o talmude

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    O Talmud(As verses bblicas aqui utilizadas so a Almeida Corrigida Fiel e a Bblia Hebraica, da Editora

    Sfer).

    A palavra Talmud(dUm:lft) deriva-se da palavra hebraica lamad(damfl) que significaensinar, instruirou tambm aprender. O Talmud o manancial bibliogrfico do judasmorabnico criado durante a era helenstica da histria judaica. No um nico livro como

    geralmente se cr mas uma coleo de livros. uma autntica biblioteca de tratados deleis e regulamentos rabnicos, tradies, costumes, ritos e cerimnias, assim como leis civis ecriminais.

    Alm disso, o Talmud contm opinies, discusses e debates, aforismos moralsticos eexemplos biogrficos de sbios rabnicos. Estes so apresentados aos devotos a fim deinspirar a emulao na sabedoria e na conduta tica. O Talmud tenta ainda orientar asmassas judaicas atravs dos abrolhos perigosos da f e da vida, por meio de ensinamentospopulares que trazem baila todas as artes e os artifcios pedaggicos de um folclorealtamente desenvolvido.

    Depois da Tor, o Talmud o mais importante livro da cultura judaica. A definioformal do Talmud no impressiona muito: o sumrio da lei oral que evolveu aps sculos deesforo erudito de sbios que viveram em Jerusalm e na Babilnia at o incio da idademdia. Ele uma criao no somente de uma poca, mas de sculos de empenho coletivo.Seu contedo originou-se da revivescncia e do auto-exame moral que acompanhou a revoltados Macabeus na vida judaica (sculo II a.E.C.), e que terminou com a concluso do Talmudda Babilnia no ano 500 E.C.

    O esforo de elaborao de uma sntese racional da crena e das observncias com aconduta moral e a lei ocupou literalmente, milhares dos melhores e mais nobres espritosjudeus, num perodo de tempo de possivelmente sete sculos. Um certo erudito bblicoprotestante do sculo XIX, Franz Delitzch, definiu certa vez o enorme alcance do Talmud comouma imensa reunio pblica na qual milhares, e at mesmo dezenas de milhares, de vozes depelo menos cinco sculos, so ouvidas em conjunto

    .O Talmud foi descrito em perspectiva, certa vez, com muito acerto, como a bblia deIsrael aumentada e ilustrada. Para a grande maioria dos conhecedores, o Talmud o cdigo

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    de confiana das crenas, prticas e observncias religiosas judaicas, embora para muitosjudeus, elas no tenham mais qualquer importncia na vida e nas necessidades da vidajudaica moderna.

    O Talmud tem um carter dinmico. Foi engendrado por seus arquitetos rabnicos comoum instrumento de adaptao da religio judaica s circunstncias variveis da vida. Ele semdvida, expressa de maneira clara as experincias prticas dos grandes mestres de Israel emrelao Tor. Indague-me sobre um ponto da lei, ensinava o sbio talmdico Rami BarChami, e embora eu lhe responda segundo a razo, voc encontrar seu paralelo natradio(isto , na experincia comprovada pelo tempo). A tradio judaica derivou-se dospreceitos extrados da Tor e por conseqncia, do Talmud.

    O Talmud composto de duas partes principais: a Mishn (da raiz hebraica shanah

    [hfnf$], que significa repetio) e o comentrio sobre a Mishn, denominado Guemar (queem aramaico significa trmino). A Mishn o cdigo de leis orais passadas de gerao agerao e foi escrita em hebraico. A Guemar todo o comentrio sobre estas leis orais e foiescrita em aramaico.

    O objetivo principal dos sbios do Talmud era o de delinear para o povo judeu um plano

    claro para uma forma total de vida. Eis o porqu um dos mais ilustres desses sbios, SimoBem Gamaliel, ensinava: No o estudo(da Tor), mas o fazer que o principal.

    do Talmud que se origina a chamada Lei Oral (Tor Shebealp). um conglomerado delei, lenda e filosofia, um misto de lgica singular e penetrante pragmatismo. De histria ecincia, anedotas e humor. Porm, muitos cometem o erro de pensar que ele essencialmentelegal, o que, na realidade, no o caso.

    Como se sabe, os cinco livros de Mosh (Moiss) contm a Lei escrita (Tor Shebichtavpronuncia-se chebirrtv. Significa literalmente Tor que est escrita). Contudo, nos vriossculos subseqentes compilao cannica das escrituras efetuada em 444 a.E.C. porEsdras e pelos escribas (Soferim), estes ltimos acharam necessrio suplementar a Torescrita com um outro conjunto de jurisprudncia sacra. Este cdigo foi chamado em hebraicode Tor Shebealp (Tor oral).

    A Tor oral consistia, em sua maior parte, de leis, regulamentos, decises, opinies eensinamentos ticos transmitidos oralmente por um nmero relativamente grande deautoridades religiosas, cada uma das quais geralmente combinava, em si mesma, as funesvariadas de pensador, mestre, jurista e moralista. Era uma corrente contnua de tradio queeles passavam de gerao para gerao, cada mestre a seus discpulos.

    Uma coisa porm certa: essas tradies devem ter se originado num perodo muitoanterior, pois era razovel conjecturar-se que muito tempo tinha que ocorrer antes que umatradio se tornasse definitiva, aceita pelo povo e depois fixada e respeitada.

    Desde os tempos antigo o povo judeu tem vivido de acordo com as leis do cdigo mosaico.Por certo nmero de geraes, particularmente na poca dos Juzes e na era do PrimeiroTemplo (c. 950-586 a.E.C.), essas leis nem sempre foram estritamente observadas. O povo,embora s vezes praticasse transgresses e fosse repreendido pelos profetas, continuava aconsiderar-se ligado por laos indissolveis ao corpo de leis que lhe fora legado pela revelaodivina. E quase desde o incio a Tor oral acompanhou a Tor escrita.

    Mui pouco se sabe das origens e primeiros desenvolvimentos da lei oral, por serem emgeral esparsas as informaes sobre a vida cultural e espiritual na era do Primeiro Templo.Mas a partir de vrias referncias na bblia, podemos verificar como a lei oral evolveu parainterpretar e complementar a legislao escrita.

    Est claro, em princpio, que todo cdigo legal escrito deve ser acompanhado de uma leioral. Em primeiro lugar a tradio oral inerente ao prprio ato de transmitir o uso de

    palavras, prpria preservao e ao estudo de uma linguagem. Cada idia, cada palavra dalei escrita tem de ser passada de gerao a gerao e explicada aos jovens. Onde se trata de

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    palavras simples, do dia-a-dia, isso ocorre automaticamente, como parte da transmissonormal da lngua viva, mas sempre existem palavras raras que requerem elucidao especial.

    Os eruditos judeus foram obrigados relativamente cedo a admitir que certas palavras daTor por exemplo, os nomes de animais eram para eles desconhecidas e no tinham meiosde identific-las. Em casos em que as palavras no eram explicadas ao estudante por ummais velho que realmente indicava o objeto e lhe dava o nome, seu significado no podiaconservar-se por muito tempo. Portanto, a tarefa bsica da lei oral era transmitir osignificado de palavras. Algumas destas eram facilmente entendidas, outras eram menosclaras. Quando o texto da Tor se refere, por exemplo, com relao a uma das quatro espciesda festa de Sukot, a ramos de rvores frondosas(Lv. 23:40), a expresso poderia aplicar-se avrias espcies botnicas. Assim, era necessrio que o pai ou o professor explicasse aoestudante que a referncia era feita murta.

