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ARTIGO DE REVISÃO

O uso de tecnologias pré e pós-colheita e boas práticas agrícolas naprodução de plantas medicinais e aromáticas.

Marchese, J.A. 1, Figueira, G.M. 2

1Laboratório de Bioquímica e Fisiologia Vegetal do CEFET-PR/AGRONOMIA, Pato Branco-PR, CEP 85503-390([email protected]); 2Divisão de Agrotecnologia do CPQBA-UNICAMP, Paulínia-SP, CEP 13140-000([email protected]).

RESUMO: A qualidade das plantas medicinais é obtida durante todo o processo produtivo, desdea identificação botânica, escolha do material vegetal, época e local de plantio, tratos culturais,determinação da época de colheita e cuidados na colheita. A pós-colheita das plantas medicinaisé o conjunto de processos realizados visando preservar a qualidade do produto adquirida atravésdas técnicas adequadas de cultivo, para aumentar o período de conservação deste produto. As“boas práticas agrícolas em plantas medicinais e aromáticas” são um conjunto de tecnologiasusadas na obtenção do máximo da qualidade para a droga vegetal.

Palavras-Chave: cultivo, plantas medicinais, secagem, metabolismo secundário.

ABSTRACT: The use of pre and post-harvest technologies and good agricultural practicesin the production of medicinal and aromatic plants. The quality of the medicinal plants isobtained during the whole productive process, from the botanical identification, the choice of thevegetal material, the time and plantation place, the cultural treatments, the determination of theharvest time and the care for the crop. The post-harvest of the medicinal plants is the group ofprocesses used to preserve the quality of the product acquired through the suitable techniques ofcultivation to increase the period of conservation of this product. The “good agricultural practices”in medicinal and aromatic plants are a group of technologies used for the obtaining of the maximumof the quality for the vegetal drug.

Key words: medicinal plants, cultivation, drying, secondary metabolism.

Recebido para publicação em 03/05/2004Aceito para publicação em 21/03/2005

INTRODUÇÃOA qualidade das plantas medicinais e

aromáticas é obtida durante todo o processo produtivo(pré-colheita) desde a identificação botânica, escolhado material vegetal, época e local de plantio, tratosculturais, determinação da época de colheita ecuidados na colheita de modo a garantir o máximoda qualidade para o produto. Não é possível melhoraresta qualidade através do processamento pós-colheita, mas sim, minimizar suas perdas.

A pós-colheita de um produto agrícola é oconjunto de processos realizados visando preservara qualidade do produto adquirida através das técnicasadequadas de cultivo, para aumentar o período deconservação deste produto.

A produção de plantas medicinais earomáticas apresenta aspectos técnicos que podemdefinir a sua viabilidade econômica. O produto agrícola(planta medicinal, aromática ou condimentar), matéria

prima para a indústria farmacêutica e/ou alimentícia,em geral é processado em locais distantes de seucultivo, podendo ser armazenado para ser processadodurante um período após sua colheita. Sendo assim,a secagem representa uma operação amplamenteutilizada, porém as condições variam de acordo coma infra-estrutura de cada propriedade, muitas vezescomprometendo a qualidade do produto no final deseu processo produtivo. Portanto o processamentopós-colheita envolve desde a colheita, observando-se uso de mão-de-obra e equipamentos adequados;a separação da parte de interesse, eliminando-separtes deterioradas e materiais estranhos; o processoda secagem; nova separação do produto; aembalagem e o armazenamento.

PRÉ-COLHEITADe nada adianta observar que os

procedimentos durante a colheita e o processamento

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pós-colheita sejam adequados (no sentido de sepreservar a qualidade do material vegetal), se duranteo processo produtivo (pré-colheita) não se verificamos mesmos cuidados.

Além da correta identificação botânica, énecessária a escolha de genótipos superiores queproduzam grande quantidade de fitomassa e altosteores de principios ativos ou complexos ativos. Avariação do número de cromossomos (Tabela 1), apresença de quimiotipos dentro de uma mesmaespécie medicinal, além da ontogenia, podeinfluenciar o teor e a constituição dos compostossecundários.

A definição do local e da época de plantiotambém são fundamentais para se obter o máximode rendimento de fitomassa e de substânciasbioativas. Os fatores do ambiente que mais afetam ocrescimento e o desenvolvimento das plantas são ofotoperíodo, a radiação e a temperatura.

