obs antoniopinho 51843

15
p.2 António Brigas Afonso demite-se do seu cargo p.20 ‘Leviatã’: a longa tragédia da sociedade russa em filme p.13 PGR investiga as várias lista de con- tribuintes VIP p.18 Mónoco vence Arsenal na liga dos campeões Imagens raras de Marilyn Monroe vão a leilão observador.pt | 1,35 | UA 2014/15 | Mestrado em Design | Semiologia Tipográfica | Docente: Álvaro Sousa | Design editorial: António Pinho n.51843

Upload: mestrado-em-design-ua

Post on 22-Jul-2016

225 views

Category:

Documents


1 download

DESCRIPTION

Trabalho desenvolvido por António Pinho, no âmbito da disciplina de Semiologia Tipográfica do mestrado em design da Universidade de Aveiro –2014/15, de redesenho para suporte papel do jornal Observador.

TRANSCRIPT

Page 1: Obs antoniopinho 51843

QUI 16 ABR 2015 1

p.2 António Brigas Afonso demite-se do seu cargo

p.20 ‘Leviatã’: a longa tragédia da sociedade russa em filme

p.13 PGR investiga as várias lista de con-tribuintes VIP

p.18 Mónoco vence Arsenal na liga dos campeões

Imagens raras de Marilyn Monroe vão a leilão

obse

rvad

or.p

t | €

1,35

| U

A 2

014/

15 |

Mes

trad

o em

Des

ign

| Sem

iolo

gia

Tipo

gráfi

ca |

Doc

ente

: Álv

aro

Sous

a | D

esig

n ed

itoria

l: A

ntón

io P

inho

n.5

1843

Page 2: Obs antoniopinho 51843

QUI 16 ABR 2015 3QUI 16 ABR 20152

Diretor-geral da Autoridade Tributária e Aduaneira demite-se

Brigas Afonso apresentou demissão, na sequência da controvérsia com a “Lista VIP” de contribuintes. Pedido foi aceite pela ministra das Finanças. Paulo Núncio admite ir ao Parlamento dar explicações.

António Brigas Afonso, diretor-geral da Auto-ridade Tributária e Aduaneira (AT), apresentou a demissão esta quarta-feira, na sequência da controvérsia com a “Lista VIP” de contribu-intes, confirmou o Observador. O pedido foi aceite pelo Ministério das Finanças, confirma o Ministério em comunicado, sem adiantar para já qualquer informação adicional. Nada indica, para já, que o lugar de Paulo Núncio esteja em risco, apesar de a auditoria que foi determinada já ter indícios que a polémica lista, sempre cat-egoricamente desmentida pelo Governo, poder existir. No cargo há nove meses, António Bri-gas Afonso, substituiu em julho o antigo chefe do fisco, José Azevedo Pereira. Antes disso, Brigas Afonso era subdiretor-geral da AT na

área dos impostos especiais sobre o consumo.Em declarações aos jornalistas esta quar-ta-feira, transmitidas pela SIC Notícias, Paulo Núncio diz que “esta não é o momento para clarificar” a situação. O secretário de Estado dos Assuntos Fiscais garante estar “totalmente disponível” para ir ao Parlamento, “porque entendo que o Parlamento é o local certo para que sejam prestados mais esclarecimentos sobre esta matéria”. Paulo Núncio acrescentou que “o governo recebeu da AT a confirmação de que não existia essa lista mas, por outro lado, existem rumores e notícias em sentido contrário”.Ouvido pela TSF, Paulo Ralha, presidente do Sindicato dos Trabalhadores dos Impostos, diz que recebeu a notícia “com um misto de sur-

presa e de fatalidade”. “O Dr. Brigas Afonso não pode ser responsabilizado pelo que se passou com a Lista VIP, mas é responsável máximo da casa”, acrescentou Paulo Ralha, elogiando a “franqueza” do agora ex-diretor-geral da AT.

Paulo Ralha diz que António Brigas Afonso terá sido “apanhado desprevenido” pela ex-istência desta lista quando assumiu o cargo.

A existência de uma lista de contribuintes VIP, personalidades mediáticas de várias áreas, terá sido divulgada numa formação para inspetores tributários estagiários realizada a 20 de janeiro. A notícia, avançada pela revista Visão, tem por base o testemunho de participantes na sessão

que decorreu na Torre do Tombo, que con-trariam a versão oficial do governo segundo a qual a tal lista não existe. Também o presidente do Sindicato dos Trabalhadores dos Impostos (STI), Paulo Ralha, veio a afirmar que existe uma bolsa de contribuintes VIP no Fisco.Depois de ter repetido que “nunca foram dadas instruções à Autoridade Tributária para elab-orar qualquer tipo de listas de contribuintes”, o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Paulo Núncio, garantiu que a sua resposta não implica que esteja afastada a realização de uma auditoria ao caso da lista VIP de contribuintes, que foi sugerida por um vice-presidente do PSD e defendida pelo PCP e Bloco de Esquerda. Paulo Núncio insistiu nunca ter “elaborado

ou entregado” qualquer lista de contribuintes à Autoridade Tributária (AT), assim como nunca ter dado “instruções” para a AT o fazer.Na segunda-feira, inspetores da Autoridade Tributária denunciaram um “clima de medo, insegurança e intranquilidade” na sequên-cia do aviso de que haveria uma lista VIP.

POLÍTICA POLÍTICA

Autor: Edgar Caetano David Dinis

Page 3: Obs antoniopinho 51843

QUI 16 ABR 2015 5QUI 16 ABR 20154

Entraram na universidade e estão a tirar cursos superiores. Mas o Ministério entende que devem voltar a fazer exames e quer mandá-los embora. A guerra (e o percurso deles) está na mão dos tribunais.

Eles estão na faculdade. E podem ser expulsos a qualquer momento. A guerra está nos tribunais.

Pedro tem 23 anos e está no terceiro ano de medicina, na Universidade de Lisboa. Em 2012, foi um dos 183 alunos provenientes do ensino recorrente que acedeu ao ensino su-perior sem fazer exames nacionais, poucos meses depois de o ministro Nuno Crato ter mudado as regras de acesso e ter imposto a realização de exames. O Ministério recorreu da decisão dos tribunais e, no ano passado, Pedro recebeu um cartão vermelho, que é como quem diz uma carta da Direção-Geral do Ensino Superior (DGES) com ordem de expulsão da universidade. Não obedeceu.

“Lembro-me de ter visto no Facebook, no início do ano passado, que o Ministério da Educação estava a notificar os alunos que tin-ham vindo do ensino recorrente, mas como eu não tinha recebido carta nenhuma fiquei descansado. Até que em abril lá chegou a carta da DGES a dizer que a minha média tinha sido recalculada com base nas notas do ensino regular e como eu não tinha posto mais nen-huma opção de ingresso depois da Universi-dade de Lisboa, perdia a colocação”, recorda

Pedro, que prefere manter o anonimato, por saber que “o recorrente é muito mal visto”.Pedro não abandonou a universidade porque o seu advogado voltou a recorrer para os tribunais, mas está longe de estar tranquilo.

“Não sei o que é que hei de esperar do amanhã. Estou a estudar hoje e não sei se amanhã me podem mandar embora, nem posso fazer projetos. Os meus colegas vão todos de Erasmus no próximo ano e eu nem posso sequer pensar em concorrer”, lamenta, com o olhar caído sobre as mãos.

De 18,6 para 19,5 valores e entrada direta para medicina.Recuemos um pouco no tempo. Estamos em 2010 e Pedro termina o ensino secundário reg-ular com uma média interna de 18,6 valores. Uma média elevada, mas não suficientemente alta para conseguir entrar num curso de me-dicina. Decide ficar mais um ano a fazer mel-horia de notas. Matricula-se no ensino recor-

rente – uma vertente de educação para adultos que permite fazer o ensino secundário num só ano e até sem assistir a aulas – e prepara-se para os exames de ingresso ao curso de me-dicina (biologia, matemática e física e química).Em 2011 Pedro termina o recorrente com uma média interna de 19,5 valores e consegue mel-hores notas nos exames das cadeiras específicas. Feitas as contas: 18,1 valores. Uma média que lhe valeu o ingresso nesse ano em medicina, em-bora na última opção. A adaptação não correu da forma desejada e o estudante meteu imediat-amente na cabeça que no ano seguinte iria pedir transferência para outra universidade, com os exames, ainda válidos, que tinha feito em 2011 e aproveitando a nota interna do recorrente.

Acontece que em 2012, já na primavera, Pedro apercebeu-se que o ministro Nuno Crato tinha alterado as regras de acesso ao ensino superior para os alunos do ensino recorrente e, a con-selho de um amigo do pai, procurou a ajuda do advogado Jorge Braga, que já estava a de-fender um grupo de alunos nesta mesma causa.

