oab 2fase constitucional (2)

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Marcela Mattiuzzo Direito Constitucional Profa. Flavia Bahia Direito Constitucional 1 Concepções/sentidos do texto constitucional 4 Classificação tipológica 5 Elementos da Constituição 7 Eficácia e aplicabilidade de normas constitucionais 7 Teoria do Poder Constituinte 8 Características do PCO e PCD 9 O poder reformador 11 Limitações ao poder reformador 11 Cláusulas Pétreas 13 Mutação Constitucional 14 Hermenêutica Constitucional 15 Controle de Constitucionalidade 16 Parâmetro do Controle 17 Histórico 17 Tipos de Inconstitucionalidade 18 Modalidades de Controle 19 Princípio da Reserva de Plenário 20 Diferenças entre sistemas difuso e concentrado 20 Papel do Senado 21 Ação Direta de Inconstitucionalidade 21 Ação Declaratória de Constitucionalidade 25 Ação Direta de Constitucionalidade por Omissão e Mandado de Injunção 26 Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 28 Reclamação Constitucional 29 Controle Estadual 30 Temas controvertidos 32 Direitos e Garantias Fundamentais 35 Tratados sobre direitos humanos e sua previsão na CF 88 35 Aplicação horizontal e vertical de direitos fundamentais 36 Direitos Fundamentais em Espécie 37 Nacionalidade 38 Direitos Políticos 40 1

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OAB 2fase Constitucional (2)

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  • Marcela Mattiuzzo

    Direito Constitucional!Profa. Flavia Bahia!!

    Direito Constitucional! 1! Concepes/sentidos do texto constitucional! 4! Classificao tipolgica! 5! Elementos da Constituio! 7! Eficcia e aplicabilidade de normas constitucionais! 7! Teoria do Poder Constituinte! 8! Caractersticas do PCO e PCD! 9! O poder reformador! 11! Limitaes ao poder reformador! 11! Clusulas Ptreas! 13! Mutao Constitucional! 14! Hermenutica Constitucional! 15! Controle de Constitucionalidade! 16! Parmetro do Controle! 17! Histrico! 17! Tipos de Inconstitucionalidade! 18! Modalidades de Controle! 19! Princpio da Reserva de Plenrio! 20! Diferenas entre sistemas difuso e concentrado! 20! Papel do Senado! 21! Ao Direta de Inconstitucionalidade! 21! Ao Declaratria de Constitucionalidade! 25! Ao Direta de Constitucionalidade por Omisso e Mandado de Injuno! 26! Arguio de Descumprimento de Preceito Fundamental! 28! Reclamao Constitucional! 29! Controle Estadual! 30! Temas controvertidos! 32! Direitos e Garantias Fundamentais! 35! Tratados sobre direitos humanos e sua previso na CF 88! 35! Aplicao horizontal e vertical de direitos fundamentais! 36! Direitos Fundamentais em Espcie! 37! Nacionalidade! 38! Direitos Polticos! 40!

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  • Marcela MattiuzzoRemdios Constitucionais! 42! Mandado de Injuno! 42! Habeas data! 42! Ao Popular! 43! Habeas Corpus! 44! Mandado de Segurana! 45! Separao de Poderes! 46! Poder Legislativo! 47! Estatuto dos Congressistas - Imunidades, Inviolabilidades e Prerrogativas! 47! Comisso Parlamentar de Inqurito! 49! Poder Executivo! 50! Processo Legislativo! 53! Iniciativa do projeto de lei! 53! Procedimento! 54! Diferenas entre LO e LC! 55! Medida Provisria! 55! Lei Delegada! 56! Decretos Legislativos e Resolues! 57! Organizao do Estado! 57! Segurana Pblica! 59! Poder Judicirio! 59! Estado de Defesa e Estado de Stio! 60!

    Peas Processuais! 61! Tutelas de Urgncia! 62! Remdios Constitucionais! 63! Mandado de Injuno! 63! Habeas Data! 65! Ao Popular! 67! Habeas Corpus! 69! Mandado de Segurana! 71! Ao Ordinria! 74! Reclamao Constitucional! 75! Aes do Controle Concentrado! 77! Ao Direta de Inconstitucionalidade! 77! Ao Declaratria de Constitucionalidade! 78! Ao Direta de Inconstitucionalidade por Omisso! 79!

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  • Marcela MattiuzzoArguio de Descumprimento de Preceito Fundamental! 79! Observaes importantes sobre aes do controle concentrado! 80! Controle de Constitucionalidade Estadual! 81! Normas de observncia obrigatria! 81! Parecer! 82! Questes relevantes! 82! Reviso de Peas (at o momento)! 82! Ao Civil Pblica! 83! Ao de Impugnao de Mandato Eletivo! 85! Recursos! 85! Apelao! 86! Recurso Ordinrio Constitucional! 87! ROC STF! 87! ROC STJ! 87! Agravos! 88! Agravo Retido! 88! Agravo de Instrumento! 88! Agravo Interno (Regimental ou Legal)! 89! Agravo nos prprios autos (para subir)! 89! Embargos de declarao! 89! Recurso Extraordinrio! 90! Recurso Especial! 91! Respostas do Ru! 92! Contestao! 92! Reconveno! 92! Excees! 92

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  • Marcela Mattiuzzo

    Concepes/sentidos do texto constitucional!Para o STF no existe apenas uma maneira de perceber a CF, a corte adota uma concepo plural, uma acepo mltipla do texto. a concepo sociolgica, o sentido poltico, jurdico, normativo, todos so importantes para entender o sentido da CF, mas o STF no adota uma posio especfica. so vrias as concepes, as mais importantes:!!a) Sociolgica - Lasalle - a essncia da Constituio: a CF um fato, um somatrio dos fatores

    reais do poder e se no correspondesse a esses fatores sociais reais do poder, no passaria de uma folha de papel. Exemplo: constituio perdida no fogo ou na gua - ainda que o documento escrito desaparea, as pessoas continuaro a respeitar as normas existentes na CF, porque a Constituio escrita no o mais importante. J se a CF no for formulada com base em fatores reais no poder, com o desaparecimento do documento, desaparece tambm a obrigatoriedade. Essa viso importante para a credibilidade do texto, mas desconsiderar o papel da norma, da normatividade, a fragilidade desse sentido sociolgico. S se analisa um lado, os fatos influenciando a formao da norma. se uma questo fala sobre FATO, somatrio dos fatores reais do poder (questes econmicas, sociais, histricas, religiosas, etc.), ela provavelmente se refere a essa perspectiva.!

    b) Poltica - Carl Schmitt - teoria da constituio: a CF no deixaria de ser uma deciso poltica fundamental. a reunio das normas relacionadas estrutura principal do estado, forma de governo, sistema de governo, repartio de competncias, separao de poderes, aquilo que caracteriza propriamente um pas seria a Constituio. Se houvesse outras normas no texto escrito que fogem da viso do essencialmente constitucional, haveria as leis constitucionais, dando ensejo ao pensamento sobre normas formalmente e materialmente constitucionais. a CF deciso poltica e s pode ser considerado constitucional aquilo que for materialmente constitucional. ele traz a noo de valor constitucional e a diferenciao entre constituio (normas materialmente constitucionais) e leis constitucionais (normas formalmente constitucionais). Exemplo: art. 242 - Colgio Pedro II norma formalmente, mas no materialmente constitucional. a fragilidade dessa teoria a dificuldade em estabelecer o que uma deciso poltica, o que trata-se de algo meramente formal. !

    c) jurdica positiva normativa - Kelsen - teoria pura do direito: a constituio fruto da vontade racional do homem, do dever-ser. uma norma pura, desprovida de contedo valorativo, embasasse no pressuposto lgico formal de que toda norma criada de acordo com o processo legislativo adequado nasce com imperatividade e deve ser respeitada. essa viso tambm tem algumas observaes importantes: lgico-jurdico quer dizer que a Constituio norma hipottica fundamental, que d fundamento de validade para o sentido jurdico positivo, que j a norma posta. Temer chega a dizer que o lgico-jurdico o suposto e o jurdico positivo o posto.!

    d) J Meirelles - sentido culturalista: a constituio seria uma formao objetiva de cultura, encerrando elementos histricos, sociais, racionais, etc. destaca-se a importncia do papel da vontade humana. a concepo faz nascer o conceito de constituio total, aquela que somatria da cultura, da histria, interferindo mutuamente, ela recebe a influncia da realidade e devolve para a realidade sua fora normativa. !

    e) Spagna Musso - Z Afonso - sentido estrutural: ponto de equilbrio de estruturas sociais. as diversas estruturas sociais se equilibrariam de acordo com o seu texto.!

    f) Canotilho - sentido aberto: a Constituio precisa estar aberta sociedade, receber suas influncias, sob pena de desestruturar sua base normativa. aquela que caminha com a sociedade, que muda quando a sociedade exige e traz a necessidade de mudana. ideia de mutao constitucional.!!

    a viso positivista vigorou por muitos anos, como somatrio de normas elaboradas por meio de processo legislativo diferenciado. extrair o contedo moral do direito fazer uma separao entre direito e moral. no ps-guerra, tudo isso entrou em cheque, porque havia uma reivindicao legtima da populao na defesa de que o direito e a moral no pudessem mais se separar. a vem a viso ps-positivista. porque o positivismo exclua a natureza normativa dos princpios. !!

