o sindicalismo nos governos dutra e jk
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O Sindicalismo nos
Governos Dutra e JK
Por Claudio Blanc*
Uando Getúlio Vargas foi deposto, em 1946, o novo
presidente, o general Eurico Gaspar Dutra, que
governou o país entre (1946 – 1951) introduziu um
viés negativo no jogo das relações sociais ao adotar uma
política de repressão ao movimento operário. Isto não inibiu,
* Claudio Blanc é escritor e tradutor, autor, entre outros, dos livros O
Homem de Darwin, O Lado Negro da CIA e Tempos de Luta e de Glória – A História do Sindicato dos Padeiros de São Paulo
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porém, a ação do Partido Comunista sobre os trabalhadores e
a sua luta pela liberdade sindical, o que culminou em novas
intervenções de vários sindicatos e prisões de operários e
comunistas.
São os primeiros lances da Guerra Fria, que dominou a cena
internacional do final da Segunda Guerra Mundial até a queda
do Regime Comunista na União Soviética, em 1989. A palavra
de ordem dos governos do Brasil e do mundo ocidental era:
“combater o comunismo”. Quase sempre isso era feito com
repressão.
Segundo o depoimendo do veterano militante do Partido
Comunista Brasileiro Amaro Cavalcanti Albuquerque dado em
novembro de 1980 a Carmem Lucia Evangelho Lopes, “houve
intervenções; onde eles souberam que havia direção
comunista, eles intervieram. Todo aquele pessoal [os
sindicalistas], eles [as autoridades] achavam que era inimigo
de esquerda. Não precisava ser comunista. Se fosse um
elemento que não lesse pela cartilha, era afastado do
sindicato. A vida sindical veio a tomar um curso melhor
depois que o Dutra saiu”.
Em 1947, no governo Dutra, o PCB foi cassado e colocado na
ilegalidade. Houve novas intervenções nos sindicatos e o PCB
adotou estratégias alternativas. “Enquanto permaneceu na
legalidade, o PCB atuou como escoadouro das reivindicações
trabalhistas e sociais, mas assim que foi posto na
clandestinidade abriu caminho para o surgimento de um
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fenômeno profundamente enraizado nas periferias
paulistanas: o populismo ademarista e janista”, observa o
pesquisador Paulo Fontes.
Atuando ilegalmente, o PCB lançou a estratégia do
“paralelismo sindical”. Amaro, que era militante do Partidão,
como vimos, opinou que o paralelismo sindical “era uma
manobra do PCB para se apoderar dos sindicatos direta ou
indiretamente e a manobra era dentro da política, dentro da
orientação do partido”. Na verdade, o paralelismo sindical foi
uma tentativa bem sucedida até certo ponto na formação de
novas lideranças sindicais. Para implementar essa estratégia,
o PCB criou entidades operárias independentes dos
sindicatos, registradas como entidades civis. Com isso
evitava-se qualquer controle ministerial e eliminar o caráter
pelego que os sindicatos haviam assumido por conta das
intervenções do governo. Contudo, o paralelismo sindical
dividia, de fato, o movimento trabalhista, como observou
Amaro, que participou dessa discussão enquanto comunista:
“O paralelismo sindical era uma política que nos parecia boa
naquele momento, mas hoje [1980] não é correta. Nós
discutíamos que devia se fazer a luta sindical dentro do
sindicato, não com sindicatos paralelos, ou oposições que
representavam o sindicato, porque isso não constrói nada.
Para você lutar ao lado do seu adversário, tem de estar junto
dele, dialogando com eles, dando ideias para eles”.
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Nas eleições seguintes para presidente, Getúlio Vargas foi
novamente escolhido. Contudo, ele não completou sua
gestão. Pressionado por diversos setores da sociedade,
acabou se suicidando (veja artigo Getúlio Vargas, nesta
mesma série).
Com o suicídio de Getúlio Vargas, seu vice, Café Filho,
assumiu, mas não terminou seu mandato por problemas de
saúde. Quem concluiu o termo iniciado por Vargas foi o
presidente da Câmara, Carlos Luz.
Em 1956, novas eleições. A vitória da coligação PSD/PTB,
Juscelino Kubitschek e João Goulart, à Presidência da
República contou com o apoio do PCB. O seu plano
desenvolvimentista pretendia levar adiante a industrialização.
A economia abriu-se para a entrada de capital estrangeiro,
aumentando o número de empregos na indústria de base,
mas também veio a inflação que corroeu o salário e produziu
greves.
Nesse período, de 1956 a 1960, o movimento operário passou
por reformulações. Mais de dez mil delegados participaram
da I Conferência Nacional dos Sindicatos; greves
questionavam o modelo econômico vigente. Durante o
governo JK, o Partido Comunista, apesar de ilegal, dispôs de
uma liberdade de ação nunca antes desfrutada. Militantes
notórios compareciam a comícios e não havia prisões
políticas. Contudo, a agitação não era permitida. Em junho de
1956, o Governo fechou a Liga de Emancipação Nacional e o
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Sindicato dos Estivadores, no Rio, ambos sob o controle
comunista.
No entanto, em 1958, Luís Carlos Prestes, líder da oposição
comunista, saiu da clandestinidade ao aparecer no Catete, no
ato público de solidariedade, quando JK rompe com o Fundo
Monetário Internacional. Em fevereiro de 1959, foi lançado o
semanário Novos Rumos (de orientação comunista), vendido
em bancas. Isso acontecia porque o PCB defendia uma
política de conciliação e legalidade, em aliança com a
burguesia nacional. Não interessava ao partido agravar os
conflitos trabalhistas ou envolver-se em ações "subversivas".
Afinal, os chefes de polícia do Distrito Federal eram oficiais do
Exército, rigidamente anticomunistas: Magessi Pereira,
Batista Teixeira (criador do DOPS) e Amauri Kruel.
A aliança dos comunistas com as lideranças sindicais
petebistas consolidou a postura dominante na política
sindical, sobretudo no setor ferroviário e no portuário da
Baixada Santista. Em São Paulo, essa aliança PTB/PC
procurava fazer frente às correntes sindicais janistas,
lideradas por Dante Pellacani, presidente da Federação
Nacional dos Gráficos e animador do Movimento Jan/Jan
(Jânio/Jango).
A grande greve dos 400 Mil em São Paulo (15 a 25 de outubro
de 1957), que congregou seis categorias de empresas
privadas reivindicando 25% de aumento salarial, é um
exemplo da expansão janista. Do Comando Intersindical da
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Greve participavam quatro janistas, três comunistas e três
petebistas. O grupo comuno-petebista mantinha suas
ligações com a área janguista e o Ministério do Trabalho; o
grupo janista vinculava-se ao governo estadual. A greve
mobilizou o apoio de estudantes e políticos de todos os
partidos, com exceção do PSD. Terminou oficialmente com
decisão do Tribunal Regional do Trabalho (TRT),
estabelecendo aumento salarial de 25%; as entidades
patronais recorreram junto ao TST e firmou-se o acordo em
18%. O Exército interveio em apenas duas ocasiões: para
desativar um piquete em Osasco, próximo do quartel militar,
e outro que tentou invadir a Companhia Brasileira de
Cartuchos, na cidade de Utinga.
Sindicato dos Padeiros
de São Paulo
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