    Outras necessidades surgiram aps essa primeira fase e uma delas foi a definio depalavras e conceitos registrados na Tor. Pode ser que esses conceitos fossem claros einequvocos para uma ou duas geraes. Mas valores e costumes modificam-seinevitavelmente e aparecem novos problemas, de modo que se torna essencial definir osignificado preciso de certas palavras. Um exemplo disso o mandamento de se guardar oShabat (sbado). A Tor cita alguns trabalhos que no devem ser feitos no Shabat, mas comodefinir o trabalho? Alm disso, cada gerao apresenta suas prprias indagaes sobreatividades no familiares a geraes anteriores.

    Uma outra importante tarefa da lei oral que andava a par com a lei escrita relaciona-secom costumes populares ou fatos de conhecimento geral que no so pormenorizados no textobblico e s podem ser aprendidos atravs da tradio oral. Por exemplo, ao se referir ao abatede animais, a Tor diz: Podero matar de teu gado e de teu rebanho...conforme te mandei(Dt.12:21). O mandamento citado denota a existncia de uma tradio oral, pois onde, naTor, nos informado a maneira apropriada de se abater um animal? Outro mandamentorelacionado com a lei oral o de se escrever uma carta de divrcio (Dt. 24:1). O que entende

    deste texto que havia determinadas maneiras com que se podia escrever o divrcio e queesta carta (Sefer Kritut) era um procedimento comum.Vemos, pois, que o cdigo mosaico, como qualquer outro corpo de leis, requeria

    enquadramento dentro dos quais os problemas pudessem ser debatidos e esclarecidos, umatradio viva que eruditos estudiosos tanto da lei oral como da escrita fossem autorizados equalificados a transmitir. A prpria Tor admitia que havia uma possibilidade de surgiremproblemas que no pudessem ser resolvidos pela simples leitura do texto e que devessem sersubmetidos a conhecimento mais especializado.

    Quando alguma coisa te for difcil demais em juzo, entre sangue e sangue, entre demandae demanda, entre ferida e ferida, em questes de litgios nas tuas portas, ento te levantars, e

    subirs ao lugar que escolher o SENHOR teu Deus; E virs aos sacerdotes levitas, e ao juiz quehouver naqueles dias, e inquirirs, e te anunciaro a sentena do juzo. E fars conforme ao

    mandado da palavra que te anunciarem no lugar que escolher o SENHOR; e ters cuidado defazer conforme a tudo o que te ensinarem. Conforme ao mandado da lei que te ensinarem, econforme ao juzo que te disserem, fars; da palavra que te anunciarem te no desviars, nempara a direita nem para a esquerda (Dt.17: 8-11).

    Na era do Primeiro Templo j encontramos meno aos tofsei Tor(os que aprenderamna Tor), homens que se dedicaram ao estudo e interpretao da lei. No comeo da era doSegundo Templo, quando Ezra (Esdras) o escriba lia em voz alta a Tor ao povo (445 a.E.C.),um grupo de levitas postava-se a seu lado para expor o significado pleno do texto.

    Ezra, que era um sacerdote e escriba, foi o primeiro sbio a ser identificado pelo nome,dentre todos que estudaram e interpretaram a Tor e ensinaram ao povo. Dele se disse queera um escriba versado na lei de Moiss dada pelo Senhor Deus (Ed. 7:6). E a tarefa que

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    assumiu tornou-se a misso de todos os professores que lhe seguiram. Porque Ezra preparaseu corao para buscar a lei do Senhor e ensinar em Israel estatutos e julgamento (Ed. 7:10).Ele foi portanto, o precursor da era dos escribas annimos, o perodo conhecido na histriajudaica como a Knesset Guedol(a Grande Assemblia).

    Sem dvida havia inmeras razes vlidas para a criao de novas leis quesuplementassem ou modificassem as j existentes leis das escrituras. Certamente, porm,nenhuma delas era mais imperiosa do que as exigncias das condies sociais e materiais davida judaica durante a era do Segundo Templo. J na poca dos Macabeus estavam-seoperando mudanas na economia da judia e na estratificao social do povo. Estastornaram-se ainda mais aparentes depois do grande incremento e diversificao daagricultura, do comrcio, e dos negcios do pas sob a explorao impiedosamente eficienteempreendida pelos romanos, que pretendiam obter para si prprios todo lucro materialpossvel dos judeus.

    Como resultado, as leis bblicas no eram mais consideradas adequadas para atender snovas contingncias. As lacunas tinham que ser corrigidas de algum modo, mas isto nopoderia ser feito arbitrariamente, pois as escrituras eram consideradas inviolveis e suasverdades eternas. Portanto, as rebuscadas leis orais, incorporadas Mishn, foramelaboradas, sem exceo, com base em sugestes ou simples afirmativas contidas na Tor eque se prestavam a interpretaes.

    necessrio ter-se em mente que a Mishn representava principalmente o pensamento eos ensinamentos dos sbios rabnicos, que em sua maioria eram indubitavelmente fariseus.No contexto histrico da poca, esses homens eram os liberais religioso-sociais da Judia. Notinham medo de desafiar o status quoou de rejeitar as doutrinas antiquadas e sacrossantas.

    E o mais importante era que, em face da oposio ferrenha e da censura de seusopositores, no hesitavam em ampliar as leis bblicas adaptando-as de forma realista eeficaz s exigncias da vida.

    A senda dos sbios rabnicos estava mais cheia de espinhos do que de rosas. Contra eles

    colocavam-se os poderes governantes os membros da seita dos saduceus osfundamentalistas que governavam com a ajuda de Roma e com ela colaboravam na opressoao povo judeu. Essa classe opunha-se teimosamente a qualquer modificao das leis eprticas religiosas. Flvio Josefo, historiador judeu do sculo I, que foi testemunhacontempornea destes acontecimentos, declarou: Os fariseus(isto , os sbios da Mishn)obedecendo tradio de seus pais, fizeram muitas ordenanas para o povo a respeitodas quais nada existe de escrito nas leis de Moiss; da serem elas rejeitadas pelaseita dos saduceus.

    Atravs de uma outra fonte histrica, Flon (c. 20 a.E.C. 40 E.C), verifica-se que mesmono Egito helenstico, que era bastante distante das influncias e controvrsias rabnicas daJudia, havia em uso entre os judeus mirades de costumes e usos no escritos. Flon fez

    essa afirmativa quase dois sculos antes da edio final do cdigo da Mishn por YehudHaNassi (por volta do ano 220 E.C).Foi, na verdade, em grande parte, devido tradio bblica que uma lei oral chegou a ser

    considerada to vlida quanto a lei escrita. Ostensivamente, no esquema de valores dacultura religiosa judaica, a tradio era muitssimo respeitada a tal ponto que umaautoridade talmdica declarou terminantemente: A Tor que no se baseia na tradiono Tor.

