ob·ra ~e rapazes, para rapazes, pelos rapazes -...

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Paulo 650.000 entre os 10 e 18 anos bastante abando- nadas, . tendo 300.000 delas · cadastro nas autoridades poli- ciais. Numa entrevista feita a um doutor juiz do tribunal, a uma pergunta que lhe foi feita s9bre a delinquência infantil e sohre a apatia da autoridade policial, eu esoutei da sua boca e a boca gritou a dor da sua a·lma: <«Enquanto houver crian- ças a viver com seus pais nas favelas e a mendigar o pão em nossas ruas, . nenhum de nós tem autoridade para as jul- gar, se nã-o fez antes alguma coisa pelo bem delaS)). internatos para crianças. Junto da cidade de Santos vi- sitei um. Está situado na zona urbana. Não tem espaços gran- des para recreio, nem quinta · para desabrochar. Tem oficina•s e alguns locais de jogos. Fiquei :com a impressão de que está entregue a eswanhos. Muitos funcionários a ganhar o seu pão. Muito movimento social em palpéis e transportes. Não fiquei a sab:er nada daqueles !pafla qu·em tudo aquHo foi feito . Visitei também o Reino da Criança da Rua. Foi fundada pelo Padre Simão, holandês, que esteve algum tempo em Portugal numa das · Casas do Gaiato. O Reino da Criança é do gén· ero das nossas Casas. Também tem meninas. O Padre Simão chegou a ter 260 crian- ças. Faleceu e a obra tem di- minuído. Hoj-e tem poucas de- zenas e tem também uma AI- dela de C'l"ianças. Quando che- gámos e perguntámos pela pos- sibilidade de visitar e dissemos que éramos portugueses, logo uma senhora nos referiu que em Portugal havia as Casas do Gaiato, mas que possivelmente Continua na TERCEIRA pág. O Pedro tem uma cara lavada e sorridente. É nosso /ui cinc anos .e co.nta apenas 11 de idade. Ontem jantámos as dois, um pouc depoLs da restante Comunidade. Jantar de bacallu:ut, com batatas cou'!"es, devidamente <<adubados». Servimo-lo até dizer não quere. maLS. brincando e, à medida que a refeição decorrü fo__mos med Ltando no problema dos Pedros que cá temos e dos qu Tl!ao podemos ter. Dessa meditação damos hoje conta, repartindo- cqnvosco, no limiar do novo ano, que a todos desejamos feliz. Em primeiro lugar queremos afirmar que o lugar dos Pedre deveria ser uma Casa do Gaiato: Esta, por melhor que funciont e sempre uma solução precária e defeituosa. Não substitui a Farrúlit natural para a educação e formação dos filhos. Um Pai e um Mãe conscientes das SU>Cl!S responsabilidades não se inventam ou forjar de qualquer mod'O. Os Filhos não são objectos ou coisas que s emprestem, dêem ou ponham de parte; não são também meros anl mais a que se procura dar apenas de comer, e al!ojament1o Os P.edros têm direitos que é preciso salvaguardar e defender. S, na visão da Família de Nazaré se encontra a verdadeira solução dum sólida estruturaQão social, pois, Pai Américo tinha razão: «.Tud quanto seja regresso a é progresso social cristão» . . CONTINUA NA QUARTA PAGIN; RENTE ao televisor, arrepio-me, horr-orizado. Não; não é mistificação. Mas realidade. A triste realidade do Terceiro Mundo. No caso vertente o Bangla Desch. Imagens e contrastes ••• Em um escampado, aquela Mãe heróica - deitada no chão como um · animal - peitos descobertos, engana o f.ilho raquítico, sobreposto, à míngua de Ieite ••. 1 Vimos outras Crianças. Nuas, deformadas, como em um campo de concentração! bichos mais bem tratados: hospitais para cães .•• Tristes, moribundas, nem a própda câmara de TV as seduz! É no Bangla Desch? No Terceiro Mundo? São milhões delas assim,. por esse mundo fora, pelos terceiros mundos inabitáveis, desconhecidos da maioria ...! Naquele desbobinar ultra-rápido, . breves segundos que parecem horas, sai a maior atrocidade, o maior escândalo: uma Criança prostrada no passeio da urbeJ. morta ou inani- mada. E a multidão cruza, apressada, sem dar fé! São assim as multidões .•• ! O operador omite a cara dos transe u ntes. Bons fatos, boas calças, bom calçado, no rei no do concreto. O mundo dos poderoso s, dos indiferentes que espezinham, que matam os Inocentes! Arrepio-me. Revolto-me interiormente. Horrorizado. Outros, . milhares 1 teriam visto a pelícuht, com certeza. Indüerentes? Quem dera que não. Activos,. sim. Sem cartilha na mão... de bacalhau a pataco. Mas atentos. ln ventivos. Caminhantes. Peregrinos. Actuantes. -Eh! pá! - Que foi, moço? - O Adelino tem sete filhos. É tub erculoso. Praticamente mantém-nos coril o subsíidio e o albano de famílita ... ! Precisa, imediatamente, duma trouxa de roupa. Vamos cobrir os corpos dos f,ilhos do Adelino. É a primeira coisa. Jâ. É já! Não; este recoveiro dos Pobres não viu imagens do Bangla Desch. Viu o Adelino. Outros Adelinos. O Presépio de Francisco de Assis. E não descansou. Nem descansa .•• Hoje, como dois mil anos 1 Jesus-Menino é martir:izado; aqui, ali, acolá- onde menos a gente espera. No campo ou na cidade; na baiúca ou na ilha; na corte ou no barraco. Na Europa, na Asia,. na Africa, na América. · É! A Obra da Rua que o diga ••. Pobre mundo das declarações de di rei, tos.. . do Homem, da Criança .•• ! Pobre mundo do século XX ••• ! Júlio endes .... ÁJ o,Ácc ' Ao -: < ADMINISTRAçAo, CASA oo GAIATO * PAço · oE sousA F · /J}!f J , ; . · , VALES DO coRREIO PARA PAÇO DE sousA * AvENÇA * · Ou,NHNARIO • . • DI' OuRA DA RuA * DIRECTOR: PADRE CARlOS ·UNDADOR COMPOSTO e IMPREsso NÁS DA CASA DO GAIATO

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Page 1: OB·RA ~E RAPAZES, PARA RAPAZES, PELOS RAPAZES - …portal.cehr.ft.lisboa.ucp.pt/PadreAmerico/Results/OGaiato/J0805 - 18.01.1975.pdfcaso vertente o Bangla Desch. Imagens e contrastes

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AvENÇA

18 DE JANEIRO DE 1975

Ano XXXI - N. • 805 - Preço 2$~

OB·RA ~E RAPAZES, PARA RAPAZES, PELOS RAPAZES

A NOSSA CASA NA PRAIA DE MIRA.

