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VELHOGENERAL.COM.BR OBAMA, TRUMP E BIDEN: CONSISTÊNCIA NA POLÍTICA EXTERNA 1 19/01/2021 | VELHOGENERAL.COM.BR | CATEGORIA: GEOPOLÍTICA OBAMA, TRUMP E BIDEN: CONSISTÊNCIA NA POLÍTICA EXTERNA Artigo publicado por George Friedman no Geopolitical Futures. Traduzido e adaptado por Albert Caballé Marimón* Donald Trump cumprimenta Joe Biden e Barack Obama em sua cerimônia de posse, em 20 de janeiro de 2017 (Foto: Lucy Nicholson/Reuters). Embora se espere que a política externa dos Estados Unidos sob a próxima administração Biden se afaste de alguns dos princípios-chave da política do presidente Donald Trump, como o “America First”, George Friedman, analista do Geopolitical Futures, aponta para uma grande possibilidade de continuidade, especialmente no que diz respeito às relações com a China e a Rússia. A política externa dos EUA vem em fases. Do final da Segunda Guerra Mundial até 1972, seu objetivo era confrontar a União Soviética e os governos comunistas afiliados. As coisas mudaram um pouco no início dos anos 1970, quando os EUA, enfraquecidos pela Guerra do Vietnã, começaram para trabalhar com a China contra a União Soviética para finalmente alcançar uma détente 1 . Isso durou até 1991 e o colapso da União Soviética. Do início dos anos 1990 a 2001, Washington se fixou em liderar uma ordem mundial pacífica e global. Isso também mudou em 1 Détente é uma palavra francesa que significa distensão ou relaxamento. O termo tem sido usado em política internacional desde a década de 1970. De uma maneira geral, o termo pode ser empregado para se referir a qualquer situação internacional na qual nações que tinham anteriormente um relacionamento hostil (sem, no entanto, estarem em um estado de guerra declarada) passam a restabelecer relações diplomáticas e culturais, apaziguando seu relacionamento e diminuindo o risco de conflito declarado (Wikipédia).

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  • VELHOGENERAL.COM.BR OBAMA, TRUMP E BIDEN: CONSISTÊNCIA NA POLÍTICA EXTERNA 1

    19/01/2021 | VELHOGENERAL.COM.BR | CATEGORIA: GEOPOLÍTICA

    OBAMA, TRUMP E BIDEN: CONSISTÊNCIA NA POLÍTICA EXTERNA Artigo publicado por George Friedman no Geopolitical Futures. Traduzido e adaptado por Albert Caballé Marimón*

    DonaldTrumpcumprimentaJoeBideneBarackObamaemsuacerimôniadeposse,em20dejaneirode2017(Foto:LucyNicholson/Reuters).

    EmboraseesperequeapolíticaexternadosEstadosUnidossobapróximaadministraçãoBidenseafastedealgunsdosprincípios-chavedapolíticadopresidenteDonaldTrump,comoo“AmericaFirst”,GeorgeFriedman,analistadoGeopoliticalFutures,apontaparaumagrandepossibilidadedecontinuidade,especialmentenoquedizrespeitoàsrelações

    comaChinaeaRússia.

    ApolíticaexternadosEUAvememfases.DofinaldaSegundaGuerraMundialaté1972, seu objetivo era confrontar a União Soviética e os governos comunistasafiliados.Ascoisasmudaramumpouconoiníciodosanos1970,quandoosEUA,enfraquecidos pela Guerra do Vietnã, começaram para trabalhar com a ChinacontraaUniãoSoviéticapara finalmentealcançarumadétente1. Issodurouaté1991eocolapsodaUniãoSoviética.Doiníciodosanos1990a2001,Washingtonsefixouemliderarumaordemmundialpacíficaeglobal.Issotambémmudouem

    1Détenteéumapalavrafrancesaquesignificadistensãoourelaxamento.Otermotemsidousadoempolíticainternacionaldesdeadécadade1970.Deumamaneirageral,otermopodeserempregadoparasereferiraqualquersituaçãointernacionalnaqualnaçõesquetinhamanteriormenteumrelacionamentohostil(sem,noentanto,estarememumestadodeguerradeclarada)passamarestabelecerrelaçõesdiplomáticaseculturais,apaziguandoseurelacionamentoediminuindooriscodeconflitodeclarado(Wikipédia).

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    11desetembro,quandoapolíticagirouemtornodaguerraglobalcontraoterror.Asguerrasforamcaraseminimamenteeficazes.

    AfaseatualdapolíticaexternadosEUAfoipostaempráticaporBarackObama.ConsistiaemreduzirasforçasmilitaresnoOrienteMédioecriarumanovarelaçãocom o mundomuçulmano; adotar uma postura mais adversária em relação àRússia, incluindoas investidasdeMoscounoexterioreconfrontaraChinanasrelaçõescomerciaise,especificamente,namanipulaçãodesuamoedaporPequim.

