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O Tratamento de Minérios de Cobre da Faixa Piritosa Ibérica
Destinos dos subprodutos resultantes do tratamento do cobre
Autor: José Moreira; Luciano Grácio; Pedro Romariz; Pedro Veloso; Sérgio Costa
Outubro de 2011
Orientador: Professora Doutora Maria Cristina Vila
O Tratamento de Minérios de Cobre da Faixa Piritosa Ibérica – FEUP, Outubro de 2011
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1. Resumo
Com o crescente aumento da procura de metais essenciais à indústria, o
homem por vezes esquece a necessidade de aliar à procura, o respeito pelo meio
ambiente e pela saúde humana.
Deste modo, o destino dos subprodutos resultantes do tratamento de metais
extraídos a partir da actividade mineira, nem sempre é organizado e aplicado
correctamente e segundo normas fundamentais que visam salvaguardar o meio
ambiente.
A má gestão desses subprodutos, que posteriormente à sua exploração são
depositados em escombreiras, é sinónimo de contaminação dos solos e de cursos de
água subterrâneos que, em casos extremos, pode representar um atentado à saúde
pública sendo a água uma base imprescindível à sobrevivência humana.
O objectivo deste relatório passa por inventariar algumas soluções ambientais
relativas à deposição de resíduos provenientes da exploração mineira, de modo a que
essa actividade culmine numa exploração sustentável. Neste tipo de exploração
existem três pontos cruciais: o levantamento do estado inicial, a avaliação do estado
final e por fim a reposição do estado inicial, que correctamente executados diminuem
o risco para a saúde, para o ambiente e consequentemente contribui para um menor
impacto visual.
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Agradecimentos
O grupo gostaria de agradecer às entidades e personalidades que de alguma
forma contribuíram para o êxito e realização deste projecto. Assim, um agradecimento
à Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto – FEUP, que nos disponibilizou os
recursos necessários à investigação do projecto. Por fim agradecer à supervisora:
Professora Doutora Maria Cristina Vila, ao coordenador: Professor Doutor Alexandre
Leite e ao monitor: Francisco Leite, devido à disponibilidade prestada perante o nosso
grupo na resolução de eventuais problemas, tal como ao acompanhamento em
actividades extracurriculares de caracter didáctico.
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Índice
1. Resumo…………………………………………………………………………………….….………….Pág.2
Agradecimentos…………………………………………………………………………….Pág.3
1.1 Lista de Figuras……..………………………………………………………………………..Pág.5
1.2 Lista de Tabelas……..……………………………………………………………………….Pág.6
2. Introdução………………………………………………………………………………………………Pág.7
3. A Mineração na Faixa Piritosa Ibérica....................................................Pág.8
3.1 A Faixa Piritosa Ibérica..………………………………………………………………….Pág.8
3.2 A Mina de Neves Corvo…………………………………………………………………Pág.10
3.3 O Jazigo de Neves Corvo……………………………………………………………….Pág.11
4. Os Subprodutos e Resíduos Resultantes do Tratamento do Cobre………..Pág.13
4.1 A Produção do Cobre.……………………………………………………………………Pág.13
4.2 Aplicações dos Subprodutos Resultantes do Tratamento do Co-
bre………………….…………………………………………………………………………….Pág13
4.3 Os Resíduos Resultantes do Tratamento do Cobre……………………….Pág.14
4.4 O Impacto dos Resíduos Resultantes do Tratamento do Cobre…….Pág.15
5. Soluções Ambientais para os Resíduos do Tratamento dos Minérios de Co-
bre…………………………………………………………………………………………….…………..Pág.17
6. Avaliação das Soluções Ambientais para a Mina de Neves Corvo………….Pág.19
6.1 Barragem de Cerro do Lobo / Barragem de Rejeitados…………………Pág.19
6.2 Deposição em Pasta……...…………………………………………………………….Pág.21
7. Conclusão…….………………………………………………………………………………………...Pág.25
8. Bibliografia…………………………………………………………………………………….……….Pág.26
9. Webliografia…………………………………………………………………………………………..Pág.27
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1.1 Lista de Figuras
Figura 1. A faixa piritosa ibérica. [Matos, 2009].
Figura 2. Minerais mais abundantes na faixa piritosa ibérica.
