais participa? 1995 1998 2000 2002 2005

    Associao de Moradores 61,8 47,6 44,8 65,3 54,6Grupos (Religiosos e Culturais)** 8,7 8,2 - - -Grupos Religiosos - - 5,9 3,1 4,7

    Grupos de Cultura, Esporte, Recreao e Carnaval 4,6 4,5 6,4 4,7 6,9Movimentos Sociais e ONGs - - 3,1 4,7 15,6Comisses de Rua 5,3 2,5 2,2 1,8 1,9Conselhos Populares/Articulaes Regionais 3,9 2,0 1,2 2,4 0,4Centros Comunitrios (Governamentais) 2,7 2,7 1,4 2,3 3,4Clube de Mes 1,9 0,9 1,4 1,1 3,9Sindicatos 1,5 4,3 2,9 2,4 1,6Partidos Polticos 1,9 3,0 2,4 2,4 2,1Conselhos e Comisses Institucionais 0,5 3,7 4,0 0,6 4,8Outras 7,2 9,8 9,5 8,6 -NR - 10,8 14,8 0,6 -

    Total 100 100 100 100 100

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    configurando uma interao tendencialmente dependente da agenda eda iniciativa governamental. O tema da autonomia dos atores populares um dos grandes desafios da encruzilhada histrica que se encontra o OP.

    Por outro lado, o crescimento percentual mais expressivo o doschamados movimentos sociais e ONGs, alm dos Clubes de Mes.Possivelmente, o crescimento percentual desses ltimos (de 1,9%, em 1998,para 4,13%, em 2005) conseqncia do aumento da demanda por cre-ches e por assistncia social e os respectivos convnios com a Prefeiturapara esses fins. O novo contexto internacional vem modificando o carterde alguns movimentos associativos ao delegar para entidades da sociedadecivil funes de prestao de servios financiados pelo Estado. Esse fatorequer anlise apurada por suas implicaes na autonomia das organizaessociais. Alm disso, em alguns casos, h crticas quanto a prticas que indi-

    cam possvel indiferenciao entre o que pblico e o que privado nagesto de entidades conveniadas e que prestam servios assistenciais.J o significativo crescimento percentual dos movimentos sociais

    e ONGs (quase 150% entre 2002 e 2005) novidade no OP. Trata-sede movimentos especficos, no moldados pelo associativismo comunit-rio tradicional (AMs), e ligados aos temas da habitao, da cultura, degneros, de etnias, das pessoas com deficincia, etc. Eles se expressamcomo movimentos com prticas e organizaes distintas ou como ONGs,algumas delas criadas por dentro do OP e sob seu estmulo direto9.

    3.2 Preferncias partidrias dos integrantes do OPOs dados sobre preferncias partidrias demonstram, mais uma

    vez, que cerca da metade dos participantes no tem preferncia partid-ria. Esse dado relevante, pois o OP foi comumente criticado pressu-pondo-se que os participantes eram vinculados ao PT, partido que inau-gurou a experincia. Entre os que declararam ter preferncia, o PT obte-ve historicamente maioria, chegando a quase 40% em pesquisas anterio-res. No obstante, na pesquisa de 2005, houve decrscimo moderado dapreferncia pelo PT, juntamente com o aumento dos percentuais dos par-

    tidos que formaram a nova coligao governamental, a partir de 2005. Asoma dos partidos PPS, PTB, PMDB, PDT, PP e PSDB pulou de 3,9% em2002 para 14% das preferncias em 2005. Ou seja, crescimento de maisde 200% no perodo entre as duas pesquisas (Tabela 22).

    A anlise por Regies e por Temticas demonstra que o PT e oPTB obtiveram percentuais semelhantes nas duas instncias. O PDT, oPMDB e o PPS obtiveram maior preferncia nas Regies, enquanto osdemais partidos o tiveram nas Temticas.

    9 O livro Caminhando para um novo mundo. O OP de Porto Alegre visto pela comunidade

    (Vozes, 2003), organizado pela ONG Solidariedade um exemplo significativo. Tam-bm pode-se citar, entre outras, a ONG Resistncia Participativa-Despertar Coletivo.

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    4 Percepo e avaliao do OP

    O presente bloco analisa dados relativos a alguns itens considera-dos importantes para a avaliao que os participantes fazem sobre o OP.No primeiro momento, sero destacadas duas questes: razes da parti-cipao e poder de deciso da populao sobre os recursos oramentrios.Posteriormente, sero apresentados resultados de perguntas que objeti-varam conhecer a expectativa dos participantes, em 2005, quanto ao fu-turo do OP, j que no momento da pesquisa o contexto era marcado peloincio de uma nova gesto poltico-administrativa indita em sua histria.