    Nos anos em que os judeus vagaram no deserto, depois de deixar o Egito, Moiss havianomeado um conselho de setenta ancios que ele mesmo presidia (Nm. 11: 16,24,25). Essecorpo administrativo judicirio foi criado para que este lhe desse assistncia quando fossesentar-se dentro dos portesa fim de julgar o povo. Fundamentada nesse precedente

    consagrado da era de Moiss, criou-se poca do segundo Templo a instituio dos Homensda Grande Assemblia (tambm conhecida como os Homens da Grande Sinagogaou OGrande Sindrio). Essa era, que corresponde aproximadamente ao perodo do domnio persa

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    na palestina (539-332 a.E.C), no foi objeto de crnica acurada. A natureza exata da GrandeAssemblia no est esclarecida. Era composto de 70 escribas (soferim) e sacerdotes eruditosque eram presididos por um sumo sacerdote.

    Eram os membros da Grande Assemblia na verdade que coletavam os escritossagrados, decidiam que livros deviam ser consagrados na bblia, que captulos decada livro deviam ser selecionados e deram bblia sua forma e estilo definitivos. Ocompletamento da bblia, um dos maiores projetos da Grande Assemblia, tambmmarcou o comeo do reinado da lei oral. Uma vez concludo o trabalho de canonizao dabblia, conhecidos e aceitos por todos quais os escritos que constituam a autoridade centralem que se alicerava a vida judaica, coube aos escribas a tarefa de organizar e estudar a leioral.

    Esse corpo religioso-legislativo-judicirio supremo decretou muitas leis adicionais eregulamentos. Deu incio a novos costumes, instituiu muitas observncias e cerimniasrituais e estabeleceu o esquema essencial para a liturgia da sinagoga. No entanto e este oaspecto mais extraordinrio de suas atividades legislava e exarava oralmente suas opinieslegais! Registrar por escrito quaisquer das leis ou regulamentos, era proibido pelosHomens da Grande Assemblia. Ao estabelecerem essa regra, no eram movidos porqualquer idia supersticiosa ou por capricho, mas sim por consideraes prticas. Temiamque o registro escrito das leis orais poderia resultar em confuso e somente levar acontradies em relao s leis e aos mandamentos j existentes na Tor escrita.

    No entanto, a memria frgil demais; no um elemento de absoluta confiana.Presume-se portanto, que os Tanaim(mestres rabnicos da Mishn), para melhor guardar alembrana das leis no escritas de modo a errar o mnimo possvel, ao mesmo tempo em queobedeciam proibio de escrev-las para fins de instruo pblica, faziam anotaessecretas e abreviadas delas para referncia pessoal. Sem dvida, os tanaim sentiam umanecessidade desesperada de memorizar corretamente as leis orais. O Rabino Meir, um dosprimeiros impulsionadores da compilao da obra escrita, disse certa vez: Quando um

    erudito esquece uma palavra de sua Mishn, ele julgado[pelo cu] como se houvessearriscado a prpria vida.A enorme quantidade de material acumulada em sculos era multiforme e diversificada e

    nem sempre disposta de forma a facilitar o estudo. Os homens da Grande Assemblia, osescribas, comearam por estudar as tradies orais que incluam interpretaes, costumes eprecedentes legais, e sua principal realizao foi a ligao dessas tradies com a lei escrita.Foram esses escribas que elaboraram os mtodos bsicos do midrash halachah(exegesehalchica), isto , mtodos de estudar e derivar halachah(leis, modo de agir)dos prpriostextos bblicos, conciliando aparentes contradies do texto, interpretando informaesenigmticas, e analisando e resolvendo problemas atravs do esquadrinhamento do texto.Tambm procuraram meios de introduzir ordem na massa de material de modo a facilitar sua

    transmisso sistemtica e estudo metdico.A proibio contra anotar as leis orais, com o correr do tempo, comprovou-seinteiramente infundada. Tais escrpulos haviam sido frustrados pelo prprio zlo dos muitoscompiladores e acima de tudo, pelo aglomerado de tradies, leis, regulamentos, costumes,opinies e decises que os pais da tradio oral haviam exarado no curso de vrios sculos.Hilel, o escriba fariseu e mestre de Jerusalm (10 E.C.), chamado de Mosheh Rabeinu (Moissnosso mestre) em sabedoria, humildade, pacincia e benevolncia, foi o primeiro sbiorabnico a tentar estabelecer alguma ordem no caos dos ensinamentos orais. No se sabe,porm, que destino teve o cdigo por ele elaborado.

    A Grande Assemblia ocupou-se igualmente com criar numerosos novos regulamentosquando se faziam mister. Cumpre recordar que no incio do perodo do segundo Templo, a

    comunidade judaica na Judia, que consistia do grupo de exilados de retorno da Babilnia edos remanescentes da populao autctone, diferia grandemente, quanto composio eestrutura, da comunidade da poca do segundo Templo. As propriedades no estavam mais

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    demarcadas como no passado, nem os sacerdotes e levitas podiam estabelecer-se em todas ascidades que outrora lhes haviam pertencido. At o Templo no fora construdo exatamente deacordo com o plano do primeiro Templo e nele faltavam numerosas coisas (sendo a maisimpressionante, a omisso da arca da aliana). Mudara o regime como um todo; enquanto naera do primeiro Templo prevalecera o sistema monrquico, o foco do poder ia agora sedeslocando dos nobres de descendncia real para o sumo sacerdote e o Conselho de Sbios,que depois viria a se desenvolver no Sindrio.

    Todos esses desenvolvimentos requeriam novas ordenanas e leis para regular a vidacultural e religiosa. Era necessrio reconstruir uma forma de vida judaica calcada no cdigomosaico mas que tambm tomasse em considerao as mudanas havidas desde os dias doprimeiro Templo. A grande aliana (Ne. 9) que pode ser encarada como a primeiraconstituio do mundo no foi meramente uma proclamao cerimonial da obrigao deobservar a todas as leis da Tor, mas tambm denotava a aceitao de muitas outrasordenaes e costumes.

    Os membros da Grande Assemblia enfrentavam agora a tarefa de prover em muitasesferas, padres fixos de comportamento que antes se haviam deixado discrio de cadaindivduo. Assim criaram uma liturgia regular. Com a extino da profecia na era da GrandeAssemblia, esta instituio defrontou-se com a tarefa adicional de transmitir gerao maisjovem a herana espiritual dos profetas. Partes dessa herana estavam contidas na liturgia ebnos institudas pelos escribas.

    O perodo do segundo Templo foi, portanto, a era em que se lanaram as fundaes da leioral judaica e a imagem do povo judeu foi modelada para os sculos vindouros. O anonimatodos sbios desse perodo sugere que eles geralmente trabalharam em unssono, tendo por alvochegar a concluses geralmente aceitas, com a aprovao da suprema autoridade espiritual: aprpria Grande Assemblia ou Sindrio, tambm conhecido como o Conselho dos SetentaAncios.

    OS ZUGOTEste perodo (do segundo Templo), foi conhecido como a era dos Zugot (pares) e

    corresponde ao perodo do domnio grego em Israel (332-140 a.E.C.) e era da dinastia dosHasmoneus (140-37 a.E.C.). Este foi um perodo de conflito com os gregos selucidas (cujosdecretos visavam combater a religio judaica), de luta contra influncias helensticas e vriasseitas herticas que se revelaram ou se fortaleceram durante o perodo.