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  • Marcela Mattiuzzo

    Classificao tipolgica!constitucionalismo moderno um fenmeno recente. a primeira constituio escrita, dos EUA, do sc. XVIII. portanto procurar se informar sobre as normas constitucionais indispensvel. os principais parmetros de classificao sero abordados, em relao CF.!!a) Quanto origem:!

    a) Promulgada - tambm chamadas de democrticas ou populares. como o prprio nome ajuda, so oriundas da vontade popular, elaboradas por assembleia nacional constituinte, composta por representantes do povo. tem legitimidade popular. a CF 88 desse tipo, mas outras foram assim (a de 1891, a de 34, a de 46). a produo de uma constituio colaborativa na Islndia um exemplo muito recente. houve participao da populao (2012), por meio de manifestao do povo extrada da internet. o modelo democrtico, mas h participao direta.!

    b) Outorgada - vivenciada no brasil muitas vezes, aquela autocrtica, elaborada pela vontade unilateral do governante, seja ele quem for. h praticamente ausncia de manifestao popular. fcil distinguir as constituies promulgadas das outorgadas (1824, 1937 - polaca, 1967, EC 1 de 1969). o texto de 69 foi, em sua forma, uma reforma, mas, em sua matria, na verdade tratou-se de nova constituio, reescrevendo o texto de 67 para trazer mais poderes para as mos do executivo e da Unio. !

    c) Pactuada - o grande exemplo de constituio pactuada a Carta Magna de 1215, na Inglaterra. tratava-se de pacto entre o soberano e o povo. na histria brasileira, nossas constituies foram promulgadas ou outorgadas, mas nunca pactuadas. !

    d) Cesarista - Z Afonso. seria aquela oriunda da outorga, mas como se sujeita ao crivo popular, ela no poderia ser chamada de outorgada. ela nasce de uma outorga, mas sujeita vontade popular seja por plebiscito ou por referendo. h componente misto de vontade do governante + vontade popular. ele geralmente cita como exemplo os plebiscitos napolenicos da poca francesa. ams hoje tambm temos como apontar exemplos de CFs que nascem da vontade do governante e posteriormente sujeitas manifestao popular. o caso da Venezuela, da Bolvia, do Equador. !!

    b) Quanto forma:!a) escritas/instrumentais/positivas - documentada, organizada, apresentada por meio de

    documento. renem as normas constitucionais em codificao. !b) no escritas/consuetudinrias/costumeiras - podem at possuir normas escritas, mas falta

    a codificao, a reunio das normas num documento unificado. por exemplo, a Inglaterra tem a Carta Magna, o HC Act, o Bill of Rights, so considerados constituio at hoje, mas so separados, no sistematizados em lugar algum. portanto no significa dizer que no h documento algum, apenas que inexiste codificao. dependendo da peculiaridade de cada estado, podem haver costumes, jurisprudncia, etc., como parte da CF.!

    Boa parte dos pases democrticos hoje possuem constituies escritas.!!c) Quanto extenso!

    a) sintticas/concisa/breve - EUA. menor nmero de dispositivos, via de regra preocupam-se apenas em limitar e legitimar a atuao do estado, no tratam de polticas pblicas, no estabelecem metas. renem normas essencialmente constitucionais, nada alm disso.!

    b) analtica/complexa/prolixa - Brasil. possuem muitas normas de contedo programtico, o que acaba por afetar a produo de efeitos jurdicos. a ndia tem uma constituio extremamente prolixa, com mais de 400 artigos. !!

    d) Quanto ao contedo!a) material - s reconhece como CF aquilo que apresenta temas essencialmente

    constitucionais. a viso de Schmitt sobre a constituio est relacionado a esse aspecto. boa parte da doutrina diz que a nica constituio de 1824 no brasil era desse tipo. porque ela trazia a possibilidade de mudana da CF de forma mais rigorosa naquilo que tratasse de deciso poltica fundamental. so normalmente no escritas.!

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  • Marcela Mattiuzzob) formal - via de regra, na histria brasileira, esse o tipo adotado. reconhecem como

    constituio tudo aquilo que se encontra numa codificao independentemente do contedo das suas normas. o colgio Pedro II no menos constitucional que o direito vida, portanto. normalmente so escritas. !!

    e) Quanto ao modo de elaborao!a) dogmticas/sistemticas - normalmente escrita. aquela que representa os dogmas

    existentes no estado no momento de sua elaborao. todas as brasileiras so dogmticas. diz-se que essas constituies so menos estveis, pois respiram a atualidade do momento.!

    b) histricas - normalmente no escrita. mais estveis, atemporais, que traduzem a vida, a histria e os valores do povo sem compromisso especfico com determinado momento. a Constituio inglesa um bom exemplo.!!

    f) Quanto alterabilidade/estabilidade!a) Flexvel - processo legislativo parecido com o que existe para as demais normas

    jurdicas.!b) Semirrgida - 1824, art. 178 apresenta modelo hbrido de alterao: aquilo que versasse

    sobre assunto essencialmente constitucional s poderia ser modificado por emenda, espcie normativa de elaborao mais rigorosa. aquilo que no representasse essa deciso poltica, no apresentaria essa rigidez.!

    c) Fixa - s pode ser alterada por uma nova manifestao do poder constituinte originrio, aquele mesmo que a criou. hoje, no h nenhum exemplo desse tipo.!

    d) Rgida - aquelas que s podem ser modificadas por procedimento legislativo mais solene e rigoroso do que o existente para elaborao das demais normas legislativas. no se confunde com uma condio estvel. a CF 88 sofreu muitas alteraes at o momento, portanto, apesar de rgida, no considerada estvel. o art. 60 da CF o que fala da EC, nica espcie normativa capaz de promover alteraes formais no corpo da CF. a rigidez traz consequncias, entre elas a hierarquia das normas.!

    e) Imutvel - alguns autores falam nesse tipo de texto. anti-direito, pois nasce para viver uma vida muito curta. constituies precisam do oxignio de alterao.!

    f) de um tempo para c, alguns autores falam na CF superrgida. A CF 88 seria desse tipo, por conta das clusulas ptreas. algumas provas tm adotado esse entendimento. a posio minoritria, no entanto.!

    exceo da 1824, todas as demais a partir de 1891 passaram a adotar a rigidez constitucional. !!g) Quanto finalidade!

    a) dirigentes/programticas - via de regra analticas. trazem no seu bojo muitas normas programticas. estabelecem metas, diretrizes, programas para o estado, repletas de normas sociais, em que os direitos de segunda gerao se apresentam de maneira muito forte. a dificuldade para realizao das normas irrelevante para a classificao. !

    b) garantias/negativas/liberais - via de regra sintticas. so aquelas que no se preocupam com as finalidades sociais, elas destinam esses programas para os poderes constitudos, mas a administrao e os governantes. sua preocupao em ligitimar e limitar a atuao do estado. o caso da constituio dos EUA.!!

    h) Quanto ideologia!a) ortodoxas - s admite uma posio, um tipo de pensamento. URSS, China. no trazem

    liberdades de manifestao de expresso.!b) eclticas - liberdades, pensamentos plurais. a CF brasileira assim. a base constitucional

    democrtica muito forte.!!i) Correspondncia ou no com a realidade/critrio ontolgico (Karl Loewenstein)!

    i) normativa - aquela que efetivamente conseguiu regular no texto constitucional a realidade do pas. existe identidade entre o que diz a CF e o que diz o estado, h integrao.!

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  • Marcela Mattiuzzoii) nominativa - foi feita para atender aos anseios da realidade, para regular as normas

    principais, para se fazer presente naquele estado, mas que ainda no conseguiu atender s suas consequncias, s suas necessidades principais, no saiu do plano ideal, no se tornou real.!

    iii) semntica - no foi feita com compromisso com a realidade do testado, seu objetivo no conseguir realizar o texto para a sociedade. ela feita apenas para reforar o poder daquele governante que j o possui.!!

    Alguns autores sustentam que a nossa CF normativa. outros dizem que ela seria nominativa. a professora entende que a CF seria normativa em relao aos direitos fundamentais de primeira gerao e nominativa em relao aos de segunda gerao, mas o tema controvertido.!!A CF 1988 :!a) promulgada!b) escrita!c) analtica!d) dogmtica!e) formal!f) rgida (superrgida)!g) ecltica!h) dirigente!i) nominal ou normativa!!Elementos da Constituio!Lensa traz essa categoria de diviso dos elementos, mas a tese inicial sobre o tema de Jos Afonso.!!a) orgnicos - formados por normas que representam a estrutura do estado, aquelas iniciais que

    caracterizam o pas, relativas a forma de estado, de governo, separao de poderes. ttulos III e IV da CF.!

    b) limitativos - restringem a atuao do estado, fundamentam o prprio estado democrtico de direito. ttulo II CF, menos o captulo II.!

    c) socio-ideolgicos - prestaes positivas por parte do estado, compostos por normas repletas de justia social, defesa do hipossuficiente, representam o estado de bem estar social, direito de segunda gerao. captulo II do ttulo II, ttulos VII e VIII.!

    d) estabilizao constitucional - formados por normas destinadas a soluo de eventuais conflitos constitucionais, das instituies democrticas, ao direta de inconstitucionalidade, estado de defesa, de stio. !

    e) aplicabilidade formal - estabelecem a aplicao da constituio. alguns autores, dentre eles Jos Afonso, trazem como exemplo o prembulo, que no possui fora normativa. ADCT (eficcia exaurvel com o tempo).!!

    Eficcia e aplicabilidade de normas constitucionais!Viso tripartida de Jos Afonso da Silva.!!Cooley - 1927 - viso bipartida clssica dos EUA: (i) self-executing (normas que se bastam e no precisam de atuao futura por parte do poder pblico para produzir sues efeitos jurdicos) e (ii) not self-executing (dependem de atuao futura por parte do poder pblico para produzir seus efeitos principais). As normas de direito de primeira gerao so consideradas self-executing, enquanto que as de direitos de segunda gerao seriam not self-executing. Essa teoria influencia a teoria italiana e a brasileira.!!Pontes de Miranda - bastantes em si e no bastantes em si.!

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  • Marcela MattiuzzoCrizafulli e Azzariti - trabalharam com essas ideias, sustentando a ideia de que existiriam normas auto-aplicveis e no auto-aplicveis.!!Jos Afonso! plenas - incidncia direta, imediata e integral. no podem sofrer restries por parte do poder

    pblico. artigos 1, 2, 5, III.! contidas - tambm tem incidncia direta e imediata, mas no integral. no plano

    infraconstitucional, a norma plena pode sofrer restrio por parte do poder pblico. esse condicionamento, seja administrativo ou legislativo, encontra previso no prprio texto da CF. exemplo claro: exerccio profissional. artigos 5, XIII, XV, art. 93, IX!

    limitadas - no auto-aplicvel, indireta, mediata, no integral. para produzir efeito jurdico mximo, depende de atuao do poder pblico. podem ser (a) de princpio institutivo (organizatrias) - criam rgos, funes, institutos, que devem ser regulamentados por atos do poder pblico, como o art. 93, caput da CF, ou (b) de princpio programtico - via de regra se associam a direito sociais a serem regulados pelo poder pblico, enfrentam a forte base social. artigos 196, 205 CF. alguns autores dizem que a norma programtica teria eficcia negativa ou mnima, pois todas as normas constitucionais produzem pelo menos trs efeitos jurdicos. todas servem como parmetro do controle de constitucionalidade, base de recepo ou no de direito anterior e como fonte de interpretao da constituio. !!