    4.1 Razes da participaoAs respostas dadas pergunta sobre as razes da participao de-

    monstram que o maior percentual isolado, em todos os anos pesquisados, o das demandas. Como se pode verificar na Tabela 23, houve inclusiveacrscimo em relao a 1998 (de 36,8% para 46,1% em 2005). Todas asrespostas somadas que citam as demandas, junto com outras razes, che-gam a 61% do total em 2005 (contra 50,8%, em 1998). Mesmo dentreaqueles que participam 8 anos ou mais, esse percentual o maior (39,8%),embora com tendncia de decrscimo ao longo do tempo.

    Apesar do tempo relativamente longo de existncia do OP e domontante de recursos investido em prioridades bsicas, a reproduo dadesigualdade de acesso infra-estrutura e aos servios continua existindo(devido a fatores estruturais e locais) e mobilizando o interesse majorit-rio da populao que procura o OP. Alm disso mais uma vez bomlembrar houve diminuio do atendimento das demandas nos ltimosanos, em funo da queda da capacidade de investimentos do Municpio.

    Por se tratar de pergunta aberta sobre as razes da participao, aanlise das respostas, em 2005, permite verificar os possveis significados

    atribudos participao. Em termos percentuais, alm das demandas,as outras justificativas so respectivamente: existncia de vnculos entre

    Sem preferncia 40,7 55,8 49,3PT 38,9 38,1 32,6

    PDT 1,8 1,7 3,5PMDB 1,9 0,9 3,2PTB 0,7 0,6 3,2PC do B 0,3 0,9 0,7PPS 0,2 0,4 2,9Outros 1,4 0,8 1,84NR 14,2 0,8 2,6Total 100 100 100

    TABELA22 PREFERNCIAPARTIDRIADOSPARTICIPANTESDO OP (%)*

    Fonte: Cidade (2000, 2003), Fedozzi (2005). * Considerou-se apenas os partidos que obtiverammais de 0,5% das preferncias na pesquisa de 2005.

    Qual partido tem simpatia 2000 2002 2005

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    valores comunitrios e democracia (15,2%); noes baseadas na idiade que o OP promove democracia, cidadania, participao e fiscalizaodas decises (13,7%); e ser chamado, demandar, conhecer e se queixarde obras malfeitas (10,2%) (Tabela 23).

    Fonte: Cidade (1999); Fedozzi (2005).

    TABELA23 R AZESDAPARTICIPAONO OP (%)2005

    Total Conselheiros Delegados

    Demandas 36,8 46,1 28,4 42,8Demandas e vnculos comunitrios 10,5 6,3 4,6 7,6Demanda, participao e democracia 3,5 8,6 13,8 8,1Ser chamado, demandar, conhecer e obras malfeitas 7,7 10,2 2,8 3,1Democracia, cidadania, participao e fiscalizao 11,4 13,7 30,3 17,8

    Valores comunitrios vinculados democracia 24,4 15,2 20,2 20,6Outras 5,7 - - -

    Total 100 100 100 100

    Por que participar? 1998

    Outras caractersticas mostram associaes interessantes para sepensar os possveis efeitos e limites do OP em termos de aprendizagenspara a cidadania e a cultura democrtica. Analisando-se as respostas portempo de OP, verifica-se associao entre os iniciantes (um ano) e a res-posta conhecer, se informar, ser chamado ou convidado (tambm comjovens de 16 a 25 anos). O grupo que participa entre 2 a 4 anos mantmcorrelao com essa mesma resposta, mas tambm com as demandas.

    J os veteranos (8 anos ou mais) indicaram significados baseados nas no-es de democracia, cidadania, participao e fiscalizao das decises.H diferenas significativas tambm entre os que j foram eleitos con-

    selheiros e/ou delegados e os que no o foram. Os delegados esto associ-ados s respostas demandas e vnculos comunitrios; democracia, cida-dania, participao e fiscalizao das decises; e valores comunitrios vin-culados democracia. J os conselheiros, alm das mesmas duas ltimasrespostas, esto associados tambm a demandas, participao e democra-cia. A resposta democracia, cidadania, participao e fiscalizao das deci-ses tem o maior percentual dentre os conselheiros (30,3%), sendo que

    essa mesma resposta significativa para os que conhecem a maioria dasregras e costumam sempre falar no OP. Contrariamente, os que nuncaexerceram funes nas instncias do OP esto associados s respostas de-mandas (isoladamente) e conhecer, se informar, ser chamado ou convida-do. Eles tambm esto associados ao fato de no conhecer as regras,nunca falar no OP e no pertencer a entidades. Esses dados, em con-junto, indicam que a experincia do envolvimento denso com o OP podeestar produzindo aprendizagens importantes para a cultura de cidadania.

