o sistema prisionalbrasileiro e a necessidade de...

68
1 UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ AMANDA MODESTO DA SILVA MORTEIRA O SISTEMA PRISIONALBRASILEIRO E A NECESSIDADE DE NOVAS METODOLOGIAS RESSOCIALIZADORAS CURITIBA 2012

Upload: hahanh

Post on 09-Nov-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

1

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

AMANDA MODESTO DA SILVA MORTEIRA

O SISTEMA PRISIONALBRASILEIRO E A NECESSIDADE DE NO VAS

METODOLOGIAS RESSOCIALIZADORAS

CURITIBA

2012

2

AMANDA MODESTO DA SILVA MORTEIRA

O SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO E A NECESSIDADE DE

NOVAS METODOLOGIAS RESSOCIALIZADORAS

Trabalho de Conclusão Curso, apresentado ao curso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito para a obtenção do grau de Bacharel em Direito. Orientador: Professor Dálio Zippin Filho.

CURITIBA

2012

3

TERMO DE APROVAÇÃO

AMANDA MODESTO DA SILVA MORTEIRA

SISTEMA PRISIONALBRASILEIRO E A NECESSIDADE DE NOVA S

METODOLOGIAS RESSOCIALIZADORAS

Esta monografia foi julgada e aprovada para obtenção do título de Bacharel em Direito, no Curso de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, _____ de _______________ de 2012.

________________________________________________

Prof. Dr. Eduardo de Oliveira Leite Coordenador do Núcleo de Monografias

Universidade Tuiuti do Paraná

Orientador: Prof. Dálio Zippin Filho Curso de Direito

Universidade Tuiuti do Paraná

Profº

Curso de Direito Universidade Tuiuti do Paraná

Profº Curso de Direito Universidade Tuiuti do Paraná

4

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho, primeiramente a Deus e Nossa Senhora Aparecida, por acreditar que minha existência pressupõe, outras infinitamente superiores.

Aos meus pais, pelos esforços sem medidas para que este sonho se

tornarsse possível.

Ao meu esposo Fernando, e meus irmãos João Manoel e Suélly, bem como aos meus avós, pelo amor incondicional que me ajuda em todos os momentos.

5

AGRADECIMENTOS

Aos mestres, pelos conhecimentos transmitidos e por repartirem suas

experiências de vida e me auxiliar a trilhar este caminho.

Ao meu orientador Dálio Zippin Filho pelas lições de saber, e pela expressão

e orientação, que deixam claro que é o retrato fiel de honradez de seu pai.

A minha família, em especial aos meus Pais e Avós, pelo inesquecível

ensinamento de união e amor.

Ao meu esposo Fernando, pela paciência e por ser meu amigo acima de

qualquer coisa.

A Andressa, Larissa, Célida e Cleunice, amigas te todos os momentos, por

toda a ajuda para tornar esse sonho possível, mesmo quando ausentes.

6

RESUMO

O presente trabalho vem trazer à tona grande problemática do sistema prisional brasileiro, onde se questiona se as metodologias ressocializadoras existentes, tais como estão, são eficazes na reinserção do egresso a sociedade. Tendo em vista esta precariedade prisional, tem-se como enfoque central analisar a necessidade de implantação e aprimoração das metodologias ressocializadoras como uma solução para o colapso das unidades penitenciarias. Visando-se ainda responder a essa grande problemática do sistema prisional, discute-se as causas consideradas mais relevantes para o desvirtuamento da função ressocializadora, verificando as metodologias já existentes, bem como as que podem ser empregadas como meios que propiciem a reeducação e ressocialização carcerária e nesse contexto a importância da adoção de políticas que efetivamente promovam a recuperação do preso no convívio social e tendo por ferramenta básica a Lei de Execução Penal e seus dois eixos: punir e ressocializar.

Palavras chave: Ressocialização, Sistema Prisional, metodologias ressocializadoras, egresso, presidiário.

7

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.............................................................................................. 10

2 A EVOLUÇÃO DA PENA ............................................................................. 12

2.1 A ORIGEM E O CONCEITO DE PENA......................................................... 12

2.1.1 Conceitos de pena......................................................................................... 12 2.2 FASES DE EVOLUÇÃO DA PENA............................................................... 13 2.2.1 Período da Vingança Privada........................................................................ 13 2.2.2 Período da Vingança Divina............................................................................. 15 2.2.3 Período da Vingança Pública........................................................................... 16 2.2.4 Período Humanitário..................................................................................... 17

3 ASPECTOS GERAIS DA PRISÃO ............................................................... 19

3.1 MARCO INICIAL DA PRISÃO COMO INSTRUMENTO DE PENA ............. 19

3.2 A EVOLUÇÃO DA PENA DE PRISÃO NO BRASIL......................................19

3.2.1 Ordenações Afonsinas ................................................................................. 20

3.2.2 Ordenações Manuelinas................................................................................ 20

3.2.3 Ordenações Filipinas .................................................................................... 20

4. O SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO ....................................................... 23

5. A RESSOCIALIZAÇÃO ................................................................................ 26

6. CAUSAS DA INEFICIÊNCIA DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE QUE INVIABILIZAM A RESSOCIALIZAÇÃO ................................................................... 30

6.1. O ISOLAMENTO DA SOCIEDADE E DA FAMÍLIA...................................... 31

6.2 A AUSÊNCIA DE CONDIÇÕES FÍSICAS E HIGIÊNICAS NAS INSTALAÇÕES DAS PRISÕES ............................................................................... 32

6.3 VIOLÊNCIA PRISIONAL.............................................................................. 33

7. A NECESSIDADE DE NOVAS METODOLOGIAS RESSOCIALIZADORAS ........................................................................................... 35

8

7.1 METODOLOGIAS RESSOCIALIZADORAS EXISTENTES ............................ 35

7.1.1 Da Reinserção Social pelo Trabalho .............................................................. 36

7.1.2 Da Ressocialização pela Educação ............................................................... 38

7.1.3 Ressocialização dos Apenados através da Pena de Prestação de Serviços à Comunidade.............................................................................................................. 41

7.2 NOVAS METODOLOGIAS PARA EFETIVAMENTE SER APLICADA A RESSOCIALIZAÇÃO..................................................................................................42

8 EXPERIÊNCIA DE ALGUNS PROGRAMAS DE RESSOCI ALIZAÇÃO NOS ESTADOS BRASILEIROS ....................................................................................... 46

8.1 METODOLOGIAS RESSOCIALIZADORAS NO ESTADO DO ACRE........... 46

8.2 METODOLOGIAS RESSOCIALIZADORAS NO ESTADO DO DISTRITO FEDERAL...................................................................................................................48

8.3 METODOLOGIAS RESSOCIALIZADORAS NO ESTADO DA PARAÍBA......49

8.4 METODOLOGIAS RESSOCIALIZADORAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA.................................................................................................................50

8.5 METODOLOGIAS RESSOCIALIZADORAS NO ESTADO DE SALVADOR.. 51

8.6 METODOLOGIAS RESSOCIALIZADORAS NO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL..................................................................................................................... 51

8.7 METODOLOGIAS RESSOCIALIZADORAS NO ESTADO DO AMAZONAS.. 52

8.8 METODOLOGIAS RESSOCIALIZADORAS NO ESTADO DE RONDÔNIA... 52

8.9 METODOLOGIAS RESSOCIALIZADORAS NO ESTADO DA PARAÍBA........53

8.10 METODOLOGIAS RESSOCIALIZADORAS NO ESTADO DO ESPIRITO SANTO...................................................................................................................... 54

8.11 METODOLOGIAS RESSOCIALIZADORAS NO ESTADO DE MINAS GERAIS..................................................................................................................... 55

8.12 METODOLOGIAS RESSOCIALIZADORAS NO ESTADO DE ALAGOAS.....56

8.13 METODOLOGIAS RESSOCIALIZADORAS NO ESTADO DO AMAPÁ......... 57

8.14 METODOLOGIAS RESSOCIALIZADORAS NO ESTADO DE GOIÁS........... 57

9

8.15 METODOLOGIAS RESSOCIALIZADORAS NO ESTADO DO MARANHÃO..58

8.16 METODOLOGIAS RESSOCIALIZADORAS NO ESTADO DO PIAUÍ.............59

8.17 METODOLOGIAS RESSOCIALIZADORAS NO ESTADO DO MATO GROSSO....................................................................................................................59

8.18 METODOLOGIAS RESSOCIALIZADORAS NO ESTADO DO CEARÁ..........59

8.19 METODOLOGIAS RESSOCIALIZADORAS NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO....................................................................................................................60

8.20 METODOLOGIAS RESSOCIALIZADORAS NO ESTADO DE SERGIPE.......60

8.21 METODOLOGIAS RESSOCIALIZADORAS NO ESTADO DE RORAIMA......60

8.22 METODOLOGIAS RESSOCIALIZADORAS NO ESTADO DE TOCANTINS..61

8.23 METODOLOGIAS RESSOCIALIZADORAS NO ESTADO DE SÃO PAULO..61

8.24 METODOLOGIAS RESSOCIALIZADORAS NO ESTADO DO PARANÁ........63

CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................64

REFERÊNCIAS .........................................................................................................66

10

1. INTRODUÇÃO

Embora a legislação pátria assegure ao apenado o tratamento humanizado e

individualizado, voltado a reinserir o individuo na sociedade através da educação e

da profissionalização, parece que ainda não conseguiu cumprir o objetivo de sua

própria legislação haja vista o estado ao qual se encontra o sistema prisional

brasileiro.

Tendo em vista esta precariedade do sistema prisional brasileiro, o presente

trabalho tem como enfoque central analisar a necessidade de implantação e

aprimoração das metodologias ressocializadoras, como uma solução para o colapso

das unidades penitenciarias.

Possibilitar, dar meios de reintegração social, de trabalho e de renda são

fatores indispensáveis para mudar a transformar a vida desses individuos. É direito

de todos os cidadãos, ainda que tenha cometido algum delito, serem tratados com

dignidade e respeito. Nesse contexto cresce a importância da adoção de políticas

que efetivamente promovam a recuperação do detento no convívio social e tendo

por ferramenta básica a Lei de Execução Penal nº 7.210 de 11 de julho de 1984, e

seus dois eixos: punir e ressocializar.

O presente trabalho visa ressaltar a necessidade e importância da

reintegração dos detentos a sociedade, e que esta deve ser revista como uma

maneira de ajudar na recuperação de todo um sistema e a sociedade de uma

maneira em geral.

Inicialmente será apresentada uma breve evolução das penas privativas de

liberdade e das prisões. Serão considerados os Períodos Humanitários e Cientificos

com a abordagem das suas fases, influências e evoluções. No capítulo seguinte, a

pesquisa apresenta o Histórico da Pena e da Prisão no Brasil. Finalmente, serão

considerados os fatores inerentes à ressocialização dos encarcerados. Será tratada

a necessidade de reformulação do sistema, uma vez que sua crise tornou-se

insustentável como atestam a realidade dos fatos. Também se fará o devido debate

sobre a ressocialização e a necessidade de inclusão dos apenados, e sobre a

11

necessidade de criar as condições estruturais para que a norma já estabelecida seja

efetivada e possa cumprir sua determinação de ressocilização.

12

2. A EVOLUÇÃO DA PENA

Se mostra indispensável ao se fazer um estudo acerca do sistema prisional e

sua evolução histórica, discorrermos sobre a origem da pena, isso porque a

existência do sistema penitenciário está ligado ou deriva da pena imposta ao

transgressor da norma jurídica, como forma de castigo e reparação do dano causado

a sociedade.

2.1 A ORIGEM E O CONCEITO DE PENA

Nos estudos e pesquisas realizadas não se tem certeza da origem da palavra

pena. Para alguns estudiosos, viria do latim poena, significando castigo, expiação,

suplício, ou ainda do latim punere (por) e pondus (peso), no sentido de

contrabalança; pesar; em face do equilíbrio dos pratos que deve ter a balança da

justiça. Para outros, teria origem nas palavras gregas poiné, de penomai,

significando trabalho,fadiga, sofrimento, e eus , de expiar, fazer o bem corrigir, ou no

sânscrito(antiga língua clássica India) pynia, com a idéia de pureza e virtude.

Segundo Pedro Rates Gomes Neto, em seu livro A Prisão e o Sistema

Penitenciária: uma Visão Histórica, a expressão pena pode derivar do fato de o juiz

ao sentenciar, utilizar-se na antiguidade, de uma pena de pavão, que era umedecida

na tinta e, assim, utilizada para fixar a pena (castigo).

2.1.1Conceitos de Pena:

Segundo Ferreira, Pena é a punição imposta ao contraventor ou delinquente,

em processo judicial de instrução contraditória, em decorrência de crime ou

contravenção que tenha cometido com o fim de exemplá-lo e evitar a prática de

novas infrações”. (FERREIRA, 1989, p.1070).

13

Ainda segundo, Franz Von Liszt a pena é um mal imposto pelo juiz penal ao

delinqüente, em virtude do delito, para expressar a reprovação social em relação ao

ato e ao autor. Já para o autor Aníbal Bruno, citado por Pedro Rates Gomes Neto

pena é a sanção, consistente na privação de determinados bens jurídicos, que o

Estado impõe contra a prática de um fato definido na lei como crime.

E a pena, segundo as palavras do ilustre doutrinador Damásio E. de Jesus,

em seu livro Direito Penal:

É a sanção aflitiva imposta pelo Estado, mediante ação penal, ao

autor de uma infração penal, como retribuição de seu ato ilícito, consistente na diminuição de um bem jurídico, e cujo fim é evitar novos delitos. (2000, p.457).

Ainda, segundo Heleno Claudio Fragoso, pena era a perda de bens jurídicos

imposta pelo órgão da justiça a quem comete um crime.

2.2 FASES DE EVOLUÇÃO DA PENA

Pode-se distinguir diversas fases de evolução das penas, tais como: da

vingança privada, da vingança divina e da vingança pública. Entretanto, essas fases

não se sucedem umas às outras. Uma fase convive com a outra por largo período,

até constituir orientação prevalente para em seguida, passar a conviver com a que

lhe segue. Assim, a divisão cronológica é meramente secundária, já que a

separação é feita por idéias.

2.2.1 Período da Vingança Privada

Esta, segundo registros históricos, é a fase mais primitiva da história da pena.

A punição era imposta exclusivamente como vingança e não guardava qualquer

medida com a pessoa do criminoso com o crime cometido. Trata-se da lei do mais

forte, ficando sua extensão e forma de execução a cargo da pessoa do ofendido.

14

O transgressor podia ser morto, escravizado ou banido. A pena ultrapassa a

pessoa do infrator para se concentrar em sua família ou inteiramente em sua tribo,

não se importando com a figura da culpa.