    Produzem efeitos jurdicos essenciais, no dependem da atuao do poder pblico para produzirem seus efeitos principais. So, em outras palavras, auto-aplicveis. !!Omisso inconstitucional - quando a CF diz que um direito vai ser exercido de acordo com a lei e essa lei no feita, cabe mandado de injuno. possvel se impetrar um MI para defender efetividade de direito contido na norma contida? no, porque a tutela do mandado do injuno e da ADO no a norma contida, mas sim a limitada. a norma contida no gera omisso inconstitucional porque o condicionamento faculdade e no uma obrigao legal. o foco de MI e ADO norma limitada ou reduzida.!Elas no precisam ter a sua normatividade defendida, o comprometimento da constituio com relao s normas limitadas. art. 37, VII - a CF faz promessas sobre greve de servidor pblico. MI e ADO querem salvar o constitucionalismo brasileira da sndrome de inefetividade das normas constitucionais, mas no de tornar efetivas normas programticas.!!Teoria do Poder Constituinte!!Bonavides - na verdade no podemos confundir a teoria do poder constituinte com o poder constituinte em si. Isso porque o poder constituinte, a energia de um estado, o comando de decises, sempre existiu, antes da teoria nascida no sc. XVIII. O poder por muito tempo esteve nas mos de um s, o rei, portanto no podemos dizer que a base poltica de um estado nasceu no sc. XVIII, ele sempre esteve presente. Mas a teoria surgiu apenas depois, se concentra no nascimento e na criao e nas alteraes de uma constituio. Nossa aula estudar a teoria do poder constituinte.!!Frana - sc. XVIII - sociedade estratificada, dividida em trs estados (clero, nobreza e burguesia/proletariado/desempregados). Em termos de nmero, a grande concentrao era no ltimo estado, mas o primeiro e o segundo eram os que comandavam a vida francesa no sc. XVIII. O grupo, portanto, no tinha legitimidade para atuar. Em 1788, o abade de Sieyes, O que o terceiro estado? - perguntava grande massa o que significava o terceiro estado, que fora poltica ele possua. As respostas eram sempre negativas, mas o manifesto foi um documento importante para a transferncia de base do poder poltico. A legitimidade comea a ser fundada numa constituio. A teoria do poder constituinte serve para essa transferncia, o poder passa a ser da maioria, consubstanciada na CF. Essa a teoria legitimadora da Constituio: o poder precisa revelar toda a vontade da nao.!!

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  • Marcela MattiuzzoA teoria do poder constituinte portanto busca a legitimidade do poder poltico.!!Qual o conceito que o poder constituinte recebe hoje? o poder responsvel pela criao de uma nova constituio, por suas futuras alteraes, e, nos estados federativos, pela auto-organizao dos estados-membros.!!Constituio sem mecanismo de reforma j nasce morta, da porque preciso legitimar as alteraes que a Constituio receber ao longo dos anos. como se tivssemos uma fora inicial, que motiva a criao da constituio, e da se originam outras manifestaes de poder. Da extrai-se o poder constituinte originrio ou de 1 grau - responsvel pela primeira parte do conceito (criar a Constituio) e poder constituinte derivado ou de 2 grau, com suas manifestaes (i) reformas constitucionais (Reformador - art. 60 - ECs e Emenda de Reviso) e (ii) estados federativos (Decorrente, art. 11 ADCT - Poder Institucionalizador dos estados, no que tange criao de constituio estadual e reforma da constituio estadual).!O poder constituinte derivado decorrente no existe em estados unitrios. !!Natureza jurdica do poder constituinte originrio - so duas as vises: (a) seria um poder de fato, na viso dos positivistas, que entendem que o poder constituinte se embasa no seu prprio processo de elaborao, est desapegado de valores superiores, poder de fato, que se respalda no seu prprio processo de elaborao. Valores como tica e moral no fundamentam esse poder, ou (b) seria um poder de direito, na viso dos jusnaturalistas, entre eles Sieyes, entendem que no se trata de um poder de fato, porque h valores superiores prpria existncia humana os quais o poder constituinte no poder se afastar. O princpio da vedao ao retrocesso, por exemplo, entende que no pode haver nova constituio que implique em retrocesso. So os valores superiores, associados igualdade, dignidade, etc., so o que embasam essa viso.!!Em termos jurdicos, a nova constituio no est limitada a nenhuma ordem anterior. Mas h limites meta-jurdicos.!!Ainda sobre poder constituinte, a quem pertence o poder e quem o exerce? Como isso se encontra na CF 88?!Art. 1, pargrafo nico: todo poder emana do povo, que o exercer diretamente ou por meio de representantes eleitos. O poder aqui est regido pela soberania popular, se instrumentaliza pelo povo.!O titular do poder poltico, da fora de deciso, o povo. Agora, o exercente desse poder pode ser tanto o prprio povo (ao popular, participao em referendos e plebiscitos) quanto seus representantes eleitos (exerccio indireto).!!A ltima vez que o poder constituinte originrio se manifestou no Brasil foi em 88. O poder derivado, por sua vez, o que se manifesta com a criao das ECs e tambm j se manifestou com as emendas de reviso, ou ainda na institucionalizao dos estados via Constituies estaduais.!!Caractersticas do PCO e PCD! claro que as caractersticas so antagnicas. Enquanto um possui liberdade jurdica, o outro subordinado e concidicionado. O PCO possui caracterstica de liberdade, o PCD, de limitaes.!!As principais caractersticas do PCO:a) inicial!b) incondicionado!c) ilimitado, tanto jurdica quanto metajurdicamente!!Por qu? !

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  • Marcela Mattiuzzo inicial porque sua obra a constituio. o PCO que cria o novo ordenamento jurdico, a constituio representa essa nova base jurdica. Todas as normas criadas posteriormente precisam estar de acordo com esse documento inicial.!! incondicionado porque, em relao forma, no h forma pr-fixada para sua manifestao. Por exemplo, a convocao da assembleia constituinte dotada de poderes originrios foi feita por meio de EC no caso da CF 88. A manifestao de um novo poder no segue forma previamente determinada, ento nesses termos ele um poder incondicionado. Pode ser um golpe, uma revoluo, uma convocao.!! ilimitado pois em termos jurdicos diz-se que o poder no tem qualquer limite material. No h compromissos jurdicos com o que existia no texto da constituio anterior. Disso no decorre uma ilimitao total, h a limitao metajurdica, aquelas contidas no direito natural (viso jusnaturalista). !!Gilmar Mendes - caracterstica oficiosa do PCO, mas que merece considerao. O PCO no seria um poder temporrio, no desaparece com a criao da nova constituio, ele ficaria presente fundamentando a constituio enquanto vida tivesse. O PCO no se esgotaria, portanto, serviria como fundamento para a criao e base de manuteno dessa constituio enquanto vida tivesse.!!PCD tem outras caractersticas, :!a) subordinado!b) limitado!c) condicionado!!Isso ocorre porque ele est hierarquicamente abaixo do PCO. Retira fundamento jurdico de validade da constituio. Subordina-se portanto a ela. As ECs podem ser declaradas inconstitucionais, portanto, assim como as constituies estaduais e suas emendas.!H limitao porque o contedo previsto na constituio o que o impede de ir alm (clusulas ptreas). um poder condicionado em termos formais: as ECs precisam de dois turnos de votao, 3/5 dos votos dos membros de cada casa.!!Poder constituinte difuso - Burdeau: essa expresso sinnima de mutao constitucional. a reforma informal da constituio. !!Poder constituinte supranacional: at 1945, se falava que o indivduo era protegido apenas nacionalmente, era sujeito de direito do prprio estado. O conceito de soberania era compreendido como soberania absoluta. Esse o cenrio pr-2 Guerra. Com a guerra, o que muda que o sujeito passa a ser titular de um direito que no se resume apenas ao estado em que ele vive ou em que ele nacional, ele titular de poder internacional, sujeito de direito internacional. A soberania passa a ser concebida em termos relativos. A independncia do estado perante as comunidades internacionais s mantida enquanto ele defende os direitos de seus cidados. Esse poder supranacional incentivado, portanto, por esse momento do ps-guerra, com a criao da ONU e o fortalecimento das comunidades internacionais.!Tem como fundamento a dignidade da pessoa humana. No que tange parte histrica uma expresso que se comea a defender a partir do ps-guerra.!!Leis orgnicas dos municpios e do DF!Falamos sobre federalismo associado criao de estados membros. O federalismo brasileiro, no entanto, peculiar, pois alm dos estados, possumos os municpios e o DF, que so autnomos. O art. 29 CF fala da LO do municpio e o art. 32 CF fala na lei orgnica do DF. Lei orgnica manifestao de poder constituinte derivado decorrente? Na doutrina, vamos encontrar muitas controvrsias. Alguns autores falam que h poder constituinte derivado decorrente no DF, porque essa lei parecida com uma lei estadual, e tambm no municpio, pois ele ente federativo. A pergunta tem sido segundo a previso da prpria constituio e, segundo a literalidade da lei, no h poder constituinte derivado decorrente para nenhuma das duas leis orgnicas. Qual seria a

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  • Marcela Mattiuzzonatureza jurdica das leis? A de ato normativo primrio. So leis, normas primrias, mas no so mais que isso.!!O poder reformador!At agora j vimos que se trata de espcie de PCD. poder que enfrenta limites, subordinao, condicionamento. o poder de alterar formalmente a Constituio, portanto precisamos nos lembrar do art. 60 CF. Hoje, esse ncleo se manifesta apenas pelas ECs elaboradas de acordo com a prpria constituio. J se manifestaram tambm pelas emendas de reviso com base no art. 3 do ADCT.!Antes de falarmos nas limitaes do art. 60, falaremos sobre as emendas de reviso. O art. 2 do ADCT marcou um plebiscito par ao ano de 93 para que o povo se manifestasse sobre a forma e sobre o sistema de governo. O art. 3 disse que, decorridos 5 anos de promulgao da CF, seria realizada reviso constitucional aprovada pela maioria absoluta em sesso unicameral. Esses dois artigos do ADCT demonstram o racha da constituinte. Acordou-se que a CF seria promulgada de acordo com o presidencialismo, mas que haveria plebiscito depois de 5 anos, abrindo possibiilidade de mudana para o parlamentarismo. Se essa tivesse sido a deciso popular, seriam necessrias grandes alteraes, que no poderiam ter sido feitas pela EC, seria preciso reviso constitucional. No entanto, como o plebiscito foi pelo presidencialismo, no ano seguinte, em 1994, o Congresso nacional abriu a reviso constitucional. Foi proposta ADI 981, tendo o STF decidido que o art. 3 do ADCT tem normatividade prpria. Independentemente do resultado do plebiscito, a reviso poderia ocorrer. Como se trata de espcie de poder reformador, ela tambm teria de respeitar os limites do art. 60 da CF. Portanto ER alguma poderia abolir clusula ptrea. O STF estabeleceu que a reviso poderia ocorrer, mas naquele momento no havia o que alterar, pois a constituio era muito jovem. O STF decidiu tambm que novas revises no poderiam ser feitas. !!ER uma espcie do poder reformar, que, segundo o STF, foi elaborada seguindo os limites do art. 60. No h mais permisso para criao de emenda de reviso. Isso porque a ER aprovada de maneira muito mais simples que a EC, o que fragiliza a rigidez da CF. Uma diferena importante entre ER e EC que ER permite anlise completa do texto da CF, enquanto a EC pontual e temtica, no pode atuar o texto de forma ampla.!!Limitaes ao poder reformador!De acordo com a doutrina, h quatro categorias:!!a) temporal - estariam relacionadas a prazos em que no se permite a alterao da constituio.

