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Page 1: O transcendente e o imanente em A Ideia da Fenomenologia ... · seus aspectos, desde a atitude natural até a abordagem devidamente fenomenológica. Com esse desenvolvimento pretendemos

O transcendente e o imanente em A Ideia da Fenomenologia de Husserl

The transcendent and the immanent in Husserl’s The Idea of Phenomenology

Bruno Alves Macedo1

Resumo: Trata-se de delimitar o desenvolvimento da epoché conforme a apresentação de

Husserl em A Ideia da Fenomenologia e analisar, brevemente, de que forma as Investigações

Lógicas são entendidas em relação ao refinamento da redução fenomenológica. Para que tal

demarcação seja devidamente apresentada, trabalharemos levando em consideração os

apontamentos de Carlos Alberto Ribeiro de Moura em sua obra A Crítica da Razão na

Fenomenologia. Ao longo deste trabalho, os conceitos de transcendência e imanência, essências

para a compreensão do método fenomenológico, serão devidamente esclarecidos em todos os

seus aspectos, desde a atitude natural até a abordagem devidamente fenomenológica. Com esse

desenvolvimento pretendemos apresentar um direcionamento para uma melhor compreensão de

como Husserl supera uma circularidade que se apresenta no interior da redução.

Palavras-chave: Fenomenologia. Transcendental. Imanente.

Abstract: This work aims to delimit the development of Husserl’s epoché accordingly to his

presentation in The Idea of Phenomenology and briefly analyze how the Logical Investigations

are understood regarding the refinement of the phenomenological reduction. To achieve such

delimitation and to properly present it, we shall work taking into account The Criticism of

Reason in Phenomenology by Carlos Alberto Ribeiro de Moura. During our work, the concepts

of transcendence and immanence, which are essential to comprehend the phenomenological

method, will be properly elucidated in all of it’s aspects, from the nactural attitude to the rightly

phenomenological approach. By the development of this work we intend to present the

directions for a better comprehension of how Husserl overcomes a circularity inner to the

reduction.

Keywords: Phenomenology. Transcendent. Immanent

* * *

1. Introdução

Pretendemos expor o movimento da redução fenomenológica em duas obras

específicas de Husserl: A Ideia da Fenomenologia e as Investigações Lógicas. Serão

delimitadas as definições de atitude natural e atitude filosófica para que se possa melhor

compreender de que forma o pensamento de Husserl, nas Investigações, permanecia no

solo do pensamento natural, mas sem deixar ser parte necessária para o refinamento da

epoché.

1 Graduando em filosofia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Bolsista PIBID. E-mail:

[email protected]

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Husserl define a teoria do conhecimento como um esforço crítico que deve se

debruçar sobre a relação entre o conhecimento mesmo, o sentido do conhecimento e seu

objeto. Trata-se de um movimento crítico por conta sua atitude de eliminar qualquer

posicionamento cético em relação à essência do conhecimento. Outro problema inicial

que a crítica da razão enfrenta é a lida com interpretações errôneas que provém da

atitude natural, principalmente em relação à essência da objectalidade.

2. A atitude natural

Apresentamos a seguinte questão: como surge e se desenvolve a crítica do

conhecimento? A atitude natural, em seu primeiro momento, está direcionada às coisas

numa relação intuitiva com o que está simplesmente dado no mundo e é deste modo que

se produzem seus juízos. É nesse âmbito que surgem as lógicas científicas básicas, a

partir de um expressar o que é apresentado pela experiência direta, ou seja,

desenvolvem-se os métodos indutivo e dedutivo. Afinal, sempre estando numa relação

básica com as coisas, a ciência natural funciona num modo lógico de acordo com elas.

Na atitude natural, as coisas são, por princípio, diferentes das manifestações

pelas quais elas vêm a se tornar presentes. A consciência do mundo é sobre um mundo

que está presente sem necessariamente se localizar plenamente no campo de percepção,

pois ele é independente dela. O eu é entendido como fazendo parte desse mundo.

Se apreendo a subjetividade como uma região, é inevitável que eu

apreenda os outros conteúdos como pertencentes a outras regiões,

como separados e exteriores a ela. Se decodifico o objeto como um

em-si, é necessário que eu separe dele o domínio de sua manifestação,

o domínio da subjetividade, como formando uma região exterior a ele.

(MOURA, 1989, p.165)

3. A atitude natural reflexiva

De acordo com essa primeira descrição, feita por Husserl, sobre a atitude natural,

o conhecimento não é problema. Ele é inconcebível como problema, sua possibilidade é

óbvia. Porém, é intrínseco à sua constituição natural que ele mesmo, o conhecimento, se

torne seu objeto de investigação.