1 O Brasil mostra~nos uma

vida de grandes contrastes: o opulento arranha~oéus e logo a miserável barraca; o cava­lheiro · ou a senhora r.icamente vestidos e adornados e o ho­mem ou a mulher só de cal­ções esfarrapados ou coin blu­sa e saia sem conserto; uns a viverem fartamente e outros a mendigar o indispensável para a vida.

As crianças foram as que mais me atraírram. Por onde passei sempre encontrei crian­ças a mendigar, só vestidas com ca.Jçõezitos rotos e sujos, bar­rigas à vista e descuidadas, car.as fugitivas, pés castigados pelos pisos. Um mundo de crianças ao abandono.

1Procurei percorrer uma pe­quenina par-cela da imensidão do Brasil e atendi ao proble!l).a da classe pobre, partindo das crianças.

Ouvi dizer que em S. Paulo hã 650.000 <~crianças» entre os 10 e 18 anos bastante abando­nadas, .tendo 300.000 delas · já cadastro nas autoridades poli­ciais. Numa entrevista feita a um doutor juiz do tribunal, a uma pergunta que lhe foi feita s9bre a delinquência infantil e sohre a apatia da autoridade policial, eu esoutei da sua boca e a boca gritou a dor da sua a·lma: <«Enquanto houver crian­ças a viver com seus pais nas

favelas e a mendigar o pão em nossas ruas,. nenhum de nós tem autoridade para as jul­gar, se nã-o fez antes alguma coisa pelo bem delaS)).

Há internatos para crianças. Junto da cidade de Santos vi­sitei um. Está situado na zona urbana. Não tem espaços gran­des para recreio, nem quinta ·para desabrochar. Tem oficina•s e alguns locais de jogos. Fiquei :com a impressão de que está entregue a eswanhos. Muitos funcionários a ganhar o seu pão. Muito movimento social em palpéis e transportes. Não fiquei a sab:er nada daqueles !pafla qu·em tudo aquHo foi feito .

Visitei também o Reino da Criança da Rua. Foi fundada pelo Padre Simão, holandês, que esteve algum tempo em Portugal numa das · Casas do Gaiato. O Reino da Criança é do gén·ero das nossas Casas. Também tem meninas. O Padre Simão chegou a ter 260 crian­ças. Faleceu e a obra tem di­minuído. Hoj-e tem poucas de­zenas e tem também uma AI­dela de C'l"ianças. Quando che­gámos e perguntámos pela pos­sibilidade de visitar e dissemos que éramos portugueses, logo uma senhora nos referiu que em Portugal havia as Casas do Gaiato, mas que possivelmente

Continua na TERCEIRA pág.

O Pedro tem uma cara lavada e sorridente. É nosso /ui cinc anos .e co.nta apenas 11 de idade. Ontem jantámos as dois, um pouc depoLs da restante Comunidade. Jantar de bacallu:ut, com batatas cou'!"es, devidamente <<adubados». Servimo-lo até dizer não quere. maLS. Conv~rsámos, brincando e, à medida que a refeição decorrü fo__mos medLtando no problema dos Pedros que cá temos e dos qu Tl!ao podemos ter. Dessa meditação damos hoje conta, repartindo­cqnvosco, no limiar do novo ano, que a todos desejamos feliz.

Em primeiro lugar queremos afirmar que o lugar dos Pedre ~ão deveria ser uma Casa do Gaiato: Esta, por melhor que funciont e sempre uma solução precária e defeituosa. Não substitui a Farrúlit ~ugar natural para a educação e formação dos filhos. Um Pai e um Mãe conscientes das SU>Cl!S responsabilidades não se inventam ou forjar de qualquer mod'O. Os Filhos não são objectos ou coisas que s emprestem, dêem ou ponham de parte; não são também meros anl mais a que se procura dar apenas de comer, ves~ir e al!ojament1o Os P.edros têm direitos que é preciso salvaguardar e defender. S, na visão da Família de Nazaré se encontra a verdadeira solução dum sólida estruturaQão social, pois, Pai Américo tinha razão: «.Tud quanto seja regresso a Nazar~, é progresso social cristão» . .

CONTINUA NA QUARTA PAGIN;

RENTE ao televisor, arrepio-me, horr-orizado. Não; não é mistificação. Mas realidade. A triste realidade do Terceiro Mundo. No

caso vertente o Bangla Desch. Imagens e contrastes ••• Em um escampado, aquela Mãe heróica - deitada no chão como um ·animal -

peitos descobertos, engana o f.ilho raquítico, sobreposto, à míngua de Ieite ••. 1 Vimos outras Crianças. Nuas, deformadas, como em um campo de concentração! Há bichos mais bem tratados: hospitais para cães .•• Tristes, moribundas, nem a própda câmara de TV as seduz! É no Bangla Desch? No Terceiro Mundo? São milhões delas assim,. por esse mundo

fora, pelos terceiros mundos inabitáveis, desconhecidos da maioria ... ! Naquele desbobinar ultra-rápido,. breves segundos que parecem horas, sai a maior

atrocidade, o maior escândalo: uma Criança prostrada no passeio da urbeJ. morta ou inani­mada. E a multidão cruza, apressada, sem dar fé! São assim as multidões .•• !

O operador omite a cara dos transeuntes. Bons fatos, boas calças, bom calçado, no reino do concreto. O mundo dos poderosos, dos indiferentes que espezinham, que matam os Inocentes!

Arrepio-me. Revolto-me interiormente. Horrorizado. Outros,. milhares1 teriam visto a pelícuht, com certeza. Indüerentes? Quem dera que não. Activos,. sim. Sem cartilha na mão... de bacalhau a pataco. Mas atentos. ln ventivos. Caminhantes. Peregrinos. Actuantes.

-Eh! pá! - Que foi, moço? - O Adelino tem sete filhos. É tuberculoso. Praticamente mantém-nos só coril o

subsíidio e o albano de famílita ... ! Precisa, imediatamente, duma trouxa de roupa. Vamos cobrir jâ os corpos dos f,ilhos do Adelino. É a primeira coisa. Jâ. É já!

Não; este recoveiro dos Pobres não viu imagens do Bangla Desch. Viu o Adelino. Outros Adelinos. O Presépio de Francisco de Assis. E não descansou. Nem descansa .••

Hoje, como hã dois mil anos1 Jesus-Menino é martir:izado; aqui, ali, acolá- onde menos a gente espera. No campo ou na cidade; na baiúca ou na ilha; na corte ou no barraco. Na Europa, na Asia,. na Africa, na América. ·

É! A Obra da Rua que o diga ••. Pobre mundo das declarações de di rei,tos.. . do Homem, da Criança .•• ! Pobre mundo do século XX ••• !

