o sistema financeiro atual trava o desenvolvimento econômico brasileiro

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A esterilização dos recursos do país

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  • 10 Le Monde Diplomatique Brasil DEZEMBRO 2014

    A ESTERILIZAO DOS RECURSOS DO PAS

    O sistema financeiro atual trava o desenvolvimento econmico brasileiroUm debate fundamental pede passagem: a esterilizao dos recursos do pas por meio do sistema de intermediao financeira, que drena em volumes impressionantes recursos que deveriam servir ao fomento produtivo e ao desenvolvimento econmico. Os nmeros so bastante claros e conhecidos, e basta junt-los para entender seu impactoPOR LADISLAU DOWBOR*

    O CREDIRIO

    Comecemos pelas taxas de juros ao tomador final, pessoa fsica, praticadas no comrcio os chamados credirios. A Asso-

    ciao Nacional de Executivos de Fi-nanas, Administrao e Contabilida-de (Anefac) traz na Tabela 1 os dados de junho de 2014.

    Antes de tudo, uma nota metodol-gica: os juros so quase sempre apre-sentados, no Brasil, como taxa ms, o que tecnicamente certo, mas comer-cial e eticamente errado. uma forma de confundir os tomadores de crdito, pois ningum consegue calcular de cabea juros compostos. O que usa-do em todo o mundo o juro anual. O Banco Ita, por exemplo, apresenta em seu site as taxas de juros apenas no formato mensal, pois ao ano apare-cem como so: extorsivas.

    A mdia de juros praticados nos credirios, de 72,33%, significa sim-plesmente que esse tipo de comrcio, em vez de prestar decentemente servi-os comerciais, se transformou essen-cialmente num banco. Aproveita-se do fato de as pessoas no entenderem de clculo financeiro e de disporem de pouco dinheiro vista para extorqui--las. Aqui, o produtor de Artigos do Lar, ao cobrar juros de 104,89% sobre os produtos, trava a demanda, pois es-ta ficar represada por doze ou 24 me-ses, enquanto se pagam as prestaes, e trava o produtor, que recebe muito

    pouco pelo produto. o que temos qualificado de economia do pedgio. Ironicamente, as lojas dizem que fa-cilitam. No conjunto do processo, a capacidade de compra do consumidor dividida por dois, e a capacidade de reinvestimento do produtor estanca.

    OS JUROS PARA PESSOA FSICA

    Os consumidores no se limitam a comprar pelo credirio, cuja taxa m-dia de 72,33% aparece reproduzida na primeira linha da Tabela 2. Usam tam-bm carto de crdito e outras modali-dades de mecanismos financeiros desconhecidos para a imensa maioria dos consumidores.

    Tomando os dados de junho de 2014, constatamos que os intermedi-rios financeiros cobram 238,67% no carto de crdito, 159,76% no cheque especial e 23,58% na compra de auto-mveis. Os emprstimos pessoais cus-tam em mdia 50,23% nos bancos e 134,22% nas financeiras. Estamos dei-xando aqui de lado a agiotagem de rua, que ultrapassa os 300%.

    Note-se que a Associao Brasileira das Empresas de Cartes de Crdito e Servios (Abecs) considera que o juro mdio sobre o carto de 280%, por-tanto bem acima da avaliao da Ane-fac. Segundo a Abecs, 50,1% do crdito para consumo feito no carto, 23,5% no crdito consignado, 13,1% no cre-dirio de veculos e 13,3% em outros. Trata-se, no caso dos cartes, de cerca

    de R$ 170 bilhes. importante lem-brar que, mesmo sem entrar no crdi-to do carto, uma loja tem de pagar cerca de 5% do valor das compras ao banco, alm do aluguel da mquina. Grandes lojas com capacidade de ne-gociao com o sistema financeiro po-dem pagar menos de 5%, mas de toda forma um gigantesco imposto priva-do sobre a metade do crdito de con-sumo, reduzindo drasticamente a ca-pacidade de compra do consumidor.