O conhecimento é um acto da natureza, é vivência de seres orgânicos

que conhecem, é um factum psicológico. Pode como qualquer factum

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psicológico, descrever-se segundo as suas espécies e formas de

conexão e investigar-se nas suas relações genéticas. (HUSSERL,

2015, p.39)

Surge, então, a expressão de uma reflexão dentro da atitude natural, que faz de

objeto de investigação as conexões a priori do processo de significação. Há o

desenvolvimento de uma lógica pura. Afinal, aquela consciência mundana da atitude

natural apresenta uma duplicidade entre consciência do próprio homem natural e

consciência do mundo em que se encontra, isso gera um estranhamento acerca da

ligação entres essas duas consciências.

É também este o momento em que se desenvolveram as Investigações Lógicas,

pois, enquanto ela avançava na crítica de uma tradição que negligenciava as diferenças

entre percepção, consciência de imagem e consciência de signo; e enquanto combatia o

ato de comparar a imagem com o objeto original, não deixava de levar em consideração

o objeto como algo que está além das manifestações. Nesse caso, ainda se manifestam

uma interioridade e uma exterioridade.

As Investigações criticavam a representação clássica por confundir

modos de consciência descritivamente diversos e por enveredar em

dificuldades lógicas. Agora, essa crítica permanecerá válida, mas

Husserl insistirá mais sobre um ponto que em 1901 ele negligenciava:

supor que a representação se faz por imagem ou por signo é supor um

objeto exterior ao qual a consciência efetivamente não tem acesso, é

supor uma transcendência real do objeto frente à consciência, uma

separação real entre objeto e suas manifestações. (MOURA, 1989,

p.171)

Logo, é exatamente na análise da relação vivência cognitiva; significação;

objeto, que, de acordo com Husserl, surge o problema da possibilidade do

conhecimento. Como pode o conhecimento estar certo sobre a sua apreensão dos

objetos neste ato de ir além de si? Trata-se de questionar como pode-se dizer, levando

em consideração que a percepção é uma vivência do sujeito, que não existem apenas os

atos, mas também o que é conhecido por eles. Aqui abre-se espaço para o surgimento de

um solipsismo ou de um ceticismo em geral.

Esse é o ponto de partida para Husserl apresentar a necessidade de uma devida

ciência sobre o ente. A primeira referência que nos vêm à uma ciência dessa espécie é a

metafisica, pois sua abordagem é compreender a essência do conhecimento, da

objectalidade (levando em considerações suas diferentes configurações elementares) e

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os vários modos fundamentais em que conhecimento e objectaliade se relacionam.

Porém, Husserl afirma:

Se abstrairmos das metas metafísicas da crítica do conhecimento,

atendo-nos à sua tarefa de elucidar a essência do conhecimento e da

objectalidade cognitiva, ela é então fenomenologia do conhecimento e

da objectalidade cognitiva e constitui o fragmento primeiro e básico

da fenomenologia em geral. (HUSSERL, 2015, p.44)

4. A atitude filosófica

Fenomenologia é o momento da atitude intelectual filosófica. Em seu percurso

inicial, a principal característica é a lida com pequenos detalhes nos modos de

abordagem e compreensão prévias em relação ao conhecimento. É um esforço de

atenção para que realmente haja um devido desligamento de qualquer abordagem ao

modo da atitude natural, o que inclui o psicologismo. Na atitude filosófica, o mundo

passa a ser um todo não formado por consciência e objeto e sim como uma parte de um

todo que é formado pela consciência e objeto.

A psicologia pode ser capaz de exercer a redução até certa medida, porém, não é

uma redução com um aspecto universal por ser incapaz de não apreender a

subjetividade como uma região do mundo.

Se a existência do objeto não interessava em nada à análise do

psicólogo, nem por isso ele deixava de apreender esse objeto como um

em-si, como um conteúdo distinto de suas manifestações, situado no

exterior da “região” consciência. (MOURA, 1989, p.166)

É crucial, ao devido exercício do método fenomenológico, que não se faça uso

de nenhum modelo metódico de nenhuma ciência natural, nem mesmo a matemática, e

que não haja equiparação entre o objeto da filosofia e o de qualquer outra ciência

natural. A filosofia se estabelece em uma posição nova com pontos de partida

totalmente novos em relação ao conhecimento natural. Ela deve abster-se de todo o

trabalho intelectual produzido pelas ciências naturais.

