objeto do processo

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processo penal

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O objeto do processo o crime, no sentido que lhe dado pelo art. 1/1 al. a) do cpp. A acusao consubstancia a formulao de uma pretenso e a indicao da causa dessa pretenso. Em julgamento, se resultar que o arguido praticou aqueles factos descritos na acusao, o tribunal decide sobre a espcie e medida da sano a aplicar-369/2 e condena o arguido nessa sano. na acusao que so indicados os factos que so submetidos a julgamento e aos quais o tribuna fica vinculado e que a pretenso formulada de modo genrico: pede-se ao tribunal que, provados os factos acusados, aplique, em conformidade com a lei, a sano que ao caso couber.Esse processo pode ser mais ou menos complexo, de acordo com a forma de processo em causa: pode existir uma fase como o inqurito (art. 262 e ss do CPP) em que se recolhe a factualidade criminalmente relevante e as respetivas provas, imputando-as depois ao arguido numa pea processual especfica que a acusao (art. 283 e, ainda, 284 e 285 do CPP). A partir da, e em funo desses factos descritos na acusao, o debate sobre a eventual responsabilidade do arguido far-se-, primeiro, numa fase processual facultativa (a instruo) na qual se controla o ato que ps fim ao inqurito (art. 286 do CPP) ou, em segundo lugar, no julgamento (art. 311 e ss do CPP)Princpios enformadores : identidade, estabilidade, indivisibilidade e consuno, orientam a delimitao do objeto do processo no processo penal. Princpio da identidade do complexo de factos que integram o objeto do processo, de acordo com o qual as oscilaes da matria de facto durante o processo no podem em regra aftar a identidade do objeto do processo definido na acusao; Princpio da estabilidade, ou seja, a preservao do crculo de factos ao longo do processo sem oscilao significativas ou intolerveis. Princpio da indivisibilidade do objeto do processo, atravs do qual se veda a segmentao da sequncia de factos que, em funo da sua conexo interna e da sua unidade jurdica, devem ser tratados conjuntamente e no ser objeto de fragmentaes processuais discricionrias. Daqui resulta um princpio de consuno dos poderes de cognio do Tribunal que se esgotam no s no efetivamente conhecido, como tambm naquilo que, estando em sequncia unitria com o acusado e o conhecido, deveria ter sido efetivamente apreciado pelo Tribunal, ficando preterida a possibilidade do seu conhecimento autnomo.Estes princpios garantem o Fair Trial. Identidade do objeto do processo e valores do sistema processual penal I. Estrutura acusatria, direito de defesa e contraditrioa flutuao do objeto do processo pode colidir severamente com o direito de defesa do arguido e, de forma mais genrica, com o princpio do contraditrio e com o princpio da confiana, alm de, em situao extrema, lesar de igual modo o princpio da lealdade processual.Se ao Tribunal (de instruo ou de julgamento) se reconhece um estatuto ativo na busca da verdade material ento o problema da identidade, estabilidade e indivisibilidade do objeto do processo projeta-se no apenas no estatuto do arguido como tambm nos poderes do prprio Tribunal.Estrutura acusatria, princpio da acusao e vinculao temticaO Tribunal no pode reformular livremente o objeto do processo pois estar simultaneamente a investigar e a julgar os factos criminalmente relevantes. E se o fizer unilateralmente viola ainda o princpio do contraditrio. Por isso, na nossa lei, uma reformulao do objeto do processo em julgamento que altere a sua identidade essencial s possvel com o acordo de todos os sujeitos processuais (art. 359., n. 2 do CPP). Isto porque est em causa o princpio da acusao, a vinculao temtica associada estrutura acusatria, a imparcialidade do tribunal de julgamento, o direito de defesa do arguido e, de forma mais genrica, o contraditrio decorrente da existncia de diferentes pretenses de natureza penal assumidas no processo. A verdade material, por seu turno, fito essencial de um processo (cfr. arts 53, n 1, 299, n 1 e 2, 340, n1 do CPP) que procura dentro dos limites da instncia a verdade histrica sobre os factos eventualmente geradores de responsabilidade, no um fim que justifique todos os meios. No um fim absoluto, mas sim um fim a prosseguir de forma condicionada, nos limites dos factos acusados (cfr. arts 303, 309, 311, n 2, al. b), 359 e 379 do CPP) e, dentro deste, de tudo aquilo que o Tribunal pode e deve conhecer, sob pena desse conhecimento ficar definitivamente preterido (princpio da consuno do objeto do processo).Em suma, num modelo de processo penal que acolha uma estrutura acusatria, o tribunal de julgamento estar vinculado tematicamente pelo contedo material da acusao, isto , o conjunto de factos descritos na acusao. O conhecimento de outros factos que no tenham sido legitimamente integrados no objeto do processo s pode ocorrer dentro de certos limites e regimes previstos na lei processual.