Plantas sensíveis a duração do dia ou danoite têm seu desenvolvimento condicionado aofotoperíodo indutivo (FI), e florescem, entram emdormência ou tuberizam, quando o FI é satisfeito.Um exemplo de planta sensível ao fotoperíodo é aJacaranda decurrens (carobinha), planta medicinal docerrado brasileiro que possui os princípios ativos deinteresse no sistema radicular e prioriza o acúmulode biomassa na raiz/xilopódio durante os períodosde outono/inverno, quando o fotoperíodo e adisponibilidade hídrica diminuem (Figura 1). Outroexemplo é a Artemisia annua L., classificada comouma planta de dias curtos obrigatória, que somente

floresce sob dias curtos (Marchese et al., 2002, 2005)e apresenta o maior acúmulo de artemisinina após aindução floral (Morales et al., 1993).

A variação da intensidade luminosa(irradiância) e temperatura durante o ano são funçãoda sazonalidade e latitude dos locais de cultivo. Emgeral, para plantas de clima tropical que sãotermoperiódicas e heliófitas (plantas de sol), asestações mais quentes e de maior radiação coincidemcom a fenofase de maior produção de biomassa. Amesma lógica vale para a produção de óleosessenciais, onde geralmente a maior produção estáassociada a maior radiação e maior taxa fotossintéticadas plantas. Sabe-se hoje da ocorrência dabiossíntese completa de terpenos em plastos, comoos cloroplastos, através da via do Metil-eritritol-fosfatoou 3-PGA/Piruvato (Lichtenthaler, 1999; Chappell,2002), fato que associa diretamente a produção deóleos essenciais com a fotossíntese. Todavia, altasirradiâncias em plantas esciófitas (plantas de sombra)como Photomorphe umbellata, normalmente causamsintomas de clorose e necrose com a fotodegradaçãodos cromopigmentos, levando a redução dafotossíntese (Marchese et al., 2004) e da biomassa(M\ttana et al., 2004) (Figura 2). Estas espéciessempre produzirão mais biomassa em condições deluz difusa e recomenda-se o seu cultivo em consórcio,sob o dossel de plantas de maior porte ou em sub-bosque.

Segundo Ming et al. (2003) a busca domelhor local para cultivar uma espécie vegetal e amelhor época de plantio, caminha necessariamente

TABELA 1. Influência do número de cromossomos nos constituíntes secundários de algumas plantas medicinais(adaptado de Trease & Evans, 1989).

FORMA

OUTROS4n2nCONSTITUINTESPLANTA

0,14-0,11 (1n)

0,01 (1n)

8n 30% > 2n

0,27 (1n)

3n 100% >

68% > 2n

60-150% > 2n

1,12

0,32-0,46

10,0

0,05

< ou = 2n

< ou = 2n

0,04-0,15

0,21

0,03

0,53

0,25

6,0

0,48

0,04-0,09

Alcalóides tropânicos totais (%MS)

Iozina (%MS)

Atropina (%MS)

Alcalóides tropânicos totais (%MS)

Alcalóides tropânicos totais (%MS)

Quinino (%MS)

Morfina (prod./área)

Alcalóides (%MS)

Óleo essencial (%)

Óleo essencial (%)

Glicosídeos totais (%)

Glicosídeos totais (%)

Ácido ascórbico (%)

Atropa belladonna

Datura innoxia

Datura stramonium

Hyoscyamus niger

Chinchona succirubra

Opium poppy

Lobelia inflata

Carum carvi

Mentha spicata

Digitalis lanata

Digitalis purpurea

Capsicum sp.

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pela definição de um zoneamento agroclimático paraas plantas medicinais e aromáticas.

Com relação aos tratos culturais, irrigação eadubação são os principais fatores que afetam orendimento das substâncias bioativas e, porconseqüência, a qualidade das plantas medicinais earomáticas. Um dos fatores mais importantes que

afetam a produção de metabólitos secundários é aágua (Franz, 1983; Palevitch, 1987). Usualmente,quantidades limitadas de água tem um efeito negativosobre o crescimento e desenvolvimento das plantas.Entretanto, a deficiência hídrica moderada muitasvezes têm se mostrado positiva no acúmulo desubstâncias bioativas em espécies medicinais,

DAE

250 300 350 400 450 500 550 6000

1

2

3

4

5

6y = 8E-05x2 - 0,0544x + 9,1674

R2 = 0,9839

p < 0,0001

início dooutono

DAE

250 300 350 400 450 500 550 600

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2

1,4

1,6

1,8

2,0y = -2E-05x2 + 0,0228x - 4,9533

R2 = 0,9893

p < 0,0001

início dooutono

Mas

sa s

eca

de ra

iz (g

)

Mas

sa s

eca

de fo

lha

(g)

FIGURA 1. Biomassa seca de folha e de raíz em função de diferentes épocas de colheita – dias após a germinação (DAE)- em Jacaranda decurrens (02/09/02 – 290 DAE; 02/12/02 – 380 DAE; 02/03/03 – 470 DAE; 02/06/03 – 560 DAE). UNESP/BOTUCATU-SP, 2002/2003. Adaptado de Guerreiro et al. (2004).