Alexandre Mariano Costa, em seu livro “O trabalho prisional e a reintegração

do detento” traz essa fase mais remota da pena:

As penas já começaram a ser aplicadas durante os tempos primitivos, nas origens da humanidade. Pode-se dizer que inicia-se com o período da vingança privada que prolongou-se até o século XVIII. Naquele período não se poderia admitir a existência de um sistema orgânico de princípios gerais, já que grupos sociais dessa época eram envoltos em ambiente mágico e religioso. Fenômenos naturais como a peste, a seca, e erupções vulcânicas eram considerados castigos divinos, pela prática de fatos que exigiam reparação. (COSTA, 1999, p. 15).

Na denominada fase da vingança privada, cometido um crime, ocorria a

reação da vítima, dos parentes e até do grupo social (tribo), que agiam sem

proporção à ofensa, atingindo não só o ofensor, como todo o seu grupo. A

inexistência de um limite (falta de proporcionalidade) no revide à agressão, bem

como a vingança de sangue foi um dos períodos em que a vingança privada

constituiu-se a mais frequente forma de punição, adotada pelos povos primitivos. A

vingança privada constituía uma reação natural e instintiva, por isso, foi apenas uma

realidade sociológica, não uma instituição jurídica.

Ainda acerca da fase da vingança privada, com o passar dos tempos essa

produziu duas regulamentações, o Talião e a Composição, conforme vejamos nas

palavras de Dilton Ávila Canto e Eduardo Oliveira que assim dispõem:

A vingança privada, com o evoluir dos tempos, produziu duas grandes regulamentações: o talião e a composição. Apesar de se dizer comumente pena de talião, não se tratava propriamente de uma pena, mas de um instrumento moderador da pena. Consistia em aplicar no delinqüente ou ofensor o mal que ele causou ao ofendido, na mesma proporção. (CANTO, 2000, p. 8). Através da composição, o ofensor comprava sua liberdade, com dinheiro, gado, armas, etc. Adotada, também, pelo Código de Hamurabi (Babilônia 2.300 a.C.) e de Manu (Índia 2.300 a.C.), foi largamente aceita pelo Direito Germânico, sendo a origem remota das indenizações cíveis e das multas penais. (OLIVEIRA, 2001, p.21)

15

Como disse Roberto Lyra, citado por Pedro Rates Gomes Neto, o “você me

paga”, “pagar com a mesma moeda”, são “corruptelas histórico culturais” dos dias de

hoje derivadas da época da composição, inclusive temos hoje no ordenamento

jurídico-penal a Lei 9.099/1995 que permite a composição, ou seja, o crime praticado

pelo infrator, após transacionado com membro do Ministério Público, seja reparado

com pena pecuniária.

2.2.2 Período da Vingança Divina:

Nesse período a pena que até então era aplicada ao sabor e à vontade da

vítima, ou de seu grupo, como vingança pelo mal praticado, ou mesmo como um ato

instintivo de defesa, passa a ter como fundamento uma entidade superior, a

divindade. A punição existe para aplacar a ira divina e regenerar ou purificar a

alma do infrator, para que, assim a paz na terra fosse mantida.

Aqui, a religião atinge influência decisiva na vida dos povos antigos. A repressão ao delinqüente nessa fase tinha por placar a "ira" da divindade ofendida pelo crime, bem como castigar ao infrator. A administração da sanção penal ficava a cargo dos sacerdotes que, como mandatários dos deuses, encarregavam-se da justiça. Aplicavam-se penas cruéis, severas, desumanas. A "vis corpolis" era usada como meio de intimidação. (CANTO, 2000, p. 12).

Ainda nesse sentido:

No Antigo Oriente, pode-se afirmar que a religião confundia-se com o Direito, e, assim, os preceitos de cunho meramente religioso ou moral, tornavam-se leis em vigor. Legislação típica dessa fase é o Código de Manu, mas esses princípios foram adotados na Babilônia, no Egito (Cinco Livros), na China (Livro das Cinco Penas), na Pérsia (Avesta) e pelo povo de Israel. (CANTO, 2000, p. 12).

O Código de Manu (séc. XI a.C) sob a égide de que a pena purificava o

delinquente, determinava o corte de dedos dos ladrões, evoluindo para os pés e as

mãos nos casos de reincidência. O corte da língua para quem insultasse um homem

de bem, a queima do adúltero em chama ardente, a entrega da adúltera para

animais carnívoros, principalmente cachorros.

16

2.2.3 Período da Vingança Pública:

Tanto o período da Vingança Privada quanto o período da Vingança Divina,

eram feitas pelo particular ao seu arbítrio ou pelo grupo, a vingança era feita em

nome dos deuses, com requintes de crueldade, sem qualquer critério de justiça,

levou o Estado, então mais forte, a atrair para si a responsabilidade pelo direito

punitivo que em nossa linguagem atual trata-se do jus puniendi. Isto porque a

punição da forma com vinha sendo exercida não atendia aos seus interesses,

conquanto enfraquecia e o tornava vulnerável, uma vez que também era atingido.

O poder Público passou então a regulamentar a forma de castigo através do

ente soberano e aplicado de acordo com seus interesses. Do ponto de vista

Humanitário pouco mudou. Conservaram-se o Talião, a Composição e a própria

Vindita. Todavia, não mais ao critério e à vontade do ofendido da vitima.

Nesse sentido, acerca dessa fase Alexandre Mariano Costa, assim dispôs:

Com uma maior organização social, especialmente com o desenvolvimento do poder político, surge, no seio das comunidades, a figura do chefe ou da assembléia. A pena, portanto, perde sua índole sacra para transformar-se em um sanção imposta em nome de uma autoridade pública, representativa dos interesses da comunidade. Não era mais o ofendido ou mesmo os sacerdotes os agentes responsáveis pela punição, e sim o soberano (Rei, Príncipe e/ou Regente). Este exercia sua autoridade em nome de Deus e cometia inúmeras arbitrariedades. (COSTA, 1999, p. 15).

Ainda acerca desse período Eduardo Lins e Silva, traz o seguinte:

A pena de morte era uma sanção largamente difundida e aplicada por motivos que hoje são considerados insignificantes. Usava-se mutilar o condenado, confiscar seus bens e extrapolar a pena até os familiares do infrator. Embora a criatura humana vivesse aterrorizada nessa época, devido à falta de segurança jurídica, verifica-se avanço no fato de a pena não ser mais aplicada por terceiros, e sim pelo Estado.Tempo de desespero, noite de trevas para a humanidade, idade média do Direito Penal... Vai raiar o sol do Humanismo. (LINS e SILVA,2001. P.13).

Uma parte do povo se revoltou com as penas degradantes, com tal estado de

coisas e alguns homens puseram-se a combater o espetáculo reinante. Nascia,

então, o período em que os estudiosos chamaram de Humanitário.

17

2.2.4 Período Humanitário:

a) O Direito Penal e a "Filosofia das Luzes".

Acerca dessa fase Eduardo Lins e Silva, assim dispõem: Os pensadores iluministas, em geral, defendiam uma ampla reforma do ensino, criticavam duramente a intervenção do Estado na economia e achincalhavam a Igreja e os poderosos. Nem mesmo Deus escapou às discussões da época. O Deus iluminista, racional, era o "grande relojoeiro" nas palavras de Voltaire. Deus foi encarado como expressão máxima da razão, legislador do Universo, respeitador dos direitos universais do homem, da liberdade de pensar e se exprimir. Era também o criador da "lei", e lei no sentido expresso pelo filósofo iluminista Montesquieu: "relação necessária que decorre da natureza das coisas".(2001. P.14).

Ainda segundo Lins e Silva, foram, os escritos de Montesquieu, Voltaire,

Russeau e D’Alembert que prepararam o advento do humanismo e o início da

radical transformação liberal e humanista do Direito Penal.

Os pensadores iluministas, em seus escritos,fundamentaram uma nova ideologia, o pensamento moderno, que repercutiria até mesmo na aplicação da justiça: à arbitrariedade se contrapôs a razão, à determinação caprichosa dos delitos e das penas se pôs a fixação legal das condutas delitivas e das penas. Os povos clamavam pelo fim de tanto barbarismo disfarçado. (2001. P.14).

b) Beccaria: "filho espiritual dos enciclopedistas franceses".

Segundo Odete Maria de Oliveira, em seu livro Prisão, um Paradoxo Social:

Em 1764, imbuído dos princípios iluministas, Cesar Bonesana Marquês de Beccaria, faz publicar a obra "Dei Delitti e Delle Pene", que, posteriormente, foi chamado de "pequeno grande livro", por ter se tornado o símbolo da reação liberal ao desumano panorama penal então vigente. (OLIVEIRA, 1996, p. 41)

Os princípios básicos pregados pelo jovem aristocrata de Milão firmaram o alicerce do Direito Penal moderno, e muitos desses princípios foram, até mesmo, adotados pela declaração dos Direitos do homem, da revolução Francesa. Segundo ele, deveria ser vedado ao magistrado aplicar penas não previstas em lei. (1996, p. 41)

Ainda Segundo a autora: A lei seria obra exclusiva do legislador ordinário, que representa toda a sociedade ligada por um contrato social". Quanto a crueldade das penas afirmava que era de todo inútil, odiosa e contrária à justiça. Sobre as prisões de seu tempo dizia que "eram a horrível mansão do desespero e da fome", faltando dentro delas a piedade e a humanidade. Não foi à toa que alguns autores o chamaram apóstolo do Direito: O jovem marquês de Beccaria

18

evolucionou o Direito Penal e sua obra significou um largo passo na evolução do regime punitivo. (1996, p. 41)

c) Escola Clássica

Segundo Eduardo Lins e Silva, em seu artigo A História da Pena e a História de

sua Abolição, Três grandes jurisconsultos podem ser considerados como iniciadores

da Escola Clássica: Gian Domenico Romagnosi, na Itália. Jeremias Bentham, na

Inglaterra e Anselmo Von Feuerbach na Alemanha.

Romagnosi concebe o Direito Penal como um direio natural, imutável e anterior

às convenções humanas, que deve ser exercido mediante a punição dos delitos

usados para impedir o perigo dos crimes futuros. Já, Jeremias Bentham onsiderava

que a pena se justificava por sua utilidade: impedir que o réu cometa novos crimes,

emendá-lo, intimidá-lo, protegendo, assim a coletividade.

E finalmente, Anselmo Von Feuerbach opina que o fim do Estado é a

convivência dos homens conforme as leis jurídicas. A pena segundo ele, coagiria

física e psicologicamente para punir e evitar o crime. No que tange à finalidade da

pena, havia no âmago da Escola Clássica, três teorias:

Absoluta – que entendia a pena como exigência de justiça.

Relativa – que assinalava a ela um fim prático, de prevenção geral e especial;

Mista – que, resultando da fusão de ambas, mostrava a pena como utilidade e ao

mesmo tempo como exigência de justiça.

Ainda dentro da escola clássica Eduardo Lins e Silva, discorre sobre dois

Períodos que se distinguiram:

Na Escola Clássica, dois grandes períodos se distinguiram: o filósofo ou teórico e o jurídico ou prático. No primeiro,destaca-se a incontestável figura de Beccaria. Já no segundo, aparece o mestre de Pisa, Francisco Carrara, que tornou-se o maior vulto da Escola Clássica. Carrara defende a concepção do delito como ente jurídico, constituído por duas forças: a física (movimento corpóreo e dano causado pelo crime) e a moral (vontade livre e consciente do delinqüente). (LINS e SILVA, 2001, p. 15)

19

3. ASPECTOS GERAIS DA PRISÃO

Superado o estudo preliminar dos aspectos históricos da pena, iremos iniciar

o estudo também dos aspectos históricos da prisão e do sistema penitenciário.

Agamenon Bento do Amaral, com propriedade, consignou como conceito

jurídico de prisão, um instrumento coercitivo estatal decorrente da aplicação de uma

sanção penal transitada em julgado.

E no sentido processual, segundo Dilton Ávila Canto conceitua prisão, nos

seguintes termos:

A prisão constitui instrumento cautelar de que se vale o juiz no processo para impedir novos delitos pelo acusado, aplicar a sanção penal ou para evitar a fuga do processado, além de outros motivos e circunstâncias ocorrentes em cada caso concreto. (CANTO, 2000 p. 12).

3.1 MARCO INICIAL DA PRISÃO COMO INSTRUMENTO DE PENA

No fim do século XVI, ou mais precisamente em 1965, é que inspirada nos

penitenciários do Santo Ofício da Inquisição, a Holanda constrói a primeira

penitenciária masculina, e dois anos depois, em 1957, constrói a segunda

penitenciária, essa feminina, ambas em Amsterdã, para cumprimento da pena

privativa de liberdade.

Segundo, Pedro Gomes Rates Neto, ainda acerca do marco inicial da prisão

como instrumento de pena:

No século XVIII, duas penitenciárias se destacaram: a penitenciária papal de São Miguel, construída em 1703, que se destinava mais ao confinamento celular e à| ascese do que ao trabalho, e a penitenciária de Gant, na Bélgica, construída em 1775, que se preocupava mais com o trabalho e com a automanutenção dos presos, tanto que usava o “slogan” “O trabalho é um imperativo econômico e quem não trabalha não come”.(Rates, p.47).

20

3.2 A EVOLUÇÃO DA PENA DE PRISÃO NO BRASIL

Ney Moura Teles, em seu livro Direito Penal parte geral, com propriedade

definiu a evolução da pena no Brasil:

Nos primórdios da colonização o sistema penal brasileiro estava contido nas ordenações Afonsinas, Manuelinas e Filipinas. Elas consagravam a desigualdade de classes perante o crime, devendo o juiz aplicar a pena de acordo com a gravidade do caso e a qualidade d pessoa. Os nobres, em regra, eram punidos com multa; aos peões ficavam reservados os castigos mais pesados e humilhantes.

3.2.1. Ordenações Afonsinas

Ainda segundo Ney Moura Teles, a Lei promulgada por Dom Afonso V,

vigorou até 1521. Serviu de modelo para as ordenações posteriores, mas nenhuma

aplicação teve no Brasil.

3.2.2. Ordenações Manuelinas Acerca dessas ordenações Ney Moura Teles, assim dispôs:

As Ordenações Manuelinas continham as disposições do Direito Medieval, elaborado pelos práticos, e confundiam religião, moral e direito. Vigoraram no Brasil entre 1521 e 1603, ou seja, somente após o início da exploração Portuguesa, não chegando a ser verdadeiramente aplicadas porque a justiça era realizada pelos donatários. (TELES, 1999, p. 60)

3.2.3 Ordenações Filipinas

Ainda segundo Teles, as Ordenações Filipinas vieram a ser aplicadas

efetivamente no Brasil, sob a administração direta do Reino. Tiveram vigência a

partir de 1603, findando em 1830 com o advento do Código do Império.