“Não sei o que é que hei de esperar do amanhã. Estou a estudar hoje e não sei se amanhã me podem mandar embora, nem posso fazer projetos. Os meus colegas vão todos de Erasmus no próximo ano e eu nem posso sequer pensar em concorrer”. Pedro (nome fictício)

ESPECIAL ESPECIAL

Autor: Marlene Carriço

Page 4: Obs antoniopinho 51843

QUI 16 ABR 2015 7QUI 16 ABR 20156

“Só sei contar que ganhámos em tribunal, que entrei na Universidade de Lisboa e não mais pensei no assunto, até a carta da DGES ter aparecido, no ano passado. Dizia que a minha matrícula seria anulada pois a minha média, recalculada, baixava e eu não tinha coloca-do mais nenhuma hipótese, naquele ano, a seguir a Lisboa. O meu pai está mais por dentro destas questões jurídicas do que eu. Na verdade não percebo muito bem a termi-nologia que o Dr. Jorge usa. Eu limito-me a estudar e desde que recebi a carta ainda ten-ho tirado melhores notas”, conta o estudante.

O que mudou com Nuno Crato?

A mudança das regras de acesso ao ensino superior para os alunos vindos do recorrente ocorreu a meio do ano letivo. Em fevereiro de 2012 foi publicado o diploma que aproxima as condições de candidatura ao ensino superior por parte dos alunos dos cursos científico-hu-manísticos do ensino recorrente, daquelas a que estão sujeitos os alunos do ensino regular.Na prática, os alunos do recorrente que se quer-em candidatar ao ensino superior passaram a ter de fazer os exames finais nacionais como os alunos do ensino regular, sem prejuízo de ser suficiente a avaliação interna para os alunos que apenas queiram obter a certificação da conclusão desses cursos. Além disso impe-diu-se que os alunos que tivessem completado .

“O propósito [das alterações às regras de acesso] foi pois o de pôr termo à prática, que se veio a revelar abundante, de uti-lizar o ensino recorrente como via rápida e acessível para o ingresso no ensino su-perior, frustrando as expectativas de to-dos os que seguiram o percurso normal”.Fonte oficial do Ministério da Educação e Ciência

As alterações introduzidas vieram, sublinha o Ministério da Educação ao Observador.

“Restaurar a matriz do ensino recorrente. O seu propósito foi pois o de pôr termo à práti-ca, que se veio a revelar abundante, de utilizar o ensino recorrente como via rápida e acessível para o ingresso no ensino superior, frustrando as expectativas de todos os que seguiram o percurso normal”, acrescentou fonte oficial do Ministério de Nuno Crato. Os casos mais fla-grantes e polémicos prendiam-se com alunos que tiravam notas baixas no regular e iam subir notas para o recorrente para conseguir entrar em cursos de médias elevadas, como medicina.Mas este diploma acabou por ser objeto de

litígio. Isto porque o ministro Nuno Crato entendia que as novas regras se deveriam aplicar a todos os alunos vindos do recorrente que acedessem ao ensino superior naquele mesmo ano e os alunos entenderam que não.Alunos venceram em tribunal. Ministério não baixou armas e a “guerra” continuaO advogado Jorge Braga tem sido um dos rostos desta luta que opõe os alunos do recorrente ao Ministério da Educação. Em 2012 apresentou dois processos no Tribunal Administrativo do Circulo de Lisboa, rep-resentando um total de 285 alunos, e ven-ceu os dois. O advogado considerava que o diploma de fevereiro de 2012 devia conter uma regra de transição para estes alunos “que não tinham sido formatados para fazer ex-ames naquele ano”, explicou ao Observador.

O Ministério, que recorreu das decisões, cri-ou na altura 163 vagas adicionais para que os alunos do regular não fossem prejudicados.Um dos processos acabou por subir para o Tribunal Central Administrativo Sul e como este tribunal decidiu que “a própria norma era inconstitucional porque violava o princípio da confiança jurídica, o Ministério Públi-co (MP) teve obrigatoriamente que recorrer para o Tribunal Constitucional”, conta Jorge Braga, lembrando que o recurso do MP dava razão aos alunos. O outro processo, que entrou mais tarde, seguiu para o Supre-mo Tribunal Administrativo (STA) do Sul.

Segundo o advogado, o Constitucional decid-iu que a norma não era inconstitucional para

“todos os alunos matriculados no ensino se-cundário recorrente” e o STA seguiu a mesma linha. Jorge Braga recorreu do acórdão do TC para o Plenário e do STA para o Constitucion-al. A resposta do Constitucional foi idêntica à primeira. A partir desse momento, Jorge Braga percebeu que só teria como salvaguardar os direitos dos alunos que tinham estado ma-triculados no recorrente antes de 2011/2012. Restavam-lhe 11 dos 183 que tinham entrado no ensino superior. E é por esses que se tem batido.

“O TC claramente excluiu da decisão os alunos que já haviam terminado o en-sino recorrente, portanto esses alunos que eram detentores de um certificado de habilitações académicas podiam, de-viam e teriam sempre que se candidatar”.Jorge Braga, advogado

“O TC claramente excluiu da decisão os alunos que já haviam terminado o ensino recorrente naquele ano, portanto esses alunos que eram detentores de um certificado de habilitações académicas podiam, deviam e teriam sempre que se candidatar”, argumenta o advogado.Acontece que perante a decisão do Consti-tucional e do STA, a Direção-Geral do En-sino Superior (DGES) não perdeu tempo e começou a notificar os alunos, numa carta em que decidia o seu futuro. Foi o pretexto para Jorge Braga contra-atacar: “eles aplicaram um ato administrativo antes do tempo, antes do trânsito em julgado das decisões, portan-to violaram uma decisão judicial. Eu recorri e suspendi a decisão dos tribunais”, relatou.O advogado apresentou providências cautelares individuais, uma por cada um dos 11 alunos, às quais ficou acoplada uma ação principal.

Só a providência de Pedro não foi ganha. O Ministério voltou a recorrer e Jorge recorreu da decisão da providência do Pedro para o Supremo Tribunal Administrativo que, por sua vez, se recusou a revisitar o processo, obrigando o advogado a recorrer para o Pleno da Secção.Em resposta ao Observador, o Ministério esclareceu que “está obrigado a executar todas as sentenças judiciais proferidas no âmbito de processos em que é parte, inde-pendentemente de o conteúdo da sentença (acórdão) lhe ser favorável”. Assim, “foram retificadas as classificações de ensino se-cundário dos autores das ações que foram candidatos ao concurso nacional de acesso e ingresso no ensino superior público para matrícula e inscrição no ano letivo 2012-2013.

E daí resultaram diferentes resoluções: aque-les que perderam a certificação de conclusão do secundário (por não terem feito exames nacionais) foram “excluídos”; os que, após retificação das notas (tendo em conta as do ensino regular que tinham frequentado ante-riormente), não conseguiram média para en-trar em nenhuma das hipóteses apresentadas em 2012/13 perderam colocação; outros foram notificados para mudar de instituição de ensino.Sem adiantar números, o Ministério da Ed-ucação revela que “muitos dos alunos que moveram as mencionadas ações não cheg-aram a candidatar-se ao concurso nacional de acesso de 2012″ e “dos que concorreram, uma parte significativa ou manteve a colo-cação ou foi colocada noutro par instituição/curso”. “Houve também alunos não coloca-dos, nomeadamente por terem limitado as opções de candidatura, e só os alunos que não reuniam as condições de acesso ao ensino superior, por não terem realizado os exames finais nacionais, é que ficaram na situação de excluído, sendo este número residual”, concluiu.Pedro já só pede para concluir este ano letivo.

Desde que recebeu a carta da DGES que Pedro e a sua família têm vivido num “sobressalto”. E Pedro não é caso único. Há mais estudantes a viver idêntico dilema. Só Jorge Braga representa 11. E nem todos estão em medicina. Há alunos de engenharias, pilotagem e outros cursos.Pedro, com boa média e apenas uma cadeira em atraso do primeiro ano, que vai fazer agora no segundo semestre, já só pede tempo para

“acabar este ano letivo”. Concluindo o terceiro ano obtém o grau de licenciado o que lhe

“daria oportunidade de concorrer a outras fac-uldades de medicina como licenciado”, explica.Se a decisão judicial chegar antes do final do

ano letivo e tiver de sair da universidade, “ape-nas me garantem as cadeiras que fiz” e “terei de repetir exames de ingresso para voltar a aceder ao ensino superior”. “Fico com a nota interna do regular (186 valores) e teria de ficar um ano em casa para me preparar para os exames”, detalha.Mas o advogado Jorge Braga lembra que mesmo que Pedro tente concorrer a outra faculdade de medicina como licenciado, “vai sempre estar dependente do número de va-gas para transferências, que costuma ser in-ferior a 10% do total das vagas da instituição”.

“Acho que temos uma boa probabilidade de ganhar a ação principal porque o ato do Ministério, de expulsar os alunos, é nula. Se assim for e se os alunos já tiver-em abandonado os estudos, poderão vir a pedir uma indemnização ao Estado”.Jorge Braga, advogado

Neste momento, Jorge Braga só quer que as providências sejam todas decretadas. Quanto à ação principal? “Acho que temos uma boa probabilidade de ganhar a ação porque o ato do Ministério, de expulsar os alunos, é nula”.E se os alunos entretanto já tiverem sido expul-sos e vier a ser-lhes dada razão mais à frente, na ação principal? “Os alunos podem exigir uma indemnização ao Estado, correspondente ao valor do salário que iriam auferir até ao fim da sua vida profissional”, exemplificou.

“Se eles perderem a ação principal perdem uma habilitação literária pois terão de fazer os exames nacionais pelo recorrente ou en-tão terão de aceitar ficar com a média mais baixa que já tinham obtido no regular”. Além disso terão de fazer os exames de ingresso no ensino superior e voltar a candidatar-se, po-dendo pedir equivalência das cadeiras já feitas.