    Doutrina majoritria sustenta que a nica Constituio que tinha essa limitao era a imperial de 1824 (art. 174 dizia que, durante 4 anos, no poderia existir reforma da Constituio). No h redao desse tipo no art. 60 da CF atual. No entanto, h uma deciso do STF (Toffoli), RE 587008, do ano de 2011, em que se diz que o poder constituinte derivado no ilimitado, tendo limites materiais, circunstanciais e temporais do art. 60. O 5 diz que a PEC rejeitada no pode ser apresentada na mesma sesso legislativa em que foi apresentada. A doutrina majoritria sustenta a tese de que esse seria um limite formal, mas o STF falou em limite temporal.!!

    b) circunstancial - art. 60, 1 CF. O texto diz que a CF no poder ser emendada no caso de estado de defesa, estado de stio e no caso de interveno federal. So todos mecanismos de defesa do estado brasileiro, quando ele no est vivenciando sua normalidade, so situaes de crise. Da a constituio se auto-proteger. Qual o ato do processo de elaborao da EC que no pode ocorrer? A emenda no pode ser promulgada. possvel apresentar a PEC? Os atos principais de elaborao de emenda so: (i) iniciativa, (ii) discusso (iii) votao, (iv) promulgao e (v) publicao. Como o texto constitucional diz que a PEC no pode ser promulgada apenas, temos que podem ocorrer as duas primeiras fases do procedimento, mas

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  • Marcela Mattiuzzono as trs ltimas. A votao no permitida porque no h ato especfico do processo legislativo ps-votao, a promulgao mera formalidade.!!

    c) formal - diz respeito ao processo legislativo, ao procedimento para elaborao da EC. O ato da INICIATIVA (art. 60, I, II e III CF) tem rol taxativo de legitimados ativos que podem apresentar a PEC. No existe iniciativa popular para apresentao da PEC. O povo est aqui manifestado pelos seus representantes. Qualquer tipo de composio entre os legitimados permitida (iniciativa concorrente permitida). Inclui-se aqui, por fora do 32, 3 CF, os deputados distritais e cmera do DF, pois h aplicao do art. 27, que o que trata da assembleia legislativa. Depois da iniciativa, temos o trmite nas casas do Congresso Nacional. No h deliberao conjunta de Cmara e Senado. As casas aprovam a PEC separadamente. Art. 60, 2 fala que a pEC passa por dois turnos de votao em cada casa do Congresso Nacional, e ser aprovada se obtiver em ambos os turnos 3/5 dos votos. A votao feita em dois turnos em uma das casas, depois dois turnos na outra. A PEC segue ento para promulgao, aps aprovada na votao. no processo legislativo ordinrio, o projeto de lei segue para sano ou veto do presidente. Isso no ocorre no processo de elaborao de emenda, ele s tem a possibilidade de oferecer a PEC, mas no a recebe para sano ou veto. Se ele no concordar com a emenda, ele pode apresentar ADIn, mas art. 60, 3 nos leva a concluir que no h sano presidencial. Portanto aprovadas, elas so diretamente PROMULGADAS pelas duas mesas do Congresso Nacional. A promulgao o ato que certifica formalmente a existncia da norma e confirma que ela foi elaborada de maneira vlida. O STF entende que, a partir da promulgao, seja possvel j questionar em juzo a EC ou as leis complementares e ordinrias. Para fins de controle repressivo, para ajuizar ADI, a partir de promulgao e no de publicao, que a EC pode ser atacada. ADI 3367 - associao nacional dos magistrados do Brasil ingressou com ao direta em face da EC 45 antes da sua publicao.a ltima limitao formal seria a do art. 60, 5 (sentido contrrio da manifestao do Toffoli). PEC rejeitada no pode ser reapresentada na mesma sesso. PEC rejeitada sofreu vcio de forma. PEC prejudicada vcio de objeto, de matria. Se duas propostas tramitam com o mesmo objeto, uma prejudica a outra. Mas PEC rejeitada no pode ser reapresentada numa mesma sesso, SEM exceo. Sesso legislativa o perodo anual de trabalho dos legisladores conforme art. 57 CF. Inicia-se em 2 de fevereiro, vai a 17 de julho, recomeo em 1 de agosto e a at 22 de dezembro. As sesses podem ser ordinrias ou extraordinrias. No podemos confundir sesso legislativa com legislatura, que o mandato de 4 anos.!!

    d) material - h limites expressos e implcitos. O MS 32033, julgado pelo STF. O controle judicial de constitucionalidade deve ser feito sob espcies normativas que j existem. Por isso ele dito repressivo, porque no se ataca em sede de ADI um PL, porque seria uma ofensa separao dos poderes fazer coisa distinta. Mas a jurisprudncia do STF passou a entender que a corte, caso provocada pelo parlamentar, poderia se manifestar sobre uma proposta de emenda ou PL no curso de sua elaborao, para garantir o direito lquido e certo do parlamentar de somente participar de processo legislativo condizente com a CF. No MS 32033, o STF disse que o controle preventivo de constitucionalidade excepcional, mas ser permitido por meio de MS impetrado exclusivamente por parlamentar, que pretende defender direito lquido e certo de participar somente de processo condizente com a CF. a PEC pode ser questionada sob o ngulo formal e material (caso viole clusula ptrea, por conta do art. 60, 4 CF) e os PLs somente sob o ngulo formal.Apesar de o termo ser ptrea, a clusula no significa imutabilidade. Na verdade elas impedem que a reforma legislativa seja tendente a abolir, ou seja, viole o ncleo essencial. Nada impede que uma PEC altere alguma questo associada federao, desde que para agregar valor. EC 45 acrescentou mais uma garantia fundamental, o art. 5, LXXVIII, mas essa alterao foi no sentido de retificar o contedo.!

    Segundo a orientao do STF, o art. 60, 1-5 de observncia obrigatrio no mbito estadual.

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  • Marcela MattiuzzoNo pode ter qurum mais elevado que 3/5 ou inferior. Emendas redacionais no precisam voltar para anlise da primeira casa.!!Clusulas Ptreas!As limitaes materiais expressas esto no art. 60, 4 da CF. Propostas de EC tendentes a abolir clusula ptrea no sero permitidas, ou seja, no podem eliminar ou restringi-los. Nada impede, no entanto, que ocorra ampliao da proteo. A EC 45 de 2004, por exemplo, inseriu ao art. 5 o inciso LXXVIII. Por isso no se trata de clusula de imutabilidade.!!Quais os principais aspectos de cada uma das clusulas ptreas?!Inciso I - forma federativa de Estado - isso significa dizer que todas as grandes caractersticas que dizem respeito federao esto respeitadas. No h federao sem autonomia dos entes que a compe (art. 18), portanto trplice capacidade de autogoverno, auto-organizao e auto-administrao. H impossibilidade de secesso. Vnculo entre os entes no pode se romper. Se uma EC resolver incluir esse direito na Constituio, ela ser declarada inconstitucional. No existe federao sem um sistema de repartio de competncias. Mas qualquer mudana na repartio de competncias inconstitucional? No, a EC 69 alterou: a DPDF estaria na mo do prprio DF, no mais nas mos da Unio. Essa alterao foi permitida. Por conta da ADI 939, tambm entende-se que o princpio da imunidade tributria recproca faz parte da proteo federativa, sendo portanto parte do ncleo da clusula ptrea. A Ec 45 criou o CNJ e logo depois disso a Associao dos Magistrados criticou essa mudana. Uma das alegaes foi de que o CNJ rgo federal e dessa forma no pode fisclaizar os rgos estaduais. O STF entendeu que o CNJ no federal, mas nacional, portanto pode sim fiscalizar rgo judicirios estaduais, no havendo violao federativa.!!Inciso II - o voto direto, secreto, universal e peridico - sufrgio e voto no so sinnimos. Sufrgio mais amplo, a essncia dos direitos polticos, o prprio direito poltico pblico subjetivo. Ele no se esgota no voto, no direito de votar ou no de ser votado. Referendos, plebiscitos, aes populares, so outras manifestaes do sufrgio. Portanto apenas uma parte do sufrgio protegida por clusula ptrea.O art. 55, 2 CF previa a pouco tempo o processo de cassao dos membros das casas legislativas precedido de voto secreto, at que a EC 76/2013 alterou esse artigo, acabando com o voto secreto no processo de cassao. Seria essa alterao inconstitucional? Ofenderia clusula ptrea? No! Esse voto que foi modificado o dos representantes em atividade administrativa e no essa a natureza do voto protegida, o voto do eleitor, como manifestao poltica que protegido.A obrigatoriedade de comparecimento formal s urnas clusula ptrea? Viola a clusula ptrea do inciso II a instituio de voto facultativo? No, de forma alguma. As caractersticas do voto que so preservadas como clusula ptrea seriam preservadas, portanto no haveria qualquer empecilho jurdico.!!Inciso III - separao dos poderes - todas as CFs de pases democrticas impe algum tipo de separao de poderes. A diviso funcional um dos corolrios do constitucionalismo moderno. O art. 2 da CF diz que os poderes so independentes e harmnicos entre si. A preservao completa, preserva-se a funo prpria e a funo imprpria. A CF tambm prev imunidades (no sentido amplo), para os ocupantes de cargos no legislativo, no executivo e no judicrio. Poderiam tais imunidades ser extintas? As imunidades s existem para preservar a liberdade funcional, portanto EC no pode abolir ou restringir de forma significativa as imunidades, porque isso violaria a separao de poderes.ADI 3367, que fala sobre a criao do CNJ, traz um argumento sobre a separao de poderes: ela violaria essa clusula ptrea. O STF disse que o CNJ no exerce atividade tpica jurisdicional, foi criado para reforar sistema de fiscalizao administrativa e financeira, com exceo do prprio STF, por fora da prpria Constituio. O STF tambm falou sobre a composio mista do CNJ: 9 do poder judicirio, 6 so advogados, cidados, etc. O quinto constitucional j permitiria essa