    ApolíticaexternadeDonaldTrumpseguiunaturalmente.EletambémprocurouretirarastropasdoOrienteMédioecriarumnovorelacionamentonaregião.Elefoi fundamental na formalização de uma estrutura de coalizão composta porcertasnaçõesárabeseIsraelcontraoIrã,efezalgumasinesperadasretiradasdetropas.EletrouxepressãoeconômicasobreaChina,cujosefeitosaindaestãoporver.E,finalmente,elecontinuouaenfrentaraRússia,mantendoasforçasdosEUAnaPolônia,RomêniaenoMarNegro.

    Havia,éclaro,muitasoutrasdimensõesemtodasaspolíticasexternas,masessaseramasmaisdefinitivas.AsrelaçõescomaEuropaeramummeiodelidarcomoutrasquestões,tantoquantoeramdesde1945.AsrelaçõescomoLesteAsiáticoeram igualmente instrumentais. Mas os elementos-chave da era da políticaexterna Obama-Trump foram a retirada e reestruturação do Oriente Médio,contendoaRússiaeconfrontandoaChina.Alinguagem,osgestoseaatmosferageral eram diferentes, mas a realidade era a mesma. Eles não tinham outraescolha.OOrienteMédioeraessencial, e apolíticaexternadeGeorgeW.Bushhaviaseguidoseucurso.

    JoeBidenchegaàpresidênciacomtãopoucasopçõesquantoTrump.Otomeoteorserãoradicalmentediferentes,masapolíticanão.Bidensugeriu,porexemplo,queadotaráumapolíticamaisconciliatóriaemrelaçãoaoIrã.OproblemaéqueanovaarquiteturadaregiãoconsisteemestadosfundamentalmentehostisaoIrã,especialmenteemsuascapacidadesnucleares.Elesnãoconfiamnaspromessasiranianas sobre esta questão, porque a traição pode ser catastrófica para eles.Bidennãopodedeixaraestruturadaaliançaemergentedesmoronar,nempodesedaraoluxodeseguiremfrentesemumamãofortedosEUA.BidenpodedizerquedesejasermaisconciliadorcomoIrã,epodeserisso,massópodefazerissopropondoumaalternativaàaliançaregionalcriadaduranteogovernoanterior.

    NãoháindicaçãodequeBidenpretendamudarapolíticadosEUAparaaRússiaea China. E se o fizer, será em resposta à forma como a China e a Rússia secomportam quando ele assumir o cargo. A China pode se tornar ela própriaconciliadora e concordar com as demandas americanas, ou poderia se tornarmilitarmentemaisagressivaantesparatestarBidenesondarsuasfraquezas.AformacomoBidenvaireagiraqualquerdoscenáriosmudaráasrelaçõesEUA-China. A iniciativa está nasmãos da China, já que os EUApodemmanter suasposiçõesatuais.Damesmaforma,aRússiapodecontinuaraobterprofundidadeestratégica,criandorealidadesinformaisemlugarescomoBielorrússiaounoSuldoCáucaso.Masseassimfor,osEUAterãoquemodificar–masnãoabandonar–sua política de contenção. Assim como a lógica da eraObamapermaneceu emvigorsobTrump,seráquealógicadeTrumpsemanterásobBiden,ajustando-se

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    àsnovasrealidadeseretóricas?ApolíticadosEUAcontinuaráaseconcentrarnonovoalinhamentodoOrienteMédio,contençãodaRússiaeconfrontocomaChina.

    Apromessadeseaproximardealiadosglobaisélouvávelatéquesejatentada.OsEUA podem tentar ter reuniões mais calorosas com a Europa, e os europeuspodemoptarpor se tornarmais confrontantes comaChina,mas issoocorreráporqueédoseuinteresse,nãoporqueseencaixanosparâmetrosdoqueconstitui“diplomacianormal”.OsinteressesdosEUAedaEuropanãocostumamcolidir,enem se alinham perfeitamente. Os europeus tendem a ser avessos ao risco,especialmenteemlugarescomoaÁsia,ondeosEUApodemsedaraoluxodeserindiferentes.TodomundotemmedodaChina.UmareconciliaçãorepentinaentreaChinaeosEstadosUnidosseriaumterremoto.

    Apolíticaexternaevolui,masevoluirápidaeperigosamente.Bidenépresidente,massuapolíticaexterna,comoadetodososoutrospresidentes,serácercadadeturbulências internas e buscará previsibilidade (estranhamente, com Trumptambémfoiassim,mesmoquandopareciaquenão).OqueBidentemeéoqueprovavelmentevirá:umaprofundachecagempeloschineses,russosouiranianos.Seeleforespertoosuficiente,vainavegarentreelesparasemanteràspolíticasqueherdou.Esseéocenáriomaisprovável.Serinovadorenquantoseestásendotestadopodeterconsequênciasinesperadas.

    *AlbertCaballéMarimónpossui formaçãosuperioremmarketing.Depoisdeatuar trintaeseteanosemempresasnacionaisemultinacionais,hácincoanosdedica-seàatividadedepesquisadornasáreasdeHistóriaMilitar,DefesaeGeopolítica.ÉfotógrafoprofissionaleeditordoblogVelhoGeneral.JáatuounacoberturadeeventoscomoaFeiraLAAD,oExercícioCRUZEX,aOperaçãoAcolhida,oExercícioTremeCerradoeproferiupalestrasnaAFA,AcademiadaForçaAérea.ÉcolaboradordarevistaTecnologia&[email protected].