“Tento não pensar muito no assunto”, afirma Pedro, que, apesar de tudo, não deixa de recon-hecer que o ensino recorrente, como estava montado, era “injusto”. E embora a situação em que se encontra atualmente não seja a ideal, Pedro espera que se prolongue. “Pelo menos devia demorar até setembro ou até às eleições para ver se nos deixam terminar o curso”, remata, com um sorriso nervoso.

ESPECIAL ESPECIAL

Page 5: Obs antoniopinho 51843

QUI 16 ABR 2015 9QUI 16 ABR 20158

firmemente que a questão das reparações foi resolvida política e legalmente”, respondeu o porta-voz da chanceler alemã, Angela Merkel, na quarta-feira, em resposta ao ministro grego.Apesar de ter ganhado uma nova vida desde a eleição do Syriza para o Governo grego a 25 de janeiro, a questão das reparações alega-damente devidas pela Alemanha por danos causados pelos nazis durante a Segunda Guerra Mundial à Grécia (e não só) é um imbróglio de longa data e que ainda há pouco mais de dois anos estava em discussão no Tribunal de Justiça Internacional. Mas vamos por partes.

A 10 de junho de 1944, o corpo paramilitar do partido nazi conhecido como SS (Schutz-staffel) matou 218 mulheres, crianças e idosos na vila de Distomo, perto da cidade de Delfos. O caso foi levado aos tribunais alemães pelos gregos até ter sido rejeita-do pelo Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, que considerou que os países estão

“imunes” a processos movidos por “cidadãos”.

Sem sucesso na Alemanha, os queixosos levaram a questão para a justiça grega que condenou a Alemanha a pagar 28 milhões de euros em reparações de guerra, que os alemães se recusaram a pagar. A justiça grega decid-iu, então, tentar confiscar e vender proprie-dades do Governo alemão na Grécia, algo que foi bloqueado pelo Governo grego que não queria entrar em guerra aberta com Berlim.

Eis que, em 2008, uma decisão da justiça ital-iana deu novo alento aos queixosos. O caso em mãos: a 29 de junho de 1944, as tropas alemãs mataram 250 civis na cidade de Civitella, na Toscânia. Mais de 40 anos após o massa-cre, os familiares das vítimas processaram a Alemanha na justiça italiana, exigindo rep-

Grécia, Alemanha e as reparações. Uma guerra complicada.

A luta da Grécia pelas reparações de guerra vai muito além do atual Governo, mas a jurisprudência não parece estar do seu lado. Vai Atenas abrir mesmo uma nova frente de batalha com a Alemanha?

“A nossa obrigação histórica é reclamar o empréstimo forçado e as reparações”. As pa-lavras de Alexis Tsipras, primeiro-ministro grego, na segunda-feira, são apenas mais um episódio daquela que ameaça ser uma longa saga em torno do tema das reparações de guerra. Esta quarta-feira, o ministro da Justiça, Nikos Paraskevopoulos, disse no Parlamen-to grego que estava pronto a assinar a lei a exigir reparações de guerra à Alemanha e a mandar apreender ativos alemães na Grécia.Do lado da Alemanha, um rotundo “não”. O Governo alemão acredita que a questão das reparações ficou resolvida nas conversações entre as potências mundiais que levaram à re-união da Alemanha em 1990. “Acreditamos

arações. Depois de muitos anos a lutar, um dos queixosos, um cidadão italiano chama-do Luigi Ferrini, viu o Supremo Tribunal de Justiça de Itália dar-lhe razão. O Supremo considerou que os indivíduos que viram os seus direitos humanos violados podiam, de facto, processar um país e exigir reparações de guerra. Ferrini foi preso pelos soldados alemães e enviado para um campo de concentração, onde foi obrigado a trabalhos forçados na pro-dução de armamento para o Exército alemão.

Mas os tribunais italianos foram ainda mais longe e decidiram que as decisões dos tribunais gregos podiam ser aplicadas em solo italia-no. Ou seja, os gregos que viram a Alemanha condenada a pagar-lhes reparações de guerra, podiam exigir a apreensão e venda de ativos alemães em Itália para fazer este pagamento. Para isso, foi ordenada a apreensão e venda de uma propriedade alemã perto do lago Como, que servia de centro cultural italo-germânico.Os gregos exigem, ainda, a devolução de um empréstimo que os nazis obrigaram (prática

comum) o Banco Central da Grécia a dar à Alemanha, de 476 milhões de marcos. Sem contar com juros, este valor podia ultrapas-sar os 13 mil milhões de euros atualmente.

Alemanha ganha em TribunalA justiça italiana abriu a porta a pedidos de indemnização de toda a Europa e a Ale-manha decidiu rapidamente colocar a Itália em Tribunal. Em dezembro de 2008, a Ale-manha entrou com um pedido no Tribunal Internacional de Justiça, em Haia, alegando que, ao permitir que civis exigissem repa-rações num processo cível contra um país, a Itália violou as suas obrigações perante a lei internacional, que dão imunidade à Alemanha.No centro da disputa, e que acabou por ser fulcral na decisão, está o Tratado de Paz en-tre a Itália e os aliados – no qual a Alemanha nem sequer foi uma parte –, no qual a Itália aceita uma cláusula que abdica de pedir rep-arações de guerra. A Alemanha argumentava que esta ainda era válida, enquanto a Itália defendia que os acordos subsequentes (como

o acordo de 1961 onde a Alemanha assume, voluntariamente, novas responsabilidades) criavam novas exigências. A Alemanha argu-mentou, por sua vez, que não se tratavam de novas exigências, mas de exigências antigas.

Finalmente, em 2012, os governantes alemães (e não só) respiravam de alívio. Depois de quatro anos de intensa dispu-ta, o Tribunal Internacional de Justiça decidiu a favor da Alemanha. Segundo Haia, o caso italiano violava a imuni-dade da Alemanha de ser processada por tribunais nacionais, um princípio re c on h e c i d o p e l a l e i i nte r n a c i on a l .

ESPECIAL ESPECIAL

Autor: Nuno André Martins

Page 6: Obs antoniopinho 51843

QUI 16 ABR 2015 11QUI 16 ABR 201510

negociações de paz da conferência de Par-is, a Grécia terá exigido 7,1 mil milhões de dólares de reparações de guerra à Alemanha. No entanto, este valor foi rejeitado e reduz-ido na altura para 45 milhões de dólares, que já terão sido pagos entre 1950 e 1990.

Os empréstimos entram noutro pântano legal. Se for considerado uma espécie de dano de guerra, poderia ser objeto de reparação. Mas, de acordo com o tratado de 1990, a Alemanha não teria de pagar. Se for considerado apenas um empréstimo sem juros, o valor será muito reduzido. Sem juros, o empréstimo valeria cer-ca de 14 mil milhões de dólares a preços atuais. Com juros de 3% durante 66 anos, o valor em dívida subiria para 95 mil milhões de dólares.Mas mesmo o valor total é discutível. Se-gundo Albrecht Ritschl, um historiador de economia da London School of Eco-nomics, em vez de mais de 160 mil mil-hões de euros, o valor das reparações não ultrapassaria os 13 mil milhões de euros.

Uma questão políticaNo final do dia, mesmo que o valor seja re-duzido, a Alemanha garante que pagou o que tinha a pagar e que não vai ceder nesta questão. Legalmente, um pagamento à Grécia podia criar o precedente legal necessário para que outros países, alguns de maior dimensão (como a França), exijam reparações à Alemanha.Outra das questões apontadas pela Grécia é o incumprimento da Alemanha de parte das dívidas da primeira guerra. Em 1953, no âmbito dos acordos de Londres, a Alemanha beneficiou de uma reestruturação de grande dimensão, com um perdão parcial e uma boa parte dos prazos de pagamento da dívi-da pública alemã a serem também estendidos para prazos mais longos o muito longo prazo.

Com esse acordo, a Alemanha acabou por demorar 92 anos a pagar por completo essa dívida, desde o final da primeira guerra, até ao pagamento da última tranche em 2010.A Grécia pode seguir nos próximos meses para os tribunais internacionais, mas as de-cisões mais recentes não inspiram grande confiança para os lados das pretensões gregas.

Alguns especialistas argumentavam, na altura, que negar este princípio iria abrir um prece-dente que levaria à inundação dos tribunais. Mas outros, como a Amnistia Internacional, consideravam que a decisão era um “grande passo atrás em matéria de direitos humanos” e que violava o princípio consagrado na Con-venção de Haia, de acordo com o qual “as vítimas de crimes de guerra podem processar o Estado responsável para obter reparações”.

Grécia não desistiuNa quarta-feira, o Parlamento grego aprovou a criação de uma comissão especial formada para todos os partidos para calcular o valor que a Alemanha alegadamente deve à Grécia em reparações e em relação ao empréstimo forçado.No entanto, este trabalho não é pioneiro. Em 2013, o Ministério das Finanças da Grécia terá pedido um relatório a um grupo de es-pecialistas para avaliar quanto seria o valor em causa. “Quanto nos deve a Alemanha” será o título do relatório secreto, de acordo com a revista alemã Der Spiegel. Depois de

meses de trabalho, o relatório de 80 páginas terá chegado à conclusão que a Grécia “nun-ca recebeu qualquer compensação, seja pelos empréstimos que foi forçada a dar à Alemanha ou pelos danos sofridos durante a guerra”.O valor calculado pelos peritos não foi conhe-cido, tal como o relatório que não foi tornado público, mas o jornal grego To Vima, que diz ter tido acesso ao relatório, afirma que este valor atinge os 162 mil milhões de euros, a soma ex-igida, agora, por Alexis Tsipras, que correspon-de a cerca de metade da dívida púbica grega.

