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Textos Completos: II Congresso Internacional de História da UFG/Jataí: História e Mídia ISSN 2178-1281 1 Anais do II Congresso Internacional de História da UFG/ Jataí Realização Cursos de História, Letras, Direito e Psicologia ISSN 2178-1281 O USO DA INTERNET COMO INSTRUMENTO DE MOBILIZAÇÃO SOCIAL: A PÁGINA ONLINE DO MST (2007-2010) 1 ENGELMANN, Solange I. (mestranda) 2 Universidade Federal de Uberlândia Resumo: Esse trabalho é resultante de um projeto em andamento no programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Ele apresenta sucintamente uma proposta de estudo sobre o portal nacional de internet do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Busca-se analisar e identificar como o MST utiliza-se de um aparelho tecnológico como a rede mundial de computadores para a mobilização social, interação com a sociedade e busca de transformação social. Optou-se por uma delimitação teórica sobre a noção do novo processo de trabalho e a correspondente tecnologia, principalmente a relacionada à questão informacional voltada para os meios de comunicação de massa como a internet, que passa a ser utilizada pelos movimentos populares como instrumento de mobilização social. Palavras-chave: Trabalho, Estado, comunicação popular, Movimento Sem Terra, reforma agrária. I. INTRODUÇÃO Devido à luta pela reforma agrária e os direitos civis, políticos e, sobretudo, sociais ao longo dos seus 27 anos o MST se tornou o maior movimento social popular organizado do Brasil e, possivelmente, o maior da América Latina. Sendo assim, um movimento popular indispensável de análise para quem procura compreender as estratégias e especificidades dos movimentos sociais em relação ao uso da tecnologia e da comunicação. Da mesma forma, a própria constituição das ações desse movimento não pode ser compreendida distante da sua prática de comunicação e estratégias políticas, em relação aos seus integrantes e à sociedade. Neste contexto, a página online do MST é um espaço fundamental a ser analisado na medida em que se tornou um dos principais locais de exposição, divulgação, interação e diálogo das suas demandas em relação à chamada “opinião pública” e à própria base do movimento, onde diariamente são divulgadas notícias de atividades, ações de lutas e reivindicações. O presente trabalho resulta de um projeto de pesquisa em andamento no programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Apresentaremos sucintamente uma proposta teórica de estudo sobre a página nacional de internet do MST (www.mst.org.br ). O objeto do estudo é 1 Trabalho apresentado no Simpósio Temático: 23. Meios de comunicação, direitos humanos e democracia, durante o II Congresso Internacional de História da UFG/Jataí-GO, entre 26 e 30 de setembro de 2011. 2 Mestranda em Ciências Sociais na Universidade Federal de Uberlândia − UFU. Email: [email protected].

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Textos Completos: II Congresso Internacional de História da UFG/Jataí: História e Mídia – ISSN 2178-1281

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Anais do II Congresso Internacional de História da UFG/ Jataí – Realização Cursos de História, Letras, Direito e

Psicologia – ISSN 2178-1281

O USO DA INTERNET COMO INSTRUMENTO DE MOBILIZAÇÃO SOCIAL: A PÁGINA ONLINE DO MST (2007-2010)1

ENGELMANN, Solange I. (mestranda)2

Universidade Federal de Uberlândia Resumo: Esse trabalho é resultante de um projeto em andamento no programa de

Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Ele apresenta sucintamente uma proposta de estudo sobre o portal nacional de internet do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Busca-se analisar e identificar como o MST utiliza-se de um aparelho tecnológico como a rede mundial de computadores para a mobilização social, interação com a sociedade e busca de transformação social. Optou-se por uma delimitação teórica sobre a noção do novo processo de trabalho e a correspondente tecnologia, principalmente a relacionada à questão informacional voltada para os meios de comunicação de massa como a internet, que passa a ser utilizada pelos movimentos populares como instrumento de mobilização social. Palavras-chave: Trabalho, Estado, comunicação popular, Movimento Sem Terra, reforma agrária.

I. INTRODUÇÃO

Devido à luta pela reforma agrária e os direitos civis, políticos e,

sobretudo, sociais ao longo dos seus 27 anos o MST se tornou o maior movimento social popular organizado do Brasil e, possivelmente, o maior da América Latina. Sendo assim, um movimento popular indispensável de análise para quem procura compreender as estratégias e especificidades dos movimentos sociais em relação ao uso da tecnologia e da comunicação. Da mesma forma, a própria constituição das ações desse movimento não pode ser compreendida distante da sua prática de comunicação e estratégias políticas, em relação aos seus integrantes e à sociedade.

Neste contexto, a página online do MST é um espaço fundamental a ser analisado na medida em que se tornou um dos principais locais de exposição, divulgação, interação e diálogo das suas demandas em relação à chamada “opinião pública” e à própria base do movimento, onde diariamente são divulgadas notícias de atividades, ações de lutas e reivindicações.

