"o segredo de luísa", roteiro por eduardo ferrari

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(1) Todos os direitos autorais reservados conforme registro na Fundação Biblioteca Nacional em janeiro de 2013. É vetada a reprodução de qualquer parte da obra de adaptação do roteiro sem autorização prévia de seu autor. “O SEGREDO DE LUÍSA” Roteiro de Eduardo Ferrari. (1) Inspirado no livro de Fernando Dolabela. Janeiro de 2013 3º tratamento

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Roteiro inspirado no best-seller homônimo de Fernando Dolabela. O livro O Segredo de Luísa, escrito por Fernando Dolabela, publicado em 1999, trata da realização do sonho de abrir uma empresa. É um romance que envolve a vida sentimental da personagem principal Luísa, junto com a concretização da sua ideia de ter o seu próprio negócio. O roteiro foi feito com a autorização do autor seguindo a linha cronológica do romance de Dolabela e trazendo novos acontecimentos e personagens. Todos os direitos autorais reservados conforme registro na Fundação Biblioteca Nacional em janeiro de 2013 (veja pág. 60). É vetada a reprodução de qualquer parte da obra de adaptação do roteiro sem autorização prévia do autor.

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(1) Todos os direitos autorais reservados conforme registro na Fundação Biblioteca Nacional em janeiro de 2013. É

vetada a reprodução de qualquer parte da obra de adaptação do roteiro sem autorização prévia de seu autor.

“O SEGREDO DE LUÍSA”

Roteiro de Eduardo Ferrari.(1)

Inspirado no livro de Fernando Dolabela. Janeiro de 2013

3º tratamento

“O SEGREDO DE LUÍSA”

3º TRATAMENTO

2 ROTEIRO DE EDUARDO FERRARI INSPIRADO NO LIVRO DE FERNANDO DOLABELA

1) EXTERNA – “CASA DA AVÓ” – DIA

Sequência de abertura: A GOIABADA CASCÃO Caracteres em superposição: MINAS GERAIS, INTERIOR DO BRASIL - 1984 Abrimos com a imagem de uma pequena casa. A casa tem paredes vermelhas. A câmera mostra a casa no meio de uma grande área verde. Montanhas, também verdes e quase sem fim, estão ao fundo (paisagem típica de Minas). Um vale sobre outro. Da chaminé da casa vê-se saindo fumaça branca. A câmera vai se aproximando da casa até entrar subitamente pela janela. Lá dentro, encontra uma senhora de cabelos bem grisalhos remexendo na fornalha de um fogão a lenha, a avó MARIA AMÁLIA. Ao seu lado, olhando para cima, atentamente, está uma menina com cerca de seis ou sete anos de idade, LUÍSA.

MARIA AMÁLIA: - Tem que ser feito com calma, demora a chegar ao ponto e, mesmo com fogo baixo, respinga bastante no fogão.

LUÍSA, a neta, esboça uma pergunta, mas é interrompida pela avó:

MARIA AMÁLIA: - Mas tem coisa mais gostosa do que goiabada com queijo? Romeu e Julieta? O salgadinho do queijo com o doce da goiabada?

LUÍSA esboça outra pergunta, mas é novamente interrompida pela avó:

MARIA AMÁLIA: - Não fica ai parada, menina. Pega as goiabas que eu acabei de colher e traz aqui. Estão sobre a pia. Anda. Vai.

LUÍSA corre até a pia, do outro lado da cozinha. Quase não alcança as frutas, mas na ponta dos pés consegue pegá-las. Corre de volta e as entrega à avó. Está ofegante. Tenta uma última pergunta, mas a avó a interrompe novamente enquanto coloca as frutas na panela que já estava no fogo:

MARIA AMÁLIA: - Essa receita está na nossa família há quase 100 anos. Eu aprendi com minha mãe, sua bisavó, que aprendeu com a mãe dela.

LUÍSA sorri e esquece qualquer pergunta, mas sua avó não para de falar.

MARIA AMÁLIA: - Agora sobe aqui e vem ver o ponto. (pausa) Está vendo? Se a gente tiver persistência, tudo acontece!

LUÍSA sobe num banquinho para poder ver melhor.

MARIA AMÁLIA: - Um dia você é que vai ter que fazer, então presta atenção.

MARIA AMÁLIA vai mexendo na panela com uma colher de pau enquanto a câmera se afasta e tem a impressão que avó e neta continuam a conversar animadamente.

2) EXTERNA – “FACULDADE” – DIA

Caracteres em superposição: BELO HORIZONTE, BRASIL - 2005

“O SEGREDO DE LUÍSA”

3º TRATAMENTO

3 ROTEIRO DE EDUARDO FERRARI INSPIRADO NO LIVRO DE FERNANDO DOLABELA

LUÍSA sai da faculdade conversando animadamente com algumas colegas. É o último dia de aula do penúltimo ano do curso de odontologia. Estamos no mês de dezembro. No dia seguinte, Luísa viajará de Belo Horizonte a sua cidade natal, no interior de Minas, para as férias de verão. Só deve retornar a capital no mês de março do próximo ano. Luísa se despede da maioria de suas colegas e caminha com uma delas, HELENA, mais conhecida como LENINHA, sua melhor amiga da escola e talvez a única amiga que de fato fez durante o período universitário, até o estacionamento em busca do carro.

LUÍSA: - Eu nem acredito que as aulas terminaram. Estou parecendo terra arrasada. LENINHA: - O que é isso, Luísa? Amanhã você vai estar de volta a sua cidade natal e voltará a ser tratada como uma princesa. LUÍSA: - Nem me fale Leninha. Às vezes fico cansada só de pensar que tenho que voltar para lá e passar meses sem ter nada para fazer a não ser ouvir as mesmas conversas, rever os mesmos lugares e as mesmas pessoas que querem apenas que nada mude em suas vidas. LENINHA: - Quem me dera que tudo eu tivesse tudo garantido. Trabalho, pacientes, casamento, tudo numa cidade só para mim. Deus castiga quem reclama de barriga cheia, viu? LUÍSA: - Você não imagina do peso que é isso tudo. Principalmente, quando esses não são seus sonhos. São os outros que sonharam isso para você.

LENINHA ri de LUÍSA que acaba por acompanhá-la no sorriso. Cada uma entra no seu carro e saem lado a lado do estacionamento. Cada carro liga o pisca alerta para uma direção diferente e seguem para lados opostos da rua.

3) EXTERNA – “PELA ESTRADA AFORA” – DIA

Do carro corta para a imagem de um ônibus de viagem na estrada a caminho do interior. LUÍSA esta sentada numa das últimas poltronas do fundo. Ar de cansada. Óculos escuros. iPod no ouvido, alheia ao seu redor, onde duas senhoras conversam e um casal tenta fazer seu bebê parar de chorar. Algum tempo depois, alternando imagens do motorista dirigindo, das curvas da estrada e das montanhas ao redor, o ônibus chega ao seu destino. Na rodoviária, à sua espera, estão seu pai GERALDO, sua mãe MARIA HELENA, seu noivo DELCÍDIO, sua irmã CRISTINA, mais conhecida pelo apelido de TINA, e vários conhecidos da cidade que sempre estão de plantão por perto. LUÍSA é a última a descer do ônibus.

MARIA HELENA: - Luísa, que saudade! Que cara é essa? Nem parece que você chegou à sua cidade? Mais um ano e você estará de volta de vez. LUÍSA: - A sua benção minha mãe! Mas não exagere. Estive aqui há um mês, lembra-se? Só estou cansada. Só Isso. GERALDO: - Deus te abençoe, minha filha. Pode deixar que eu respondo pela sua mãe já que ela está mais preocupada com as encomendas da capital. Espero que tenha se lembrado. MARIA HELENA vai direto olhar as malas de LUÍSA.

“O SEGREDO DE LUÍSA”

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4 ROTEIRO DE EDUARDO FERRARI INSPIRADO NO LIVRO DE FERNANDO DOLABELA

TINA: - Oi maninha, ano que vem você vem e eu fico! LUÍSA: - Você precisa me lembrar disso o tempo todo? A propósito: eu estou bem viu? Todos riem menos LUÍSA. DELCÍDIO: - Olá querida! Que bom que dessa vez você veio para ficar mais que o fim de semana. DELCÍDIO tenta dar um beijo em LUÍSA que finge não ver e o evita. LUÍSA: - Oi Del, nem vi que você estava ai. DELCÍDIO: - É, eu já estou acostumado a não ser notado por você. GERALDO: - Vamos todos para o carro. (interrompendo DELCÍDIO) Ainda temos que ir para o sítio. Vão todos para o carro, menos DELCÍDIO. DELCÍDIO: - Luísa, a gente se vê depois. Ainda tenho que acertar algumas coisas em casa.

LUÍSA, TINA, GERALDO E MARIA HELENA entram no carro e saem. DELCÍDIO segue em outra direção.

4) EXTERNA – “ESTRADA RURAL” – DIA

LUÍSA faz de carro o caminho da cidade até o sítio de sua família por uma estrada rural. Dentro do carro, além de LUÍSA, estão sua mãe MARIA HELENA, sua irmã TINA e seu pai GERALDO ao volante. Na paisagem é possível ver algumas crianças colhendo goiabas num pé e colocando as frutas em cestos que são levados até a porta de uma pequena casa com paredes brancas, mas descascadas. Uma senhora com um lenço na cabeça está sentada descascando as frutas. Há diversos potes de plástico branco à sua frente. Ainda na paisagem, há outras casas com os mesmos potes de plástico branco com outras mulheres também fazendo doce.

LUÍSA: - Eu nunca tinha reparado que à beira da estrada tinha essas “doceiras”. MARIA HELENA: - Luísa, essas senhoras estão aí há décadas. É uma tradição da região e do nosso estado. Quem não conhece a sobremesa “Romeu e Julieta” no Brasil afora? Ou simplesmente “goiabada cascão com queijo”? (pausa) Por aqui, as pessoas param nas casas para comprar barras de goiabada caseira.

LUÍSA: - Eu sei mãe... Mas elas parecem tão pobres. Essa venda de parada de estrada não deve render quase nenhum dinheiro. GERALDO: - É minha filha, o mundo é assim. LUÍSA: - Não, pai. O senhor está enganado. Somos nós é que fazemos o mundo assim. Somos nós.