    O helenismo mesclou-se facilmente com as culturas e religies persas e srias, mas porcausa da natureza da f dos membros da Grande Assemblia, no pde chegar a uma sntesecom a religio judaica. As manifestaes externas da civilizao grega atraram muitos judeus,e havia constante presso oficial visando assimilao do povo da Judia no mais vasto reinohelenstico. Em particular, foram membros das camadas mais prsperas da Judia quetenderam a favorecer o sincretismo religioso. Essa tendncia foi contrabalanada pelosurgimento de grupos religiosos a que as fontes judeu-gregas se referem como chassidim(piedosos).

    Os lderes espirituais dessa minoria eram os discpulos de formao erudita e herdeirosdos membros da Grande Assemblia. Os governantes selucidas exerceram presso polticacrescente que alcanou o mximo na promulgao dos primeiros decretos de conversonahistria judaica, dirigidos contra a prpria existncia da religio judaica. Sendoassim,comeou entre os judeus um processo duplo. Muitos judeus se recusaram a transgredira Tor em vista das brutais perseguies. Era o conceito de antes morrer do que pecar. Aomesmo tempo, as autoridades judaicas expediram seus prprios decretos com vistas adesencorajar a confraternizao entre judeus e no-judeus. Nem todas essas regras severas

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    foram prontamente aceitas pelo povo, mas com o correr do tempo elas se tornaram parteda halachah e da tradio cultural judaica.

    Esses tempos amargos tambm exigiram atividade criativa e empenho legislativo visandoa formular restries razoveis presteza com que os crentes ardorosos se propunham asacrificar-se por sua religio. A ordenao que permite guerra defensiva no Shabat atribuda, ao menos no livro dos Macabeus, a Matatias, fundadora da dinastia dosHasmoneus e primeiroa rebelar-se contra os selucidas. Finalmente ela evoluiu para opreceito, apoiado pelo texto bblico, de que em tempos de guerra e crise permitido violar oShabat. Princpios e regras foram acrescentados atravs dos sculos, sempre que surgia anecessidade, em tempos conturbados.

    Esta rebelio levou Israel a se libertar de fato do domnio estrangeiro. Por algum tempopareceu que os governantes hasmoneus (que, como membros de uma famlia de sacerdotes,se tornavam automaticamente sumos sacerdotes) assumiriam o poder executivo e poltico,enquanto os sbios e seu tribunal de justia (bet din) criaram o sistema de governo interno,de acordo com os padres j estabelecidos.

    Mas esse estado de coisas no durou, dado que os soberanos hasmoneus, por fora derazes polticas e outras, passaram a favorecer os Tsedokim(saduceus), e a nao foinovamente sacudida por dissenes. Com relao aos saduceus, eles eram poucos emnmero, mas exerciam ampla influncia social pelo fato de entre eles se incluremmuitos sacerdotes e homens ricos. Defendiam o conservadorismo religioso, rejeitando a leioral, suas tradies e regras e apelando para o retorno observncia exclusiva da lei escrita.Assim como os Karatas, muitas geraes depois, os saduceus foram obrigados a criar suaprpria tradio oral para poderem observar satisfatoriamente a lei escrita. Rejeitavamtambm vrios princpios religiosos aceitos pelo povo judeu poca: crena na imortalidade daalma, na recompensa no outro mundo e na ressurreio dos mortos.

    Os saduceus eram na verdade, uma seita inovadora. A maior parte da populao, mesmoos que no tinham uma ligao especial com os chassidim, continuava no seu tradicional

    caminho, guiados pelos sbios de Israel, que outros cognominaramfariseus(Perushim, quesignifica separados, separatistas).Os governantes hasmoneus, que davam a si mesmos o ttulo de monarca contrariando

    os chefes fariseus do Sindrio e se tornaram cada vez mais envolvidos em atividade poltica,foram atrados para a linha de pensamento dos saduceus. Como conseqncia disso, arelao entre os monarcas e os chefes do Sindrio tornou-se conturbada e nos tempos deAlexandre Ianai (Janeu) a situao degenerou em guerra aberta entre os chassidim e osmercenrios de Alexandre Ianai, com interveno de fatores estrangeiros.

    A suprema instituio espiritual, o Sindrio, era chefiada por Zugot(pares de sbios), umdos quais servia como Nassi(presidente), enquanto o outro, seu vice, era o Av Bet Din(chefedo tribunal). Aparentemente estes pares de sbios representavam duas escolas de

    pensamento legislativo. As atividades dos pares e a disseminao sistemtica da lei oraltransformaram os grandes eruditos em lderes do povo, ainda quando a verdadeira autoridadepoltica e o alto sacerdcio permanecessem em outras mos.

    OS TANAIM

    Podemos dizer que o perodo dos Tanaim teve incio com Hillel e Shamai nos primeirosdias do reinado de Herodes. Durou aproximadamente de meados de 10 E.C. a 220 E.C. Apalavra Tanasignifica aquele que estuda, repetindo e passando adiante o que aprendeu deseus mestres. Comeou, ao que se acredita, com os acalorados debates religiosos e legaisentre as escolas rabnicas rivais de Hillel e Shamai, em Jerusalm, ao final do sculo I a.E.C.

    Nesse perodo a tradio da lei oral desenvolveu-se numa variedade de leis precisamenteformuladas, dispostas por seu tema ou associao mnemnica. Esta foi uma poca de tenso

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    e crises externas e internas: a destruio do Templo pelos romanos em 70 E.C. tornaraurgente a necessidade da reconstruo de toda a estrutura da vida religiosa, enquanto osminim(herticos, especialmente os gnsticos) e as seitas crists deparavam uma graveameaa unidade religiosa interna, e o povo sofria perseguio s mos de opressoresestrangeiros.

    Este perodo distinguiu-se por novos mtodos de estudo e, do ponto de vista dos doutosmodernos, marca a transio para uma era mais completamente registrada pela crnica.Enquanto a erudio pr-tanatica era coletiva e annima, com apenas uns poucos nomessobressaindo ao consenso, travamos agora conhecimento com personalidades determinadas.Foi nesse perodo de individualizao que se criou o ttulo de rabino para esses estudiososque recebiam nomeaes oficiais, enquanto outros que no recebiam semichah(ordenao)continuavam a ser conhecidos apenas pelo nome. Essa inovao levou a um aumento nonmero dos doutos e elevao de seu status.

    Hillel e Shamai foram responsveis por um novo fenmeno na vida judaica a evoluodas duas escolas que levaram seus nomes (beit Hillele beit Shamai). As disputas halchicasentre elas prosseguiram por muitas geraes at que finalmente prevaleceram os pontos devista da Casa de Hillel.

    Hillel era o nassido Sindrio. Ele nasceu numa prspera famlia da Babilnia, mas foraestudar em Jerusalm em condies de grande penria, recusando aceitar ajuda financeirados parentes. Tornou-se nassicomo resultado de inesperados desenvolvimentos e, apesar desua alta posio, nunca perdeu a simplicidade, mantendo-se prximo s camadas maismodestas. Suas mximas breves e substanciosas refletem-lhe a generosidade, piedade e amor humanidade.