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  • Marcela Mattiuzzoconstituio da mesa, porque se fossem apenas membros do judicrio, o corporativismo prevaleceria de maneira mais fcil.!!Inciso IV - direitos e garantias individuais - no sentido literal, estamos falando em direitos de primeira gerao, que tratam de liberdades pblicas, civis e polticas. Tais direitos esto, em sua maioria, no art. 5. Mas o STF sempre entendeu que esse entendimento deveria ser ampliado, no sendo apenas os direitos do art. 5 protegidos. A ADI 939 consagrou que o princpio da anterioridade em matria tributria seria garantia do contribuinte. Ainda que partamos da ideia de que somente os direitos e garantias de primeira gerao estariam preservados, essa proteo no seria limitada ao art. 5. Boa parte da doutrina entende que o inciso IV expresso da dignidade da pessoa humana, portanto no se limita a qualquer gerao de direitos, incluindo todos os direitos fundamentais. ADI 1946 tem essa tendncia garantista do STF: no julgamento, se pretendeu acabar com a licena maternidade. A corte afirmou que a licena seria clusula ptrea, apesar de ser um direito de segunda gerao.!!Alm das limitaes materiais expressas, temos as implcitas, segundo boa parte da doutrina (Z Afonso):!a) forma e sistema de governo (republicana, presidencialista) - no ano de 1993, fomos s urnas

    decidir se a forma e o sistema de governo seriam de fato os que a CF 88 havia estabelecido. No faria muito sentido que a partir dessa deciso popular legtima uma simples EC pudesse alterar o que a vontade do povo determinou.!

    b) titularidade do poder constituinte - ns somos, o povo, os titulares do PC. No possvel que uma EC transfira essa titularidade para as mos de outrem.!

    c) e o prprio art. 60 - o ncleo da rigidez constitucional, da proteo da CF, um elemento de estabilidade, portanto a doutrina entende que no possvel alter-lo com a finalidade de facilitar o processo de elaborao das ECs. O entendimento majoritrio no sentido de que tambm no se permite a dupla reviso no pas, ou seja, realizarmos com duas ECs o que no seria possvel fazer com uma s. Exemplo: PEC 1 retira o 4 do art. 60. PEC 2 viria instituir pena de morte. !!

    Mutao Constitucional!H o processo de alterao formal da Constituio, mas o processo legislativo brasileiro no est afinado com as mudanas rpidas da sociedade, portanto cada vez se torna mais presente a mudana informal da CF. Mutao tambm chamada de poder constituinte difuso (Burdeau), transio constitucional (Canotilho) e mudanas informais da constituio (Anna Cndida).!Fenmeno de mudana informal da CF. Ela, portanto, no altera a literalidade, mas o entendimento do texto, permitindo que a Constituio esteja sempre associada com a relaidade do pas. um fenmeno exclusivo do judicrio? No, de modo algum. Anna Cndida inclusive diz que a mutao pode ser realizada pela administrao, pelo legislativo, pelos prprios cidados. Mas o Barroso complementa dizendo que o STF est numa posio privilegiada para realizar a mutao, pois ele senhor da Constituio.!!A mutao mais bem compreendida em pases de constituio flexvel, mas no h bice a que constituio rgidas adotem esse mecanismo. Muitas vezes a mutao indispensvel quando h lacuna no dispositivo, quando preciso concretiz-lo.!!Exemplos importante de mutao:! Cancelamento da smula 394 STF, reinterpretando art. 53, 1 da CF. Ela determinava

    prorrogao de competncia para julgamento de ex-parlamentares. Demorou mais de 30 anos para que a smula fosse cancelada, o que s ocorreu em 99. Agora o entendimento o da regra da atualidade do mandato: prerrogativa s existe quando o mandato est em curso.!

    Fidelidade partidria - MS 26603, ADI 3999 - a CF diz no art. 14, 3 que os aspirantes devem estar filiados a partidos polticos, mas no diz nada sobre a necessidade de fidelidade para manuteno do cargo. Em razo dessa abertura, muitos fizeram dos partidos verdadeiros trampolins, trocando de partido aps a eleio, o que contribuiu para o enfraquecimento da

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  • Marcela Mattiuzzodemocracia. O STF entendeu que devemos reinterpretar a CF no sentido de que a fidelidade necessria. !

    SV 25 (alterando art. 5, LXVII) - so duas as modalidades de priso civil por dvida: devedor de alimentos e depositrio infiel. O STF releu esse artigo e editou a SV 25 dizendo que a priso civil s existe no caso de alimentos. Alguns autores entendem que isso se trata de afronta ao texto constitucional, seria um excesso da SV. Para outros, tratou-se de mutao garantista, por ser melhor para o indivduo.!

    ADI 4277 - sentido do art. 226, 3 CF - contempla apenas a unio estvel entre homem e mulher. o STF entendeu, no entanto, que o entendimento deveria ser expandido para abarcar unio homoafetiva.!!

    Hermenutica Constitucional!Interpretar a CF seria mais ou menos a mesma tarefa de se interpretar os rgos do corpo humano. Jos Afonso diz que se trata de dialogar com o poder constituinte no de ontem, mas de hoje, o fundamento da nossa constituio.!!Lei Seca - inconstitucional? No seria inconstitucional por forar a produo de prova contra si mesmo?!Lei de Cotas - em nome da igualdade, seria constitucional ou inconstitucional? !!A hermenutica a cincia que pretende, por meio dos mtodos e princpios da interpretao, extrair dos smbolos a sua interpretao mais prxima real, que mais o aproxime do sentido real. uma cincia que se realiza por meio dos princpios e tcnicas de interpretao constitucional.!!A hermenutica no comea no sc. XX ou XXI. H quem defenda que Savigny j falava no assunto, inclusive com mtodos prprios. Barroso no aceita a expresso mtodo, porque entende que no h um fim a ser atingido por meio da hermenutica, ela sempre um meio. Mas mtodos so termos utilizados com frequncias. So eles:!a) gramatical - o ponto de partida da tarefa do intrprete sempre a leitura do smbolo (da lei, n

    nosso caso). O que muda do sc. XIX para o sc. XXI? Antigamente, esse mtodo era o ponto de partida e de chegada da tarefa do intrprete. No se discutia nada mais. Hoje o mesmo dispositivo legal pode dar ensejo a muitas interpretaes. !

    b) histrico - Barroso sustenta que a interpretao histrica importante nas constituies jovens, porque faz com que seja mais fcil compreender os institutos nela presentes. Exemplos: habeas data - ditadura, mandado de injuno - inefetividade das constituies. Mas o que desejamos hoje no a ocasio legis, a ratio legis, o fundamento racional que mantm a constituio viva hoje mais importante que a ocasio, o ontem. Por isso alguns autores defendem a interpretao histrico-evolutiva, porque a constituio est sempre em processo de evoluo.!

    c) sistemtico - necessidade de interpretar a Constituio como um sistema, como um todo.!d) teleolgico - defesa de que o direito no fim em si mesmo. Os meios so essenciais para se

    atingir as finalidades pretendidas. A constituio possui uma essncia, o intrprete tem que busc-la, conectar o texto a essa base.!!

    At o final da segunda guerra mundial, a teoria dominante era a positivista, que entendia que a norma era a regra. A regra uma norma concreta, descritiva, objetiva, aplicada mediante subsuno. Para os positivistas, que adotavam uma concepo dbil em relao aos princpios, estes no tinham estrutura prpria. Mas a segunda guerra trouxe tanta barbrie, que no processo de reestruturao, as constituies comearam a se aproximar cada vez mais dos princpios, que passam a tomar conta do direito internacional e do constitucionalismo.!Na dcada de 1960, Dworkin escreve Taking Rights Seriously, fazendo crticas ao positivismo, falando que os princpios assumiram posio relevante, tendo estrutura prpria. Representam a ideologia do constitucionalismo ps-guerra.!!

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  • Marcela MattiuzzoQual o princpio mor atualmente da hermenutica constitucional? O da supremacia da constituio. No se admitem interpretaes desafinadas com a CF.!a) princpio da unidade constitucional - a CF formada por um sistema harmnico de normas

    princpios e normas regras que no colidem entre si. uma viso de equilbrio: compete ao intrprete analisar os princpios da CF de forma que no haja antinomia.!

    b) concordncia prtica ou da harmonizao - A concordncia prtica evita que numa situao de direitos que concorrem entre si o intrprete esvazie o ncleo de um desses direitos, cabendo a ele otimizar a situao. Ela realiza o princpio da unidade, portanto.!

    c) como se o princpio da unidade fosse mais esttico, enquanto a concordncia prtica mais dinmica. O princpio do efeito integrador (tambm chamada eficcia integradora), refora a importncia da integrao poltica e social. Trata-se de uma interpretao que d frutos, que sirva para mudana social. Nem sempre possvel empreender esse princpio.!

    d) Princpio da justeza ou da conformidade funcional - serve como limite atividade do intrprete, evita que sob o argumento de que se realiza interpretao, coloque-se em risco o esquema institucional previsto no texto. O prprio texto d limites, no possvel colocar em risco princpios de organizao importantssimos.!

    e) princpio da mxima efetividade -cabe ao intrprete retirar o mximo de efeitos jurdicos que a norma da constituio est apta a produzir. No interessa se a norma de eficcia limitada, contida ou programtica, porque nenhuma norma da CF desprovida de efeitos jurdicos.!

    f) presuno de constitucionalidade das leis - todas as normas da CF so constitucionais e fim, s normas includas por EC que podem ser controladas. J as normas infraconstitucionais tm presuno relativa de constitucionalidade, pois podem ser declaradas em contrrio.!

    g) interpretao conforme constituio - uma tcnica de deciso adotada pelo STF no controle de constitucionalidade. Cabe ao intrprete escolher a interpretao que faz sentido com o restante da Constituio e com outras leis, e no um outro possvel entendimento.!

    h) razoabilidade e proporcionalidade - princpios no positivados. A razoabilidade tem origem no direito norte-americano, em Raz, fruto do devido processo legal substantivo. Porporcionalidade tem origem no direito alemo ps-2 Guerra. Razoabilidade harmonia entre meios e fins, adequao. A proporcionalidade dividida em sub-princpios. A racionalidade, a medida adequada, a ideia de bom senso, a vedao aos arbtrios, o ideal de justia, so valores comuns protegidos por ambos os princpios. Art. 5, LIV da CF seria uma possvel fonte de ambos os princpios, apesar de no o fazer de maniera clara.!a) adequao, necessidade e proporcionalidade em sentido estrito - Alexy.!!

