o valor no capitalismo cognitivo e a cultura hacker

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    191Liinc em Revista, v.5, n.2, setembro, 2009, Rio de Janeiro, p.191-205 - http://www.ibict.br/liinc

    O valor no capitalismo cognitivo e a cultura hacker

    Fbio Malini

    Resumo Este trabalho busca organizar os principais debates sobre o conceito de valor no interiorda crtica ao capitalismo cognitivo, sobretudo na obra de Antonio Negri e Andr Gorz. Parte-sedessa crtica para se chegar anlise da cultura hackercomo um novo campo de antagonismosocial, marcado pela renovao do conceito de resistncia, onde a valorizao da mercadoria seassocia cada vez mais ao aumento da quantidade de cooperao social e intelignciaincorporadas aos bens/servios, sem que necessariamente passe por processos de exploraocapitalista.

    Palavras-chave capitalismo cognitivo; valor; conhecimento; informao

    Value in cognitive capitalism and the hacker culture

    Abstract This study attempts to organize the main debates about the concept of value within thecritique of cognitive capitalism, especially in the work of Antonio Negri and Andr Gorz. It is ofcritical analysis to reach the hacker culture as a new field of social tension, marked by therenewal of the concept of resistance, where the recovery of the goods is even more associated tothe increased amount of cooperation and social intelligence embedded in products/services,without necessarily passing through processes of capitalist exploitation.

    Keywords cognitive capitalism; value; knowledge; information

    Se o conhecimento , por certo, fonte de valor,ele destri muito mais valor do que serve para criar.

    Andr Gorz

    A desmaterializao dos meios de produo requer outro tempo produtivo. Um tempo ligado a

    uma dimenso virtual, como ento possibilidade de tudo vir a ser. nele que reside a fora-inveno do trabalho. Por estar espraiada pela infinita produo das singularidades, essa fora-inveno descontnua e aleatria. Manifesta-se, portanto, como um devir. Essa virtualidadeacarreta uma alterao profunda no tempo produtivo, medida que ele agora um conceitocompletamente estendido, pois um tempo coextensivo e sobreposto prpria vida.

    Doutor em Comunicao e Cultura pela UFRJ e Professor Adjunto do Departamento de Comunicao daUniversidade Federal do Esprito Santo. Travessa Lucio Bacelar 100/201, Praia da Costa, Vila Velha- EspritoSanto. CEP. 29101035. E-mail: [email protected]

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    Ser evidente, por exemplo, que se torna muito mais importante o tempo dosprocessos de formao do que o tempo de aplicao imediata produo;tornar-se- sempre mais importante o tempo das relaes externas quealimentam o conhecimento e o empurram para atos e decises mentais, mais doque acumulao de pequenas quantidades temporais de trabalho que noconstituem, como ocorria no passado, a condio de decolagem da realizao

    capitalista do valor. (Negri, 2003, p. 93)

    No s o tempo aplicado produo direta da mercadoria que explica a prpria gerao deriqueza e, conseqentemente, de explorao. Somente uma inovao cientfica e a fora-crebroinventiva do trabalho so capazes de reduzir o tempo no qual o capital circula, imputando neleesse tempo virtual que faz a prpria vida.

    Se antes, para produzir uma mercadoria, era necessrio um certo nmero maiorde horas de trabalho simples (...) ou, de qualquer maneira, se para produzir umnmero maior de mercadorias era necessrio um aumento da massa de trabalho,hoje, observamos, ao contrrio, que cada aumento de produo nasce daexpresso de atividades intelectuais, da fora produtiva da descoberta cientficae sobretudo da estreita aplicao da cincia e da tecnologia elaborao daatividade de transformao da matria. (Negri, 2003, p. 92-3)

    O valor-mercadoria altera-se, dado que no composto majoritariamente do tempo do trabalho,mas do tempo da formao do trabalho. E esse tempo, contnuo e virtual, impossvel de sermedido, embora seja possvel de ser capturado. Mas essa captura nunca completa, porque ocapital no pode controlar por inteiro a inteligncia, as capacitaes afetivas, a produo de

    linguagem e os conhecimentos tcnicos da multido. Alm disso, como salienta Gorz (2005), oconhecimento recobre uma grande diversidade de capacidades heterogneas. No se trata de terum trabalho cujo valor uma medida de um tempo homogneo, que medido em horas. Esse um trabalho que no tem uma medida comum. Ele julgamento, intuio, senso esttico, nvelde formao e informao, a faculdade de aprender e de se adaptar a situaes imprevistas(idem, p.29). So heterogeneidades de atividades ditas cognitivas, que formam o capitalimaterial do trabalho.