    Como tem sido percebido por muitos estudiosos, os ensinamentos ticos, as atitudessociais e os traos de personalidade de Hillel evidenciam uma semelhana muito grande comas de Yeshua (Jesus), conforme elas so apresentadas nos evangelhos. Elas expressam muitasvezes as mesmas idias e valores e at empregam metforas similares, ou, por vezes, as

    prprias palavras usadas nos evangelhos. Deve-se observar, porm, que no foi Yeshua(Jesus) quem influenciou o pensamento de Hillel, mas bem ao contrrio, foi Hillel queminfluenciou Yeshua.

    Convm lembrar que Hillel viveu uma gerao antes de Yeshua, vindo a falecer emYerushalaim (Jerusalm) no ano 10 E.C., quando Yeshua ainda era um menino de poucaidade.

    Shamai por sua vez, era conhecido por sua probidade e constncia ao extremo em tudo oque fazia. Em contraste com Hillel, Shamai era irascvel e julgava a si mesmo e aos outros porpadres rgidos.

    Os discpulos de Hillel conquistaram o corao dos sbios e o cargo de nassifoi exercidopor descendentes da grei hillelita por mais de 400 anos, at que o Sindrio deixou de existir.

    Os herdeiros de Hillel, aos quais era concedido o ttulo honorfico de raban(nosso professor),lideravam os eruditos e eram os verdadeiros chefes da nao.Por fim, registrou-se uma crise nas dcadas que se seguiram destruio do segundo

    Templo em 70 E.C. Com Israel desmembrado e disperso, com seu centro religioso epsicolgico em runas, os sbios sentiram uma grande necessidade de examinar criticamentee compilar as leis no escritas. A dificuldade que se apresentava, porm, provinha do fato deque diversos cdigos das tradies orais estavam sendo ensinados com o mesmo zelo nasescolas rabnicas da Judia. Um conjunto de leis muitas vezes contradizia outros, suscitandodebates e confuso.

    O grande Akiva ben Yosef (Rabi Akiva), provavelmente o mais sbio de todos os tanaim,voluntariou-se tarefa pioneira de coligir, selecionar, criticar e, finalmente, organizar num

    cdigo racional a grande quantidade de tradies orais. Ele estabeleceu assim, a complicadabase editorial para a Mishn, obra que no teve a felicidade de completar, pois morreu comomrtir nas mos dos romanos em 135 E.C.

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    Como a lei oral era transmitida de mestre a discpulo no correr dos sculos por instruooral, tornou-se evidente a necessidade de dispor e dar redao final matria, porque a vastaquantidade de matria oral j no podia ser confiada somente memria por meio darepetio e estudo intensivo.

    A MISHNNas geraes mais antigas, quando a lei oral aderia mais estreitamente lei escrita, esta

    ltima servia, entre outras coisas, como instrumento para recordar ao estudioso a halachahderivada de cada versculo. Este uso do texto bblico no apenas como base legal e lgica dalei oral mas tambm como ajuda mnemnica foi passado literatura talmdica e literaturajudaica em geral.

    Com o passar do tempo, numerosas reas da lei oral desenvolveram-se muito alm dosversculos isolados que serviam para substanci-las. Foi necessrio acrescentar muitospormenores em categorias mais gerais. Ocorreram muitas mudanas e surgiram novos temasa requerer anlise, com o que se aumentou o material de estudo bsico. s vezes era

    imperativo reformular ou modificar decises.As disputas com os saduceus levaram os sbios fariseus a enfatizarem certos

    aspectos de halachah. O fato de um nmero crescente de estrangeiros terem-se tornadoativos em vrias esferas de vida na comunidade judaica tambm suscitou a necessidadede novos regulamentos. As relaes polticas e religiosas com os samaritanos eraminstveis, e em conseqncia a atitude halchica para essa seita passou pormodificaes. A vasta quantidade desse material, acumulado por vrias geraes,comeou a constituir um problema numa poca em que as instituies religiosas ejurdicas judaicas mantinham certa hierarquia e empregavam mtodos uniformes deordenao legislativa, sendo todas as matrias em disputa submetidas ao GrandeSindrio no Templo para julgamento inequvoco.

    Mas principiaram a surgir brechas nessa uniformidade j na era hasmonia e irrompeufranca controvrsia nos dias de Hillel e Shamai, quando se reconheceu oficialmente aexistncia de duas escolas diferentes de pensamento. A expanso da educao elementar esua organizao em base nacional pelo sumo sacerdote Josu ben Gamala, de par com aabertura, por Hillel, das academias s faixas mais amplas da populao, criou tanto umgrande influxo de estudantes como um aumento correspondente no nmero de professoresque organizavam suas prprias grandes ou pequenas academias.

    Enquanto os sbios estiveram reunidos e a obra principal de ensino era realizadapor um s grupo de homens, a uniformidade de tradio esteve preservada. Mas aproliferao de professores e o estabelecimento de escolas separadas criaram, emborano intencionalmente, uma variedade de formas e mtodos de expresso. Cada mestretinha seu prprio mtodo e enunciava as leis orais a sua prpria maneira. s vezes asdiferenas eram meramente de forma, mas tambm havia divergncias vitalmentesignificativas, tanto deliberadas como inconscientes. Quando os sbios se encontravam, jno se registrava uma nica tradio cristalizada e uniforme; agora eram obrigados acomparar certo nmero de tradies as de seus prprios mestres e as de outros doutos. Oestudante era obrigado a familiarizar-se com a obra de outros eruditos sobre o mesmoassunto, ou com outras tradies relevantes. Dessa forma, os estudantes eram forados amemorizar vastas quantidades de material por causa da constante exploso deconhecimento.

    Tudo isso parece ter inspirado os estudiosos a estruturar e classificar os assuntos,visando a organizar e ordenar o estudo. Foi neste momento que surgiu Rabi Akiva para darincio ao trabalho de compilao da Mishn. Ele estudara numerosos assuntosdesorganizados e classificara-os em categorias distintas. Aps seu martrio, um de seus

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    discpulos, Rabi Meir, continuou a obra de codificao, mas no conseguiu dar-lhe umaconcluso satisfatria. Coube ao patriarca da Judia, Yehud HaNassi, completar o trabalhoda Mishn e declar-la canonicamente encerrada por colta do ano 200 E.C.

    Rabi Yehud comeou por classificar a maioria dos temas de halachah no mais amplosentido em seis grandes categorias, as Seis Ordens da Mishn, cada qual lidando comuma gama de assuntos correlacionados. Em diversos desses sedarim(ordens) h grandehomogeneidade de tema, enquanto em outros se inclui matria ligeiramente divergente paraabranger todo o espectro de questes relevantes. As ordens foram a seguir, divididas em livrosmenores versando temas mais limitados: Bnos, Shabat, e assim por diante. Cada umdesses livros era chamado massechet(tratado), aparentemente um derivado da palavramassechah(tear, em que se tece o pano). Existem 63 tratados. Os tratados so divididos emcaptulos e os captulos em unidades menores conhecidas como mishnaiot(singular, mishn)em que cada mishn trata de uma halachahespecfica ou de diversas halachotcorrelatas.

    O contedo da mishn abrange uma grande variedade de temas de estudo, muitas vezesno relacionados um com o outro, e que Yehud acomodou na moldura das seis ordens damelhor maneira que podia, pois considerava sacrossanto o esquema de Hillel, que havia sidofielmente seguido por Akiva e por Meir, e que ele no achava que se devesse alterar ouampliar.