    Sociedade Aberta dos Intrpretes da Constituio - Hberle!Os trs pilares dessa obra so: (a) ampliao do crculo de intrpretes da Constituio, (b) necessidade de que o processo interpretativo seja pblico - amicus curiae e audincia pblica e (c) conexo da CF com a realidade - mutao constitucional.!!Mtodos da nova hermenutica constitucional!a) Mtodo tpico-problemtico - Theodor Vehweg - analise a partir do fato apresentado,

    aplicao da norma se d apenas num segundo momento. A anlise se inicia pelo conflito, portanto. !

    b) Mtodo hermenutico concretizador - Gadamer e Hesse - a anlise da norma anterior anlise do fato. Vai-se ao conflito apenas num segundo momento. Antagnico ao mtodo anterior, portanto.!

    c) Mtodo cientfico-espiritual - Rudolfsmend - interpretao aberta e precisa estar associada s demandas culturas e polticas. O intrprete precisa estar aberto a essas influncias.!

    d) Mtodo normativo-estruturante - Fredrich Miller - no h identidade entre lei e a norma que dela se origina. A cada conflito h a elaborao de uma nova norma.!

    e) Mtodo da comparao constitucional - Peter Hberle - tudo contribui para uma interpretao de qualidade.!!

    Controle de Constitucionalidade!Seu propsito defender a supremacia constitucional. !

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  • Marcela Mattiuzzo!1. Princpios que norteiam o controle!

    1. Supremacia da CF - (princpio mor do controle) pode ser analisada sob o ngulo material e sob o ngulo formal. Todas as constituies gozam dessa caracterstica, sejam rgidas ou flexveis, pelo menos em relao ao ngulo material. No ngulo formal, essa caracterstica est intimamente associada rigidez e hierarquia. O controle ser existente num pas de constituio flexvel de forma mais fluida, no organizada, no concentrada.!

    2. Rigidez constitucional - a rigidez se preocupa com a posio superior formal da CF no ordenamento jurdico. As normas infraconstitucionais no podem modificar a Constituio, que s pode ser alterada por meio de EC. Essa rigidez ajuda a colocar a Constituio no topo hierrquico e por isso que faz sentido falar em controle de constitucionalidade.!

    3. Unidade do ordenamento jurdico - se a constituio singulariza a maneira de ser do estado, se dela que se retira fundamento de validade para as outras leis, no faz sentido que tenhamos leis contrrias constituio, pois haveria insegurana jurdica. As normas constitucionais originrias so as nicas que no podem ser declaradas inconstitucionais, elas gozam de presuno absoluta. Todas as demais podem ser controladas.!

    4. Presuno de constitucionalidade das leis - toda norma elaborada no pas, inclusive as emendas constitucionais, presumida constitucional. Nascem produzindo efeitos jurdicos, portanto. Essa presuno, porm, relativa. S as normas constitucionais originrias, nascidas em 1988, gozam de presuno absoluta de constitucionalidade.!

    5. Dignidade da pessoa humana - boa parte dos nossos direitos e garantias fundamentais est na constituio, que por sua vez foi construda com base na dignidade. Em ltima anlise, portanto, o objetivo do controle proteger o esprito da Constituio, que expresso pela dignidade da pessoa humana.!!

    Parmetro do Controle!a) Prembulo - na doutrina, sua natureza controvertida. Alguns autores dizem que ele teria

    normatividade, pois repleto de valores. O STF, no entanto, entende que no se trata de norma constitucional, ele fonte de interpretao que representa sentimento poltico e no jurdico.!

    b) Corpo fixo - parte dogmtica (250 artigos)!c) ADCT - normas de eficcia exaurvel com o tempo, vieram regular a passagem do

    ordenamento anterior para a nova CF. No h hierarquia entre normas do corpo fixo e as do ADCT, a no ser que as normas do ADCT j tenham exaurido seus efeitos jurdicos, pois, nesse caso, elas servem apenas como declarao histrica.!

    A referncia do controle, ou seja, as leis podem ser declaradas inconstitucionais a respeito do qu? Somente do Corpo Fixo e do ADCT. O prembulo no pode ser utilizado para esse fim (ADI 2076). !!Histrico!Direito Comparado!a) Marbury vs Madison 1803 - controle difuso. Art. 6 da Constituio dos EUA - todos os atos

    devem estar em harmonia com a constituio do pas e, se isso no acontecer, cabe ao julgador afastar essa constitucionalidade. John Adams, ento presidente, estava no ltimo dia do seu governo. Seu partido havia perdido muitos representantes, portanto ele resolveu nomear alguns juzes de paz para manter sua influncia. Entregou nomeao a John Marshall a nomeao de Marbury. Marshall no formalizou a nomeao naquele dia. Jefferson assumiu a presidncia e nomeou Madison como secretrio, pedindo que ele anulasse todas as nomeaes que no tivessem sido formalizadas. O caso chegou suprema corte. O art. 6 foi trazido e qualquer juiz passou a poder fazer o controle de constitucionalidade das leis.Aqui, qualquer juiz ou tribunal poder realizar o controle de constitucionalidade.!

    b) Constituio Austraca 1920 - controle concentrado. Modelo novo de fiscalizao. Kelsen foi convidado para ser o relator da constituio da ustria e resolveu organizar o sistema de controle de constitucionalidade. Mas trazer para um pas de civil law o controle difuso seria desprestigiar a lei, portanto ele optou por um modelo de fiscalizao quer permite apenas que

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  • Marcela Mattiuzzoum tribunal possa fiscalizar, a corte constitucional. O tribunal constitucional federal alemo adota o modelo, assim como a maioria dos demais pases europeus continentais.!!

    No Brasil!Enquanto nos EUA o controle difuso sempre foi o principal, o controle concentrado reina na Europa, o Brasil adotou um sistema misto. A Constituio de 1824 no tinha previso de controle de constitucionalidade. Na de 1891, o controle era difuso, inspirado no modelo estadunidense, afinal a constituio austraca ainda no existia. Em 1934, manteve-se o controle difuso, estabeleceu-se o papel do Senado federal a reserva de plenrio e institui a primeira ao do controle concentrado, a representao de inconstitucionalidade interventiva federal. Essa RI nunca foi uma grande ao do pas, mas vale em termos de registro histrico. Hoje, s pode ser proposta pelo PGR e mecanismo para viabilizar interveno federal. Em 1937, tivemos um retrocesso, a constituio polaca no cuidou do papel do Senado, tampouco da RI, manteve o princpio da reserva de plenrio e o controle difuso. Ela estabeleceu um artigo absurdo, 96, pargrafo nico, que falava que se o presidente no concordasse com a deciso de inconstitucionalidade, ele poderia levar a lei para deliberao do congresso e voltaria a produzir seus efeitos jurdicos.!Na Constituio de 1946, extinguiu-se o artigo 96, pargrafo nico, mantendo o controle difuso e recuperando as novidades de 1934. A EC 16/65 alterou a constituio de 46, implementando o controle concentrado federal por meio de RI genrica (a hoje ADI, que antes s podia ser proposta pelo PGR).!Em 67 e em 69, no houve mudanas em relao ao controle de constitucionalidade.!No processo de redemocratizao iniciado em 85, vieram novas mudanas. Em 1988 temos o controle difuso, o papel do Senado, o princpio da reserva de plenrio, a maioria das aes do controle concentrado (ADI, ADO, ADPF e RI interventiva federal). EC 3 foi que criou a ADC.!!Tipos de Inconstitucionalidade!Inconstitucional a norma que viola a Constituio. Mas viola como?!a) Formal/Nomodinmica - aquela observada no caso de um processo legislativo incoerente ou

    com violao de regra de competncia. Pode ser objetiva - diz respeito a vcio nos atos do processo legislativo, um vcio de procedimento (por exemplo, a regra que a LC aprovada com qurum de maioria absoluta e a LO, de maioria simples. Se esse qurum for desrespeitado, h inconstitucionalidade formal objetiva) - ou subjetiva - se opera quando h vcio de iniciativa (art. 61, 1 CF - matria privativa do presidente, vcio que no pode ser convalidado por meio de sano presidencial posterior) ou vcio de competncia (quando h violao matria reservada a um determinado ente - arts. 21 a 25, 30 CF).Vale lembrar que o vcio subjetivo o mais comum e o art. 61, 1 CF o mais violado. Esse artigo, inclusive, de reproduo obrigatria nas constituies estaduais, por fora da simetria. 1Segunda possvel sub-classificao de Barroso:!

    a) orgnica - quando o vcio for de competncia!b) propriamente dita - ato do processo legislativo!

    b) Material/Nomoesttica - preciso observar os princpios e regras previstos no texto constitucional, seu contedo. O contedo da CF de princpios e regras. Os princpios so as normas constitucionais mais abstratas, as regras, mais objetivas. O que devemos observar aqui se o contedo da nova norma compatvel com a das regras j institudas pela Constituio.!

    c) Total - recai sobre toda a norma.!

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    Dicas da Flvia: vcio formal sempre a primeira coisa a se verificar em qualquer questo falando de controle de 1constitucionalidade, porque muito recorrente em prova. Mas no podemos esquecer de analisar a materialidade, ainda que o vcio formal j exista, porque podem surgir questes em que o examinador deseja indicao de dupla inconstitucionalidade. Exemplo: estacionamento gratuito em shopping center institudo por lei estadual. O direito propriedade de competncia privativa da Unio (direito civil), portanto inconstitucional subjetivamente (art. 22, I CF). Alm disso, h uma restrio da livre iniciativa, portanto inconstitucionalidade material (art. 1, IV CF).

  • Marcela Mattiuzzod) Parcial - recai sobre parte da norma. Princpio da parcelaridade - a lei pode ser considerada

    inconstitucional em apenas uma palavra, se assim for entendido pelo tribunal ou pelo juiz. Vale ressaltar ainda que mesmo em caso de vcio formal possvel declarao de inconstitucionalidade parcial. Um exemplo seria PL oferecido pelo presidente da repblica tratando sobre matria de sua competncia e tambm sobre matria reservada a outra autoridade.!

    e) Originria - de nascimento, no seu nascedouro inconstitucional.!f) Superveniente - supervenincia de nova constituio. O STF no adota a tese da

    inconstitucionalidade superveniente, ela sempre ser originria, porque a lei tem compromissos formais e materiais com a constituio que existia quando da sua edio. Ela no se torna invlida a posteriori. O que possvel que a norma no seja recepcionada: quando a norma est em harmonia material com a nova constituio, ela recepcionada. Ela no analisa o aspecto formal da regra (tempus regem actum). A recepo , portanto, fenmeno material, nica e exclusivamente. Exemplo: CTN. No controle concentrado, o que analisa normas pr-constitucionais a ADPF e no a ADI!!

    g) Por ao (ato comissivo) - o ataque normalmente se d por meio de ADI. , sem dvida, o tipo mais comum de inconstitucionalidade questionada.!

    h) Por omisso (ato omissivo) - combatida por meio de ADO, quando a Constituio diz que a lei deve ser elaborada e o legislador fica inerte.!!