PARIrradiância (µmol m-2 s-1)

200 400 600 800 1000 1200 14004,5

5,0

5,5

6,0

6,5

7,0

7,5

8,0

8,5y = -3E-08x3 + 7E-05x2 - 0,0396x + 11,125R2 = 1p < 0,052

)

PARIrradiância (µmol m-2 s-1)

200 400 600 800 1000 1200 140025

30

35

40

45

50

55y = -2E-07x3 + 0,0004x2 - 0,2182x + 79,569R2= 1p < 0,0007

Fot

ossí

ntes

e (µ

mol

m-2 s

-1)

Mas

sa s

eca

de fo

lhas

(g/p

lant

a)

FIGURA 2. Massa seca de folhas e fotossíntese em pariparoba (Pothomorphe umbellata) sob diferentes níveis deRadiação Fotossintéticamente Ativa (PAR) ou sombreamento (1254 mmol m-2 s-1 = pleno sol; 835 mmol m-2 s-1 = 30%sombra; 580 mmol m-2 s-1 = 50% sombra e 284 mmol m-2 s-1 = 70% sombra). UNESP/BOTUCATU-SP, 2003. Adaptado deMattana et al. (2004) e Marchese et al. (2004).

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aromáticas e condimentares, como pode serverificado na Tabela 2 (Gershenzon, 1984; Palevitch,1987). Neste caso, segundo Marchese (1999), éimportante ressaltar que um aumento naconcentração ou teor de compostos secundários sobcondição de estresse, não significa necessariamenteum aumento no rendimento destes compostos(produção por planta ou por área cultivada), poisgeralmente ocorre uma redução da fitomassa em faceda concorrência por assimilados entre o metabolismosecundário e o metabolismo primário (Figura 3).

Na Tabela 3 pode-se verificar um resumo decomo a deficiência nutricional pode afetar o teor dasdiversas classes de substância bioativas. Nestasituação, vale a mesma observação feita no parágrafoanterior sobre o comportamento das plantas emcondição de estresse, quando a carência de umnutriente pode estimular a produção de uma

determinada classe de compostos, p.ex. fenóis.Todavia, isso ocorrerá em detrimento da produção defitomassa, podendo afetar o rendimento dassubstâncias de interesse.

A tentativa de definir um comportamentopadrão ou uma regra para a produção de substânciasbioativas das plantas medicinais e aromáticas sobestresse é equivocada, sendo necessários estudospor espécie e entre variedades de uma mesmaespécie, para poder inferir sobre o manejo adequadodestas plantas na etapa pré-colheita.

COLHEITAA colheita de cada planta medicinal deve ser

realizada quando houver, preferencialmente, a maiorprodução conjunta de biomassa e princípio ativo deacordo com a característica da espécie e da parte deinteresse da planta.

TABELA 2. Resumo do efeito da deficiência hídrica na concentração de metabólitos secundários em plantas superiores.Legenda: (?) varia conforme a espécie (Adaptado de Gershenzon, 1984).

DEFICIÊNCIA HÍDRICACLASSE DE METABÓLITO SECUNDÁRIO

aumenta a concentração

aumenta a concentração

aumenta a concentração

?

aumenta a concentração

diminui a concentração

glicosídeos cianogênicos

glucosinolatos e outros compostos sulfurosos

alcalóides

fenóis

terpenos

herbáceas e arbustos

árvores

ASSIMILAÇÃO LÍQUIDA

MATABOLISMO SECUNDÁRIO

TAXA DE CRESCIMENTO RELATIVO (TCR)

BAIXA DISPONIBILIDADE DE RECURSOS ALTA

ASSIMILAÇÃO LÍQUIDA

MATABOLISMO SECUNDÁRIO

TAXA DE CRESCIMENTO RELATIVO (TCR)

ASSIMILAÇÃO LÍQUIDA

MATABOLISMO SECUNDÁRIO

TAXA DE CRESCIMENTO RELATIVO (TCR)

BAIXA DISPONIBILIDADE DE RECURSOS ALTA

FIGURA 3. Taxa de assimilação líquida, taxa de crescimento relativo e metabolismo secundário, em resposta a mudançasna disponibilidade de recursos (Adaptado de Herms & Mattson, 1992).