Ainda acerca das ordenações Filipinas, Teles, assim dispôs:

A matéria penal estava contida no Livro 5, denominado o Famigerado. As penas fundavam-se na crueldade e no terror. Distinguiam-se pela dureza das punições. A pena de morte era aplicada com freqüência e sua execução

21

realizava-se com peculiares características, como a morte pelo fogo até ser reduzido a pó e a morte cruel marcada por tormentos, mutilações, marca de fogo, açoites, penas infamantes, degredos e confiscações. (TELES, 1999, p. 59). Ainda cerca das Ordenações Filipinas, Canto também dispôs: Com o advento da independência, a Assembléia Constituinte de 1823 decretou a aplicação provisória da Legislação do Reino; continuaram, assim, a vigorar as Ordenações Filipinas, até que com a Constituição de 1824 foram revogadas parcialmente. Naquele mesmo ano de 1823 foram encarregados de elaborar um Código Penal os parlamentares José Clemente Pereira e Bernardo Pereira de Vasconcelos. Tendo cada um apresentado seu projeto, preferiu-se o de Bernardo, que sofreu alterações e veio a constituir o Código de 1830.Nele manteve-se, ainda, a pena de morte, que acabou sendo tacitamente revogada por D. Pedro II quando do episódio da execução de Mota Coqueiro, no Estado do Rio, que, acusado injustamente, depois de morto teve provada sua inocência. (CANTO, 2000 p. 15).

A Carta Constitucional do Império, outorgada em 1824, estabelecia diversas

inovações tanto de caráter liberal assim como humanístico, ela aboliu todas as

penas cruéis, proibindo também o confisco de bens e a declaração de infâmia aos

parentes do condenado, o que tornou a sanção penal mais pessoal. Essa

Constituição estabeleceu o uso da pena de prisão, onde previa cadeias seguras,

limpas e bem arejadas, e estabelecia ainda a organização urgente de um Código

Criminal fundado nas sólidas bases da justiça e da equidade. A partir da

Constituição de 1824, surgiram movimentos em prol da reforma da legislação penal,

querendo instituir os princípios da irretroatividade da lei penal, daigualdade de todos

perante a lei, da personalidade da pena e da utilidade pública da lei penal.

D. Pedro I, em 1830, sancionou o Código Criminal do Império do Brasil, que

foi realmente inovador, pois reduziu as hipóteses de penas de morte e eliminou a

crueldade com que eram executadas. Eliminou também as penas infamantes, exceto

contra os escravos. Esse Código previa as seguintes penas: morte, galés, prisão

com trabalho, prisão simples, banimento, degredo, desterro, multa, suspensão de

emprego, perda de emprego e açoites (somente para escravos).

Em 1890, o Governo Provisório da República aprova o Código Penal

Republicano, mas, devido à pressa com que foi elaborado, esse ordenamento

recebeu inúmeras críticas, pois não coadunava com o pensamento humanitário da

22

época. As penas previstas nesse Código eram: prisão celular, reclusão, prisão com

trabalho obrigatório, prisão disciplinar, banimento, interdição, suspensão de emprego

público, com ou sem inabilitação para o exercício de outro, e multa.

Em 31 de dezembro de 1940 foi promulgado o atual Código Penal, porém o

mesmo só começou a vigorar em 1942. Tal código, faz uma divisão das penas em

principais e acessórias, sendo a primeira composta das penas de reclusão, detenção

e multa, e a segunda as penas que estão as previstas no art. 67 do referido Código,

sendo a perda de função pública, eletiva ou de nomeação, interdição de direito e

publicação de sentença. Como importante alteração realizada no Código Penal de

1940 pode-se citar a Lei 6.416 de 24.05.1977, que introduziu em nosso

ordenamento a Prisão-Albergue e o Sursis, que constituem um avanço no sentido de

se evitar ao máximo a privação de liberdade, embora não sejam espécies de penas

alternativas. Essa Lei foi um grande passo para se chegar à reforma penal de 1984.

Em 1981 foi publicado o Anteprojeto da parte geral do Código Penal de 1940,

o qual eliminava as penas acessórias, passando a enumerar as modalidades: penas

privativas de liberdade, penas restritivas de direito e penas patrimoniais. Sendo

abolida a multa reparatória, bem como substituído o sistema de aprendizado

compulsório pela limitação do fim de semana.

Em 1984 ocorreu mais uma reforma no Direito Penal Brasileiro, por meio da

Lei nº 7.209, de 11.07.1984, onde as penas previstas em nosso ordenamento

passaram a ser: privativas de liberdade, restritivas de direito e multa. Onde dentro

das penas restritivas de direito, temos a prestação de serviços à comunidade,

interdição temporária de direitos, bem como a limitação do fim de semana.

O Código Penal Brasileiro, após as reformas de 1984 e 1998, passou a adotar

um sistema misto, qual seja, o retributivo-preventivo. Acontece que, na prática, a

pena continua com o caráter de castigo, não possuindo efeito ressocializador, e isto

ocorre porque a humanidade ainda está na crença arraigada de que a prisão é a

melhor opção de pena para um delinquente, não importando as consequências

desse cárcere.

23

4. O SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO

César Barros Leal, em seu livro: Prisão: Crepusculo de uma era, traça um

panorama da situação calamitosa do sistema prisional brasileiro, discorrendo sobre a

situação dos estabelecimentos prisionais da seguinte forma:

Prisões onde estão enclausuradas milhares de pessoas, desprovidas de assistência, sem nenhuma separação, em absurda ociosidade; prisões infectas, úmidas, por onde transitam livremente ratos e baratas e a falta de água e de luz é rotineira; prisões onde em celas coletivas, imundas e fétidas vivem dezenas de presos, alguns seriamente enfermos; prisões onde quadrilhas controlam o tráfico; prisões onde vigora um código arbitrário de disciplina; prisões onde detentos promovem uma loteria sinistra, em que o preso “sorteado”. (1998, p.)

A crise do sistema penitenciário brasileiro não é uma contingência da

atualidade e sim uma continuidade fruto de um longo processo histórico impermeado

pelo escravismo do período colonial, mas que agrava-se com a falência gerencial.

Segundo Coelho (2003, p.1):

A nossa realidade é arcaica, os estabelecimentos prisionais, na sua grande maioria, representam para os reclusos um verdadeiro inferno em vida, onde o preso se amontoa a outros em celas (seria melhor dizer em jaulas) sujas, úmidas, anti-higiênicas e super lotadas, de tal forma que, em não raros exemplos, o preso deve dormir sentado, enquanto outros revezam em pé (2003, p.1)

Se questiona muito sobre um importantíssimo ângulo do problema da pena.

René Ariel Dotti sabiamente nos indaga acerca dessa situação:

Tem o Estado o direito de orpimir a liberdade ética do preso, impondo-lhe autoritariamente uma concepção de vida e um estilo de comportamento através de um programa de “reeducação” que não seja condizente com sua formação e suas convicções? ( 1998, p. 113).

Nesse sentido muito apropriadamente, Antonio Beristain lembra que o poder

público pretende, às vezes, sob a capa da reeducação, invadir esferas totalmente

alheias à sua competência e usar as pessoas como mero objetos (Beristain, p 30).

24

Segundo Rene Ariel Dotti, ainda:

Essa sistemática da Violação da intimidade da pessoa presa tanto em um contexto brasileiro como mundial, com as naturais conseqüências ofensivas ao patrimônio físico, moral e espiritual , compõe um trecho significativo dessa odisséia e faz lembrar que antes como agora, quase nada mudou. (Dotti, 122)

A degradação do sistema penitenciário brasileiro a níveis intoleráveis vem

sendo frequentemente retratada, tendo a frente a acusação até mesmo de

autoridades, como o ministro da justiça, que disse que os presídios brasileiros são

verdadeiros depósitos de pessoas e permanentes fatores criminógenos.

Finalmente, ainda nas palavras de Renne Ariel Dotti, em seu livro, Bases e

Alternativas para o Sistema das Penas:

O sistema penitenciário brasileiro está em regime de insolvência, sem poder quitar as obrigações sociais e os compromissos assumidos individualmente. E para este ‘debitun’ não remido contribuiu também o desinteresse em tratar com o necessário rigor cientifico as figuras do réu e da vitima, os protagonistas, enfim, do fenômeno criminal em toda a sua inteireza, antes, durante e depois da intervenção punitiva do Estado”

O nosso sistema, em tese, almejaria com a pena privativa de liberdade

proteger a sociedade e zelar para que o condenado fosse reinserido a sociedade,

para isso afastando o preso da sociedade com na intenção de ressocializá-lo, mas o

que encontramos é uma situação diferente, como afirma Mirabete:

A ressocialização não pode ser conseguida numa instituição como a prisão. Os centros de execução penal, as penitenciárias, tendem a converter-se num microcosmo no qual se reproduzem e se agravam as grandes contradições que existem no sistema social exterior (...). A pena privativa de liberdade não ressocializa, ao contrário, estigmatiza o recluso, impedindo sua plena reincorporação ao meio social. A prisão não cumpre a sua função ressocializadora. Serve como instrumento para a manutenção da estrutura social de dominação (Mirabete, 2002, p.24).

A pena por sí só não consegue reintegrar o indivíduo a sociedade, se faz

necessária a união de outros elementos, como a participação da própria família,

melhor qualificação dos profissionais das unidades carcerárias, bem como a

25

implantação de mais cursos profissionalizantes e a educação mais presente,

elementos estes imprescindíveis para que se consiga atingir a tão almejada

reintegração do preso à sociedade

Ressalta Mirabete:

Exalta-se seu papel de fator ressocializador, afirmando-se serem notórios os benefícios que da atividade laborativa decorrem para a conservação da personalidade do delinqüente e para a promoção do autodomínio físico e moral de que necessita e que lhe será imprescindível para o seu futuro na vida em liberdade (Mirabete, 2002, p. 87)

(...) O direito, o processo e a execução penal constituem apenas um meio para a reintegração social, indispensável, mas nem por isso o de maior alcance, porque a melhor defesa da sociedade se obtém pela política social do estado e pela ajuda pessoal. (2002, p. 23).

26

5. A RESSOCIALIZAÇÃO.

A ressocialização tem como objetivo a humanização da passagem do detento

na instituição carcerária, implicando sua essência teórica, numa orientação

humanista, passando a focalizar a pessoa que delinquiu como o centro da reflexão

científica.

A pena de prisão deve levar em conta um modelo cujo objetivo não seja

apenas castigar o indivíduo, mas orientá-lo dentro da prisão para que ele possa ser

reintegrado à sociedade de maneira efetiva, evitando com isso a reincidência.

Segundo Molina:

“O decisivo, acredita-se, não é castigar implacavelmente o culpado (castigar por castigar é, em última instância, um dogmatismo ou uma crueldade), senão orientar o cumprimento e a execução do castigo de maneira tal que possa conferir-lhe alguma utilidade.” (MOLINA, 1998, p. 381).

Damásio de Jesus em seu livro Direito Penal Parte Geral, refere-se ao modelo

ressocializador como sistema reabilitador, que indica a idéia de prevenção especial à

pena privativa de liberdade, devendo consistir em medida que vise ressocializar a

pessoa em conflito com a lei. Nesse sistema, a prisão não é um instrumento de

vingança, mas sim um meio de reinserção mais humanitária do indivíduo na

sociedade.

Jason Albergaria em seu livro Das Penas e da Execução Penal, assim

dispôs acerca da ressocialização

A ressocialização é um dos direitos fundamentais do preso e está vinculada ao estado social de direito, que se empenha por assegurar o bem estar material a todos os indivíduos, para ajudá-los fisicamente, economicamente e socialmente. O delinqüente, como indivíduo em situação difícil e como cidadão, tem direito a sua reincorporação social. Essa concepção tem o mérito de solicitar e exigir a cooperação de todos os especialistas em ciências do homem para uma missão eminentemente humana e que pode contribuir para o bem estar da humanidade. (1996, p. 139)

27

Em um Estado Social o castigo deve ser útil para a pessoa que cometeu o

crime, o mais humano em termos de tratamento, não podendo tapar os olhos para

os efeitos nocivos da pena, caminhando contra o efeito dissuasório preventivo

(repressivo), que prefere ignorar os reais efeitos da pena.

Segundo Molina:

O modelo ressocializador propugna, portanto, pela neutralização, na medida do possível, dos efeitos nocivos inerentes ao castigo, por meio de uma melhora substancial ao seu regime de cumprimento e de execução e, sobretudo, sugere uma intervenção positiva no condenado que, longe de estigmatizá-lo com uma marca indelével, o habilite para integrar-se e participar da sociedade, de forma digna e ativa, sem traumas, limitações ou condicionamentos especiais. (1998, p.383)

Vale salientar que BARATTA defende o uso do conceito de “reintegração”

social ao invés de ressocialização:

Pois para ele esse conceito (ressocialização) representa um papel passivo por parte da pessoa em conflito com a lei e, o outro, ativo por parte das instituições, que traz restos da velha criminologia positivista, “que definia o condenado como um indivíduo anormal e inferior que deveria ser readaptado à sociedade, considerando esta como ‘boa’ e o condenado como ‘mau’. “ (BARATTA, 1997, p.76).

Já o conceito de reintegração social, para o autor, abriria um processo de

comunicação e interação entre a prisão e a sociedade, onde as pessoas presas se

identificariam na sociedade e a sociedade se reconheceria no preso.

Para BITTENCOURT (1996, p.24), a ressocialização não pode ser viabilizada

numa instituição carcerária, pois essas convertem se num microcosmo no qual

reproduzem-se e agravam-se as contradições que existem no sistema social.

Segundo MOLINA (1998, p.383):

A idéia de ressocialização como a de tratamento, é radicalmente alheia aos postulados e dogmas do direito penal clássico, que professa um retribucionismo incompatível com aquela. É de fato, sua legitimidade (a do ideal ressocializador) é questionada desde as mais diversas orientações científicas, progressistas ou pseudoprogressistas,tais como a criminologia critica, determinados setores da psicologia e da psicanálise, certas correntes funcionalistas, neomarxistas e interacionistas. (MOLINA, p.383).

28

Alguns desses setores chegam a afirmar que o ideal ressocializador é uma

mera utopia, um engano, apenas discurso, ou simplesmente uma declaração

ideológica.

