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OBSERVAÇÕES SOBRE A LEI 12.015, DE 7 DE AGOSTO DE 2009 1. Ementa da lei: “Altera o Título VI da Parte Especial do Decreto-Lei n o 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, e o art. 1 o da Lei n o 8.072, de 25 de julho de 1990, que dispõe sobre os crimes hediondos, nos termos do inciso XLIII do art. 5 o da Constituição Federal e revoga a Lei n o 2.252, de 1 o de julho de 1954, que trata de corrupção de menores”. Observações: - houve profundas alterações na tipificação penal de condutas ofensivas à dignidade pessoal, independente do gênero; - em relação às denominações do Título e dos respectivos Capítulos constantes do Código Penal: o Título VI do Código Penal (Decreto-Lei n. 2.848/1940) denominava-se “DOS CRIMES CONTRA OS COSTUMES”. Com a alteração legal passou a ser “DOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL”. Houve algumas alterações em relação aos respectivos Capítulos, a saber: Capítulo I – DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL (não houve alteração); Capítulo II – DOS CRIMES SEXUAIS CONTRA VULNERÁVEL (não havia tal previsão anteriormente, pois o capítulo era denominado “DA SEDUÇÃO E DA CORRUPÇÃO DE MENORES”); Capítulo III (“DO RAPTO” – revogado pela Lei n. 11.106/2005); Capítulo IV (não houve alteração – “DISPOSIÇÕES GERAIS”); Capítulo V (houve alteração na denominação: “DO LENOCÍNIO E DO TRÁFICO DE PESSOAS” para “DO LENOCÍNIO E DO TRÁFICO DE PESSOAS PARA FIM DE PROSTITUIÇÃO OU OUTRA FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL”; Capítulo VI (“DO ULTRAJE PÚBLICO AO PUDOR” – não houve alteração); Capítulo VII (antes não previsto - “DISPOSIÇÕES GERAIS”); Axioma Jurídico – Abrão Amisy Neto 1

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Page 1: OBSERVAÇÕES SOBRE A LEI 12.015, DE 7 DE AGOSTO DE … · DOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL CAPÍTULO I DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL 1 Dos crimes em espécie 1.1 Estupro

OBSERVAÇÕES SOBRE A LEI 12.015, DE 7 DE AGOSTO DE 2009

1. Ementa da lei:

“Altera o Título VI da Parte Especial do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, e o art. 1o da Lei no 8.072, de 25 de julho de 1990, que dispõe sobre os crimes hediondos, nos termos do inciso XLIII do art. 5o da Constituição Federal e revoga a Lei no 2.252, de 1o de julho de 1954, que trata de corrupção de menores”.

Observações:

- houve profundas alterações na tipificação penal de condutas ofensivas à dignidade pessoal, independente do gênero;

- em relação às denominações do Título e dos respectivos Capítulos constantes do Código Penal: o Título VI do Código Penal (Decreto-Lei n. 2.848/1940) denominava-se “DOS CRIMES CONTRA OS COSTUMES”. Com a alteração legal passou a ser “DOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL”. Houve algumas alterações em relação aos respectivos Capítulos, a saber: Capítulo I – DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL (não houve alteração); Capítulo II – DOS CRIMES SEXUAIS CONTRA VULNERÁVEL (não havia tal previsão anteriormente, pois o capítulo era denominado “DA SEDUÇÃO E DA CORRUPÇÃO DE MENORES”); Capítulo III (“DO RAPTO” – revogado pela Lei n. 11.106/2005); Capítulo IV (não houve alteração – “DISPOSIÇÕES GERAIS”); Capítulo V (houve alteração na denominação: “DO LENOCÍNIO E DO TRÁFICO DE PESSOAS” para “DO LENOCÍNIO E DO TRÁFICO DE PESSOAS PARA FIM DE PROSTITUIÇÃO OU OUTRA FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL”; Capítulo VI (“DO ULTRAJE PÚBLICO AO PUDOR” – não houve alteração); Capítulo VII (antes não previsto - “DISPOSIÇÕES GERAIS”);

Axioma Jurídico – Abrão Amisy Neto 1

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- em relação à Lei dos Crimes Hediondos (LCH - Lei n. 8.072/1990): alteração do art. 1º da lei especial, especialmente quanto aos incisos V (estupro) e VI (estupro de vulnerável), presentes no rol legal dos crimes hediondos. Reflexo involuntário da Lei 12.015/2009 é a impossibilidade de aplicação do aumento de pena constante do art. 9º da Lei dos Crimes Hediondo em razão da revogação do art. 224 do Código Penal (o que será objeto de análise posterior);

- revoga a Lei n. 2.252/1954 (corrupção de menores para a prática de infração penal), inserindo conduta similar no novo art. 244-B do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA - Lei n. 8.069/1990);

TÍTULO VIDOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL

CAPÍTULO IDOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL

1 Dos crimes em espécie

1.1 Estupro

Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave

ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com

ele se pratique outro ato libidinoso:

Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.

§ 1o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a

vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos:

Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos.

§ 2o Se da conduta resulta morte:

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Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.

a) Redação anterior:

Estupro

Art. 213 - Constranger mulher à conjunção carnal, mediante violência ou grave ameaça: Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos

Atentado Violento ao Pudor

Art. 214 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a praticar ou permitir que com ele se pratique ato libidinoso diverso da conjunção carnal: Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos

Formas qualificadas

Art. 223 - Se da violência resulta lesão corporal de natureza grave:Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos.