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Existem algumas regras gerais que indicama melhor época em função da parte da planta:

a) raízes, rizomas, tubérculos e bulbosdevem ser colhidos durante o inverno, após o períodode máximo acúmulo, quando entram em repouso(Figura 1);

b) cascas devem ser colhidas nas estaçõesde maior umidade, quando a retirada das mesmas éfacilitada, reduzindo riscos de danos permanentesas plantas;

c) folhas em geral são colhidas no início dafloração. Algumas espécies permitem vários cortes.Colheitas no final do período seco permitem uma boaregeneração durante o período chuvoso;

d) flores e sumidades floridas devem sercolhidas antes da formação das sementes, porémdevem estar completamente abertas, o que facilita asecagem;

e) frutos devem ser colhidos pouco antes damaturação.

Além da época de colheita, as substânciasbioativas apresentam variação em funcão do períododo dia em que as plantas são colhidas, como porexemplo, os óleos essenciais, que geralmenteatingem o teor máximo nos horários da manhã (Reis& Mariot, 2000).

A possível explicação para a maior produçãodos óleos essenciais ser matutina, deve-se ao fatode existir mais radiação fotossintéticamente ativa(PAR) disponível pela manhã e uma maior taxafotossintética. A maior produção terpenos,principalmente os monoterpenos, é dependente dafotossíntese e ocorre nos cloroplastos, através da viado Metil-eritritol-fosfato. No final da manhã e durantea tarde, devido a elevação da temperatura do ar, háum aumento na respiração celular e uma diminuiçãoda condutância estomática, provocando uma reduçãoda fotossíntese, contribuindo para a queda da síntesede terpenos e do teor de óleo essencial nas plantasnesses horários.

Com relação a colheita de uma maneira geral,deve-se observar as condições climáticas mais

favoráveis como: não colher com chuva, solo molhado,ou elevada umidade relativa do ar, pois o processo desecagem e a qualidade do material podem serprejudicados.

Equipamentos utilizados na colheita eacondicionamento para o transporte das plantasdevem estar limpos e em boas condições. A colheitadeve garantir ao produto o mínimo de partículas desolo, não devendo ser colocado em contato com ochão.

Após a colheita deve-se separar todo materialestranho como insetos, partes de outras plantas, alémde partes da própria planta deterioradas por pragasou doenças, sendo o material de interesse colocadono local de secagem.

A distribuição do produto no local a serutilizado para a secagem deve ser uniforme paragarantir a homogeneização da secagem,preferencialmente sem a necessidade demovimentação do material, que pode danificá-lo, alémde ser mais uma etapa que envolve mão-de-obra eum risco a mais de contaminação.

O PROCESSO DE SECAGEMA secagem é a eliminação da água de um

produto por evaporação, com transferência de calor emassa. É necessário o fornecimento de calor pararetirar a umidade do produto e um agente que absorveo vapor d’água formado na superfície do produto. Oresultado é a separação entre a parte líquida (em geralágua) e a parte sólida.

No caso de material vegetal, a parte sólidacontém metabólitos primários, metabólitossecundários e minerais, em concentrações variáveis.Na secagem ocorre o arraste da água (vapor) devidoa diferença entre a pressão parcial do vapor de águana superfície do produto (maior) e a pressão parcialdo vapor de água no ar.

As características específicas de cadaproduto, associadas as propriedades do ar desecagem e ao meio de transferência de calor adotado,determinam diversas condições de secagem.

TABELA 3. Resumo do efeito da deficiência nutricional na concentração de metabólitos secundários em plantassuperiores. Legendas: (+) aumenta; (-) diminui; (?) varia conforme a espécie (Adaptado de Gershenzon, 1984).

-N -P -K -S CLASSE DE METABÓLITO SECUNDÁRIO

-

+

- ? +

+ + + +

? + ? -

glicosídeos cianogênicos

glucosinolatos e outros compostos sulfurosos

alcalóides

fenóis

terpenos

herbáceas e arbustos

árvores

-N -P -K -S CLASSE DE METABÓLITO SECUNDÁRIO

-

+

- ? +

+ + + +

? + ? -

glicosídeos cianogênicos

glucosinolatos e outros compostos sulfurosos

alcalóides

fenóis

terpenos

herbáceas e arbustos

árvores

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A transferência de calor e de massa entre oar de secagem e o produto é um fenômeno comum aqualquer condição de secagem. O processo desecagem, baseado na transferência de calor e massa,pode ser dividido em três fases (Figura 4).