A falta de credibilidade em relação à ressocialização dá-se por que esta

aparece amplamente em diversas de nossas legislações(Lei de Execução Penal,

Regras de Tzóquio, Declaração de Direitos Humanos), porém, apesar de existirem

essas inúmeras normatizações, essas deixam muito a desejar no que tange à

efetivação, a verdadeira prática que deveria ser aplicada nas instituições carcerárias.

Nestas acontecem, de fato, diversos abusos, e uma evidente repressão aos direitos

dos presos, onde o acompanhamento social, psicológico, jurídico ainda é geralmente

precário, insuficiente, assim obstruindo qualquer forma efetiva de ressocialização e

reinserção do preso à sociedade.

BARATTA (1997, p.71), ressalta que na atualidade o modelo ressocializador

demonstrou ser ineficaz, sendo provada a sua falência através de investigações

empíricas que identificaram as dificuldades estruturais e os escassos resultados

conseguidos pelo sistema carcerário, em relação ao objetivo ressocializador.

Porém, BITTENCOURT (1996, p.25), ressalta que:

A ressocialização não é o único e nem o principal objetivo da pena, mas sim, uma das finalidades que deve ser perseguida na medida do possível. Salienta também que não se pode atribuir às disciplinas penais a responsabilidade de conseguir a completa ressocialização do delinqüente, ignorando a existência de outros programas e meios de controle social através dos quais o Estado e a sociedade podem dispor para cumprir o objetivo socializador, como a família, a escola, a igreja, etc.

A Criminologia Critica coloca que não há possibilidade de ressocializar a

pessoa em conflito com a lei dentro de uma sociedade capitalista. Tem como um dos

argumentos que respalda essa convicção a própria prisão criada como instrumento

de controle e manutenção eficaz do sistema capitalista, cuja verdadeira função e

natureza estão condicionadas a sua origem histórica de instrumento assegurador da

desigualdade social.

29

Um segundo argumento ressaltado, nascido da Criminologia Critica, seria o

sistema penal, no qual insere-se a prisão. O sistema penal possibilita a manutenção

de um sistema social que, proporciona a manutenção das desigualdades sociais e

da marginalidade.

Pois, segundo Cesar Roberto Bittencourt, o sistema Penal permite a

manutenção da estrutura vertical da sociedade, impedindo a integração das classes

baixas, submetendo-as a um processo de marginalização.

Ainda segundo Júlio Fabrini Mirabete, a marginalização social é gerada por

um processo discriminatório que o sistema penal impõe, pois o etiquetamento e

estigmatização que a pessoa sofre ao ser condenado, tornam muito pouco provável

sua reabilitação novamente na sociedade. (1997 p. 88).

Do exposto verifica-se, que a uma das principais características da

ressocialização consiste em reformar, reeducar, dar autoconfiança, preparar para o

trabalho estimulando a iniciativa e a consciência social do apenado, possibilitando

que este possa voltar a conviver em sociedade.

30

6. CAUSAS DA INEFICIÊNCIA DA PENA PRIVATIVA DE LIBE RDADE, QUE

INVIABILIZAM A RESSOCIALIZAÇÃO.

Acerca dessa ineficiência, Cezar Roberto Bitencourt, com propriedade

escreveu:

Quando a prisão se converteu na principal resposta penológica,

especialmente a partir do século XIX, acreditou-se que poderia ser um meio

adequado para conseguir a reforma do delinqüente. Durante muitos anos

imperou um ambiente otimista, predominando a firme convicção de que a

prisão poderia ser um instrumento idôneo para realizar todas as finalidades

da pena e que, dentro de certas condições, seria possível reabilitar o

delinqüente. Esse otimismo inicial desapareceu, e atualmente predomina

uma atitude pessimista, que já não tem muitas esperanças sobre os

resultados que se possa conseguir com a prisão tradicional. A crítica tem

sido tão persistente que se pode afirmar, sem exagero que a prisão está em

crise. Essa Crise também atinge o objetivo ressocializador da pena privativa

de liberdade, visto que grande parte das críticas e questionamentos que se

fazem a prisão refere-se a impossibilidade - absoluta ou relativa – de obter

algum efeito positivo sobre o apenado. (Bitencourt, p. 1).

Ainda segundo Cezar Roberto Bitencourt, em seu livro Falência da Pena de

Prisão: Causas e Alternativas, a história da prisão não é a da sua progressiva

abolição, mas a de sua permanente reforma. Para ele a prisão é concebida,

modernamente, com um mal necessário.

A Lei de Execuções Penais que está em vigor desde 11 de julho de 1984,

prevê, essencialmente, em seus artigos 5º ao 37º, a individualização da pena,

assistência jurídica, material, a educação, a saúde, bem como, assistência social e

religiosa, ao egresso o trabalho interno e externo, mas até hoje não pode ser

aplicada na sua integralidade, por falta de medidas que deveriam ter sido adotadas

pelo Estado, bem como pela falta de estrutura fornecida pelos mesmos.

A Lei nº. 7.210 de 1984, Lei de Execução Penal Brasileira, é considerada uma

das mais avançadas no mundo e se cumprida integralmente, na prática, certamente

propiciará a redução e a ressocialização de uma parcela significativa da população

31

carcerária atual. De fato, em seu artigo 1° a LEP, como é usualmente conhecida,

afirma que o objetivo da execução penal é "proporcionar condições para a

harmônica integração social do condenado e do internado". Compreende, portanto, a

assistência e ajuda na obtenção dos meios capazes de permitir o retorno do

apenado e do internado ao meio social em condições favoráveis para a sua

integração.

Esse espírito otimista da LEP é resultado de uma esperança de alcançar a

recuperação do condenado que se incorporou aos sistemas normativos através de

proclamações retóricas. Essas, na maioria das vezes, exaurem-se na literalidade

dos textos, pois as medidas não se efetivam na prática, ou quando são efetivadas,

não produzem os resultados desejados. Assim, infelizmente as normas

cuidadosamente traçadas pela LEP na teoria, não são cumpridas na realidade das

prisões brasileiras, onde os presos, ao invés de serem reeducados para o retorno à

convivência social, vivem em condições desumanas e são tratados de forma

humilhante. Diante disso, o objetivo deste capítulo é responder a essa questão,

analisando as causas consideradas mais relevantes para o desvirtuamento da

função ressocializadora da pena de prisão e, porque não, para a degradação do

encarcerado.

Partindo dessas premissas que demonstram a finalidade da Lei de Execução

Penal, passemos a analisar quais serão as supostas causas que inviabilizaram a

ressocialização.

6.1 O ISOLAMENTO DA SOCIEDADE E DA FAMÍLIA

O primeiro fator a impedir a recuperação do condenado é o isolamento ao

qual ele é submetido, pois, ao adentrar em um estabelecimento prisional, o individuo

deixa para trás o convívio com os familiares e amigos, além de ser afastado de todos

os papeis sociais que desempenhava nos diversos núcleos sociais, para transforma-

se num encarcerado.

32

Nesse sentido Bitencourt em seu livro Falência da Pena de Prisão enfatiza,

que o isolamento da pessoa, excluindo-a da vida social normal, mesmo que seja

internada em uma “jaula de ouro”, é um dos efeitos mais graves da pena privativa de

liberdade, sendo em muitos casos irreversível. É impossível pretender que a pena

privativa de liberdade ressocialize por meio da exclusão e do isolamento.

Eugenio Raúl Zaffaroni e Edmundo Oliveira, com propriedade discorrem sobre

o tema:

No que se refere à atitude da família , ou esta assume posição de reprovar o preso, abandonando-o à própria sorte, dado o sentimento de repulsa, aversão à vida penitenciária, ou, então, a família, quando o preso a tem, assume o sofrimento do condenado e se expõe às conseqüências morais e materiais da miséria. A realidade tem mostrado que, normalmente, as visitas, ao início, são freqüentes e cheias de promessas, mas com o passar do tempo, tornam-se espaçadas, até alcançar o afastamento total. (2012, 461)

Ainda nas palavras de Raúl Eugenio Zaffaroni, “Nenhum preso pode suportar,

tranquilamente, a falta completa de calor humano, e a ausência absoluta de um

pouco de amor.”

Mostra-se claro o fato de que ao isolarmos um individuo da família e a da

sociedade como um todo, estamos apenas contribuindo para a ineficiência da pena

privativa de liberdade; pois se o objetivo é ressocializar, privando-os da sociedade,

jamais alcançaremos algum resultado positivo.

Conforme já explicitado ressocializar significa recolocar estes indivíduos na

sociedade estabelecendo meios para tanto, e não os privar desse convívio social,

que só faz inviabilizar essa ressocialização.

6.2 A AUSÊNCIA DE CONDIÇÕES FÍSICAS E HIGIÊNICAS NAS INSTALAÇÕES

DAS PRISÕES.

Outro fator que impossibilita a ressocialização são as precárias condições das

instalações dos estabelecimentos prisionais. Indaga-se , como é possível, buscar a

33

reintegração do individuo a sociedade, se a ele não é fornecida uma estruturação

com espaço e higiene adequados a uma sobrevivência com o mínimo de dignidade

possível.

Os limites espaciais, destinados aos detentos, normalmente são minúsculos,

não lhes possibilitam praticamente nenhum movimento, e as posições que o espaço

físico lhe permitem ficar, não são sequer razoáveis para o bem estar físico de um ser

humano.

Nas palavras de Cezar Roberto Bitencourt, em seu livro Falência da Pena de

Prisão, as prisões são retratadas da seguinte forma:

Más condições de higiene, por sua vez representadas pela falta de circulação de ar, umidade, odores, grandes quantidades de insetos e parasitas, sujeiras e imundices nas celas, corredores e cozinhas; tais fatores debilitam a saúde dos presos e comprometem o desenvolvimento de qualquer tarefa que tenha por objetivo reintegralos a sociedade.

Ocorre, que a realidade atual de nosso sistema prisional ainda é muito antiga,

e os esforços para que sejam construídas novas penitenciárias com melhores

estruturas, são mínimas. Como resultado dessa situação calamitosa, temos os altos

índices de reincidência.

6.3 VIOLÊNCIA PRISIONAL

No Brasil, os apenados reincidentes violentos e réus primários, detidos por

delitos menores, freqüentemente dividem a mesma cela, situação esta que,

combinada com as condições difíceis das prisões, ausência de supervisão efetiva, a

abundância de armas e a falta de atividades, resulta em situações de abuso entre os

presos.

Há de se frisar que tais fatos são totalmente contrários ao disposto no artigo

84 da Lei de Execução Penal, que preconiza que os presos provisórios devem ficar

separados dos condenados por sentença transitada em julgado.

34

Esse contexto, afeta não só os presos, mas também toda uma sociedade,

haja vista que esta receberá esses indivíduos ao saírem das dessas prisões em

estado degradantes, da mesma forma que entraram ou ainda piores.

Nas prisões mais perigosas os detentos matam os outros presos

impunemente, enquanto até mesmo em prisões de segurança relativa, extorsão e

outras formas mais brandas de violência são comuns, sem falar no numero

altíssimos de atentados violentos ao pudor, cometidos contra os apenados ou

indiciados.

35

7. A NECESSIDADE DE NOVAS METODOLOGIAS RESSOCIALIZA DORAS.

O Sistema Penitenciário Brasileiro não está conseguindo atingir o seu

principal objetivo que é a ressocialização dos seus internos.

O Estado ao condenar um indivíduo e aplicar ao mesmo uma pena restritiva

da liberdade, teoricamente, acredita-se que após o cumprimento da sentença

expedida esse indivíduo estará pronto para voltar, em harmonia, ao convívio social.

A chamada reeducação social, uma espécie de preparação temporária pela qual

precisa passar todo criminoso condenado pela justiça.

No entanto, essa “reeducação” objetivada pelo Estado na prática não existe.

Primeiro porque o que tem sido a principal preocupação do sistema penitenciário ao

receber um indivíduo condenado não é sua reeducação, mas sim com a privação de

sua liberdade. Isso é fácil de ser constatado na medida em que analisamos as

estruturas da maioria das penitenciárias brasileiras, formadas por excesso de

grades, muros enormes e um forte efetivo policial, tudo isso com um único objetivo,

evitar a fuga.

Enquanto isso a reincidência criminal cresce a cada dia, e na maioria das

vezes constata-se que o indivíduo que deixa o cárcere após o cumprimento de sua

pena, volta a cometer crimes piores do que anterior, como se a prisão o tivesse

tornado ainda mais perigoso ao convívio social.

Partindo dessas considerações é possível constatar que a privação da

liberdade única exclusivamente não favorece a ressocialização. Desta forma é

preciso que seja feito algo no sentido, senão, de resolver, ao menos, de minimizar

ao máximo esse equívoco.

Apesar de existirem inúmeros projetos de iniciativas que envolvem ações

ligadas a ressocialização do apenado, quer sejam aplicadas durante do

cumprimento da pena ou da medida de segurança, quer na condição de egresso.

Poucos são, aqueles, que são efetivamente implantados, ainda existindo muita coisa

que pode e deve ser feita nessa seara, onde existem inúmeras lacunas a serem

preenchidas.

36

É preciso que existam certas condições para que a recuperação do infrator

ocorra, tais como uma instituição penitenciária idônea, funcionários capacitados, que

a capacidade da unidade não seja extrapolada e aqui está a importância das penas

alternativas em casos que o emprego delas é possível. É importante também que

haja uma pena condizente com o ato praticado: a pena privativa de liberdade não

deve ser a solução para todos os casos.

Nesse sentido, Beccaria afirma que “é, pois, necessário selecionar quais

penas e quais os modos de aplicá-las, de tal modo que, conservadas as

proposições, causem impressão mais eficaz e mais duradoura no espírito dos

homens, e a menos tormentosa no corpo do réu”.

A superlotação das prisões, as precárias e insalubres instalações físicas, a

falta de treinamento dos funcionários responsáveis pela reeducação da população

carcerária e própria condição social dos que ali habitam, são sem sombra de

dúvidas, alguns dos inúmeros fatores que contribuem para o fracasso do sistema

penitenciário brasileiro no tocante a recuperação social dos seus internos, conforme

passaremos a retratar.

7.1 METODOLOGIAS RESSOCIALIZADORAS EXISTENTES:

7.1.1 Da Reinserção Social Pelo Trabalho

Além da Lei de Execução Penal – LEP – prever no seu artigo 32 a oferta de

capacitação profissional àqueles que estão sob sua custódia, o que também justifica

o investimento social, técnico e financeiro nesse público está na dupla

marginalização que sofre o egresso do Sistema Penitenciário: em primeiro lugar,

pelo fato de ter infringido a lei; e, em segundo, pela falta de capacitação profissional

– situação em que se encontra a grande maioria dos presos. A dificuldade de

reintegração social, sobretudo da não inserção no mercado de trabalho, gera um alto

índice de reincidência criminal, o que destrói, de certa forma, o trabalho social

efetuado com o preso durante seu período de detenção.

