o uso dos bairros

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O uso dos bairros Não existe nenhuma relação entre boa moradia e bom comportamento. Da mesma forma, não se pode depender de escolas, apesar de serem importantes para a recuperação de bairros ruins e a criação de bairros de sucesso. Um bom prédio escolar também não garante a educação e em bairros ruins, elas acabam arruinadas. Jacobs diz que devemos pensar o bairro como órgãos autogovernados. O que é diferente de bairros autossuficientes. Na autogestão formal ou informal os próprios moradores se sentem responsáveis pelo seu bairro e se empenham em torná-lo próspero e agradável através de ações coletivas e até mesmo individuais. Já no bairro autossuficiente, o bairro deve ser voltado pra si, como se eles não fizessem parte de um organismo maior que é a cidade. Isto talvez se aplique a comunidades e povoados pequenos, não às grandes cidades.

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Page 1: O Uso Dos Bairros

O uso dos bairros

Não existe nenhuma relação entre boa moradia e bom comportamento.

Da mesma forma, não se pode depender de escolas, apesar de serem

importantes para a recuperação de bairros ruins e a criação de bairros de

sucesso. Um bom prédio escolar também não garante a educação e em bairros

ruins, elas acabam arruinadas.

Jacobs diz que devemos pensar o bairro como órgãos autogovernados.

O que é diferente de bairros autossuficientes.

Na autogestão formal ou informal os próprios moradores se sentem

responsáveis pelo seu bairro e se empenham em torná-lo próspero e agradável

através de ações coletivas e até mesmo individuais.

Já no bairro autossuficiente, o bairro deve ser voltado pra si, como se

eles não fizessem parte de um organismo maior que é a cidade. Isto talvez se

aplique a comunidades e povoados pequenos, não às grandes cidades.

Page 2: O Uso Dos Bairros

Para perceber como estes bairros autossuficientes são prejudiciais às

cidades, recorremos a um exemplo de Jacobs:

Dentro dos limites de uma cidadezinha ou de uma vila, os laços entre os

habitantes se cruzam e voltam a se cruzar, o que pode resultar em

comunidades fundamentalmente coesas [...] Porém, uma coletividade de 5 mil

ou 10 mil moradores de uma metrópole não possui esse mesmo grau natural

de inter-relacionamento [...] Nem mesmo o planejamento de bairros, por mais

agradável que tente ser, consegue mudar esse fato. Se conseguisse, seria à

custa da destruição da cidade, convertendo-a numa porção de cidadezinhas

(JACOBS, op. cit., p. 126).

Para Jacobs os bairros precisam também prover meios de autogestão civilizada. Ela

localiza três tipos de organizações, cada uma com uma função diferente, mas que se

complementam:

1 – A cidade como um todo;

2 – a vizinhança de rua e;

3 – distritos extensos de 100 mil habitantes ou mais.

A cidade como um todo:

Page 3: O Uso Dos Bairros

A vantagem das cidades é justamente a variedade de opções e oportunidades.

Estas escolhas dos moradores constituem e sustentam a maioria das atividades

culturais e empresas da cidade. Com isto Jacobs quer dizer que a falta de autonomia

tanto econômica quanto social nos bairros é natural e necessária, pois estes bairros

são integrantes da cidade. A cidade, é o local ideal para reunir pessoas com

interesses específicos. Aqui, os moradores vêm em busca de música, teatro, trabalho

etc. Um dos maiores êxitos da cidade é formar comunidades com interesses em

comum.

http://www.top10listland.com/top-10-biggest-cities-in-the-worl

hp://www.top10litland.com/top-10-biggest-

cities-in-the-world/

http://www.top10listland.com/top-10-

biggest-cities-in-the-world/

Num bairro, as vizinhanças devem ter meios efetivos de pedir auxílio

diante de um problema de grandes proporções que a própria rua não consiga

resolver. Contudo a vizinhança não é uma unidade separada e o seu tamanho

varia até mesmo para as pessoas do mesmo lugar.

Page 4: O Uso Dos Bairros

http://builtenvironmentblog.blogspot.com.br/2007/10/not-so-superblock.html

É claro que existem os casos da vizinhança isolada, com limites

definidos, é o caso das quadras longas, que sempre tendem ao isolamento

físico.

4°Distrito Porto Alegre

Antiga região industrial da cidade formada pelos bairros Floresta, São

Geraldo, Navegantes, Anchieta, São João, IAPI, Passo D’Areia, Humaitá e

Farrapos, que foi gradualmente abandonada na segunda metade do século

passado.