O presente trabalho resulta de um projeto de pesquisa em andamento no programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Apresentaremos sucintamente uma proposta teórica de estudo sobre a página nacional de internet do MST (www.mst.org.br). O objeto do estudo é

1 Trabalho apresentado no Simpósio Temático: 23. Meios de comunicação, direitos humanos e

democracia, durante o II Congresso Internacional de História da UFG/Jataí-GO, entre 26 e 30 de setembro de 2011. 2 Mestranda em Ciências Sociais na Universidade Federal de Uberlândia − UFU. Email:

[email protected].

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a utilização da internet por um segmento social específico no campo das classes populares, mais especificamente um segmento de trabalhadores explorados organizados no MST. Buscaremos desenvolver um estudo de caso para detectar como os movimentos populares se utilizam de um aparelho tecnológico como a rede mundial de computadores para a mobilização social, interação e a busca de mudanças sociais.

O período delimitado para a realização da pesquisa se refere ao último mandato do governo Lula (2007-2010), em que o MST esteve de forma mais freqüente na mídia, gerando maior debate em relação à luta pela terra e a reforma agrária no Brasil.

Nesta pesquisa trabalharemos no campo da teoria marxista sobre a sociedade capitalista, a luta de classes, o poder político e o Estado capitalista, bem como o processo de trabalho e a tecnologia informacional. Nesse sentido, nos referenciamos em Marx (1996 e 1978)3 e autores marxistas para debater a questão da modificação no âmbito do processo de trabalho e da tecnologia ao longo do capitalismo, focando basicamente a partir das modificações do fordismo, taylorismo, toyotismo e nas modificações a partir da década de 70 com o neoliberalismo.

Inicialmente, realizamos uma delimitação teórica sobre o novo processo de trabalho e a luta de classes. Em um segundo momento, apresentamos uma discussão sobre o processo da revolução informacional e o desenvolvimento dos meios de comunicação de massa. E por último, relacionamos essa conceituação com a experiência de comunicação do MST, por meio do uso da internet, que vem se consolidando como um espaço de contraposição às novas reconfigurações da mídia hegemônica.

O novo processo de trabalho e a luta de classes

Identificar as potencialidades desse portal de comunicação na luta pela reforma agrária é de grande validade, pois esse movimento social possui amplo protagonismo na área da comunicação popular e alternativa. Diante isso, analisaremos como suas ações comunicacionais se utilizam de aparelhos tecnológicos como a internet para a mobilização social, a interação, a busca de transformação social e a própria organização dos trabalhadores sem terra.

Para melhor compreender esse cenário comunicacional em relação à sociedade capitalista, recorremos, primeiramente a Thompson (2001)4. Ele demonstra em seus estudos que em qualquer tentativa de análise das sociedades capitalistas contemporâneas torna-se fundamental levar em consideração o impacto dos meios de comunicação de massa (jornal, revista, rádio, televisão, internet), principalmente no processo de transformação dessas sociedades. Tais instrumentos se tornaram formas importantes de sociabilidade, influenciando direta e

3 MARX, K. O Capital. São Paulo: Editora Nova Cultural, volume I, 1996.

MARX, K. Capítulo VI, inédito de O Capital. Tradução: Eduardo Sucupira Filho. 1ª ed. São Paulo: Livraria Editora Ciências Humanas Ltda., 1978. 4 THOMPSON, J. B. A mídia e a modernidade: uma teoria social da mídia. Petrópolis, RJ: Vozes,

2001.

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indiretamente a população no que diz respeito à sua visão de mundo ou ideologia, cultura, padrões de consumo, valores morais, culturais e políticos.

Portanto, o surgimento e a ampliação do potencial dos meios de comunicação re-configura as relações em sociedade, transformando “(...) a organização espacial e temporal da vida social, criando novas formas de ação e interação, e novas maneiras de exercer o poder, que não está mais ligado ao compartilhamento local comum”. (THOMPSON, 2001, p. 14).

Diante disso, partimos do debate no campo marxista, sobre o avanço da divisão do trabalho e seu processo de desenvolvimento no âmbito da luta de classes.

Ao discutir o processo de trabalho e de valorização, em O Capital, Marx (1996) aponta que o trabalho é um processo em que o homem modifica a natureza e a sua própria natureza para o desenvolvimento da vida. Segundo Marx (1996), o processo de trabalho é uma atividade orientada com o fim de produzir valores-de-uso e promover apropriação da natureza para satisfazer as necessidades humanas.

Dessa forma, para Marx e Engels (1989)5, os homens não se diferenciam dos animais na medida em que adquirem consciência, mas a partir do momento em que iniciam o processo de produção dos seus próprios meios de vida, produzindo indiretamente, a própria vida material.