Segundo a revista alemã Der Spiegel, este relatório foi entregue pelo Ministério das Fi-nanças ao então ministro dos Negócios Es-trangeiros grego, Dimitris Avramapoulos, e ao primeiro-ministro, Antonis Samaras. A decisão teria de ser tomada ao mais alto nível, mas o relatório ficou na gaveta numa altura muito sensível do resgate. A Grécia tinha aca-bado a segunda fase da sua reestruturação de dívida e tinha a promessa, feita em novembro de 2012, do Eurogrupo de que iria discutir a sustentabilidade da sua dívida assim que conse-guisse um saldo primário nas finanças públicas.Agora, o ministro da Justiça, Nikos Paraskel-opoulos, ameaça fazer cumprir exatamente a decisão de 2000 da justiça grega, relativa ao mas-sacre de Distomo, e de apreender ativos alemães. Só o Governo pode tomar essa decisão, algo que o Executivo grego em 2000 não quis fazer.

A Alemanha deve reparações à Grécia?Esta questão, a avançar o processo pela Grécia contra a Alemanha, terá muitas nuances com base nas interpretações dif-erentes de alguns tratados. Mas não só.

A Alemanha pagou, em 1960, cerca de 115 milhões de marcos alemães (cerca de 59 milhões de euros a valores da altura) de compensação às vítimas gregas dos crimes nazis. As vítimas dos campos de trabalhos forçados receberam compensações individu-ais. Alexis Tsipras alega que estas reparações não cobrem a destruição causada durante a ocupação nazi da Grécia, entre 1941 e 1944.Outra questão é a do valor das indemni-zações que foi acordado. A certa altura, nas

Portugal teria défice excessivo a partir de 2016 sem renovação de medidas temporárias

Portugal até conseguiria reduzir o défice orçamental para menos de 3% do PIB este ano, mas, caso não sejam tomadas medi-das para manter alguns dos cortes ou com-pensá-los, o défice voltará a superar os 3% em 2016 e nos anos seguintes até 2019, estima o Conselho das Finanças Públicas.Num relatório publicado sobre a situação e as condicionantes orçamentais no perío-do 2015 a 2019, o Conselho das Finanças Públicas alerta para um crescimento do valor do défice nos anos posteriores a 2015.

Este cenário, no entanto, é explicado pela forma como o CFP faz as suas estimativas, que é através da utilização de um cenário de políticas invariantes, ou seja, o CFP não conta com as medidas que ainda não estão aprovadas e com aquelas medidas que ex-igem legislação anual para serem repostas.Entre estas medidas, e com grande impacto tanto no défice como na previsão de cresci-mento da economia, estão, por exemplo, os cortes salariais na Função Pública que devem

desaparecer no próximo ano se não forem aprovados novos cortes (no seguim-ento de uma decisão do Tribunal Con-stitucional) e da sobretaxa de 3,5% em sede de IRS, que também precisa de ren-ovação anual no Orçamento do Estado.Neste sentido, o CFP calcula que o dé-fice este ano seria reduzido para 2,8%, mas este cresceria novamente para 3,3% em 2016 e 3,2% do PIB nos anos seguintes até 2019.Isto aconteceria, caso não avancem mais me-didas, o PIB até cresceria mais que o previsto, superior a 2% de 2016 até 2019 (chegando mesmo aos 2,4% em 2017), mas mesmo com esse nível de crescimento, o problema das fi-nanças públicas não seria resolvido e o défice mantinha-se nos valores referidos acima de 3%.

“O s i mpl e s f a c to d e a au s ê n c i a d e medidas em 2016 levar a um cresc i -me nto m ai or d a e c onom i a n ã o re -s o l v e o p r o b l e m a d o o r ç a m e nt o”, a f i r m ou e s t a qu ar t a - fe i r a Te o d or a Cardoso, durante a apresentação deste relatório na sede do CFP, em Lisboa.”

ESPECIAL ECONOMIA

Autor: Nuno André Martins

Page 7: Obs antoniopinho 51843

QUI 16 ABR 2015 13QUI 16 ABR 201512

A Procuradoria-Ger-al da República quer analisar a necessidade de iniciar procedi-mentos que se most-rem pertinentes para enfrentar a questão da existência de uma lista VIP de contribuintes.

Responsáveis da Grécia e da zona euro estão a atirar as culpas uns para os outros. Alexis Tsipras diz no parlamento que a quinta avaliação foi cancelada e que não será “intimidado por ameaças”.

As negociações técnicas entre a Grécia e os representantes das instituições credoras “não estão a correr bem”, disseram ao The Wall Street Journal fontes próximas do processo. No Parla-mento de Atenas, o primeiro-ministro Alexis Tsipras defendeu esta quarta-feira que a quinta avaliação do segundo resgate foi “cancelada” e que o que vale é o acordo obtido a 20 de fevereiro, um acordo que estendeu por quatro meses o acordo com a Grécia mas que fez de-pender a entrega de mais fundos do sucesso das negociações técnicas com Atenas. Tsipras gar-ante que não se deixará “intimidar por ameaças”.

“Responsáveis eleitos vão negociar com re-sponsáveis eleitos e os tecnocratas lidarão com tecnocratas”, afirmou esta quarta-feira Alexis Tsipras no Parlamento, consubstanciando a notícia desta manhã do The Wall Street Journal que citava fontes próximas da negociação técnica que diziam que “os gregos não estão a cooperar” e que os técnicos do BCE, FMI e Comissão Europeia não estão a conseguir ter acesso a dados importantes sobre as finanças do país.

No Parlamento, Tsipras garante está “aberto ao diálogo e a sugestões”, mas assegura que

“não irá deitar burocratas ditarem medi-das”. O primeiro-ministro grego pediu uma reunião com Angela Merkel, François Hollande, Jean-Claude Juncker e Mario Draghi para, à margem do Conselho Europeu de amanhã e sexta-feira, negociar com estes responsáveis uma solução para o impasse que subsiste.A falta de progressos nestas negociações está a gerar grandes dúvidas sobre a forma como a Grécia irá conseguir superar a crise de fi-nanciamento que enfrenta, algo que Tsipras chama uma “pressão ao nível da liquidez”. O primeiro-ministro diz que não quer tratamento

“especial”, apenas “tratamento igual” quando

pede que o BCE aumente os limites ao finan-ciamento da banca grega e aos montantes de dívida de curto prazo que aceita como garantia.O Estado grego conseguiu esta quarta-feira obter 1.300 milhões de euros num leilão de dívida a três meses, com uma taxa a rondar os 2,7%, o que ilustra as dificuldades de tesouraria de um país que já está a recorrer aos fundos de pensões públicos para financiar o Estado.Alexis Tsipras garante que o seu governo está “determinado a cumprir os compro-missos assumidos durante a campanha”. O Ministro das Finanças da Grécia disse em Itália que, a bem da “construção da confiança com os parceiros europeus”, o governo poderia adiar promessas eleitorais.

Negociações técnicas com a Grécia “não estão a correr bem”

A Procuradoria-Geral da República (PGR) está a recolher informação sobre a existência de uma eventual lista de contribuintes VIP na Autoridade Tributária e Aduaneira (AT), com o objetivo de avaliar se vai dar início a algum procedimento, informou fonte da PGR.

“A PGR encontra-se a coligir informação sobre essa matéria, com vista a avaliar da necessidade de iniciar procedimen-tos que mostrem pertinentes, no âmbito das atribuições do Ministério Públi-co”, refere a PGR numa resposta à Lusa.Na segunda-feira, o Ministério das Finanças anunciou ter solicitado à Inspeção-Geral de Finanças (IGF) a abertura de um inquérito sobre a existência desta lista na Autoridade Tributária e Aduaneira (AT), explicando que este inquérito surgiu “tendo em conta notícias vindas recentemente a público”.O presidente do Sindicato dos Tra-balhadores dos Impostos (STI), Paulo Ralha, afirma que existe a referida lista de con-tribuintes VIP e que foi o chefe de divisão dos serviços de auditoria da Autoridade

Tributária e Aduaneira, que informou os trabalhadores da sua existência numa ação de formação para 300 inspetores tributários.O sindicalista relaciona esta lista de contribuintes com os 140 processos disci-plinares que foram abertos a trabalhadores que, alegadamente, acederam a infor-mação de contribuintes dessa lista VIP.O STI acrescenta que os processos disciplinares aos trabalhadores dos impostos começaram a ser aplicados desde dezembro, depois de ter sido noticiado que os funcionários da AT estavam a ser investigados por alegada-mente terem consultado os dados fiscais do primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho.Mas o diretor-geral da AT, António Bri-gas Afonso, “desmente que tenha recebido qualquer tipo de lista da parte do secretário de Estado dos Assuntos Fiscais”, Paulo

Núncio, tal como noticiou a revista Visão.Num debate no parlamento, também o pr i me i ro - m i n is t ro ne gou qu e e x-i s t a na Autor id ade Tr ibut ár i a uma q u a l q u e r ‘ b o l s a V I P ’ d e s t i n a d a a contr ibuintes considerados especiais .