    Capturar as virtualidades ser sempre ento controlar os fluxos da prpria vida. A noo de rede trazida da realidade das conexes telemticas explicita exatamente a forma organizada deextrao desses fluxos. Nas redes virtuais, a vida se processa como interao em tempo real e semantm sempre registrada na forma de informao. Todo contato com o outro (seja o sujeito ou

    a prpria mquina), na forma de cooperao, acaba por resultar em um conhecimento registrado,ento acessvel a todos, inclusive aos dispositivos do comando. Mas o comando, nesse caso, uma funo da rede e no o sujeito dela. O capital quer ser to nmade como a cooperaosocial.

    O desenvolvimento capitalista, a criao capitalista do valor se baseia, cada vezmais, no conceito de captao social do prprio valor. A captao da novidade,

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    O capital torna-se produtivo somente na medida em que capta valores pr-constitudos do trabalho social. Aqui, ento, a funo do comando se organizacomo ameaa de bloquear a informao, como interrupo dos processoscognitivos, em suma, o capital parasitrio aquele que extrai o valor sobretudoda interrupo dos movimentos de conhecimento, de cooperao, de linguagem.Para viver e reproduzir-se o capitalismo obrigado a chantagear a sociedade e a

    bloquear os processos sociais de produo toda vez que apresentem excedenteno que concerne a seu comando. (Negri, 2003, p.95)

    Essa resposta do comando capitalista s ocorre porque, no processo de autovalorizao, otrabalho e o conhecimento dele derivado mostra-se como algo pouco dcil, j que se forma apartir de leis econmicas que diferem profundamente daquelas criadas pelo pensamento liberal,provocando algo que Enzo Rullani (2004) denomina de mismacthings: um apanhado deincoerncia no processo de valorizao, pois:

    ... o processo de transformao do conhecimento em valor no , assim, linear eestvel no tempo. Ao contrrio, implica instabilidade, pontos dedescontinuidade, catstrofes, uma multiplicidade de caminhos possveis. justamente quando nos situamos em um ponto de vista ps-fordista que osobstculos encontrados pela valorizao do conhecimento tornam-se claramenteespaos de crise. Entretanto, nesses espaos, que so tambm espaos deliberdade, podem ser inseridas solues novas e transformaes institucionaisoriginais. Da que, com toda razo, se fala tanto de capitalismo cognitivo.(Rullani, 2004, p.101)

    Para Rullani (2004) o espao da crise gerado pelo processo de transformao do conhecimentoem valor ocorre porque o conhecimento tem certamente um valor de uso para usurios e para asociedade - mas no tem um valor de custo que possa ser empregado como referncia paradeterminar o valor de troca, de forma que tanto o trabalho quanto o capital, tem ambos, pelaprimeira vez, o poder de autovalorizao.

    O custo de produo do conhecimento enormemente incerto o processo deaprendizagem por sua natureza aleatrio e, sobretudo, radicalmentediferente do custo de sua produo. Uma vez que uma primeira unidade foiproduzida, o custo necessrio para reproduzir as demais unidades tende a zero se o conhecimento digitalizado. Em nenhum caso esse custo tem haver com ocusto de produo inicial. (Rullani, 2004, p.102)

    Essa qualidade de reproduo a custo zero ocorre porque o conhecimento um bem coletivoindivisvel, logo, no-concorrencial (ele pode ser meu e seu ao mesmo tempo). Se oconhecimento no tem valor de troca, ele se deixa compartilhar ao bel prazer, segundo avontade de cada um e de todos, gratuitamente, especialmente na Internet (Gorz, 2005, p.36).

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    A transmisso de um conhecimento em nada empobrece aquele que o possui; aocontrrio, sua difuso [...] contribui para aumentar o valor prprio doconhecimento. [...] O consumo no destrutivo, mas criador de outrosconhecimentos. Consumo e produo coincidem na produo deconhecimentos. (Lazzarato, 2003, p.69)

    H situaes, como no caso dos servios relacionais (educao, cuidados, assistncia, moda,design, publicidade, marketing), em que o valor assume um carter ainda maior deincomensurabilidade, porque quanto maior for a parcela de doao e de produo de si, maiorser a marca pessoal contida nesse servio; assim, lhe confere um valor intrnseco que prevalecesobre seu valor de troca normal (Gorz, 2005, p.33).