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Todos no carro ficam em silêncio. LUÍSA continua a olhar pela janela. De fora do carro é possível ver seu rosto enquanto o carro se afasta.

5) INTERNA & EXTERNA – “SEREIA AZUL” – DIA

LUÍSA está a caminho do “Sereia Azul”, loja multiuso de FERNANDA, sua tia favorita, irmã de sua mãe MARIA HELENA. O local possui dois ambientes distintos; um que se parece com um pequeno café colonial e outro, mais ao fundo, que é um salão de beleza para mulheres que funciona meio horário, antes do café abrir por volta das duas horas da tarde. LUÍSA está visivelmente entediada. Apenas quando a tia lhe dirige a palavra parece se animar. Aos clientes, um sorriso a cada troca de olhar, mas pouco interesse. Parece um bibelô. Está ansiosa porque quer conversar em particular com a tia. Ela sabe que precisa esperar o expediente acabar, mas mal se contem. Estamos no meio da tarde. Aos poucos, os clientes vão chegando e se sentando às mesas do lugar, famoso pelos petiscos. O primeiro deles é “SEU” VIANA, o prefeito da cidade, com dois correligionários. Tia FERNANDA vai até eles para cumprimentá-los. Logo depois é a vez do PADRE ANTÔNIO, mas ele não entra logo de cara. Primeiro para perto da porta e olha de soslaio para ver se “SEU” VIANA não está. Era a última pessoa que ele queria ver por lá, mas ele está. Faz menção de ir embora, mas ao se virar encontra com DOUTOR LUÍS, dona da maior clínica odontológica da cidade.

DOUTOR LUÍS: - A sua benção, padre Antônio! Desistiu de entrar? Não vai me dizer que continua evitando “Seu” Viana, o prefeito? (nessa hora todos dentro do Sereia Azul olham para ambos na entrada do estabelecimento). PADRE ANTÔNIO: - Deus te abençoe, meu filho! Eu? Não preciso evitar ninguém. (diz em voz alta e olha de lado para o PREFEITO) Passei em frente e como ouvi falar que Luísa estava na cidade dei uma olhadinha para ver se ela estava ai dentro. Só isso. DOUTOR LUÍS: - Ah, pois eu vim fazer a mesma coisa. Ver Luísa, nossa futura dentista. A clínica mal pode esperar para ficar “sob nova direção”. Estou precisando me aposentar, o senhor sabe. Então, vamos entrando, vamos entrando. (Dirigindo-se à LUÍSA) Que saudade do minha futura dentista preferida. Chegou bem? Essa semana vamos marcar uma visita à clínica para você ir se acostumando. LUÍSA: - Boa tarde, doutor Luís! (aproximando-se para dar-lhe um abraço) Cheguei bem, obrigada. Nós vamos marcar, viu? Mas não precisa ter pressa. Falta um ano inteiro de curso. (Dirigindo-se ao PADRE que estava ao lado) À sua benção, padre! (Dirigindo-se aos dois) Mas sentem que eu vou trazer um “Romeu e Julieta” para vocês.

DOUTOR LUÍS e o PADRE ANTÔNIO se sentam. LUÍSA vai até o balcão buscar o doce. Eles começam a conversar.

DOUTOR LUÍS: - Mas me conte as novidades da paróquia, padre? Ouvi falar que o arcebispo de Belo Horizonte deve fazer-lhe uma visita? PADRE ANTÔNIO: - Pois é, Doutor Luís. É verdade, ele vem mesmo. Este ano, podemos ser a sede do encontro litúrgico da nossa arquidiocese, mas me preocupo que a cidade não está bem

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cuidada, sabe? (olhando de soslaio para o “SEU” VIANA) O posto de saúde, por exemplo? Tenho até vergonha de passar perto dele com o bispo. “SEU” VIANA: - Sabe qual é o problema de “certas” pessoas nessa cidade? (se dirigindo aos seus correligionários) É que elas não conseguem nem administrar suas “paróquias” e querem dar conta do negócio dos outros. A nossa igreja, por exemplo, está que não recebe uma mão de tinta há anos. (diz olhando de soslaio para o PADRE)

FERNANDA: (de pé, intervém) - Senhores, por favor, sem discussões... Se forem brigar, a porta é serventia da casa. Já se forem civilizados, a melhor goiabada cascão do mundo é cortesia da casa. Então? O que escolhem? “SEU” VIANA: - Desculpe, Dona Fernanda.

PADRE ANTÔNIO:

- Desculpe, Dona Fernanda.

“SEU” VIANA e PADRE ANTÔNIO: (se entreolhando) - Nós aceitamos a goiabada, não é mesmo? (dizem ambos quase em uníssono)

Nesse instante, LUÍSA se aproxima e serve os doces para as mesas de PADRE ANTÔNIO e de “SEU” VIANA. Todos conversam entre si animadamente. Novos clientes chegam ao Sereia Azul e se sentam. O local fica ainda mais animado. Tem-se a impressão da passagem do tempo do meio da tarde até próximo do pôr do sol.

6) INTERNA & EXTERNA – “LUSCO FUSCO” – DIA & NOITE

O Sereia Azul está fechando. FERNANDA confere o caixa. LUÍSA, inquieta, de um lado para o outro, tenta chamar a atenção da tia. O último cliente sai do estabelecimento. Ela, então, volta-se para a tia.

LUÍSA: - Tia Fernanda, preciso conversar com a senhora. Mas não se assuste, vou direto ao assunto (pequena pausa). Estou querendo montar um negócio meu. Uma fábrica de goiabada cascão, pequena no início, mas, se o negócio crescer, vender no Brasil todo e até exportar. Acho que vai ser um grande sucesso! O que a senhora acha? FERNANDA: - É o que todo mundo fala, que a goiabada cascão seria um grande negócio. Pega a garrafa de café pra mim. LUÍSA: - Eu gostaria de ter um negócio meu, que me desse liberdade, que me permitisse ficar rica e independente. FERNANDA: - Mas você vai conseguir tudo isso como dentista! Vai praticamente herdar a clínica e todos os clientes do Doutor Luís. E será uma das pessoas mais importantes da nossa cidade. LUÍSA: - Não tenho mais vontade de ser dentista. Como alguém pode ser feliz fazendo o que não é o seu sonho? FERNANDA:

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7 ROTEIRO DE EDUARDO FERRARI INSPIRADO NO LIVRO DE FERNANDO DOLABELA

- Ah, meu Deus do céu, mas que conversa, hein? Logo num sábado. O que aconteceu para você falar tanta besteira assim? Vamos mudar de assunto. Ajude-me a fechar a loja e vamos embora agora mesmo. (FERNANDA vai saindo da loja) LUÍSA: - Mas, tia... A senhora nem me deixou explicar. FERNANDA: - Vamos, vou te acompanhar até em casa.

Ambas caminham em direção à praça. LUÍSA fica um instante em silêncio. LUÍSA: - Tia, eu estou falando sério. FERNANDA: - Você só pode estar brincando. Eu, com o Sereia Azul, tenho esse trabalhão todo, imagine as dificuldades que você vai ter com uma fábrica dessas! (pausa) A começar pelo capital. Onde pensa que vai arrumar o dinheiro? E como fica o casamento? Delcídio vai concordar? Que loucura, minha filha!

LUÍSA: - Mas tia como ninguém pensou nessa ideia antes? A nossa goiabada já é famosa, mas nem o Brasil nem ninguém ganha dinheiro com ela. Lembra-se do que aconteceu com o pão de queijo mineiro? Demorou, mas hoje muita gente ganha dinheiro com isso. Já pensei em vários detalhes, como formato, embalagem, nome da empresa: Goiabadas Maria Amália Ltda. Acho que o nome da vovó irá abençoar a minha ideia. FERNANDA: - Luísa, você acha que sua ideia é a primeira? Várias pessoas em Ponte Nova já tentaram isso. O “Seu” Camilo, nosso industrial de plantão, apesar de toda a experiência e de muito dinheiro investido, não ganhou um tostão. (pausa) Para chegar onde estou, o que não é muito, tive uma vida de trabalho por trás. Você ainda não tinha nascido quando comecei a vender produtos de porta em porta... Depois, consegui, Deus sabe como, um lugar de caixa numa mercearia. (pausa) Pronto, agora entra.

Ambas chegam à frente da casa dos pais de LUÍSA. Elas se despedem friamente. LUÍSA entra.

7) INTERNA – “ALMOÇO EM FAMÍLIA” – DIA

Há um mês LUÍSA não vinha para sua cidade natal. É domingo. O almoço, feito especialmente para ela, parece um grande churrasco, mas tem os pratos postos numa mesa para mais de 20 pessoas. GERALDO, pai de LUÍSA, prepara as carnes numa grande grelha enquanto os demais conversam animadamente. LUÍSA se desvencilha das pessoas, principalmente de DELCÍDIO que fica falando sozinho, e vai para o lado de seu pai. A avó MESTRA, perto dos seus 90 anos e mãe de seu pai GERALDO, única remanescente viva dos avós de LUÍSA, circula pelo ambiente onde vez ou outra faz algum comentário.

LUÍSA: - Pai, o senhor é feliz? GERALDO: - Que pergunta é essa minha filha! Claro que sou. Tenho você, sua irmã, sua mãe... LUÍSA: - Não, pai. Não é disso que estou falando. Quero saber se o senhor é feliz com as escolhas que fez. O senhor se sente realizado? GERALDO:

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8 ROTEIRO DE EDUARDO FERRARI INSPIRADO NO LIVRO DE FERNANDO DOLABELA

- Claro que sou. Fui mais longe do que imaginava. Não tenho curso superior, mas já fui secretário de educação no município. Eduquei minhas filhas e uma delas vai se tornar doutora. Imagine onde ela vai chegar? (na sequência, virando-se para algumas pessoas próximas, diz) A carne já está quase pronta. LUÍSA: - Mas pai, o senhor nunca pensou em ser outra coisa além de funcionário público? O senhor não teve um sonho escondido? GERALDO: - Meu sonho não está escondido, minha filha! Meu sonho era ver você se tornar doutora e esse sonho está muito próximo. Em breve, você vai voltar para nossa cidade, vai herdar centenas de pacientes e vai ser a principal dentista da região. O que mais eu poderia querer da vida? LUÍSA: - Pai, é exatamente sobre isso que precisamos conversar. AVÓ MESTRA: - Você está é precisando comer mais, minha filha! Anda tão magrinha! (diz à LUÍSA ao passar caminhando lentamente diante dela) GERALDO: - Conversar sobre o que, Luísa? (sem prestar atenção e conversando com outras pessoas que passam por perto) A carne está servida! LUÍSA: - Pai, o senhor não está prestando atenção. Eu não quero ser dentista! GERALDO: - Não diga bobagens, Luísa! Qualquer jovem dessa cidade gostaria de estar em seu lugar. (diz novamente sem dar muita atenção à LUÍSA) LUÍSA: - Eu não quero estar nesse lugar. (notando que seu pai continua servindo os outros e dando pouca atenção ao que diz, LUÍSA quase grita) Eu não quero ser dentista! Esse é o seu sonho, não o meu.