Júlio M·endes

.... ÁJ o,Ácc 'Ao -: < ADMINISTRAçAo, CASA oo GAIATO * PAço · oE sousA F · /J}!f J , ; . · , VALES DO coRREIO PARA PAÇO DE sousA * AvENÇA * · Ou,NHNARIO

• . • P~·~PR. IE~.AOE DI' OuRA DA RuA * DIRECTOR: PADRE CARlOS ·UNDADOR J~ ~ COMPOSTO e IMPREsso NÁS E~coLAS GRAFIC~s , DA CASA DO GAIATO

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NóS E A TERRA - A infância na Casa do Gaiabo é triste e pobre, marcada pelos pecados do mundo.

As crianç.as daqui pensam muitas vezes nos seus pais e na sua terra natal.

Elas gostariam de ir muitas vezes espel'ar seus pais quando voltassem do tratbalho para os abraçarem e bei­jar~m.

Elas gostariam de peg;ar com as suas mãozitas as do pai, muito gros­sas e valentes, correndo assim até casa.

Elas gostariam, ao deitar, de dese­jarem as boa-noites aos seuc; pais e

um bom dia peLa manhã quando se vissem,.

Elas gostariam de poder b:incar com os outoos meninos dos seus vi­zinhos. Gostariam de jogar ao pião, às escondidas, ao hate-fica e às pe· drinhas.

Outros já ~tariam de construir um brinquedo que trabalhasse a sério. Que tivesse rodas par.a andar, ou que tivesse asas para voar. Enfim ... uma data de coisas que eles imaginam e a que dão importância.

Elas gostariam também de ter uma avozinha que lhes oontasse uma his­

tória. Uma história muito comp::ida ... Apesar de não terem isto, as crian·

ças da Casa do Gaiato não deixam de aprender a ler e a escrever.

Elas nasce::am crianças e querem ser crianças para serem Homens.

TERNURA - Lourencito tinha uma ferida no queixo e eu queria fazer-lhe o curativo. Fomos para o almoço e no fim os «Bata.rtinhas» ro­dearam-me, agarrando-me o ·casaco e as mãos, querendo todos acampanhar­·me até casa para lá passarem o re· creio.

Louren.cito entrou IllO meu quarto sem que eu desse por isso, reparando com muita atenção num belo con­junto de bonecos do WALT DYSNEY que eu tinha posto numa prateleira pregada na parede. Dei com os seus olhos bem fixos e com muito @<>Sto ofereci-lhe um boneco.

nepois, cor::eu pela porta fora com o boneco na mão e não soube mais dele. Talvez tivesse ido ter com os OU'tros da sua idade que tinham vindo comigo.

Entretan:to, fazia a minha cama e não passuam muitos minutos para ter o quarto cheio. Que se passa? ... Não SÓ o Lourencito mas também eles queriam um daqueles bonequ,i· tos.

Comecei a pensar como havia de proceder, coçando a cabeça. Lá se vai todo o meu conjunbO ... - falava eu luixinho, para mim me~mo. Mas eles não me largavam, não queriam ver-me aLi parado, nem tão pouco

TRANSPORTADO NOS A VIOES DA T. A. P. PARA ANGOLA E

MOÇAMBIQUE

Página 2 18/l/75

esperar mais; quedam, sim, que eu estendesse o meu braço e tirasse · de

lá todos os bonequitos. Assim fiz ~ recomendei-lhes que

estivessem mais caladinhos, brincan· do sem alg;azarras.

Por fim, fitei todo o grupo que ali tinha e verifiquei que fa~tava um. Era o Lourenoioo que, lá no fundo, no canto da sala, estava olhando o rp::esé:piiO com grande espanto ... Quan­do me abeirei dele, pon-do as minhas mãos nos seus ombros, perguntou-<Ille isto:

- Manuel, para que servem estas luzes?

E eu respondi: - São para iluminar a casinha

onde Q Menino Jesus dorme. - •E po:"que é que o Menino tem

pa:lhinhas na cama, Manei? Agora é que já não soube respon·

der tão prontamente, como na per· gunta anterior. Mas, ficando alguns minutos em silêncio, disse-lhe:

- É porque o Menino Jesus, Lou­rencito, nasceu pobre ...

Ent:::-etanro a sineta tocava, cha­mando toda a gente ao trabalho. En­tão, chamei também todos os «Bata­tinhas» p·ara virem comigo. Peguei no Lourenci to pelas mãos e fomos fazer-lhe o curativo.

Manuel Amândio

AMOR E OBRA - Se és perfeito, aperfeiçoa-te ainda mais, nunca te canses de trabalhar neste sentido: Amor.

Temos obrigação de mo&trar aos outros o caminho do Amor. Dar aquilo que muita gente rica e ilustrada não

possui. Distribuir um pouco do amor que recebemos.

Muitos senhores ainda não gostam da nossa tão querida Obra, mas fa­zem mal porque é de Deus e e a Sua sombra, que há-de passar para além dos séculos.

Quem tr·abalha por Amor, fa:z bem a si-mesmo, pois receberá pela me­dida do Todo Amor.

Que é a nossa Obra senão uma canção de Amor, Paz e Harmonia?

Elísio Humberto

0otí[i05 da [anferên[ia de Pata de Sousa . A CARIDADE É INVENTIVA ...

- O vicentino - o cristão, se qui­serem - tem mui to que fazer! A Caridade é inventiva ...

Nem olvidamos oportunidades que são dever para todos os homens de boa vontade - sem discriminação - no limitado circuito do seu raio de acção ...

Sim, o recoveiro dos Pobres - vo­luntário do serviço social - não

brinca à caridadezinha. Actua discre­tamente, sem apologética, frenne às car'ênoias de todo um mundo ainda obscuro e ignorado da ma;oria. As dores são fel e custam a ouvir, quan­to mais a roer! Vai à casa de. Pobre, vê e ouve. Analisa, medita, opta, actua. Dá as mãos, com suas próprias limitações, diante das prioridades.

Eles, os vicentinos, sentem a cha­ga do septuagenário - só com a mulher, que os filhos estão longe -vergado ao arado, porque não tem

subsídw ou pensão de reforma de­cente ...

Eles' são amparo de viúvas que es· peram, meses a~ fio, a soluçãiQ burocrá­

tica da pensão de sobrevivêncÜJ e ... outros problemas cruciais; intérpretes ou procuradQres junto de burocratas, para quem as palavras duras ou do­ridas... são papéis em circuito de

secretariado, talvez cibernétlCO... E, na mesma linha, de caneta em pu­nho, beneficiam outros Proletários.

Eles sofrem - por ve:::-em sofrer - ú descalabro de lares que o álcool arr;uína e ~ra vítimas que eão tre­mendo peso para a Nação. Tentam soluções clínicas uma, duas, três ve­zes e... nada! A taberna é mais forte do que o remédio! !