    O clculo do valor de troca se complexifica no capitalismo cognitivo porque, no tendo oconhecimento um ponto fixo de onde partiria uma estimativa financeira e possuindo um custo dereproduo que tende a ser nulo, o valor de troca s existir graas capacidade do comando delimitar a sua difuso livre. A possibilidade de imitar, copiar, reinventar, de apreender

    conhecimentos de outros, ficaria ento bloqueada por uma atuao de um poder institucional oulegal. O valor de troca ento se revela como a quantidade de tempo que o comando consegueproduzir para ficar longe da imitao. No a escassez que cria o valor de troca, mas um poderque impe um tempo para que o conhecimento no circule.

    Sendo assim, segundo as anlises de Enzo Rullani, essa new economy uma economia davelocidade. A operao para produzir esse novo valor das mercadorias passa primeiro pelaacelerao da difuso dos bens, o que garante um valor (ainda de uso) advindo do ineditismo dequem o produz. Mas, do ponto de vista do capital, o valor de troca s acontece, quando quemdifunde tambm consegue impor uma desacelerao da socializao. O valor de troca seencontra nesse gap entre acelerao da difuso e desacelerao da socializao. Veja bem, adifuso de um bem deve possibilitar que o conhecimento contido nele seja socializado para todos

    os concorrentes e todos os usurios potenciais. Mas num ritmo lento de socializao, at quepossa difundir uma outra inovao que substitua a tempo o seu conhecimento que acabara de serincorporado pela concorrncia e pelos usurios potenciais. O up to date , na verdade, umdispositivo que j oferecido tardiamente do ponto de vista do capital, mas entendendo istocomo base para o progresso do capital.

    Gorz (2003) tal como Virno e outros autores identifica a publicidade e o marketing como amaior indstria do capitalismo cognitivo e, portanto, a que mais utiliza essa estratgia desubtrao do valor. uma indstria que confere s mercadorias qualidades nicas eincomparveis e, por conta disso, acaba vendendo os produtos, pelos menos por algum tempo,com preos elevados. [A publicidade e o marketing] detm uma espcie de monoplio e buscamassim uma renda monopolista, contornando temporariamente a lei do valor. Em outras palavras,

    freiam a baixa do valor de troca das mercadorias ainda que seu custo de produo seja cada vezmenor em termos de horas de trabalho e de pessoal alocado (Gorz, 2003, p.36).

    Essa estratgia de acelerar a difuso e desacelerar a socializao faz com que a riqueza deva serdifusa (pblica) ao mesmo tempo que no possa ser socializada (comum). O que pblico torna-se aqui antagnico daquilo que comum.

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    O pblico e o comum so mantidos separados. Esta a fora (o pblico, adifuso: celulares para todo mundo; a internet grtis) [...] e a fraqueza (adiscriminao na base do poder de compra do uso real dos servios; osobstculos proliferao criativa dos usos das informaes e de suasferramentas impostas pela lgica proprietria do copyright). (Cocco & Malini,2003, p. 9-11)

    A partir desse antagonismo entre pblico e comum, no mnimo, duas tendncias de distribuiode conhecimento sero encontradas no interior do capitalismo cognitivo. A primeira focada nomodelo do collecting que reala o ponto de vista da publicizao. Nessa forma de distribuio, osconhecimentos possuem um carter fixo e intransfervel. A segunda forma de distribuio indicao movimento da socializao do comum e surgiu no interior do campo tecnolgico, sendo depoissocializado para outras esferas da produo, principalmente a cultural. Graas a um trabalhocoletivo, foram criadas dezenas de tecnologias que possibilitaram a transferncia de textos,imagens, udio, vdeos de um computador para outro, os chamados programas peer-to-peer.Estes permitiram a implantao de um modelo alternativo ao collecting, intitulado dedownloading, de carter mvel e transfervel, que distribui bens e conhecimento de forma livre,sem intermedirios. A tentativa de libertao do conhecimento dos aparatos que o confinamacaba demandando desses sujeitos a criao de um modo de comunicar prprio e um meio decomunicao prprio.

    O modelo do downloading nos permite especular que, bem diferente do capital, o trabalhocognitivo traz a possibilidade de sujeitos comunicativos tomar a produo miditica para si. Essatalvez seja a ao que est no ncleo da inverso do processo de desigualdade social no campodo conhecimento: tomar a produo de miditica para si. E faz-lo circular, para ento comear aproduo.