PGR recolhe informação sobre lista de contribuintes VIP

ECONOMIA PAÍS

Autor: Edgar Caetano

Autor: Agência Lusa

Page 8: Obs antoniopinho 51843

QUI 16 ABR 2015 15QUI 16 ABR 201514

O crescimento na União Europeia é um objectivo ultrapassado pela realidade, contraditório com outros importantes desideratos colectivos e contrariado por características sociais determinantes.

Há qualquer coisa de obsessivo na ideia de crescimento económico em Portugal como no resto do mundo. Lê-se e ouve-se por todo o lado, sobretudo no terreno dos «slogans» políticos para uso imediato, e até se perce-be porquê em contexto de crise. Contudo, a verdade é que se trata, em especial na União Europeia, de um objectivo ultrapassado pela realidade, contraditório com outros impor-tantes desideratos colectivos e contrariado por características sociais tão determinantes como o envelhecimento populacional.

Com efeito, as sociedades maduras são de-masiado complexas para obedecer automatica-mente ao estímulo económico decretado pelo Estado, daí que o recente «quantitative easing» do BCE esteja condenado a esgotar os seus efeitos rapidamente. Em sociedades como as integradas na UE, em particular no euro-grupo, há sempre forças a operar em simultâneo a favor e contra o crescimento económico, sen-do o resultado final tudo menos automático.

Numa recente lista do FMI – uma instituição especializada em oferecer receitas milagrosas para o crescimento económico -, eram apon-tados os países com menor crescimento des-de 1999 até ao esperado em 2019. Ora, oito dos nove países mais relevantes dessa lista pertencem à UE (sete dos quais ao euro) e o outro é o Japão. Todos estes países, onde a Itália, o Japão e Portugal são os três com menor crescimento ao longo daquelas duas décadas (menos de 1% ao ano e os outros cinco países entre 1% e 1,5%), todos eles se caracterizam

– uns mais, outros menos – por possuírem rendimentos per capita acima e, na maioria dos casos, muito acima da média mundial.

Não se trata, portanto, de pobreza; compar-ativamente, são países ricos ou, pelo menos, remediados como Portugal. Em suma, esta-mos a falar de sociedades que, tendo atingido um determinado patamar de prosperidade superior a 20.000 dólares por habitante, en-contram dificuldades estruturais para crescer economicamente (na China são $7.000 e

A retórica do crescimento

na Índia $1.500). As razões variam e certos países, como Portugal e a Grécia tipicamente, começaram a deixar de crescer mais cedo do que outros, como (por ordem da lista em questão) a Dinamarca, a Alemanha, a França, a Bélgica, a Holanda e até a Croácia (que ainda não entrou para o euro), todos abaixo de 1,5%.

Independentemente das diferenças de riqueza e de cultura, há contudo semelhanças decisi-vas entre os países de mais lento crescimento, incluindo o Japão. São três os traços comuns mais importantes: a demografia (elevada lon-gevidade e baixa fecundidade); o consequente peso das reformas e das despesas de saúde, seja qual for o sistema de segurança social; e a melhor protecção ambiental do mundo (Por-tugal é, segundo o Eurostat, o 6º país da UE com maior peso das energias renováveis). É isto que se pretende trocar pelo crescimento do antigo «terceiro mundo»? Ou é por isto que a Europa tem os custos acrescidos e as dificuldades de crescimento que conhecemos?

Para além desses três factores maciços, que não há partido político algum que os mude significativamente, em especial o demográfi-co, há ainda o factor do mercado de trabalho. As comparações são mais complicadas mas é evidente que os mercados de trabalho euro-peus se ressentem, do ponto de vista do cresci-mento, dos corporativismos sindicais que os USA e o Reino Unido já desmantelaram em parte, enquanto o «terceiro mundo» nunca os chegou a ter. Além desses corporativismos, de que as empresas estatais de transportes como a TAP são o exemplo mais flagrante, os mercados de trabalho são condicionados, uma vez mais, pela demografia e pelo con-flito entre as velhas e as novas gerações, que afectam a composição da população activa

e daí as crescentes migrações internacionais.Se e quando a Europa minimizasse os efeitos destes 3 + 1 problemas estruturais – demogra-fia, «estado social» e ambientalismo, mais o mercado do trabalho – poder-se-ia falar sem demagogia de crescimento e da criação de emprego. Mas nessa altura restaria o úl-timo factor anti-desenvolvimentista, a sa-ber, a adesão subjectiva de grande parte da população europeia à austeridade, não no sentido meramente fiscal mas sim cultural do termo, e é isto que ainda não foi enten-dido pelos economistas da era keynesiana…

Há pois fortes indícios de que não é a falta de crescimento que condiciona os valores sociais e políticos. São, sim, a demografia, a defesa do «estado social» e do ambiente, assim como o fosso inter-geracional, que condicionam as opções economicistas ultrapassadas dos par-tidos que apenas sabem angariar votos prom-etendo mais gastos e mais empregos públicos. Prometer o crescimento é uma frase feita mas, além de falsa, já não corresponde àquilo que ambiciona porventura a maioria dos europeus, para quem não seriam necessários mais do que 2% de crescimento anual para 2% de in-flação, segundo a fórmula mágica alemã. Em todo o caso, na minha opinião, o problema da sociedade portuguesa é muito menos uma questão de crescimento do que uma profunda questão de desigualdade interna; não é tanto um problema de competição externa como de redistribuição interna. Era disto que devía-mos estar a falar para as próximas eleições.

OPINIÃO OPINIÃO

Autor: Manuel Villaverde Cabral

Page 9: Obs antoniopinho 51843

QUI 16 ABR 2015 17QUI 16 ABR 201516

3.De onde vem o dinheiro?O “Plano Juncker” pretende mobilizar pelo

menos 315 mil milhões de euros durante os próximos 3 anos. Uma mobilização de fontes de financiamento público e priva-do, em que cada euro será utilizado para gerar investimento privado suplementar e, ponto importante, sem aumentar a dívida.O objetivo é colocar a circular o dinheiro que está parado nas contas bancárias das empresas e cidadãos e canalizá-lo para investimentos produtivos. A base de todo o Plano é o novo

Fundo Europeu para Investimentos Estratégi-cos (FEIE), criado em conjunto com o Banco Europeu de Investimento, com o objetivo de apoiar investimentos de longo prazo e facil-itar o acesso das PME e empresas de média capitalização ao financiamento de risco.O FEIE funcionará como uma garantia que tem por base 16 mil milhões de euros do orçamento da UE, aos quais se juntam 5 mil milhões de euros do BEI. No total, 21 mil milhões que servem como amortecedor de riscos, deste modo podem proceder a um empréstimo que serve de garantia, partindo do príncip-io de que todos estes investimentos terão um retorno de capital, que absorverá o risco mais elevado em investimentos estratégicos.

A Comissão e o BEI acreditam que o Fundo terá um efeito multiplicador até 15 vezes (daí o total de 315 mil milhões). Ou seja, cada euro mobilizado através do Fundo vai trazer 15 euros de investimento total. Os vinte e oito Estados-membros foram convidados a con-tribuir para o Fundo, diretamente ou através dos bancos de fomentos nacionais, bem como os investidores privados. O FEIE deverá ser aprovado pelo Conselho e pelo Parlamento Europeu para estar operacional em junho.“P

lano

Junc

ker”

315

mil

milh

ões

em

3 an

os. P

ara

quê?

2.Quais os objetivos?

1.Um Plano de Investi-mento para a UE. Porquê?

O Plano de Investimento assenta em três eixos: mobilizar financiamento, melhorar o ambiente para o investimento e fazer com que esse dinheiro chegue à economia real com o objetivo principal de estimular o crescimen-to económico e a criação de emprego na UE.Trata-se de mobilizar energias, inverter a queda de investimento, corresponder às necessidades da economia europeia, de promover a compet-itividade em setores estratégicos da UE, de re-forçar o capital humano, a capacidade produtiva, as infraestruturas e as interconexões (energéti-cas) vitais para o mercado único comunitário.Segundo as previsões do executivo comunitário, o Plano de Investimento tem potencial para acres-centar entre 330 mil milhões a 410 mil milhões.

Desde que a crise económica e financeira atingiu a Europa que os níveis de investi-mento caíram, e em alguns Estados-mem-bros desceram mesmo de forma drástica.Assim, no segundo semestre do ano passado o investimento na UE foi 15% inferior ao de 2007, antes do início da crise. Ou seja, com-parativamente ao pico registado naquele ano, os investimentos diminuíram 430 mil milhões de euros, segundo a Comissão Europeia (CE) e o Banco Europeu de Investimento (BEI). Por-tugal (-36%) está no grupo de países onde a queda de investimento foi mais acentuada nos últimos anos juntamente com Itália (-25%), Espanha (38%), Irlanda (-39%), Grécia (-64%).