    A PRIMEIRA ORDEM: SEMENTES (ZERAIM)

    Trata de leis agrcolas e outras questes relacionadas com sementes e o produto docampo e dos pomares, e as correspondentes observncias rituais.

    A SEGUNDA ORDEM: FESTAS (MOED)

    Abrange as leis de Shabat, dos festivais e dos dias de jejum.

    A TERCEIRA ORDEM: MULHERES (NASHIM)Detalha as leis relativas ao noivado, ao casamento e ao divrcio.

    A QUARTA ORDEM: DANOS (NEZIKIM)

    Trata de leis civis e criminais.

    A QUINTA ORDEM: COISAS SAGRADAS (KODASHIM)

    Trata dos sacrifcios, das oferendas, e do servio do Templo, em Jerusalm.

    A SEXTA ORDEM: PURIFICAO (TOHOROT)

    Trata das coisas limpas e impuras, e da higiene pessoal.

    Muito condizente com a ingnua tradio da prtica ps-bblica foi o fato de ser atribudaa muitas das tradies orais a origem de certas leis, distino essa absolutamente imerecida.Como no caso do livro de J, cuja composio fora atribuda inspirao de Moiss afim defacilitar sua aceitao no cnon bblico pelos homens da Grande Assemblia,evidenciava-se a inteno dos mestres rabnicos de tornar as leis orais mais importantese indiscutivelmente obrigatrias, ao atriburem a origem das mesmas s revelaes

    divinas recebidas por Moiss no Monte Sinai sem que ele as tivesse escrito.Com o tempo, essa pretensa atribuio de certas tradies a Moiss ficaria desvalorizada

    entre os eruditos. O notvel talmudista medieval Asher ben Yehiel (1250-1328), procurava

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    interpretar essa crena como sendo simplesmente um eufemismo lingstico. Conjecturavaque ao afirmar que as tradies derivavam de Moiss, os sbios queriam dizer que essas leisso to claras e lcidas como se houvessem sido dadas a conhecer a Moiss no Monte Sinai.

    Imagem de uma pgina do Talmud

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    O mestre religioso que primeiro estabeleceu o plano bsico para a Mishn foi Hillel. Elearrumou todas as leis orais em seis divises, sendo futuramente seguido por Rabi Akiva eRabi Meir. Nem mesmo Yehud HaNassi deixou de lado o esquema iniciado com Hillel. Combase na tradio assim como nas concluses de modernos estudos, foi Hillel quem recolheu eexaminou de maneira crtica todas as leis no escritas, de memoriz-las com a maiorfidelidade, e depois transmitir esse conhecimento, no de forma escrita, mas oralmente a seusdiscpulos.

    O principal feito de Rabi Yehud foi sumariar a lei oral e concentr-la em uma estruturaconcisa, clara e precisamente formulada. Comeou coletando material universalmente aceito eesclarecendo sua formulao.

    Muitas halachotantigas e mishnaiotforam introduzidas na nova compilao em suaforma original, s vezes acompanhadas de uma explicao posterior e s vezes inalteradas,ficando intacto o dialeto antigo.

    Aps sua morte, s se fizeram pequenas modificaes e acrscimos ao corpo organizadode mishnaiot, ficando seu projeto praticamente inalterado. Ele conseguiu completar a mishne deu-lhe sua forma e carter permanentes, encerrando assim o perodo dos tanaim.

    Positivamente, a mishn no um cdigo legal no sentido moderadamente aceito. No um cdigo em que cada sentena, cada clusula, cada palavra e mesmo cada vrgula de umadeterminada lei tenha validade total. Ela no se destinava a servir de instrumento dogmtico esim flexvel, de jurisprudncia extra-bblica. Suas leis provinham de opinies rabnicas queem muitos casos eram divergentes, mas no obrigatrias.

    Onde no havia discrdia acerca de uma lei especfica entre as autoridades, ela eraexposta de forma simples e firme. Onde houvesse, porm, discrdia entre os sbios, a opiniode qualquer um deles era sopesada com igual iseno diante das opinies dos demais. Umadas regras jurdicas estabelecidas pela Mishn, a propsito do mais ilustre sbio rabnico de

    sua gerao, Akiva ben Yosef, era vazada nos seguintes termos: A opinio de Akiva semprepreferida quando em conflito com a de um outro erudito, mas no quando ela se ope sopinies de mais de um estudioso.

    Quando se acreditava estar exprimindo a opinio dominante da halach, Rabi Yehudno declarava a fonte, anotando-a como stam mishn(mishn simples), ou seja, sem a citaodo autor ou formulador. A maioria das mishnaiotcontm tais formulaes, mas em muitoscasos os doutos no chegavam a concluses finais sobre a sua inteno, e ento Rabi Yehudidentificava as principais opinies sobre a matria, indicando quais haviam sido seusproponentes.

    O prprio ponto de vista de Rabi Yehud s vezes anotado como opinio isolada emoposio ao consenso geral. s vezes eram feitas adies que contradiziam suas prprias

    decises anteriores. Similarmente, uma nova formulao ocasionalmente tornava suprfluasmishnaiotprecedentes, mas como a regra era que uma mishn no sai de seu lugar, ambasas declaraes eram mantidas.

    Aps a morte de Rabi Yehud s se fizeram pequenas modificaes e acrscimos, e seuprojeto ficou praticamente inalterado. Ele conseguiu completar a Mishne deu-lhe sua formae carter permanentes, com o que encerrou o perodo dos Tanaim. A posteridade estava livreda carga de estudar a lei oral por meio de vasto nmero de halachotsem conexo e semordenamento. Agora se dispunha de uma obra claramente disposta que servia de fonte paraqualquer novo estudo. Uma obra completa e sagrada, tornando-se ela mesma uma fonte ques pela Tor era superada em santidade.

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    OS AMORAIM

    A codificao da Mishn e a morte do Rabi Yehud marcaram o incio de uma nova era, operodo dos amoraim(do verbo hebraico amar, falar, interpretar), intrpretes da Mishn.

    Membros da gerao que preencheu o espao entre os tanaim e os amoraim ainda viviam nosltimos anos da existncia do Rabi Yehud e por cerca de uma gerao depois de sua morte.Esses sbios, jovens colegas e discpulos do Rabi Yehud, achavam que tinham obrigao noapenas de empenhar-se no estudo e interpretao da Mishn, mas tambm de continuar acompilao e redao que ele fizera do material originrio de geraes anteriores, dado queRabi Yehud s compilara uma pequena parte do amplo tesouro da sabedoria ensinada nasvrias academias.

    Ainda que se concordasse em geral que seu trabalho de codificao era o maisimportante, considerava-se que valia a pena preservar o material no includo como auxiliarde estudo e para fins de comparao. O Rabi Hiya e o Rabi Oshaia, seus mais eminentesdiscpulos, compilaram diversas coletneas adicionais de lei oral, das quais sobreviveu como

    livro independente a obra conhecida como Tossefta(literalmente acrscimo).Os Midrashei Halach(exegese halchica), tambm foram compilados e redigidos nesses

    anos. As halachotisoladas e combinaes de material tanatico fora da Mishn so conhecidascomo baraiot(ou boraiot- ensinamentos exteriores), isto , material extrnseco. A abundnciadeste material ilustrada por uma interpretao alegrica do livro de Cantares: Sessentarainhas so os sessenta tratados da Mishn; oitenta concubinas as tosseftot; um sem-nmero de virgens as halachot(Ct. 6:8).