Todos no ambiente ouvem LUÍSA e param para olhar para ela e para seu pai, que para imediatamente de servir os pratos. Ao fundo sua mãe deixa cair o prato. DELCÍDIO bebe de uma só vez um copo de cachaça que enfeitava sua mão há tempos.

LUÍSA: (diante do olhar de todos, responde) - Vocês me dão licença, mas não estou me sentindo bem. Vou para o meu quarto. Obrigada a todos por vir me ver. AVÓ MESTRA: (sentada, dizendo em voz alta no meio de todos) - Essa menina não aproveita a inteligência que Deus lhe deu. Não sei o que “ele” pode achar do desperdício de sua benção. (pausa) Tem mais carne saindo ai, Geraldo?

8) INTERNA – “CASA DE BONECA” – DIA

LUÍSA está deitada na cama de seu quarto. MARIA HELENA, sua mãe, bate à porta e antes de receber resposta abre a porta lentamente e vai entrando. Senta-se na beirada da cama.

MARIA HELENA: - Que grande “show”, hein! Todos ficaram impressionados. LUÍSA:

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9 ROTEIRO DE EDUARDO FERRARI INSPIRADO NO LIVRO DE FERNANDO DOLABELA

- Mãe, eu falei sério... MARIA HELENA: - Eu não duvido... Apenas não entendo o que você quer fazer com sua vida. Em pouco tempo pode ter o que a maioria dos jovens na sua idade não tem. Um futuro garantido. LUÍSA: - Mãe... E quem disse para a senhora que isso é uma coisa boa? Eu não quero ser dentista. Aliás, detesto aquela faculdade. Eu queria mesmo era fazer comunicação, a senhora sabe. Só não fiz porque pai não deixou. Ele praticamente escolheu o curso e a faculdade pra mim. Eu não vou voltar para aquela escola... MARIA HELENA: - E você quer fazer o que? LUÍSA: - Eu quero ser dona do meu nariz, dos meus sonhos e do meu destino, mamãe. Eu já tenho até a ideia do que fazer: uma fábrica de goiabada cascão com o nome da vovó Amália: Goiabadas Maria Amália Ltda. ou GMA Alimentos. A senhora não imagina como esse doce, símbolo de Minas Gerais, é disputado por todo mundo que eu conheço na capital. Tenho certeza de que posso fazer dele um sucesso. MARIA HELENA: - Você perdeu o juízo de vez? Não use o santo nome de sua avó em vão. Mamãe sonhava em ter uma neta doutora, isso sim. Era o assunto preferido dela. Imagine a reação dela no túmulo nesse momento. Deve estar se revirando toda, coitada! LUÍSA: - Tia Fernanda falou a mesma coisa, mas eu tenho certeza de que vovó iria me apoiar. Foi ela quem me ensinou a fazer a goiabada e à senhora e também à tia Fernanda. Então: eu parto de volta para Belo Horizonte amanhã. Agora se a senhora me der licença, tenho que arrumar a mala.

MARIA HELENA se dirige à porta. Antes de sair, se vira para a LUÍSA.

MARIA HELENA: - Minha filha, tome cuidado com o que vai fazer. Termine pelo menos seu curso e case-se com seu noivo. Depois disso, você pode fazer o que quiser. LUÍSA: - Se eu fizer isso então é que não terei feito o que quero.

9) EXTERNA – DE VOLTA PARA “CASA” – INÍCIO DA MANHÃ

LUÍSA sai pelo portão de casa. Mochila nas costas. Acaba de amanhecer. Ela caminha em direção à rodoviária. O caminho é relativamente curto. Um quilômetro, no máximo. Quando chega, o balcão de vendas de passagens acaba de abrir. Faltam uns 15 minutos para a saída do ônibus que acaba de estacionar. Ela pede uma passagem para Belo Horizonte. Enquanto paga, alguém se coloca atrás dela na fila. Quando LUÍSA vira, toma um susto. É DELCÍDIO.

LUÍSA: - Nossa, Del. Que susto. Assim você me mata. O que aconteceu? DELCÍDIO: - Ouvi dizer que você ia voltar para Belo Horizonte. Você nem me avisou nada. Eu soube pela sua mãe. Assim é você que me mata, Luísa! Eu é que pergunto o que aconteceu? LUÍSA:

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10 ROTEIRO DE EDUARDO FERRARI INSPIRADO NO LIVRO DE FERNANDO DOLABELA

- Não aconteceu nada em especial. Estou matriculada num curso de férias na faculdade. Tenho algumas coisas para resolver por lá. DELCÍDIO: - Resolver o que na faculdade se a cidade toda já está falando que você nem quer mais ser dentista? Porque não me contou antes? Tive que ser o último a saber. Fiquei parecendo marido traído. LUÍSA: - Não é nada disso. Você não é marido traído. Apenas é um assunto delicado. Todos esperam que eu seja alguém que eu não quero ser. Aliás, esperam que eu seja alguém que eu nunca vou ser. Preciso fazer isso, ao menos tentar fazer, antes que eu viva uma vida que não é minha. DELCÍDIO: - Tudo bem, eu não vim aqui para engrossar a fila de quem acha que você enlouqueceu. Quero que se lembre de que estou do seu lado. Você quer que eu vá com você para Belo Horizonte? Posso tirar o dia de folga, ligo para a prefeitura e digo que não vou hoje. LUÍSA: - O que é isso, Del? Não precisa. Além disso, você não pode ficar faltando assim da repartição. Você sempre foi um funcionário público exemplar. Guarde essa falta para o dia que realmente precisar... Façamos assim. No primeiro fim de semana que der, você vai para Belo Horizonte e se encontra comigo por lá. Que tal? DELCÍDIO: - Como se eu tivesse escolha quando você sugere alguma coisa, não é? Mas tudo bem. Estou mesmo numa semana cheia no trabalho. Gostei da ideia do fim de semana. Vou na sexta-feira então. LUÍSA: - Não, pode deixar que eu te ligo e confirmo antes de você ir. Pode ser que eu também tenha aulas aos sábados, mas na primeira folga eu te aviso.

O ônibus buzina avisando que está quase saindo. LUÍSA e DELCÍDIO trocam um leve beijo. Ela entra no ônibus. Da janela faz um leve aceno com a mão para ele. DELCÍDIO assiste à partida até o ônibus sair de vista.

10) EXTERNA & INTERNA – “FACULDADE” – DIA

LUÍSA chega à faculdade e fica na portaria por um instante. Parece esperar alguém. Num instante, LENINHA aparece e vem em sua direção.

LENINHA: - Ei querida! Está esperando há muito tempo? Não fala nada. A primeira coisa que quero saber é porque inventou esse curso de verão? Não passou tempo bastante na cidade durante o ano letivo? Só você mesma, mais estudo ao invés de descanso... LUÍSA: - Não é nada disso, Leninha. Eu não quero é ficar no interior durante três meses sem fazer nada. Mas vou voltar no fim de semana. Pelo menos nesse próximo. Depois eu vejo o que faço nos demais. LENINHA: - Está bom. Vamos para a aula então? Ah, o que foi mesmo que você escolheu? Ortodontia? LUÍSA:

“O SEGREDO DE LUÍSA”

3º TRATAMENTO

11 ROTEIRO DE EDUARDO FERRARI INSPIRADO NO LIVRO DE FERNANDO DOLABELA

- Está louca, menina? Escolhi marketing e empreendedorismo. LENINHA: - Louca está você. O que é mesmo que isso tem a ver com nosso curso? Quem já ouviu falar numa dentista empreendedora? Você tem cada uma. LUÍSA: - Você sabe que virar doutora é sonho dos meus pais, não meu. LENINHA: - E como foi a conversa com seus pais e com sua tia empresária? Eles aprovaram sua ideia? LUÍSA: - O que você acha? Claro que eles são contra. Acham que sou louca por colocar em risco meu futuro, mas. LENINHA: - Mas a teimosa não deu ouvidos, não é? Vamos para aula.

LUÍSA e LENINHA entram.

11) INTERNA – “O CARTAZ” – DIA

LUÍSA e LENINHA caminham lado a lado. Estão conversando animadamente pelo corredor das salas de aula. Vários outros alunos também caminham, procuram por suas aulas, entram e saem das salas. Antes de chegar a sua própria sala, LUÍSA deixa cair um dos livros, se abaixa para pegá-lo e ao levantar vê um cartaz anunciando uma palestra. O cartaz é enorme, LUÍSA quase se pergunta como não o notou antes. O cartaz diz: “Quero construir a minha história” Entenda a pedagogia empreendedora. Aula Magna com Fernando Dolabela. Auditório Central às 10 horas.

LENINHA: - Vamos Luísa! Estamos atrasadas. Já passam das dez! LUÍSA: - É mesmo (LUÍSA olha para o relógio que marca quase 10h30). Passam das 10. Não posso perder essa palestra. Preciso correr. LENINHA: - Luísa, mas a nossa aula é outra. LUÍSA: - Não se preocupe. Tenho que ir. A gente se vê mais tarde.

LUÍSA sai correndo e deixa LENINHA sozinha.

12) INTERNA – “A PALESTRA” – DIA

LUÍSA entra correndo no auditório. Atrasada. A palestra começou. O professor FERNANDO está em pé no auditório. Está falando. LUÍSA para um instante procurando por um lugar, mas o auditório está cheio. Vê uma cadeira quase no meio da plateia. Vai em direção a ela. Para entrar na fila quase para a palestra e faz várias pessoas terem que se levantar de suas cadeiras. FERNANDO para de falar e esperar que LUÍSA se sentasse.

FERNANDO: - Como eu ia tentando dizer antes de ser interrompido pela senhorita...?