,Eles arcam com a responsabilidade da alimentaçã.Q de um velho de 70 anos, marginalizado por carências psíquicas da velhi~.

- Este ti-po é malan,dro! Ele não quer mas é trabalhar ...

A:fli:ml'ações gratuitas que definem um certo tipo de mentali-dade - na sociedade em que estamos inseridos - cujos algozes não têm culpa, não senhor. São concJeitos e afirmações próprios de um longo subdesenvolvi­mento crónico, do ponto de vista eco· námico, cultural, social, moral, e CÍ·

vico também. O doente mental é escárnio das multidões, em pleno sé­culo XX, a!Jé quando? !. ..

Eles sabem, ainda, como é dolorosa, doloríssima, a verba de material esco­lar dos filhos de muitos Trabalhado­res. E, por isso, conversam os mestres­-escola. Encar.:-egam-se de um inqub­rÍ'to sumário, discreto, verdadeiro, aos alunos mais careci:dos.

- Aqui estão ma:is três. São per· to de 200$00... A professo::a preen­cheu esta folhinha de cada aluno, com os livrüs e material necessário, que os pais não pod·em comprar ...

O vicentino traz a dolorosa e en­trega a massa ou o material.

Noutra escola, quando abordaram a professora, os olhos dela riam. É

P110fessora!

- Ai q'alívio! Como, agora, na cantina, fornecemos sopa e conduto às crianças, estamos depenados... Não podemos, realmente, ajudar os alu­nos que precisam de mate:-ial esco­lar... Os livros da quinta-classe são tão caros! ...

No Ensino Básico, quando é que os Hlhos dos Pobres terão aproveita­mento garanti'do, sem disc::iminações?!

Eles - os vicentinos, claro - ficam ex-tasiados com a gesta he: óica dos auto-construtores. Alguns deles tam­bém o foram, são ou hão-de ser ... Auto-Construção esp<>altânea, que é -deveria ser - patCÍfico desafio a es­truturas deficientes ou anquilosadas que exploram suor e sangue dt: Traba­lhad<Jres. Mitigados, até há pouco, só pela ajuda do Património dos Pobres e pela colabQração activa de amigos e oolegas de trabalho. A verda·deira sobidarieda:de dos Trabalhado:es!

- Olhe, meu amigo, durante as obras da minha casa, que duraram meses, tivemos um grande gosto : o nosso porco, criado com tanto sacri­fício ! , deu p:·a servir pedreiros e tro­lhas e carpinteiros e jornaleiros ami­gos que nos botaram a mão ...

Aquele suíno, governadinho como só os Pobres são capazes, foi a ale­gria do Srucrifício, em dias, tardes e noites de du:u esforço e solidarieda­de cristã. Que belo quadro de par­thl.ha!

Ficámos com muita pena de não termos podi,do ve:r; integralmente a oportuníssinna mesa-redonda sobre Ha­.bitação, na T. V. E, no debate, la­mentamos a omissão, ou quase, de dete:r.minadas linhas de força:

- as gravíssin1as implicações da ausência de desenvolvimento regional (só a beira-mar tem contado ... ) nos quadrantes da planificação nacional -origem do problelTUI.;

- e o caso concreto da AutO·CQIIlS· trução espontânea, na chamada pro­víncia, isto é, nas zonas rurais, longe das urbes e de norte a suL.

No entanto, parece que a· mesa será repetida com outros elomentos. Aguardemos.

É que devia lá ter estado ou ser convidado um Auto-Construtor da província, das zonas tipicamente ru· rais, para revelar a sua cruz 11 a de ,zniilhares, desde a politica de solos às facilidades das auta:::-quias e aos apoios que beneficiam no complexo mercado de materiais de construção ...

Quanto lhes custa, ou custou, en­contrar terreno - e a que preço! - por v+ia da proibição de se reta­lhar um número matricial, num mon­tado improdutivo, sem valor econó­mico, por exemplo? !

Quantos refrea:::-am, ou refreiam, por isso mesmo, a sua força que levanta verdadeiros milagres, mas até há pou­co ignorada das leis, dos .responsá· veis?!

Quantos homws destes - não fa­lamos, como é óbvio, da Auto-Cons­trução organizada e, felizmente, em erupção... - teriam beneficiado ou poderão beneficiar de plantas e ajuda técnica de organizações oficiais ou ·das pr6prias autarquias locais a quem pagallil licenças ... ? !

E o calvário doloroso - dolorosís­simo, acentuamos - que suportam com a subida vertiginosa dos custos dos materiais de construção, sem coo­perarivas, po.r exemplo, onde pode­riam abastecer-se sem ai cavalas; eles, que são a grande força produtiva e, neste caso particular, o mais eficaz, rentável e descomprometido meio de invesrillilento nacional no domínio da hahitação: a sua mão d'obra, enge­nho, arte ... ? !

Sevia pedra fundamental no debate da problemáVi,ca habitacional das ronas rurais, que vai desagwar nos grandes centros ...

RECEBEJMiOS - Durante a qua­dra natalícia houve muitos amigos -.como aHás é costum'e - que se lem­braram dos nossos Pobres.

Eis a procissão: Ana Maria, de Lisboa, 50$00.

Ov.ar, o dobro. E boas melhoras ... O mesmo da assinante 27184 «por alma de minha Mãe e meu Marido». Migalhas sacrificadas, de Torres Ve­dras. Covilhã:

« ... peço o favolr de destinar 250$00 a uma Família a fim de que pOssa ter no dia de Ano Bom uma refeição como eu gostaria que todos tivessem em todo o mundo e diariamente.

As vossas orações para que Deus me ajude e dê o pão nosso de cada dia é o que lhes pede humildemente este pobre pecador ... »

A linguagem do cristão é assim ...

U:rna Alentejana, no Porto, c.om 300$00. Cheque da Beira, Moçam­bique, «de preferência para os mais

velhinhos». Mais 200$00 de S. Ma­mede de Infesta. O mesmo «com um abraço muito ami€).0», de Lisboa (Campo de Ourique). Rttribuimos com prazer. Metade de Mafra. Idem, de Ois da Ribeira. De Sa!llltarém, 50$00 «c<Nn pena de não poder dar mais». O legendas! Mais, de algures, outra migalha para «suavi.zar um pou­cochinho o Natal áe algum velhinho da vossa Conferência». E ma-is do Porto, av. Fernão de Magalhães. De novo o Porto coon 100$00, expedidos poor José Fernando. E, finalmente, 5.000$00 de Isabel, de Lisboa.

Ob:r;igado!