A crise produziu uma queda de investimen-to que, consequentemente, está a atrasar a recuperação económica na União Euro-peia, retoma essa que é ainda mais débil na zona euro. Por exemplo, para acompanhar o ritmo de investimento nos Estados Uni-dos, a UE deveria ter investido mais 540 mil milhões de euros, de acordo com as esti-mativas do executivo comunitário e do BEI.A principal razão avançada para explicar a debilidade persistente dos níveis de inves-timento está no baixo nível de confiança dos investidores que, fatalmente, resulta na incapacidade de assunção de riscos. Tra-ta-se portanto de quebrar o ciclo vicioso de falta de confiança e subinvestimento.Para voltar a colocar a UE na senda do crescimento e da criação de emprego, o at-ual executivo comunitário propôs no início do mandato, em novembro, um Plano de Investimento de 315 mil milhões de euros, também conhecido por “Plano Juncker”. “

4.Como funciona?O Fundo Europeu de Investimentos Es-

tratégicos (FEIE) deverá ter gestão e sede no Banco Europeu de Investimento. É cofi-nanciado pelo BEI (5 mil milhões de euros) e pelo orçamento da UE (16 mil milhões).

O FEIE é um amortecedor de riscos, como uma garantia, serve de proteção parcial contra riscos, de proteção contra riscos iniciais. O objetivo é conseguir atrair projetos de risco mais elevado mas de alto valor estratégico para a União Europeia, e que de outra forma não encontrariam financiamento. Com esta assunção de riscos em relação a projetos deci-sivos e complexos, a UE vai mais longe do que os atuais programas comunitários e do BEI.

6.Quem selecciona os projetos?

5.Que pro-jetos serão escolhidos?

O “Plano Juncker” pretende mobilizar pelo menos 315 mil milhões de euros durante os próximos 3 anos. Uma mobilização de fontes de financiamento público e priva-do, em que cada euro será utilizado para gerar investimento privado suplementar e, ponto importante, sem aumentar a dívida.O objetivo é colocar a circular o dinheiro que está parado nas contas bancárias das empresas e cidadãos e canalizá-lo para investimentos produtivos. A base de todo o Plano é o novo Fundo Europeu para Investimentos Estratégi-cos (FEIE), criado em conjunto com o Banco Europeu de Investimento, com o objetivo de apoiar investimentos de longo prazo e facil-itar o acesso das PME e empresas de média capitalização ao financiamento de risco.

O FEIE funcionará como uma garantia que tem por base 16 mil milhões de euros do orçamento da UE, aos quais se juntam 5 mil milhões de euros do BEI. No total, 21 mil milhões que servem como amortecedor de riscos, de garantia que absorverá o risco mais elevado em investimentos estratégicos.A Comissão e o BEI acreditam que o Fundo terá um efeito multiplicador até 15 vezes (daí o total de 315 mil milhões). É o quociente entre o volume financeiro total dos projetos. Ou seja, cada euro mobilizado através do Fun-do vai trazer 15 euros de investimento total.

Os vinte e oito Estados-membros foram convi-dados a contribuir para o Fundo, diretamente ou através dos bancos de fomentos nacionais, bem como os investidores privados. O FEIE deverá ser aprovado pelo Conselho e pelo Parlamen-to Europeu para estar operacional em junho.

“Estes investimentos suplementares devem centrar-se nas infraestruturas, nomeada-mente nas redes de banda larga e redes de energia, bem como nas infraestruturas de transporte em centros industriais; na edu-cação, investigação e inovação; nas energias renováveis e na eficiência energética. É conve-niente afetar recursos significativos a projetos suscetíveis de ajudar os jovens a voltarem a encontrar empregos”, anunciou Jean-Claude Juncker no Parlamento Europeu, em julho.

Assim, a Comissão Europeia propôs que o novo Fundo apoie os investimentos nas in-fraestruturas estratégicas (investimentos no digital e em energia, em consonância com as políticas da União), nas infraestruturas de transportes em centros industriais, educação, investigação e inovação, os investimentos criadores de emprego, designadamente at-ravés do financiamento de PME e de me-didas a favor do emprego dos jovens e nos projetos sustentáveis e “amigos” do ambiente.

Para ser selecionado cada projeto deve obe-decer a vários critérios: ter valor acrescentado europeu (e apoiar os objetivos da UE), ser viável e representar valor económico, e ter início, o mais tardar, nos próximos três anos, ou seja, que represente uma expectativa ra-zoável de investimento no período de 2015-17.Vai ser constituída uma reserva de projetos europeia. Esta lista dinâmica e atualizada fac-ultará informações aos investidores sobre os projetos disponíveis existentes e os futuros.

O executivo comunitário estima que o Fundo (21 mil milhões) terá um efeito multiplica-dor até 15 vezes (daí o valor de 315 mil mil-hões). O efeito multiplicador é o quociente entre o volume financeiro total dos projetos gerados em resultado da intervenção do Fundo e o capital público inicial mobiliza-do para lançar o Fundo. A lógica subjacente ao efeito multiplicador do FEIE é que uma pequena proporção de capital público utiliza-da como capacidade de assunção de riscos permitirá atingir uma quota muito maior de capital privado para investir nos projetos.O FEIE vai financiar projetos estratégicos e de longo prazo em toda a UE e uma par-te servirá para apoiar investimentos das PME e das empresas de média capitalização.

7.Há o risco de os con-tribuintes europeus perderem dinheiro?

Segundo a Comissão e o BEI, a garantia do orça-mento da UE permite ao BEI oferecer produtos com maior valor acrescentado, mas também intrinsecamente com maior risco. Mas os riscos deverão ser atenuados por uma gestão que ben-eficia da experiência e das competências do BEI.Por outro lado, o comité de investimento que junta peritos independentes vai supervisionar as atividades do FEIE. Haverá uma remuner-ação adequada do risco, que será mantida no Fundo para compensar perdas e é criada um Fundo de Garantia da UE que assegurará uma reserva de liquidez para o orçamento da União em relação a eventuais perdas incorridas pelo FEIE no quadro do apoio prestado aos projetos.

8.Quais os países que já con-tribuíram?

Os vinte e oito Estados-membros da EU foram convidados a contribuir para o Fun-do, diretamente ou através dos bancos de fomento nacionais ou de organismos públicos que sejam propriedade dos Es-tados-membros ou por eles controlados.Até agora só a Alemanha (8 mil milhões de euros), Espanha (1,5 mil milhões), França (8 mil milhões) e Itália (8 mil milhões) anunciaram contribuições para o Fundo.

Estas contribuições nacionais não são tidas em conta para o cálculo do défice. Numa co-municação relativa ao recurso à flexibilidade prevista pelas regras atuais do Pacto de Esta-bilidade e de Crescimento, o executivo comu-nitário traçou em Janeiro as suas orientações sobre esta matéria. Por forma a estimular os Estados-membros a abrirem os cordões à bolsa, as contribuições nacionais para o FEIE não são tidas em consideração no quadro da avaliação do ajustamento orçamental.

9.Portugal vai benefi-ciar do Plano de Investi-mento da UE?

Os vinte e oito Estados-membros da UE apre-sentaram cerca de 2000 potenciais projetos, num total de 1,3 biliões de euros. Destes, mais de 500 mil milhões de euros em proje-tos que podem ser realizados nos próximos 3 anos, segundo dados da Comissão e o BEI.Mas o facto de os projetos se encontrarem nesta lista preliminar não significa que vão ser finan-ciados pelo “Plano Juncker“. Apenas uma parte será escolhida. A constituição daquela lista é um primeiro passo. O objetivo é criar uma res-erva de projetos transparente e viável que resta-beleça a confiança dos investidores e permita desbloquear o financiamento do setor privado.

Portugal apresentou até agora 113 projetos que atingem um valor global de 31,8 mil milhões de euros, dos quais 16,1 mil milhões euros no período 2015-2017. As áreas dos transportes e da energia são as que mais projetos incluem. De acordo com fontes do executivo português, a atual distribuição dos projetos nacionais can-didatos ao Plano de Investimento é a seguinte: transportes 31%, energia 30%, infraestrutura social 24%, recursos e ambiente 9%, e con-hecimento, inovação e economia digital 6%.

EXPLICADOR EXPLICADOR

Page 10: Obs antoniopinho 51843

QUI 16 ABR 2015 19QUI 16 ABR 201518

Mónaco, de Leonardo Jardim, apura-se para os quartos definal da Liga dos Campeões

O Mónaco, treinado pelo português Leon-ardo Jardim, qualificou-se na terça-fei-ra para os quartos de final da Liga dos Campeões de futebol, apesar de ter per-dido em casa com o Arsenal, por 2-0.

Na segunda mão dos oitavos de final, o francês Olivier Giroud (36 minutos) e o galês Aaron Ramsey (79) deram o triunfo ao Arsenal, in-suficiente contudo para o conjunto inglês dar a volta ao 3-1 na primeira mão, permitindo aos monegascos, que tiveram João Mouti-nho e Bernardo Silva em campo, chegar pela primeira vez aos ‘quartos’ desde 2003/04.

No outro encontro da noite, o Atlético de Madrid, finalista em 2013/14, e o Bayer Leverkusen vão disputar o prolongamen-to, depois de Mario Suarez ter empatado a eliminatória, com um golo aos 27 minutos.