Figura 3. A mina de Neves-Corvo. http://www.cm-
castroverde.pt/cm_castroverde/economia/default.asp?t=industria
Figura 4. Os resíduos sólidos da lavra mineira.
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1.2 Lista da Tabelas
Quadro 1. Dados estatísticos sobre a laboração em Neves Corvo [adaptado de Lundin
Mining, 2011] .
Quadro 2. Dados estatísticos sobre a produtividade em Neves Corvo [adaptado de
Lundin Mining, 2011] .
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2. Introdução
A extracção mineral com a valorização que tem sofrido nos últimos anos,
deposita em massa subprodutos resultantes do tratamento do minério explorado, em
escombreiras que contribuem para a degradação e contaminação do meio ambiente.
Os inertes nestas escombreiras depositados, são passiveis de sofrer processos
de lixiviação o que provoca a contaminação dos solos e dos cursos de água, isto devido
a um abandono descuidado e não controlado pelas entidades responsáveis pela
exploração de recursos minerais.
Partindo que do minério explorado, dos seus subprodutos resultariam
principalmente sulfuretos, o risco de contaminação envolta da área de incidência seria
especialmente intenso pois são minerais instáveis à superfície terrestre e capazes de
formar produtos nefastos para o ambiente aquando do contacto com a água. Por
outro lado, durante o tratamento dos minérios nas lavarias são produzidos estéreis,
que se podem difundir no ambiente na forma de polpa (partículas sólidas, água e
reagentes usados no tratamento). Os estéreis das lavarias possuem elevado potencial
como contaminantes ambientais, pelo que é necessário assegurar o bom
funcionamento das barragens auto-construídas ou construídas para a sua deposição
em condições que garantam a segurança ambiental.
Deste modo, é pretendido enumerar neste relatório alguns problemas que
advêm de minas activas ou inactivas cuja sua extracção incidiu ou incide na faixa
piritosa Ibérica, e alertar a população, (em especial a circundante à área de maior
foco), acerca dos perigos adjacentes a uma descuidada deposição de inertes
resultantes da actividade mineira.
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3. A Mineração na Faixa Piritosa Ibérica
3.1. A Faixa Piritosa Ibérica
A faixa piritosa ibérica, com 250 km de comprimento e 30-50 km de largura, é
uma formação geológica muito importante para a mineração. Esta região estende-se
de Alcácer do Sal (Alentejo, Portugal) a Sevilha (Andaluzia, Espanha) (Fig. 1).
Figura 1. A faixa piritosa ibérica. [Matos, 2009].
Tal como o próprio nome indica, a pirite é o mineral mais abundante, cerca de
90%, sendo os restantes 10% constituídos essencialmente por esfalerite, galenite e
calcopirite (Fig. 2) [Matos, 2009].
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Figura 2. Minerais mais abundan-tes na faixa piritosa ibérica. (A) A
pirite (um dissulfureto de ferro FeS2) é o principal minério de ferro. (B) A esfalerite (um sulfureto de zinco, ZnS) permite-nos obter zinco através do tratamento deste mes-mo minério. (C) A galena (um sulfu-reto de chumbo, PbS) é o principal minério de chumbo. (D) A calcopiri-te (um dissulfureto de cobre e fer-ro, CuFeS2) é o mineral de cobre mais abundante e principal minério deste metal. [elo7.com.br, edelweissminerals.com; siber-siber.ch; geomuseum.ist.utl.pt].
Desde o Calcolítico que numerosos jazigos de metais têm sido explorados in-
tensivamente nesta região [Matos e Martins, 2006]. Tartéssios, Fenícios e Cartagineses
dedicaram-se à mineração na faixa piritosa ibérica, mas foi durante a época do Império
Romano que, pela primeira vez, esta actividade se intensificou no sector português,
nomeadamente na mina de São Domingos [Matos e Martins, 2006; [Relvas, 2002].