    A Abecs considera que essa carteira est sendo responsvel por fomentar o crdito ao consumidor no pas. uma forma positiva de apresentar o proble-ma, mas desenvolve-se o crdito, e no o consumo. No caso da frequente en-trada no crdito rotativo, as pessoas pagaro trs ou quatro vezes o valor do produto. Miguel de Oliveira, diretor da Anefac, resume bem a situao: A pes-soa que no consegue pagar a fatura e precisa parcelar, ou entrar no rotativo, na verdade est financiando a dvida do carto de crdito com outro tipo de crdito. O problema que essa dvida no tem fim. As pessoas acabam no se dando conta dos juros que tero que pagar (DCI, 20 ago. 2014).

    Obviamente, com essas taxas de juros, as pessoas, ao fazerem uma compra a crdito, gastam mais com os juros do que com o prprio valor do produto adquirido. Costuma-se apre-sentar apenas a taxa de endividamen-to das famlias, prxima de 30%, o que

    no informao suficiente, pois elas no s se endividam muito, como se endividam muito comprando pouco. A conta evidente: em termos prti-cos, pagam quase o dobro, s vezes mais. Dito de outra forma, compram a metade do que o dinheiro delas pode-ria comprar, se o fizessem vista isso porque a compra vista j inclui os lu-cros de intermediao comercial.

    No o imposto que o vilo, ainda que o peso dominante dos impostos in-diretos s piore a situao: o desvio da capacidade de compra para o paga-mento de juros. As famlias esto gas-tando muito mais, resultado do nvel elevado de emprego e do aumento do poder aquisitivo da base da sociedade, mas os juros esterilizam a capacidade de dinamizao da economia pela de-manda que esses gastos poderiam re-presentar. Um dos principais vetores de dinamizao da economia est trava-do. Gerou-se uma economia de atra-vessadores financeiros. Prejudicam-se as famlias que precisam dos bens e servios e, indiretamente, as empresas efetivamente produtoras que veem seus estoques parados. Perde-se boa parte do impacto de dinamizao eco-nmica das polticas redistributivas. O crdito consignado ajuda, mas atinge apenas 23,5% do crdito para consumo (DCI, 20 ago. 2014) e se situa na faixa de 25% a 30% de juros ao ano, o que parece baixo apenas pelo nvel exorbitante que atingem as outras formas de crdito.

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  • 11DEZEMBRO 2014 Le Monde Diplomatique Brasil

    OS JUROS PARA PESSOA JURDICA

    As taxas de juros para pessoa jur-dica no ficam atrs. O estudo da Ane-fac apresenta uma taxa praticada m-dia de 50,06% ao ano, sendo 24,16% para capital de giro, 34,8% para des-conto de duplicatas e 100,76% para conta garantida. Ningum em s cons-cincia consegue desenvolver ativida-des produtivas, criar uma empresa, enfrentar o tempo de entrada no mer-cado e de equilbrio de contas pagan-do esse tipo de juros. Aqui, o investi-mento privado diretamente atingido. (Fonte: Anefac, 2014. Disponvel em: .)

    A atividade bancria pode ser per-feitamente til ao financiar iniciativas econmicas que daro retorno, mas isso implica que o banco utilize o di-nheiro dos depsitos para fomentar iniciativas empresariais, cujo resulta-do dar legtimo lucro ao investidor, permitindo tambm restituir o em-prstimo. A atividade bsica de um banco reunir poupanas de deposi-tantes para transform-las em finan-ciamento de atividades econmicas saiu do horizonte dessas instituies. A economia, travada do lado da de-manda com o tipo de crdito ao con-sumo visto anteriormente, tanto nos bancos como nos credirios, igual-mente travada do lado do financia-mento ao produtor. Prejudica-se assim tanto a demanda como o investimen-to, os dois motores da economia.