Litispendncia e ne bis in idem (proibio do duplo julgamento pelo mesmo facto)A identificao de um caso de litispendncia ou, na formulao constitucional, o cumprimento do princpio ne bis in idem (art. 29, n 5 da CRP) pressupe devidamente identificado um crime e, necessariamente, a factualidade que lhe est subjacente e que imputada ao arguido no mbito do tipo e no contexto de um processo penal.Ou seja, sem a identificao rigorosa do objeto do processo no possvel afirmar com segurana a existncia de um caso de litispendncia, nem dar efetividade ao princpio da proibio da dupla condenao pelo mesmo facto (ne bis in idem).A estabilidade, identidade, indivisibilidade e consuno do objeto do processo so condies essenciais para garantir o direito de defesa, o princpio da acusao e a estrutura acusatria do processo penal. Desses aspetos depende ainda a efetivao do contraditrio, o respeito pelo caso julgado e a aferio da litispendncia, bem como o respeito pela proibio da dupla condenao pelo mesmo crime. Tudo isto, o que est em causa quando se analisa a temtica do objeto do processo penal.O objeto do processo pode sofrer oscilaes que a lei enquadra como alteraes de factos, sujeitas a regimes diferentes consoante sejam alteraes de factos substanciais (por exemplo, art. 359. do CPP) ou no substanciais (art. 358. do CPP). Este conceito de alterao substancial de factos, definido parcialmente no art. 1., n. 1 al. f) do CPP, portanto a forma de aferir a identidade do objeto do processo durante o processo penal.Contedo e limites do princpio ne bis in idem na Constituio portuguesaO art. 29, n. 5 da CRP probe o duplo julgamento pela prtica do mesmo crime, numa formulao clara mas em si mesma de limitado alcance literal. A proibio do duplo julgamento pelo mesmo crime, probe literalmente apenas o duplo julgamento pelo mesmo crime. Mas este no o seu sentido material. Assim formulada, a proibio apenas veda a repetio de julgamento com o mesmo objeto, o que corresponde basicamente ao efeito preclusivo do caso julgado: uma vez julgado penalmente um facto, no pode haver novo julgamento pelo mesmo facto.Outra limitao do art. 29., n. 5 CRP resulta de a sua letra se referir apenas proibio do duplo julgamento pelo mesmo crime, o que, abrangendo seguramente o mesmo facto com natureza criminal, no contempla na sua configurao a dupla valorao do mesmo facto em sistemas que no qualifiquem esses factos como crimes.

Critrios de identidade do facto para efeito do ne bis in idemQuando que um facto se pode considerar o mesmo, para dessa forma se poder dizer que est a ser objeto dum novo julgamento?De acordo com a doutrina dominante, o conceito de identidade do facto de natureza material e no puramente processual e, por outro lado, um conceito normativo e no um conceito naturalstico. Significa isto que no o processo que determina se o facto ou no o mesmo, mas sim as caractersticas materiais do facto que podem infirmar ou confirmar a identidade do mesmo.Existir dupla valorao sobre o mesmo facto quando o juzo de valor jurdico formulado incida sobre o mesmo agente e o mesmo facto em funo da tutela do mesmo bem jurdico. Isto acontecer independentemente da natureza da sano aplicvel.Os momentos processuais de fixao do objeto do processoEm regra esse momento o da acusao. Pode mesmo afirmar-se que, em princpio, o objeto do processo o objeto da acusao. Mas possvel que a fixao do objeto do processo ocorra antes ou depois da acusao.O objeto do processo durante a fase de inquritoDurante o inqurito (art. 262 e ss do CPP) livre a fixao do objeto do processo. Pela prpria natureza e funo desta fase processual, que visa investigar a existncia de um crime (art. 262, n 1 do CPP), a factualidade recolhida (e eventualmente imputada ao arguido, posteriormente, na acusao) varivel.O arquivamento em caso de dispensa de pena realizado antes de ser deduzida acusao (art. 280, n1) e o arquivamento subsequente suspenso provisria de um processo (arts. 281 e 282, n 3) fixam um objeto do processo e formam caso julgado material. Nesses casos, delimitada a factualidade relevante e imputada a um agente no mbito dum tipo de crime, retirando-se da efeitos jurdicos imediatos, em termos processuais e em termos substantivos. Significa isto que esses factos no podem voltar a ser apreciados criminalmente para efeitos da determinao da responsabilidade criminal daquele agente e que ficam abrangidos pelo caso julgado no s os factos efetivamente conhecidos como todos aqueles que encontrando-se numa unidade histrica com os primeiros poderiam e deveriam