Parágrafo único - Se do fato resulta a morte:Pena - reclusão, de 12 (doze) a 25 (vinte e cinco) anos.

b) Observações:

- houve uma fusão dos arts. 213 CP e 214 CP, com a consequente revogação do art. 214 CP. Assim, a conduta antes considerada atentado violento ao pudor agora passa a fazer parte do crime de estupro;

- não há distinção de gênero, tanto no que se relaciona ao sujeito ativo quanto ao sujeito passivo do crime. Relembra-se que, o estupro era tipificado como “constranger mulher” e agora passa a ser “constranger alguém”. Em síntese, o homem pode ser doravante vítima de crime de estupro, inclusive na singular hipótese de ser constrangido

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por uma mulher à prática de conjunção carnal (antes configurava tão-somente o crime de constrangimento ilegal – art. 146 CP);

- o tipo penal, para alguns, passa a ser considerado de ação múltipla ou de conteúdo variado (haveria duas modalidades de realização do delito: constranger a ter conjunção carnal, no primeiro caso, e constranger a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso, na última parte). Para outros, o crime de estupro ainda persistirá como de ação única: o núcleo do tipo, ao contrário do que ocorre com os crimes de ação múltipla, é singular (o núcleo do tipo é “constranger”, apenas). Em qualquer caso, a pluralidade de condutas não implicaria pluralidade de crimes, ao contrário do que antes ocorria no confronto entre estupro e atentado violento ao pudor;

- tipo penal “misto alternativo” ou “misto cumulativo”? Outra divergência que ocorrerá, a depender da resposta ao item anterior, relaciona-se com a distinção entre “tipo penal misto alternativo” e “tipo penal misto cumulativo”. Na primeira hipótese, ainda que incorra o agente em mais de uma conduta responderá por uma só sanção: o agente que induz e depois instiga a vítima a suicidar-se incorrerá em única sanção do art. 122 CP (o art. 33 da Lei n. 11.343/2006 - tráfico de substâncias entorpecentes - é outro exemplo). Para os que assim se posicionarem, aquele que constrange a vítima, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal e depois pratica ato libidinoso diverso que não seja simples prelúdio da cópula (relação oral ou anal, conforme jurisprudência), responderá por crime único de estupro, devendo o juiz analisar tais circunstâncias na fixação da pena (deve ser a corrente majoritária na doutrina). No segundo caso, tipo penal “misto cumulativo”, quando o mesmo tipo prevê figuras delitivas distintas, sem fungibilidade entre elas, caso o agente incorra em mais de uma deverá ser aplicada a regra do concurso de crimes (por exemplo: art. 242 CP). Para os que assim se posicionarem, o agente que constrange a vítima, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal e depois pratica ato libidinoso diverso que não seja simples prelúdio da cópula

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(relação oral ou anal, por exemplo), responderá em concurso material ou em continuidade delitiva. Argumentos favoráveis ao “misto alternativo”: existência de núcleo do tipo comum (“constranger”); fusão dos tipos penais anteriores em um único tipo (art. 213 + art. 214 = novo art. 213 CP); os tipos “mistos cumulativos” possuem as suas distintas figuras separadas por “;” ou “e”, enquanto que a utilização de “,” ou “ou” são típicas de misto alternativo. Argumentos favoráveis ao “misto cumulativo”: a alteração legislativa buscou reforçar a proteção do bem jurídico e não enfraquecê-lo; caso o legislador pretendesse criar um tipo penal de ação única ou misto alternativo não distinguiria a “conjunção carnal” de “outros atos libidinosos”, pois é notório que a primeira se insere no conceito segundo, mais abrangente. Portanto, bastaria que tivesse redigido o tipo penal da seguinte maneira: “Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a praticar ou permitir que com ele se pratique ato libidinoso”. Visível, portanto, que o legislador, ao continuar distinguindo a conjunção carnal dos “outros atos libidinosos”, não pretendeu impor única sanção em caso de condutas distintas;

- possibilidade de crime continuado: é sabido que, em recente decisão o STF (HC 86.238), por maioria de votos, ratificou a impossibilidade de continuidade delitiva entre os crimes de estupro (art. 213 CP) e atentado violento ao pudor (art. 214 CP), preponderantemente por não compreendê-los crimes da mesma espécie - não se encontravam no mesmo tipo penal. Agora, desde que preenchidos os outros requisitos do art. 71 CP, não há mais óbice para a continuidade entre as condutas constantes do art. 213 CP, ainda que cometidas em dias diferentes com vítimas diferentes (com a mesma vítima e no mesmo contexto deverá ser observada, preliminarmente, a questão anterior - ação única ou múltipla, misto alternativo ou misto cumulativo;

- retroatividade da lei mais benéfica: as consequências jurídicas são mais benéficas em relação à possibilidade de crime continuado e

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até mesmo de crime único, razão pela qual são aplicáveis aos crimes ocorridos anteriormente à vigência da lei, ainda que se encontrem em fase de execução da pena;

- inexistência de abolitio criminis quanto ao crime de atentado violento ao pudor: a revogação de um tipo penal não implica, por si, em extinção da punibilidade. No caso, a conduta antes considerada atentado violento ao pudor (art. 214 CP) continua a ser criminalizada em outro tipo penal, sem solução de continuidade. Portanto, de acordo com o princípio da “continuidade-normativa típica” não há abolitio criminis se a essência do tipo penal continua presente em outro artigo e com outro nomen juris (art. 213 CP);

