oab - direitio civil/processo civil/2ª etapa

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Marco Antônio, solteiro, maior e capaz, resolve lavrar testamento público, a fim de dispor sobre seus bens. Tendo em vista que os seus únicos herdeiros são os seus dois filhos maiores e capazes, Júlio e Joel, ambos solteiros e sem filhos, e considerando-se que o patrimônio de Marco Antônio corresponde a dois imóveis de igual valor, dois automóveis de igual valor e R$ 100.000,00 em depósito bancário, ele assim dispõe sobre os seus bens no testamento: deixa para Júlio um imóvel, um automóvel e metade do montante depositado na conta bancária e, de igual sorte, deixa para Joel um imóvel, um automóvel e metade do montante depositado na conta bancária. Logo após ter ciência da lavratura do testamento público por seu pai, Júlio decide imediatamente lavrar escritura pública por meio da qual renuncia expressamente apenas ao automóvel, aceitando receber o imóvel, bem como metade do montante depositado em conta bancária. Para tanto, afirma Júlio que há diversas multas por infrações de trânsito e dívidas de impostos em relação ao automóvel, razão pela qual não lhe interessa herdar esse bem. Tomando conhecimento da lavratura da escritura pública de renúncia por Júlio, Marco Antônio e Joel decidem consultar um advogado. Na condição de advogado (a) consultado(a) por Marco Antônio e Joel, responda aos itens a seguir, utilizando os argumentos jurídicos apropriados e a fundamentação legal pertinente ao caso. A) Poderia Júlio renunciar à herança no momento por ele escolhido? (valor: 0,65) B) Independentemente da resposta dada ao item anterior, poderia Júlio renunciar exclusivamente ao automóvel, recebendo os demais bens? (valor: 0,60) A) É vedado dispor sobre herança de pessoa viva, na forma do artigo 426, CC/02. B) De acordo com o artigo 1808, CC/02, é vedada a renúncia parcial. A renúncia é indivisível, razão pela qual somente é autorizado ao herdeiro renunciar todo o quinhão a que teria direito. ---------------------------------------------------------------------------------------------------------- Cristiano e Daniele, menores impúberes, com 14 (catorze) e 10 (dez) anos de idade, respectivamente, representados por sua genitora, celebraram acordo em ação de alimentos proposta em face de seu pai, Miguel, ficando pactuado que este pagaria alimentos no valor mensal correspondente a 30% (trinta por cento) do salário mínimo, sendo metade para cada um. Sucede, entretanto, que Miguel, durante os dois primeiros anos, deixou de adimplir, injustificadamente, com a obrigação assumida, passando a pagar a quantia celebrada em acordo, a partir de então. Transcorridos 03 (três) anos da sentença que homologou o acordo na ação de alimentos, Cristiano e Daniele ajuizaram ação de execução, cobrando o débito pendente, requerendo a prisão civil do devedor. Diante disso, responda fundamentadamente às seguintes indagações: A) Subsiste o dever jurídico de Miguel de pagar o débito relativo aos últimos 03 (três) anos de inadimplência quanto aos alimentos devidos a seus filhos? (valor: 0,70) B) No caso em tela, é cabível a prisão civil de Miguel? (valor: 0,55)

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Page 1: OAB - Direitio Civil/Processo Civil/2ª etapa

Marco Antônio, solteiro, maior e capaz, resolve lavrar testamento público, a fim de

dispor sobre seus bens.

Tendo em vista que os seus únicos herdeiros são os seus dois filhos maiores e capazes, Júlio e Joel, ambos solteiros e sem filhos, e considerando-se que o patrimônio de Marco Antônio corresponde a dois imóveis de igual valor, dois automóveis de igual valor e R$ 100.000,00 em depósito bancário, ele assim dispõe sobre os seus bens no testamento: deixa para Júlio um imóvel, um automóvel e metade do montante depositado na conta bancária e, de igual sorte, deixa para Joel um imóvel, um automóvel e metade do

montante depositado na conta bancária.