Na Figura 4, as curvas de evolução do teorde água do produto (a), cinética de secagem (b) eevolução da temperatura do produto (c) descrevemfases do processo de secagem, que são divididasem zero, um e dois.

O período 0 representa o início da secagem,quando o produto está mais frio do que o ar e a pressãoparcial de vapor da água na superfície do produto émínima, não havendo transferência de massa. Coma elevação da temperatura do produto e da pressãoda água, atinge-se o ponto em que há transferênciade massa.

No período 1, a taxa e a velocidade desecagem são constantes. Neste período a quantidadede água livre a ser removida é grande, e enquanto amigração de água do interior até a superfície do produtofor suficiente para acompanhar a perda por evaporaçãoas curvas permanecem constantes. Dependendo domaterial biológico muitas vezes existe uma resistênciapara a transferência de massa do interior do produtofazendo com que a taxa de evaporação seja superiora taxa migração de umidade do interior a superfície.

O período 2 é quando se observa uma taxadecrescente na velocidade de secagem. Nesta fasehá uma redução significativa na velocidade demigração da umidade do interior para a superfície doproduto. A temperatura do produto aproxima-se da

temperatura do ar de secagem e quando o produtoatinge o ponto de umidade de equilíbrio o processo éencerrado.

O teor de umidade em plantas varia conformea parte da planta e/ou espécie utilizada, e o processode secagem reduz este teor a valores entre 5 e 12%.

As sementes e os frutos secos geralmentepossuem uma umidade entre 10 a 20% no momentode colheita; as cascas contém entre 30 e 40%; asfolhas entre 60 e 90%; as raízes entre 70 e 85% eflores e frutos carnosos entre 80 e 90% de umidade.

O processo de secagem interrompe adegradação por processos metabólicos, e impede odesenvolvimento de microorganismos. A temperaturado ar de secagem pode variar entre 35 e 70ºCdependendo da parte da planta e conhecimento sobrea substância de interesse. Plantas que contenhamsubstâncias voláteis devem ser secas emtemperaturas inferiores a 40ºC (Corrêa Júnior et al.,1994; Furlan, 1998; Silva, 1998; Martins, 2000; Arrudaet al., 2002; Chagas et al., 2003; Figueira et al.,2003).

Para plantas com substâncias termolábeis,deve-se verificar a temperatura segura para evitar adegradação do princípio ativo. A perda de princípioativo em muitos casos não é evitada, mas cuidadosno processo de secagem minimizam tal perda,sabendo-se que a presença da água após a colheitatambém levaria a perdas por degradação edeterioração.

As reações químicas ocorrem entre ospróprios componentes da planta, podendo ocorrer logo

0 1 2

c

Ta

x

t

dx/dt

a

b

0 1 2

c

TaTa

x

t

dx/dt

a

b

FIGURA 4. Curvas características de cinética de secagem (curvas de evolução do teor de água do produto (a), cinética desecagem (b) e evolução da temperatura do produto (c) descrevem fases do processo de secagem, que são divididas emzero, um e dois) (Adaptado de Cornejo, 1987).

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As condições de secagem devem serdocumentadas assim como as demais etapas daprodução da matéria prima. Após o final do processoda secagem o material de interesse vai ser separadoe acondicionado em embalagem apropriada para evitarrisco de ataque de pragas de armazenamento eabsorção de umidade do ambiente.

A embalagem deve conter um rótulo deidentificação do produto, data, peso, e demaisinformações relevantes.

ARMAZENAMENTOO local de armazenamento deve ser seco,

ventilado, protegido da luz, de insetos e de roedores(Furlan, 1998). As embalagens devem permanecerlevantadas do chão em estantes.

Recomenda-se os seguintes critérios para aestocagem dos produtos: prédios com pisos de fácillimpeza; embalagens mantidas sobre estrados;manter distância suficiente das paredes; manterseparação física entre os produtos diferentes para seevitar uma contaminação cruzada.

CONSIDERAÇÃO FINALA qualidade da matéria prima vegetal será

obtida mediante o uso de boaspráticas agrícolas em plantas medicinais earomáticas (Máthé & Franz, 1999) durante todo oprocesso produtivo, desde a identificação botânica,escolha do material vegetal, época e local de plantio,tratos culturais, determinação da época de colheita,cuidados no processamento, embalagem earmazenagem até o momento do seu uso, de modoa garantir o máximo da qualidade para o produto. Nãoé possível, portanto, melhorar esta qualidade atravésdo processamento pós-colheita, mas sim minimizarsuas perdas.