- formas qualificadas: além de manter as formas qualificadas para os casos de lesão corporal grave ou morte (esta com alteração na pena em abstrato), inseriu nova circunstância que também qualifica o crime de estupro, a idade da vítima;

- o equívoco na redação do §1º do art. 213 CP é evidente: “se a vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos”. Ora, uma criança de 5 (cinco) anos é menor de 18 (dezoito) anos e uma mulher de 50 (cinquenta) anos é maior de 14 (catorze) anos. O que o legislador pretendeu qualificar é o fato de a vítima ser “menor de 18 (dezoito) anos e maior de 14 (catorze) anos”. A correta interpretação não inviabilizará a aplicação da citada circunstância. Assim, se a vítima do estupro possuir idade de 15 (quinze) anos, por exemplo, será o estupro qualificado, com pena de 8 (oito) a 12 (doze) anos;

- da mesma forma ocorrerá se da conduta resultar lesão corporal grave (desde que se trate de vítima maior de 14 (catorze) anos (se menor, aplica-se o art. 217-A, §3º, CP). Duas observações: se a vítima tiver idade entre 14 e 18 anos e sofrer lesão corporal grave a incidência da qualificadora é única, cabendo ao juiz observar a duplicidade de circunstâncias na fixação da pena-base. Por último, observa-se que a

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lesão corporal grave é culposa e não dolosa. Assim, trata-se de figura preterdolosa: estupro doloso (antecedente) e lesão corporal grave culposa (consequente). Se a lesão corporal grave for dolosa, aplica-se a regra do concurso material entre o crime de estupro (art. 213 CP) e o crime de lesão corporal grave (art. 129, §§ 1º e 2º, CP);

- no que se refere ao resultado morte houve agravamento da pena em relação ao disposto anterior, uma vez que a pena passa a ser de 12 (doze) a 30 (trinta) anos enquanto a prevista anteriormente era de 12 (doze) a 25 (vinte e cinco) anos. Como observado no item anterior, o resultado morte é culposo e não doloso. Trata-se de figura preterdolosa: estupro doloso (antecedente) e morte culposa (consequente). Se a morte for resultante de dolo direto ou eventual, aplica-se a regra do concurso material entre o crime de estupro (art. 213 CP) e o crime de homicídio (art. 121 CP);

- como os resultados morte e lesão corporal continuam a ser considerados formas qualificadas do estupro, não haverá alteração em relação aos réus que respondiam pelos resultados constantes do art. 225 CP (continuidade-normativa típica).

1.2 Violação sexual mediante fraude

Art. 215. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém, mediante fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.

Parágrafo único. Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também multa.

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a) Redação anterior:

Posse sexual mediante fraude

Art. 215. Ter conjunção carnal com mulher, mediante fraude: Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 ( três) anos.

Parágrafo único - Se o crime é praticado contra mulher virgem, menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze) anos: Pena - reclusão, de 2 ( dois) a 6 (seis) anos.

Atentado ao pudor mediante fraude

Art. 216 - Induzir alguém, mediante fraude, a praticar ou submeter-se à prática de ato libidinoso diverso da conjunção carnal: Pena - reclusão, de 1 (um) a 2 (dois) anos.

Parágrafo único - Se a vítima é menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze) anos: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.

b) Observações:

- coerente com a opção anterior (fusão dos crimes de estupro e atentado violento ao pudor), o legislador acabou também por unir, com algumas alterações, os crimes antes previstos no art. 215 CP (“posse sexual mediante fraude”) e no art. 216 (“atentado ao pudor mediante fraude”), sem distinção de gênero no que se refere aos sujeitos ativo e passivo do crime.

- observa-se que, anteriormente, o meio da pratica do crime era tão-somente a fraude. Agora passa a ser também a prática de qualquer “outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima”. Não obstante, há de se ter em mente que esse outro meio não poderá ser abrangido pelos conceitos de violência ou grave ameaça, bem como não poderá ter como vítima pessoa em estado de vulnerabilidade (menor de 14 anos ou que, por situação de

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enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência) – situações caracterizadoras do estupro de vulnerável (art. 217-A e §§, CP).

- multa cumulativa: desaparecem as formas qualificadas anteriores, estatuindo o parágrafo único que haverá pena de multa cumulativa se o crime é praticado com o fim de obter vantagem econômica. Observa-se que, não é necessária a obtenção de qualquer proveito econômico, bastando que a conduta seja praticada com essa finalidade (formal).

1.3 Assédio sexual

Art. 216-A. Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função.

Pena - detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos.

Parágrafo único. (vetado)

§ 2o A pena é aumentada em até um terço se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos.

a) Redação anterior:

- não havia previsão do §2º, inserido pela Lei n. 12.015/2009.

b) Observações:

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- crime de assédio sexual: inserção de aumento de pena no caso de vítima menor de 18 (dezoito) anos. Observa-se que, não haverá possibilidade de aplicação da Lei n. 9.009/1995 e tampouco competência do JECRIM por ultrapassar o limite de 2 (dois) anos de pena máxima.

CAPÍTULO IIDOS CRIMES SEXUAIS CONTRA VULNERÁVEL

2 Dos crimes em espécie

2. 1 Estupro de vulnerável

Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos:

Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.