    As regras do jogo aqui se deformam profundamente. Ao poder se financiar no exterior com taxas de juros cinco ou seis vezes menores do que seus con-correntes nacionais, as grandes corpo-raes transnacionais passam a ter vantagens comparativas impressio-nantes. Muitas empresas nacionais podem encontrar financiamentos com taxas que poderiam ser conside-radas normais, por exemplo, junto ao BNDES e outros bancos oficiais, mas sem a capilaridade que permite irrigar a imensa massa de pequenas e mdias empresas dispersas no pas. No de-mais lembrar que na Alemanha 60% das poupanas so administradas por pequenas caixas de poupana locais, que irrigam generosamente as peque-nas iniciativas econmicas. A Polnia, que segundo a Economist foi o pas que melhor enfrentou a crise na Euro-pa, tem 470 bancos cooperativos, que financiam atividades da economia real. Um dos principais economistas do pas, J. Balcerek, comenta ironica-mente que nosso atraso bancrio nos salvou da crise.

    OS JUROS SOBRE A DVIDA PBLICA

    Uma terceira deformao resulta do imenso dreno sobre recursos pbli-cos por meio da dvida pblica. Se ar-redondarmos nosso PIB para R$ 4,8

    trilhes, 1% so R$ 48 bilhes. Quando gastamos 5% do PIB para pagar os ju-ros da dvida pblica, estamos transfe-rindo aos bancos donos da dvida e, por sua vez, a um pequeno grupo de afortunados cerca de R$ 240 bilhes ao ano, que deveriam financiar inves-timentos pblicos, polticas sociais e semelhantes. Para os bancos, muito cmodo, pois, em vez de terem de identificar bons empresrios e fomen-tar investimentos, aplicam em ttulos pblicos, com rentabilidade elevada, liquidez total, segurana absoluta, di-nheiro em caixa, por assim dizer, e rendendo muito.

    O efeito aqui duplamente perni-cioso: 1) com a rentabilidade assegu-rada com simples aplicao na dvida pblica, os bancos deixam de buscar o fomento da economia; 2) muitas em-presas produtivas, em vez de fazerem mais investimentos, aplicam tambm seus excedentes em ttulos do governo. A mquina econmica torna-se assim refm de um sistema que rende para os que aplicam, mas no para os que in-vestem na economia real. E para o go-verno at cmodo, pois mais fcil se endividar do que fazer a reforma tribu-tria to necessria.

    UMA DEFORMAO SISTMICA

    A taxa real de juros para pessoa fsi-ca (descontada a inflao) cobrada pe-lo HSBC no Brasil de 63,42%, quando de 6,6% no mesmo banco para a mesma linha de crdito no Reino Uni-do. Para o Santander, as cifras corres-pondentes so 55,74% e 10,81%. Para o Citibank, so 55,74% e 7,28%. O Ita cobra slidos 63,5%. Para pessoa jur-dica, rea vital porque se trataria de fomento a atividades produtivas, a si-tuao igualmente absurda. Para pessoa jurdica, o HSBC, por exemplo, cobra 40,36% no Brasil e 7,86 no Reino Unido (Ipea, 2009).

    Comenta o estudo do Ipea: Para emprstimos pessoa fsica, o dife-rencial chega a ser quase dez vezes mais elevado para o brasileiro em re-lao ao crdito equivalente no exte-rior. Para as pessoas jurdicas, os dife-renciais tambm so dignos de ateno, sendo prejudiciais para o Brasil. Para emprstimos pessoa ju-rdica, a diferena de custo menor,

    mas, mesmo assim, mais de quatro vezes maior para o brasileiro.