Logo após ter ciência da lavratura do testamento público por seu pai, Júlio decide imediatamente lavrar escritura pública por meio da qual renuncia expressamente apenas ao automóvel, aceitando receber o imóvel, bem como metade do montante depositado em conta bancária. Para tanto, afirma Júlio que há diversas multas por infrações de trânsito e dívidas de impostos em relação ao automóvel, razão pela qual não lhe interessa herdar esse bem. Tomando conhecimento da lavratura da escritura pública de

renúncia por Júlio, Marco Antônio e Joel decidem consultar um advogado.

Na condição de advogado (a) consultado(a) por Marco Antônio e Joel, responda aos itens a seguir, utilizando os argumentos jurídicos apropriados e a fundamentação legal pertinente ao caso.

A) Poderia Júlio renunciar à herança no momento por ele escolhido? (valor: 0,65)

B) Independentemente da resposta dada ao item anterior, poderia Júlio renunciar exclusivamente ao automóvel, recebendo os demais bens? (valor: 0,60)

A) É vedado dispor sobre herança de pessoa viva, na forma do artigo 426, CC/02.

B) De acordo com o artigo 1808, CC/02, é vedada a renúncia parcial. A renúncia é

indivisível, razão pela qual somente é autorizado ao herdeiro renunciar todo o

quinhão a que teria direito.

----------------------------------------------------------------------------------------------------------

Cristiano e Daniele, menores impúberes, com 14 (catorze) e 10 (dez) anos de idade, respectivamente, representados por sua genitora, celebraram acordo em ação de alimentos proposta em face de seu pai, Miguel, ficando pactuado que este pagaria alimentos no valor mensal correspondente a 30% (trinta por cento) do salário mínimo,

sendo metade para cada um. Sucede, entretanto, que Miguel, durante os dois primeiros anos, deixou de adimplir, injustificadamente, com a obrigação assumida, passando a pagar a quantia celebrada em acordo, a partir de então. Transcorridos 03 (três) anos da sentença que homologou o acordo na ação de alimentos, Cristiano e Daniele ajuizaram ação de execução, cobrando o débito pendente, requerendo a prisão civil do devedor.

Diante disso, responda fundamentadamente às seguintes indagações:

A) Subsiste o dever jurídico de Miguel de pagar o débito relativo aos últimos 03 (três) anos de inadimplência quanto aos alimentos devidos a seus filhos? (valor: 0,70)

B) No caso em tela, é cabível a prisão civil de Miguel? (valor: 0,55)

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A) Embora o art. 206, §2º, do Código Civil estabeleça que prescreve em 2 anos a

pretensão para haver prestações alimentares, a partir da data em que se vencerem,

há no caso analisado uma causa impeditiva da prescrição, concernente à

incapacidade absoluta dos menores, conforme dispõe o artigo 198, I, do Código

Civil.

B) O rito da constrição pessoal somente se admite em relação às três prestações

anteriores ao ajuizamento da ação e as que se vencerem no curso do processo

(Súmula 309 do Superior Tribunal de Justiça)

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Rodrigo, casado pelo regime da comunhão parcial com Liandra, garante à Indústria Bandeirantes S/A satisfazer obrigação assumida por seu amigo João. De posse do contrato de confissão de dívida, também assinado por duas testemunhas, a Bandeirantes S/A cedeu o contrato ao estudante Marcos, com anuência de João e Rodrigo. Decorrido o prazo contratual para pagamento da quantia de R$5.000,00, configurada a inadimplência, Marcos ajuizou demanda executiva em face de Rodrigo e João, junto à

Vara do Juizado Especial Cível de Colatina/ES, local de cumprimento da obrigação.

De acordo com os elementos do enunciado:

A) Aponte qual a relação contratual acessória existente entre Rodrigo e João? A relação acessória pode ser objeto de questionamento? Fundamente. (valor: 0,85)

B) Fazendo uma análise processual dos elementos do enunciado, a demanda ajuizada reúne condições de procedibilidade? (valor: 0,40)

A) Entre Rodrigo e João, há contrato de fiança, conforme Art. 818, do CC(Pelo

contrato de fiança, uma pessoa garante satisfazer ao credor uma obrigação

assumida pelo devedor, caso este não a cumpra).

