o segredo de quem faz um governo que inspire confianÇa€¦ · safra 2016/17 está recém no...

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4 | MAIO 2016 O SEGREDO DE QUEM FAZ Um Governo que inspire CONFIANÇA Leandro Mariani Mittmann [email protected] Ascom Aprosoja O jovem presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Mato Grosso (Aprosoja/MT) não tem dúvidas: as coisas só vão começar a melhorar no Brasil com a substituição no Palácio do Planalto. “Esta questão política da corrupção, da ingovernabilidade do País, nos colocou em uma posição de ser a favor do impeachment, da mudança do Governo, porque entendemos que não tem mais alternativa de governo com o PT” , dispara Endrigo Dalcin, 41 anos, nascido em Constantina/RS e radicado em Nova Xavantina, a Leste do estado, que assumiu a instituição no início do ano em gestão até 2017. Nesta conversa, Dalcin ainda manifesta preocupação com os problemas do produtor mato- grossense, atingido pelo clima e custos, além, é claro, de estar à mercê da situação política e econômica que o Brasil atravessa.

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Page 1: O SEGREDO DE QUEM FAZ Um Governo que inspire CONFIANÇA€¦ · safra 2016/17 está recém no começo, o produtor atrasou as compras de semen-tes, defensivos e fertilizantes. Como

4 | MAIO 2016

O SEGREDO DE QUEM FAZ

Um Governo que inspireCONFIANÇA

Leandro Mariani [email protected]

Asc

om A

pros

oja

O jovem presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho doMato Grosso (Aprosoja/MT) não tem dúvidas: as coisas só vão começar a

melhorar no Brasil com a substituição no Palácio do Planalto. “Estaquestão política da corrupção, da ingovernabilidade do País, nos colocou

em uma posição de ser a favor do impeachment, da mudança doGoverno, porque entendemos que não tem mais alternativa de governo

com o PT”, dispara Endrigo Dalcin, 41 anos, nascido em Constantina/RS eradicado em Nova Xavantina, a Leste do estado, que assumiu a

instituição no início do ano em gestão até 2017. Nesta conversa, Dalcinainda manifesta preocupação com os problemas do produtor mato-

grossense, atingido pelo clima e custos, além, é claro, de estar à mercê dasituação política e econômica que o Brasil atravessa.

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A GRANJA | 5

A Granja — Como foi a safra 2015/16 para o produtor de soja e milhomato-grossense e quais as perspecti-vas para a 2016/17?

Endrigo Dalcin — A safra 2015/16de soja foi diferente porque tinha um fe-nômeno diferente, chamado El Niño, queafetou o Mato Grosso. Realmente nóstivemos esse fenômeno que mudou o cli-ma do Mato Grosso. O estado era co-nhecido pela constância e regularidadeclimática. Nesta safra tivemos primeiroatraso no início das chuvas e depois umairregularidade muito grande nas regiõesque fez com que tivéssemos um índicede replante acima do normal e um atrasomuito grande no início do plantio. Asduas regiões mais afetadas foram a Nor-te e a Leste. As Regiões Sul e Oeste ain-da tiveram um rendimento dentro do es-perado, não foram tão afetadas por essairregularidade. Tivemos também um atra-so na colheita que culminou agora emum atraso no plantio do milho de segun-da safra. Então, tínhamos uma safra desoja com a colheita atrasada e possivel-mente um milho atrasado. E isso foi fa-tal para que precisássemos de chuva emabril. Então, plantamos muito milho forada janela ideal neste ano, entrando no mêsde abril precisando de bastante chuva eessa chuva não veio. Hoje o panoramade segunda safra de milho é que real-mente não vai chegar na perspectiva quetínhamos de 95,5 sacas por hectare parao Mato Grosso, que era de 19 milhõesde toneladas de potencial de colheita demilho de segunda safra. Isso tudo cul-mina na situação seguinte: também tive-mos neste ano o maior custo para soja emilho. Os gastos extrapolaram, foram osmaiores da história, e agora estamos ten-do um rendimento não condizente comos investimentos devido à falta de chuva.E isso tudo está causando uma certa in-segurança para o produtor, porque sain-do de uma safra totalmente com proble-mas é difícil. O planeamento da próximasafra, a dificuldade de crédito, devido atoda essa questão política e econômicaque o País está passando... tanto que nósda Aprosoja/MT somos a favor do im-peachment, já nos manifestamos sobreisso porque entendemos que não temmais alternativa de mudança sem a saídadeste Governo. A crise de confiança noGoverno é muito grande e precisamosque isso mude urgente porque está afe-tando o nosso setor. Então, este ano está

sendo muito difícil para o Mato Grossona questão da produção.

A Granja — E quanto à próximasafra de verão em relação a fatorescomo custos, crédito...?