DESPORTO CULTURA

Ciganos do Alentejo numa exposição em Nova Iorque

perfeitas para The Dream Goes Over Time (originalmente intitulado Au-Delà du Tage).Mais uma vez, e à imagem do seu trabalho an-terior, Gonnard assina uma coleção de retratos íntimos com um estilo pictórico muito acentu-ado, não só dos membros da comunidade da região mas também dos respetivos animais. O fotógrafo deparou-se com a família, pela pri-meira vez, quando estes se deslocavam a bordo de uma carroça a caminho do seu acampamen-to. Viajou e conviveu com eles durante semanas até ganhar confiança e afeto suficientes para os poder fotografar, sendo que muitos deles nunca sequer tinham visto uma câmara até aí.

Depois de já ter sido mostrado em 2013, em Évora, no âmbito da Trienal e em 2014 no Centro Andaluz de Fotografia, o trabalho atravessa o Atlântico e chega agora a Nova Iorque: está patente na galeria Hasted Kraeutler até 25 de abril.

O artista francês Pierre Gonord fotografou os últimos ciganos nómadas do Alentejo e os respetivos animais ao estilo de retratos pictóricos do barroco. A exposição está agora em Nova Iorque.

Já não é a primeira vez que Pierre Gonnord, fotógrafo francês com residência em Madrid, se dedica a fotografar comunidades marginal-izadas de forma quase pictórica, a fazer lembrar retratos em tela do século XVII ou XVIII. Fê-lo em vilas isoladas de França e Espanha, na América do Sul, com membros da yakuza, no Japão, com jovens sem-abrigo, cegos, agricul-tores ou mineiros um pouco por toda a Europa.

Para este trabalho, contudo, Gonnard veio até território nacional. Inserido numa residência no âmbito da Trienal no Alentejo, com quem colabora em vários projetos, o artista explorou a fronteira raiana junto a Portalegre e encontrou nos ciganos nómadas do Alentejo as personagens

Autor: Agência Lusa

Autor: Tiago Pais

Page 11: Obs antoniopinho 51843

QUI 16 ABR 2015 21QUI 16 ABR 201520

Mais do que um mero libelo “anti-Putin”, o filme “Leviatã”, de Andrei Zyvagintsev, é uma história feia e bruta sobre os atavismos políticos, culturais e sociais da Rússia, da corrupção ao fatalismo.

Os media, com a televisão à cabeça, têm o mau hábito de reduzir uma obra de arte a um es-tereótipo, simplificando-a numa frase ou numa etiqueta para consumo colectivo e retirando-lhe assim a riqueza, os significados e a complexi-dade. A mais recente vítima desta tendência é

“Leviatã”, a quarta longa-metragem do cineasta russo Andrei Zyvagintsev, que chega hoje a Portugal rotulado como “o filme anti-Putin”.

Nada mais confrangedor e reducionista do que limitar a um libelo contra o actual ocupante do Kremlin o que é na realidade um filme sobre os trágicos atavismos culturais, políticos e so-ciais da Rússia – a corrupção de alto a baixo e do centro às periferias, a tirania tentacular do Estado, a promiscuidade da Igreja Ortodoxa com o poder, os vasos comunicantes deste com o mundo do crime, o peso da burocra-cia e a força dos tiranetes locais, a impotência do cidadão comum perante a arbitrariedade pública, o embrutecimento da sociedade pela bebida, o fatalismo da sociedade civil –, que Zyvagintsev ilustra através de história sobre a

eterna impotência do cidadão russo perante a arbitrariedade estatal, perante o peso e a força de um monstro. Um leviatã que já se chamou czarismo e depois comunismo, e que se man-tém com as roupagens de um novo regime, com novas caras e a mesma velha indiferença e prepotência para com as pessoas comuns.Putin é apenas mais um, aquele que contro-la o monstro nesta altura, como o realizador mostra na sequência em que o protagonista e a sua família e amigos vão fazer um piquenique de aniversário na natureza, que consiste es-sencialmente em beber vodka e fazer tiro ao alvo. Primeiro, a garrafas da bebida nacional, depois às fotografias dos homens que lider-aram o país quando ainda se chamava União Soviética, e a seguir no pós-comunismo.

O leviatã do sistema sobrevive aos seus líde-res, e resta aos governados disparar contra os seus retratos, para cevar toda a raiva, revolta e impotência que os amarfanha por dentroEste filme de Andrei Zyvagintsev é, no en-tanto, mais explicitamente “contra” o regime

do que a sua obra de estreia, o magnífico e enigmaticamente alegórico “O Regresso”, que revelou o cineasta ao mundo vencendo o Festival de Veneza em 2003. Bem como a sua realização anterior, “Elena” (2011), que, pela subtileza na descrição das desigualdades e injustiças da actual sociedade russa, alguns poderão com toda a legitimidade preferir a este mais óbvio e demonstrativo “Leviatã” (são claros os paralelos feitos por Zyvagintsev com a narrativa bíblica de Job, só que no final do filme, o seu herói, Kolia, em vez de ser recom-pensado pelo sofrimento que lhe foi infligido, é ainda mais implacavelmente martirizado).

Ironicamente, o rea l izador foi inspi-rar-se num facto real ocorrido em 2004 nos EUA (revoltado contra a Câmara Municipal da cidade onde vivia na se-quência de um contencioso sobre ter-renos, um homem meteu-se num tan-que, destruiu vários edifícios públicos e depois suicidou-se) para escrever, com Oleg Negin, “Leviatã”, que ganhou o Prémio de Melhor Argumento no Fes-tival de Cannes, o Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro e esteve can-didato ao Óscar na mesma categoria.

Kolia (estupendo Aleksei Serebryakov), um mecânico, vive e trabalha numa casa com vis-ta para o Mar de Barents, que pertence à sua família há várias gerações. O mafioso presiden-

te da câmara local cobiça o terreno e procura expropriar Kolia e a família manipulando a polícia e os tribunais e obrigando-o a aceitar uma indemnização ridícula, para, suspeita este, construir uma mansão luxuosa para si ou es-pecular no mercado imobiliário com os seus capangas do meio da construção civil. Kolia recorre a um velho amigo e camarada da tropa,

Dimitri, advogado em Moscovo. Este recorre aos seus conhecimentos na capital, compila um dossier com todos os podres do autarca, e confronta-o com ele. Só que nem este se deixa intimidar, como também Dimitri se envolve de forma imprudente com a mulher de Kolia. E tudo o que pode acontecer de mau, acontece.A Rússia que Andrei Zyvagintsev aqui filma é uma terra de homens e mulheres corruptos, desesperados, comprados ou resignados, onde a revolta é um gesto inútil que a máquina da bu-rocracia, o peso do dinheiro ou a violência dos poderosos se encarregam de neutralizar, e onde toda a gente bebe vodka até ao entorpecimento,é um filme fatalista do ancestral, enraizado.

‘Leviatã’: a longa tragédia da sociedade russa

CULTURA CULTURA

Autor: Eurico de Barros

Page 12: Obs antoniopinho 51843

QUI 16 ABR 2015 23QUI 16 ABR 201522

Manuel Ferreira de Oliveira, presidente da Galp Energia, declarou que a Petrobras será “mais forte, competitiva e capacitada” após o escândalo.

A Petrobras vai sair do escândalo de corrupção em que está envolvida “mais forte, mais com-petitiva e mais capacitada”, afirmou Manuel Ferreira de Oliveira, presidente da Galp Ener-gia, à margem de uma intervenção em Lisboa.Considerando que o problema que se vive na petrolífera estatal brasileira “foi ali im-plantado” e “quanto mais depressa se re-solver melhor”, Ferreira de Oliveira afirmou que a empresa “vai sair deste processo mais forte, mais competitiva e mais capacitada”.

O presidente da Galp Energia falou à agência Lusa antes do início da palestra “Oportuni-dades de negócios decorrentes das desco-bertas de O&G [sigla inglesa para petróleo e gás] na CPLP”, organizada no auditório da Auditório da SRS Advogados pelo Fórum de Administradores de Empresas no âm-bito da iniciativa “Encontros de Gestores”.Defendendo que a Petrobras “é, indiscutivel-mente, a empresa petrolífera do mundo com mais saber e mais experiência na exploração e produção de petróleo e gás no ‘ultra deep

offshore’ [exploração em águas muito pro-fundas] “, o responsável da Galp sublinhou que “o conhecimento está lá, os profissionais estão lá, e são do melhor que há no mundo”.Apesar de considerar que o escândalo de corrupção em torno da Petrobras é “um processo difícil para todos os que estão a vivê-lo no dia-a-dia” e perante o qual a empresa brasileira “tem pela frente um tra-balho gigantesco”, Ferreira de Oliveira disse acreditar que “o resultado vai ser positivo”.

“Esta situação entristece-nos a todos, en-tristece e muito a esmagadora maioria dos colaboradores da Petrobras, porque, às vezes, ao fa lar dos problemas que estão hoje nas páginas dos jornais, es-quecemos que 99,99% dos trabalhadores da empresa são pessoas tão dignas , competentes e profissionais como todos nós”, sublinhou à Lusa, desejando que,

“passada esta onda de preocupação, se regresse à normalidade necessária para a Petrobras poder cumprir o seu dever”.

No início de fevereiro, o presidente da Galp Energia havia declarado não estar a sen-tir “implicações materiais” nos projetos em que estava envolvido com a Petrobras”.