    O plano da resistncia vai operar a de dupla forma: ou cpia, ou sistema livre de produo. Aprimeira acelera a socializao por meio da imitao. A segunda, por meio de dispositivoscooperativos e pblicos, difunde e socializa toda a produo. Ambas tm de idntico o efeito de

    no ameaar a propriedade, mas destruir seu carter privado (Negri & Hardt, 2005). Esses doisplanos do antagonismo fazem reduzir o valor de troca, mas possibilitam que haja aumento deriqueza, medida que muitos desses produtos so a base para se criarem outros, porm, livres,por meio de um mtodo primrio da socializao do trabalho, marcado pela abundncia dastrocas e doaes e no pela escassez do conhecimento.

    O que ocorre nos setores da dita nova economia ilustra muito bem a disputa entre essas duaslgicas de gesto do conhecimento. Num lado do comando capitalista, todo um sistemaproprietrio privado transforma cada inovao tecnolgica em propriedade intelectual(copyright). De outro, no plano da resistncia, um sistema proprietrio pblico (copyleft)transforma o saber em um bem comum, resguardando a sua autoria, e exige legalmente quequalquer alterao desse bem ou mesmo qualquer obra derivada dele se converta tambm embem comum. Isso acaba fazendo com que toda a produo se mantenha livre de apropriaesprivadas, o que considera o saber, antes de tudo, como o resultado de um trabalho social ecoletivo. Comando e resistncia so formas antagnicas que denotam propriedade intelectual ecriao coletiva, respectivamente.

    Negri & Hardt (2005) demonstram que a difuso a baixo custo dos bens imateriais por meio detecnologias de reproduo (computador, mquina de fotocpia, gravao digital, etc) aprincipal utilidade social e econmica da economia cognitiva.

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    Naturalmente, a reproduo muito diferente das formas tradicionais de roubo,pois a propriedade original no tomada de seu proprietrio; simplesmentepassa a haver mais propriedade para algum mais. A propriedade privadabaseia-se tradicionalmente numa lgica de escassez a propriedade materialno pode estar em dois lugares ao mesmo tempo; se voc a tem, eu no possot-la , mas a infinita reprodutibilidade que um elemento central dessas

    formas imateriais de propriedade solapa diretamente qualquer concepo deescassez como esta. (Negri e Hardt, 2005, p.235)

    A relao entre valor e conhecimento permanece ento complexa porque a difuso possui sempreefeitos multiplicadores uma inovao sempre copiada ou adaptada rapidamente em outrasinovaes, portanto, a difuso sempre potencialmente produo de riqueza. E a socializaopossui sempre efeitos divisores a multiplicidade de cpias e reinvenes diminui o valor detroca. Essa tenso entre a forma-dinheiro e a forma-conhecimento conserva-se, para o capital,como distintas entre si, produzindo toda uma srie de incoerncias. (Negri e Hardt, 2005, p.104).

    A causa dessa incoerncia: (a) o valor que pode ser extrado dos conhecimentosproduzidos no maximizado, j que sua difuso segue sendo inferior aquelapotencialmente possvel; (b) se devido precisamente a esta falta de difuso noh suficiente garantias sobre os rendimentos, no se realiza novos investimentosem conhecimentos; ou bem se realizam em quantidade menor em relao ao queteria sido possvel e desejvel para a sociedade. (Negri e Hardt, 2005, p.235)

    Para Rullani (2004), a valorizao do conhecimento, no mbito do capitalismo cognitivo, acabapor ser um paradoxo, pois danoso a trabalhadores e empresrios. Em primeiro lugar, essa

    valorizao pode conduzir a uma perda social, pois os recursos cognitivos disponveis no soplenamente utilizveis, j que o regime do copyright limita a sua apropriao coletiva. Emsegundo lugar, como h uma sub-acumulao, derivada do fato de a difuso no permitir que oslucros sejam obtidos em um tempo mais alargado, o investimento de aprendizagem no se tornaa preocupao central nem as empresas, nem o trabalho. Em suma, essas questes s emergemna atualidade, porque o conhecimento gera valor se difuso, mas a difuso tende a reduzir seugrau de apropriabilidade (Negri e Hardt, 2005, p.105).

    Esse impasse, para o socilogo Andr Gorz, s ocorre porque a economia cognitiva e ocapitalismo seriam inconciliveis, pois a principal fora produtiva o saber no quantificvel, quer dizer, no pode ser medida por horas de trabalho. Alm disso, para Corsani(2003) o fato do saber ser difuso faz com que o capital saia de uma lgica de valorizao baseada

    em um controle direto do processo de produo. Por conta disso, provoca uma crise de fundo nocapitalismo e antecipa uma outra economia, de tipo novo e ainda a ser fundada (Gorz, 2003,p.35). Essa outra economia a ser fundada estaria, para Gorz, j se constituindo no espao liso dasredes (freenets); as empresas j estariam trabalhando nas redes para unir-se nos momentos datomada de deciso e consumo. Os usurios, atravs de mecanismos de auto-organizao, auto-coordenao e a livre troca de saber, estariam produzindo um emaranhado de produtos e servioscriados a partir da colaborao em rede sem a necessidade de uma intermediao do mercado.