Rodrigo é casado com Liandra pelo regime da comunhão parcial, exigindo-se para

a validade da fiança a outorga uxória do cônjuge (Art. 1.647, CC. Ressalvado o

disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do outro,

exceto no regime da separação absoluta: [...] III - prestar fiança ou aval;). Não

havendo anuência de Liandra à fiança, esta poderá questionar a obrigação

acessória assumida por Rodrigo, na forma do Art. 1.642, do CC (Qualquer que

seja o regime de bens, tanto o marido quanto a mulher podem livremente: [...] IV -

demandar a rescisão dos contratos de fiança e doação, ou a invalidação do aval,

realizados pelo outro cônjuge com infração do disposto nos incisos III e IV do art.

1.647;).

B) Embora doutrinariamente possível, a cessão contratual firmada por Indústria

Bandeirantes S/A em favor de Marcos, inclusive contando com a anuência do

devedor João e seu fiador Rodrigo; a demanda ajuizada por Marcos perante Vara

de Juizado Especial Cível, portanto, regida pela Lei n. 9.099/95, não reúne

condições de procedibilidade. Como se vê do Art. 8º, § 1º, I, da Lei n. 9.099/95 (§

1o Somente serão admitidas a propor ação perante o Juizado Especial: I - as

pessoas físicas capazes, excluídos os cessionários de direito de pessoas jurídicas;), é

vedado aos cessionários de pessoas jurídicas não admitidas a figurar como parte

autora nos juizados especiais. Na situação-problema proposta, figurou como

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cedente pessoa jurídica ‘Sociedade Anônima’ que não é admitida a figurar como

autora nos Juizados Especiais Cíveis.

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Carlos, arquiteto famoso e extremamente talentoso, assina um contrato de prestação de serviços com Marcelo, comprometendo-se a elaborar e executar um projeto de obra de arquitetura no prazo de 06 (seis) meses. Destaque-se, ainda, que Marcelo procurou os serviços de Carlos em virtude do respeito e da reputação que este possui em seu ramo de atividade. Entretanto, passado o prazo estipulado e, após tentativas frustradas de

contato, Carlos não realiza o serviço contratado, não restando alternativa para Marcelo a não ser a propositura de uma ação judicial.

Diante do caso concreto, responda fundamentadamente:

A) Tendo em vista tratar-se de obrigação de fazer infungível (personalíssima), de que maneira a questão poderá ser solucionada pelo Poder Judiciário? (valor: 0,65)

B) Considere que em uma das cláusulas contratuais estipuladas, Carlos e Marcelo, em vez de adotarem o prazo legal previsto no Código Civil, estipulam um prazo contratual de prescrição de 10 anos para postular eventuais danos causados. Isso é possível? (valor: 0,60)

A) Existem duas opções: a tutela específica da obrigação (que deverá ser cumprida

pelo devedor, visto se tratar de obrigação infungível), sendo possível a fixação de

astreintes ou a resolução em perdas e danos, se assim o autor requerer ou se for

impossível a obtenção da tutela específica, nos termos do artigo 461 do CPC ou

artigos 247 ou 248 do CC.

B) A justificativa da prescrição é a segurança jurídica. O que se quer é evitar que

um conflito de interesses permaneça em aberto por prazo indeterminado. Então,

todo conflito de interesses caracterizado pela violação de um direito prescreve. E

quem determina o prazo de prescrição será sempre a Lei, consoante artigo 192 do

Código Civil.