    O Grfico 1 mostra uma combinao de tendncias que pode indicar

    a construo de valores relativos cultura democrtica e de cidadania aolongo do tempo de participao. Como se pode ver, em todos os perodos

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    representativos de tempo de OP, as demandas so apontadas como amaior justificativa da participao. Mas, a partir de 5 anos ou mais, ocorrecrescimento da resposta que percebe a participao ligada a valores comodemocracia, cidadania e fiscalizao do processo. Por outro lado, alm dotempo de OP e da experincia em suas instncias coletivas, outras variveisinterferem na significao atribuda a esse processo de decises. Quantomaior o nvel de ensino e de renda, maior a tendncia de relacionar a parti-cipao aos valores da democracia e da cidadania e aos vnculos com avida comunitria: o grupo com ensino fundamental e renda familiar at 2SM est correlacionado s respostas demandas e conhecer, se infor-mar,...; o grupo com nvel secundrio de ensino e renda de 4 a 8 SM relaci-ona-se democracia, cidadania, participao e fiscalizao das decises; ogrupo de ensino superior e renda acima de 8 SM, alm dessa mesma ltima

    percepo, tambm est associado justificativa baseada em valores co-munitrios vinculados democracia e gostar de participar.Essa concepo genrica de democracia participativa (que alia pro-

    cedimentos ao acesso material a direitos), verificada conforme aumentao tempo de participao, deixa em aberto a questo de abarcar ou no ademocracia representativa, dada a histrica tenso entre o OP e a Cmarade Vereadores, por exemplo. Esse tema que diz respeito cultura demo-crtica certamente requer maior ateno na avaliao sobre o OP10.

    10 Ver DIAS, Mrcia R. Sob o signo da vontade popular. o OP e o dilema da Cmara Muni-

    cipal de Porto Alegre. UFMG/IUPERJ (2002) e FEDOZZI, Luciano. O Poder da aldeia Gnese e histria do Oramento Participativo em Porto Alegre. Tomo Editorial (2000).

    GRFICO 1 RAZESDAPARTICIPAOE TEMPODE OPFonte:Fedozzi(2005)

    Razes da participao por tempo de OP

    DemandasConhecer, se informar, ser chamado, votar, se queixar de obras malfeitasDemocracia, cidadania, participao e fiscalizao do processoValores comunitrios vinculados democracia e gostar de participar

    8 anos ou mais

    De 5 a 7 anos

    De 2 a 4 anos

    1 ano

    0% 10% 20% 30% 40% 50% 60%

    41,6%17,4%

    11,6%15,3%

    50,1%14,3%

    9,1%11,8%

    50,36%4,7%

    14,1%18,8%

    39,8%2,2% 22,6%

    17,3%

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    Ainda persiste no OP o desafio da superao da pedagogia espon-tnea e a adoo de mtodos efetivamente pedaggicos, para diminuiras assimetrias no processo de construo de valores, especialmente en-tre os extratos populares mais pobres, os quais, tudo indica, apresentamdiferenas quanto (re)significao de sua participao para alm da no-o instrumental (embora legtima) da demanda em si mesmo11.

    4.2 Poder de deciso dos participantes no OPUma das principais questes para avaliar a eficcia da participao

    nos OPs diz respeito ao grau de poder real que a populao tem nasdecises sobre os recursos pblicos. A Tabela 24 expe a evoluo daopinio sobre esse item em cinco pesquisas que cobrem uma dcada(1995 a 2005). Como se pode ver, a partir de 2002 (quando a situao de

    dficit oramentrio impediu a execuo dos planos de investimentosaprovados pelo OP), ocorreram mudanas no padro das respostas, evi-denciando descontentamento dos participantes com a ineficcia do pro-cesso decisrio. Tomando-se o perodo de 1995 a 2005, diminuiu o per-centual da resposta sempre decide (de 33% para 27,14%), com o con-comitante aumento da resposta s vezes decide (de 23,8% para33,04%). A soma das respostas s vezes decide e nunca decide, queera de 24,4%, em 1995, cresceu para 36,03%, em 2005. A restriooramentria , hoje, um dos principais impedimentos (entre outros), sustentabilidade do modelo de co-gesto criado pelo OP.