§ 1o Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência.

§ 2o (vetado)

§ 3o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave:

Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos.

§ 4o Se da conduta resulta morte:

Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.

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a) Redação anterior:

Presunção de violência

Art. 224 - Presume-se a violência, se a vítima:

a) não é maior de 14 (catorze) anos;b) é alienada ou débil mental, e o agente conhecia esta circunstância;c) não pode, por qualquer outra causa, oferecer resistência.

b) Observações:

- altera-se por completo o sistema de imputação típica para os casos antes abrangidos pela presunção de violência. Recorda-se que, no sistema anterior, se o agente mantivesse conjunção carnal com mulher “não maior de 14 anos” a ocorrência do estupro dependeria da combinação do art. 213 CP com o art. 224 CP (estupro com violência presumida). Da mesma forma, se uma mulher com idade igual ou inferior a 14 anos fosse vítima de estupro mediante violência ou grave ameaça era prescindível a combinação com art. 224 CP, pois a hipótese era de violência real e não mais de presunção de violência, sem qualquer distinção no quantum da sanção.

- agora, entretanto, abandona-se por completo o regime de presunção e insere-se tipo penal denominado “estupro de vulnerável” nos casos em que a vítima (a) possuir idade inferior a 14 (catorze) anos ou que, (b) por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, (c) por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência.

- as hipóteses de presunção passam a ser elementares de um novo tipo penal, o que, em tese, elimina o dissídio existente a respeito de a presunção de violência ser absoluta ou relativa. Em síntese, manter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14

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(catorze) anos é crime de estupro de vulnerável, sem possibilidade de discutir questões relacionadas com eventual consentimento, discernimento ou experiência sexual da vítima.

- observa-se que, no regime de presunção de violência, a vítima não deveria ser maior de 14 (catorze) anos, enquanto que agora é necessário que seja menor de 14 (catorze) anos para configuração do estupro de vulnerável. A diferença óbvia relaciona-se com o dia do aniversário de 14 (catorze) anos. Antes, a conjunção carnal no dia do aniversário de 14 anos poderia configurar estupro. Atualmente, não mais, pois no dia do aniversario de 14 anos a vítima já não é menor de 14 anos.

- críticas ao dispositivo: em primeiro, perdeu o legislador a oportunidade de compatibilizar o Código Penal com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA – Lei n. 8.069/1990). Melhor seria se a referência nos crimes contra a liberdade sexual passasse a ser a idade de 12 (doze) anos, limite entre a infância e a adolescência. Em segundo, a desproporcionalidade da pena é evidente. Se um rapaz de 19 anos mantiver conjunção carnal com a namorada de 13 anos a pena será de 8 (oito) a 15 (quinze) anos. Se uma adolescente de 15 anos for estuprada mediante grave ameaça ou violência, o estuprador sofrerá uma pena de 8 (oito) a 12 (doze) anos (213, §1º CP). Se aquele namorado do primeiro exemplo em determinado dia discutir por qualquer razão com a adolescente e, em explosão de ira, acabar por matá-la, receberá uma pena mínima de 6 (seis) anos (art. 121, “caput”, CP), menor do que se mantiver conjunção carnal com o consentimento dela.

- observa-se que, não há óbice para a ocorrência de erro no que se relaciona às circunstâncias que caracterizam o estupro de vulnerável. Portanto, se o agente, ao praticar conjunção carnal ou outro ato libidinoso, estivesse convencido, por fundada justificativa, de que a

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vítima fosse maior de 14 (catorze) anos, o erro excluirá o dolo e, consequentemente, a adequação típica;

- formas qualificadas: observa-se que, os resultados lesão corporal grave e morte são culposos e não dolosos. Assim, são figuras preterdolosas: estupro doloso (antecedente) e lesão corporal grave ou morte culposas (consequente). Se a lesão corporal grave ou a morte forem dolosas, aplica-se a regra do concurso material entre o crime de estupro (art. 217-A CP) e o crime de lesão corporal grave (art. 129, §§ 1º e 2º, CP) ou homicídio (art. 121 CP).

2.2 Corrupção de menores

Art. 218. Induzir alguém menor de 14 (catorze) anos a satisfazer a lascívia de outrem:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.

a) Redação anterior:

Art. 218 - Corromper ou facilitar a corrupção de pessoa maior de 14 (catorze) e menor de 18 (dezoito) anos, com ela praticando ato de libidinagem, ou induzindo-a a praticá-lo ou presenciá-lo:Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.

b) Observações:

- ao contrário do que ocorreu nos casos anteriores, no crime de corrupção de menores houve uma absoluta alteração da tipificação penal, tanto no que se refere ao núcleo do tipo e ao predicado, quanto em relação à idade da vítima. Se antes o crime era “corromper” ou “facilitar” a corrupção de pessoa menor de 18 (dezoito) e maior de 14

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(catorze) anos, o crime atual é “induzir” alguém menor de 14 (catorze) anos a satisfazer a lascívia de outrem.

- houve abolitio criminis em relação à conduta anteriormente descrita no art. 218, salvo se se tratasse de menor entre 14 aos e 18 anos que estivesse em situação inicial de prostituição ou exploração sexual, ainda não corrompida (neste caso incidiria o art. 218-B).