Para esses autores, a forma pela qual o homem produz e reproduz seus meios de vida depende da natureza dos meios de vida já existentes, que precisam reproduzir. Com isso, a existência dos indivíduos depende das condições materiais da sua produção. Conforme Marx (1996), no sistema capitalista o processo de trabalho se torna por completo propriedade do capitalista que detêm os meios de produção e domina a força de trabalho do operário. A partir do momento em que o trabalhador entra na fábrica o valor-de-uso de sua força de trabalho, sua utilização, e o produto do trabalho, passam a pertencer de modo integral ao patrão capitalista da mesma forma que a produção, realizando o processo de alienação do trabalho.

(...) o vendedor da força de trabalho, como o vendedor de qualquer outra

mercadoria, realiza seu valor de troca e aliena seu valor de uso. Ele não pode obter um, sem desfazer-se do outro. O valor de uso da força de trabalho, o próprio trabalho, pertence tão pouco ao seu vendedor, quanto o valor de uso do óleo vendido, ao comerciante que o vendeu. (MARX, 1996, p. 311).

Desta forma, ao vender sua força de trabalho o trabalhador perde o poder

sob o resultado de seu trabalho, alienando-o e transformando-o em mercadoria. O autor salienta ainda que, a partir do momento em que o trabalho se transforma em valor-de-uso esse mecanismo é utilizado pelos capitalistas como “substrato material”, portador do valor-de-troca, para a extração da mais-valia do trabalhador.

O capítulo VI, inédito de O Capital, Marx (1978, p. 20), discute o processo de trabalho como autovalorização do capital e a questão do trabalho vivo e trabalho morto. Esse classifica como trabalho vivo a força de trabalho manifestada ativamente dentro do processo de produção. Com isto, “o domínio do capitalista sobre o operário é, por conseguinte, o da coisa sobre o homem, o do trabalho morto sobre o trabalho vivo, do produto sobre o produtor (...)”.

5 MARX, K. & ENGELS F. A ideologia Alemã. São Paulo: Editora Hucitec, 1989.

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Nessa perspectiva, o capitalista se utiliza do trabalho morto, presente de forma implícita na tecnologia, e do trabalho vivo como forma de explorar mais o trabalhador diretamente no processo de trabalho, buscando a acumulação do capital e o desenvolvimento do capitalismo.

Entretanto, na sociedade burguesa o trabalho vivo se torna um meio de aumentar o trabalho acumulado. Com isso, não é o operário que utiliza os meios de produção, mas os meios de produção que se utilizam dos operários, que atuam “unicamente como absorventes da maior quantidade possível de trabalho vivo.” (MARX, 1978, p. 19).

O resultado desse processo, segundo o autor, é a “autovalorização do capital” e a exploração da mais-valia, que se tornam artifícios indispensáveis do sistema capitalista para assegurar a acumulação de capital e geração de lucro.

A estrutura social e o Estado surgem desse processo de vida, determinado pela atuação real e produção material dos indivíduos, sendo estas condições materiais independentes da vontade de cada um.

Com a divisão do trabalho na sociedade capitalista o produto adquire poder superior ao trabalhador, fora de seu alcance. A partir desta contradição, entre interesse particular e coletivo, o Estado assume uma forma destacada, acima da sociedade, descolado dos interesses reais dela, se tornando um guardião da classe proprietária e representante dessa classe social, da classe dominante.

Conforme Engels (1979, p.191)6, o Estado surge com o desenvolvimento da divisão social do trabalho e as formas de propriedade privada, processo histórico correlato ao aparecimento das classes sociais. Ele se constitui como um produto do próprio antagonismo de classes da sociedade, se afirmando como aparelho ou instrumento de dominação de classe, da classe dos proprietários dos meios de produção sobre o trabalhador direto: “O Estado não é de modo algum, um poder que se impôs à sociedade de fora para dentro; (...) É antes um produto da sociedade, quando está chega a um determinado grau de desenvolvimento; (...)”.

Portanto, o Estado é criado pela divisão de classes, e passa a ser responsável por amortecer o choque entre as classes e manter uma aparente “ordem”, evitando a destruição das classes sociais com interesses econômicos antagônicos.

Segundo os autores, ao analisar a história até o momento percebe-se que os indivíduos se tornam cada vez mais submetidos ao um poder que lhes é estranho. Este representa o processo de alienação do proletariado na divisão do trabalho. Nesse contexto, na concepção de Marx e Engles (1990)7, a história de todas as sociedades até hoje, tem sido a história da luta de classes. O que faz com que, historicamente a luta de classe tenha sido o motor de transformação revolucionária da sociedade.

A divisão de classe iniciada historicamente não é superada pela sociedade burguesa, que de forma contrária, aumenta essa divisão entre duas grandes classes, constantemente em luta: a burguesia e o proletariado. No capitalismo, conforme (Marx e Engels, 1989) as principais ideias que dominam são sempre as idéias da classe dominante, isto é, do conjunto da classe burguesa.