I úlio Mendes

REFLECTINDO

Vivemos os primeiros passos deste ano de 1975. Sobre nós portugueses pesam sérias res­ponsabilidades no caminhar político de Portugal, pois a verdade é que o bem comum é construído pela conjugação dos esforços e dos dons de cada um. I

Através dos meios de comu­nicação recebemos a toda a hora mens·agens que vi.sam o amor pelos outros, a atenção sobre as necessidades funda­mentais dos Pobres, o impera­tivo de se criarem estruturas capazes de garantirem a todos os homens o desenvolvimento global das suas aptidões em ordem a uma realização hu­mana mais positiV'a, etc ... 2 etc ...

Há quem diga que estas men­sagens não passam de puro palavreado, movido mais pela luta política do que pelo sen­tido dos outros. Não sou tão céptico e acredito que toda a mentalização que anda no ar, toda a chamada de atenção para as .condições miseráveis da vida de alguns dos nossos irmãos, não deixará de desper­tar nos homens alguma parcela de bem, atrofiada por uma visão egoísta e parcial da vida, e pela rotina que estava insta­lada na maior parte dos portu­gueses

Se atrás digo acreditar no fennento de bem que os homens trazem dentro de si, mesmo nos que nos parecem mais fa­lhos dele, digo ainda que é fácil que muitas intenções se fiquem nas palavras, não porque estas não tenham raiz no coração, mas porque se perdem na guerra das ideias.

Creio que todos poderíamos olhar o futuro com mais opti­mismo se fosse possível o diã .. logo, necessário para tomar construtiva no seio da socie-

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O · ''Doutrina'' em foco O <<~Doutrina>> está em foco!

É alilmento espiritual e activo de muitas centenas, milhares, de Leitores e Assinantes da nossa Editorial.

As malas de correio têm sido extraordinariamente volumosas. Não há memória de um correio assim! E não vem dia ao mun­do sem ·requisições <!e mais

' volumes - todos os volumes de Pai Américo; seja da novos Assinantes, por ' intermédio ou não dos postais RSF, seja de quem já está inscrito em nossos ficheiros.

Como este:

«Recebi, há dias, o <<Doutri­na». Já o devorei. Peço o favor de me mandar mais 2 para ofe­recer a duas pessoas amigas que bastante precisam de ler estas verdades, que algumas bastante duras sã'O, mas são mesmo verdades, e que doutrina ... !

Meu Deus, tanto que os ho­mens precisam de ler um «Dou­trina», um «Barredm>,_ um (<Por­ta Aberta>>, um C(Pão dos Po­bres» e outros, pois talvez Jesus os iluminasse e o seu coração se abrisse .•• »

:Senhora da Hora:

(<Pelo presente acuso rece­pção do livro «Doutrina» que muito agradecemos, eu e meu marido..

São horas de meditação que não queremos perder e que nos tem ajudado muito na nossa vida.

Se o Senhor andasse no meio dos homens neste mundo.~ que tudo faz para O esquecer,_ não falaria mais claro.

Obrigado, pois ... »

dade a boa vontade de cada um, não fosse muitas vezes fonte de amolecimento ou destruição dessa boa vontade.

Para que seja possível o diá­logo entre os homens é neces­sário uma grande arrumação interior a fim de que haja res­peito mútuo, e se procure o essencial, e neste se consiga o entendimento.

O que ninguém duvida é que há muit~ para fazer, muitas pessoas a necessitarem do esforço e do amor daqueles que podem trabaNlar. Pelo que se deve apenas gastar as palavras na medida em que estas sejam veículo para realizações mais váHdas. Que cada voz que se levante o faça na procura de uma solução para os problemas. E preciso dar de comer a quem tem fome; é preciso vestir os nus, aliviar os doentes, educar os que têm necessidade de cultura e esta tarefa exige o esforço de todos nós, pelo que só de mãos dadas será possível fazer-se o que é preciso ser feito.

A Paz constrói-se através do reconhecimento dos direitos de todos e a possibilidade deste reconhecimento exige que cada um dê a sua cota parte de cola­boração. Todos queremos a Paz... Todos teremos que a construir.

ABBL

E aqueles, de alma cheia, :com legendas tão e~ressivas?!

(<Passei parte da tarde do dia de N atai a <<Saborear» o <<Dou­trina» que tiveram a amabili­dade de me enviar» - diz uma assinante do Porto. E acrescen­ta: (<Muito obrigada pelo bem que essa leitura meditada fez ao meu coração .•. »

Velho aiJlligo de Li·sboa:

«Muito e muito obrigado por me terem enviado o «Doutrina» do meu velho e querido Amigo Padre Américo.

Li-o de uma assentada que durou dia e meio.

Fala-se correntemente do N~­tal como da Festa da Família. Ainda que este conceito, no quadro muito restrito de reunião de parentes,_ de convívio mais íntimo, de troca mais calorosa de prendas e de bons desejos entre quem se quer, possa ser uma saída para a dessacraliza­ção da Data, a verdade é que este é 9 tempo em que os valo­res sociais da Família são mais fortemente sublinhados e a Li­turgia não perde a ocasião de, bem no centro das celebrações .Natalícias, lhe dedicar uma Festa própria: a da Sagrada Farm1ia.

Mais do que prestar culto às Pessoas venerandas de Jesus, de Maria e de José, (outras vezes mais directa e especial­mente veneradas) a Igreja tem uma intenção pedagógica: apre­sentar-nos a relação entre os Três como modelo duma relação pacífica e frutuosa entre os homens - o que Pai Américo resumiu assim: <<Tudo quanto seja regresso a Nazaré é pro­gresso social cristão.» Não se trata, pois, de um gesto de pie­dade em que a sensibilidade tem .papel dominante; mas de uma oportunidade de reflexão séria que torne mais acessíveis aos homens, para uma sã estru­tura da Sociedade, os dons que

RET ALHJOS DE VIDA

Fiquei encantado! E embora o Autor diga, em sub-título, que a doutrina não é dele mas sim do Pai Celeste, o certo é que ninguém a interpretaria e apli­caria com mais propriedade e proveito para nós .•. »

S. Pedro do Sul:

«0 (<Doutrina>> é bênção de Deus que acaba de entrar em nossa casa ... »

Lisboa:

(<É sempre <<doutrina» a re­memorar; e que bom seria se a <~política» se baseasse mais no Evangelho do que em teorias com pés de barro .•. »

Deus nos oferece no Seu Cristo. A Família de Nazaré é uma

Família aberta. O Filho é a sua razão de ser. Por Ele e para Ele se juntaram virginalmente um Homem e uma Mulher, cuja fe­cundidade estã fora e acima das leis naturais da fecundidade. Na Sua ·passagem discretíssima pe­las páginas do Evangelho, José jamais nos apareceu como se­nhor, antes como servo fiel de uma missão: proteger Maria _e o Menino. Maria, diante do Anjo da Anunciação, aceita com todas as consequências o que Deus quer de Si, ainda que o preço da Sua eleição, seja o trespasse do coração por uma espada de dor. A razão última do FiTho são os homens: <<Um pequenito nasceu para nós ... » - canta a Igreja. E a reivindi­cação deste antes de mais não tarda muito, quando, aos doze anos, perdido de Seus Pais, Estes o vão encontrar no Tem­plo com os Doutores:

- Filho, andávamos aflitos à Tua procura.