2.3 Satisfação de lascívia mediante presença de criança ou adolescente

Art. 218-A. Praticar, na presença de alguém menor de 14 (catorze) anos, ou induzi-lo a presenciar, conjunção carnal ou outro ato libidinoso, a fim de satisfazer lascívia própria ou de outrem:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.

a) Redação anterior:

- não havia previsão do art. 218-A, inserido pela Lei n. 12.015/2009.

b) Observações:

- na hipótese do art. 218-A não é o menor de 14 anos que pratica o ato libidinoso e sim outra ou outras pessoas que o fazem em sua presença ou que o induzem a presenciá-lo. A primeira parte do tipo penal se consuma com a prática de qualquer ato libidinoso na presença do vulnerável. No segundo caso, o autor do crime não é protagonista do ato libidinoso, porém induz o menor a presenciar a prática por outros realizada, independente destes possuírem ou não ciência da situação

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(se tiverem, responderão pela primeira figura). Poderá haver posição no sentido de que a segunda figura é formal (induzir a presenciar), quando então bastaria o mero induzimento, prescindindo-se da efetiva prática da conjunção carnal ou de outro ato libidinoso.

2.4 Favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual de vulnerável

Art. 218-B. Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de exploração sexual alguém menor de 18 (dezoito) anos ou que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, facilitá-la, impedir ou

dificultar que a abandone:

Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos.

§ 1o Se o crime é praticado com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também multa.

§ 2o Incorre nas mesmas penas:

I - quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso com alguém menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze) anos na situação descrita no caput deste artigo;

II - o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que se verifiquem as práticas referidas no caput deste artigo.

Axioma Jurídico – Abrão Amisy Neto

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§ 3o Na hipótese do inciso II do § 2o, constitui efeito obrigatório da condenação a cassação da licença de localização e de funcionamento do estabelecimento.

a) Redação anterior:

- não havia previsão do art. 218-B, inserido pela Lei n. 12.015/2009, embora perceptível a semelhança com o disposto no art. 244-A ECA (“submeter criança ou adolescente, como tais definidos no caput do art. 2o desta Lei, à prostituição ou à exploração sexual”).

b) Observações:

- interessa salientar que, de acordo com o nomen juris, o legislador acabou por indiretamente abranger os menores de 18 (dezoito) anos no conceito de vulnerável. De qualquer forma, o tipo penal em comento tem como vítima pessoas (mulheres ou homens) em idade inferior a 18 (dezoito) anos ou aqueles que, por enfermidade ou deficiência mental,

não tem o necessário discernimento para a prática do ato. A pena da figura base é de 4 (quatro) a 10 (dez) anos.

- os núcleos do tipo são submeter, induzir, atrair, facilitar (à prostituição ou outra forma de exploração), impedir ou dificultar (o abandono da prostituição ou da situação de exploração sexual).

- observa-se que, o conceito de exploração sexual é mais abrangente do que o de prostituição (a prostituição nada mais do que uma das formas de exploração sexual). Por exploração sexual deve ser entendida qualquer conduta que se utiliza do corpo ou da sexualidade de outra pessoa com o fim de obter proveito de caráter sexual, implícito ou não, com base numa relação de poder. Constata-se que a exploração sexual não precisa ter, necessariamente, finalidade econômica.

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- o tipo penal em comento prevalece quando confrontado com o art. 244-A do ECA.

- multa cumulativa: se houver a intenção de obter vantagem econômica (ainda que efetivamente não a obtenha) é aplicável a pena de multa.

- punição do “cliente”: com o fim de evitar questionamentos a respeito da punição daquele que mantém conjunção carnal ou outro ato libidinoso com pessoa maior de 14 (catorze) anos e menor de 18 (dezoito) anos na condição descrita no caput, o legislador equiparou a punição desta conduta àquela.

- responsabilidade penal: caso a prática se realize em estabelecimento ou local específico, dispõe a lei que o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local incorrerão nas mesmas penas do caput. Observa-se que a conduta é dolosa, não sendo cabível a aplicação de responsabilidade penal objetiva.

- cassação da licença: é efeito obrigatório a ser determinado na sentença condenatória.

CAPÍTULO IIIDO RAPTO

3 Revogação

- o Capítulo III foi inteiramente revogado pela Lei n. 11.106/2005.

CAPÍTULO IVDISPOSIÇÕES GERAIS

4. Ação penal e aumento de pena

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4.1 Ação penal

Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, procede-se mediante ação penal pública condicionada à representação.

Parágrafo único. Procede-se, entretanto, mediante ação penal pública incondicionada se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa vulnerável.

7. Redação anterior:

Art. 225 – Nos crimes definidos nos capítulos anteriores, somente se procede mediante queixa.

1º - Procede-se, entretanto, mediante ação pública:I – se a vítima ou seus pais não podem prover às despesas do processo, sem privar-se de recursos indispensáveis à manutenção própria ou da família;II – se o crime é cometido com abuso do pátrio poder, ou da qualidade de padrasto, tutor ou curador.

§ 2º - No caso do nº I do parágrafo anterior, a ação do Ministério Público depende de representação.

b) Observações:

- houve relevantes alterações na natureza jurídica da ação penal nos crimes contra a liberdade sexual.

- antes, como regra, a ação penal era privada. Quando houvesse abuso do poder familiar a ação penal passava a ser pública incondicionada. Ainda mais, a carência econômica legitimava a propositura de ação penal pelo Ministério Público mediante representação da vítima.