Entre as medidas propostas consta uma que reg-ulamenta uma lei contra a corrupção já aprova-da sobre as práticas ilícitas no setor privado, en-durecendo as penas para os empregadores que se envolvam em crimes contra o erário público.Essa medida pode afetar diretamente 18 empresas privadas contra as quais a procuradoria-geral instaurou dois pro-cessos administrativos por alegado en-volvimento na rede de corrupção na Petrobras.

No âmbito deste escândalo, estão também sob investigação 50 políticos, na sua maioria da base de apoio a Dilma Rousseff, e entre os quais o tesoureiro do Partido dos Trabalhadores (PT), João Vaccari, por supostas manobras para conseguir dinheiro da Petrobras para as cam-panhas do partido no poder, de forma a criar oportunidades mais rentáveis para a campanha.

Galp: Petrobras sairá do escândalo “mais forte, competitiva e capacitada”

MUNDO MUNDO

Autor: Agência Lusa

Page 13: Obs antoniopinho 51843

QUI 16 ABR 2015 25QUI 16 ABR 201524

Cópias de fotografias de “A Última Sessão” e de outras tiradas por um amigo da atriz vão ser leiloadas no próximo dia 10 de março. Uma oportunidade para quem é fã da loira mais famosa de Hollywood.

Imagens raras de Marilyn Monroe vão a leilão

Bert Stern, que faleceu em 2013, não foi o pri-meiro homem a fotografar Marilyn Monroe, mas foi um dos últimos. Foi em junho de 1962 que o fotógrafo e a atriz norte-americanos se encontraram e se fecharam num quarto de hotel, em Los Angeles, durante três dias. O objetivo? Registar aquelas que seriam as últimas fotogra-fias profissionais da estrela que nasceu Norma Jeane Baker — as imagens ficaram conhecidas, muito a propósito, como “A Última Sessão”. Pouco tempo depois, Marilyn aparecia morta.

Recordada a lição de história/cultura, a notí-cia: um conjunto de impressões, incluindo das referidas fotografias, vai ser leiloado no próxi-mo dia 10 de março no Estado norte-america-

no do Texas, na Heritage Auctions Texas. Es-pera-se angariar, no total, cerca de 70 mil euros.Nas imagens de “A Última Sessão” – que fiz-eram uma pequena excursão a Portugal em 2011, numa exposição temporária a ocupar a Fundação D. Luís I, em Cascais — é possível encontrar uma Marilyn sedutora, à semelhança do que sempre foi, mas também real. Rugas de expressão que a idade fez por vincar, po-ros da pele em evidência e até a cicatriz de uma operação à vesícula fazem parte de um registo artístico invulgar permitido pela es-trela de Hollywood. Há fotografias marcadas a caneta vermelha, marcas dos negativos que a própria atriz rejeitou com um xis, na altura.Mas há também cópias de fotografias raras

tiradas um mês depois de Stern, escreve o jornal britânico Telegraph. O fotografo de serviço foi, desta vez, o amigo próximo da atriz, George Barris, homem que Mar-ilyn conheceu quando estava a trabalhar no filme de 1955, O Pecado Mora ao Lado.

Neste caso, a loira posa sobre a areia de uma praia californiana e mostra um lado mais brincalhão — entre outras fotografias a preto e branco registadas no interior de uma casa. As fotos de Barr is dest inavam-se a um l ivro so-bre a estrela de 36 anos que f icou em suspenso depois da sua trágica morte.

LIFESTYLE LIFESTYLE

Autor: Ana Cristina Marques

Page 14: Obs antoniopinho 51843

QUI 16 ABR 2015 27QUI 16 ABR 201526

A capital pariense está debaixo de uma nuvem de poluição que obrigou as autoridades a diminuir os limites de velocidade em 20 quilómetros.

Torre Eiffel foi engolida pela poluição atmosférica

Paris perdeu a Torre Eiffel entre as partícu-las da poluição, que formaram uma nuvem baça sobre a capital francesa durante esta quarta-feira. A notícia é publicada pelo ABC.

A Airparif, a companhia responsável por con-trolar a qualidade do ar parisiense, afirmou que os níveis de contaminação são consis-tentes e que “se não tivermos ultrapassado os níveis máximos, não estaremos muito longe”.

A poluição que está a sufocar Paris é criada pelos gases libertados pelos automóveis e pe-las indústrias, que têm lançado para o ar as partículas mais nocivas para a saúde huma-na. Chamam-se PM10 e são capazes de pen-etrar nos pulmões e no sistema circulatório.

A fraca visibilidade criada pelo smog que se abateu na cidade europeia obrigou as auto-ridades a diminuir os limites de velocidade nas estradas. A polícia pode ainda proibir a entrada de carros na capital, obrigando a população a viajar em transportes públicos.

Risotto de bacalhau

No Masterchef Austrália chamam ao risotto “o prato da morte”, mas Teresa Rebelo, do blogue Lume Brando, ajuda-o a sair vivo do desafio.

Quando tinha aí uns três ou quatro anos, o meu filho mais velho chamava arroz maroto ao arroz malandro. Sempre que penso em risotto, lembro-me desta associação patusca, não só pela rima mas também porque o risotto pode revelar-se bem maroto na hora de o cozinhar. Não é à toa que no Masterchef Austrália o ri-sotto é considerado o “prato da morte”: fazer e apresentar um risotto irreprovável, cremo-so, nem demasiado ensopado nem demasia-do seco ou demasiado cozinhado, é um dos desafios que mais faz tremer os concorrentes.

Felizmente, a nossa cozinha não é o estúdio do Masterchef. Nela podemos cozinhar sem cronómetro. Podemos ter amigos ao pé e um copo de vinho na mão. O risotto é o prato ideal para conviver enquanto se co-zinha: os braços vão-se revezando e temos a certeza de que estamos todos quando fi-car no ponto. E se por algum motivo não sair perfeito, não há críticas do Matt Pres-ton, nem desafio de eliminação. Há é uma nova desculpa para nos juntarmos outra vez.

PREPARAÇÃONum grelhador ou frigideira anti-ader-ente, cozinhe 4 fatias de bacon até esta-rem bem tostadas e crocantes. Retire-as e reser ve-as sobre papel de cozinha.Leve ao lume uma panela com água onde co-locou os lombos de bacalhau, a cenoura des-cascada e partida às rodelas, o alho francês lavado e partido em pedaços, dois dentes de alho esmagados, uma cebola descascada parti-da ao meio, a folha de louro, metade do ramo de salsa e um fio de azeite. Deixe ferver e cozinhar até o bacalhau começar a lascar, o que deve ser muito rápido, uns 5 minutos desde que começa a ferver. Retire o bacalhau para um prato e deixe arrefecer até conseguir lascá-lo. Reserve.

Coe a água onde cozeu o bacalhau, que deve perfazer cerca de 1,3 litros. Prove este caldo, retifique de sal se for necessário e mantenha-o quente. Entretanto leve a refogar num fundo de azeite a outra cebola e três dentes de alho, tudo picado, e ainda as restantes fatias de bacon partidas em pequenos pedaços. Deixe alourar e junte o arroz para risotto. Deixe fritar um pouco, mexendo sempre. Adicione o vinho branco e mexa até evaporar. A partir daqui vá juntando aos poucos o caldo onde cozeu o bacalhau, mexendo sempre e juntando mais caldo sempre que já tiver evaporado. Deve de-morar cerca de 25 minutos, em lume médio, até o grão do arroz ficar cozinhado al dente e pode ser que não precise de usar todo o caldo.

Quase no final da cozedura, junte as lascas de bacalhau, a restante salsa picada e meta-de do queijo ralado. Retifique o sal se necessário, e tempere com pimenta preta acabada de moer. Envolva bem e retire do lume. Sirva com mais queijo da Ilha ralado e o bacon tostado partido em pedacinhos.

INGREDIENTES (quatro pessoas)2 lombos de bacalhau8 fatias de bacon320 g de arroz para risotto1 cenoura2 cebolas5 dentes de alho1 folha de louro1 talo de alho francês1 ramo de salsa1 copo de vinho branco120 g de queijo da Ilha raladoAzeite qbSal qbPimenta preta qb

MUNDO LIFESTYLE

Autor: Observador

Autor: Teresa Rebelo

Page 15: Obs antoniopinho 51843

QUI 16 ABR 201528

O nome do primeiro livro da Bíblia, onde se documenta a criação da Terra, foi o nome que o fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado deu à sua mais recente exposição, que já cor-reu o mundo. “Génesis” inaugura sexta-fei-ra na Cordoaria Nacional, em Lisboa, e vai permitir ao público ver alguns dos animais, povos indígenas e lugares mais secretos do planeta, por onde poucos ousaram passar. Porque, no princípio, era o céu e a terra.

A escolha do nome “Génesis” não foi um acaso. Ver as cerca de 250 fotografias que Sebastião Salgado selecionou para a mostra é como voltar às origens. A natureza está no seu estado mais puro e os seres humanos que ali habitam não sabem o que é a internet, nem o que é comida que não venha da agricultura ou da caça. Mais importante: não poluem, nem desequilibram o ecossistema, uma das grandes preocupações demonstradas pelo fotógrafo e pela mulher, Lélia Salgado, esta quinta-feira, na apresentação aos jornalistas.

Sebastião Salgado: mostra em Portugal os confins do planeta