6 ENGELS, Friedrich. A origem da família, da propriedade privada e do Estado. 5ª Ed., Rio de Janeiro:

Editora Civilização Brasileira, 1979. 7 MARX, K. & ENGELS F. Manifesto do Partido Comunista. Petrópolis: Vozes, 1990.

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Entretanto, a classe que domina os meios de produção materiais também garante a dominação de forma completa, por meio do pensamento e das ideias intelectuais. No presente contexto, o Estado passa a ser um instrumento fundamental, na garantia da coesão social e dominação de uma classe sobre a outra.

Como o Estado é a forma na qual os indivíduos de uma classe dominante

fazem valer seus interesses comuns e na qual se resume toda a sociedade civil de uma época, segue-se que todas as instituições comuns são medidas pelo Estado e adquirem através dele uma forma política. (MARX e ENGELS, 1989, p. 98).

Desta forma, as instituições que integram o Estado assumem um

aspecto universalista, de representação da vontade coletiva, do Povo-Nação. Na realidade, o Estado é instrumento político que, na sua função, reproduz o capital e garante a dominação da classe burguesa sob a classe operária e o conjunto das classes dominadas.

Ainda relacionado ao trabalho na sociedade capitalista, Antunes (2002)8 faz uma crítica às mudanças no mundo do trabalho, através da análise sobre o fordismo, toyotismo e o processo de acumulação flexível. Segundo o autor, com o avanço da divisão do trabalho o trabalhador não transforma mais somente objetos materiais diretamente, mas supervisiona o processo produtivo em máquinas computadorizadas, programando e concertando robôs, em caso de necessidade. Se a crise é do trabalho abstrato, não há novidade nenhuma, pois ela se traduz na redução do trabalho vivo e na ampliação do trabalho morto, apontado por Marx como tendência do capitalismo. Mesmo que alguns pensadores considerem essa tendência como perda da centralidade do trabalho, o autor afirma não haver risco do fim da classe trabalhadora.

No entanto, a redução do número de trabalhadores e a ampliação da carga horária de trabalho geram forte impacto social. Neste sentido, o toyotismo é a experiência com maiores chances de se propagar, por isso, se torna um grande perigo para os trabalhadores, especialmente para os europeus, ameaçando conquistas do Welfare-State, pois “o modelo japonês está muito mais sintonizado com a lógica neoliberal do que com uma concepção verdadeiramente socialdemocrática.” (ANTUNES, 2002, p. 39-40).

Contudo, a partir de fenômenos como o toyotismo o universo do mundo do trabalho passa por um processo de maior heterogeneização, fragmentação e complexificação da classe-que-vive-do-trabalho.

Pode-se dizer, de maneira sintética, que há uma processualidade

contraditória que, de um lado, reduz o operariado industrial e fabril; de outro, aumenta o subproletariado, o trabalho precário e o assalariamento no setor de serviços. (ANTUNES, 2002, p. 49 -50).

Mas, para o autor, todas essas transformações, que o mundo do trabalho

vem atravessando não fará com que o operariado desapareça tão rapidamente.

8 ANTUNES, R. Adeus ao trabalho? Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do

trabalho. 8ª ed., Campinas: Editora Unicamp, 2002.

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Sendo que também não existe nenhuma possibilidade de eliminação da classe trabalhadora, pois o capitalismo depende, essencialmente, dessa classe para a extração da mais-valia e garantia do lucro. A revolução informacional e os meios de comunicação de massa

Um dos principais avanços tecnológicos capitalistas na área de comunicação nos últimos tempos tem sido o surgimento da internet. Idealizada nos EUA, nos anos 1960, como ferramenta de comunicação militar alternativa no âmbito da guerra, Monteiro (2001)9 destaca que a internet se tornou um meio de comunicação capaz de integrar milhares de internautas em todo o mundo e ao mesmo tempo possibilitando novos espaços de interação e expressão para vários grupos sociais, antes “marginalizados” e/ou sem espaços para se expressar, em outros meios de comunicação de massa.

A expressão comunicação de massa surge como forma de designar instrumentos tecnológicos com capacidade de transmitir a mesma informação, para uma grande massa de público de forma simultânea, ao mesmo tempo. Conforme Chaui (2006, p. 35)10, primeiramente esses meios só retransmitiam o rádio e o cinema, que eram buscavam atingir vários públicos, diferente da imprensa, que possuía uma linguagem pouco acessível à população em geral, e precisava de pessoas alfabetizadas para ser entendida. “Pouco a pouco, estendeu-se para a imprensa, a publicidade ou propaganda, a fotografia e a televisão. Esses objetos tecnológicos são os meios por intermédio dos quais a informação é transmitida ou comunicada.”