O terceiro tipo que propicia a autogestão é o distrito. A função principal

de um distrito bem sucedido é servir de mediador entre as vizinhanças e a

cidade como um todo. Com isto, queremos dizer que, apesar de

Page 5: O Uso Dos Bairros

indispensáveis, a vizinhança não tem força política, diferente da cidade como

um todo.

“Podemos entende como distrito uma divisão administrativa de município

ou cidade, que pode compreender um ou mais bairros”. 

Os distritos podem ajudar a implantar os equipamentos urbanos onde

eles são mais necessários para os bairros. O distrito precisa ser grande e forte

para brigar na prefeitura, para ter força na vida da cidade como um todo.

Quando uma rua luta sozinha contra um dos maiores problemas da cidade

grande, ela nunca conseguirá resolver. Se as ruas não contarem com cidadãos

influentes e engajados na vivência coletiva, a rua ficará totalmente indefesa.

O bairro ideal da teoria do planejamento é grande demais para funcionar como

vizinhança e pequeno demais para ser um distrito. Se as três únicas formas de

organização demonstram ter funcionalidade proveitosa para a autogestão, o

planejamento deve, portanto, almejar quatro metas:

1- As ruas precisam ser vivas e atraentes;

As pessoas devem sentir-se atraídas por coisas que se mostram úteis,

interessantes e convenientes. As pessoas não buscam, nas cidades, locais

idênticos aos outros.

2- O tecido urbano dessas ruas precisa formar a malha urbana mais

contínua possível por todo o distrito;

Page 6: O Uso Dos Bairros

Outro ponto

fundamental para a formação de um distrito efetivo é a relação ativa entre as

pessoas, geralmente líderes, que ampliam sua vida pública local para além da

vizinhança. Estas pessoas conhecem outras bem diferentes, que moram em

partes diferentes da cidade. Isto faz com que as correntes de comunicação e

mobilização fiquem mais curtas. Os distritos incipientes ou ligeiramente

instáveis estão sempre sendo seccionados, subdivididos ou convulsionados por

políticas públicas urbanas equivocadas.

3- Os parques, praças e edifícios públicos devem ser utilizados de forma

que produza complexidade e multiplicidade de usos;

As diferenças é que propiciam a interação de usos e, assim, a

identificação das pessoas com uma área maior que a vizinhança. Os centros

de atividades nascem em distritos vivos e diversificados. Os estabelecimentos

comerciais, culturais e as diferentes paisagens também ajudam o distrito na

construção de sua identidade.

4- Enfatizar a identidade da área para que funcione como distrito.

Page 7: O Uso Dos Bairros

A maioria das pessoas se identifica com os lugares da cidade quando

passam a utilizá-los

A região do bairro Floresta entre as avenidas Cristóvão Colombo e

Farrapos está fervendo; e dá o exemplo de como o outro lado do distrito, o

histórico, pode se recuperar: com convivência, cooperação, sinergia.

Vila Flores

Brechó de rua da São Carlos são

projetos que movimentam a região

Foto: Thiago Tieze, Agencia RBS

Entre os espaços culturais da região, destaca-se o Vila Flores, um

complexo arquitetônico formado por três edificacações, atualmente, em

processo de restauro. Situado na Rua São Carlos, esquina com a Rua

Hoffmann, ele foi construído entre os anos 1925 e 1928, com projeto

arquitetônico de Joseph Lutzenberger, pai do ambientalista José Lutzenberger.

O prédio recebe atualmente peças do festival Palco Giratório.

Conclusão:

De tempo em tempo, as pessoas trocam de emprego, de local de

trabalho, ampliam suas amizades e interesses, a família aumenta ou até

mesmo os gostos se alteram. Se estes tipos de pessoas vivem em distritos

atrativos, diversificados e não monótonos e, ainda, se elas gostam do lugar,

estas pessoas podem permanecer independentemente destas mudanças. É

diferente com as pessoas do interior que precisam mudar para grandes cidades

em busca de novas oportunidades. Os moradores urbanos não precisam fazer

isto.

Page 8: O Uso Dos Bairros

O importante é compreendermos os princípios que fundamentam o

comportamento das cidades, assim podemos aproveitar de vantagens e pontos

fortes em vez de atuarmos contrariamente a eles.