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Paulo, maior e capaz, e Eliane, maior e capaz, casaram-se pelo regime da comunhão parcial de bens no ano de 2004. Nessa ocasião, Paulo já havia herdado, em virtude do falecimento de seus pais, um lote de ações na Bolsa de Valores, cujo montante

atualizado corresponde a R$ 50.000,00, sendo certo que Eliane, à época, não possuía bens em seu patrimônio. No ano de 2005, nasceu João, filho do casal. Em 2006, Paulo vendeu as ações que havia recebido e, com o produto da venda, comprou um automóvel de igual valor. Em 2007, Paulo foi contemplado com um prêmio de loteria no valor atualizado de R$ 100.000,00, que se mantém depositado em conta bancária. Agora, no ano de 2012, o casal, pretendendo se divorciar mediante a lavratura de escritura pública,

decide consultar um advogado.

Na condição de advogado(a) consultado(a) por Paulo e Eliane, responda aos itens a seguir, empregando os argumentos jurídicos apropriados e a fundamentação legal pertinente ao caso.

a) Pode o casal divorciar-se por meio de lavratura de escritura pública? (Valor: 0,6)

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b) A respeito da partilha de bens em caso de divórcio do casal, qual(is) bem(ns) deve(m)

integrar o patrimônio de Eliane e qual(is) bem(ns) deve(m) integrar o patrimônio de Paulo? (Valor: 0,65)

a) Não, de acordo com o artigo 1124-A, CPC. Isso porque os cônjuges possuem um

filho menor de idade, o que consiste em empecilho legal à utilização da via

extrajudicial para a decretação do divórcio.

b) Caberá a Eliane perceber metade do prêmio de loteria a título de meação, na

forma do artigo 1660, inciso II, do CC/02. Paulo terá direito ao automóvel, por ter

sido adquirido com o produto da herança (art. 1659, inciso I, CC/02), e também a

metade do prêmio de loteria (artigo 1660, II, CC/02).

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O Banco Dinheiro a Todo Instante S.A. propõe ação de execução baseada em título executivo extrajudicial em face de José Raimundo dos Santos, no valor de R$ 15.000,00 (quinze mil reais), distribuída em 16 de julho de 2010. O executado possuía alguns bens, entre eles dois automóveis, uma pequena lancha, um único imóvel, além de investimentos financeiros.

Prosseguindo na execução, a instituição financeira pleiteia ao magistrado, nos termos do artigo 655-A do CPC, a penhora on-line dos ativos financeiros existentes em nome do executado.

O juiz, por sua vez, negou o pedido afirmando que, de acordo com o princípio do menor sacrifício do executado, disposto no artigo 620 do Código de Processo Civil, devem ser esgotados todos os meios possíveis e lícitos para que sejam nomeados à penhora outros bens que garantam o processo de execução.

Irresignada, a instituição agrava da decisão, e o desembargador relator, em decisão

monocrática, mantém a posição do juízo de primeiro grau. Um agravo interno é interposto, e a decisão é novamente mantida pelo órgão colegiado.

Diante do caso concreto responda fundamentadamente:

A) Assiste razão à instituição bancária? É possível, portanto, realizar a penhora on-line no caso concreto? (Valor: 0,65)

B) Admitindo que não haja obscuridade, contradição ou omissão no acórdão, e que existam precedentes em sentido contrário em outro tribunal do país, qual seria o recurso cabível? Fundamente indicando o dispositivo legal pertinente. (Valor: 0,6)

A) Sim, é cabível imediatamente a penhora on-line de valores disponíveis em

contas bancárias, por meio, portanto, do sistema BACEN-JUD sem necessidade de

comprovação de esgotamento de outras vias, após a vigência da Lei 11382/06.

(B) Sim, recurso especial para o STJ na forma do artigo 105, III, "a", da CRFB,

alegando violação aos artigos 655 e 655-A do CPC.