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    Os produtores, que se relacionam entre si em redes, colocam-se em comumacordo preventivamente e de maneira pactuada para produzir em funo dasnecessidades, desenvolvendo sua funo produtiva como um complexo deatividades essencialmente coletivas, promovendo um intercmbio de bens eservios sem que tenha sido previamente acertado o carter dessas mercadorias.O dinheiro torna-se suprfluo, e o capital teria assim sua prpria base capturada.(Gorz, 2003, p.38)

    Seguindo a mesma direo, Franco Bifo analisa que o valor torna-se um desafio para os estudoscontemporneos porque o capital, a terra e o trabalho j no so mais os fatores decisivos docampo econmico. A medida do que seja riqueza no se explica somente por esses trscomponentes. Se antes essa relao pautava-se num tempo quantificvel, hoje se processa em umtempo descontnuo e aleatrio.

    O tempo de trabalho necessrio para reproduzir um sinal de mercadoria podeser uma quantidade irrisria (como no caso do trabalho necessrio a copiar um

    programa informtico) e pode ser uma quantidade enorme (como no caso dotrabalho necessrio a produzir um programa informtico). (Bifo, 2005, p.100)

    Tendencialmente, com o ingresso cada vez maior de empresas e trabalhadores na economia dainformao, o valor torna-se impossvel de ser medido apenas com o tempo do trabalho, j que afora de trabalho est fora de uma relao dialtica com o capital, que no mais a comanda comseus dispositivos disciplinares, tal como ocorria com o modelo fabril fordista, em que a riquezaera produto mais do automatismo da fora de trabalho.

    A cultura hackere um novo desejo produtivo

    Esse plano de novas subjetivaes assentou experincias que se tornaram fundamentais paracriar processos de singularizao que se mostrassem a base para a construo de estilos de vida,de formas inovadoras de produo de empreendimentos econmicos e sociais, de tecnologiasinteligentes de produo; enfim, de todo um conjunto renovado de atividade rica em valor.

    Talvez a cultura hackerilustre muito bem isto que queremos dizer. A motivao para criao deinovaes tecnolgicas reside na construo de meios para que haja circulao de saberes quepossam tornar a sociedade mais desenvolvida e mais aproximada. No se trata, em nenhuma

    hiptese, de altrusmo. O hackerbusca o reconhecimento social, o que se torna o seu principalinstrumento de valorao do prprio trabalho. Quanto maior o seu reconhecimento social,maior o seu acmulo de capital humano, o que obviamente traduzido em ofertas crescentes detrabalhos e atividades. A economia poltica da cultura hackerfaz residir o valor na circulao(dos seus conhecimentos, mas tambm dos valores da sua prpria vida). A internet, comoinveno mxima da cultura hacker, expressa bem essa nova configurao da produo do valor: o espao de distribuio, mas tambm de produo de novos processos, produtos e servios,que eventualmente se tornam valores para a produo de outros processos, produtos e servios.A circulao torna-se eminentemente produtiva.

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    Penso que os hackers valorizam antes de tudo uma relao com o trabalho queno se baseia no dever e sim na paixo intelectual por uma determinadaatividade, um entusiasmo que alimentado pela referncia a uma coletividadede iguais e reforada pela questo da comunicao em rede. So vrios osautores que explicam essa tica hacker e que insistem em pensar que o espritohacker consiste na recusa das idias de obedincia, de sacrifcio e de dever que

    sempre foram associadas tica individualista, tica protestante do trabalho.Os hackers substituem essa tica no de uma maneira egosta, mas, ao contrrio,por um novo valor que prega que o trabalho mais alto quanto maior seja apaixo que esse trabalho desperte. Falamos de paixo, aderncia, interesse econtinuidade. Essa maneira de pensar o trabalho une, fundamentalmente e demaneira indissocivel, o prazer intelectual a fora pragmtica e ao compromissosocial. (Negri, mimeo)1

    A cultura hackerexemplifica como hoje o sujeito constri o prprio mundo para alm de umadefinio do valor como tempo, portanto, como repetitividade. Ela expressa um novo modo deviver e gozar o tempo, diz Negri. Por isso que o trabalho ser desmedido, j que a informao ea cultura imputadas num bem ou num processo so algo impossvel de se mensurar emquantidade de tempo. algo que est alm da medida. O valor de um modem2, essa invenohacker fantstica, no se expressa somente pelo tempo despendido para a sua produo, j que um acmulo de trabalho (na forma de saberes) constitudo por mltiplas subjetividades emcontato: da cultura universitria ao hackerativismo. O bem da nova economia no tem gentica.