Após a revolução industrial do séc. XIX, foram aplicadas técnicas mais eficazes de ex-
ploração de sulfuretos que permitiram a exploração de grandes volumes de minério
para obtenção de cobre, pirite e enxofre [Matos e Martins, 2006]. De facto, a faixa
piritosa ibérica possui jazigos de grande tonelagem, mais de 300 Mt, com elevados
teores em diversos metais de interesse económico [Relvas, 2002]. Estas características
garantiram a viabilidade económica das minas da faixa piritosa ibérica para a extracção
de cobre, zinco, chumbo, ferro, manganês e, nalguns casos, de metais preciosos como
o ouro e a prata. No passado mais recente e em território nacional são de salientar
pela sua importância económica e impactos ambientais os veios de sulfuretos maciços
(Caveira, Lousal, Aljustrel, S. Domingos, Chança e Montinho) de cobre filoniano (Barri-
gão, Ferrarias e Juliana), de antimónio filoniano (Cortes Pereiras) e de óxidos de ferro e
manganês (Saramaga, Cercal, Lagoas do Paço, Ferragudo e Balança). Grande parte des-
tas minas estão actualmente abandonadas e apresentam grandes impactos ambientais
negativos. Por conseguinte, é necessário proceder à execução de planos de reabilita-
ção destas minas tais como o projecto Ibero-americano RUMYS, representado em Por-
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tugal pelas minas de São Domingos, Aljustrel, Lousal, Caveira e Cova dos Mouros [Ma-
tos et al, 2010].
A mina de Neves-Corvo (Castro Verde, Baixo Alentejo) (Fig. 3) é a única explora-
ção mineira em laboração presentemente em toda a faixa piritosa ibérica, dedicando-
se à extracção de cobre, estanho e, mais recentemente, de zinco [Lundin Mining,
2011].
Figura 3. A mina de Neves-Corvo. [http://www.cm-castroverde.pt/cm_castroverde/economia/default.asp?t=industria]
3.2. A Mina de Neves-Corvo
A mina de Neves Corvo, descoberta em 1977, começou a ser explorada em
1988 pela Sociedade Mineira de Neves Corvo, S.A que a vendeu à EuroZinc canadiana e
ao grupo sueco Lundin Mining Corporation em 2004. Em 2005, esta mina contribuía
em cerca de 4,2% para o peso na estrutura do emprego regional (Mateus et al. 2005).
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Neves do Corvo é a maior mina de cobre na Europa, com um teor médio de co-
bre no minério de cerca de 3,5%. Em termos mundiais, a indústria extractiva do cobre
situa-se principalmente nos Estados Unidos da América e na cordilheira dos Andes
(México e Chile) onde há diversas minas tanto a céu aberto como subterrâneas [Silva,
2007].
De acordo com a Lundin Mining Corporation, está previsto produzir 72 000 to-
neladas de cobre e 6 000 toneladas de zinco em Neves Corvo até ao final do corrente
ano [Lundin Mining, 2011] (Quadro 1).
Quadro 1. Dados estatísticos sobre a laboração em Neves Corvo [adaptado de Lundin Mining, 2011].
3.3. O Jazigo de Neves-Corvo
O jazigo de Neves Corvo tem características geoquímicas únicas no mundo
[Carvalho et al., 1999]. O jazigo de sulfuretos maciços está associado a rochas vulcâni-
cas, possui enorme tonelagem (>300 Mt de sulfuretos maciços) e elevados teores em
cobre (acima de 50 Mt com teor médio 6% Cu), estando associado a grande quantida-
de de minérios maciços de calcopirite e também de cassiterite [Carvalho e Ferreira,
1993].
Nas minas de Neves Corvo, o jazigo dos minérios resulta da actividade muito
prolongada de um sistema hidrotermal que transportou grandes quantidades de fluido
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e metais. Inicialmente ocorreu a precipitação maciça de cassiterite e posteriormente a
formação dos sulfuretos maciços [Relvas, 2002].
A composição do jazigo de Neves Corvo, rica em sulfuretos polimetálicos, facul-
ta não só a exploração de cobre, mas também de estanho, zinco e prata, chumbo, ouro
e metais raros de alta tecnologia.
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4. Os Subprodutos e Resíduos Resultantes do Tratamento do Cobre
4.1. A Produção do Cobre
O minério de cobre pode ser obtido tanto por lavra subterrânea como a céu
aberto. A lavra subterrânea implica a manutenção da escavação, o enchimento das
escavações mineradas e o seu abatimento controlado durante a extracção do minério.
Na lavra a céu aberto a desmatagem, a desarborização e a decapagem antecedem a
fase de extracção do minério.