- Não sabeis que devo ocu-

1Sou nart:ura~ de Sazrhoall1.e onde nasci a 24 de Outu:bro de 1959. Somos seis irmãos. Vivíamos na pobreza. Enquanto os meus pa·is iam t'l"abalhar, fechavam-nos em casa

para que não andáss001os na vadiis·se. Um dia resolvemos fugir de ·casa e assim andámos uns dias

na des-gTaça, sabe Deus como! ... Uma senhora vizinha encontrou-nos na m'iséria, teve pena de

nos ver assim ·e recolheu-nos .no seu lar. E, assim, nessa casa, andá vamos na es·cola.

Depois, essa senhora resolveu arranjar lugar para dois na Casa do Gaiato: para mim e ·para outro irmão que já foi embora.

Mais tarde, ainda arranjou lugar para outro, mais novo do .que eu, numa instituição dos Carvalhos. Depois veio para cá.

lE dos outros só Deus sabe. Antes de meu irmão vir para cá, eu era vendedor de «0

Gai'ato», mas fiz batota e saf da venda. Frequentei a 4." classe; depois ped·i para v:ir para a Tipografia. Despeço--me de todos os lei!tores de «0 Gaiato».

Manuel da Conceição (<c:Formiga»)

Ainda de Lisboa:

<<Agradeço o 1.0 volume do <<Doutrina»; doutrina da me­lhor, que esperamos em Deus que encontre sempre um espaço de liberdade neste nosso Por­tugal.»

Coimbra:

<<Acabo de receber a reedi­tada «Doutrina». Que linda prenda de Natal vos fico a de­ver.

( ... ) Linda, pelo conteúdo. O Evangelho v i v o ,_ palpitante, actual.

Linda, pela recordação do nosso Pai Ainéric<»t santo que,

par-Me das coisas de Meu Pai? ••• Maria e José não o sabiam

ainda claramente. Mas aceitam a explicação. Jesus segue-Os para Nazaré e era-Lhes obe­diente. O incidente não quebra a harmonia do Lar de Nazaré.

Mais tarde, no decurso da Vida Pública, uma vez se le­vantará da multidão que O cerca:

- Estão aí Tua Mãe e Teus parentes que Te procuram.

- Minha Mãe e Meus irmãos são os que eséutam e põem em prática a Vontade de Meu Pai.

Maria não Se ofende. A Von­tade do Pai é o critério supre­mo de valorização que Ela tam ... bém abraça. E a Vontade do Pái é que, por Cristo e em CI'isto, todos os homens sejam irmãos. Este vínculo universal excede e cop.tém os laços de sangue. Não os nega, não os destrói: Insinua que os laços de sangue, divinamente orientados, devem abrir o homem e com­prometê-lo na fraternidade com todos os homens. E é na filia­ção div-ina que o Ve11bo, encar­nando, veio propor a todos os homens, que tem fundamento a fraternidade universal entre eles, a qual, vivida consequen­temente, estabelecerá uma rela­ção pacífica e frutuosa entre todos - tal como entre José e Maria e Jesus.

O Lar de Nazaré é o alfobre, de onde esta relação há-de ser transplantada e multiplicada até aos confins da Terra, até ao fim d'O Tempo. c<A Família é a escola natural da sólida formação do homem», escreveu Pai Américo.

Nela se deveria aprender à escala pequenina, adequada à pequenez do homem, a regra da integração de todos os ho­mens na grande Família huma­na. E porque perfeita como ne­nhuma outra, a Família que Jesus sagrou, ·eis que (<tudo quanto seja regresso a Nazaré é .progresso sociab>.

Deveria ser ... ! Deveria ser dos <<sentimentos de mb;ericór­dia, de bondade, humildade, mansidão e paciência» mais acessíveis ao nível da carne e do sangue, que se subiria ao cultivo dos mesmos sentimen­tos na sociedade maior em que o homem vai tomando parte e parte activa. Assim se tornaria sólida uma relação pacífica e

como todos os santos,_ assumiu a paternidade do espírito, numa lição perene.

Anseia-se p·or um Portugal renovado. E eu só formulo um voto: que a renovação seja pe­netrada da luz do «Doutrina». Se assim for, conterá o verda­deiro s·inal da libertação.~ . da via da Paz, com todos os seus benéficos frutos •.. »

Ei<s urrna amostra da torrente de correspondência que desabou sobre nós, nesta quadra festiva!!

São almas vivas. Libe:rrtas. Não arrumam livros na estante. Mas lêem, saboreiam, meditam - e procuram um Mundo Mel·hor. Mais humano, mais cristão -absolutamente identificado com a Doutrina do Mestre.

Eis o objectivo do «Doutrina>>, sem bafo de sacristia!

Jú-lio Mendes

frutuosa entre os homens. 'Será assim .•• ?!

Parece que não. Que é a ins­tituição familiar que está doente. E não melhorará sem um regresso a NaZa.ré, àquela abertura ~universal, àquela dis­posição de serviço que era o espírito de correspondência de Maria e de José à Vontade do Pai manifestada na Encarnação do Seu FiNto.

Talvez seja por aqui o prin­cípio de uma autêntica reforma social.

TRIBUNA de Coimbra Cont. da PRIMEIRA página

não as conhecíamos. Sorrimos e sentimo-nos felizes pela coin­cidência. Foi buscar a colecção de «0 Gaiato» que é lido em todas as suas reuniões. Visitá­mos todas as instalações com · um senhor humilde e simpânioo que devia ser o director. D~s­se-nos que a grande düicul.; dade era a carência de pessoas capazes de educar e a dificul­dade em manter os jovens aos 17 e 18 anos. Diss·e-nos tam­bém que têm procurado Reli­giosos ou Sacerdotes que se queimm dedicar à Obra, mas não têm encontrado. Falta-lhes a mística. Só têm «0 Gaiato». O subsídio do Governo tam­bém é pequeno.

Partimos satisfeitos pelas crianças que ali vimos e nos parecer-am felizes. Trouxemos na alma a tristeza de tanta ca­!Pacidade da casa quase vazia e da multidão de crianças que vagueiam sem lar e sem famí-. lia.