    Modalidades de Controle!a) Quanto ao momento:! Preventivo - quando recai sobre projeto de lei ou proposta de emenda. Esse controle

    normalmente poltico, pois quem participa do processo de formao da lei o legislativo e o executivo (art. 66, 1 CF). Exemplos so os pareceres das comisses de constituio e justia (CCJ - comisso mista de deputados e senadores que faz um parecer sobre a constitucionalidade da norma) e o veto formal ou jurdico do presidente, etc. H, no entanto, caso de controle preventivo judicial, que possvel por conta da provocao de parlamentares no curso do processo legislativo, em sede de MS . Os parlamentares alegam 2possuir o direito lquido e certo de participar de um processo constitucional. O STF, ao julgar o caso, entendeu que se o objeto de processo legislativo for uma PEC, ela poder ser analisada pela corte em relao a seu aspecto material ou formal. Mas em se tratando de PL, a anlise pode ser somente formal. Na doutrina, h opinies das mais distintas. Peculiaridades desse tipo de MS: se o parlamentar renunciar, perder cargo, sofrer impeachment, o MS extinto sem deciso de mrito, porque a legitimidade ativa reside nica e exclusivamente nele. Se o processo legislativo acabar antes do julgamento do MS, tambm haver extino. Se o PL ou a PEC se tornam lei ou EC, mas a o processo ser contra lei em tese via controle concentrado.Outra observao ainda: esse tipo de controle do MS concreto e no abstrato.!

    Repressivo - quando recai sobre a lei e a emenda constitucional. Esse controle normalmente judicial, seja difuso ou concentrado. Tambm h exemplos de controle repressivo poltico: ADI 221 em sede de MS - chefe do executivo pode tornar inaplicvel uma lei que considera inconstitucional ainda que por sua conta e risco, smula 347 (auto-tutela) - TCU. Art. 49, V CF - decreto-legislativo do congresso sustando os atos do presidente da repblica.A partir de que instante entende-se que falamos em repressivo? O STF j estabeleceu que a partir da promulgao, porque esse o ato que confirma a validade da norma. Parecer da comisso mista de deputados e senadores sobre MP um tipo de controle repressivo.!

    b) Quanto ao rgo:! Judicial!

    Concentrado - compete a apenas um rgo. Lembrando que existe possibilidade de controle concentrado estadual, feito pelos TJs. Mas no plano federal o controle feito somente pelo STF.!

    Difuso - feito por qualquer autoridade judiciria.! Poltico!

    19 Dica da Flvia: coloca estrelinha nisso porque a OAB adora perguntar.2

  • Marcela Mattiuzzo Via principal - o controle o pedido da causa.! Incidental/via de exceo ou de defesa - inserido na causa de pedir, uma questo prejudicial

    ao mrito.!!Princpio da Reserva de Plenrio!Aplica-se aos tribunais que participam de qualquer controle de constitucionalidade. Tem origem no Brasil em 1934, com Vargas, com o objetivo de proteger a presuno de constitucionalidade das leis.!Arts. 480 a 482 CPC e SV 10.!!No faz sentido que apenas um dos membros decida pela inconstitucionalidade, a maioria precisa se manifestar. O art. 97 da CF diz que somente pelo voto da maioria dos membros que a lei poder ser declarada inconstitucional. Quando a CF fala em tribunal, nesse caso, refere-se ao pleno, composio completa do tribunal. !Os tribunais, por conta do art. 93, XI CF, normalmente criam rgo especial que atuar em boa parte das competncias do pleno para agilizar os julgamentos. Esse rgo composto por um nmero menor de desembargadores. Alm disso, h a diviso em rgos fracionrios, como por exemplo as turmas, as sees, as cmaras. !Toda vez que um tribunal for instado a decidir sobre constitucionalidade, esse artigo 97 da CF ser acionado, o que significa que os rgos fracionrios no tem competncia para a deciso, eles precisaro remeter o julgamento ao pleno ou rgo especial. o que se chama de ciso horizontal de competncia. !Essa reserva de plenrio procura proteger a presuno de constitucionalidade das leis.!!SV 10 STF - viola a reserva de plenrio a deciso do rgo fracionrio que no declara constitucionalidade, mas aplica a lei apenas em parte.!Essa smula, portanto, refora o entendimento do art. 97 CF.!!Procedimento!Imaginando que uma apelao seja distribuda a um rgo fracionrio. A lei est sendo discutida. Se o rgo entender que aquela lei constitucional, prossegue no julgamento, analisa de plano o mrito, cumprindo sua atividade jurisdicional. Se o entendimento for pela inconstitucionalidade, preciso remessa ao pleno ou ao rgo especial. No entanto, se a inconstitucionalidade foi analisada em outro processo pelo rgo especial ou pelo STF, temos uma exceo prevista no art. 481 CPC: no preciso remeter!!! Turma recursal de juizado especial - se aplica o art. 97 CF? No. O art. 97 fala de tribunal, no

    de turma recursal. rgo colegiado sem status de tribunal, formado por juzes de primeiro grau.!

    Deciso de no recepo da norma ou de ilegalidade do ato normativo secundrio - no precisa remeter para o plenrio, porque a no recepo no gera inconstitucionalidade, nem a ilegalidade.!

    Juiz monocrtico - julgadores que julgam sozinhos. Eles exercem a sua esfera de jurisdio num rgo monocrtico. Como respeitar o plenrio se no esto em plenrio? Ele no precisa perguntar aos demais membros porque no h demais membros.!!

    Diferenas entre sistemas difuso e concentrado!!Sistema Difuso (concreto) Sistema Concentrado (abstrato)

    Mais antigo, modelo norte-americano Mais recente, modelo europeu

    Qualquer juiz ou tribunal Somente STF, no plano federal. TJs, no plano estadual

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  • Marcela Mattiuzzo

    !Discusso incidental de qualidade constitucional possvel em ao popular ou civil pblica, mas o pedido da causa no pode ser a discusso de constitucionalidade da lei em abstrato.!!Papel do Senado!No controle difuso, a deciso gera efeitos inter partes, em regra. Mas desde 1934, o papel do Senado Federal est presente no pas para dar efeitos erga omnes s decises do STF que no controle difuso afastem a constitucionalidade. !O STF decide num habeas corpus, num MS, habeas data, etc. Art. 178 do RISTF determina que a deciso seja encaminhada ao Senado. O Senado poder editar uma resoluo suspendendo a norma declarada inconstitucional para toda a sociedade, dando efeito erga omnes deciso (art. 52, X CF). O Senado tem discricionariedade para editar a resoluo, mas, uma vez editada, ela no pode ser revogada, por conta da segurana jurdica. !Isso s ocorre no caso de controle difuso, pois no concentrado todas as decises do STF j geram naturalmente efeitos erga omnes e vinculantes.!!Art. 52, X - o artigo diz que o Senado poder fazer a suspenso no todo ou em parte. Isso no quer dizer que parte da lei que pode ser declarada inconstitucional ou no. Quem decide sobre a inconstitucionalidade total ou parcial o STF. A discricionariedade s em relao edio da resoluo, mas no ao objeto!!A constitucionalidade dessa resoluo no poder ser questionada.!Qualquer lei ou ato normativo federal, estadual, distrital ou municipal est sujeita ao artigo.!!Em caso de no recepo ou de juzo de ilegalidade de uma norma, o STF tambm comunica ao Senado? No, isso s vale para a inconstitucionalidade.!!H uma tendncia de abstratizao do controle difuso, no entanto. O controle difuso concreto, como vimos.!HC 82959 - discutiu-se incidentalmente a constitucionalidade do regime de crimes hediondos. Declarou-se a inconstitucionalidade incidental por entender que o dispositivo feria a constituio. Posteriormente, a Defensoria Pblica do Acre tentou obter um HC se utilizando da deciso do STF. O juiz negou o pedido dizendo que a deciso do supremo, nesse caso, no gera efeitos erga omnes, porque o Senado no editou resoluo nesse caso, portanto o caso concreto pode ser julgado de outra maneira. A defensoria ingresso com uma representao dizendo ao STF que o juiz da vara de execues do Acre estava violando a deciso anterior. O que chamou ateno foram os votos do Gilmar Mendes e Eros Grau: eles destacaram que de acordo com a atual jurisdio constitucional, o STF deveria dar decises no controle concentrado E DIFUSO gerando efeitos erga omnes. Esse papel do Senado teria se tornado obsoleto e anacrnico, ele deveria apenas para dar publicidade das decises da corte. Ela discorda dessa posio (ai, amor Flavia).!O Eros Grau chegou a dizer que o artigo estaria passando por um processo de mutao constitucional.!!Ao Direta de Inconstitucionalidade!Art. 102, I, a CF diz que compete ao STF a guarda da CF, cabendo-lhe processar e julgar a ADI e a ADC. !A ADI foi criada com a EC 16/65, chamada ento de Representao de Inconstitucionalidade. A legitimidade ativa para a sua apresentao era muito reduzida, somente o PGR era passvel de utiliz-la. Em 88, ela passou a se chamar ADI, tendo um rol de legitimados ativos ampliado.!