“O SEGREDO DE LUÍSA”

3º TRATAMENTO

12 ROTEIRO DE EDUARDO FERRARI INSPIRADO NO LIVRO DE FERNANDO DOLABELA

LUÍSA: - Luísa, professor, senhorita “Luísa”. Desculpe-me. (risos na plateia) FERNANDO: - Mas eu dizia: não há desenvolvimento sem empreendedorismo. Tudo o que não for empreendedorismo é custo. O governo só gera custos, ele não produz nada. Não que ele não deva existir, isso é indiscutível. O emprego público é só custo. Já a empresa é o local onde se gera riqueza. (pausa) Ou seja, a capacidade de gerar valores materiais e não materiais é que move a economia. O Brasil criou o patamar para o salto de desenvolvimento, mas não podemos viver de produtos como minério de ferro, papel e petróleo. Não podemos ter uma economia baseada em oferta de riqueza do solo. Se quisermos chegar a níveis altos e ser um país de primeiro mundo, temos que inovar. E empreender é a única forma de combater a miséria.

A palestra prossegue. A cada palavra, LUÍSA se envolve mais. Parece ter encontrado a resposta para todas as suas perguntas. Parece ter encontrado quem pode incentivá-la a enfrentar o grande desafio ao qual ela está prestes a começar. Ela espera a palestra terminar para falar com o professor.

LUÍSA: - Professor Fernando? Podemos falar um instante? A palestra do senhor acaba de mudar minha vida. Ou melhor: ela acaba de me dar a coragem para que eu mude a minha vida. Eu tenho uma ideia para um produto revolucionário. FERNANDO: - É o que todos dizem, minha cara! Ao menos é o que todos pensam.

LUÍSA: - Eu tenho certeza de que na hora que eu contar do que se trata, o senhor vai concordar comigo. Era justamente isso que eu queria pedir: que o senhor pudesse ouvir a minha ideia e me ajudar a dar os primeiros passos para seguir adiante com ela. Eu sei que tenho todas as características para ser uma empreendedora de sucesso.

FERNANDO: - Então você acha que tem tudo que se precisa para ser uma empreendedora? E de sucesso ainda por cima? Tem certeza? O caminho é longo, não se engane. Mas façamos assim: você me convenceu assim que interrompeu minha palestra. LUÍSA: - Ai, me desculpe por aquilo, professor. FERNANDO: - Não se preocupe, estou apenas tentando descontrair porque sei que você ainda não tem ideia exata do que te espera. Mas já que quer saber, eu aceito conversarmos. Pegue meu cartão. (pausa) Estou fora da cidade o restante da semana, mas na próxima marcamos. Enquanto isso, tente não se atrasar nos próximos compromissos. Um empreendedor de verdade nunca chega por último.

LUÍSA: - Ah, obrigada professor! Muito obrigada de verdade. Eu ligo para o senhor no início da próxima semana. Obrigada mesmo.

LUÍSA e professor FERNANDO só então percebem que são os últimos no auditório. Um funcionário da escola começa a apagar as luzes e fechar as portas quando eles se apressam para a saída. Eles saem conversando animadamente. Vemos os dois caminhando do ponto de vista de dentro do auditório até o funcionário fechar as portas.

“O SEGREDO DE LUÍSA”

3º TRATAMENTO

13 ROTEIRO DE EDUARDO FERRARI INSPIRADO NO LIVRO DE FERNANDO DOLABELA

13) INTERNA – “A EXPERIÊNCIA” – DIA

TINA chega à porta do apartamento de LUÍSA, alugado por seus pais. Ela procura a chaves na bolsa até encontrar. Abre a porta e entra. Encontra sua irmã de avental preparando algo na cozinha, aparentemente um doce. LUÍSA se assusta com a chegada repentina de TINA.

LUÍSA: - Cristina! Que susto menina! Parece um fantasma! Não te vi entrar. O que está fazendo aqui? Não esperava ninguém por esses dias! TINA: - O que você acha que estou fazendo aqui? Vim em missão secreta enviada por nossos pais para te vigiar e ver se você não está fazendo nenhuma besteira... Você não está fazendo nenhuma besteira, não é? LUÍSA: - Tina, claro que não. Estou é tomando as rédeas da minha vida, isso sim! Mas que história é essa de enviada pelos nossos pais? TINA: - Também, é claro, mas estou vendo que se esqueceu de que as provas do vestibular começam neste fim de semana. Vim uns dias antes para ficar bem descansada. O que você está fazendo ai na cozinha? LUÍZA: - Ah, é uma surpresa. Sente-se ai que vou servir um pouco e você me diz o que acha. É a receita da nossa família. TINA: - Oba! Já sei o que é. Nosso famoso doce de goiaba. O culpado de tudo, mas eu aceito. LUÍSA: - Culpado? Como assim? TINA: - Todo mundo na cidade já sabe da sua ideia maluca de montar uma fábrica de goiabada. Agora já faz parte das lendas locais... A moça bonita quase doutora que ia se casar com um bem sucedido estatutário local que quer virar cozinheira e ficar solteira. Estou vendo que cheguei bem na hora. (TINA olha de cima a baixo de LUÍSA vestida como cozinheira, de pé no chão e lenço na cabeça, e cai na risada). LUÍSA: - Sei. Fique quieta ai e experimenta o “culpado” então... (LUÍSA entrega um pratinho com o doce para TINA que experimenta) TINA: (experimentando uma colherada) - Argh! Cof, cof, cof! Eca! Acho que você usou goiaba estragada ou errou a receita. Está ruim demais! (diz limpando a língua com um guardanapo) LUÍSA: - Esta não é a goiabada da receita da nossa família. Comprei no supermercado da esquina. TINA: - Mas que brincadeira, hein? Será que alguém normal aguenta comer isso? LUÍSA:

“O SEGREDO DE LUÍSA”

3º TRATAMENTO

14 ROTEIRO DE EDUARDO FERRARI INSPIRADO NO LIVRO DE FERNANDO DOLABELA

- Tia Fernanda sempre diz que fazemos a melhor goiabada do mundo? Queria saber se realmente tinha diferença. TINA: - Mas você foi testar logo comigo? LUÍSA: - Não foi só com você. Já fiz esse teste com a Leninha, minha colega de faculdade. E então? Acha que estou ficando louca?

TINA: - Minha irmã, espero que você saiba o que está fazendo. Agora me dá um pouco do doce que você fez de verdade que o cheira está muito bom.

14) INTERNA – “ENTREVISTA COM PROFESSOR” – DIA

LUÍSA entra na sala e dá de cara com um quadro de aula, que na verdade é toda a parede de entrada da sala, escrito com letras vermelhas sem nenhum espaço sobrando. Assusta-se, mas para um instante. O professor ainda não está na sala. LUÍSA começa a ler para si mesma, mas em voz alta...

LUÍSA: - Diferencial do produto... Forma de distribuição... Concorrentes... Qualidade... Processo de fabricação... Promoção... Propaganda... Novos consumidores... Produção em massa... Durabilidade do produto...

Pequena pausa na leitura. Luísa continua de pé diante do quadro. A câmera mostra de longe Luísa no meio do quadro como se fosse pequena e volta ao seu rosto. Ela prossegue a leitura.

LUÍSA: - Será possível atrair novos consumidores? Como conservar a qualidade do produto numa escala de produção industrial? Porque as pessoas irão procurar um produto ao invés de um do concorrente.

LUÍSA é interrompida pela voz do professor entrando na sala. Novamente se assusta, mas abre um sorriso.

FERNANDO: - Então você já encontrou as anotações iniciais que fiz para a nossa conversa, Luísa? LUÍSA: - Iniciais, professor? (pausa) Ah, a propósito: muito obrigada por me receber. Agora que li isso, me sinto como se eu voltasse a ser uma criança que estivesse sendo alfabetizada. Li, mas não entendi nenhuma palavra. Estou repleta de perguntas para o senhor... FERNANDO: - Ótimo. Eu também estou repleto de perguntas para “você”, mas, por favor, não me chame mais de senhor que eu não sou tão velho assim. A primeira coisa que você vai precisar é ler sobre como o empreendedor cria uma empresa. (Fernando mostra uma grande pilha de livros para Luíza, sinalizando para ela pegá-los).

FERNANDO e LUÍSA se sentam, ele na mesa do professor, ela na primeira fileira da sala de aula, na carteira logo em frente, como uma aluna, enquanto a câmera se afasta mostra ambos continuando a conversar.

15) INTERNA & EXTERNA – “CAIXA POSTAL” – DIA & NOITE

“O SEGREDO DE LUÍSA”

3º TRATAMENTO

15 ROTEIRO DE EDUARDO FERRARI INSPIRADO NO LIVRO DE FERNANDO DOLABELA

DELCÍDIO, GERALDO, TINA, FERNANDA e MARIA HELENA tentam falar com LUÍSA pelo telefone sem sucesso. A cada ligação aparece apenas a outra pessoa falando ao telefone. LUÍSA não aparece em cena. Logo de manhã, DELCÍDIO tenta falar com LUÍSA pelo telefone. Ele está no meio da repartição pública onde trabalha e liga do telefone fixo para o celular dela. Cai direto na caixa postal. Ele deixa recado.

DELCÍDIO: - Querida, já se passaram algumas semanas e você não me ligou? Pensei que fôssemos encontrar num fim de semana desses. Que tal o próximo? Posso estar ai já na sexta-feira. O que acha? Ligue assim que ouvir esse recado. Beijos.

Uma hora depois, GERALDO, pai de LUÍSA, tentar falar com ela pelo telefone. Ele está no sítio e liga do seu celular para o celular dela. Cai direto na caixa postal. Ele deixa recado.

GERALDO: - Luísa? É seu pai. Eu e sua mãe tivemos uma ideia. Devo ir a Belo Horizonte nos próximos dias para resolver algumas coisas então espero que possamos falar. Ligue para combinarmos.

TINA tenta falar com LUÍSA pelo telefone no meio da tarde. Ela está no apartamento em Belo Horizonte (é possível reconhecer a sala onde esteve com LUÍSA) e liga do seu celular para o celular de LUÍSA. Cai direto na caixa postal. Ela deixa recado.

TINA: - Irmãzinha querida! Por onde anda você? Foi sequestrada? (risos) Estou querendo receber umas amigas no apartamento hoje à noite. É um problema para você? Liga pra mim!