Padre Horácio

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Page 4: OB·RA ~E RAPAZES, PARA RAPAZES, PELOS RAPAZES - …portal.cehr.ft.lisboa.ucp.pt/PadreAmerico/Results/OGaiato/J0805 - 18.01.1975.pdfcaso vertente o Bangla Desch. Imagens e contrastes

Hoje mesmo chegaram, e com eles oomeço, dois rocados de quem não se .contentou com possuir uma casa (um andar) e se decidiu à segunda. São dois Engenheiros, modestos no ser e IJJ!o ter, acompanhados por suas Esposas, perfeitamente sintonizados com eles.

Si.n1pleS!l11'enre, a segUI11da casa não é na praia nem nas ter-: mas. TamlpOuco para seu regalo. «Destina-se a ajudar os nossos irmãos injustamente carencia-­dos, a const:r.u1ir a sua habita­ção.»

Um envia de uma assentada ·toda a quantia que foi juntan­do, considerada como uma espé­cie de juro: 51 contos. O outro, «Romeiro do Porto», é presença de muitas veZJes nes;te desfile e acrescenta mais 2 contos sob o títu:lo simbólico de «Casa de S. José», embora saiba que este seu mealheiro não vai propria­mente construir uma casa, mas ajudar a ooncluir várias.

Outros procedem da mesma ~orte, alguns de longa data, sem manifestarem o mais leve cansaço. É o caso de M. M.-A. L. com quatro entregas de 1.000$. J. P. R., ora da rua Santo I'ldefonso, ora da av. Rodrigues de Freitas, com mais 3x500$00 (fora as veres que dos seus vales sHenciooos não dei con­ta!). Mais três ,pedras de 500$ Cfica nas vinte e quatro) para a Casa de S. Carlos. Mais 1.000$ de «Um cristão apreen­sivo mas confi·ante» com esta carta a justif~car os qualifica"' tivos que se dâ:

<<Nesta hora conturbada da nossa história em que as gran­des opções são por vezes toma­das sem aquele espírito demo-

Quando estas simples notf­das chegarem às vossas casas, jâ passou a quadra festiva do Natal. No entanto, é preciso que nos conscienc'ializemos de que o Natal não é só no dia 25 de Dezembro de cada ano. Hã N atai ao longo de todos os dias da nossa vida; uns mais alegres, se as coisas correram à medida dos nossos desejos; outros mais sombrios, devido a problemas que nos surgem, a nós, ou a. outros, a quem de­vemos por direito dar a nossa ,ajuda. Amor, Esperança e Fé - tudo isto Cristo vtio tra­zer à terra, aos homens de boa Vlontade. Sigamo-Lo no Seu ca­m'inho e as incertezas que nos a'tovmentam desaparecerão.

Quero dizer a todos os nos­sos Amigos que foram lembra-

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crâtico que seria de desejar, não resta mais nada por enquanto que esperar e confiar naquele mínimo de bom senso que os responsáveis são obrigados a ter.

( ••• ) .1! pena que certos órgãos informativos, que são uma mi­noria de povo,_ se arroguem no direito de orientar massas po­pulares, deturpando, distorcen­do e escamoteando notícias e impondo figurinos que não que­remos seguir. Com que direito e autor.idade o fazem? Quem jâ lhes passou credencial ou mandato?

Se é este o caminhar para a democracia que apregoam, triste democracia vamos ter. Nós também somos povo e não que­remos outra ditadura.

Todos sabemos que fomos governados por um regime di­tatorial durante 48 anos e que foi muito injusto.

Queremos agora justiça, ·paz e · amor na maior liberdade. Amor sem paz e justiça não frutifica. A injustiça gera ódio. O ódio mata a paz. A liberdade sem paz, amor e justiça, gera guerra. Se a guerra for de paz, amor e justiça, então, aben­çoada guerra. Vamos invadir todos os lares, todos os por­tugueses com esta guerra.

A minha invasão começa com

dos, por nós, junto do Presépio. Que o Deus-M·enino vos dê 100 por 1, recompensando assim as ajudas que nos mandaram ao longo dos 365 dias de 197 4. Não temos dinheiro, mas tam­bém não temos dívidas. Outro ano vai oom.eçar e eu confio no Senhor e em vós. A obra, para continuar, depende de todo o nosso esforço e da boa vontade dos que querem que ela continue. Não se esqueçam, pois, de nos fazerem as vossas encomendas. Assim, teremos trabalho para as Raparigas e algumas tecedeiras. Como sa­bem, fazemos malhas e vários trabalhos de tecelagem. Muitas das cokhas de casai e solteiro, em lã e algodão, têm ido para várias ter.ras do País. Mantas, passadeiras, oolchas de gaze ' e soquetes, pegas, etc. Nos últi­mos meses do ano é quando nos pedem mais coisas, mas tudo leva o seu tempo a fazer; depois, o artraso dos Correios... as ·coisas não chegam a tempo de faZJerdes os v:ossos presentes. Agradeço que nos façam as encomendas com antecedência. Era bem para todos.

Temos uma Pobre de 86 anos, de -cama hã alguns dias, que precisa de roupa para o leito, pritndpalmente lençóis. Nã.o ha­verá alguém que lhe queira ofierecer alguns? Desde jâ agra­déço e desejo a todos Felizes Festas e que o NoVIo Ano traga a Paz ao mundo, que só A en­oontra nos caminhos do Senhor.

Maria Augusta

GO a ajuda para uma casa que sirva de lar a uma fanúlia que dela necessite, eliminando assim uma barraca. Prometo enviar mais ou invadir mais vezes. Avant-e com a invasão de amor.

""u~ o ano de 1975 seja um ohino à paz,_ para todos os por­tugueses.>>

O dobro de Viana, de outro Engenheiro amigo que não esquece o Calvário nem Ordins. Uma pres·ença anónima de 500$ 'COm a delicade~a de um <<!per­doem a ·pequena lembrança».

Passa agora um simpático grupo na lista do M.ontepio Geral-Lisboa: Os alunos da Escola de S. José, com .1.000$. 150$00. daque'le teimoso licen­.cia~o que, sozinho ou quase só, não desiste de carrear tijolos para a Casa dos ditos. Afinal, desta vez, apareceu outro, com 300$ e o toque a despertatr: «Para que os li'cenciados não ado:r.meçam».

'Doze contos no Espelho da Moda de quem lã foi certifi­car-se se a Menina da Caixa era mesmo nossa filha. As mu­lheres dos nossos fi'lhos nossas filhas sãJO.

Uma Aida manda 1.500$ e «assim agradeço a Deus o ter acabado agora de pagar urna casinha que comprei. Deus per­mita que o Património dos Po­bres seja cada v·ez mais conhe­ddo e cada vez maior, para que 'todos possamos ter uma casinha 'digna de um ser hum·ano».

Outra dúzia, do Nordeste transmontano <~para uma afli­ção daquel,es que não têm te­·lhado nas casas em oonstruçã'o».