Esse processo se desenvolve com o desenvolvimento das tecnologias da informação, abordado por Jean Lojkine (1995)11, em A revolução informacional, em que ele apresenta o advento de uma grande revolução na área da informática e da comunicação. Sendo a revolução informacional uma revolução tecnológica de conjunto, que resulta da revolução industrial, que vem ocorrendo na sociedade contemporânea. No entanto, diante do processo revolucionário em que se encontra inserido, o computador não pode ser considerado puramente uma “tecnologia intelectual” ou um simples elemento de “representação”, mas um instrumento de “transformação do mundo, material e humano. Sendo também uma condição material essencial para a elevação da produtividade do trabalho em todas as esferas de atividade”. (LOJKINE, 1995, p. 49-50, grifo do autor)

No conceito de Marx, a força produtiva se constitui na transformação da natureza pelo homem. No entanto, a mesma contrapõe-se à concepção neutra e passiva, da “tecnologia” como simples extensão de uma relação social; “força” que se refere a uma ação “produtiva”, ação de transformação da natureza material. (LOJKINE, 1995). Diante disso, os meios informáticos criam uma nova era na história da humanidade que ameaça a própria divisão de classe. Dessa forma,

9 MONTEIRO, L. A internet como meio de comunicação: Possibilidades e limitações. INTERCOM –

Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, XXIV Congresso Brasileiro da Comunicação - Campo Grande/MS - setembro 2001. Disponível em: http://www.portal-rp.com.br/bibliotecavirtual/comunicacaovirtual/0158.pdf - Acesso em: 01 Agos. 2011. 10

CHAUI, M. Simulacro e poder. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2006 11

LOJKINE, J. A Revolução Informacional. São Paulo: Cortez Editora, 1995.

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A revolução informacional (...) constitui o anúncio e a potencialidade de

uma civilização, pós-mercantil, emergente da ultrapassagem de uma divisão que opõe os homens desde que existem as sociedades de classe: divisão entre os que produzem e os que dirigem a sociedade, (...). (LOJKINE, 1995, p.11).

Noutros termos, possibilita o questionamento da divisão social entre

aqueles que detêm o monopólio do pensamento e os excluídos, para o pesquisador, sendo esta a questão central do debate que vem se tornando um problema socialmente real na escola da humanidade, mesmo nos sistemas capitalistas mais desenvolvidos.

Como um produto do capitalismo, a revolução industrial é marcada pela divisão de funções entre os indivíduos, não só entre o trabalho produtivo e o trabalho improdutivo de valor (mais-valia), mas, também, entre a indústria e os serviços. Portanto, conforme Lojkine (1995) o instrumento informático possibilita a conexão com novas técnicas de telecomunicação, melhorando a circulação de informações antes monopolizadas por uma pequena elite de trabalhadores intelectuais, negada a maioria da classe operária.

Nesse sentido, para o autor, as revoluções tecnológicas anteriores, foram importantes ao longo da história, pois estabeleceram a divisão entre o trabalho manual e intelectual, que fundamentou as sociedades de classe, mas as Novas Tecnologias da Informação e o surgimento e difusão do texto eletrônico não são apenas um simples prolongamento deste processo, de forma contrária, rompem efetivamente com as sociedades anteriores, pré-mercantis e mercantis.

Num mundo dominado pelo mercado do capital o que ocorre é uma revolução do processo de informação. Pois a revolução informacional gera grandes mudanças e traz a problemática do “controle social de massas enormes de informação, liberadas pela conjunção da informática e das telecomunicações. Não se tratando apenas de uma revolução “informática”, mas de uma revolução da informação.” (LOJKINE, 1995, p. 109, grifo do autor)

Semelhante ao que ocorreu no setor industrial, a lógica de substituição entre homem e máquina, mediante o avanço da divisão do trabalho, também afeta a informatização da imprensa, principalmente os jornais diários. Com isso, a informatização da imprensa, aliada aos grandes investimentos, torna a informação um produto industrial, sufocando os meios de comunicação marginais ou independentes que raramente conseguem sobreviver. Uma das conseqüências desse processo de modernização da comunicação – segundo o autor - é que a informação, que deveria ser um serviço público, representando os interesses da maioria da sociedade, tornar-se um produto mercantil com clientes específicos, reforçando os conflitos de classes e omitindo os problemas sociais.

Porém, mesmo enfrentando uma série de desafios, a revolução informacional melhora a circulação de informações, antes restrita a um pequeno grupo privilegiado, aproximando produtores e consumidores. No entanto, o avanço e a transposição dos desafios das “Novas Tecnologias da Informação” dependem da conscientização de assalariados, cidadãos, além de organizações sociais e políticas de que as decisões estratégicas na sociedade dependem de todos, não apenas de uma elite dominante. (LOJKINE, 1995).

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Neste contexto a revolução informacional, pode criar várias possibilidades de interação e comunicação aos cidadãos, a partir do surgimento da internet, mesmo sendo utilizada por uma parte pequena dos trabalhadores (pois na periferia do capitalismo a maioria não tem acesso devido, sobretudo aos salários de fome). Até o final do século XX, a divulgação pública de informações não estava à disposição do cidadão comum. Pois, como essa comunicação, a partir dos grandes meios de comunicação, exige muitos recursos financeiros, somente as camadas da classe média e, sobretudo, das classes dominantes, tinham acesso ao controle dos veículos de massa. Conforme Monteiro (2001), com o surgimento da internet, que não necessita mais de grandes investimentos para funcionar, esta se torna um meio de produção e, principalmente, de distribuição de informações, popularizando o acesso e tornando a concentração das informações mais difícil.