Pouco depois é a vez de tia FERNANDA ligar para LUÍSA. Ela está no Sereia Azul, sentada, fazendo as unhas com LULU BONECA. Cai direto na caixa postal. Ela deixa recado.

FERNANDA: - Querida sobrinha, pensei muito sobre o que falamos sobre seu projeto. Desculpe-me se reagi mal. É que sei que o seu desafio não será pequeno, mas pode contar comigo. LULU BONECA: (interrompendo FERNANDA) - Ai, manda um beijo para Luísa e diz que estou morrendo de saudades. Ela precisa vir fazer as unhas comigo! FERNANDA: - Espera, menina! Não está vendo que quem atendeu foi a caixa postal? Estou deixando uma mensagem para ela... Onde eu estava? Ah, sim, Luísa... Eu quero o melhor para você. Vou te ligar de novo depois. Beijos

No fim da tarde, é a vez da mãe de LUÍSA, MARIA HELENA ligar. Ela está na cozinha e liga do telefone de sua casa. Mais uma vez cai na caixa postal. Ela deixa recado.

MARIA HELENA: - À sua benção, minha filha! Fiquei preocupada com você. Já faz semanas que você não dá notícias. Seu pai me falou que te ligou hoje, mas não conseguiu falar. Estou preocupada. Ligue para sua mãe assim que puder. Fica com Deus!

Sem conseguir falar com LUÍSA pelo celular, GERALDO, seu pai, liga para o telefone no apartamento, mas quem atende é TINA. Ambos dividem a tela enquanto conversam.

TINA: - Alô! (diz ao pegar o telefone)

“O SEGREDO DE LUÍSA”

3º TRATAMENTO

16 ROTEIRO DE EDUARDO FERRARI INSPIRADO NO LIVRO DE FERNANDO DOLABELA

GERALDO: - Oi, minha filha! Cadê a sua irmã? Tem notícias dela? Estou tentando falar com ela o dia inteiro. TINA: - Oi pai! Luísa saiu cedo. Eu também tentei falar com ela e não consegui. Mas ela deve chegar daqui há pouco. O senhor quer que eu dê algum recado? GERALDO: - Saiu cedo e está dia inteiro fora? Eu quero é combinar uma coisa com você... A próxima vez que ela sair pergunte aonde ela vai. Se ela não disser, vá atrás dela... A gente precisa saber o que sua irmã está fazendo que desaparece desse jeito. Você me ajuda nisso, filha? TINA: - Ah, pai... Que coisa chata! Seguir a Luísa? Precisa disso? Basta perguntar não? GERALDO: - Basta perguntar, se ela responder. Eu também vou perguntar, mas se ela não falar, você nos ajuda nisso, não é? É para o próprio bem dela, Tina. TINA: - Está bem, pai! Vou tentar.

16) INTERNA – “REENCONTRO COM O PROFESSOR” – DIA

A cena do reencontro entre FERNANDO e LUÍSA acontece num escritório, fora da universidade. LUÍSA está entusiasmada. Leu todos os livros e chega com questionário de perguntas completamente respondido. Ela mostra o volume de papéis preenchidos. Orgulhosa. FERNANDO sorri e mostra a nova pilha de livros que LUÍSA precisará ler, ainda maior do que a anterior.

FERNANDO: - Depois de ler tudo isso, de novo, tenho uma nova tarefa para você. Na verdade, uma lição de casa para você resolver: o que faria do SEU produto um produto único? LUÍSA: - Professor, quando é que o senhor vai começar a responder as suas próprias perguntas e também as minhas? Eu preciso de ajuda para fazer essa ideia dar certo. Tem horas que essas questões me trazem mais dúvidas do que certezas. De que adianta? FERNANDO: - Luísa, mas é exatamente isso que eu estou tentando te mostrar. As soluções e as respostas às suas questões, principalmente sobre se seu produto e ideia vão dar certo, estão em você. Dependem da sua persistência e coragem em enfrentar os desafios de erguer uma empresa. Mas agora eu tenho que sair. Tenho um compromisso de conhecimento muito importante. LUÍSA: - Vai a algum seminário ou palestra de empreendedorismo, professor? FERNANDO: - Não. Vou pegar um cineminha à tarde com a minha esposa para aproveitarmos o dia de folga. LUÍSA:

“O SEGREDO DE LUÍSA”

3º TRATAMENTO

17 ROTEIRO DE EDUARDO FERRARI INSPIRADO NO LIVRO DE FERNANDO DOLABELA

- Como assim? Professor, eu preciso do senhor! Reservei a tarde toda para falarmos... FERNANDO: - Reservou? Ótimo. Então continue estudando. E não volte aqui antes de responder à pergunta: o que faria do SEU produto um produto único? Bom dia para você. Tenho que correr senão vou perder a sessão das duas; ou pior ainda, a pipoca.

17) EXTERNA – “FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO” – DIA

LUÍSA chega em frente ao prédio da federação das indústrias do estado. Para por um instante. Olha para cima. O edifício parece maior do que ela tinha imaginado. Ela não consegue ver o topo do prédio. Meio com cara de assustada entra e logo na entrada há um grande salão com dezenas de pessoas e quiosques. LUÍSA fica no meio do caminho por um instante, antes de seguir para os quiosques e começar a pegar prospectos e apostilas. EDUARDO, administrador e consultor de empresas, aparece pela primeira vez e se aproxima de LUÍSA.

EDUARDO: (dirigindo-se à LUÍSA) - Você parece perdida! LUÍSA: - Imagina... Eu? (pequena pausa) É, estou... EDUARDO: - Deixe-me mostrar as opções. Para direita, estão os quiosques de franquia. (apontando para outro lado) Já se você for por aqui, vai encontrar aqueles que estão oferecendo ideias para investidores. (pausa) E no fim do corredor estão os fundos de financiamento públicos e privados. LUÍSA: - Peguei, quer dizer, acho que peguei. (diz LUÍSA gesticulando com as mãos para cada uma das direções citadas e quase trocando a direita pela esquerda). Obrigada! (fazendo menção de se afastar) EDUARDO: - OK, se precisar estou por aqui. (Diz e ameaça caminhar para outra direção) LUÍSA: - Quer saber? Eu estou mesmo perdida! (diz se voltando para ele) Preciso aprender quase tudo sobre negócios. Eu sou a Luísa! EDUARDO: - Muito prazer. Eu me chamo Eduardo, consultor de empresas a seu dispor... LUÍSA: - Muito prazer, “Eduardo Consultor de Empresas a seu dispor”, que nome engraçado... (pausa, riem de si mesmos) Mas você presta consultoria para as pessoas comuns também? Sabe mesmo que eu precisava? Era entender como desenvolvo um plano de negócios. EDUARDO: - Então você encontrou a pessoa certa. É minha especialidade.

LUÍSA e EDUARDO saem caminhando entre os diversos estandes. A câmera fica parada enquanto eles se afastam conversando e se misturam entre as demais pessoas até se confundirem com a multidão.

18) INTERNA – “DOS PÉS À CABEÇA” – DIA

“O SEGREDO DE LUÍSA”

3º TRATAMENTO

18 ROTEIRO DE EDUARDO FERRARI INSPIRADO NO LIVRO DE FERNANDO DOLABELA

Depois de mais de um mês, LUÍSA veio de volta para sua cidade no interior. Ela está no Sereia

Azul. O ambiente está muito quente, LUÍSA parece estar realmente suando, principalmente no

rosto que está com a pele vermelha. Ela está descalça, fazendo as unhas dos pés, com a

manicure LULU BONECA, uma figura típica da cidade, mas que ninguém sabe se é mulher ou

homem vestido de mulher.

LUÍSA: (falando sozinha) - O que faria do MEU produto um produto único? (pausa) O que faria do MEU produto um produto único? (pausa) O que faria do MEU produto um produto único? LULU BONECA: - O que é isso, menina? Está ficando doida? Falando sozinha? Aliás, eu ouvi mesmo falar que você tinha ficado doida, mas falando sozinha eu precisava ver para acreditar. Até parece que eu não estou aqui. LUÍSA: - Ai, desculpe-me, Lulu! Estou com a cabeça cheia. Cheia de ideias, mas vazias de soluções. Desculpe, vou prestar mais atenção em você. LULU BONECA: - Olha só, folheia essa revista. Todas as histórias são divertidas. Assim você distrai a cabeça. Com cabeça cheia é que você não vai encontrar solução alguma. Pega, vai! (entregando a revista para LUÍSA). LUÍSA: (diz depois de folhear a revista por alguns instantes) - Olha essa aqui: “O feitiço do corpo ideal. Insatisfação com a autoimagem e luta contra a gordura se transformam em obsessão”. LULU BONECA: - Pois é, até eu estou achando que preciso de um regime. Estou com uns pneuzinhos aqui e... LUÍSA: (interrompendo Lulu e pulando da cadeira)

- Isso! Goiabada com uma versão natural, vendida para atletas, crianças, nas

academias de ginástica, nas lanchonetes e restaurantes. A imagem do produto,

associada à saúde, energia, ginástica, esporte! (Para Lulu) Ah Lulu! É isso!

LULU BONECA:

- Fica quieta, menina. Está falando do que? Senta ai que ainda não terminei.

LUÍSA: - Obrigada, Lulu! Você não imagina como me ajudou... Mas tenho que voltar agora mesmo para Belo Horizonte.

LULU BONECA:

- Volta aqui, menina! Não pintei suas unhas ainda e você está descalça... Assim vai

pegar um resfriado.

Lulu dá uma olhada para a matéria na revista que mostra algumas pessoas vestidas com roupa

de ginástica, na academia, comendo algumas barras de cereal. A câmera se aproxima até

fechar na foto da revista.

19) EXTERNA – “CORRENDO COM O PROFESSOR” – DIA

LUÍSA se encontra com o professor FERNANDO na Praça da Liberdade, onde tradicionalmente as pessoas fazem caminhadas. Ela havia avisado ao professor que eles

“O SEGREDO DE LUÍSA”

3º TRATAMENTO

19 ROTEIRO DE EDUARDO FERRARI INSPIRADO NO LIVRO DE FERNANDO DOLABELA

fariam uma caminhada e que ela responderia a pergunta que ele havia proposto para ela na última vez em que falaram. LUÍSA esta com conjunto de corrida feminino (tênis colorido feminino, calça legging e top). Já o professor FERNANDO está quase de passeio completo (sem gravata, mas terno e sapato social) completamente fora de lugar.