    A investigao mais apurada sobre possveis diferenas de opinio quantoao poder real de deciso no OP demonstrou que conselheiros e delegadostendem a avaliar mais positivamente esse item. Somando-se as opes sem-pre e quase sempre, obtm-se 74% das respostas entre quem j foi dele-gado (contra 50,7% dos que no o foram) e 77% entre os que j foramconselheiros (contra 55,4% dentre os que no o foram). Dentre os que nun-ca foram conselheiros e/ou delegados, o maior percentual das respostas aque diz que a comunidade s vezes decide (34%) (Tabela 24).

    11 Sobre a contribuio do OP na construo da conscincia de cidadania, ver o estudo:

    O Eu e os Outros A construo da conscincia social no Oramento Participativode Porto Alegre, FEDOZZI, Luciano. Tomo Editorial/UFRGS (no prelo).

    Fonte: Fase, Cidade, PMPA e Abers (1995); Cidade (1999, 2002, 2003); Fedozzi (2005).

    TABELA24 PODERDEDECISODAPOPULAONO OP (%)Na sua opinio, a populao deciderealmente sobre obras e servios no OPSempre 33,0 30,2 29,4 29,1 27,14Quase sempre 27,3 27,0 34,0 39,9 29,99

    s vezes 23,8 23,9 13,3 15,3 33,04Nunca 0,6 2,8 1,9 1,6 2,99No sei 8,2 10,7 14,8 13,9 6,85Total 100 100 100 100 100

    1995 1998 2000 2002 2005

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    Tambm h relao entre maior tempo de OP e a avaliao maispositiva de sua eficcia: os iniciantes (1 ano) esto associados tanto opi-nio s vezes decide, como situao de no saber opinar quanto aisso; os que participam entre 5 a 7 anos esto resposta quase sempredecide; os veteranos (8 anos ou mais), opinio sempre decide. Sabe-se que o atendimento das demandas processo longo, que exige persis-tncia das pessoas, pois o OP enfrenta o clssico dilema que opem re-cursos escassos versus demandas reprimidas.

    Em geral, os dados demonstram avaliao mais positiva quantoao poder de deciso em todas as situaes de vnculos mais fortes dosparticipantes, seja com o OP ou com organizaes da sociedade civil.Assim, h associao entre as respostas sempre e quase sempre com:(a) os participantes de entidades e de movimentos sociais; (b) os que

    falam no OP; (c) os que conhecem as regras de seu funcionamento; (d) osque tm simpatia por partidos polticos. Dentre esses ltimos, a opiniosobre o maior poder de deciso est associado com os que tm prefe-rncia pelos partidos que compunham a Administrao Popular (PT,PCdoB, PSB e PCB). Inversamente, os simpatizantes da coligao quepassou a administrar o Municpio (PPS-PTB) esto associados com as opi-nies que a populao s vezes e nunca decide no OP.

    A opinio menos favorvel sobre o poder de deciso no OP, porparte dos que possuem laos menos fortes com ele ou com entidades dasociedade civil, possivelmente se deva ao fato de que esses o avaliem apartir de expectativas altas quanto ao atendimento das carncias das co-munidades em geral. J os conselheiros e os delegados tm a oportunida-de (e o desafio) de vivenciarem, na prtica, todas as fases do processo, oqual exige discusso e negociao com os outros moradores e com oGoverno, at a aprovao das prioridades e do Plano de Investimentos.Assim, provvel que os representantes, aps a execuo das obras apro-vadas, tenham maior satisfao com o poder decisrio, comparativamen-te ao conjunto dos participantes que no vivenciaram essa experinciadecisria. Alm disso, possvel que os pertencentes a organizaes so-

    ciais valorizem mais o OP, comparativamente ao perodo em que ele noexistia, apesar da margem de atendimento das demandas anuais ser rela-tivamente pequena.

    5 Expectativa quanto ao futuro do OP na gesto 2005-2008

    Na pesquisa de 2005, foram apresentadas novas perguntas visandoconhecer a expectativa dos participantes quanto ao futuro do OP, j quenaquele ano ini