    Nossa Constituio, no artigo 170, define como princpios da ordem eco-nmica e financeira, entre outros, a funo social da propriedade (III) e a livre concorrncia (IV). O artigo 173, no pargrafo 4o, estipula que a lei re-primir o abuso do poder econmico que vise dominao dos mercados, eliminao da concorrncia e ao au-mento arbitrrio dos lucros. O par-grafo 5o ainda mais explcito: A lei, sem prejuzo da responsabilidade in-dividual dos dirigentes da pessoa jur-dica, estabelecer a responsabilidade desta, sujeitando-a s punies com-patveis com sua natureza, nos atos praticados contra a ordem econmica e financeira e contra a economia po-pular. Cartel crime. Lucro exorbi-tante sem contribuio corresponden-te produtiva ser reprimido pela lei com punies compatveis.

    O resultado prtico uma defor-mao sistmica do conjunto da eco-nomia, que trava a demanda do lado do consumo, fragiliza o investimento e reduz a capacidade do governo de fi-nanciar infraestruturas e polticas so-ciais. Se acrescentarmos a deformao de nosso sistema tributrio, baseado essencialmente em impostos indiretos (embutidos nos preos), com frgil in-cidncia sobre a renda e o patrimnio, teremos aqui o quadro completo de uma economia prejudicada em seus alicerces, que avana, sem dvida, mas carregando um peso morto cada vez menos sustentvel.

    A DIMENSO INTERNACIONAL

    O dreno sobre as atividades produti-vas, tanto do lado do consumo como do investimento, planetrio. Faz parte de uma mquina internacional que desde a liberalizao da regulao financeira com os governos Reagan e Thatcher, no incio dos anos 1980, at a liquidao do principal sistema de regulao, o Glass--Steagall Act, por Clinton, em 2009, ge-rou um vale-tudo internacional.

    A dimenso internacional tornou--se mais documentada a partir da cri-se de 2008. O prprio descalabro gera-do e o travamento da economia mundial levaram ao levantamento dos dados bsicos das finanas internacio-nais, que curiosamente sempre esca-param do International Financial Sta-tistics do FMI. Resumimos aqui seus principais resultados, para facilitar uma viso de conjunto.

    O Instituto Federal Suo de Pes-quisa Tecnolgica (ETH, na sigla ale-m) constatou que 147 grupos contro-lam 40% do mundo corporativo do planeta, sendo 75% deles instituies financeiras. Pertencem em sua quase totalidade aos pases ricos, essencial-mente Europa ocidental e Estados Unidos (ETH, 2011).

    O Tax Justice Network (TJN), em pesquisa coordenada por James Hen-ry, apresenta o estoque de capitais aplicados em parasos fiscais: da or-dem de US$ 21 trilhes a US$ 32 tri-lhes, para um PIB mundial da ordem de US$ 70 trilhes. Estamos falando de quase um tero a metade do PIB mun-dial. A economia do planeta est fora do alcance de qualquer regulao e controlada por intermedirios, no por produtores. O rentismo impera (TJN, 2012).

    O dossi produzido pela Econo-mist (The missing $20 trillion) arre-donda o estoque nos parasos fiscais para US$ 20 trilhes, mas mostra que so geridos pelos principais bancos do planeta, no em ilhas paradisacas, mas essencialmente por bancos dos Estados Unidos e da Inglaterra (Eco-nomist, 2013).

    As pesquisas do International Consortium of Investigative Journa-lists (Icij) tm chegado a inmeros no-mes de empresas e donos de fortunas, com detalhes de instrues e movi-mentaes. Em novembro de 2014 pu-blicam o gigantesco esquema de eva-so fiscal das multinacionais, usando o paraso fiscal que se tornou Luxem-burgo. So apresentados em detalhe os montantes de evaso por parte dos bancos Ita e Bradesco (Icij, 2014).

    O estudo de Joshua Schneyer, sis-tematizando dados da Reuters, mostra que dezesseis grupos comerciais inter-nacionais controlam o essencial da in-termediao das commodities em es-cala planetria (gros, energia, minerais), a maior parte com sede em parasos fiscais (Genebra, em particu-lar), criando o atual quadro de especu-lao financeiro-comercial sobre os produtos que constituem o sangue da economia mundial. Lembremos que os derivativos dessa economia especu-lativa (outstanding derivatives) ultra-passam US$ 600 trilhes, para um PIB mundial de US$ 70 trilhes (BIS, 2013; Schneyer, 2013).