Dalcin — Neste ano uma coisa boaque aconteceu foi o que o pré-custeio paraalguns produtores, os que estavam habi-litados para acessar esse crédito, já esta-va disponível na agência do banco. Foiuma solicitação nossa no final do anopassado que fosse liberado o pré-custeio,até para que o produtor pudesse fugir umpouco dessa alta de custos. Até porqueos fertilizantes, nosso principal custo, eos defensivos, estavam em uma condi-ção muito boa de comprar. Então, com oprodutor acessando esse crédito oficial,ele poderia minimizar um pouquinho esseaumento de custo de produção. A próxi-ma safra começou assim. Estamos ago-ra com uma dificuldade de crédito, poisas exigências dos bancos aumentaram.Lógico, com toda a questão da inadim-plência crescendo, com as incertezaspolíticas e econômicas, os bancos fica-ram mais restritivos, e alguns produto-res estão tendo dificuldades de acesso aesse crédito. Então, uma safra difícil deplanejar porque o dólar tem osciladomuito, estava R$ 4 e agora está R$ 3,60,e nessa oscilação aí nós temos que fazero nosso planejamento. Como 59% donosso custo aqui no Mato Grosso é dó-lar, uma oscilação brusca de câmbio pre-judica nossa performance de custo. Asafra 2016/17 está recém no começo, oprodutor atrasou as compras de semen-tes, defensivos e fertilizantes. Como atra-sou a colheita, o produtor ainda está con-tabilizando o final da safra e está maisdevagar nas suas decisões. Mato Gros-so sempre foi muito mais rápido nas com-pras.

A Granja — Mas sobre o créditoainda, tem faltado dinheiro no mer-cado ou o produtor está conseguindoacessar os recursos?

Dalcin — Está faltando crédito parao produtor. Estamos com restrição nomercado, um aumento de exigências degarantias, essa é a principal dificuldade.O produtor está tendo que dar hipotecade primeiro grau, penhor de máquinas,contratar seguro obrigatoriamente. Issonunca foi exigido do produtor. Ele davapenhor da safra, ele tinha uma tradição

de prévia aquisição de crédito que sim-plificava a aquisição. Neste ano está sen-do exigido muito mais para poder aces-sar os recursos.

A Granja — Que orientações aAprosoja/MT tem dado ao produtorem relação à redução de custos, a fa-zer investimentos...?

Dalcin — Estamos orientando daseguinte forma: sobre investimentos,neste ano é para repensar. Concentrarrealmente na questão dos custos de pro-dução. Tem que usar as ferramentas degerenciamento de custos, as de agricul-tura de precisão para monitorar a fertili-dade do solo. Temos ouvido produtoresdizendo que vão diminuir a adubação.Mas fazer essa redução sem critérios ousem acompanhamento é muito perigo-so, pode levar lá na frente a uma reduçãona produtividade. Estamos orientandopara formar grupos de compra, coope-rativas. Sabemos de bons resultados degrupos formados aqui no Mato Grosso,que têm comprado melhor, baixado ocusto dos produtos que fazem via coo-perativas.

A Granja — A Aprosoja/MT parti-cipou de um grupo que elaborou su-gestões para o Plano Agrícola e Pe-cuário 2016/17? Quais foram as prin-cipais sugestões?

Dalcin — Nós fizemos 25 sugestõespara alterações no Plano, melhorias esolicitações de Mato Grosso. Foi um pla-no construído com a Secretaria de De-senvolvimento do Mato Grosso e a enti-dade Famato, que foram entregues àministra da Agricultura, Kátia Abreu, eao secretário de Política Agrícola, AndréNassar. Vou citar alguns pontos mais re-levantes. Solicitamos a redução de 1,25ponto percentual na taxa do crédito ecusteio, de 8,75% para 7,5%. Solicita-mos o teto para o custeio pecuário e cus-teio agrícola não se impactassem. Por-que o produtor que pega R$ 1,2 milhãopara a soja, mas também tem pecuáriana sua atividade, não consegue acessaro custeio pecuário, porque um bloqueiao outro. Ou você pega R$ 1 milhão decusteio pecuário, ou pega R$ 1,2 milhãopara a soja. Estamos pedindo (a altera-ção) porque hoje no Mato Grosso temosa integração lavoura-pecuária como umadas boas práticas que tem dado melho-res resultados para o produtor. Então, so-

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O SEGREDO DE QUEM FAZ

A safra 2016/17 estárecém no começo, oprodutor atrasou as

compras desementes,

defensivos efertilizantes. Como

atrasou a colheita, oprodutor ainda está

contabilizando ofinal da safra

Nós da Aprosoja/MTsomos a favor doimpeachment, já

nos manifestamossobre isso porqueentendemos que

não tem maisalternativa de

mudança sem asaída deste Governo

licitamos que não se atrapalhe o pecua-rista que quer virar agricultor, e o agri-cultor que quer virar pecuarista. Vocêdesincentiva o produtor a fazer a lavou-ra-pecuária, que é uma prática que temdado muito resultado, que tem sido unsdos grandes cases de sucesso do MatoGrosso. Pedimos a elevação dos limitespor CPF porque pelo módulo produtivodo Mato Grosso a gente precisa que te-nha um valor maior por CPF. Com R$1,2 milhão ele planta praticamente 500hectares. Precisamos de um aumento noteto. Sabemos que alguns pontos nesteano dificilmente serão atendidos, mas fo-ram sugestões que nós fizemos. E fo-mos bem recebidos pelo ministério.