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- agora, como regra, a ação penal é condicionada a representação, salvo nos casos em que a vítima é menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa vulnerável.

- haverá polêmica a respeito da aplicação da Súmula 608 STF: “no crime de estupro, praticado mediante violência real, a ação penal é pública incondicionada”. Entretanto, apesar de o legislador não ter ratificado a posição do STF, certo é que a nova redação do art. 213 não altera o fundamento utilizado para a edição da precitada Súmula (estupro como crime complexo), razão pela qual deve continuar a ser observada – se assim não for, o estupro de pessoa maior de 18 (dezoito) anos com resultado morte será condicionado à representação, o que se apresenta inconcebível.

- aplicando-se a Súmula 608 STF serão de ação penal pública incondicionada: art. 213 “caput”, quando praticado mediante violência, e parágrafos; art. 216-A, §2º; art. 217-A, “caput” e parágrafos; art. 218; art. 218-A; art. 218-B e parágrafos;

- ação penal pública condicionada à representação: art. 213, “caput”, quando praticado mediante grave ameaça (é posição majoritária que, o estupro mediante grave ameaça não está abrangido pela Súmula 608 STF. Posição minoritária, porém mais adequada ao fundamento sumular, compreende que a grave ameaça nela estaria inserida. Para estes, a ação penal

seria pública incondicionada); art. 215; art. 216-A, “caput”.

4.2 Aumento de pena

Art. 226. A pena é aumentada:

I – de quarta parte, se o crime é cometido com o concurso de 2 (duas) ou mais pessoas;

II – de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou

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empregador da vítima ou por qualquer outro título tem autoridade sobre ela;

a) Redação anterior:

- não houve alteração no art. 226 CP

b) Observações:

- o art. 234-A CP elenca duas outras causas de aumento de pena que também são aplicadas aos Capítulos II e III, quais sejam:

III – de metade, se do crime resultar gravidez; e

IV – de um sexto até a metade, se o agente transmite à vitima doença sexualmente transmissível de que sabe ou deveria saber ser portador.

CAPÍTULO VDO LENOCÍNIO E DO TRÁFICO DE PESSOA PARA FIM DE PROSTITUIÇÃO

OU OUTRA FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL

a) Redação anterior:

- “Do lenocínio e do tráfico de pessoas”

b) Observações:

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- somente não houve alteração no tipo penal constante do art. 227 CP, “mediação para servir a lascívia de outrem”;

- perdeu o legislador a oportunidade de descriminalizar condutas que não se referem à proteção de pessoas em estado de vulnerabilidade e que, assim, são caracterizadas pela penalização da moral e dos bons costumes, opção incompatível com o Direito Penal.

5 Dos crimes em espécie

5.1 Favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual

Art. 228. Induzir ou atrair alguém à prostituição ou outra forma de exploração sexual, facilitá-la, impedir ou dificultar que alguém a abandone:

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

§ 1o Se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância:

Pena – reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos.

§ 2º - Se o crime é cometido com emprego de violência, grave ameaça ou fraude:

Pena – reclusão, de quatro a dez anos, além da pena correspondente à violência.

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§ 3º - Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se também multa.

7. Redação anterior:

Favorecimento da prostituição

Art. 228 – Induzir ou atrair alguém à prostituição, facilitá-la ou impedir que alguém a abandone:Pena – reclusão, de dois a cinco anos.

1º - Se ocorre qualquer das hipóteses do § 1º do artigo anterior:Pena – reclusão, de três a oito anos.

§ 2º - Se o crime é cometido com emprego de violência, grave ameaça ou fraude:Pena – reclusão, de quatro a dez anos, além da pena correspondente à violência.§ 3º - Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se também multa.

b) Observações:

- assim como ocorreu em outros tipos penais constantes do Capítulo V, o legislador inseriu a exploração sexual, conceito mais abrangente, ao lado da prostituição, como condição vedada (daí o porquê da alteração do nomen juris – “favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual”);

- sobre o conceito de exploração sexual: item 2.4;

- houve a inserção do núcleo do tipo “dificultar” com o fim de preencher falha anterior, permanecendo os demais (induzir, atrair, facilitar e impedir)

- previsão de forma qualificada em caso de infração de deveres familiares ou por posição de garante (§1º) (pena de 3 a 8 anos).

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Observa-se que, ao contrário do que antes ocorria, a qualificadora da idade (maior de 14 anos e menor de 18 anos) foi extirpada do tipo e passou a ser elementar do crime previsto no art. 218-B (menor de 18 anos), o que implica aceitação do princípio da continuidade-normativa típica, sem aplicação da abolitio criminis.

- não houve alteração em relação aos §§ 2º e 3º do art. 228 CP

5.2 Casa de prostituição

Art. 229. Manter, por conta própria ou de terceiro, estabelecimento em que ocorra exploração sexual, haja, ou não, intuito de lucro ou mediação direta do proprietário ou gerente:

Pena – reclusão, de dois a cinco anos, e multa.