LUÍSA: - Professor? Eu não falei que iríamos fazer uma caminhada? Que eu precisava te mostrar a resposta à sua questão? Esse é jeito de se vestir para caminhar, professor? FERNANDO: - Você falou Luísa! Eu gosto de sair para caminhar assim... Estou pronto. Vamos? LUÍSA: (após caminhar alguns instantes) - Professor, sabe o que é isso? (ela mostra uma barra de cereal) FERNANDO: - Um chocolate? (diz sem muita convicção) LUÍSA: - Não professor. É uma barra de cereal vendida para adultos e crianças em todas as lanchonetes e academias de ginástica. Um produto de grande sucesso com imagem associada à saúde, à energia e ao esporte! (pausa) Tome experimente! É para esse mercado, um dos que mais crescem no país e no mundo, que vamos produzir a nossa goiabada natural. FERNANDO: (continuando a caminhar, mas sendo ultrapassado por todos) - Estou impressionado. Você finalmente encontrou o produto e o nicho de mercado que quer atuar. Realmente você deu passos muito importantes. Agora, falta apenas uma coisa. LUÍSA: - Produzir?! Eu sei. FERNANDO: - Produzir, Luísa, é fácil. O que falta mesmo é você criar e consolidar seu sonho de ter uma empresa de sucesso. Uma empresa que dure... (pausa) Por isso é que agora eu vou te dar outro dever de casa. LUÍSA: - Outro dever de casa, professor? Mais uma tarefa de gincana? (pausa) O senhor não pode me dar todas as tarefas de uma só vez ao invés de ficar abrindo um envelope a cada vez que nos encontramos? FERNANDO: - É preciso aprender a andar antes de correr, Luísa. Agora você está pronta para correr. O que você precisa é de um mentor para te ajudar a implantar sua empresa... LUÍSA: - Mas eu pensei que o senhor era o meu mentor. (pausa) Não é? FERNANDO: - Sou, mas por outro lado, não sou. Você agora precisa de alguém do ramo... Mas não se preocupe, eu tenho a pessoa certa para te indicar. Até já falei com ele sobre você. (pausa) O nome dele é Helder Mendonça, do Forno de Minas. Já ouviu falar, não é? LUÍSA:

“O SEGREDO DE LUÍSA”

3º TRATAMENTO

20 ROTEIRO DE EDUARDO FERRARI INSPIRADO NO LIVRO DE FERNANDO DOLABELA

- Nossa, professor! O país inteiro já ouvir falar. O meu sonho é tornar nossa iguaria do doce de goiabada num produto tão identificado com o nosso estado como o pão de queijo. A história deles é impressionante. Ele vai me receber? FERNANDO: - Ele vai te receber. Eu não te disse que já falei com ele? Então... Basta você ligar. (entrega um cartão para ela) Eles começaram como você quer começar: com uma receita de família e uma pequena loja num shopping de Belo Horizonte. Em pouco tempo, o pão de queijo deles passou a ser fabricado em larga escala e o negócio cresceu até ter o produto vendido em todo o país. (pausa) Cresceu tanto que foi comprado por uma multinacional e depois voltou para a família que comprou o negócio de volta quando a tal empresa estrangeira decidiu fechar a fábrica porque não entendia do negócio. Hoje, a marca é o pão de queijo preferido dos brasileiros, além de exportar para o mundo. (pausa) Se há alguém que pode ser o seu mentor de verdade é ele. LUÍSA: - Ah, obrigada professor! Nem acredito. Vou ligar agora mesmo... FERNANDO: - Agora mesmo? Está doida? Antes de ir falar com ele, você precisa fazer um plano de negócio detalhado. Não pode chegar lá de mãos abanando. LUÍSA: - Plano de negócio, professor? Ah, tá. E quando o senhor vai me ajudar a fazer isso? FERNANDO: - Eu? Esqueceu que eu tenho mais perguntas do que respostas? Está tudo nos livros que te emprestei. Você mesma tem que fazer isso: o plano de negócios. (pequena pausa) Me acompanha num café? Cansei dessa caminhada. Será que alguém emagrece caminhando assim? Fiquei com uma fome.

LUÍSA e FERNANDO saem da praça em direção a um dos prédios onde estão os museus do circuito cultural e há alguns cafés, principalmente no café que fica no “Cubo de Gelo”.

20) INTERNA – “PLANOS & NEGÓCIOS” – NOITE

Toca a campainha. LUÍSA vai atender a porta e confere pelo “olho mágico”. É EDUARDO. Ela abre a porta do apartamento e o recebe com um caloroso abraço.

LUÍSA: - Ah, Edu... Obrigada por ter vindo. Estou mesmo precisando de ajuda. Não sei o que faria se não fosse por você. (pausa) Senta. Aceita um café? Um doce de goiabada cascão? (diz e ri em seguida) EDUARDO: - Não precisa Luísa! Pra mim é um prazer ajudar. (pausa) E então? Vamos começar? Mostra o que você tem. LUÍSA: - Bom, esse texto representa o que fiz nos últimos seis meses. (diz entregando uma folha para EDUARDO) Não é muito, eu sei, mas você nem imagina como foi difícil chegar até aí. EDUARDO: – Deixe eu ver. (Lendo) Missão, produto, descrição da unidade fabril, fluxo de produção, marketing. O que é isso? (Mostrando no papel)

“O SEGREDO DE LUÍSA”

3º TRATAMENTO

21 ROTEIRO DE EDUARDO FERRARI INSPIRADO NO LIVRO DE FERNANDO DOLABELA

LUÍSA: – É a minha rede de relações. São pessoas que procurei e que, de alguma forma, podem ajudar na criação da minha empresa. Olha seu nome aqui... EDUARDO: – Quer dizer que sou só um ponto da sua “network”? LUÍSA: – Não, claro que é mais do que isso. Mas a partir de hoje, você entrou também nessa lista. Até ontem estava em outra.

EDUARDO e LUÍSA riem. Ele se senta mais perto dela e ela retribui a aproximação. Eles continuam conversando e EDUARDO vai mostrando mais detalhes, fazendo anotações nos papéis. LUÍSA demonstra mais interesse e também sugere acréscimos no material. Ela tem um notebook aberto à sua frente onde vez ou outra digita algum detalhe. A cena prossegue por mais alguns instantes assim para mostrar o crescimento da proximidade dos personagens.

21) INTERNA – “O MENTOR” – DIA

LUÍSA visita à empresa Forno de Minas, do empresário HELDER MENDONÇA, um de seus fundadores. Ele foi indicado pelo professor FERNANDO, como uma espécie de mentor empresarial para ela. A empresa Forno de Minas foi fundada em julho de 1990 numa pequena loja na zona sul da capital mineira para produzir pão de queijo baseada numa receita caseira da mãe de HELDER. LUÍSA está sentada na sala à espera da reunião.

SECRETÁRIA: - Senhorita Luísa? Pode entrar. LUÍSA: - Obrigada. Com licença. (levanta-se, entra na sala e vai em direção ao HELDER) HELDER: - Bom dia, Luísa! (ele se levanta e oferece um cumprimento com a mão para LUÍSA) Sente-se. LUÍSA: - Bom dia, Senhor Helder! HELDER: - Sem o senhor, por favor! (interrompendo LUÍSA) LUÍSA: - Mas muito obrigada por me receber, viu? Nem tenho como expressar como sou grata. Eu sei que você é muito ocupado... (pausa) HELDER: - Não tem problemas. Você veio muito bem recomendada. Eu e o Fernando somos amigos de longa data. Ele me deu grandes conselhos quando eu ainda estava começando. (pausa) Gostei muito do seu plano de negócios. Aliás, foi um dos melhores que eu já li. LUÍSA: - Ah, imagina, senhor... Ops, quer dizer, Helder. Eu ainda estou aprendendo. Além da preciosa orientação do professor Fernando, eu também tive a ajuda de um bom amigo. HELDER: - Mas então... Que ideia você faz de uma atividade como esta? Acha que é fácil? (pausa) Por exemplo, você venderia seu apartamento para colocar o dinheiro nesse negócio?

“O SEGREDO DE LUÍSA”

3º TRATAMENTO

22 ROTEIRO DE EDUARDO FERRARI INSPIRADO NO LIVRO DE FERNANDO DOLABELA

LUÍSA: - Eu ainda não tenho um apartamento. HELDER: - Mas... (pausa) E se tivesse? Teria coragem? LUÍSA: - Claro que teria coragem, mas, por hora, o que posso dizer, Helder? (pausa) Estou colocando em risco uma carreira de dentista, uma clínica com centenas de clientes e um casamento com um funcionário público; além de contrariar toda a opinião familiar... Isso basta? HELDER: - É... Isso basta, para começar, é claro. (pausa) Mas não se iluda. Não vai ser fácil. O pior estará por vir. Até a sua vida social vai mudar. Você vai mudar. (pausa) Mas você então quer a minha ajuda? Uma consultoria? Sabe quanto custa isso? LUÍSA: - Eu sei que custa muito caro ter um consultor, ainda mais um renomado você. Por isso eu queria muito que fosse o Helder, do Forno de Minas. (pausa) Por hora, eu não posso pagar, mas prometo retribuir assim que a empresa engrenar. HELDER: - Luísa, eu estou brincando com você. Claro que não iria cobrar. Faz parte do papel dos empreendedores incentivarem novos empreendedores e negócios. (pausa) Façamos assim, se isso te deixa mais tranquila: quando sua empresa for um sucesso, você fica me devendo um favor. LUÍSA: - Que tipo de favor, Helder? HELDER: - Não se preocupe, quando chegar a hora você vai entender. (pausa) Por hora você deve seguir o seu plano de negócios e eu vou te apresentar a alguns investidores. LUÍSA: - Investidores? Como assim? HELDER: - Como eu te disse, seu projeto parece muito interessante. Certamente, ele poderá atrair pessoas interessadas em investir nele. (pausa) Em outras palavras: vou te apresentar possíveis sócios para você avaliar. LUÍSA: - Mas você quer indicar quem? Empresários do setor de alimentos? E se eles roubarem a minha ideia? Ou pior: e seu eu virar funcionário deles? Eu não quero vender o meu sonho. (pausa) Não é apenas uma empresa de doces que eu quero construir, mas é um negócio de doces que representa parte da história e da tradição da minha família. Você entende? HELDER: - Entendo. (pausa) Não estou dizendo que você vai vender o seu negócio e roubar a sua ideia não é tão simples justamente porque se trata de uma história familiar. Parece exatamente com a história de um “certo” pão de queijo, não acha? Você também não é obrigada a aceitar uma eventual proposta que te façam. (pausa) Entretanto, eu, como seu consultor, tenho a obrigação de te mostrar todos os lados. Vou marcar uma reunião. Vá e ouça o que eles tem a dizer. Se não gostar, não

“O SEGREDO DE LUÍSA”

3º TRATAMENTO

23 ROTEIRO DE EDUARDO FERRARI INSPIRADO NO LIVRO DE FERNANDO DOLABELA

também é resposta. Diga não e siga em frente. (pausa) Se gostar, diga sim e também siga em frente.