A Granja — O que significa a Chi-na ter aderido ao programa Soja Plus?Quais são os efeitos ao produtormato-grossense?

Dalcin — Estivemos na semana pas-sada na China e assinamos o memoran-do de entendimento com eles, a associa-ção chinesa de compradores de soja, aCSIA, entidade que agrupa todos os com-pradores de soja da China, juntamentecom as principais ONGs que atuam na-quele país, que validaram o nosso me-morando. O Soja Plus é um programade melhorias contínuas que desenvolve-mos aqui no Mato Grosso no qual o pro-dutor passa por um treinamento, em queele vai melhorando dentro da proprieda-de, vai fazendo boas práticas de produ-ção, tem Reserva Legal, tem instalações

para os funcionários, que são registra-dos. O produtor atende a legislação bra-sileira vigente, tanto ambiental como tra-balhista e fundiária. Esse reconhecimen-to é um pedacinho do que pretendemosde ganhos para o Mato Grosso com arelação comercial com a China, nossoprincipal comprador hoje. Isso mostroulá que essa parceria vai ser cada vez mai-or. Eles têm a necessidade da segurançaalimentar, eles vão comprar mais soja. Eesse memorando nos aproxima muitomais. Logo após a assinatura, estivemoscom comitivas de argentinos e america-nos e mostraram que os chineses estãocom uma relação muito firme conosco enão tão firme com eles. Hoje temos essetipo de programa para oferecer como ga-rantia para eles de produção sustentável.É um diferencial que temos hoje frenteaos nossos principais competidores, Ar-gentina e Estados Unidos.

A Granja — Que outras ações emprol da produção sustentável são de-senvolvidas pela Aprosoja/MT?

Dalcin — O Soja Plus engloba todaa questão da produção. Temos o ProjetoReferência também, no qual o produtorcontrola seus custos de produção, comequipes que vão a campo. Como no SojaPlus, já criamos nossas equipes de cam-po. Hoje são mais de 700 produtores quetrabalham com o Soja Plus e queremosampliar esse número para mais de milrapidamente. Até porque a Europa vai as-sinar conosco provavelmente no próxi-mo mês (maio) memorando de entendi-mento por meio da Fediol, a Federaçãode Óleos Vegetais, e a Fefac, a Federa-ção Europeia dos Fabricantes de Rações,reconhecendo o Soja Plus aqui do MatoGrosso como um programa de boas prá-ticas sustentáveis. Que é o que o consu-midor dos produtos à base de soja queeles fazem lá na Europa está solicitandodeles. Querem que eles comprem pro-dutos de regiões que atendam as legisla-ções. E nós temos no Soja Plus a garan-tia que os nossos produtores que partici-pam estão com esse controle.

A Granja — Que efeitos têm paraa agricultura do Mato Grosso, o pro-dutor mato-grossense, o momento po-lítico e econômico conturbado quepassa o País?

Dalcin — Nós participamos muitodesse panorama político e econômico.

Temos uma frente parlamentar muitoatuante. A Aprosoja/MT participa dasreuniões e de todas as reuniões que afrente parlamentar faz em Brasília. Emtodos os pontos políticos temos partici-pado muito. E, realmente, agora, essaquestão política da corrupção, da ingo-vernabilidade do País, nos colocou emuma posição de ser a favor do impeach-ment, da mudança do Governo, porqueentendemos que não tem mais alternati-va de governo com o PT. Precisamos deuma mudança rápida porque começa aafetar o nosso setor, que tem dado supe-rávit na balança comercial, e no ano pas-sado foi o único que teve balanço positi-vo. E agora começamos a temer que essenúmero não será tão positivo assim nopróximo ano porque temos problemas desafra que estão se agravando. E nas re-giões do Mato Grosso, Norte de Goiás,Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauíe Bahia), estão com problemas. Isso tudovai afetar a economia de um setor quevinha dando resultados, mantendo os em-pregos. Sabemos que a tendência dosnossos produtores é que acabando a sa-fra é diminuir o número de funcionários.Isso tudo vai dar uma pressionada naquestão do desemprego também no cam-po. Precisamos que exista um Governoque dê confiança ao mercado. O merca-do do agronegócio anda sozinho, maspode ter interferências políticas que ti-rem a confiança desse mercado.