    O Crdit Suisse divulga a anlise das grandes fortunas mundiais, apre-sentando a concentrao da proprie-dade de US$ 223 trilhes acumulados (patrimnio acumulado, no renda anual). Alm disso, basicamente 1% dos mais afortunados possui cerca de 50% da riqueza do planeta.

    No temos estudos suficientes nem presso poltica correspondente para ter o detalhe de como funciona essa engrenagem no Brasil. No en-tanto, dois estudos nos trazem or-dens de grandeza.

    O estudo mencionado do Tax Justi-ce Network, ao identificar estoques de capital em parasos fiscais, no caso do Brasil, encontra US$ 519,5 bilhes, o que representa cerca de 25% do PIB brasileiro, ocupando o quarto lugar no mundo (disponvel em:

  • 12 Le Monde Diplomatique Brasil DEZEMBRO 2014

    t ice.net/cms/upload/pdf/Appen-dix%203%20-%202012%20Price%20of%20Offshore%20pt%201%20-%20pp%201-59.pdf>).

    Tratando da fuga de capitais para o exterior pela via de remessas ilegais, o estudo da Global Financial Integrity (GFI), coordenado por Dev Kar e deno-minado Brasil: fuga de capitais, flu-xos ilcitos e as crises macroeconmi-cas, 1960-2012, estima essa evaso em R$ 80 bilhes por ano entre 2010 e 2012 (cerca de 1,5% do PIB), o que ali-menta o estoque de mais de R$ 1 trilho em parasos fiscais visto anteriormen-te. Segundo o relatrio, o governo deve fazer muito mais para combater tanto o subfaturamento de exportaes como o superfaturamento de importaes, adotando ativamente medidas dissua-sivas adicionais em vez de punies re-troativas. Trata-se aqui, dominante-mente, das empresas multinacionais. Kofi Annan considera que esse meca-nismo drena cerca de US$ 38 bilhes por ano das economias africanas. O mecanismo conhecido como mispri-cing, ou trade misinvoicing (GFI, 2014).

    RESGATANDO O CONTROLE

    No plano internacional, enquanto existir a tolerncia dos parasos fiscais

    por parte das elites norte-americanas e europeias inclusive nos prprios Estados Unidos, como o estado de Delaware, e na Europa, como o caso de Luxemburgo e da Sua , dificil-mente haver qualquer possibilidade de controle real. A evaso fiscal torna--se demasiado simples, e a possibili-dade de localizar os capitais ilegais, muito reduzida.

    Essa situao pode ser bastante melhorada no controle das sadas, do sub e sobrefaturamento e semelhan-tes. O relatrio da GFI mencionado an-teriormente aponta essas possibilida-des e reconhece fortes avanos do Brasil nos ltimos anos. No plano in-ternacional, surge finalmente o Base Erosion and Profit Shifting (Beps), en-dossado por quarenta pases que re-presentam 90% do PIB mundial, incio de reduo do sistema planetrio de evaso fiscal pelas empresas transna-cionais (OCDE, 2014).

    Para enfrentar essa realidade, o go-verno tem armas poderosas. A primei-ra retomar a reduo progressiva da taxa Selic, o que obrigaria os bancos a procurar aplicaes alternativas, vol-tando a irrigar iniciativas de empreen-dedores e reduzindo o vazamento dos recursos pblicos para os bancos. A se-

    Referncias bibliogrficas

    Anefac, Relatrio sobre juros, tabelas das pginas 2, 3 e 5. Disponvel em: .

    Banco Central, Histrico da taxa de juros Selic. 2014. Disponvel em: .