7. Redação anterior:

Art. 229 – Manter, por conta própria ou de terceiro, casa de prostituição ou lugar destinado a encontros para fim libidinoso, haja, ou não, intuito de lucro ou mediação direta do proprietário ou gerente:Pena – reclusão, de dois a cinco anos, e multa.

b) Observações:

- sem prejuízo da manutenção do preceito secundário (sanção penal), houve alteração no preceito primário com o intuito de ampliar a abrangência do tipo penal dentro da perspectiva de exploração sexual como conceito mais vasto do que o de prostituição, como antes explicado. Assim, de “casa de prostituição ou lugar destinado a encontros para fim libidinoso” passou-se a “estabelecimento em que ocorra exploração sexual”

5.3. Rufianismo

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Art. 230 – Tirar proveito da prostituição alheia, participando diretamente de seus lucros ou fazendo-se sustentar, no todo ou em parte, por quem a exerça:

Pena – reclusão, de um a quatro anos, e multa.

§ 1o Se a vítima é menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze) anos ou se o crime é cometido por ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou por quem assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância:

Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.

§ 2o Se o crime é cometido mediante violência, grave ameaça, fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação da vontade da vítima:

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, sem prejuízo da pena correspondente à violência.

7. Redação anterior:

Art. 230 – Tirar proveito da prostituição alheia, participando diretamente de seus lucros ou fazendo-se sustentar, no todo ou em parte, por quem a exerça:Pena – reclusão, de um a quatro anos, e multa.

§ 1º - Se ocorre qualquer das hipóteses do § 1º do art. 227:Pena – reclusão, de três a seis anos, além da multa.

§ 2º - Se há emprego de violência ou grave ameaça:Pena – reclusão, de dois a oito anos, além da multa e sem prejuízo da pena correspondente à violência.

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b) Observações:

- a redação do “caput” foi mantida, assim como a respectiva sanção;

- houve a inserção no §1º de “padrasto”, “madrasta”, “enteado”, “preceptor ou empregador da vítima, ou por quem assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância”. As demais hipóteses já estavam previstas;

- No §2º houve a inserção, ao lado da violência ou grave ameaça, já constantes, da “fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação da vontade da vítima”.

5.4 Tráfico internacional de pessoa para fim de exploração sexual

Art. 231. Promover ou facilitar a entrada, no território nacional, de alguém que nele venha a exercer a prostituição ou outra forma de exploração sexual, ou a saída de alguém que vá exercê-la no estrangeiro.

Pena – reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos.

§ 1o Incorre na mesma pena aquele que agenciar, aliciar ou comprar a pessoa traficada, assim como, tendo conhecimento dessa condição, transportá-la, transferi-la ou alojá-la.

§ 2o A pena é aumentada da metade se:

I – a vítima é menor de 18 (dezoito) anos;

II – a vítima, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato;

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III – se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; ou

IV – há emprego de violência, grave ameaça ou fraude.

§ 3o Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também multa.

7. Redação anterior:

Tráfico internacional de pessoas

Art. 231. Promover, intermediar ou facilitar a entrada, no território nacional, de pessoa que venha exercer a prostituição ou a saída de pessoa para exercê-la no estrangeiro:Pena – reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.

§ 1º - Se ocorre qualquer das hipóteses do § 1º do art. 227: Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos, e multa.

§ 2º Se há emprego de violência, grave ameaça ou fraude, a pena é de reclusão, de 5 (cinco) a 12 (doze) anos, e multa, além da pena correspondente à violência.

b) Observações:

- houve alteração no preceito primário com o intuito de ampliar a abrangência do tipo penal dentro da perspectiva de exploração sexual como conceito mais vasto do que o de prostituição, também mantido, como antes explicado;

- excluiu-se do “caput” o núcleo do tipo “intermediar”. Entretanto, o §1º determina que, “incorre na mesma pena aquele que agenciar, aliciar ou comprar a pessoa traficada, assim como, tendo conhecimento

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dessa condição, transportá-la, transferi-la ou alojá-la”, o que é bem mais completo do que a mera intermediação, a qual também se encontra implicitamente abrangida nos novos núcleos;

- houve a inserção de causas de aumento de pena em decorrência de idade, vínculo familiar, situação de vulnerabilidade, coação física, coação psicológica ou vício de consentimento;

- previsão de multa cumulativa se houver o fim de obter vantagem econômica (ainda que não a obtenha).

5.5 Tráfico interno de pessoa para fim de exploração sexual

Art. 231-A. Promover ou facilitar o deslocamento de alguém dentro do território nacional para o exercício da prostituição ou outra forma de exploração sexual:

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.

§ 1o Incorre na mesma pena aquele que agenciar, aliciar, vender ou comprar a pessoa traficada, assim como, tendo conhecimento dessa condição, transportá-la, transferi-la ou alojá-la.

§ 2o A pena é aumentada da metade se:

I – a vítima é menor de 18 (dezoito) anos;

II – a vítima, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato;

III – se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador

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da vítima, ou se assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; ou

IV – há emprego de violência, grave ameaça ou fraude.

§ 3o Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também multa.

7. Redação anterior:

Tráfico interno de pessoas

Art. 231-A. Promover, intermediar ou facilitar, no território nacional, o recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento da pessoa que venha exercer a prostituição:Pena – reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa

Parágrafo único. Aplica-se ao crime de que trata este artigo o disposto nos §§ 1º e 2º do art. 231 deste Decreto-Lei.

b) Observações:

- são validos os apontamentos feitos no artigo anterior.