Em anexo encontra-se a versão européia deum guia de boas práticas agrícolas para a produçãode plantas medicinais e aromáticas. Este é umimportante guia a ser observado por todos aquelesque desejam produzir uma matéria prima de qualidade,além de possibilitar uma capacitação para atingir omercado internacional.

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ANEXO 1 – REPRODUÇÃO DO GUIA PARABOAS PRÁTICAS AGRÍCOLAS (BPA) EMPLANTAS MEDICINAIS E AROMÁTICAS (versãoeuropéia n 0 1, de 05/08/1998, segundo MÁTHÉ &FRANZ, 1999).

Este guia de Boas Práticas Agrícolas dePlantas Aromáticas e Medicinais se aplica à produçãoe processos primários de todas as plantas utilizadasna União Européia, para fins medicinais, flavorizantes,perfumaria e alimentação. Também se aplica a todosos métodos de produção, incluindo agriculturaorgânica. O objetivo deste guia é reduzir ao mínimo acontaminação microbiana, e reduzir ao máximoefeitos negativos durante o cultivo, processamento eestocagem.

1. Sementes e material de propagação1.1 Sementes devem ser identificadas

botanicamente, indicando a variedade, cultivar eorigem. O material empregado deve ser 100%rastreável. O mesmo se aplica a material propagadovegetativamente.

1.2. Material deve ser livre de pragas edoenças.

1.3. A presença de plantas ou partes deplantas com diferenças em relação ao material originaldeve ser controlado ao longo do processo (cultivo,colheita, secagem, empacotamento). Qualquerimpureza deve ser eliminada.

2. Cultivo2.1. Método convencional ou orgânico.

Rotação de culturas.2.2. Solo e fertilização

2.2.1. Não devem ser cultivadas emsolos contaminados com metais pesados, resíduosde defensivos ou outro produto químico.

2.2.2. Estrumes devem ser livres defezes humanas e totalmente compostados.

2.2.3. Fertilizantes devem seraplicados de forma reduzida e de acordo com ademanda da planta. É importante canalizar esforçospara se evitar a lixiviação.

2.3. Irrigação2.3.1. Deve ser minimizada ao

máximo e somente aplicada de acordo com asnecessidades da planta.

2.3.2. Uso de água praticamente livrede contaminantes, como fezes,metais pesados, pesticidas, herbicidas e substânciastoxicologicamente perigosas.

2.4. Manutenção e proteção da cultura2.4.1. A terra deve ser própria ao

crescimento e requerimentos das plantas.2.4.2. Aplicação de pesticidas e

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herbicidas deve ser evitada ao máximo. Quandonecessário, deve ser empregado o mínimo indicadopara o controle. Produtos para proteção química dasplantas devem estar em conformidade com os limitesmáximos de resíduos estabelecidos pela UniãoEuropéia (European Pharmacopoeia, EuropeanDirectives, Codex Alimentarius). A aplicação dessesprodutos deve ser feita por pessoal treinado e comuso de equipamento aprovado e deve ser feita antesda colheita respeitando o período definido pelofabricante. O uso de pesticidas deve serdocumentado.

2.4.3. Todas as dosagens desuprimento nutricional e proteção química, devemestar dentro da margem de segurança. É obrigatórioque o comprador seja informado sobre a marca,quantidade e data de aplicação do pesticida usado.

3. Colheita3.1. A colheita deve ser feita quando as plantas

estiverem com a melhor qualidade, de acordo comas diferentes utilizações.

3.2. Deve ser feita quando as condições foremfavoráveis (solo úmido, orvalho, chuva ou alta umidadedo ar devem ser evitadas). Caso a colheita seja feitaem condições úmidas, cuidados extras devem sertomados.

3.3. Os equipamentos devem estar limpos eem perfeito estado de funcionamento. As partes queestarão em contato direto com as plantas devem serregulamente limpas e livres de óleo ou outros agentescontaminantes.

3.4. Cortadeiras devem ser ajustadas paralevantar ao mínimo as partículas de solo, evitandoentrar em contato.

3.5. Durante a colheita cuidados devem serfeitos para que ervas daninhas sejam misturadas aomaterial colhido.

3.6. Plantas danificadas ou estragadas devemser prontamente eliminadas.

3.7. Todos os recipientes utilizados na colheitadevem ser limpos e livres de qualquer resíduo decolheitas prévias; recipientes não utilizados devemser mantidos em ambiente seco, limpo e inacessívela roedores ou outros animais.