Após a lavra procede-se ao beneficiamento do minério, que consiste em melho-
rar a sua composição física sem alterar a composição química. Esta fase engloba a co-
minuição (britagem e moagem do minério em bruto), concentração gravimétrica ou
separação magnética, flutuação, filtragem e secagem de modo a obter o produto final
da mineração. Regra geral, a transformação do minério através da fundição para pro-
duzir o metal processa-se em fornos de minerais, fornos de primeira fusão de metais e
altos-fornos que podem situar-se a distâncias consideráveis da mina.
Cada uma destas fases pode originar tanto subprodutos como resíduos, de
acordo com o seu valor económico. Tal como já referido anteriormente para o caso da
mina de Neves Corvo a possibilidade de exploração de subprodutos depende da com-
posição do jazigo explorado e também das tecnologias usadas. A questão dos resíduos
está essencialmente relacionada com a concentração do cobre no minério, com a
quantidade extraída e ritmo de extracção, assim como com as tecnologias adoptadas.
4.2. Aplicações dos Subprodutos Resultantes do Tratamento do Cobre
Actualmente o zinco pode ser considerado o principal subproduto da extracção
de cobre na mina de Neves Corvo. O zinco metálico é usado na produção de ligas e na
galvanização de estruturas de aço. O zinco pode também ser um aditivo de certas bor-
rachas e tintas. Uma das ligas mais importantes de zinco é o bronze, que consiste na
mistura deste elemento com o cobre. O zinco pode ainda utilizar-se como eléctrodo
nas pilhas secas.
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O estanho, o outro subproduto já explorado na mina de Neves Corvo, é usado
no fabrico de tubos e válvulas e recipientes para refrigerantes. Pode ainda ser usado
em tanques de armazenamento de soluções químicas farmacêuticas, em eléctrodos de
condensadores, fusíveis, munições, papel metalizado para envolver alimentos. O pó de
estanho é usado no fabrico de papéis, tintas e sprays. A galvanoplastia é outra impor-
tante aplicação do estanho podendo ser feita a electrodeposição em torno de peças
metálicas.
4.3. Os Resíduos Resultantes do Tratamento do Cobre
Se considerarmos o caso da mina de Neves Corvo, desde 2007 a 2011 foram ex-
traídas 10 507 452 toneladas de minério bruto, que continham 268 197 toneladas de
cobre e 30 441 toneladas de zinco. No total saíram da mina para a fase seguinte do
tratamento do cobre e zinco, fundição, 298 638 toneladas de matéria das 10 507 452
toneladas extraídas (Quadro 2).
Quadro 2. Dados estatísticos sobre a produtividade em Neves Corvo [adaptado de
Lundin Mining, 2011] .
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Quais os destinos tiveram as restantes 10 208 814 toneladas, cerca de 97% da
matéria extraída? Em média, por ano, produziram-se 2 552 203,5 toneladas de resí-
duos sólidos, o que significa mais ou menos 7 toneladas diárias. Para além dos resíduos
sólidos, ganga da mina e rejeitos de beneficiamento (Fig. 4), ainda foram produzidos
resíduos líquidos e gasosos, sobre os quais não encontramos dados para calcular o
volume de resíduos originados.
Figura 4. Os resíduos sólidos da lavra mineira. (A) Ganga da mina, mineral provenien-te das operações de lavra sem utilidade ou valor agregado quando minerado
[http://geo-lo-gia.blogspot.com/2011_04_01_archive.html]. (B) Rejeitos de beneficia-mento, mineral proveniente da fase de processamento segundo processos físicos e químicos sem valor agregado [http://ruicorreia.com.sapo.pt/images/32-15-131.jpg].
4.4. O Impacto dos Resíduos Resultantes do Tratamento do Cobre
Um dos principais problemas relacionados com o impacto dos resíduos do tra-
tamento cobre surge durante o processo de extracção. A actividade de mineração pro-
cessa-se a uma velocidade muito superior à dos processos geológicos, modificando os
ciclos biogeoquímicos. Muitas vezes associados à exploração mineira e à indústria
transformadora surgem fenómenos de poluição atmosférica (produção de particulados
e de gases nocivos), de contaminação dos fluxos hídricos, uso indevido de minas aba n-
donadas, etc. Estes fenómenos podem ter consequências localizadas muito nefastas e
contribuem para a diminuição das condições ambientais na globalidade.
A mina de Neves Corvo é um projecto mineiro marcado por uma elevada tecno-
logia de produção de concentrados de metais e apontado como exemplo na actividade
extractiva que respeita as normas ambientais mais exigentes (mineração ecológica)
[Gama 2005].