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Cristina dos Santos desapareceu após uma enchente provocada por uma forte

tempestade que assolou a cidade onde morava. Considerando estar provada a sua presença no local do acidente e não ser possível encontrar o corpo de Cristina para exame, responda aos itens a seguir, empregando os argumentos jurídicos apropriados e a fundamentação legal pertinente ao caso.

a) Trata-se de hipótese de morte presumida? (Valor: 0,65)

b) Qual é o procedimento para realização do assento de óbito de Cristina? (Valor: 0,60)

a) Sim. Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência, se for

extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida. Nesse caso, a

declaração de morte presumida poderá ser requerida após esgotadas as buscas e

averiguações. (artigo 7º, I, e parágrafo único, do CC)

b) O artigo 88 da Lei de Registros Públicos consagra um procedimento de

justificação, nos termos dos artigos 861 a 866 do CPC, para a finalidade de

proceder ao assento de óbito nos casos de desastre ou calamidade, no qual não

tenha sido possível realizar exame médico no cadáver.

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Fabrício, morador de Vitória-ES, de passagem em São Paulo por motivo de trabalho,

aproveita a estada na cidade para comprar presentes para sua namorada na loja Ana Noris Moda Feminina. Realiza o pagamento por meio de cheque no valor de R$ 3.560,00 (três mil quinhentos e sessenta reais). Depositado na instituição bancária, o cheque é devolvido por falta de provisão de fundos. A pessoa jurídica ingressa com a execução, nos termos da lei. Fabrício foi regularmente citado, e tal informação foi

juntada aos autos em trâmite no juízo deprecante na mesma data. Vinte dias depois, a carta precatória devolvida pelo juízo deprecado é juntada aos autos, e o executado opõe embargos quinze dias depois. Fabrício alegou em sua defesa não ser executivo o título apresentado e que há excesso na execução, deixando de juntar o valor que entendia correto. Com base na situação-problema, responda às indagações abaixo com base na legislação vigente.

a) Como advogado(a) da Ana Noris Moda Feminina, intimado a se manifestar sobre os embargos, o que alegaria? (Valor: 0,65)

b) Suponha que o juiz tenha atribuído efeito suspensivo aos embargos. Requerida a revogação, o juiz mantém o efeito, mesmo tendo sido demonstrado inequívoco o risco de lesão irreparável. Como advogado(a), qual medida adotaria? Informe o prazo e procedimento. (Valor: 0,60)

O examinando deve demonstrar que se trata da modalidade de procedimento de

execução por quantia certa contra devedor solvente fundada em título

extrajudicial. A questão aponta a fase da defesa do executado, disposta a partir do

art. 736 do CPC.

a) Na qualidade de advogado(a) deve reafirmar que os cheques são títulos

executivos extrajudiciais (art. 585, I, do CPC) e que os embargos estão tocados por

dois vícios merecendo a rejeição liminar (art. 739 do CPC). O primeiro é que são

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intempestivos. Quando a execução se dá por carta precatória, o prazo de quinze

dias para oferecer embargos será contato da juntada aos autos do juízo deprecante

da informação prestada pelo juízo deprecado (§ 2º do art. 738 do CPC) o que, nos

termos do enunciado, ocorreu no mesmo dia da citação. O segundo erro do

embargante é ter deixado de juntar o valor que entendia correto, elemento

essencial quando os embargos são pautados em alegado excesso de execução (§ 5º

do art. 739-A do CPC).

b) Cuida-se de decisão interlocutória e a medida hábil a atacá-la é o agravo. Por

haver risco de lesão irreparável, a modalidade agravo de instrumento é a aplicável

ao caso. Deverá ser interposto no prazo de dez dias (art. 522 do CPC) contados da

intimação da decisão que manteve o efeito suspensivo dos embargos e ser

interposto por meio de petição escrita dirigida ao juízo ad quem (art. 524 do

CPC) com cópia dos documentos indispensáveis, na forma do art. 525 do CPC.