3.8. O material colhido não deve entrar emcontato com o solo. Deve ser prontamentetransportado em condições secas e limpas (pode-seusar sacos, cestas, etc.)

3.9. Danos mecânicos e compactação dacolheita pode resultar em perda da qualidade.

3.10. Entrega de material recém colhido paraprocessamento deve ser o mais rápido possível parase evitar perdas da qualidade.

3.11. O material colhido deve ser protegido depestes, roedores, ou outros animais domésticos.Medidas de controle devem ser documentadas.

4. Processamento primárioEntende-se como processamento primário

após a colheita, a lavagem, congelamento, secagem,etc. Todos esses processos sejam eles para usoalimentar ou medicinal, devem estar em conformidadecom as regulamentações da União Européia.

4.1. O material colhido ao chegar na unidadede processamento, deve ser imediatamentedescarregado e desempacotado, não deverá serexposto diretamente ao sol (exceto em casosespecíficos, p.ex. destilação) e deverá ser protegidoda chuva.

4.2. Prédios usados no processamentodevem ser limpos, muito bem ventilados e nãoutilizado para manter animais domésticos.

4.3. Os edifícios devem ser construídos paraproteger a colheita de pássaros, insetos, roedores eoutros animais, inclusive domésticos. Todas as áreasdevem ser monitoradas contra estas pestes utilizando-se iscas e equipamentos elétricos para matar insetos.

4.4. Equipamentos regularmente utilizadosdevem ser mantidos limpos.

4.5. No caso de secagem natural, a culturadeve ser espalhada em camadas finas, mantidas auma suficiente distância do chão para uma boauniformidade da secagem, evitando com isto oaparecimento de fungos. Ao se usar secadores a óleodevem ser evitadas as emanações da exaustão paraa secagem.

4.6. Exceto no caso da secagem natural,todas as condições como temperatura, duração, etc.devem levar em consideração o tipo de material (raiz,folha, flor), e a substância ativa que se deseja. Todasas condições de secagem devem ser documentadas.

4.7. Secagem diretamente no chão comexposição direta ao sol deve ser evitada, a menosque seja requerida por um motivo específico.

4.8. Todo material deve ser classificado oupeneirado, eliminando-se corpos estranhos. Aspeneiras devem ser mantidas limpas.

4.9. As lixeiras devem estar próximas,diariamente limpas e vazias.

4.10. O produto seco deve ser prontamenteembalado para proteção microbiológica e reduzir arisco de ataques de pragas.

5. Empacotamento5.1. Após repetidos controle e eventuais

eliminações de materiais de baixa qualidade eimpurezas, o produto deverá ser embaladopreferencialmente em sacos, sacolas ou caixasnovas, limpas e secas. A identificação deve ser clarae permanente.

5.2. Produtos empacotados devem serestocados em ambiente limpo e seco, livre de pragase inacessível a animais. Deve ser garantido que não

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ocorra contaminação devido ao material empregadono empacotamento, particularmente no caso desacos de fibras.

5.3. Na reutilização de material de embalagema mesma deve estar limpa e seca, garantido a nãocontaminação do produto.

6. Estocagem e transporte6.1. Após embalagem, produtos secos e óleos

essenciais devem ser estocados em ambientes comboa aeração e secos, onde a variação de temperaturaseja limitada. Produtos frescos devem ser estocadosentre 1oC e 5oC enquanto produtos congelados devemser mantidos a –18oC (ou abaixo de –20oC paraestocagem por longo período de tempo).

6.2. Utilize telas na portas e janelas para evitara entrada de pragas, pássaros, etc.

6.3. Recomenda-se os seguintes critérios paraestocagem dos produtos:

- prédios com pisos de fácil limpeza; sobreestrados; manter distância suficiente das paredes;uma boa separação física entre os produtos diferentespara se evitar contaminação cruzada; produtosorgânicos devem ser estocados separadamente.

6.4. No caso de se transportar grandes volumes,é importante assegurar-se de que as condições dotransporte sejam adequadas, ou seja, seca erecipientes ventilados a fim de reduzir o risco dedesenvolvimento fúngico ou processos fermentativos.Veículos que atendam a essas e outras condiçõessão recomendados.