    BIS, Quarterly Review, jun. 2013, p.3. Disponvel em: .

    Pedro Garcia, Metade do consumo financiada por cartes, DCI, 20 ago. 2014, p.B1.

    Ladislau Dowbor, Os estranhos caminhos do nosso dinheiro, Editora Fundao Perseu Abramo, So Paulo, 2014. Disponvel em: .

    The rise of Black Rock, The Economist, 7 dez. 2013. Disponvel em: .

    The missing $20 trillion. Special report on offshore finance, The Economist, 16 fev. 2013.

    GFI, Brasil: fuga de capitais, set. 2014. Disponvel em: .

    James Henry e Tax Justice Network, The price of off--shore revisited. Disponvel em: . Os da-dos sobre o Brasil esto no Appendix III, (1) p.23. Ver: . Ver tambm no site da TJN a atualizao de junho de 2014: .

    Icij, 2013. Disponvel em: .

    Icij, Luxemburg tax files, nov. 2014. Disponvel em: .

    Inesc, As implicaes do sistema tributrio brasileiro na desigualdade de renda, set. 2014. Disponvel em: .

    Ipea, Transformaes na indstria bancria brasileira e o cenrio de crise, Comunicado da Presidncia, abr. 2009, p.15. Disponvel em: .

    OCDE-Icij, BEPS: Base Erosion and Profit Shifting. Disponvel em: .

    Joshua Schneyer, Commodity traders: the trillion dollars club. Disponvel em: ou .

    Stefania Vitali, James B. Glattfelder e Stefano Battis-ton, The network of global corporate control. Dis-ponvel em: .

    LINHA DE CRDITO MAIO/2014 JUNHO 2014 VARIAO VARIAO

    TAXA MS TAXA ANO TAXA MS TAXA ANO %PONTOS

    PERCENTUAIS

    Juros comrcio 4,62% 71,94% 4,64% 72,33% 0,43% 0,02

    Carto de crdito 10,52% 232,12% 10,70% 238,67% 1,71% 0,18

    Cheque especial 8,22% 158,04% 8,28% 159,76% 0,73% 0,06

    CDC bancosfinanciamentode automveis

    1,80% 23,87% 1,78% 23,58% -1,11% -0,02

    Emprstimo pessoal-bancos

    3,41% 49,54% 3,45% 50,23% 1,17% 0,04

    Emprstimo pessoal-financeiras

    7,29% 132,65% 7,35% 134,22% 0,82% 0,06

    TAXA MDIA 5,98% 100,76% 6,03% 101,90% 0,84% 0,05

    TABELA 2 TAXA DE JUROS PARA PESSOA FSICA

    gunda reduzir as taxas de juros ao to-mador final na rede de bancos pbli-cos, conforme foi experimentado em 2013, mas persistindo desta vez na di-nmica. a melhor forma de introdu-zir mecanismos de mercado no siste-ma de intermediao financeira, contribuindo para fragilizar o cartel ao obrig-lo a reduzir os juros estratosf-ricos: o tomador final voltaria a ter op-es. A terceira consiste no resgate de um mnimo de equilbrio tributrio: no se trata de aumentar os impostos, mas de racionalizar sua incidncia. Pesquisa do Inesc (2014, p.21) mostra que a tributao sobre o patrimnio quase irrelevante no Brasil, pois equi-vale a 1,31% do PIB, representando apenas 3,7% da arrecadao tributria de 2011. Em alguns pases do capitalis-mo central, os impostos sobre o patri-mnio representam mais de 10% da ar-recadao tributria, a exemplo de Canad (10%), Japo (10,3%), Coreia do Sul (11,8%), Gr-Bretanha (11,9%) e Es-tados Unidos (12,15%). Se acrescen-tarmos a baixa incidncia do imposto sobre a renda e o fato de os impostos indiretos representarem 56% da arre-cadao, teremos no conjunto uma si-tuao que clama por mudanas.