ter sido conhecidos pelo Tribunal. A acusao do MP (art. 283 do CPP), nos crimes pblicos e semi-pblicos, e a acusao do assistente (art. 285), nos crimes particulares, fixam o objeto do processo. A identidade do objeto do processo delimitada nestes atos vai servir de referncia para outros atos processuais posteriores. Assim, a acusao particular dependente no pode introduzir no processo factos que impliquem uma alterao substancial (cfr. art. 1, al. f) do CPP) em relao aos factos invocados pelo MP na sua acusao, como decorre expressamente do art. 284, n 1, in fine. A acusao do assistente nos crimes particulares, por seu turno, limita tematicamente a eventual acusao do MP (cfr. expressamente art. 285, n 3 do CPP)O objeto do processo e a fase de instruoo objeto do processo fixado na acusao pode ser legitimamente alargado por via do requerimento para abertura de instruo (art. 287, n 1, als a) e b) do CPP).Exemplificando: se o MP acusa o arguido de furto qualificado (art. 204, n 2, al. a) do CP) e o assistente no requerimento invoca novos factos que se traduzem em ameaas e violncias cometidas pelo arguido sobre a vtima do suposto furto, o JIC ir conhecer toda esta factualidade e pode, indiciados todos os factos, proferir uma pronncia por roubo (art. 210 do CP). Ou seja, o JIC est tematicamente vinculado pelo contedo factual da acusao e pelo requerimento para abertura de instruo (na parte em que alegue novos factos).O objeto do processo e o saneamentoO despacho de saneamento do processo, previsto no art. 311 do CPP, no pode em regra alterar o objeto do processo, pois inclusivamente feito por um juiz que vai estar presente no julgamento.Pode, contudo, o juiz no saneamento limitar o objeto do processo, rejeitando parcialmente a acusao (do MP ou do assistente) na medida em que ela implique uma alterao substancial de factos, em violao dos limites previstos nos artigos 284, n 1 e 285, n 3 do CPP.O objeto do processo e o julgamentoO Tribunal de julgamento est tematicamente vinculado acusao e/ou pronncia, consoante os casos, como resulta expressamente do regime de alterao de factos descrito nos artigos 358 e 359 do CPP, conjugados com o regime da nulidade da sentena cominada para a violao daqueles preceitos de acordo com o art. 379, n 1, al. b) do CPP. A lei admite apenas uma hiptese de reformulao do objeto do processo na fase de julgamento, atravs do acordo entre todos os sujeitos processuais (art. 359, n 2 do CPP). Objeto do processo, liberdade de qualificao jurdica e caso julgado Admitamos agora um exemplo, sucessivamente reformulado, de forma a ilustrar a exposio anterior. O Sr. A apresenta queixa contra o Sr. B por este o ter agredido violentamente. O MP investigou os factos e concluiu que se tratava de um caso de ofensas corporais simples (art. 143, n 1 do CP), acusando B da prtica deste crime. Notificado da acusao do MP, o Sr. A entende que os factos nela narrados esto incompletos, porque no fazem qualquer referncia ao facto de A ter estado, em consequncia da agresso, 15 dias sem poder trabalhar, o que se traduzir num crime de ofensas graves integridade fsica (art. 144, al. b) do CP). O JIC s poder conhecer legitimamente esta factualidade se A a invocar no requerimento para abertura de instruo (art. 287, n 1, al. b) do CPP). O mesmo acontece se no tiver lugar a instruo, relativamente ao juiz de julgamento. Neste caso, se A invocar esses factos durante a audincia (sem ter havido instruo) o Tribunal de Julgamento no poder em princpio conhecer essa factualidade naquele processo, a no ser que todos os sujeitos processuais estejam de acordo que aquele processo passe a integrar tambm os novos factos (art. 359, n 2 do CPP).Admitamos agora, noutra variante desta histria, que durante a audincia de julgamento surgem novos depoimentos relativos agresso, atravs dos quais se prova que o arguido estava armado com uma pistola que chegou a apontar cabea da vtima quando ela estava cada no cho (facto que a vtima desconhecia por estar nessa altura de costas para o agressor) e que, alm disso, B no ter disparado porque surgiram diversos populares. Estes novos factos relacionam-se com os factos tipicamente imputados ao arguido mas, uma vez lidos conjuntamente com aqueles, fazem com que a agresso em causa seja, provavelmente, uma tentativa de homicdio (art. 131, 22, 23 e 14, n 1 do CP). Em regra o Tribunal no os pode conhecer (pelo menos legitimamente) porque tais factos implicariam uma alterao substancial dos factos (art. 1, al. f) e art. 359 do CPP) descritos na acusao ou na pronncia.