    Nos sculos seguintes (200-500 E.C), os sbios eram conhecidos como amoraimquesignifica tradutores, explicadores. Isso porque o costume era o de um sbio falar do plpitoem hebraico, enquanto os discpulos repetiam suas observaes em aramaico (lngua correntedo perodo) em proveito dos que no conheciam o hebraico. Esses tradutores tambm estavam

    em atividade durante a leitura da Tor em pblico, transmitindo imediatamente cadaversculo em aramaico, de modo que seu contedo pudesse ser entendido por todos. Dessaforma, os amoraimeram essencialmente tradutores e s vezes divulgadores dos ensinamentoshalchicos bsicos dos oradores doutos.

    O surgimento do importante e independente centro de estudo na Babilnia foi umacontecimento que marcou o perodo em que se completou a Mishn. Embora tivesse havidona Babilnia, em cada gerao, eruditos, inclusive diversos dos maiores tanaim, tais comoHillel, e a vida judaica na Babilnia fosse considerada uma ramificao da cultura palestina,contudo, quando no apareceu algum qualificado para suceder ao Rabi Yehud como lderespiritual e poltico do povo, a autoridade do centro palestino debilitou-se.

    Alm disso, aps a morte do Rabi Yehud, as condies polticas e econmicas daPalestina deterioraram-se e a subseqente emigrao para outros pases ensejou ofortalecimento dos centros de estudo na dispora.

    medida que diminua a importncia do centro Palestino, o grande amorRabi Aba benIbo (conhecido como Aba Arikha Aba o Alto) teve pela frente a tarefa de estabelecer umcentro espiritual na Babilnia (o qual finalmente eclipsou o centro Palestino). O prprio RabiAba completara a maior parte de sua educao orientado pelo Rabi Yehud e era um dosmembros do Sindrio. O Rabi Aba foi reconhecido como um dos principais eruditos de suagerao, ordenado pelo prprio Rabi Yehud, compilador de mishnaiote perito nas tradiestanto da Palestina como da Babilnia.

    Embora ele tenha vivido por muitos anos em Israel, por fim regressou ao pas ondenascera Babilnia (a famlia de Aba fazia remontar sua linhagem at a casa de Davi). ABabilnia tornou-se o principal centro de estudo da Tor devido ao enfraquecimento polticode Israel.

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    Encontrou um bom nmero de eruditos da Tor, mas percebeu que as instituies deensino estavam imperfeitamente organizadas e que os padres eram inferiores aos da terra deIsrael. Para no melindrar a liderana existente na Babilnia, estabeleceu-se na pequenacidade de Sura, em vez de ficar num dos maiores centros de estudo, e ali fundou umaacademia.

    No demorou muito para que os doutos da Babilnia fossem atrados ao novo centro, emilhares de discpulos acorreram a estudar ali. A influncia de Rabi Aba foi to grande quecomeou a ser citado simplesmente como Rav, nome pelo qual at hoje conhecido. Alis, porno terem sido oficialmente ordenados na terra de Israel, os sbios (amoratas) da Babilniarecebiam o ttulo de Rav e no de Rabi, ttulo dado aos amoratas e tanatas de Israel. Estettulo atestava sua formao sem lhes conferir o status halchico oficial. A academia de Surasobreviveu sob vrias formas por 700 anos.

    Um de seus mais jovens contemporneos, o sbio babilnico Samuel, instalou umsegundo centro em Nehardea, que foi uma parceira e cordial rival de Sura enquanto aBabilnia floresceu como um centro da Tor. Juntos, Rav e Samuel constituram a primeiragerao de amoraimbabilnios que criaram o modelo de erudio da Tor naquele pas paraas geraes futuras.

    Nas geraes seguintes, muitos sbios babilnicos foram para a terra de Israel e ali setornaram eminentes, mas as academias da Babilnia j eram to grandes e importantes quedesenvolveram seus prprios mtodos independentes de estudo e escolas de pensamento. Ravteve como sucessor em Sura seu discpulo Rabi Huna, enquanto o herdeiro de Samuel foi oRabi Yehud, que tambm estudara com Rav e que transferiu a academia de Nehardea paraPumbedita, onde ela permaneceu.

    Havia eruditos que traziam resumos dos estudos da terra de Israel (Jerusalm) para aBabilnia, e esse contato renovado inspirou dois sbios que eram considerados os pilarescentrais do estudo babilnio, Abay e Rava. A produo intelectual de ambos era to grandeem quantidade e to profunda em qualidade que eruditos de geraes seguintes empenharam-

    se na elaborao das teorias desses sbios e em delas derivar concluses. Mais tarde sereconheceu que a era de Abay e Rava constituiu um momento decisivo no estudo da Tor.Na sexta gerao de amoraimbabilnios, emergiu outra personalidade marcante, o Rabi

    Ashi, chefe da academia de Sura, que criou um grande centro de estudo da Tor. Era umhomem extremamente rico que mantinha estreitos laos com as autoridades persas e era older poltico da comunidade judaica da Babilnia, gozando de autoridade maior que a doprprio exilarca (lder hereditrio dos judeus na Babilnia).

    O Rabi Ashi foi impelido a empreender a tarefa de redigir o Talmud babilnio portemer que, desorganizada como se achava, a vasta massa de matria oral corresse,com o correr dos anos, o risco de mergulhar no esquecimento. Durante os muito anos(quase 60) em que serviu como chefe da academia, dedicou-se ao projeto de construir uma

    estrutura para o Talmud babilnio. Era uma tarefa gigantesca, de escopo maior do que acompilao da Mishne que requeria mtodos inteiramente novos de organizao eeditorao. Rabi Ashi iniciou a organizao e compilao do material legal (halach) ehistrico (Agad), que passaram a constituir a Guemar(do aramaico trmino) do Talmudbabilnio.

    A Guemar o comentrio rabnico do cdigo da Mishn. A grande variedade dediscusses rabnicas e de opinies registradas na Guemar demonstra a constante eincansvel busca de uma compreenso das coisas, que caracterizava a mentalidadetalmdica.

    O prprio Rabi Ashi no mencionado no Talmud to frequentemente como outrossbios, mas a grande quantidade de material citado anonimamente tem seu cunho individual.

    Tamanha tarefa no poderia ser completada em uma nica gerao, claro, por isso depoisque ele terminou o trabalho bsico, a obra foi continuada por seu sucessor, o discpulo ecolega Ravina.

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    Esses dois eruditos so considerados os ltimos mestres, encerrando o perodoamorata. Depois deles, discpulos do Rabi Ashi e os que com eles vieram mais tarde estudar,continuaram a tarefa de redigir o Talmud babilnio e a obra final contm os nomes de vriossbios que viveram um sculo depois do Rabi Ashi.

    Por cerca de 100 anos depois disso, eruditos estudaram o Talmud, introduzindo-lhepequenas emendas e acrscimos. Esse grupo, conhecido como savoraim(expositores), deu obra sua forma final. Na maioria dos casos, somente seus nomes so registrados e muitopouco se sabe de suas personalidades e feitos. No se cita um nico douto como tendooficialmente completado a redao e editorao do Talmud (como o caso da Mishn), por issodiz-se: O Talmud nunca foi completado.