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Na faixa piritosa ibérica a maioria das minas encontra-se numa situação de
abandono. A quase totalidade das explorações mineiras abandonadas não possui es-
truturas adequadas que minimizem impacto ambiental, sobretudo ao nível da rede
hidrográfica. A Ribeira de São Domingos, afluente do rio Chança, constitui um exemplo
de um curso de água afectado pela drenagem não controlada de efluentes ácidos pro-
venientes da área mineira de São Domingos. Os troços da rede hidrográfica situados a
jusante dos centros mineiros da faixa piritosa ibérica encontram-se afectados em vá-
rios quilómetros com águas de pH ácido (<4). No caso ainda da mina de São Domingos
existe um grande volume de escombreiras onde se identificam metais como Cu, Pb, Zn,
As, Sb, Ag, Hg e Cd [Matos e Martins, ].
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5. Soluções Ambientais para os Resíduos do Tratamento de Minérios de
Cobre
As soluções mais utilizadas para minimizar os impactos ambientais da lavra mi-
neira são a reflorestação das áreas sujeitas a desmonte, a retenção e tratamento das
águas de escorrência e de drenagem, a regularização dos taludes das escombreiras e a
criação de condições para a utilização das gangas da mina e rejeitos de beneficiamento
e outros resíduos/subprodutos da lavra mineira.
Durante a lavra subterrânea o principal impacto ambiental pode ocorrer em
consequência da subsidência. O risco de abatimento da superfície durante a escavação
e alargamento das galerias é efectivamente elevado. Uma das aplicações da ganga é
no enchimento dos alargamentos, o que reduz o risco de subsidência. Os impactos
ambientais da lavra a céu aberto são mais notórios, pois ocorre alteração da paisagem
tanto ao nível do relevo, do solo, do ar e da água como da flora e da fauna. Tal como
referido anteriormente, a vegetação e solo retirados durante as fases iniciais de mine-
ração podem ser aplicados para minimizar este tipo de impactos ambientais.
No caso específico das soluções ambientais para a lavra de minério de cobre
em Portugal (mina de Neves Corvo) foi realizado o Estudo de Impacte Ambiental (EIA)
da “Mina Neves Corvo – 2007” e apresentado à Agência Portuguesa do Ambiente
(APA) para procedimento de Avaliação de Impacte Ambiental (AIA), dando assim cum-
primento ao Decreto-Lei n.º 69/2000, de 3 de Maio, com as alterações introduzidas
pelo DL nº 197/2005, de 8 de Novembro [Parecer da Comissão de Avaliação]. A comis-
são de avaliação foi constituída por representantes das seguintes entidades: Agência
Portuguesa do Ambiente, Instituto da Água, IP (INAG), Instituto da Conservação da
Natureza e Biodiversidade, IP (ICNB), Instituto de Gestão do Património Arquitectónico
e Arqueológico, IP (IGESPAR) e Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional
do Alentejo (CCDR/Ale).
O EIA “Mina Neves Corvo – 2007” [Parecer da Comissão de Avaliação] salientou
a necessidade de levar a cabo os seguintes projectos:
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1. Projecto de Execução da Barragem de Cerro do Lobo. 4ª Fase de Construção. Re-
modelação do Projecto de Alteamento da Barragem da Cota 252 para a cota 255
(Dezembro de 2002).
2. Projecto de Deposição em Pasta. Instalação Industrial para Fabrico de Pasta (Março
2007).
3. Projecto de Alteração da Lavaria de Estanho para Lavaria de Zinco (Março de 2006).
4. Projecto de Ampliação da Lavaria de Zinco para 1 Mt/ano (Fevereiro de 2007).
5. Projecto de Alteração da Lavaria de Cobre para tratamento de escórias e minério
MF (Fevereiro de2007).
Na sua globalidade estes projectos pretendem melhorar o desempenho do pro-
cesso produtivo e da gestão de resíduos do complexo mineiro e reduzir os impactos
ambientais resultantes da exploração desse mesmo complexo.
Na secção seguinte são analisadas as soluções ambientais para a mina de Neves
Corvo, pois é a única mina de cobre em funcionamento na faixa piritosa ibérica e as
soluções ambientais dependem de muitos factores, pelo que têm de ser encontradas
para cada mina especificamente.