Ao compreendermos o direcionamento que a crítica do conhecimento toma, é

preciso, então, entender como ela deve ser estabelecida. A epoché, necessária para uma

devida crítica do conhecimento, deve evitar qualquer conhecimento, principalmente

qualquer tipo de conhecimento previamente dado. O movimento seguinte é o

estabelecimento de um conhecimento que a epoché dê a si mesma e o tenha como

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primeiro. Ao redor desse primeiro conhecimento não pode haver nenhum enigma, deve

ser absolutamente dado e indubitável.

É evidente que o método cartesiano deve, neste momento, ser retomado e

trabalhado com a fenomenologia. Husserl reafirma, de acordo com o método, que, ao

julgar tudo como duvidoso, o julgar é indubitável, assim como o ato de duvidar é

indubitável. Somos, dessa forma, direcionados a entender que sobre o perceber, o

representar, o julgar, o raciocinar, independentemente do modo do objeto desses atos, é

certo que ao perceber, percepciono isto; ao julgar, julgo isto, etc.

Vejamos o uso que Husserl faz da meditação cartesiana com as devidas

modificações para o direcionamento da fenomenologia: Uma percepção pode ser

concretamente efetuada ao modo de que se pode ver o que é percepcionado, o mesmo é

válido para uma recordação, por exemplo, ou até mesmo uma fantasia. Podemos

direcionar o “ver” para o que é dado em qualquer um desses modos. A conclusão de

Husserl é que em toda vivência há um objeto puro que pode ser visto e entendido como

um dado puro, no modo do isto-aqui.

5. O transcendente e o imanente

Qual é a essência do problema sobre a possibilidade do conhecimento? Husserl

responde essa pergunta apontando para o fato de que o conhecimento objetiva um

transcendente. O transcendental é mostrado como o que é, de fato, enigmático para a

análise da possibilidade do conhecimento, pois este pretende atingir coisas que não

estão nele. Neste momento, nos aproximamos da definição de Husserl sobre os dois

sentidos de transcendência. “Pode, por um lado, querer dizer que o objeto de

conhecimento não está como ingrediente contido no acto cognitivo, de modo que por

“dado no verdadeiro sentido” ou “dado imanentemente” se entende o estar inclusamente

contido” (HUSSERL, 2015, p.58).

Ingrediente da cogitatio é definido por Husserl como um componente, ou seja, o

que é percebido está presente na cogitatio, mas não é realmente nela existente, não é

ingrediente. Nessa compreensão, a imanência significa aquilo que está incluso no

interior do ato cognitivo. Eis a questão, como a vivência é capaz de ir além de si

mesma?

O outro sentido de transcendência refere-se a algo que, em absoluto, não é

intuído, sua posição está além do que é dado. Nessa compreensão, a imanência possui o

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significado de aquilo que é evidente, ou seja, está absolutamente dado, a objectalidade

intentada está imediata. Eis uma outra questão, como algo pode ser estabelecido pelo

conhecimento como existente se não está diretamente dado, se não está dado em

absoluto?

Está claro que, para a fenomenologia, a questão é a possibilidade da

transcendência e não sua realidade. O fenômeno da cogitatio não se mistura com o

enigma da transcendência, pois o objeto do fenômeno puro está dado e puramente

intuído. Para que isso seja melhor compreendido, é preciso ter com clareza a forma

como o que é desenvolvido por Husserl na Ideia da Fenomenologia não se confunde

com a psicologia.

Se eu, como homem que pensa na atitude natural, dirijo o olhar para a

percepção, que justamente estou a viver, percebo-a logo e quase

inevitavelmente ao meu eu; ela está aí como vivência desta pessoa

vivente, como estado seu, como acto seu; o conteúdo sensitivo está aí

como o que conteudalmente se dá a essa pessoa, como o sentido e

sabido por ela; e a vivência insere-se, juntamente com a pessoa, no

tempo objectivo. (HUSSERL, 2015, p.68)

Essa interpretação é ao modo da psicologia, por causa do seu comportamento em

tratar a vivencia como algo que se insere num tempo e pertence a um eu que está

inserido no mundo. Desse modo, ao suspendermos esses conceitos, que são

transcendências, podemos nos direcionar intuitivamente ao fenômeno puro da

apercepção, isto é, a cogitatio. Por isso Husserl afirma que ao aplicarmos a redução

fenomenológica numa vivência psíquica o resultado é um fenômeno puro.

Para que possamos entender melhor, é importante frisar que a questão sobre a

possibilidade de um conhecimento transcendente não pode ser posta a partir de um eu

que pertence ao mundo, pois isso seria já ter um conhecimento transcendente como

pressuposto.