    Qualquer pessoa pode provocar a anlise Rol taxativo da CF - art. 103

    Via incidental, de exceo (ou defesa) - causa de pedir

    Via direta/principal - o pedido

    Efeitos inter partes Efeitos erga omnes

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  • Marcela MattiuzzoA base legal na CF o art. 102, I, a + 102, 2 e a lei 9.868/99.!A finalidade , obviamente, declarar a inconstitucionalidade de lei. Declar-la porque ela viola a CF sob o ngulo material e/ou formal. Leis so aquelas que passam pelo processo legislativo completo (ou seja, passam pelo legislativo e pelo executivo). Atos normativos so normas que no passam por todo esse processo.!!Legitimidade Ativa (vlida para todas as aes do controle concentrado)!O PGR no mais o nico legitimado, pelo contrrio, temos vrios incisos que permitem que vrios agentes possam fazer uso da ao. Em 1988, houve a expanso do rol de legitimados. Logo na dcada de 1990, o STF se surpreendeu com tantas ADIs e resolveu trazer um instituto tpico de processo subjetivo para o objetivo, exigindo pertinncia temtica entre objeto da ao e o interesse do grupo de agentes legitimados dos incisos IV, V e IX (demais legitimados no precisam dessa comprovao). So os chamados legitimados especiais: o governador de estado ou do DF, a mesa da assemblia legislativa, a confederao sindical ou a entidade de classe.!Exemplo: presidente do Paran pode apresentar ADI contra lei de Roraima que de forma nenhum influenciou a populao paranaense? No. Mas o governador do estado da Bahia poder apresentar ADI contra lei fluminense que tenha prejudicado interesses dos baianos. O mesmo no verdade para os legitimados universais, que podem propor ADI sem precisar comprovar essa pertinncia.!ADI 1157 - requisito da pertinncia temtica se traduz na relao de congruncia das finalidades da entidade autora e o contedo material da norma questionada. um pressuposto qualificador da prpria legitimidade ativa de causa.!!Partido Poltico (art. 103, VIII CF) - para que o partido poltico possa ser autor, ele precisa ter representao no Congresso Nacional, em pelo menos uma das casas. Qual a posio do STF sobre a perda superveniente da representao poltica? A perda superveniente da representao poltica no gera extino do feito, porque o momento de averiguao sobre a existncia ou no de representao quando da propositura da ao.!O partido poltico legitimado ativo universal, por fora tambm do art. 17 da CF. O ministro Celso de Mello j disse que o partido exerce monoplio das candidaturas polticas. Por isso a legitimidade ativa universal, sem necessidade de comprovar pertinncia temtica alguma.!Alm disso, s pode ajuizar aes diretas perante o STF por meio do seu diretrio nacional, nunca os locais ou regionais.!!Entidade de mbito nacional (art. 103, IX CF) - entidade de classe aquela que representa os interesses de uma determinada categoria, seja profissional ou econmica. Ela considerada de mbito nacional quando o art. 8 da lei 9.096/95 (lei dos partidos polticos), que determina que o partido deve ter apoio em pelo menos nove estados brasileiros, cumprido (aplicao por analogia). !Os interesses defendidos pela entidade devem ser tambm homogneos. Exemplo: Associao Brasileira de TV por Assinatura - formada por vrias outras associaes menores, com objetivos sociais bastante distintos. O STF disse que a heterogeneidade da composio impedia a legitimidade ativa para ajuizamento de aes do controle concentrado.!O STF entendia que as associaes de associaes (de segundo grau) no poderiam ajuizar ADI. Mas hoje a corte revisou sua jurisprudncia e permite esse tipo de ajuizamento, desde que os interesses sejam homogneos.!!Confederaes sindicais (art. 103, IX CF) - aquelas formadas de acordo com o art. 535 CLT. Sindicatos e federaes sindicais no esto autorizadas a apresentar aes concentradas, somente a confederao sindical (formada por no mnimo trs federaes, segundo o art. 535 CLT). A CUT no legitimada ativa porque no confederao sindical, rgo de defesa dos trabalhadores, mas composta por interesses heterogneos, portanto no se classifica como representante de uma classe especfica. A UNE tambm no pode ajuizar as mesmas aes, portanto, pelo mesmo motivo.!!

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  • Marcela MattiuzzoObs.: capacidade postulatria - o STF decidiu quem precisa de advogado e quem no precisa para apresentar as ADIs, ADOs, ADCs e ADPFs. Incisos I a VII do art. 103 CF no precisam de advogado, podem representar-se sozinhos. Os legitimados dos demais incisos, precisam.!!Caractersticas! Processo objetivo aquele cujo objetivo dessas aes defender a supremacia da CF e no

    interesses subjetivos de partes. ! O rol de legitimados ativos um rol taxativo (aes s podem ser ajuizadas pelos constantes no

    artigo). ! No se admite desistncia em nenhuma das aes do controle concentrado abstrato.! No se admite interveno de terceiros (amicus curiae no tecnicamente terceiro interessado

    do CPC).! Efeitos erga omnes vinculantes, porque tecnicamente no h partes, lide, pretenso resistida de

    interesse, como se os legitimados fossem advogados da CF e no de interesse prprio. Os efeitos vinculantes servem para harmonizao.!!

    Objeto!Estrutura normativa brasileira formada por normas constitucionais originrias e derivadas. As originrias so aquelas promulgadas com a CF 88, enquanto as derivadas so as ECs.!Normas infraconstitucionais, por sua vez, so divididas entre atos normativos primrios (leis) e secundrios (normas infralegais). O que diferencia os atos primrios dos secundrios? Os primrios retiram fundamento jurdico de validade diretamente da CF. Os atos secundrios retiram seus fundamentos dos atos primrios.!Exemplos de normas primrias: LO, LC, MPs, resolues, decretos legislativos, leis delegadas, regimentos internos de tribunais, decretos autnomos. Todas as normas que se encontram previstas na constituio.!Exemplos de normas secundrias: decretos regulamentares, portarias, circulares, autos de infrao, etc.!!Lei ou ato normativo federal ou estadual pode ser objeto da ADI. O STF entende que normas primrias, extradas diretamente da Constituio (art. 59 CF), so passveis de ao concentrada, bem como (i) resolues do CNJ (ADC 12) - resoluo n. 07 do CNJ vedando o nepotismo, em que o STF confirmou a constitucionalidade da resoluo, nesse caso tende de tratar da natureza jurdica da resoluo, confirmando tratar-se de ato normativo primrio, (ii) resolues do TSE - ADI 3999, em que o STF reconheceu a constitucionalidade dessas resolues, (iii) leis distritais que tenham natureza estadual, (iv) decretos - temos os legislativos, os regulamentares (normas secundrias) e autnomos (criado com base no art. 84, VI CF, extrado diretamente da CF, portanto, e podendo ser objeto de ADI).!!No podem ser objeto da ao:!a) leis municipais!b) leis distritais de natureza municipal!c) normas pr-constitucionais (falamos em recepo ou revogao)!d) normas constitucionais originrias (presuno absoluta de constitucionalidade)!e) atos normativos secundrios (portarias, circulares, decretos regulamentares, pois so normas

    infralegais)!f) leis de efeitos concretos, em regra (forma de lei, mas contedo de ato administrativo. Mas h

    dois precedentes importantes, a ADI 2240 que analisou lei criadora de municpio e a ADI 4048 que analisou uma lei oramentria)!

    Esses atos podem ser impugnados via ADPF, em regra.!!Participao do PGR (art. 103, 1 CF)!O PGR chefe do MPF. E o MP, seja ele estadual ou federal, tem compromisso com a democracia, com a luta pelos direitos fundamentais, portanto atua como fiscal da lei (custus legis). Ele d um parecer na ADI, seja pela constitucionalidade ou pela inconstitucionalidade. Mas ele atua inclusive nas aes por ele ajuizadas? Sim, segundo o STF.!

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  • Marcela MattiuzzoO PGR pode mudar de opinio? Ajuizar a ao e no parecer entender pela constitucionalidade? Sim. Se ele mudar de posicionamento, significa dizer que ele desistiu da ao? No! Nenhuma das aes do controle concentrado admite desistncia do pedido. Por qu? Porque elas visam defender a supremacia da CF e no interesses de particulares.!!Advogado Geral da Unio (art. 103, 3 CF)!Sabemos que o AGU o advogado da Unio em assuntos judiciais. mas a CF deu a ele outro nus, o de defender a constitucionalidade do ato normativo impugnado em ADI. H duas ocasies em que a obrigao mitigada: (i) nos casos de ato claramente inconstitucional e (ii) no caso de o ato normativo ser contrrio Unio. Por conta disso, na ADI 1616, o STF decidiu que o AGU estaria dispensado de fazer a defesa do texto impugnado se houvesse deciso da corte no controle difuso pela inconstitucionalidade da norma e, na ADI 3916, que se a norma impugnada em ADI prejudicasse os interesses da prpria Unio, o AGU no seria obrigado a fazer sua defesa, em vista da supremacia da CF.!!Amicus curiae (Art. 7, 2 da lei 9868/99)!O cidado no pode ser autor de ao no controle concentrado, mas ele recebe os efeitos dessa deciso. Nada mais justo que inserir uma forma de a sociedade civil acessar o STF.!Quem pode ser amicus, segundo entendimento do STF, a organizao coletiva com pertinncia temtica com aquilo que discutido no caso. Partidos polticos, associaes, sindicatos, ONG, confederaes, no h uma estrutura fechada dessa organizao. O importante a pertinncia temtica. Em regra, no se permite que o cidado atue como amicus. Por essa descrio, j se percebe que o amicus no terceiro interessado do CPC!!O pedido de atuao como amicus feito ao relator da ao, e, se aceita a participao, ele poder oferecer memoriais, percias, at mesmo realizar sustentao oral. Tal pedido pode ser feito at a data da remessa dos autos para julgamento.!Amicus no pode opor embargos de declarao em face da deciso final, por no ser terceiro interessado. !No h nmero mximo de amici num processo, mas claro que o relator deferir o pedido de participao dentro de uma razoabilidade para no prejudicar a celeridade processual.!!Ambivalncia ADC e ADI (art. 24 da lei 9868) - quando o STF recebe uma ADI e d deciso final a seu respeito, julgando-a improcedente, ele declara a constitucionalidade da norma. Se o STF nega provimento, a lei constitucional. Se recebe uma ADC e pretende declarar seu provimento, ele decide tambm pela constitucionalidade. Portanto um mesmo resultado por meio de duas aes diferentes. Uma lei pode ser declarada constitucional e inconstitucional nos dois casos.!!Cautelar (arts. 10 a 12 da lei 9868) - tutela de urgncia admitida? Sim, observado o disposto no art. 22. Nmero de presentes para concesso da medida de oito, sendo que a maioria absoluta tem que votar favoravelmente. Nos perodos de recesso, o relator pode conceder a cautelar ad referendum do plenrio, ou seja, assim que findo o recesso, o assunto remetido a ele para deciso de todos os ministros. !Quais so os efeitos subjetivos temporais dessa cautelar?Ela suspende a norma impugnada. Em primeiro lugar, efeitos subjetivos so erga omnes, afinal no h partes, e vinculantes para todo o judicirio e tambm para a administrao pblica, como qualquer deciso final em ao do controle concentrado. O art. 11, 1 determinado que, em regra geral, sero ex nunc, mas excepcionalmente a corte pode decidir que sejam ex tunc (por meio de modulao de efeitos). O 2 do art. 11 fala em efeitos repristinatrios (de restaurao). Se a norma que o STF suspende revogou uma norma anterior, a norma anterior volta a ser aplicada, para evitar lacuna do ordenamento. Mas o STF pode determinar que essa volta de aplicao no acontea. No confundir com o art. 2, 3 da LIN que fala em repristinao, que edio de nova lei que determina que lei anteriormente revogada volte a ser vlida.!!De