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6. Avaliação das Soluções Ambientais para a Mina de Neves Corvo
Nesta secção apresenta-se uma versão resumida das soluções ambientais para
a mina de Neves Corvo e sua avaliação elaborada com base no Parecer da Comissão de
Avaliação.
6.1. Barragem de Cerro do Lobo / Barragem de Rejeitados
A barragem do Cerro do Lobo está integrada no complexo mineiro de Neves
Corvo e destina-se à deposição dos rejeitados resultantes do processo de tratamento
dos minérios efectuado nas lavarias de metais. Esta barragem é um aterro de resíduos
que facilita a deposição dos resíduos e minimiza os impactos ambientais, pois possibil i-
ta a deposição subaquática dos rejeitados, e a reutilização da água sobrenadante, sem
descarga para o meio receptor. A barragem é constituída por banquetas a diferentes
cotas (225 – 245 m) onde o nível de água sobre os sólidos depositados é de ~ 1 m, de
modo a minimizar a oxidação dos sólidos e a libertação de poeiras para a atmosfera, e
o aterro de enrocamento é impermeabilizado com recurso a uma geomembrana e a
material de pedreira. Esta solução para armazenamento de rejeitados da mina inclui
também a possibilidade de divisão da albufeira em sectores e na secagem da água por
sector. Os sectores secos são cobertos por material impermeável e por terra vegetal e
revegetados com espécies características da zona, integrando paisagisticamente o es-
paço recuperado, na área envolvente.
A construção de barragens de rejeitados tem sempre impactos ambientais. Na
barragem de Cerro do Lobo, para minimizar os impactos resultantes do transporte de
rejeitados e recirculação de água, foram implementadas as seguintes medidas:
Controlo de caudal no início e fim das condutas de transporte de rejeitados, que
permite por análise da diferença destes, a constatação de anomalia. Uma vez cons-
tatada uma anomalia é parada a bombagem e inicia-se a verificação das causas da
mesma.
Existência de um grupo de operadores, 24 horas por dia, que percorrem de forma
sistemática o percurso das condutas para verificar da sua operacionalidade.
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As condutas encontram-se enterradas na maior parte do seu percurso, excepto no
atravessamento da ribeira onde esta se faz através de uma estrutura metálica. Esta
medida permite minimizar a exposição das condutas aos raios solares evitando as-
sim a sua mais rápida degradação e minimiza ainda os efeitos de dilatação e con-
tracção, provocados pelas grandes amplitudes térmicas que se registam no Alente-
jo. Se ocorrer derrame de água contaminada de qualquer uma das condutas, há um
sistema de drenagem e captação em pequenas barragens, para prevenir a conta-
minação da ribeira de Oeiras.
Na área industrial existe um sistema de drenagem e captação das águas pluviais
contaminadas e de eventuais derrames de produtos químicos. Este sistema é cons-
tituído por cinco barragens, que se localizam dentro do complexo mineiro. As bar-
ragens permitem a cobertura e captação de toda a zona de provável derramamen-
to.
No atravessamento da ribeira de Oeiras, que se faz por passagem elevada “pipe-
rack”, as condutas de rejeitados são metálicas sendo assim mais resistentes. Na
parte superior das condutas existe uma cobertura metálica em forma de meia-lua,
que no caso de rebentamento, evita que o esguicho produzido atinja grandes pro-
porções. Esta cobertura obriga a que o produto seja encaminhado para a parte in-
ferior do “pipe-rack”, onde existe um tabuleiro metálico de captação das águas
com inclinação preferencial para cada uma das margens da ribeira. Nestas existem
duas barragens para possível armazenamento das águas contaminadas e posterior
reenvio para a barragem de Rejeitados.
Dado que na fase de exploração da barragem há reutilização de água sobrena-
dante, de modo a garantir descarga nula para o ambiente, as principais acções suscep-
tíveis de gerar impactos ambientais resultam de eventuais acidentes ou do funciona-
mento deficiente da barragem.
Ao nível dos recursos hídricos superficiais não são previsíveis impactos para
além do risco de rotura da barragem ou de alguma das portelas, que pode provocar o
arrastamento dos materiais depositados (rejeitados) e consequente poluição das l i-
nhas de água. Caso ocorra tal acidente, o impacte será negativo imediato, direto e de
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magnitude elevada e significativo. Por outro lado, poder-se-á ainda verificar poluição
das linhas de água caso ocorra escorrência de água para o exterior da barragem, em
períodos excepcionais de precipitação intensa. O potencial impacte será negativo de
magnitude elevada e significativa.