    Convm destacar que a carga tri-butria muito regressiva no Brasil porque est concentrada em tributos indiretos e cumulativos que oneram mais os trabalhadores e os mais po-bres, uma vez que mais da metade da arrecadao provm de tributos que incidem sobre bens e servios, haven-do baixa tributao sobre a renda e o patrimnio. Segundo informaes ex-tradas da Pesquisa de Oramento Fa-miliar (POF) de 2008/2009 pelo Ipea, estima-se que 10% das famlias mais pobres do Brasil destinam 32% da ren-da disponvel para o pagamento de tri-butos, enquanto 10% das famlias mais ricas gastam 21% da renda em tributos (Inesc, 2014, p.6).

    A quarta arma consiste em dinami-zar um conjunto de pesquisas sobre os fluxos financeiros internos, de maneira a gerar uma transparncia maior nessa rea em que as pessoas simplesmente no se orientam. Para gerar a fora pol-tica capaz de reduzir o grau de carteli-zao, reintroduzindo mecanismos de mercado e transformando o sistema de intermediao financeira, preciso ter uma populao informada. impres-sionante o profundo silncio no s da mdia, mas tambm da academia e dos institutos de pesquisa sobre o processo escandaloso de deformao da econo-mia pelo sistema financeiro.

    A economia brasileira est sendo sangrada por intermedirios que pou-co ou nada produzem. Se somarmos as taxas de juros pessoa fsica, o cus-to dos credirios, os juros pessoa ju-rdica, o dreno por meio da dvida p-blica e a evaso fiscal por parasos

    fiscais e transferncias ilcitas, tere-mos uma deformao estrutural dos processos produtivos. Tentar dinami-zar a economia enquanto arrastamos esse entulho especulativo preso aos ps fica muito difcil. H mais mazelas em nossa economia, mas aqui esta-mos falando de uma massa gigantesca de recursos, que so necessrios ao pas. tempo de o prprio mundo em-presarial aquele que efetivamente produz riquezas acordar para os de-sequilbrios e colocar as responsabili-dades onde realmente esto. O resgate organizado do uso produtivo de nos-sos recursos essencial.

    *Ladislau Dowbor, economista, professor da PUC-SP e consultor de vrias agncias das Naes Unidas. Site: .

    SETORES MAIO 14 JUNHO 14 VARIAO VARIAO

    TAXA MS TAXA ANO TAXA MS TAXA ANO % PONTOS PERCENTUAIS

    Gdes.Redes 2,49% 34,33% 2,51% 34,65% 0,80% 0,02

    Med.Redes 4,80% 75,52% 4,83% 76,13% 0,63% 0,03

    Peq.Redes 5,41% 88,18% 5,45% 89,04% 0,74% 0,04

    Emp.Turismo 3,74% 55,37% 3,75% 55,55% 0,27% 0,01

    Art.do Lar 6,14% 104,43% 6,16% 104,89% 0,33% 0,02

    Ele.Eletron. 4,60% 71,55% 4,64% 72,33% 0,87% 0,04

    Importados 5,23% 84,36% 5,24% 84,57% 0,19% 0,01

    Veculos 1,80% 23,87% 1,78% 23,58% -1,11% -0,02

    Art.Ginstica 6,49% 112,67% 6,52% 113,39% 0,46% 0,03

    Informtica 4,35% 66,69% 4,38% 67,27% 0,69% 0,03

    Celulares 4,04% 60,84% 4,08% 61,59% 0,99% 0,04

    Decorao 6,30% 108,16% 6,33% 108,87% 0,48% 0,03

    Mdia Geral 4,62% 71,94% 4,64% 72,33% 0,43% 0,02

    TABELA 1 COMPORTAMENTO DAS TAXAS DE JUROS DO CREDIRIO POR SETOR

    Fonte: Anefac, 2014. Disponvel em: .

    Fonte: Anefac, 2014. Disponvel em: .