37

Verifica-se uma estreita relação entre a prisão, a pena privativa de liberdade e

o trabalho, desde a origem da pena de prisão, até os dias atuais.

Segundo Alexandre Mariano Costa em seu livro, O Trabalho Prisional e a

Reintegração do Detento, foi no século XVI que apareceram as primeiras prisões

legais, e eram destinadas a recolher mendigos, vagabundos e prostitutas, que se

multiplicavam pela cidade em razão da crise econômica.

Nesse sentido, Romeu Falconi também cita, o ocorrido na França em 1956,

na Bélgica em 1775, quando implantou a Casa de Correção de Gand, aproveitando

a infra-estrutura do Hospício de San Michel e acrescentando apenas o aprendizado

profissional.

Ainda segundo Romeu Falconi, em seu livro Sistema Presidial, Reinserção

Social?:

Em 1818 foi criado na cidade americana de Auburm, um modelo de prisão, que ficou conhecido como modelo Auburniano ou Silent Sistem que aplicava como método terapêutico o silêncio e o trabalho. Os prisioneiros dormiam em celas individuais e trabalhavam durante o dia, não podendo se comunicar nem por gestos. (Falconi, p. 60)

O trabalho penitenciário inicialmente propunha-se mais à proteção social e à

vingança pública , do que a outro fim, razão pela qua eram os prisioneiros remetidos

aos trabalhos mais penosos e insalubres.

Atualmente, foram proibidos praticamente em todo o mundo, os trabalhos

forçados como pena, sendo a laborterapia considerada como uma eficaz ferramenta

para a reinserção social.

Desta forma é o entendimento de Romeu Falconi, para quem:

“O trabalho é uma das formas mais eficazes de reinserção social, desde que dela não se faça uma forma vil de escravatura e violenta exploração do home pelo homem, principalmente este homem enclausurado’’. Para ele, o hábito ao trabalho traz novas perspectivas e expectativas para o preso, que pode vislumbrar uma nova forma de relacionamento com a sociedade.(Falconi, p.71).

38

Segundo Eugenio Raúl Zaffaroni e Edmundo Oliveira:

A ociosidade ou mesmo o trabalho, sem atender as diferenças de idade, saúde e cultura do preso, tornam-se inválidos os propósitos de evasão e ocupação, pois, pela sua intemperança causam-lhe desvios naturais de aprendizado e empreendimento. O estado não tem o direito de privar o preso do trabalho produtivo, especializado e remunerado. O trabalho adequado é fator primordial ao reingresso do homem, em condições favoráveis, ao meio social do qual saiu. (2012, p. 461)

Nesse sentido com propriedade Mirabete, assim dispõe:

Os presos se configuram como trabalhadores que se encontram, em sua grande maioria, ociosos, trabalhadores necessitados de políticas que supram suas necessidades básicas, bem como, de suas famílias, e que precisam nesse período de vida, - de extrema fragilidade existencial - ter, na penitenciária, um espaço de redescoberta de seu potencial enquanto ser humano, um espaço de educação pelo trabalho.(MIRABETE, 1997, p. 99)

Assim, ao se falar de reinserção social, admite-se, inequivocamente, “uma

atuação sobre o indivíduo-delinqüente que, nem por isso, se deixa encarar como um

problema que polariza em si precisamente as tensões entre a reforma do indivíduo e

da sociedade” (RODRIGUES, 1982, p. 27).

7.1.2 Ressocialização Pela Educação

Todo preso tem direito à educação. Além da Constituição Federal, garantem o

acesso dos detentos brasileiros aos estudos a Lei de Execução Penal nº 7.210/1984

(LEP), a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9394) e o Plano

Nacional de Educação (PNE).

Em 2011, houve um novo incentivo para que os presos retomassem os

estudos. A Lei nº. 12.433 previu a redução de pena, que já ocorria com o trabalho,

também para quem estuda. A cada 12 horas de frequência escolar o preso tem um

dia a menos de pena a cumprir, incluindo ensino fundamental, médio,

profissionalizante, superior ou ainda curso de requalificação profissional.

39

Desde 2010, também está prevista a instalação de salas de aulas nos

presídios, graças a um acréscimo feito à Lei de Execução Penal, pela Lei 12.245.

Mas o cumprimento da determinação ainda esbarra na falta de espaços físicos.

Os Estados têm autonomia para implantar os módulos de ensino. O Depen dá

auxílio financeiro e técnico aos projetos. Há governos estaduais que firmam

convênios com as secretarias de educação para promover a educação dos

presidiários, outros têm professores em seu corpo de funcionários e existem ainda

os que optam por trabalhar com fundações conveniadas.

Se faz necessário o desenvolvimento de programas educacionais dentro do

sistema penitenciário voltados para Educação básica de Jovens e Adultos que visem

alfabetizar e, sobretudo, trabalhar para a construção da cidadania do apenado.

Conforme o sociólogo Fernando Salla (in: Educação, 1999, p. 67) “ [...] por mais que

a prisão seja incapaz de ressocializar, um grande número de detentos deixa o

sistema penitenciário e abandona a marginalidade porque teve a oportunidade de

estudar”.

Dessa forma um outro aspecto relevante a ser aqui considerado é o perfil da

população penitenciária no Brasil, que segundo os dados do Departamento

Penitenciário Nacional do Ministério da Justiça, a maior parte da massa carcerária

deste país é composta por jovens com menos de trinta anos e de baixa escolaridade

(97% são analfabetos ou semi-analfabetos). O restante, quase que na totalidade,

são pessoas que não tiveram condições de concluir os estudos por razões variadas

inclusive por terem sido iniciadas no crime ainda cedo.

Diante desse quadro podemos afirmar que a criminalidade estar intimamente

ligada à baixa escolaridade e ambas a questão econômica e social. De modo que

precisam ser desenvolvidos dentro das prisões projetos educacionais que trabalhe

para a conscientização dos educandos, fazendo-os o perceber a realidade e

conseqüentemente seu lugar na história. Pois um indivíduo que nasceu na miséria e

por conseqüência não teve acesso a uma educação satisfatória ou a de nenhum

tipo, não pode agir com discernimento em seus atos.

40

Uma educação dentro do sistema penitenciário deve trabalhar com conceitos

fundamentais, como família, amor, dignidade, liberdade, vida, morte, cidadania,

governo, eleição, miséria, comunidade, dentre outros. Nesse aspecto, Gadotti (in:

Educação, 1999, p. 62) salienta a necessidade de trabalhar no reeducando

“[...] o ato antissocial e as conseqüências desse ato, os transtornos

legais, as perdas pessoais e o estigma social.” Em outras palavras,

desenvolver nos educandos a capacidade de reflexão, fazendo-os

compreender a realidade para que de posse dessa compreensão possam

então desejar sua transformação. Assim como saliente o artigo... “[...] uma

educação voltada para a autonomia intelectual dos alunos, oferecendo

condições de análises e compreensão da realidade prisional, humana e

social em que vivem”

O sistema penitenciário necessita de uma educação que se preocupe

prioritariamente em desenvolver a capacidade crítica e criadora do educando, capaz

de alertá-lo para as possibilidades de escolhas e a importância dessas escolhas

para a sua vida e conseqüentemente a do seu grupo social. Isso só é possível

através de uma ação conscientizadora capaz de instrumentalizar o educando para

que ele firme um compromisso de mudança com sua história no mundo. Sobre isso,

Gadotti (in: Educação, 1999, p. 62) diz que “Educar é libertar [...] dentro da prisão, a

palavra e o diálogo continuam sendo a principal chave. A única força que move um

preso é a liberdade; ela pe a grande força de pensar”

Em sua análise Paulo Freire (1980, p. 26) afirma que:

A conscientização é[...]um teste de realidade. Quanto mais conscientização, mais “dês-vela” a realidade, mais se penetra na essência fenomênica do objeto, frente ao qual nos encontramos para analisá-lo. Por esta mesma razão, a conscientização não consiste em “estar frente à realidade” assumindo uma posição falsamente intelectual. A conscientização não pode existir fora da “práxis”, ou melhor, sem o ato ação-reflexão. Esta unidade dialética constituí, de maneira permanente, o modo de ser ou de transformar o mundo que caracteriza os homens.

A conscientização trabalha a favor da desmistificação de uma realidade e é a

partir dela que uma educação dentro do sistema penitenciário vai dar o passo mais

importante para uma verdadeira ressocialização de seus educandos, na medida em

que conseguir superar a falsa premissa de que, “uma vez bandido, sempre bandido”.

41

7.1.3 Ressocialização dos Apenados Através da Pena de Prestação de Serviços à Comunidade

Diferentemente do que ocorre nas penas privativas de liberdade, inúmeros

são os benefícios alcançados pela prestação de serviços à comunidade, tais como: a

possibilidade de ampliação do círculo de amizades; a aquisição de novos

conhecimentos; aprendizado de novas profissões; oportunidade de ajudar o próximo

e aos mais necessitados; sensação de utilidade e importância à sociedade; reflexão

acerca de seus atos; ajuda aos familiares; aquisição de senso de responsabilidade,

dentre outros.

A pena de prestação de serviços à comunidade será convertida quando o

condenado não comparecer ao estabelecimento designado para o cumprimento de

pena, recusar-se a exercer a atividade determinada pelo juiz. A pena de interdição

temporária de direitos será convertida quando exercer, injustificadamente, o direito.

Nas palavras de Lucio Medeiros, em Comentários a Lei de Execução Penal,

podemos verificar os benefícios inerentes à aplicação de espécies de trabalho como

penalidades:

O trabalho acaba com a promiscuidade carcerária, com os malefícios da dos primários pelos veteranos delinqüentes, e dá ao condenado a sensação de que a vida não parou e ele continua a ser um ser útil e produtivo, além de evitar a solidão, que gera neuroses, estas, por sua vez, fator de perturbação nos estabelecimentos penais e fermentos de novos atos delituosos. (apud NOGUEIRA,1996, p. 40),

Souza (2005) descreve com muita propriedade a importância da pena de

prestação de serviços à comunidade:

A prestação de serviços à comunidade, foi, em nosso entendimento, o maior exemplo de evolução do direito penal moderno, porque, ao mesmo tempo em que pune a transgressão praticada, valoriza o condenado, dando-lhe a oportunidade de, por meio de trabalho, demonstrar suas aptidões profissionais e artísticas, as quais serão, certamente, aproveitadas após o cumprimento da sanção, retirando da senda do crime o infrator, levando-o ao exercício consciente da cidadania.

42

7.2 NOVAS METODOLOGIAS PARA EFETIVAMENTE SER APLICADA A

RESSOCIALIZAÇÃO

Conforme já aduzia Licínio Barbosa em seu livro Direito de Execução Penal,

com enorme sabedoria, e expressando exatamente, como as metodologias

ressocializadoras devem ser aplicadas, dizendo ele com propriedade que estas

devem ser convenientemente dispostas, rigorosamente cumpridas e sabiamente

distribuídas, senão de nada vale tantos esforços. Conforme vejamos:

Com efeito de pouco ou nada valeria estudar-se o crime e o criminoso, com exação; disciplinar-se a aplicação da lei penal, no tempo e no espaço; tratar-se, tecnicamente, da imputabilidade ou da imputabilidade; estipularem-se penas e medidas assecuratórias adequadas; dotar-se o direito penal de instrumentos formais visando a punição e a prevenção; estabelecerem-se preceitos sobre a fixação das penas privativas de liberdade; e até mesmo, preverem-se os benefícios penitenciários para os sentenciados, - se essas providências penitenciárias não forem convenientemente dispostas, rigorosamente cumpridas e sabiamente distribuídas.(Barbosa, 2001, p. 57)

Como podemos ressocializar, que significa socializar denovo, alguém que não

está efetivamente vivendo em sociedade? Ainda nesse raciocínio, como esperar que

esse homem excluído da vida social e vivendo, na maioria dos casos, em condições

degradantes e subumana retorne recuperado à vida social? A que modelos de

comportamento esse homem terá que ser submetido para que ele seja capaz de se

integrar produtivamente no mundo do trabalho? Quais as características

metodológicas necessárias para a efetivação da qualificação profissional continuada

a esse indivíduo privado de liberdade? A resposta a essas indagações possibilitará

delinear novos programas que efetivamente encarem o problema sem uma

perspectiva messiânica ou moralizante.

Conforme já aduzido, como podemos ressocializar alguém que não está

vivendo em sociedade?. A execução das penas privativas de liberdade encontrasse

em uma grande crise, e enquanto os presídios se abarrotam, a criminalidade se

acentua, principalmente nas grandes cidades; multiplicando esse fenômeno por toda

a extensão do continente brasileiro, embora com os ajustes necessários, tem-se a

43

nítida idéia da magnitude das dificuldades governamentais e da grande aflição

social.

Porém, temos que levar em conta que milhares desses presos são pessoas

de escassa ou nenhuma periculosidade, que poderiam continuar no seio da

sociedade, sem lhe causar maiores males. Ademais, todos conhecem os severos

efeitos do encarceramento sobre o individuo de boa índole, haja vista que nem todo

o individuo que cometeu um crime em determinado momento, é portador de má

índole; um retrato desse fato é que até já se tornou um clichê, chamaram-se as

penitenciárias de faculdades do crime.

A penitenciaria tradicional pode e deve ser reservada para os criminosos de

periculosidade acentuada, devendo os de escasse ou nenhuma periculosidade

serem efetivamente serem endereçados a medidas alternativas. Sem falarmos dos

indivíduos que estão ilegalmente presos, que deveriam ter seu direito de progressão

de regime ou até mesmo de liberdade, sendo cerceados dos mesmos. Uma sabia e

grande solução para este problema se encontra na atitude da Justiça Brasiliense,

que também vem sendo aplicada em outros Estados, mas em pouca proporção, foi

um multirão para verificar e aplacar essas ilegalidades atrozes, modelo este,

metodologias esta que deveria ser expandida e aplicada em todo o território

brasileiro,um retrato fiel dessa situação, podemos verificar em uma reportagem feita

pelo site CNJ noticias, que mostrou o grande trabalho do Estado do Distrito Federal,

que conforme já aduzido vem sendo aplicado em outros Estados, mas não chegou

nem próximo de uma efetiva aplicação.