Ao nível dos recursos hídricos subterrâneos, os potenciais impactos negativos
são de reduzida magnitude e pouco significativos tendo em conta o volume de perco-
lação oriundo do corpo e das fundações da barragem, que é muito pequeno e concen-
trado no sistema de poços e drenos instalados a jusante, sendo este volume bombea-
do novamente para a barragem de rejeitados. Se as escorrências captadas não forem
reconduzidas para a barragem, existe risco de poluição a jusante da barragem, dado os
parâmetros da qualidade da água apresentarem valores muito elevados de condutivi-
dade, de cloretos e sulfatos.
6.2. Deposição em Pasta
Em virtude do alteamento da barragem de rejeitados acima da cota +255 m ser
tecnicamente complicado e a construção de uma nova barragem trazer grandes impac-
tos ambientais de natureza negativa, surgiu a necessidade de encontrar outra solução
para a deposição dos rejeitados provenientes das lavarias.
A solução técnica encontrada para evitar a construção de uma nova barragem
de rejeitados foi utilizar o espaço acima da bacia actual para a deposição dos rejeita-
dos. O conceito de colocar rejeitados acima do nível do coroamento da barragem ne-
cessitava de um método de deposição “a seco”, por exemplo a deposição em pasta ou
como bolo seco proveniente da filtração. A opção recaiu na deposição em pasta, que
reduz os efeitos negativos do período pós-fecho da mina na saúde humana e no ambi-
ente (principalmente o impacte nas águas superficiais e reservas de água subterrâ-
neas).
A deposição em pasta apresenta as seguintes vantagens:
Evita a necessidade de novos alteamentos da barragem de rejeitados e/ou a neces-
sidade de construir uma nova barragem.
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Reduzir o impacto ambiental futuro na área envolvente.
Permite a implementação de um plano de fecho em simultâneo com a operação e
incorporação do escombro na bacia de rejeitados (reutilização de um resíduo).
Reduz o risco ambiental e geotécnico associado a uma barragem de água, através
da alteração faseada para deposição em “seco”.
Permite o fecho e a reabilitação de mais de metade da barragem na altura do final
da vida produtiva da mina.
O método de deposição em pasta requer a construção de uma unidade indus-
trial, completamente automatizada, de espessamento de produção de pasta a partir da
polpa dos rejeitados, centrada num espessador de cone profundo e da construção na
barragem de rejeitados de células para a sua deposição. A pasta produzida é bombea-
da para as células através de uma conduta de distribuição. Durante a deposição em
pasta é necessário controlar muitos factores para que a pasta possa ser depositada à
superfície, nomeadamente:
A variação da densidade de pasta em função da profundidade.
A cinética de secagem da pasta.
A resistência ao corte, pico e residual, em função da profundidade.
O desenvolvimento da resistência de corte com o tempo.
A tensão na pasta em função da profundidade.
O pH e condutividade das águas de escorrência.
Existem várias soluções de cobertura dos depósitos de pasta, que podem influ-
enciar a eficácia de minimização do potencial impacto ambiental dos rejeitados depo-
sitados. Entre elas incluem-se a cobertura tradicional com uma camada de baixa per-
meabilidade, e a utilização de materiais naturais para prevenir ou minimizar a oxidação
através da exclusão de água e/ou oxigénio.
O Tratamento de Minérios de Cobre da Faixa Piritosa Ibérica – FEUP, Outubro de 2011
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A unidade de produção de pasta estende-se à volta do espessador. A polpa de
rejeitados, bombeada da lavaria para a barragem de rejeitados através das tubagens, é
descarregada no tanque de armazenamento de rejeitados através de picagens instala-
das nas condutas de rejeitados. A alimentação deste tanque é controlada de modo a
que nunca seja possível o seu transbordo. A polpa pode ser constituída pela água s o-
brenadante dos ciclones (fracção fina) ou pelos rejeitados totais, conforme esteja ou
não em funcionamento a central de fabrico de pasta para a mina. O tanque de arma-
zenamento de rejeitados minimiza as flutuações da polpa de alimentação. Do tanque
de rejeitados, a polpa é bombeada para o espessador. Dentro do espessador o excesso
de água é retirado e é produzida uma pasta contendo 64% ou 76% de sólidos, confor-
me a alimentação do espessador seja feita com a água sobrenadante (overflow) dos
ciclones ou com os rejeitados totais, respectivamente. Nesta operação é utilizado um
floculante. A pasta produzida é bombeada através da conduta de distribuição para as
células de deposição. O overflow do espessador passa por um tanque de armazena-
mento antes de ser reutilizada no processo industrial.