CAPÍTULO VIDO ULTRAJE PÚBLICO AO PUDOR

6 Inalterado

- não houve qualquer alteração no Capítulo VI (art. 233 CP – ato obsceno; art. 234 CP – escrito ou gesto obsceno)

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CAPÍTULO VIIDISPOSIÇÕES GERAIS

7. Aumento de pena e segredo de justiça

7.1 Aumento de pena

Art. 234-A. Nos crimes previstos neste Título a pena é aumentada:

I – (vetado);

II – (vetado);

III – de metade, se do crime resultar gravidez; e

IV – de um sexto até a metade, se o agente transmite à vitima doença sexualmente transmissível de que sabe ou deveria saber ser portador.”

a) Redação anterior:

- o art. 234-A foi inserido nas Disposições Gerais e não possuía previsão similar anterior

b) Observações:

- aplica-se integralmente ao Título VI, o qual se inicia com o crime de estupro (art. 213 CP)

7.2 Segredo de justiça

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O art. 234-B dispõe que, “os processos em que se apuram crimes definidos neste Título correrão em segredo de justiça”.

8 ALTERAÇÕES NA LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE:

8.1 Lei dos Crimes Hediondos (LCH – Lei n. 8.072/1990):

- a primeira alteração é a previsão expressa no art. 1º da LCH, incisos V e VI, de que o crime de estupro (art. 213, caput e §§ 1o e 2o) e o crime de estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1o, 2o, 3o e 4o) são considerados crimes hediondos. Não há duvida, em razão da redação, de que todas as figuras constantes do art. 213 e 217-A, inclusive nas modalidades simples, são consideradas hediondas.

- a segunda alteração parece não ter sido desejada pelo legislador. O art. 9º da LCH estabelece que, “as penas fixadas no art. 6º para os crimes capitulados nos arts. 157, § 3º, 158, § 2º, 159, caput e seus §§ 1º, 2º e 3º, 213, caput e sua combinação com o art. 223, caput e parágrafo único, 214 e sua combinação com o art. 223, caput e parágrafo único, todos do Código Penal, são acrescidas de metade, respeitado o limite superior de trinta anos de reclusão, estando a vítima em qualquer das hipóteses referidas no art. 224 também do Código Penal”. Assim, o agente que praticasse o crime de extorsão mediante sequestro contra uma adolescente de 13 anos (uma das hipóteses do art. 224 CP) responderia pela extorsão mediante sequestro com aumento de pena de metade em razão do artigo em comento. Agora, entretanto, não há mais como referir-se às hipóteses do art. 224, pois revogado, razão pela qual o art. 9º da LCH não tem mais aplicação.

- Haverá teses divergentes no sentido de que, revogado o art. 224 CP, incidiria retroatividade para beneficiar aqueles que tiveram as suas

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condutas abrangidas pelo aumento de pena do art. 9º LCH. Entretanto, ressalta-se, as condições de vulnerabilidade ou de hipossuficiência, então constantes do art. 224, foram ratificadas pelo legislador no tipo penal “estupro de vulnerável”. Logo, é possível alegar que a revogação do art. 224 CP não se opera retroativamente. Resulta, por conseguinte, inaplicável doravante, sem possibilidade de retroagir.

8.2 Corrupção de menores (Lei n. 2.252/1954) / ECA (Lei n. 8.069/1990)

(ECA)

Art. 244-B. Corromper ou facilitar a corrupção de menor de 18 (dezoito) anos, com ele praticando infração penal ou induzindo-o a praticá-la:

Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.

§ 1o Incorre nas penas previstas no caput deste artigo quem pratica as condutas ali tipificadas utilizando-se de quaisquer meios eletrônicos, inclusive salas de bate-papo da internet.

§ 2o As penas previstas no caput deste artigo são aumentadas de um terço no caso de a infração cometida ou induzida estar incluída no rol do art. 1o da Lei no 8.072, de 25 de julho de 1990.”

a) Redação anterior:

(Lei n. 2.252/1954)

Art. 1º. Constitui crime, punido com a pena de reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa de Cr$1.000,00 (mil cruzeiros) a Cr$10.000,00 (dez mil cruzeiros),

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corromper ou facilitar a corrupção de pessoa menor de 18 (dezoito) anos, com ela praticando, infração penal ou induzindo-a a praticá-la.

b) Observações:

- a Lei n. 2.252/1954 foi revogada. Porém, houve a inserção do art. 244-B no ECA com o fim de tipificar idêntica conduta;

- o §1º amplia a possibilidade de pratica do crime ao estabelecer que, incorre nas sanções do caput “quem pratica as condutas ali tipificadas utilizando-se de quaisquer meios eletrônicos, inclusive salas de bate-papo da internet”. A priori, a conduta do caput que poderia ser praticada por meios eletrônicos, inclusive salas de bate-papo da internet, é a de induzimento à pratica de infração penal, pois excepcional seria a prática de um crime em conjunto por meio de salas de bate-papo;

- aplica-se o princípio da continuidade normativa típica, antes explicado, em relação aos tipos penais revogado e inserido, respectivamente, vedando-se a abolitio criminis;

- aumento de pena (§2º): haverá acréscimo de 1/3 se infração cometida ou induzida estiver incluída no rol dos crimes hediondos

- conforme amplo entendimento jurisprudencial, o crime continuará a ser considerado formal, afastando-se a responsabilidade apenas se ficar caracterizado que o menor de 18 anos já se encontrava corrompido ao tempo do crime.

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