A fenomenologia do conhecimento é então definida por Husserl como um estudo

da essência dos fenômenos cognitivos puros. O fenômeno deve ser cientificamente

conhecido. No campo da fenomenologia, esse conhecer cientificamente implica que não

há algum tipo de validade objetiva nem sentido objetivo, apenas verdade subjetiva. A

questão que agora se apresenta é: como obter juízos cientificamente válidos na esfera da

fenomenologia? Afinal, ciência implica em objetividade e transcendência.

A epoché exige que não haja transcendência antes de estabelecer como se dá a

possibilidade do transcendente, mas, se para entender essa possibilidade é preciso fazer

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uso de certas posições transcendentes, então a fenomenologia estaria em uma

circularidade.

Carlos Alberto Ribeiro de Moura analisa a redução fenomenológica por dois

aspectos: o negativo, que serve apenas para contornar essa circularidade; e o positivo,

que, ao devidamente desenvolver uma crítica dos prejuízos da atitude natural, abre

caminho para uma subjetividade que nada tem a ver com a interioridade do homem

natural, mas que é totalmente cogitatio. Busca-se não um eu mundano e sim um eu

transcendental que pode pôr questões transcendentais e que, como afirma Husserl, é

denominado eu apenas por equívoco. Moura sintetiza a redução do seguinte modo:

[...] 1º) que a coisa não está além de sua manifestação e que portanto

ela é relativa à percepção e dependente da consciência; 2.°) que a

consciência não é uma parte ou região de um todo mais amplo, mas é

ela mesma um todo que é absoluto, não-dependente, e que não tem

nada fora de si. (MOURA, 1989, p.170)

Husserl desenvolve uma solução: a percepção do imanente se dá ao modo da

redução, na percepção reflexa, em que o que é intuitivamente intentado é imediatamente

apreendido. Trata-se de apreender o que é dado por si mesmo sem que se vise algo que

não é dado. Em relação ao intentar transcendente, o que é intentado não está dado e não

pode ser por si mesmo ser compreendido. Dessa forma, nos movemos à próxima

questão dentro desse âmbito: Se o que é diretamente apreendido pela intenção intuitiva,

se o que se dá em si mesmo, for apenas a vivencia singular do isto-aqui, como obter

intuitivamente universalidades que são evidentes por si mesmas?

Husserl demonstra a essência da percepção como uma percepção que se dá

nesses modos singulares do isto, sendo assim, o objeto intencionado é essencialmente

perceptível apenas nestes modos singulares. Isso implica em que não há sentido num

objeto distinto desses múltiplos singulares. Aqui aparece a devida abordagem

fenomenológica daquela tradição que as Investigações ainda não concretizavam, não há

transcendente frente à coisa sensível e a coisa sensível, como explica Moura, não

transcende a consciência, finalmente se elimina a mediação das manifestações.

6. Considerações finais

Não há mais espaço para o eu cartesiano se essa subjetividade que Husserl

desenvolve não possui uma exterioridade. Essa interioridade possui nela mesma um

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imanente e um transcendente de forma que esses dois conceitos assumam, neste

momento, uma forma que não é a da atitude natural.

Esses conceitos, Husserl começa a elaborá-los já em A Idéia da

Fenomenologia, onde ele distinguia: 1) o conceito autêntico de

imanência, determinado pela doação em pessoa (Selbstgegebenheif) e

2) o conceito autêntico de transcendência, determinado pela

identidade (e não mais pela exterioridade à consciência como na

transcendência real). (MOURA, 1989, p.184)

A crítica do conhecimento, de acordo com Husserl, necessita de dados absolutos.

A resposta está nos juízos sobre as cogitationes enquanto adequados à cogitatio. “E

ainda que às cogitationes, sobre as quais fazemos enunciados, se acrescentem pelo

pensar predicativo novas cogitationes, não são estas, no entanto, as que constituem o

estado de coisas predicativo, a objectalidade do enunciado”. (HUSSERL, 2015, p.76)

Husserl está se referindo ao enunciado que aponta para a constituição de um “evento”

da cogitatio, por exemplo, ao apontarmos que na base de um certo fenômeno judicativo

existem tais fenômenos de representação.

Se a fenomenologia faz análise de essências sob as condições do intuir aquilo

que se apresenta absolutamente, ela é ciência e método para a elucidação de

possibilidades do conhecimento a partir de sua essência fundamental, e analisar

essências é conhecer objectalidades universais.

Referências

MOURA, C. A. R. Crítica da razão na fenomenologia. São Paulo: Nova Stella; Editora

da Universidade de São Paulo, 1989.

HUSSERL, E. A Ideia da Fenomenologia. Trad. Artur Morão. Lisboa: Edições 70,

2015.