22) INTERNA – “PELO TELEFONE” – DIA

LUÍSA está sumida há dias. Seu noivo DELCÍDIO tenta encontrá-la. No início da semana, ele consegue falar com ela por telefone uma única vez. A tela se divide entre os dois, cada um no seu telefone. LUÍSA num ambiente urbano, DELCÍDIO num ambiente rural.

DELCÍDIO: (ao telefone) - Luísa? O que aconteceu? Estou tentando falar com você há horas. Ninguém na sua família sabe seu paradeiro. LUÍSA: - Não aconteceu nada Del. Está tudo bem comigo. Apenas estou estudando muito e o tempo está curto. DELCÍDIO: - Tão curto que não pode sequer atender ao celular? Ou ao menos retornar as dezenas de ligações da sua família? LUÍSA: - Não foi de propósito. Fiquei concentrada nos estudos já disse. DELCÍDIO: - Tudo bem, não liguei para discutir com você... Fiquei preocupado, só isso. Como estávamos combinados vou a capital neste fim de semana. Ainda está valendo, não é? LUÍSA: - É... DELCÍDIO: - Então, na sexta-feira resolvemos esses desencontros. Devo chegar ao fim da tarde. Vou direto para o apartamento e te espero para o jantar. LUÍSA: - Pode ser.

DELCÍDIO ainda ia dizer mais alguma coisa quando ouviu o sinal de ocupado. LUÍSA havia desligado sem se despedir. Apenas o rosto de DELCÍDIO fica na tela.

23) INTERNA – “O RECADO” – DIA

Sequência: O ÚLTIMO ENCONTRO (cenas 23, 24 e 25) Caracteres em superposição: SEXTA-FEIRA Fim de tarde. LUÍSA sai pela portaria de seu prédio. Está apressada. Assim que LUÍSA sai da linha de visão, um táxi para em frente ao prédio. DELCÍDIO desce, quase esquece sua mala e volta para pegá-la. Ele sobe até o apartamento. Não viu LUÍSA sair e imagina que ela ainda está para chegar. DELCÍDIO senta no sofá e liga a televisão para assistir alguma coisa. DELCÍDIO adormece e acorda com o telefone tocando. Faz menção de atender, mas a secretária eletrônica atende antes dele.

SECRETÁRIA ELETRÔNICA: - Ei Luísa... É o Edu. Estou tentando falar com você o dia inteiro pelo celular, mas só cai na caixa postal. Pelo menos Leninha conseguiu falar com você? Por via das dúvidas vou deixar um recado aqui. Está confirmado o encontro com uns amigos no restaurante O Dádiva, no bairro de Lourdes. Qualquer taxista saberá levá-la, mas se

“O SEGREDO DE LUÍSA”

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24 ROTEIRO DE EDUARDO FERRARI INSPIRADO NO LIVRO DE FERNANDO DOLABELA

precisar de carona, me ligue que dou um jeito de te buscar. A gente se vê depois das dez. Beijo. (Bip de fim da gravação)

24) EXTERNA – “PELA VITRINE” – NOITE

DELCÍDIO desce do taxi. Ele foi ao restaurante indicado por EDUARDO à LUÍSA no recado da secretária eletrônica. DELCÍDIO caminha por mais alguns metros olhando para os números e placas das lojas procurando o restaurante. Quando encontra o número correto, ele se aproxima da entrada, com portas e paredes envidraçadas que permitem quem está do lado de fora ver tudo o que ocorre dentro e vice-versa (há dezenas de restaurantes assim em Belo Horizonte). DELCÍDIO se aproxima e antes de entrar consegue ver uma mesa no meio do restaurante com cerca de dez pessoas. Entretanto, no primeiro momento, ele não consegue encontrar LUÍSA. Ela então se levanta (estava de costas para a entrada do restaurante). DELCÍDIO faz menção de entrar, mas LUÍSA se levanta para receber EDUARDO que acaba de chegar. LUÍSA dá um “selinho” nos lábios de EDUARDO. DELCÍDIO fica paralisado por um instante. EDUARDO senta ao lado de LUÍSA e a abraça. Ele continua parado na “vitrine” diante da entrada. Após alguns instantes, LUÍSA se levanta da mesa para ir ao banheiro. Quando ela volta, olha de relance para a entrada de vidro. DELCÍDIO não está mais lá. Começa a chover.

25) INTERNA – “ALIANÇA DESFEITA” – NOITE

LUÍSA havia se esquecido de que DELCÍDIO viria a Belo Horizonte nesta sexta-feira. O jantar no restaurante com os amigos de EDUARDO se estendeu até quase duas horas da manhã. Ainda está chovendo. Foi ele quem a trouxe até o apartamento. Ainda à porta, ele faz menção de subir com ela. Ela também quer que ele suba. Eles entram rindo. No elevador, se abraçam e acontece o primeiro beijo mais demorado entre os dois. No andar do apartamento, LUÍSA abre a porta e entra. Lembra-se de que sua irmã também pode estar em casa e faz sinal para que EDUARDO espere um instante. Ela segue até o quarto da irmã, vê que não há ninguém e então se volta para EDUARDO e o abraça.

LUÍSA: - Não é uma loucura a gente estar aqui sozinhos, Edu? EDUARDO: - Porque você diz isso, Luísa? LUÍSA: - Ora, minha irmã pode chegar a qualquer momento. O que ela vai pensar se te encontrar aqui a essa hora? Além disso, eu sou noiva... (pausa) MEU DEUS... (diz num susto) EDUARDO: - O que foi, Luísa? LUÍSA: - Delcídio! Ele viria para Belo Horizonte hoje à tarde. Será que ele está no meu quarto? Preciso correr! Fica aí...

LUÍSA vai até seu quarto. Pé ante pé. Um pequeno facho de luz passa por baixo da porta que está fechada. Ela abre a porta lentamente. Então se assusta. Eduardo a seguiu e está logo atrás dela, mas não há ninguém no quarto. A televisão está ligada, fora de sintonia (é dela que emana a luz do quarto).

“O SEGREDO DE LUÍSA”

3º TRATAMENTO

25 ROTEIRO DE EDUARDO FERRARI INSPIRADO NO LIVRO DE FERNANDO DOLABELA

Em cima da cama, impecavelmente arrumada, há um pequeno estojo preto próprio para se colocar alianças. LUÍSA reconhece a caixinha. Vai até ela e quando abre encontra a aliança de DELCÍDIO. Seus olhos se enchem de lágrimas, mas apenas uma delas escorre pelo seu rosto.

EDUARDO: - Agora eu é que digo: meu Deus, Luísa! O que houve? LUÍSA: - Eduardo, é melhor você ir embora agora. Depois falamos. (LUÍSA fala com EDUARDO de costas sem se virar para ele) EDUARDO: - Luísa... LUÍSA: - Por favor, Eduardo! Faz o que estou te pedindo. Eu te ligo depois... Por favor! (diz ainda sem se virar para ele)

EDUARDO faz menção de colocar a mão no ombro de LUÍSA, mas para o movimento atendendo ao pedido dela e vai embora. Ela se senta na cama (pequena pausa), pega o controle da televisão e desliga. O quarto fica totalmente escuro.

26) INTERNA & EXTERNA – “SIGA AQUELE CARRO” – DIA

LUÍSA acorda. Ela pretende sair cedo de casa e então se arruma. Procura não fazer muito barulho para não acordar sua irmã TINA. Antes de sair, LUÍSA confere se TINA está dormindo no quarto. Aparentemente, ela está em sono profundo. LUÍSA se dirige à porta do apartamento, sai e logo em seguida fecha a porta. Neste momento, TINA sai da cama num pulo. Já está de roupa trocada, pronta para sair. Ela sai do apartamento e desce atrás da irmã. Assim que ela sai pela portaria do prédio, LUÍSA acaba de entrar num taxi. TINA consegue pegar outro logo depois.

TAXISTA: - Para onde, moça? TINA: - O senhor está vendo aquele outro taxi, dois carros adiante? Por favor, vá atrás dele, mas tente manter certa distância para ele não nos ver.

O taxi de TINA segue o taxi de LUÍSA por várias quadras. Quando o taxi de LUÍSA para, TINA indica ao motorista que siga adiante e pare na outra esquina.

TINA: - Não pare atrás dele. Siga mais um pouco e me deixe na esquina. (pausa até o carro seguir mais alguns metros) Aqui está ótimo.

TINA entrega o dinheiro ao taxista e sai. Ela atravessa a rua e volta para a quadra onde LUÍSA parou. Olha para todos os lados e tenta encontrar a irmã, mas ela não está mais a vista. TINA então olha em frente ao local onde o taxi de LUÍSA parou. É um muro alto com um portão de madeira. Não há janelas visíveis, apenas uma placa com os dizeres: “Convento São Bento”.

27) INTERNA – “AULA DE ANATOMIA” – DIA

Caracteres em superposição: BELO HORIZONTE, BRASIL - 2006

“O SEGREDO DE LUÍSA”

3º TRATAMENTO

26 ROTEIRO DE EDUARDO FERRARI INSPIRADO NO LIVRO DE FERNANDO DOLABELA

São os últimos meses de aula na faculdade de Odontologia de LUÍSA. Apesar de não estar mais motivada com o curso, ela decide pelo menos se formar. O objetivo não é exercer a profissão como fonte de renda, mas estar capacitada a exercer a profissão eventualmente. São cerca de sete horas da manhã. LUÍSA esta vestida de branco, com jaleco, touca e máscara médica. Ela coloca as luvas de borracha, mas parece não estar prestando muita atenção ao ambiente. Sua mente parece estar em outro lugar. Enquanto isso, outros alunos vestidos da mesma forma vão se aproximando e ficando uns à sua direita, outros à sua esquerda (dois ou três de cada lado, no máximo). O ambiente da aula é bem parecido com um consultório odontológico. Entretanto há pelos menos três cadeiras de dentista. O PROFESSOR, visivelmente mais velho e experiente, chega logo depois que os alunos já se acomodaram. Ele já está vestido com toda a indumentária de dentista. Então, uma paciente com aparência de uma pessoa bem simples e mais velha é chamada pelo professor. A senhora se senta na cadeira e ele começa a examinar-lhe a boca.