O principal objectivo é produzir uma pasta de alta qualidade e de fácil depos i-
ção.
Uma unidade de deposição de pasta causa sempre impacto ambiental. Durante
a fase de exploração, as acções susceptíveis de gerar impactes prendem-se, sobretudo,
com o funcionamento da unidade de espessamento de pasta e a operação da conduta
de distribuição.
Assim, as principais acções geradoras de impacte são, designadamente, a even-
tual rotura da conduta de distribuição, derrames ao nível do tanque de armazenamen-
to de rejeitados e do espessador, da conduta de distribuição, transbordo da barragem
de rejeitados, lixiviação dos metais existentes na pasta e libertação de poeiras com
origem nos floculantes e na pasta desidratada.
Ao nível dos recursos hídricos superficiais não são previsíveis impactos, excepto
em situação de risco, nomeadamente rotura da barragem ou de alguma das portelas.
Esta situação com baixa probabilidade de ocorrer induz a poluição das linhas de água,
devido ao aumento da possibilidade de oxidação a sulfatos dos sulfuretos relativos
O Tratamento de Minérios de Cobre da Faixa Piritosa Ibérica – FEUP, Outubro de 2011
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contidos nos rejeitados, devido à deposição subaérea dos mesmos, podendo verificar-
se o arrastamento para o exterior, de águas de escorrência sobre células não seladas,
sendo o impacte induzido negativo imediato, directo e de magnitude elevada e muito
significativo.
Por outro lado, a deposição em pasta é indutora de um impacto positivo, ao
contribuir para reduzir a quantidade de água armazenada minimizando o risco de rotu-
ra da barragem. Por sua vez um aterro de material sólido é muito mais estável do que
uma barragem de desperdícios coberto de água. Em caso de rotura é muito mais rápi-
do e fácil de impedir a contaminação dos recursos hídricos superficiais no caso de de-
posição subaérea do que no caso da deposição subaquática.
Ao nível dos recursos hídricos subterrâneos, os potenciais impactos negativos
consideram-se diminutos e pouco prováveis, dado que os volumes de infiltração pre-
vistos são reduzidos.
O projecto de Deposição em Pasta é uma solução que permite aumentar a vida
útil da barragem de rejeitados e simultaneamente resolver um passivo ambiental exis-
tente, nomeadamente os aterros e escombreiras.
O Tratamento de Minérios de Cobre da Faixa Piritosa Ibérica – FEUP, Outubro de 2011
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7. Conclusão
A faixa piritosa Ibérica é rica em pontos de interesse geológico, mineiro e turí s-
tico devendo assim as suas características naturais serem aproveitadas em acções
de classificação como património cultural. Assim cotada, seria possível dar início a
projectos de reabilitação ambiental e um maior investimento nessa área, procu-
rando preservar o património mineiro e assim fazer com que certas minas incluídas
na faixa piritosa se tornassem importantes pontos turísticos a nível mundial.
O facto da maior parte das minas da faixa piritosa Ibérica representarem um
elevado risco geológico e ambiental, prende-se com as estruturas das minas aban-
donadas, que são inadequadas e que não minimizam o impacto ambiental princi-
palmente a nível hidrográfico. Além disso, as minas activas, nem sempre cumprem
com a lei e continuam a depositar os seus inertes ilegalmente, contribuindo assim
para uma contínua degradação ambiental.
Em jeito de conclusão, é necessário investir em novas tecnologias de extracção
e de tratamento de minérios que conduzam a menores perturbações ambientais,
tanto ao nível da qualidade do ambiente como de outros aspectos, como por
exemplo o impacto visual, isto não só para o bem da própria fauna e flora do local
mas também para os residentes nessa área específica.
O Tratamento de Minérios de Cobre da Faixa Piritosa Ibérica – FEUP, Outubro de 2011
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