Da rua Mouzinho da SilVieira, 500$00 entregues no Lar do Porto. Metade da Maria Anto­ni~ta, com o sacrificio das suas sonhadas Casas das Três Ma­rias e da Rosarinho.

Outra vez no Lar do Po:rto, 10 contos «de urna promessa>>. M:etade, em vale de Valongo, «como prometi e vou fazendo em prestações».

De V. N. de Gaia, <qw-a telhas» 200$ de um Jorge e o mesmo de uma Maria. De al­guém da Ordem do Cétrmo, 50 contos. · Trinta de Portimão, «como preito de homenagem à memória de minha Mãe, falecida em 1946». Passaram quase trinta anos. Expresso assim, quem pode duvidar des-te amor filial?! 700$ de alguém da «Xafari:ca»·. 150$ da rua Pas­ooal de M:elo, com mais I·em­branças para dif,erentes fins.

!Dou agor<a vez aos Pessoais do costume. O da ex-RICA, que, neste ponto, graças a Deus, não se fundiu na C.P.E., mandou, dresde as últi·mas notícias: 3X (1075$20+80$60)+ 1794$70+ +80$60. Uma e~pressãozinha fácil pam quem s·e quiser entre­ter. Da Administração é que não hã novas nem mandados. Essa fundiu-se com cect:eza. Dos Funcionários da Caixa da In­dústria Têxtil, «produto de 1$00 mensal», 1.610$00 desde Julho a Novembro de 7 4.

Por duas vezes, 300$, as «go­tinhas» da Alice para a Casa de S.ta Filomena. Uma presen­ça acumulada da Maria do «·P,equeno Louvre».

Três vezes 100$ de Ois da Ribeira. Quatro de 60$ do <fM'a­jor do Silêncio». As suas me­lhioras! Outrotanto de Berta e Jovge.

Uma carta:

<<Estes 16.000$00 são desti­nados na totalidade a um destes casos (éllcompalllhava um recorte de <<0 Gaiato»).

Fica ao critério do senhor Padre que os conheça, a escolha.

É condição essencial, no entanto, que sejam entregues àquele que com esta impor­tância tenha real possibilidade - ia a escrever <<resolven> -de na verdade dar o passo mais f.inne e decisivo para vir a ter a sua casa.

E como esta é a condição essencial, se o senhor Paure vir que nenhum destes casos lograria isso, poderá escolher qualquer outro para o qual estes 16 contos venham a tra­duzir-se numa futura casa.

A segunda condição, bem entendido, é que sejam verda­deiramente pobres e com fa­mília.»

Ora, meu Amigo, é esta tam­bém a nossa doutri:na, mesmo não podendo dar fatias tão substanciais como a que põe em nossas mãos. Até, para seu esdarecime'nto e de quantos nele es'tiverem interessados, t:r.anSICrevemos aqui de um im­presso que usamos para orien­tação das Paróquias com que colaboramos, <(las condições que norteiam a concessão destes Pequenos Auxílios:

a) O Pároco fazer seu o caso. Não basta informar, mas assumir a responsabilidade do mesmo em consciência.

b) A construção seja se­gul'a e de suficiente dimensio­namento e divisões para a boa higiene física e moral da famí­lia que a irá habitar.

c) Haja possibilidades de levar a termo com o nosso auxí­lio a obra começada, sem o que este seria inútil, pois c-om mais «capelas ~imperfeitas»,_ ninguém lucra.»

De <<Portuense qualquen>, 100$00. M·etade da Celeste, de Santarém. Outra vez 100$ do Porto, da Ana Maria. Idem (e mai,s para outros destinos) de alguém que pensa e age assim: <<Como a reforma este mês é dubrada á que repartir pur us . que persizão. Desculpe a mâ iscri<ta, não sei melhor.» Vai tal qua'l com um beijo de muita veneração nestas mãos sábias em ciência não caduca.

Do Largo do Priorado, 20~$ (fora o resto para mil). De Lisboa, metade, de Sara. E res­tos de pagamentos de assina­turas e de remessas com outras intenções.

Mais um olamor de inquieta­çã-o 1pela Justiça de alguém que põe o fundamento da eficácia no seu ·esfiorço pelos olltros no esforço da sua ·conversão pes­soal:

<<Atnima-me saber que Deus é grande e certamente não vai deixar sem ajuda aqueles que lutam por uma maior Justiça para todos. É nesta linha que peço a vossa ajuda, porquanto sei do vosso total empenha­mento nesta mesma causa da Verdadeira Justiça. Venho, pois depositar nas vossas mãos a importância de 2.000$00, que é todo o d'inhei.ro que possuo. Será para aquilo que entender­derdes. Entretanto quero dizer­-vos que mui'to me impressio­nou ·a notída dada n'«O GaiaifJC»> de 9 de Novembro, na secção «Património dos Pobres» aoer­ca daqluele trabalhador, pai de 10 fHhos, que vos procurou em grande aflição para poder -oobrir a sua casa. Se achardes bem. . . o dinheiro é vosso.

Que seja aceite por Deus, como dádiva da Viúva do Evan­gelho, é a única coisa que de­sejo. E também gostaria que tudo fkasse só entre nós e Eile.»

Se assim tOldos nos preocu­pásS'amos, em primeiro tirar a trave do nosso olho do que o argueiro do do vizi,nho, <<outro galo nos cantaria»!

Termino com outro Pessoal: «JUm grupo de Empregados da Direcção dos Serviços de Tele­comunicações, que oferecem o seu dia de trabalho: 7.070$00.>>

AQUI, LISBOA! 'C:ont. da PRIMEIRA página

Um segundo ponto e em rela· ção ao anterior: aqueles que põem a chmve dos problemas apenas nas questões materiais estão profundamente equivoca­dos. Não é por haver riqueza ou se auferirem grandes ordenados que se .estancarão os Pedras em mar..girudização. Se os valores morais forem esquecidos, tanto fará dispor de dinheirQ camo não. Se não houver o exemplo e se estiver ausente o espírito de sacrifício e de entrega, por mais que queiramos, tudo será em vão e os Pedras serão cada vez mais.

O terceiro as pecta da nossa meditação: vale a pena dar a v.ida pelos Pedras, apesar das limitações próprias e alheias. A paz também se constrói pela re­conciliação, a nível individual e colectivo. Sujar as mãos, como aqui temos dito. Não importa que nos acusem de obscurantistas ou de narcotizantes. Empenhar a vida no estender de mãos aos Pedros que encontramos pelo caminho, eis o nosso propósito. Palavras, só as indispensáveis. Trwbalho, esse sim, o que for possívet e estiver ao nosso alcance, sem awrdes ou barulho. Restituir aos Pedros a alegria de comer, em família, um prato de bacalhau com batatas, bem «adu­bados». Deixar aos que gritam e falam muito a «consolax:ão» de nada fazerem.

.Padre Luiz