A descrio de alguns casos poder ilustrar de forma mais expressiva as dimenses problemticas do tema do objeto do processo:a) Caso do roubo: Suponha-se que X acusado para prtica de um furto qualificado (art. 204, n 2, al. a) do CP) cometido contra V. Na audincia de julgamento prova-se que X subtraiu os valores a Vusando violncia e ameaas, razo pela qual (em funo destes factos no descritos na acusao, a violncia e as ameaas) estaremos perante um roubo (art. 210, n 1 e 2, al. b) do CP). A pena abstracta no primeiro caso ir de 2 a 8 anos de priso e no segundo caso de 3 a 15 anos de priso. Poder o Tribunal de julgamento conhecer estes novos factos (violncia e ameaas) e condenar o arguido pela prtica do crime de roubo? b) Caso da receptao: suponha-se que C acusado de ser co-autor do furto qualificado cometido conjuntamente com A e B (arts 204, n 2, al.a) e e) e art. 26, terceira proposio, do CP). Na audincia de julgamento no se prova que C tenha estado presente durante a execuo do facto, razo pela qual ter de ser absolvido da acusao de ter sido co-autor naquele facto. Mas prova-se que adquiriu os valores furtados, tendo desse modo cometido eventualmente um crime de receptao (art. 231, n 1 do CP). Este facto (a aquisio dos objectos furtados) no constava da acusao dirigida contra A, B e C. Pode o Tribunal de julgamento condenar C pela receptao? c) Caso das injrias: V apresentou queixa contra A por este lhe ter dado duas bofetadas num local pblico, no dia 3 de Maro de 2000. O MP acusou A da prtica do crime de ofensas simples integridade fsica (art. 143, n 1 do CP). No julgamento, A absolvido por falta de provas. V procura ento arranjar outras testemunhas do facto e, tendo-o conseguido, apresenta uma nova queixa contra A por ter cometido contra si o crime de injrias (art. 181, n 1, alargado pelo art. 182 do CP) ao dar-lhe duas bofetadas num local pblico, no mesmo dia 3 de Maro. Poder haver um novo processo e um novo julgamento com bases neste mesmo facto luz de outra norma legal que o qualifica como crime?d) Caso do abuso de confiana continuado: A acusado pelo MP de ter, durante 3 meses (Janeiro, Fevereiro e Maro de 2000), retirado dinheiro ilegitimamente da caixa do supermercado onde trabalha. Ao todo, tirou seis vezes 5.000 escudos. A acusado da prtica de um crime de abuso de confiana continuado no valor de 30.000 escudos (art. 205, n 1 e art. 30, n 2 do CP). Durante o julgamento, descobre-se que A no retirou 5.000 por seis vezes, mas sim por oito vezes. Poder o Tribunal conhecer estes dois factos que se traduziram em retirar por mais duas vezes 5.000 escudos da caixa registadora (mais 10.000 escudos, portanto)? Admita-se, numa variante deste caso, que o Tribunal condena A por ter tirado seis vezes os 5.000 escudos. Depois de transitada em julgado esta deciso, conhecem-se outras situaes de apropriao de dinheiro, por A, nos mesmos termos e no mesmo perodo. Pode ser aberto um novo processo s com base nestas novas apropriaes de quantias realizadas por A?surge desde logo o problema de saber se o Tribunal de julgamento pode conhecer factos (a violncia e a ameaa) que no estando na acusao fazem com que a factualidade do crime de furto passe a ser qualificado como um crime de roubo (caso do roubo). Revela-se igualmente a questo de saber se o Tribunal, absolvendo o arguido por falta de prova relativamente aos factos constantes da acusao, o poder condenar por outros factos criminalmente relevantes que ficaram provados durante a audincia de julgamento (caso da receptao). No terceiro caso descrito (caso das injrias) suscita-se o problema de saber se aqueles facto (as bofetadas) foram j julgados criminalmente e se isso impede ou no que esse mesmo facto, com outra qualificao jurdica (ou com a mesma, o que equivalente para o problema em causa), sejam objecto de outro processo. Finalmente, na ltima situao descrita (caso do abuso de confiana continuado), suscita-se a questo da identidade do objecto do processo, da sua indivisibilidade e da fora consuntiva do caso julgado: ser que, na primeira hiptese avanada, fica descaracterizado o objecto do processo se o Tribunal de julgamento conhecer as duas aces isoladas integrando-as no crime continuado? Relativamente segunda hiptese formulada, ser que fica preterida a possibilidade de serem judicialmente conhecidos os factos que poderiam ter sido conhecidos como parcelas do crime continuado j decidido?