    Como diz Lazzarato, o trabalho inunda o tempo da vida. Nossos valores, nossas experincias,nossas comunidades, nossos gostos, nossos posicionamentos ticos, tornam-se bases para que otrabalho possa ser processado. O tempo do trabalho que se localiza a cultura high tech, mastambm na cultura doprecariado urbano, um kairs: tempo como fonte de criao contnuade imprevisveis novidades, aquilo que faz com que tudo se faa (Lazzarato, 1998, p.95). A

    vida e trabalho tornam-se ento cada vez mais processos sociais sobrepostos.

    O trabalho considerado fadiga e condenao, hoje podemos comear a falar dotrabalho de todos como atividade e expresso. Isso significa, ento, que no sepoder mais falar do trabalho como uma quantidade, como uma repetio, comouma simples alienao, em suma, como uma entidade fsica. Certamente, aatividade laboral quantificvel, ela expressa maiores ou menores intensidades, mensurvel (e, nessa medida, alienada), mas no poder ser simplificada ato ponto de ser reduzida a uma quantidade temporal (e a uma relao fixaatividade-tempo) e portanto a uma dimenso de pura alienao. Para diz-lo deoutra forma, o trabalho que produz valor antes atividade criativa; depois

    poder ser, eventualmente, medido e/ou alienado. Conseqentemente, otrabalho real, ou seja, complexo, no poder mais ser considerado umassemblage de cotas de trabalho simples, mas uma concatenao de atividadescriativas, isto , cooperao produtiva. (Negri, 2003, p.254)

    1 Palestra ministrada no Palcio Capanema em 2003, sob o ttulo de A Constituio do Comum.2 O modem foi inventado por dois estudantes de Chicago nos primeiros anos da dcada de 70. Na poca, elessentiam a necessidade de enviar informaes pelo telefone, j que, por conta do inverno da cidade, se viaminviabilizados de se encontrar com mais freqncia. Criaram juntos aquilo que possibilitou trocas de informao,produo de encontros, criao de processos, bens e servios, etc.

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    Ao fazer a anlise da questo do valor no capitalismo cognitivo, chegamos concluso que asmesmas foras produtivas e relaes sociais que mantm a base do capital tornam-se, ainda mais,condies para explodi-las. Isto porque numa economia informacional o trabalho quedefine o capital e no o contrrio; e o processo de produo de subjetividade se constitui forada relao de um comando capitalista. A resistncia vem antes do poder, a luta antes do

    comando.O comando (o Estado, o Capital e seus respectivos dispositivos do poder) uma resposta s lutascontnuas dos sujeitos polticos. Para Negri, a cooperao no determinada pelo econmico,porque se trata da prpria vida da sociedade. Os elementos criativos, da inovao, so ligadosqueles que s as formas de vida produzem. O econmico tenta (mas tendo muitas resistncias)se apropriar das formas e dos produtos dessa cooperao, normatiz-los e padroniz-los, gerir eregular as atividades do trabalho imaterial: criar dispositivos de controle e de criao do pblicoatravs do controle das tecnologias da informao e da comunicao (TICs) e seus processosorganizativos.

    (...) o que seja a resistncia o sabemos com certa preciso, uma vez que na vidacotidiana uma grande maioria de sujeitos sociais se encontra exercendo-a. Nasatividades produtivas, contra um patro; nas atividades da reproduo social,contra as autoridades que regulam e contra a vida (na famlia, o paternalismo...);na comunicao social, contra os valores e os sistemas que fecham aexperincia e a linguagem na repetio e os empurram para a ausncia desentido. A resistncia interage duramente, mas tambm criativamente, com ocomando, em quase todos os nveis da vida social vivenciada (Negri, 2003,p.97).

    O trabalho, entendido como imaterial, capaz ento de gerar um novo enfrentamento poltico,uma fora de trabalho alternativa e no dialtica ao capitalismo, j que sua genealogia externaou atravessada pelo modo de produo capitalista. Na economia da informao, a crtica radicalse manifesta ento como autonomia da constituio dos sujeitos.