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Em ação de execução de alimentos, foi decretada a revelia de Francisco, que somente

ingressou na ação dois meses após a publicação da decisão que determina a penhora do imóvel e do veículo automotor de sua propriedade, insurgindo-se contra a contrição patrimonial sob o argumento de bem de família, pois se trata de imóvel destinado a sua

moradia, não obstante nele residir sozinho, e o automóvel ser utilizado como táxi. Igor, o exequente, tem conhecimento de que Francisco, seu pai, recebera, como herança, outros bens imóveis, todavia, com cláusula de inalienabilidade e impenhorabilidade.

a) Há possibilidade de arguição extemporânea de Francisco e oposição de impenhorabilidade no caso acima relatado? Fundamente. (Valor: 0,60)

b) Os bens indicados são considerados impenhoráveis? Fundamente. (Valor: 0,65)

O examinando deve depreender pela admissibilidade de arguição a qualquer

tempo da proteção legal por se tratar de matéria de ordem pública, desde que não

tenha exaurido o procedimento expropriatório; dissertar sobre a proteção legal

conferida ao único bem imóvel destinado à residência familiar, que se estende a

solteiro (STJ); e, ainda, ao automóvel utilizado como taxi por se tratar de

instrumento necessário ao exercício da profissão (art. 649, V, do CPC); e, afinal,

concluir a penhora de bem de família é medida excepcional que se legitima no caso

dos autos por não ser oponível à obrigação alimentar, no teor do artigo 3º, inciso

III, da Lei nº 8.009/1990. Impenhorabilidade que não se opõe às execuções de

pensão alimentícia no âmbito das relações familiares. Exegese dos artigos 1º, 3º,

inciso III, 5º da Lei nº 8.009/1990, 1.711-1.722 do CC, 649, inciso V e §2º e 650 do

CPC. Enunciado nº 364, da Súmula de Jurisprudência do Superior Tribunal de

Justiça.

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Maria, funcionária de uma empresa transnacional, foi transferida para trabalhar em outro país e, por isso, celebrou contrato de compra e venda de seu apartamento com João, prevendo que Maria poderia resolver o contrato no prazo de um ano, desde que

pagasse o preço recebido pelo imóvel e reembolsasse as despesas que João tivesse

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com ele. O referido contrato de compra e venda foi devidamente levado ao registro de

imóveis com atribuição para tal.

Nesse período, João vendeu o apartamento para Mário, que tinha conhecimento de que ainda estava no prazo de Maria retomar o imóvel e lá foi residir com sua esposa.

Contudo, Maria retornou ao Brasil antes do período de um ano estipulado e, ao ter ciência de que o novo proprietário do apartamento era Mário, notificou-o de que desejaria retomar o imóvel, com o pagamento do valor do imóvel mais as despesas realizadas. Mário, porém, recusou o recebimento das quantias, afirmando que o contrato

sujeito à cláusula resolutiva foi pactuado com João, não vinculando a terceiros.

Responda aos itens a seguir, empregando os argumentos jurídicos apropriados e a fundamentação legal pertinente ao caso.

a) Assiste razão a Mário? (Valor: 0,75)

b) Qual deverá ser o procedimento adotado por Maria a partir da recusa de Mário em receber a quantia?

(Valor: 0,50)

O examinando deve identificar que Maria celebrou contrato de compra e venda de

bem imóvel com João, com previsão de cláusula de retrovenda, nos termos do art.

505 do Código Civil, sendo que foi pactuado pelas partes um prazo decadencial

menor do que o previsto pela legislação. O referido contrato foi devidamente

levado a registro, nos termos do art. 167, I, 29 da Lei nº 6.015/73, trazendo a

presunção de conhecimento a terceiros que se trata de propriedade que fica sujeita

a cláusula resolutiva. Assim, não assiste razão a Mário, que também fica

submetido à cláusula de retrovenda (art. 507 do Código Civil) e não pode alegar

ignorância de que sua propriedade é resolúvel, nos termos dos artigos 1.359 e 1.360

do Código Civil.

No item B, diante da recusa sem justa causa de Mário em receber o valor do

imóvel e o reembolso das despesas, já que a cláusula de retrovenda se opera

também em face de terceiros, abre-se a Maria o caminho da consignação em

pagamento (art. 335, I, do Código Civil). Dessa forma, Maria deverá ajuizar uma

ação de consignação em pagamento, nos termos do art. 890 do Código de Processo

Civil, depositando a quantia devida, para poder exercer seu direito de resgate.