A reportagem retrata que a mobilização da Justiça brasiliense, em julho de

2012, identificou que cerca de 25% dos detentos do sistema prisional do DF estavam

presos ilegalmente. A partir da análise de 8126 processos, 300 presos foram

libertados e outros 1734 receberam benefícios como a progressão de regime. Por

exemplo, do regime fechado para o semiaberto. A iniciativa realizada pelo Tribunal

de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), sob coordenação do CNJ,

envolveu a Defensoria Pública do Distrito Federal, o Ministério Público do Distrito

Federal e Territórios, a Secretaria de Segurança Pública do GDF e o Núcleo de

Práticas Jurídicas do Uniceub.

44

Para o juiz da Vara de Execuções Penas do TJDFT, Luis Martius Holanda

Bezerra Júnior, o mutirão é uma importante ferramenta para que a Justiça conheça a

realidade do sistema prisional, e, a partir disso, busque sanar os pontos negativos.

Segundo o Juiz Bezerra Junior, em entrevista ao CNJ Noticias:

Mutirão existe fundamentalmente para evitar ilegalidades, para apreciar a possibilidade de benefícios, não é simplesmente para dar benefícios para ninguém. Para evitar que pessoas fiquem esquecidas e sem o controle da Justiça dentro de uma delegacia, ou dentro de uma carceragem que não recebe uma fiscalização rotineira.

Outro grande ponto, cuja as metodologias existentes devem ser revistas, é no

que tange ao egresso (liberado definitivo, pelo prazo de um ano a contar da saída do

estabelecimento e o liberado condicional, durante o período de prova), ao seu

retorno ao convívio social, pois apesar do mesmo ter condições para se reintegrar ao

convívio em sociedade, sofre um grande preconceito e é estigmatizado por sua

condição de ex-presidiário.

O art. 4º da Lei de Execuções Penais, diz que o Estado deverá recorrer à

cooperação da comunidade nas atividades de execução da pena. Ocorre que o

estado não oferece serviços de assistência ao egresso que promova e possibilite

efetivamente a reinserção social do condenado e muitas vezes este, não tem sequer

o apoio da família que em sua grande maioria vivem em condições de extrema

miséria.

Apesar do término da pena o Estado ainda tem responsabilidades com o ex-

recluso, neste sentido Adeido Nunes, em seu livro Da Execução Penal, assim

dispõe:

Geralmente despojado de todos os seus bens, abandonado pela família e pela sociedade, o ex-detento necessita de assistência integral do Estado, que impôs a pena e a executou (NUNES, 2009, P. 43).

Na verdade, existem várias regras nacionais e internacionais, que dispõem

sobre assistência ao egresso, o problema esta na falta de aparelhamento Estatal

que não consegue desenvolver políticas públicas sequer para as áreas de saúde,

45

educação, emprego etc., muito menos vai existir vontade política por parte das

autoridades competentes, para desenvolver políticas públicas para resolver o

problema do egresso, mas se tiver o mínimo de vontade política resolve o problema

Outro fator importante seria o legislativo editar lei especial que proibisse a

discriminação contra o ex-detento, evitando com isso que este fosse preterido em

relação a emprego e para que não sofresse qualquer forma de preconceito o que

acaba com a auto-estima. Isso já existe no direito comparado em alguns países.

Outra metodologia ressocializadora que merece extrema atenção é a religião,

como um dos instrumentos para a ressocialização, em que pese opiniões em

contrário, pois atualemnte a religião não é o ponto principal nas prisões, nem ocupa

posição central no sistema prisional, mas esta ainda é um dos maiores fatores

positivos para reinserção social.

Neste Sentido Júlio Fabbrini Mirabete, em seu livro Execução Penal, assim

dispõe:

A religião tem, comprovadamente, influência altamente benéfica no comportamento do homem encarcerado e é a única variável que contém em si mesma, em potencial, a faculdade de transformar o homem encarcerado ou livre (MIRABETE, 2004, p.84).

A religião é um direito constitucional assegurado a todos os brasileiros,

inclusive aos presos, pois estes detêm todos os direitos fundamentais garantidos a

todos, salvo o direito à liberdade (ir e vir), dessa forma, é necessário que se viabilize

o máximo possível a pratica religiosa pelos seus bons frutos e pelos custos

praticamente zero para o Estado, consoante Nunes:

O Estado deve promover, sem ser de forma imposta, pois acima do objetivo

de reinserir o condenado no seio social, está o direito constitucional fundamental de

liberdade de culto e de consciência, à assistência a qualquer atividade religiosa

como forma de recuperar o delinqüente, sabendo que, esta não é sozinha a chave

exclusiva do sucesso, mas em consonância com outras medidas é uma

possibilidade real deste.

46

Outra Metodologia de suma importância e que se efetivamente aplicada

podemos vislumbrar claramente a possibilidade de suplantar uma importante fatia da

crise prisional é a inserção das penas alternativas e restritivas de direito, pois

vejamos quão fundamental e eficaz para ressocialização a aplicação das tais penas

a partir dos pontos positivos destacados pelo professor Nilzardo Carneiro Leão:

1- Permitem ao condenado permanecer em sociedade com sua família, não perder o trabalho e reparar o dano decorrente de sua conduta. 2- A não utilização do cárcere e, em conseqüência, impede-se a superlotação e os gastos de manutenção. 3- Permitem a modificação da imagem que tem a sociedade em relação aos que praticam ilícitos penais, ao constatar que os infratores não são, sempre, forçosamente, indivíduos negativos, mas recuperáveis socialmente. Impedem o isolamento produzido na prisão e suas distorções permitindo ao infrator continuar na sociedade realizando tarefas normais a que está habituado e para os que estão acostumados a ouvir a frase “pagar a dívida para com a sociedade”, as penas alternativas tornam essa expressão realidade (NUNES, 2009, P. 234).

Sem dúvidas, os pontos destacados pelo professor Nilzardo podem obter um

grau de eficiência para o problema da ressocialização, pois o encarceramento por si

só já é um fator determinante para o fenômeno da dissocialização, a saber, quando

o indivíduo é encarcerado, no sistema prisional tradicional, além de todos os pontos

negativos debatidos ao longo desse trabalho, ele ainda passa por um período de

inabilitação para o trabalho fator preponderante para o retorno meio social.

8 EXPERIÊNCIA DE ALGUNS PROGRAMAS DE RESSOCIALIZAÇÃ O NOS

ESTADOS BRASILEIROS

8.1 METODOLOGIAS RESSOCIALIZADORAS NO ESTADO DO ACRE

O Estado do Acre, possui a CEPAL, Central de Penas Alternativas do

Tribunal de Justiça do Acre (TJAC), que desenvolve um projeto de ressocialização

de presos que inclui projetos de capacitação e reinserção no mercado de trabalho.

Desde 2009, os presos beneficiados com o regime aberto ou o livramento

condicional participam de cursos de informática, culinária, artesanato, confecção de

47

bijuterias e palestras motivacionais. No ano passado (2011), 279 presos dos regimes

aberto e semiaberto participaram dos cursos. Dos participantes, 16 conseguiram

emprego no mercado formal e outros 61 trabalham informalmente. Os cursos são

oferecidos por meio de parcerias com fundações, empresários e o Serviço Nacional

de Aprendizagem (Senac).

Além de promover a capacitação dos presos, a Cepal do Acre acompanha o

cumprimento das penas alternativas, como a prestação de serviços à comunidade. E

para ajudar na reintegração social dos presos e infratores, a Central de Penas

Alternativas do Acre criou grupos que acompanham e orientam os dependentes

químicos, as pessoas que cometeram crimes e infrações de trânsito e realiza cursos

de alfabetização. Juízes, psicólogos, assistentes sociais, pedagogos, servidores e

estagiários atuam na Cepal e executam os trabalhos de reinserção social por meio

de parcerias.

Além destes projetos a CEPAL, ainda criou para os indivíduos que cometem

infrações no trânsito, o grupo de departamento de trânsito, que funciona em parceria

com o Departamento de Trânsito de Rio Branco. O grupo encaminha pessoas que

cometeram delitos de trânsito para atividades de caráter pedagógico.

Outro trabalho desenvolvido na Central de Penas Alternativas do Acre é

direcionado aos infratores que são alcoólatras ou usuários de alguma substância

química. Eles são atendidos por psicólogos e assistentes sociais e, quando aceitam

as condições estabelecidas pelo grupo de tratamento, os detentos participam de

reuniões sobre tratamento e prevenção da dependência e, posteriormente, são

encaminhados a cursos profissionalizantes.

A Cepal do Acre também realiza um projeto educacional que possibilita, aos

detentos, acesso aos estudos. Por meio de parceria com o Banco do Brasil e a

Secretaria de Educação do estado, são oferecidos cursos de alfabetização e vagas

para o ensino fundamental e médio.

Essas são apenas algumas, das inúmeras metodologias que podem ser

implantadas para aplicação dos projetos de ressocialização existentes, visando

sempre por fim aos problemas do Sistema Prisional Brasileiro.

48

8.2 METODOLOGIAS RESSOCIALIZADORAS NO ESTADO DO DISTRITO

FEDERAL

No Distrito Federal existe o Programa de Ressocialização de Sentenciados do

Supremo Tribunal Federal, que foi oficializado em dezembro de 2008, com a

celebração de convênio entre o STF, o Governo do Distrito Federal e a Vara de

Execuções Penais do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios.

O Programa tem o objetivo de contribuir para a recuperação social de

sentenciados, por meio da capacitação profissional durante o exercício de uma

atividade remunerada. As vagas são destinadas a detentos do Centro de Progressão

Penitenciária, presídio específico de regime semi-aberto, que oferece cursos

profissionalizantes na área administrativa e de informática.

Para participar do projeto, o apenado deve estar cumprindo a pena em regime

aberto ou semi-aberto, ter bom comportamento, ensino fundamental ou médio e

comprometimento para concluir os estudos. Além disso, deve passar pela orientação

de psicólogos da Fundação de Amparo ao Trabalhador Preso (Funap) e de uma

assistente social do Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN), do Ministério da

Justiça, antes de iniciarem suas novas atribuições.

Depois do gabinete do ministro Gilmar Mendes, presidente do STF

responsável pela implantação do programa, o gabinete do ministro Marco Aurélio foi

o primeiro a aderir ao programa, ainda em 2009. Para o ministro, “o Estado é

responsável pela ressocialização daquele que claudicou na vida em sociedade”.

Segundo ele, exatamente “por haver claudicado”, essa pessoa exige “uma atenção

maior em termos de reintegração à sociedade”. “E quanto a essa reintegração, não

pode haver preconceito, muito menos por um órgão público”.

Além disso, o programa do STF, inspirou o programa do Conselho Nacional

de Justiça (CNJ), o “Começar de Novo”, que encaminha presos do regime

semiaberto e aberto – prisão domiciliar – para trabalhar em instituições como o

49

Comitê Organizador da Copa de 2014, a Federação Brasileira de Bancos, e o

Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios.

Os detentos do Distrito Federal também buscam encontrar o caminho da

ressocialização transformando placas de sinalização velhas em lixeiras de metal. A

atividade de reciclagem resulta de parceria entre a Subsecretaria do Sistema

Penitenciário (SESIPE), Secretaria de Transportes e três cidades situadas ao redor

de Brasília.

Acerca desse programa Wiliam Pereira Monteiro, coordenador do projeto,

assim dispõe em entrevista ao site CNJ noticias:

Estamos recebendo várias encomendas, e nossa produção deve chegar a 500 unidades até o fim deste ano, e além da oportunidade de ressocialização dos internos, outro benefício é a economia para as cidades: cada lixeira produzida pelos detentos tem custo de R$ 9,00 enquanto uma do modelo industrial sai, em média, por R$ 350,00.

A iniciativa do Distrito Federal vai ao encontro dos princípios do Programa

Começar de Novo, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). O programa busca

sensibilizar instituições públicas e privadas sobre a importância da oferta de

capacitação profissional e de trabalho para a ressocialização de detentos e egressos

do sistema carcerário.

8.3 METODOLOGIAS RESSOCIALIZADORAS NO ESTADO DA PARAÍBA

Na Paraíba temos o programa “Cidadania é Liberdade”, quem tem como

objetivo a qualificação profissional de internos do sistema prisional na Paraíba,

programa este que beneficiou 596 detentos em 2011, em uma parceria do Governo

do estado com instituições públicas e privadas.

O programa tem como diretriz a política de ressocialização para os privados

de liberdade, com ações de educação, oferta de trabalho, cultura e saúde. Com essa

50

ação, o estado cria espaços de socialização e políticas públicas inclusivas,

preprando os detentos para o retorno ao convívio social

Os 596 detentos concluintes passaram por aulas em 13 cursos em diversas

especialidades, como operador de micro, instalador hidrossanitário, confeccionador

de bolas, confeiteiro de pizza, impressor serigráfico, instalador elétrico residencial,

além de preparação de doces e salgados, embelezamento de pés e mãos, cortes

avançados masculinos, oficina de violão, oficina de desenho e pintura e danças

folclóricas.

Também em 2011, a Gerência de Ressocialização foi criada na Secretaria de

Administração Penitenciária (Seap) para coordenar os projetos e parcerias firmadas

pelo programa “Cidadania é Liberdade”. A gerência também é responsável pelas

metas do programa nas áreas de trabalho, educação, cultura, saúde e família.

8.4 METODOLOGIAS RESSOCIALIZADORAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Os programas de ressocialização de presos em Santa Catarina têm

contribuído para o bom funcionamento das penitenciárias, e apesar do grave

problema de superlotação e falta de vagas, o estado registra um baixo índice de

rebeliões.

O presídio regional de Chapecó, na região oeste, está há quase quatro anos

sem ocorrências de fugas ou motins. Os programas têm como objetivo reintegrar os

presos à sociedade, e estão sendo desenvolvidos em todas as unidades carcerárias

do estado.

Segundo o administrador do presídio, Ivan Agnoletto, os programas são

fundamentais para controlar as tensões internas e promover a reintegração dos

presos à sociedade.

Os detentos desenvolvem várias atividades, que podem vir a se transformar

numa profissão quando deixarem o presídio. Além disso, reduzem a pena a ser

cumprida, em um dia para cada três dias trabalhados.

51

Eles fabricam cadeiras de rodas, bolas de futebol, objetos de artesanato e

também fazem reformas em instituições públicas, serviços comunitários e trabalhos

assistenciais.

8.5 METODOLOGIAS RESSOCIALIZADORAS NO ESTADO DE SALVADOR

Em Salvador temos o programa Menos Presos, Mais Cidadãos: o programa

foi criado em 2000, pelo Governo da Bahia, através da Secretaria da Justiça e

Direitos Humanos. Seu planejamento propõe reinserir socialmente o preso,

resgatando a cidadania através da educação, da ação social e do trabalho, numa

tentativa de mudar a realidade carcerária que se caracteriza fundamentalmente pela

falta de perspectiva ao vislumbrar o futuro e pela desesperança. Por isso, a

ressocialização proposta por esse projeto se estende para além dos trabalhos com

os presos, chegando até seus familiares e agentes penitenciários.