    Preferimos ler o tempo livre e as atividades culturais, relacionais, cognitivas,etc no como uma exterioridade dada s relaes de mercado e espao quedeveramos defender contra a extenso a todos os mbitos da economiacapitalista de mercado, mas como novo terreno de enfrentamento poltico. Aexterioridade ao capitalismo necessita ser construda atravs de formas derecusa, de cooperao e de organizao que atravessem de modo antagnico o

    tempo de vida colonizado pela produo de mercado (idem, p.26).

    Quando essa corrente terica insiste na afirmao de que a resistncia vem antes do poder, nosignifica que o trabalho se constitui fora de uma relao de capital; quer dizer apenas que otrabalho produtivo independente dos dispositivos disciplinares que o capital transformou emcomando: a disciplina fabril e o capital fixo. Mesmo a disciplina tornou-se um bloqueador da

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    criatividade, tendo ento que ser substituda por outros mecanismos de comando quepossibilitem a liberao dos fluxos de criao ao mesmo tempo que os capturam.

    O que ento percebemos que, por possuir uma capacidade de produzir riqueza, os sujeitossociais atualizam a dinmica dos conflitos sociais, agora estabelecida entre um comando quequer privatizar as formas de vida e seus conhecimentos singulares, e uma resistncia que buscatorn-las comuns. Por isso que a explorao torna-se uma experincia de antagonismo, marcada

    por um novo tipo de trabalho (o imaterial) e uma nova apropriao do valor.

    No estamos querendo dizer que o paradigma da produo imaterial umaespcie de paraso no qual podemos produzir livremente em comum eigualmente compartilhar a riqueza social comum. O trabalho imaterial ainda explorado sob as regras do capital, como o trabalho material (Negri, 2003,p.98).

    Essa noo de valor logo, de explorao no interior do capitalismo cognitivo, conduziu os

    tericos a renovar os conceitos de riqueza e de pobreza. Quanto ao primeiro, tal como Bifo(2005) analisou, a riqueza no pode ser interpretada apenas luz de uma perspectiva econmica,que a conceitua como meios que nos permitem consumir. Nesse sentido, riqueza seria adisponibilidade de dinheiro, de crdito e de poder. Contudo, uma outra resposta associa riqueza aqualidade do gozo que a experincia est em condies de produzir em nosso organismo. Aprimeira uma riqueza objetivada em bens. A segunda subjetivada na experincia. Ambasaparentemente protagonizam mais uma relao de tenso do que de complementaridade.Contudo, ambas repercutem o mesmo efeito sobre a vida: o aumento da esfera econmicacoincide com uma reduo da esfera ertica, refora Franco Bifo.

    Quanto ao conceito de pobreza, nas anlises de Antonio Negri, este aparecer como o simplesfato de no conseguir dar valor atividade. Essa definio resulta em um raciocnio duplo. O

    primeiro remete idia de que os pobres no devem ser considerados como excludos, visto queas suas atividades produtivas (a cultural a mais expressiva delas) e seus movimentos polticosprovocam, em todo coletivo, quando se tornam concretos, um amplo desejo de apropriao, sejana forma de apoio s lutas, seja na forma de aquisio dos seus modos de vida (da culinria msica, da dana religio, da economia solidria s redes de solidariedade, da formao denovas lideranas polticas ao trabalho informal, etc). Os pobres so, junto a todos os outrosestratos populacionais, portadores do comum3.

    Por conseqncia, o segundo raciocnio conduz interpretao da pobreza como uma condiogeral, e no somente que acomete aquela franja populacional miservel conhecida comoexrcito industrial de reserva, que, antes, na sua existncia material e conceitual na economia

    3 Cabe aqui uma explicao metodolgica. Toni Negri e Michael Hardt no aceitam a interpretao terica que ahegemonia de uma forma de trabalho implica um domnio daquela classe na luta poltica. Quer dizer, o fato de opobre no ter acesso a meios e bens coletivos no o faz alheio do movimento de construo da Histria. Aocontrrio, em muitos casos o portador da potncia de mutao da prpria histria, por carregar consigo umdesejo de ruptura com as formas de domnio sob eles exercido. Pensar fora dessa perspectiva levaria, no mbito daslutas, a superdimensionar as reivindicaes daquela classe mas formalizada nas relaes produtivas. Pensem emtodas as tragdias a que essa lgica levou no passado: colocando a prioridade poltica dos trabalhadores industriaispor sobre os camponeses, assalariados homens sobre o trabalho domstico feminino e assim por diante. Nossasnoes dos pobres e do que comum nos levam, pelo contrrio, a uma concepo expansiva e aberta doproletariado (Negri & Hardt, 2006, p.105).