Este é um fato inédito, que transforma radicalmente o ambiente da

comunicação de massa e dá à Rede características de um espaço democrático por excelência, uma espécie de “ágora eletrônica”, onde minorias e maiorias, grandes e pequenos podem compartilhar o mesmo espaço. (MONTEIRO, 2001, p.33).

Desta forma, ao dominar a linguagem web e navegar pelo ciberespaço12,

vários grupos sociais e cidadãos comuns adquirem a possibilidade de manter uma página na rede mundial de computadores, na qual é possível apresentar suas demandas e ações, comunicar-se e interagir com outros setores sociais.

Contudo, devemos ser cautelosos com a forma que adquire (e adquiriu) essa tecnologia específica, no presente estágio do capitalismo, uma suposta “democratização da informação”, conforme sugere o autor supramencionado. Se a internet surge do processo que Lojkine chama de “revolução informacional”, produto da última fase do capitalismo (cujo eufemismo é “globalização”), ela não foge da lógica do funcionamento do capital na medida em que vira mercadoria, inserida igualmente na lógica de acumulação de capital, com suas tendências à concentração e centralização de capital, de forma desigual e vertical (países capitalistas centrais, países da periferia do capitalismo etc.). Portanto, trata-se de uma lógica nada democrática no funcionamento da economia capitalista, o que, por sua vez, a informação veiculada por esses meios tampouco pode ser denominada democrática. Esse seria o caso das grandes redes que monopolizam a informação: Google, Yahoo, MSN e outras, as quais estão interligadas aos setores monopolistas da informação jornalista como Reuters, EFE, BBC, etc., também articulados aos trustes da televisão e jornais estadunidenses (CNN, Fox etc., New York Times, Washington Post, etc.).

Sem contar que a tecnologia informacional é monopolizada pelos países capitalistas dominantes dirigidos pelos Estados Unidos, principalmente para manter em funcionamento e proteção do aparato militar-bélico e manter a hegemonia desse país e dos países da OTAN sobre o mundo: investimentos bilionários para o funcionamento da indústria e tecnologia instalada, bem como para sua renovação ou atualização e para a proteção de proliferação de vírus e de supostos “terroristas” e hackers que poderiam destruir e paralisar o sistema informacional etc.

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Área virtual de troca de informações que integra em rede computadores do mundo todo operado pelos usuários.

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Percebe-se que a lógica de funcionamento da tecnologia informacional e de seu uso e reprodução (dominada pela lógica do capital) não estão isentas de contradições. A principal contradição pode ser detectada – aqui apenas fornecemos observações indicativas – no próprio processo de produção capitalista, nomeadamente no processo de trabalho: este assume um caráter socializado ou coletivizado, de interdependência dos trabalhadores no processo de produção de mercadorias; e ao mesmo tempo expressa a apropriação privada do produto social pelos proprietários dos meios de produção (minoria social) ou do capital. Vista de outro ângulo, tal contradição expressa à alienação do processo de trabalho: o trabalhador direto, além de perder a direção do processo de trabalho, perde também o produto do seu trabalho, ficando ele como mero apêndice ou instrumento da máquina, ao realizar tarefas parcelizadas, determinando o isolamento do trabalhador. Impõe-se a separação entre trabalho manual e intelectual, entre execução e concepção do trabalho, além de o capital se apropriar do conhecimento e subjetividade dos trabalhadores no processo de trabalho, bem como da apropriação do conhecimento científico e tecnológico dos trabalhadores não-manuais. Tal separação e apropriação do saber dos trabalhadores manuais e não-manuais pelo capital adotam formas complexas, com novas formas, nas fases taylorista, fordista, toyotista, acumulação flexível, aprofundando assim o fosso entre execução e concepção do trabalho. No caso da revolução informacional, a alienação do trabalho, no que diz respeito aos aspectos constitutivos, mantém expressões complexas de separação entre execução e concepção, conforme aponta Lojkine.

Conforme Saes (1998, p. 29)13 no processo de trabalho na grande indústria moderna detecta-se a expressão objetiva de duas tendências contraditórias: a oposição entre dependência (socialização ou trabalho coletivizado) e independência (parcelização das tarefas, individualização ou isolamento do trabalhador direto). Todavia, tal contradição determinaria a formação, no trabalhador, de duas tendências que estariam em luta permanente: a tendência ao isolamento e a tendência à ação coletiva. Nesse sentido, pensamos que a tecnologia informacional deve ser analisada tomando em conta os diversos aspectos da contradição mencionada.