    OS AMORAIM EM ISRAEL

    Se bem que a morte do Rabino Yehud HaNassi marcasse o fim do perodo mishnaico, oestudo da Mishn prosseguiu por mais uma gerao, preenchendo o espao entre os tanaim eos amoraim, tanto do ponto de vista histrico como intelectual.

    O Rabi Yehud indicara para suced-lo na presidncia seu filho mais velho, RabanGamaliel Bem Rabi, renomado por suas qualidades morais, mas que certamente no eraconsiderado como o erudito preeminente de sua poca. Um dos discpulos favoritos do RabinoYehud HaNassi, o Rabi Chanina, foi nomeado chefe da academia. A partir desse momento, apresidncia do Sindrio, apesar de posto prestigioso e de grande significao poltica, passoua ser geralmente considerada como sem importncia do ponto de vista da erudio.

    O perodo em que o Talmud floresceu em Israel associa-se ao nome de um homem, aencarnao do estudo na Palestina, Rabi Yohanan (conhecido por Bar Napacha filho doferreiro). Ele, que viveu at uma idade venervel, conheceu na mocidade o Rabi YehudHaNassi e foi um dos mais jovens de seus discpulos, mas estudou principalmente com RabiYanai e Rabi Ezequias.

    Como os discpulos de Rabi Yohanan eram todos grandes eruditos e tinham sidoencorajados a se engajarem em atividade criadora independente, no ocorreu crise sbitaaps sua morte. Eles continuaram seu trabalho magistral, e se bem que a academia deTiberades j no fosse a estrela guia dos doutos, continuavam a chegar estudantes daBabilnia. O mais famoso foi o sbio babilnio Rabi Jeremias, cujo mtodo peculiar e agudode questionamento, destinado a esclarecer as questes mais duvidosas da halach, s vezesencolerizasse seus professores palestinos, por no estarem acostumados a esse tipo dediscusso.

    No sculo IV, processos polticos recm-surgidos comearam a exercer forte presso sobreos judeus de Israel, acabando por causar-lhes empobrecimento material e espiritual. Aautoridade central de Roma estava corroda desde a queda dos ltimos Severos, e as guerrasentre os diversos pretendentes ao trono geraram considervel tenso, aumentaram a carga deimpostos, e subsequentemente enfraqueceram as fundaes econmicas de todo o imprio. Acomunidade judaica de Israel, que j sofrera em conseqncia de vrias revoltas, eraparticularmente vulnervel, dado que a maioria dos judeus era de agricultores e no podiam,portanto, ocultar sua renda das autoridades.

    A perseguio aos judeus que ento se seguiu afetou gravemente a comunidadeisraelense, do que resultou uma onda de emigrao. Os judeus partiram para Roma, paseseuropeus ou para Babilnia. As academias de Israel viram-se foradas a reduzir suasdimenses e o nmero de estudantes diminuiu. Na quarta gerao de amoraim, notava-seque, em conseqncia da perseguio e situao econmica, o povo estava menos interessadono estudo de halach e preferia agad, que era mais fcil de entender e proporcionava alvioaos oprimidos.

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    A situao era to grave que os eruditos israelenses se viram forados a apressar otrabalho de editorao e codificao da lei oral. Criaram uma obra, correspondente ao Talmudda Babilnia, conhecida como Talmud de Jerusalm. No foi composta em Jerusalm (que aesse tempo era uma cidade pag conhecida como Aelia Capitolina, qual os judeus tinhamo acesso proibido), mas com o correr dos anos o nome Jerusalm tornara-se sinnimo dePalestina como um todo. A obra parece ter sido completada em Tiberades e tambm, emparte, em Cesaria.

    Existem certas diferenas entre os dois Talmudes, embora o material e os mtodos deestudos fossem os mesmos. O Talmud de Jerusalm discute em extenso diversos temas queso quase completamente ignorados pela obra babilnia. Por outro lado o Talmud deJerusalm contm muito pouca agad. A redao do Talmud babilnio foi realizada comgrande prudncia e meticulosidade, e gerao aps gerao corrigiu numerosos pormenores,enquanto o Talmud de Jerusalm nunca foi adequadamente editorado. O material foicompilado imprecisamente e s pressas, uma das razes de ele ter sido por tanto tempoconsiderado como uma espcie de apndice, um meio-irmo do Talmud babilnio.

    O TALMUD BABILNIOO Talmud no uma obra completa em si mesma e deveria ser considerado como uma

    espcie de esboo resumido dos debates dos sbios. Grande parte do atrativo do Talmud edas dificuldades em compreend-lo, resulta de sua forma especial e singular de registrardiscursos e debates, e conter no apenas concluses mas tambm as solues alternativaspropostas e rejeitadas.

    Embora tenha havido diversas mudanas na estrutura das academias babilnias atravsdas geraes, o formato bsico permaneceu mais ou menos inalterado. O estudo e ensino dalei oral no eram praticados dentro de uma estrutura nica, mas antes sob vrias formas. Dosculo II ao V da era comum, o papel preponderante dos sbios era a interpretao da

    Mishn. Curiosamente, ao contrrio do que se observou durante o perodo dos Tanatas, oprincipal centro de erudio passou a se situar na Babilnia devido ao enfraquecimentopoltico na Palestina, que ocorreu aps a morte do rabino Yehud HaNassi.

    Nas cidades de Sura, Nehardea e Pumbedita estabeleceram-se ento importantesacademias de estudo. Desta poca, esto registrados no Talmud os inmeros debates entre ossbios de cada gerao dos Amoratas babilnicos. Destes debates emerge uma novametodologia de estudo da Mishn, atravs da introduo de material de fontes diferentes, noincluindo originalmente na Mishn em discusso.

    Atravs de uma anlise mais profunda do texto da Mishn, procura-se confrontar econciliar todas estas fontes entre si, enfocando-o sob vrios e novos ngulos de interpretao.A partir destes debates, portanto, abria-se o caminho para uma nova forma de erudio, nomais voltada ao contedo textual de uma Mishn escrita e definitiva. Agora, esta obracompilada pelos Tanatas passa a ser um ponto de partida para discusso, anlise e pesquisa.

    Na sexta gerao dos Amoratas babilnicos, Rav Ashi iniciou a organizao e compilaodo material legal (Halach) resultante destes debates, bem como do histrico (Agad), quepassaram a constituir a Guemar do Talmud Babilnico. Este trabalho gigantescoprosseguiu com seu sucessor, Ravina, e pelos Savoratas (expositores) que nos dois sculosseguintes deram obra um carter definitivo (exatamente no ano 500 E.C). Entretando, aocontrrio da Mishn, cuja finalizao se deve ao rabino Yehud HaNassi, nenhum erudito foidado como o redator final da Guemar. Por isso diz-se que o Talmud nunca foi concludo,implicando que nunca, nas geraes subseqentes , o estudo do Talmud deixou de sedesenvolver.

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    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS:

    Iniciao ao Talmud Auro del Giglio, Editora & Livraria Sfer.Judaica vol. 7, O Talmud Essencial Adin Steinsaltz, Editora & Livraria Sfer.

    Judaica vol. 5, Conhecimento Judaico Nathan Ausubel, Editora Tradio.