8.6 METODOLOGIAS RESSOCIALIZADORAS NO ESTADO DO MATO GROSSO

DO SUL

No Estado do Mato Grosso do Sul, temos o programa “Penas Alternativas e

Violência de Gênero”. O projeto é uma parceria da Subsecretaria da Mulher e da

Promoção da Cidadania com o Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul.

O objetivo do projeto é ampliar as ações de apoio às penas e medidas

alternativas à prisão, intensificando o trabalho de oficinas para acompanhamento e

monitoramento dos apenados.

Com o objetivo de ressocializar os detentos das unidades prisionais de Mato

Grosso do Sul, a Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário

(Agepen) realiza parcerias com empresas públicas e privadas que disponibilizem

oportunidades de trabalho aos internos, promovendo assim a inclusão do preso

novamente na sociedade.

Os detentos aptos a participar dos trabalhos disponibilizados são os que

cumprem pena em regime semi-aberto e devidamente autorizados pelo juiz para o

52

cumprimento da atividade. Eles também são escolhidos através de análises psico-

sociais para se detectar o perfil ideal para a realização da tarefa.De acordo com

dados do mês de agosto de 2012, 2.983 detentos participam dos trabalhos

pedagógicos de ressocialização em todo o Estado. As atividades exercidas pelos

presos são as mais variadas, desde tarefas em limpeza até serviços administrativos

realizadas nas próprias unidades prisionais ou nas empresas parceiras da Agepen.

8.7 METODOLOGIAS RESSOCIALIZADORAS NO ESTADO DO AMAZONAS

Em Manaus, Amazonas o governo lançou um pacote de ações em prol da

socialização de detentos dentro do sistema prisional do Estado do Amazonas. A

iniciativa faz parte do Projeto Pintando a Liberdade, que consiste na ocupação de

parte do tempo de prisioneiros em regime semiaberto. Além de diminuir o tempo da

pena dos participantes, o projeto também remunera o detento mensalmente com o

valor de dois terços de um salário mínimo.

O secretário executivo da Secretaria de Estado de Justiça, Direitos Humanos

(Sejus), Bernardo Encarnação, asseverou que, o projeto agrega valores como a

disciplina e relação interpessoal e a cada três dias de trabalho representam a

remissão de um dia no tempo de detenção do prisioneiro.

8.8 METODOLOGIAS RESSOCIALIZADORAS NO ESTADO DE RONDONIA

Em Porto Velho – Rondônia, os próprios presidiários cuidam da alimentação

e de todos os afazeres da unidade. O projeto foi implantando no sistema prisional de

Rondônia pela Embaixada Americana de Direitos Humanos e segue o modelo

existente em Cañon City, no Colorado (EUA), que trabalha a capacitação dos

presidiários para o mercado de trabalho e convívio em sociedade. Em contra partida,

o Governo do Estado capacitará servidores para atuarem no projeto, além de alterar

o Manual de Administração do Sistema penitenciário.

53

Os reeducandos são cadastrados para identificar o grau de aprendizagem e

periculosidade de cada um. O projeto está adaptado à realidade dos presídios

locais.

Detentos da Penitenciária Federal de Porto Velho, também participam do

Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica

na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos – Formação Inicial e Continuada

(Proeja-FIC). Além de promover a democratização do acesso à educação

profissional e tecnológica, o programa contribui para elevar a escolaridade. As aulas,

realizadas duas vezes por semana, integram conteúdo de ensino fundamental e de

educação profissional, com formação nas áreas de vendas e auxiliar administrativo.

8.9 METODOLOGIAS RESSOCIALIZADORAS NO ESTADO DA PARAÍBA

Na Paraíba temos o programa de ressocialização de presos “Cidadania é

Liberdade”, cujas as metas são trabalho, educação, cultura, saúde e família,

desenvolvido pelo Governo da Paraíba o programa tem como objetivo a promoção de

ações nestes setores – todas voltadas a detentos do sistema prisional paraibano.

O “Cidadania é Liberdade” cumpre com as responsabilidades do Estado em

relação aos que romperam com as regras da convivência social e oferece espaços de

socialização e de políticas públicas inclusivas que preparam para o retorno ao convívio

social.

Dentro do programa de ressocialização, há também uma preocupação com a

assistência familiar do detento e, como forma de garantir renda, o Cadastro Único dos

Programas Sociais permite a inclusão de famílias de detentos, assim poderão ser

beneficiadas pelas políticas integradas de transferência de renda, assistência social e

segurança alimentar e nutricional.

54

Convênios – Para o sucesso do programa, o Estado conta com diversos

convênios. Com a FIEP, a parceria vai beneficiar 5% da população prisional do Estado

ao oferecer cursos de qualificação profissional nas funções de operador de

microcomputador, instalador hidrossanitário, instalador elétrico residencial,

confeccionador de bolas de couro, confeiteiro (pizza) e impressor serigráfico.

Um convênio com a Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado

da Paraíba (Fecomércio) também oferecerá cursos de preparo de doces e salgados,

corte de cabelo, técnicas básicas de manicure e pedicure, preparo de pizzas e, na

área cultural, oficinas de violão, dança, artes plásticas e teatro. Detentos e familiares,

inclusive, terão acesso.

O convênio com a Fundação Cidade Viva vai permitir a realização de cursos de

formação de chefe de cozinha, apoio à defensoria jurídica, serviço odontológico e

atendimento básico em saúde para a população prisional. O piloto desse convênio será

na Penitenciária Júlia Maranhão, o Presídio Feminino de João Pessoa.

Com a Fundação Passos à Liberdade, o convênio prevê a implantação de duas

fábricas – uma de confecção de bolsas e outra de confecção de vassouras com garrafa

pet. Ambas serão instaladas na unidade prisional de Guarabira.

Na área da educação, foi assinado um convênio com a Universidade Estadual da

Paraíba (UEPB), que garantirá aos detentos desde a alfabetização até a universidade.

Também será realizado um concurso de contos e poesias em presídios de Campina

Grande. Ao final do concurso, a editora da UEPB lançará um livro reunindo essa

produção literária dos detentos.

Também acontecem parcerias firmadas dentro do Governo, como a expansão

do programa Saúde nos Presídios, um trabalho conjunto da Secretaria de

Administração Penitenciária com a Secretaria de Saúde, que ampliará de 7 para 18 o

número de unidades do programa.

8.10 METODOLOGIAS RESSOCIALIZADORAS NO ESTADO DO ESPIRITO

SANTO

55

No Espirito Santo, temos o programa, Começar de Novo, que possui um

conjunto de ações voltadas à sensibilização de órgãos públicos e da sociedade civil

com o propósito de coordenar, em âmbito nacional, as propostas de trabalho e de

cursos de capacitação profissional para presos e egressos do sistema carcerário, de

modo a concretizar ações de cidadania e promover redução da reincidência.

A Secretaria de Justiça do Espírito Santo tem 89 convênios com empresas de

diversos ramos de atividades — gráficas, corte e costura e construção civil — que

empregam 1.300 detentos dos regimes semi-aberto e fechado. Os convênios têm

como base decreto estadual que determina às empresas contratadas para obras ou

serviços públicos a reserva de 6% das vagas para a contratação de detentos e

egressos do sistema penitenciário.

No Espirito Santo ainda há o projeto de ressocialização desenvolvido pelo

Tribunal de Justiça do Espírito Santo, que possibilita a formação em cursos de

diversas áreas como pintura, elétrica, dentre

As aulas para os cursos oferecidos pelo programa acontecem em um galpão

adaptado na própria Colônia Penal. Para participar do projeto, os internos tem que

obedecer a critérios como boa conduta e assiduidade.

8.11 METODOLOGIAS RESSOCIALIZADORAS NO ESTADO DE MINAS GERAIS

O Programa de Inclusão Social de Egressos do Sistema Prisional (PrEsp)

acolhe pessoas recém liberadas do sistema prisional, oferecendo a elas assistência

psicológica, social, encaminhamento para cursos e postos de trabalho. Trata-se de

um equipamento público de inclusão social que promove condições para que os

egressos do sistema prisional retomem a vida social em liberdade.

O programa PRESP atua na prevenção terciária, isto é, especificamente para

pessoas que sofreram processos de criminalização e privação de liberdade, e visa

diminuir as exclusões e estigmas decorrentes dessa experiência..

56

Os Objetivos desse programa são:

- Ampliar as condições para o conhecimento e acesso do público aos direitos

previstos na Lei de Execução Penal;

- Viabilizar o acesso aos direitos sociais para potencializar condições de cidadania;

- Reduzir fatores estigmatizantes;

- Apresentar alternativas descriminalizantes de cumprimento de condicionalidades

impostas pelo sistema penal;

- Contribuir na diminuição dos impactos subjetivos da prisionização;

- Contribuir na ressignificação de processos históricos e socioculturais de opressão.

8.12 METODOLOGIAS RESSOCIALIZADORAS NO ESTADO DO ALAGOAS

Atualmente o sistema penitenciário alagoano é composto por sete unidades

penitenciárias em Maceió e uma no interior do Estado. No Estado existe um Núcleo

de Ressocialização, onde o empreendimento mais conhecido é a Fábrica de

Esperança, que é um programa desenvolvido desde 2006 pela Superintendência

Geral de Administração Penitenciária – SGAP que conta com laborterapia e cursos

profissionalizantes destinados aos detentos.

Existem na Fábrica atualmente 30 setores e 25 oficinas profissionalizantes,

onde, segundo dados do SGAP, cerca de quinze por cento[13] da população

carcerária trabalha, percentual que corresponde a mais de 300 reeducandos, que

têm direito a redução de pena de um para cada três dias trabalhados, além de

receber três quartos do salário mínimo, conforme determina a Lei de Execuções

Penais.

Como forma de melhorar o processo de ressocialização existente em

Maceió, o Defensor Ricardo Anízio destaca a importância das ações de tutela

coletiva ajuizadas pela Defensoria Pública do Estado, com o objetivo de provocar o

Poder Judiciário a determinar que o Estado de Alagoas reforme os presídios já

existentes; crie novas vagas com a construção de novos presídios/ módulos;

57

contrate/remaneje servidores públicos para atuar nos presídios; regularize as

assistências material, educacional, à saúde, social e religiosa, a fim de alcançar

efetivo processo de ressocialização e humanização dos detentos; e construa uma

casa de albergado para abrigar os presos do regime aberto.

8.13 METODOLOGIAS RESSOCIALIZADORAS NO ESTADO DO AMAPÁ

No Amapá Trabalho, qualificação profissional e ressocialização andam juntos.

É neste tripé que o Projeto Começar de Novo- implementado pelo Conselho

Nacional de Justiça (CNJ)- investe para promover a recolocação de egressos do

sistema penitenciário no mercado de trabalho e reduzir o índice de reincidência

criminal.

No Amapá, o Grupo de Monitoramento e Fiscalização Carcerário,

administrado pela Vara de Execuções Penais, atende cerca de 400 internos que

prestam serviços aleatórios por conta própria e periodicamente apresentam o

relatório de suas ações à Justiça.

A ideia do “Começar de Novo” é efetivar os interessados em empregos dignos

e em empresas parceiras do Projeto. Dos 400 homens atendidos, cerca de 290

estão cadastrados e 125 já foram empregados em Macapá.

Em todo o país, inclusive no Amapá, foi detectado que um grande número de

reeducandos deixou de ingressar no meio aberto, de ter uma convivência social por

falta de oportunidades de trabalho. Em decorrência disso, o Conselho Nacional de

Justiça decidiu levar esse projeto à iniciativa privada, no país inteiro, em especial às

Federações da Indústria, do Comércio, à iniciativa privada, que oferecem aos

cidadãos a prestação dos serviços, para que disponibilizasse uma parte da mão de

obra para o sistema penal.

8.14 METODOLOGIAS RESSOCIALIZADORAS NO ESTADO DE GOIAS

58

Em Goiás existem mais de 100 parcerias dentro do Sistema Prisional. Entre

os programas desenvolvidos por meio delas, podemos destacar, por exemplo, o Cio

da Terra. Partindo do princípio de que este é um Estado agropecuário, ele busca

acabar com a ociosidade com atividades agrícolas. Reeducandos que tenham este

perfil são colocados para plantar, colher, cultivar e produzir dentro do sistema

prisional. Esse programa resulta numa produção grande que ajuda na manutenção

do próprio sistema. Isso é feito no Complexo de Aparecida de Goiânia, na colônia

agrícola. A produção de alimentos já supera mil toneladas. Também é desenvolvido

no interior do Estado.

Há, ainda, o projeto de ressocialização pelo estudo. São parcerias com o

Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e Petrobras.

8.15 METODOLOGIAS RESSOCIALIZADORAS NO ESTADO DO MARANHAO

O sistema prisional do Maranhão conta com assistência psicológica para o

processo de ressocialização dos detentos, por meio de ação da Secretaria de

Justiça e de Administração Penitenciária (Sejap).

Nas unidades, os psicólogos atuam como facilitadores do processo de

inserção à instituição; atendimentos individualizados; grupos terapêuticos funcionais

com temáticas variadas.

O trabalho da Assistência Psicológica não é voltado diretamente para casos

de transtornos mentais, mas para dar suporte à Assistência Social e a Assistência à

Saúde que atuam nesse setor. “Apesar de o corpo técnico ser pequeno,

conseguimos realizar as atividades com êxito. Nossa expectativa é de continuar

desenvolvendo um trabalho permanente”, disse Ângelo Macedo Santos.

No processo de atendimento, o juiz antes de conceder benefícios ao preso

solicita uma avaliação psicológica do interno. As empresas parceiras da Sejap

pedem uma avaliação antes de ceder oportunidade de emprego aos detentos.

Com apoio da equipe, os alunos acompanham os trabalhos de acolhimento

dos internos, dinâmicas grupais, palestras educativas, avaliações psicológicas,

anamnese psicológica (estudo do histórico do individuo). O estagio curricular tem a

carga horária de 30h a 60h, mesma carga horária para os trabalhos voluntários

desenvolvidos nas unidades prisionais.

59

8.16 METODOLOGIAS RESSOCIALIZADORAS NO ESTADO DO PIAUI

No Piauí existem programas desenvolvidos que podem se tornar modelos

para o resto do país. A Central de Apoio às Secretarias, o Núcleo de Apoio

Permanente ao Preso e o Núcleo de Apoio às Varas são alguns dos programas

existentes.