Portanto, diante da perspectiva de Lênin (1978)14 e Saes (1998) consideramos que os movimentos populares devem fazer uso dessa nova tecnologia para fortalecer a tendência a ação coletiva para lutar contra a exploração do trabalho capitalista: trabalhar pela organização política autônoma dos diversos setores do campo popular para atenuar a tendência ao isolamento dos produtores diretos, bem como fortalecer formas de comunicação contra-hegemônicas com o intuito de contribuir com a construção de uma sociedade sem a lógica da extração da mais-valia e do domínio do capital.

Tendo em conta esse contexto, em 1997 o MST, cria uma página nacional na rede mundial de computadores, para divulgar notícias, artigos, imagens, vídeos e apresentar sua história e bandeiras de luta. Desta forma, esse movimento social passa a se comunicar, interagir e se tornar conhecido pela sociedade brasileira, por meio da internet.

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SAES, D. "O conceito de Estado burguês". In: Estado e democracia: ensaios teóricos. 2ª Ed. Campinas: Gráfica do IFCH/UNICAMP, 1998. 14

LENIN, V. I. Que fazer? As questões palpitantes de nosso movimento. São Paulo: HUCITEC, 1978.

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O MST é um dos movimentos sociais mais representativos da fase recente da história do campesinato brasileiro, que ao longo de sua trajetória, tem definido as táticas e as estratégias para a ação, a luta e a resistência dos camponeses excluídos contra o capital. A utilização da internet pelo Movimento dos Sem Terra

Criado oficialmente em 1984, na cidade de Cascavel, Oeste do Paraná, o

MST, segundo Morissawa (2001)15, é um movimento social com atuação nacional voltado à luta pela terra e pela reforma agrária. Sendo, formado por trabalhadores sem-terra que realizam ocupações de terras, atos públicos, marchas e ocupações de prédios públicos na tentativa de pressionar o governo federal e o Estado a fazer a reforma agrária. Diante disso, o MST vem atuando no “conjunto da sociedade brasileira como um sujeito histórico coletivo que desvela as desigualdades sociais e revela o conflito existente entre as classes sociais, dominantes e dominadas no país”. (GONH, 2000, p. 154)16.

O Movimento Sem Terra se tornou, assim, um agente político que, mediante as ações de classe, procura pressionar o governo federal chamando atenção para o problema da concentração fundiária e das desigualdades sociais existentes na sociedade brasileira. Para isso, este movimento social se organiza em torno de três objetivos principais: “lutar pela terra; por Reforma Agrária e por uma sociedade mais justa e fraterna.” Estes objetivos estão manifestos nos documentos que orientam sua ação política. (MST, 2009)17.

Neste contexto de luta, a compreensão política do MST sobre a importância da comunicação vem desde a fundação da entidade, como organização nacional, pois a criação de meios de comunicação populares foi importante para que este Movimento obtivesse um alcance nacional, chegando ao „povo pobre do campo‟, possibilitando a organização de grandes mobilizações em todo o país, divulgando suas reivindicações e buscando o apoio da sociedade.

Ao longo de nossa história, estamos desenvolvendo uma comunicação

que tem por objetivo organizar e mobilizar, ser ferramenta de educação do povo, divulgar e agitar as pessoas na luta pela Reforma Agrária e por um Projeto Popular para o Brasil (MST, 2001, p.134)18.

Entretanto, a página nacional online do MST, se configura como um

espaço fundamental para o diálogo com a chamada “opinião pública” e a própria base do movimento, onde são divulgadas as pautas, ações de lutas e reivindicações dos trabalhadores sem-terra.

15

MORISSAWA, M. A história da luta pela terra e o MST. São Paulo: Expressão Popular, 2001. 16

GOHN, M. G. Mídia, terceiro setor e MST. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000. 17

MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA. Nossos objetivos, 2009. www.mst.org.br. Acesso em: 20. Out. 2010. 18

MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA. Construindo o caminho. São Paulo, 2001.

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Conforme, MST (2010)19, o “portal do MST” já chegou a atingir a média de cinco mil acessos diários. A partir de 2003, a página passou ganhou atualização diária de notícias e fotos. No portal são publicadas notícias do cotidiano de luta do MST e informes de ações e eventos que reúnem outros movimentos sociais. Também há acesso há acesso ao conteúdo do Jornal Sem Terra, publicações nacionais e locais do MST para cadastro no “MST Informa”, uma e-news com notícias e boletins informativos. Outros links possibilitam o acesso aos dados do MST como: número de acampamentos, assentamentos e informações econômicas e sociais relativas à questão agrária, poesias e poemas, sugestão de livros, textos e documentos. Também é possível ouvir e baixar músicas e obras lançadas sobre a reforma agrária. Há, inclusive, espaço com vídeos curtos sobre ações do MST e um quadro chamado “Eu apoio o MST!”, com depoimentos de personalidades.