6.5. A fumigação para controle pragas deve serrealizada caso seja extremamente necessária erealizada exclusivamente por pessoal qualificado.Somente os produtos químicos registrados devem serempregados. Todo o procedimento deve serdocumentado.

6.6. Para a fumigação dos armazéns, somenteas substâncias permitidas devem ser usadas deacordo com a União Européia ou regulamentosnacionais.

6.7. Sempre que se empregar congelamentoou vapor saturado para controle de pragas a umidadedo material deverá ser controlada após cadatratamento.

7. Equipamentos7.1. Equipamentos empregados no cultivo e

processamento devem ser de fácil limpeza, para seeliminar o risco de contaminação.

7.2. Todos os equipamentos devem sermontados em condições adequadas para suamanipulação. Devem ter manutenção periódica eestarem regularmente limpos. Equipamentosutilizados na aplicação de fertilizantes e pesticidasdevem ser calibrados regularmente.

7.3. Preferivelmente não devem ser empregados

equipamentos de madeira, a não ser que sejanecessário. Neste caso, deve-se tomar cuidados parase evitar contaminação do material vegetal porcontaminantes químicos ou microbiológicos.

8. Pessoal8.1. Tarefas que necessitam conhecimento

botânico das plantas devem ter pessoal qualificado.8.2. Todos os procedimentos de higiene devem

estar em conformidade com aqueles adotados paramanuseio de alimento.

8.3. Todo pessoal envolvido na manipulação domaterial vegetal deve exibir alto grau de higiene pessoal(inclusive os trabalhadores do campo), e recebertreinamento adequado sobre a responsabilidade deuma boa higiene. As dependências onde o material éprocessado devem ter todos as facilidades para umaboa higiene pessoal.

8.4. Pessoas que apresentam qualquer tipo dedoença infecciosa devem ser impedidas de entrar emcontato com o material vegetal e áreas deprocessamento

8.5. Pessoas que apresentam feridas,inflamações em geral, inclusive cutâneas, devem sermantidas afastadas da áreas de processamento, outer vestimenta e luvas apropriadas, até suarecuperação.

8.6. Pessoas devem estar protegidas do contatode material vegetal potencialmente tóxico ou alérgico,por meio de EPIs apropriados.

8.7. Todos os cuidados e preocupação com obem estar de todo o pessoal, do cultivo aoprocessamento de plantas medicinais e aromáticasdevem ser garantidos.

9. Documentação9.1. Todo o material vegetal de origem e as

etapas de processamento, incluindo-se a localizaçãodo cultivo, devem ser documentadas. Informaçõesprévias sobre o cultivo da cultura e outras observaçõesdevem ser registradas.

9.2. Todos os lotes de material colhido devemser identificados de modo claro e inequívoco.

9.3. Lotes de diferentes áreas de cultivo de umamesma cultura poderão ser misturados se garantidoque a mistura seja homogênea. Este procedimentodeve ser documentado.

9.4. É importante documentar o tipo, quantidadee data da colheita, bem como fertilizantes, herbicidas,pesticidas e reguladores de crescimento usadosdurante a produção.

9.5. A aplicação de agentes fumigantes deveser claramente anotada na documentação do lote.

9.6. Qualquer processo ou procedimento quepossa causar qualquer tipo de impacto na qualidadedo produto deve ser anotada na documentação dolote.

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9.7. Todos os acordos estabelecidos entreprodutor e compradores devem ser regidos porcontratos. Deve estar discriminado no documento queo cultivo, colheita e processamento está de acordocom os procedimentos descritos neste guia. Outrasinformações como a localização geográfica do cultivo,país de origem e o produtor responsável devem estarpresentes no documento.

9.8. Todo o material resultante de uma auditoriadeve ser mantido por no mínimo 10 anos.

9.9 Qualquer eventualidade que ocorra duranteo período de crescimento que possa de alguma formainfluenciar na composição química da planta, p.ex.variação climática extrema, pragas, particularmentedurante o período de colheita, devem serdocumentadas.

10. EducaçãoÉ extremamente prudente educar todo o

pessoal envolvido na produção ou gerenciamento daprodução e processo, no desenvolvimento de técnicas,bem como no uso adequado de herbicidas epesticidas.

11. Garantia de QualidadeUm documento legal reconhecido

internacionalmente ou por meio de instituições locais,deve especificar quais elementos devem serconsiderados para garantir a qualidade de um produto.Questões como princípios ativos e outros ingredientes,propriedades óticas e sensoriais, limite decontaminação microbiológica, quantidade de resíduosquímicos e metais pesados, entre outras devem estarpresentes.

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