A Corregedoria criou através do Provimento Nº 038 / 2009 o Núcleo de Apoio

Permanente ao Preso, com a meta de identificar a população carcerária do Piauí e

desenvolver ações que visem a preservação dos direitos dos presos, sejam eles

provisórios ou definitivos, o Núcleo faz atendimento e acompanhamento

biopsicossocial dos presos e seus familiares. O objetivo é subsidiar os juízes na hora

de prolatar uma sentença ou de definir a execução penal e, através de parcerias,

proporcionar meios de ressocialização dos presos.

8.17 METODOLOGIAS RESSOCIALIZADORAS NO ESTADO DO MATO GROSSO

No Mato Grosso temos Fundação Nova Chance (Funac) que foi criada há quase

quatro anos pelo Governo do Estado, hoje, ligada à Secretaria de Justiça e Direitos

Humanos (Sejudh) – atua na capacitação dos presos que estão cumprindo pena em

regime fechado nas unidades prisionais, a fim de qualificá-los para que, ao ganharem a

liberdade, possam ser reinseridos no mercado de trabalho.

Atualmente, o índice de reincidência (quando a pessoa volta a cometer o mesmo

crime pelo qual foi condenada) no país é de 70%, o que levou o Governo a criar meios

para tentar diminuir essa estatística, que já chegou à casa dos 86%.

O objetivo, segundo a presidente da Fundação de Mato Grosso, Neide

Mendonça, é ajudar na ressocialização dos reeducandos e na diminuição dos índices de

reincidência, facilitando o seu retorno à sociedade e ajudando-os a quebrar as barreiras

do preconceito.

8.18 METODOLOGIAS RESSOCIALIZADORAS NO ESTADO DO CEARA

60

No Ceará existe o Projeto Mãos que constrõem, tal projeto emprega egressos

que trabalham na reforma do estádio Castelão para a Copa do Mundo Fifa Brasil

2014.

No Estado, os presos fazem cursos profissionalizantes dentro do Instituto

Penal Professor Olavo Oliveira II, em Itaiatinga.

8.19 METODOLOGIAS RESSOCIALIZADORAS NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

No Rio de Janeiro, temos o projeto Replantando Vida que tem como objetivo

promover a ressocialização de apenados dos regimes aberto e semiaberto do

sistema prisional do Estado, através da utilização de sua mão de obra no trabalho de

replantio de espécies nativas da Mata Atlântica de mudas às margens dos rios

Guandu e Macacu.

Através de curso ministrado pela Universidade Federal Rural do Rio do

Janeiro (UFRRJ), eles se formam em Agente Ambiental de Reflorestamento. O curso

promove a qualificação profissional dos apenados, que recebem mais de mil horas

de estudos técnicos e práticos.

8.20 METODOLOGIAS RESSOCIALIZADORAS NO ESTADO DO SERGIPE

No Estado de Sergipe, temos o programa Pemse, o projeto 'Trilhando

Caminhos', que atende aos jovens em cumprimento de medidas protetivas e o

programa 'Portas Abertas', direcionado aos jovens que estão em cumprimento de

medidas socioeducativas no sistema de semiliberdade. Nesses programas, são

oferecidos cursos de informática, reforço escolar, agente de limpeza, pedreiro, vídeo,

hip-hop, dentre outros.

8.21 METODOLOGIAS RESSOCIALIZADORAS NO ESTADO DE RORAIMA

61

No Estado de Roraima, temos o projeto Recomeçar, que oferece aulas do

Ensino Fundamental e Médio utilizando a metodologia da Educação de Jovens e

Adultos (EJA) para os reeducandos.

O objetivo do programa é promover a ressocialização dos detentos, por meio

da educação e de cursos de profissionalização. Participam das aulas reeducandos

da Cadeia Pública Feminina e da Penitenciária Agrícola do Monte Cristo

O Programa é realizado nas unidades prisionais por meio da parceria com as

Secretarias de Justiça e Cidadania (Sejuc) e da Promoção Humana e

Desenvolvimento – SPHD. “O trabalho realizado em parceria com as secretarias é

fundamental. Cada um atuando na sua área e ao mesmo tempo em conjunto, com

certeza nos levará ao êxito e a bons resultados” disse o secretário Santos Rosa.

8.22 METODOLOGIAS RESSOCIALIZADORAS NO ESTADO DO

TOCANTINS

No Estado de Tocantins, a ressocialização dos detentos é buscada através do

programa Jovens e Adultos (EJA), 1°, 2° e 3° segmentos, onde detentos da Casa de

Prisão Provisória de Palmas (CPPP) vão às atividades escolares. No local,

funcionam seis turmas, cada uma é composta por aproximadamente sete alunos,

tendo as aulas três horas de duração.

8.23 METODOLOGIAS RESSOCIALIZADORAS NO ESTADO DE SÃO

PAULO

No Estado de São Paulo temos a Fundação Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel

(Funap), vinculada à Secretaria da Administração Penitenciária do Estado de São

Paulo, tem uma série de programas sociais para reintegrar os ex-detentos à

sociedade, nas áreas de assistência jurídica, educação, cultura, capacitação

profissional e trabalho.

62

Os presos carentes contam com assistência jurídica integral prestada por 271

advogados. Quem quer estudar tem acesso à alfabetização e pode cursar o ensino

fundamental e médio. Há ainda salas de leitura, palestras e oficinas. A Funap

também oferece cursos profissionalizantes com certificação.

A oportunidade de aprender um oficío ainda no regime fechado é importante

para que o detento já ganhe a liberdade em condições de assumir uma nova

profissão.

A Ong Bem Querer oferece cursos na área da construção civil para internos

da Fundação Casa, de São Paulo. Além de capacitar os jovens com aulas técnicas,

o programa Construtores do Amanhã tem palestras e debates sobre cidadania,

comportamento e voluntariado visando a formação global do aluno. Com a

qualificação, aumentam as chances de obter um emprego ao deixar a instituição.

Em São Paulo ainda temos o projeto Plantadores de Floresta, que é

desenvolvido em parceria com as Secretarias do Meio Ambiente e da Agricultura do

Estado de São Paulo. O objetivo é implantar sistemas agroflorestais em áreas de

preservação permanente, mediante o cultivo de lavoura, exploração de frutos de

árvores nativas e de árvores exóticas em propriedades onde se pratica a agricultura

familiar, ao mesmo tempo em que se faz a recuperação da mata ciliar.

O reeducando tem a oportunidade de ser capacitado para o mercado de

restauração florestal, que vem se abrindo nos últimos anos.Cerca de 50 presos

participam do projeto e todos recebem ¾ do salário mínimo.

Ainda, podemos citar o Programa de Educação Básica, que desde 1979 é

executado nas prisões paulistas, com recursos próprios, o maior e mais moderno

Programa de Educação nas Prisões existente no Brasil. Trata-se do único programa

educacional elaborado a partir do perfil e das necessidades de seu público-alvo, com

ações inovadoras e resultados efetivos, como demonstram os dados dos últimos

exames de certificação de alunos, em que a média obtida gira em torno de 70% de

aprovação.

63

8.24 METODOLOGIAS RESSOCIALIZADORAS NO ESTADO DO PARANÁ.

No Paraná existem inúmeros projetos, no Plano Diretor do Sistema Penal,

conforme relação abaixo:

- Projeto de criação da Coordenadoria de Assistência ao Egresso e Execução Penal

em Meio Aberto na estrutura organizacional da SEJU (projeto-atividade);

- Projeto de implantação de Centrais de Assistência ao Egresso e de Monitoramento

do Cumprimento de Penas e Medidas Alternativas;

- Projeto de promoção do acesso aos direitos de cidadania aos egressos e família /

Projeto de acesso à justiça (benefícios – área da família e previdência);

- Projeto de geração de renda para o egresso - pintando a cidadania;

- Projetos de monitoramento das condicionalidades à liberdade, de monitoramento

das penas e medidas alternativas e de monitoramento de penas de limitação de final

de semana;

- Projetos de sensibilização da sociedade no atendimento aos egressos e às

pessoas sujeitas a penas e medidas alternativas;

- Projetos de natureza educativa à pena e medidas alternativas / Projeto Saiba

(drogadição);

- Subprojetos de educação e profissionalização do egresso e família;

- Subprojetos de educação continuada dos profissionais que atuam nos

patronatos/pró-egressos;

- Subprojetos de assistência à saúde do egresso e família;

- Subprojetos de implantação de casas de passagens para egressos, de albergues

para egressos e de casas populares;

- Subprojeto de criação do Fundo de Penas e Medidas Alternativas.

64

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No presente trabalho discorremos acerca do ideal ressocializador que a

execução da pena deve propor, nos indagando se a reintegração social do preso

seria possível ou não diante da atual situação do ambiente carcerário, levando-se

em consideração as mazelas existentes na prisão e alguns outros tantos fatores

negativos suscitados em relação à ressocialização.

Verificamos que a atual situação do Sistema Penitenciário no Brasil é

calamitosa, um contexto que afeta toda a sociedade, que irá receber esses

indivíduos que saírem desses locais. É direito de todos os cidadãos, ainda que

tenham cometido algum delito, serem tratados com dignidade e respeito. Nesse

contexto cresce a importância da adoção de políticas que efetivamente promovam

a recuperação do detento no convívio social e tendo por ferramenta básica a Lei de

Execução Penal. A forma através da qual o infrator é punido tem que ser eficaz e a

pena deve ser justa, uma vez que o condenado deve estar recuperado quando sair

da prisão, pronto para reincorporar-se à sociedade e não mais agir em desacordo

com a lei.

Conforme aduzido no presente trabalho, as metodologias ressocializadoras já

existentes não devem ser abandonadas, mas sim reinterpretadas e reconstruídas

sobre uma base diferente. Essa redefinição das tradicionais metodologias

ressocializadoras, constituiem um importante passo para o avanço do Sistema

Prisional Brasileiro.

A dignidade no trato enquanto ser humano é um direito inerente a todos os

indivíduos, por esse motivo o estudo desse tema se faz de grande importância. Os

problemas estão aí e se tornam cada vez maiores; existem inúmeras idéias do que

pode ser feito para transformarmos essa situação, as leis estão a disposição de

todos, mas não bastam apenas normas se elas não são cumpridas como devem, é

necessário colocar em prática de maneira efetiva as normas existentes em nosso

ordenamento.

65

A situação nos presídios brasileiros é caótica e não atendem às finalidades

essenciais da pena quais sejam punir e recuperar. É necessário que sejam

implementadas políticas públicas voltadas para a organização desse sistema e

promover uma melhor efetivação da Lei de Execução Penal, conforme verificamos

nos capitulo que tratam da Novas Metodologias Ressocializadoras.

O objetivo geral do presente trabalho foi apresentar os pontos que envolvem a

reintegração de apenados e analisar a maneira que o sistema atual está efetivando

a normatização em vigor através do que se vê atualmente no Brasil. Para tanto

discorremos sobre os diversos modelos de ressocialização existentes nos diversos

Estados do Brasil.

Pudemos Concluir que o Sistema Prisional avança em largos passos para um

modelo que beire o ideal. Porém para que a pena alcance o seu objetivo real de

ressocializar, precisamos nos ater aos pontos que podem ser melhorados, e as

metodologias que devem ser implantadas para a efetivação de um modelo ideal não

só para os detentos, mas para uma sociedade como um todo.

66

REFERÊNCIAS:

ALBERGARIA, Jason. Das penas e da execução penal. 3 ed. Belo Horizonte: Del

Rey, 1996.

BARATTA, Alessandro. Criminologia crítica e crítica do direito penal: introdução à

sociologia do direito penal. 6. ed. Rio de Janeiro: Revan, 2011.

BARBOSA, Licínio. Direito da Execução Penal. 1ª edição, Goiás, Editora Século XXI,

2001.

BITENCOURT, Cesar Roberto. Falência da Pena de Prisão: causas e alternativas. 2.

Ed. São Paulo: Saraiva, 2001.

COSTA, Alexandre Mariano. O trabalho prisional e a reintegração do detento. Florianópolis : Insular, 1999.

DOTTI, René Ariel. Bases Alternativas para o Sistema de Penas, 2ª edição, São

Paulo, Editora dos Tribunais,1998.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir. Petrópolis: Vozes, 1977.

FRAGOSO, Heleno Cláudio. Lições de direito penal: parte geral. 16. ed. Rio de

Janeiro: Forense, 2004.

GARCÍA-PABLOS DE MOLINA, Antonio. Criminologia. 4. ed. São Paulo: Revista dos

Tribunais, 2002.

GOMES NETO, Pedro Rates. A prisão e o sistema penitenciário: uma visão

histórica. Canoas, RS: ULBRA, 2000.

JESUS, Damásio Evangelista de. Direito Penal, Saraiva, 2000, Vol.1

KUEHNE, Maurício. Lições de Execução Penal – Aspectos Objetivos. 2ª edição.

Curitib: Juruá, 2012.

67

LEAL, César Barros. Prisão: Créspulo de uma era. Belo Horizonte, DelRey, 1998. LINS e SILVA, Eduardo. A história da pena é a história de sua abolição. REVISTA CONSULEX – ANO V Nº 104 – 15 de maio/2001. Brasília –DF.

MARCÃO, Renato. Curso de Execução Penal. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2005.

MEDEIROS, Rui. In: NOGUEIRA, Lucio. Comentários à Lei de execução penal .

São Paulo: Saraiva, 1996.

MIRABETE, Júlio Fabbrini. Execução Penal. 10 ed. São Paulo: Atlas, 2002.

NUNES, Adeildo. Da Execução Penal, 1ª ed. Rio de Janeiro: Forense 2009.

OLIVEIRA, Odete Maria de, Prisão: um paradoxo social. Editora da UFSC,

Florianópolis,1996.

SHECAIRA, Sergio Salomão e CORRÊA JUNIOR, Alceu, Pena e Constituição:

Revista dos Tribunais, São Paulo, 1995.

SICA, Leonardo, Direito Penal de Emergência e Alternativas à Prisão, Revista dos

Tribunais, 2002.

TELES, Ney Moura. Direito Penal; Parte Geral – I. 1 ed. São Paulo: Editora de ereito, 1999.

ZACARIAS, André Eduardo de Carvalho. Execução Penal Comentada. 2 ed. São

Paulo: Tend Ler, 2006.

ZAFFARONI, Eugenio Raúl; OLIVEIRA, Edmundo. Criminologia e política criminal.

Rio de Janeiro: GZ Editora, 2012.

http://www.funap.sp.gov.br/projeto_plantadores-de-floresta.html, acesso em 01 de

setembro de 2012 às 20:08.

http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=116383 acesso

em 01 de setembro de 2012 às 20:33.

68

http://www.cnj.jus.br/index.php?option=com_content&view=article&id=9174&Itemid=6, acesso em 02 de setembro de 2012 às 02:15