A página online também hospeda a “Videoteca Virtual Gregório Bezerra”, com vários filmes e vídeos sobre a trajetória do MST e a questão agrária no Brasil. Também há um link que direciona para a “loja virtual da reforma agrária”, onde se encontram produtos do MST à venda.

A proposta do MST é tornar a página online um espaço de referência na busca de informações sobre a luta do MST e a reforma agrária no Brasil.

A avaliação é de que a nossa página deve ser referência e fonte de

informação para a discussão sobre os modelos de agricultura (agronegócio contra pequena agricultura), a Reforma Agrária, a luta dos trabalhadores rurais Sem Terra e as realizações do MST, especialmente nas áreas da produção agrícola e educação. (MST, 2010, p. 20).

Segundo Gohn (2000), em 1997 o MST chamou atenção do país com a

Marcha pela Reforma Agrária, Emprego e Justiça, tornando-se, a partir deste momento, um ator social importante na sociedade brasileira e forçando a entrada da reforma agrária na pauta do governo federal. No entanto, após esse período uma parte da imprensa passou a abordar as ações do MST, inculcando e provocando “medo” e “insegurança junto à opinião pública”.

Para Romão (2004, p.4, grifo do autor)20, ao se utilizar desses artifícios a mídia desloca a questão da luta pela terra da esfera civil para a ilegalidade. A imprensa tem procurado usar termos como “invadir, em vez de ocupar, modelando efeitos de criminalização dos camponeses organizados politicamente e tornando-os evidentes e únicos de serem ditos”. A propagação desse discurso é perigosa, pois pode enganar, ocultar e distorcer a realidade, reforçando o processo de alienação da opinião pública, contribuindo não só para o isolamento dos movimentos populares como o MST, mas também para sua criminalização.

Seriam essas preocupações que buscamos compreender e analisar, cujos resultados serão publicados noutro trabalho. Diante de uma visão gramasciana

19

MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA. Manual de redação para os veículos do MST. documento interno, 2010. 20

ROMÃO, L. M. S. Imprensa e MST - A ficção em dois capítulos do discurso jornalístico. Observatório da Imprensa. Edição 301 – 14 dez. 2004. Disponível em: http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=307IMQ006 Acesso em: 10. Set. 2010.

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(Gramsci, 1968)21, indagar como o uso de tecnologias informacionais (internet) por setores sociais populares, especificamente o MST, que se utiliza de um aparelho tecnológico (rede mundial de computadores) como espaço comunicação, de luta e reivindicação, mobilização social e interação com outros setores sociais, buscando criar uma contra-hegemonia ideológica e política para combater a hegemonia das frações monopolistas do grande capital no Brasil, principalmente do setor agro-negócio. Isso requer uma análise crítica sobre a função da página de internet do MST na visualização das reivindicações dos sem-terra e seu grau de importância para a discussão sobre a pauta da reforma agrária e de luta para a solução de outros problemas sociais mais prementes na sociedade brasileira. O que significa também a necessidade de análise crítica dos autores, trabalhos, informação veiculada na mídia eletrônica dominante ou internet sobre o assunto. Para tanto, examinar-se-ão, de um lado, as mudanças da tecnologia informacional (seus avanços, limites e contradições) e das condições sócio-históricas da luta pela reforma agrária no governo Lula (limites e contradições); e de outro, os atores e classes sociais envolvidos na luta a favor e contra a reforma agrária.

Conclusão

Temos exposto preliminarmente a problemática da utilização de um aparelho tecnológico como a internet pelo MST para a mobilização e busca de transformação social. Apontamos que o avanço da tecnologia no mundo do trabalho contribui de forma decisiva para o surgimento de “Novas Tecnologias da Informação”, conforme Lojkine (1995), gerando novos meios de comunicação como a rede mundial de computadores.

A análise de tal problemática dede ser inserida no contexto da luta de classes, em que a sociedade capitalista se encontra atualmente: a classe ou frações de classes que dominam os meios de produção também dominam os meios ideológicos e culturais (intelectuais e divulgação de idéias etc.), tendo o Estado burguês como protetor da propriedade capitalista e como instrumento de dominação do capital. Se a internet surge como conseqüência da transformação da ultima etapa da revolução industrial (revolução informacional), afirmando-se como um instrumento tecnológico importante a serviço do capital, porém dadas as contradições das forças produtivas capitalistas, essa nova tecnologia informacional pode contribuir para a organização coletiva e expressão de vários segmentos sociais populares, que são marginalizados pelos grandes meios de comunicação de massa, como o MST, por exemplo.

A história comunicacional do MST está fortemente ligada à organização popular e voltada para a luta de classes, em contraposição ao poder hegemônico das grandes redes de comunicação. Com o advento das novas tecnologias, a comunicação do MST tem impulsionado novas frentes de luta, que, mesmo em meio a limitações financeiras, possibilita a transmissão de vozes, antes silenciadas ou esquecidas.

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GRAMSCI, A. Maquiavel, a Política e o Estado Moderno. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968.