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    capitalista, servia como uma chantagem, a classe operria para faz-la produzir a partir depresses institudas pelo regime disciplinar do comando.

    Negri & Hardt (2005) ressaltam que no possvel usar o termo exrcito industrial de reservapara descrever a pobreza. Em primeiro lugar porque o industrial j no se trata mais de umaunidade, j que o trabalho cada vez menos industrial e multifacetado em diferentes setoreseconmicos, particularmente, o de servios. E quem possui um emprego industrial est

    subsumido sua flexibilidade, o que significa dizer que nenhum emprego seguro. Emsegundo lugar, porque, como vimos, o conceito de reserva significaria que h aqueles que nofazem nada. E no fazer nada, no capitalismo cognitivo, apenas a qualidade de um sujeitoem coma, sujeito sem vida social.

    No entanto, aqueles que no esto nessa situao e, portanto, produzindo sua atividade social (acultura, os modos de vida, a subjetividade social) so potencialmente vidas a produzir. Acriatividade dos pobres torna-se uma potncia de produo de valor, independente se isto s faareproduzir a sua prpria condio de excluso social. Os pobres, os desempregados e ossubempregados de nossas sociedades esto na realidade ativos na produo social, mesmoquando no ocupam uma posio assalariada (idem, p.178).

    O conhecimento dos indgenas do uso medicinal das plantas; a diversidade cultural dasmanifestaes populares, a organizao poltica comunitria; os estilos de vida das mulheres,jovens, dos negros, dos moradores da periferia e dos centros, das tribos, etc, so exemplos geraisda capacidade produtiva de valor daquilo que seria classificado como o improdutivo, o pobre.

    Contudo, a pobreza precisa ser extensa a um conceito que a tome como incapacidade de produzira prpria vida. Porque, no cenrio contemporneo do capitalismo, a pobreza o avesso daliberdade (de criar, de se expressar, de produzir em comum, de constituir mercados, de seassociar, de se deslocar, etc). E sendo avesso da liberdade, a pobreza significa a limitao daproduo do comum a linguagem, a cultura, o pensamento, as idias, o conhecimento, a cinciaetc. Por isso que a encarnao da resistncia ser a prpria insistncia desses pobres em produzira prpria vida, mesmo correndo risco do lucro pela produo ir para o outro lado, como dizem

    Negri & Hardt (2005).Temos percebido, no s nas inovaes tecnolgicas criadas e alimentadas pelos usurios dasredes virtuais, mas tambm no tecido social, que a novidade do cenrio da produocontempornea a multiplicidade, com visibilidade global, da criao realizada pelos sujeitossociais precrios aquilo que mal ou bem denominamos h algum tempo de produoindependente, nas artes, na poltica, na economia, na cincia, na comunicao.

    Em todos esses setores, h uma diversidade de iniciativas alternativas ao modo vigente deconstruo desses campos, que se expressam em experincias como o oramento participativo, amedicina alternativa, a produo do precariado da cultura, as tecnologias colaborativas da Web2.0, para ficar em exemplos triviais. Em comum, tm o fato de serem tentativas de construir um

    outro mundo, tal como reza o lema do Frum Social Mundial. Um mundo do comum.A tendncia cada vez mais a ampliao e valorizao da produo das bordas. A desgraa que esta se realiza das bordas da produo. Vive com computador doado, vive com a cmerausada, vive com o celular pr-pago, vive com o teatro com goteira, enfim, produzem na lgicada gambiarra. Vive num espao da precariedade, mas que insiste em produzir. O que faz comque essa realidade no seja somente a das periferias pobres; uma situao real de todos.

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    A pobreza tambm resultado do no-acesso ao excedente que a cooperao social produz, sejaporque necessrio compr-lo, seja porque no se d acesso infra-estrutura que possibilita produo do e no comum. A realidade da ontologia do ser imaterial que mesmo pobre no umexrcito industrial de reserva, mas uma condio geral daqueles que se vem impossibilitadosde produzir porque h a privatizao do comum. Alm disso, a explorao no se conforma emtomar para si o comum, mas ainda os processos de cooperao produtiva do comum. Tanto oproduto, quanto o processo, desde que inovadores, so objetos de captura e de domnio dos

    dispositivos do comando capitalista. Se a funo da explorao a de sufocar, reduzir espao,mobilidade, alm da capacidade de cooperao e criao do valor, ento o pobre no somenteum excludo, mas o sujeito exemplar da explorao (Negri & Hardt, 2005, 111).

    Artigo recebido em 07/06/2009 e aprovado em 15/07/09.

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