PROFESSOR: - A senhora pode abrir a boca, por favor? Eu vou começar a mostrar aos alunos os detalhes de um tratamento de canal, mas não se preocupe, eu é que farei o tratamento, eles vão apenas acompanhar e observar, pois ainda são apenas alunos.

Após pequena pausa, o próprio PROFESSOR continua.

PROFESSOR: - Vejam o tamanho da cárie já indica que há algum problema com o dente além da má escovação. Obviamente, para começarmos a fazer o tratamento é necessário tirarmos radiografias dos dentes. No caso dessa paciente, eu já havia feito anteriormente.

O PROFESSOR pega as radiografias e as coloca num vidro iluminado suspenso, próprio para que se possa visualizá-las.

PROFESSOR: - Nós vamos dar a anestesia aqui, logo abaixo da área da raiz do dente.

Com a injeção na mão, o PROFESSOR faz a incisão na boca da paciente. Ele faz mais uma pequena pausa antes de prosseguir.

PROFESSOR: - Agora, como você todos já deve saber, precisamos aguardar alguns minutos para a anestesia fazer efeito e podermos usar a broca.

O PROFESSOR continua a dar as explicações. LUÍSA, que antes da aula estava bem próxima das cadeiras e era a primeira da fila, foi ficando para trás conforme os outros alunos foram se aproximando, cada vez mais interessados nas orientações do PROFESSOR. Antes de a aula acabar, LUÍSA vai para o fim da fila.

28) INTERNA – “CONSPIRAÇÃO” – NOITE

LUÍSA chega em casa por volta de 20 horas. Antes de entrar, percebe um burburinho vindo do apartamento. Ela abre a porta cautelosamente. Ao entrar, ela se surpreende com a presença de seu pai GERALDO.

LUÍSA: - Pai? O que senhor está fazendo aqui a essa hora? GERALDO: - Eu precisava conversar com você e como você nunca atende ao telefone e também não tem se dignado da dar notícias para seus pais, vim sem avisar. Eu ia ficar aqui até você aparecer. Uma hora você ia acabar aparecendo, não é mesmo?

“O SEGREDO DE LUÍSA”

3º TRATAMENTO

27 ROTEIRO DE EDUARDO FERRARI INSPIRADO NO LIVRO DE FERNANDO DOLABELA

LUÍSA: - Mas pai, estamos no meio da semana. E os seus inúmeros afazeres? O senhor não precisava deixá-los só para vir falar comigo. GERALDO: - O que eu tenho para lhe falar tem que ser pessoalmente. Por favor, sente-se e escute.

LUÍSA se senta no sofá e seu pai, GERALDO, se senta à sua frente numa poltrona.

GERALDO: - Minha filha, eu sei que foi um ano e tanto. Cheio de pressão. Estudos, oferta para dirigir uma clínica, formatura chegando, ansiedade pelo casamento... Entendo que você ainda é muito jovem e que isso tudo pode ter mexido com você, que você possa ter ficado com medo de decepcionar as pessoas e, principalmente, de não conseguir ser uma pessoa independente. LUÍSA: - Mas pai... GERALDO: - Deixe-me terminar Luísa. (diz antes de ela concluir a frase) Assim, toda sua família se uniu para te dar um presente. Temos certeza de que você vai ficar muito feliz com ele e que isso irá ajudar a acalmar toda essa sua ansiedade. LUÍSA: - Mas pai... Seja o que for, não precisava. GERALDO: - Não é questão de precisar. Todos nós queríamos te dar um presente que mudasse sua vida, para melhor. A sua e a de Delcídio. LUÍSA: - Pai, isso é outra coisa que eu tenho que falar com o senhor e com a mamãe. Eu e o Delcídio... GERALDO: (interrompendo LUÍSA) - Eu e sua mãe sabemos sobre você e o Delcídio, mas, por hora, ninguém mais está sabendo. Ele é muito discreto e ficou preocupado que isso pudesse atrapalhar a imagem que as pessoas têm de você na nossa cidade. (pausa) Eu tenho certeza de que, assim que ouvir qual é o presente, você vai mudar de ideia e tudo vai ficar bem. (pausa) Agora escuta.

Neste momento MARIA HELENA, mãe de LUÍSA, entra na sala.

LUÍSA: - Mãe? A senhora também está aqui? MARIA HELENA: - Eu apenas tinha ido ao banheiro. De forma alguma eu poderia deixar de vir, Luísa. O que temos para te falar vai mudar sua vida. Melhor ainda: vai colocar sua vida de volta nos eixos. GERALDO: (diz em seguida quase interrompendo MARIA HELENA) - Bom, agora que sua mãe já está conosco posso te contar tudo. Como eu dizia, todos nós, todos mesmo, da sua família queríamos te dar um presente que marcasse sua nova fase de vida. Assim, eu e sua mãe compramos um

“O SEGREDO DE LUÍSA”

3º TRATAMENTO

28 ROTEIRO DE EDUARDO FERRARI INSPIRADO NO LIVRO DE FERNANDO DOLABELA

apartamento na nossa cidade para você e Delcídio começarem tranquilos nos casamento. O apartamento deve ficar pronto no fim do ano, bem perto da época em que você vai se formar e fica em frente à praça central, na área mais nobre da cidade. (pausa) Além disso, seus tios também se uniram e compraram um pacote turístico para a lua de mel de vocês no Caribe.

LUÍSA levanta-se e vai em direção à porta. GERALDO e MARIA HELENA se assustam com a reação da filha.

GERALDO: - Luísa? Aonde você pensa que vai? Não ficou feliz com nossos presentes e esforços? Você imagina o que isso significa? Você nunca mais vai ter que se preocupar com nada na sua vida. Além da maior parte na sociedade da clínica do Doutor Luís, você e Delcídio terão a vida perfeita. LUÍSA: - Esse é o problema, meu pai. Não há mais eu e Delcídio. Eu mudei. Também não há mais a Luísa que vive apenas para cumprir as expectativas dos outros. Não é nada disso que eu quero. (pausa) Agora, pai e mãe, se vocês me dão licença, eu tenho que sair... (ela se vira para a porta e fica de costas para seus pais) GERALDO: - Luísa, pense bem no que vai fazer. Esta é uma oferta por tempo limitado. Nós não vamos estar aqui para sempre. Se você sair por essa porta, vai perder tudo isso.

LUÍSA ainda de costas para seus pais, apenas abre a porta e sai.

29) EXTERNA – “VENTANIA” – NOITE

LUÍSA sai pela portaria de seu prédio. Passa das 23 horas. Ela acaba de deixar seus pais no apartamento após eles lhe oferecerem vários “presentes” em troca de que ela aceite assumir a clínica odontológica em sua cidade natal e que volte para DELCÍDIO. Num primeiro momento, ela para diante do prédio, olha para trás e para cima. Depois ela volta a olhar para frente e faz menção de ir embora. Entretanto, ela para um instante, olha para a direita, depois olha para a esquerda e novamente olha para a direita. Ela não consegue se decidir para que lado ir. É uma noite aparentemente fria e está ventando muito. Os longos cabelos de LUÍSA são jogados no seu rosto e todo o tempo ela tenta tirá-los dos olhos. Finalmente, ela segue para um dos lados. Caminha sempre em linha reta, a esmo, atravessando uma rua após a outra. Faz isso pelo menos umas cinco vezes. Quando se dá conta, não sabe exatamente onde está. Ela olha as placas das esquinas, mas não consegue se lembrar. LUÍSA, então, para diante de um telefone público num bar e liga para a única pessoa que consegue se lembrar naquele momento. O telefone chama por várias vezes e LUÍSA quase tem a impressão de que não irá atender.

EDUARDO: (ao telefone) - Alô? Quem é?

EDUARDO está numa festa com alguns amigos. Quando LUÍSA ligou ele estava conversando animadamente com uma amiga que não conhece LUÍSA pessoalmente, mas que sabe da sua história. Seu nome é PATRÍCIA e ela é a melhor amiga de EDUARDO. De fato, PATRÍCIA queria ser mais do que amiga e tentava a todo custo ficar com ele exatamente nessa festa no momento em que LUÍSA ligou.

LUÍSA: - Edu! É a Luísa. Preciso da sua ajuda. Estou sozinha na rua. Nem sei o nome da rua. EDUARDO:

“O SEGREDO DE LUÍSA”

3º TRATAMENTO

29 ROTEIRO DE EDUARDO FERRARI INSPIRADO NO LIVRO DE FERNANDO DOLABELA

- Luísa? Nossa, faz dias que você ficou de me ligar. Fiquei preocupado. Onde você está a essa hora? LUÍSA: - Edu, o cartão telefônico está quase acabando. A ligação vai cair. Preciso falar rápido. Estou perto de um shopping bem no centro da cidade. Você pode vir me buscar? EDUARDO: - Se a ligação cair, me liga a cobrar. Qual shopping? Você consegue identificar? LUÍSA: - É em frente ao shopping Cidade. (olhando ao redor) EDUARDO: - Eu sei onde é, Luísa. Vá para frente da portaria. Estou numa festa um pouco distante, mas estou indo imediatamente. Não saia daí. Beijo.

EDUARDO pede desculpas aos amigos e diz que tem que sair. PATRÍCIA se aproxima dele.

PATRÍCIA: - Está saindo à francesa, Edu? Posso me convidar para ir com você? EDUARDO: - Não, Patrícia! Tenho que sair em uma missão de resgate. Desculpe-me. Fica para uma outra vez.

30) EXTERNA – “LUZES ARTIFICIAIS” – NOITE

EDUARDO está dentro no carro. Ele passa em frente a uma das portarias do shopping Cidade. Olha ao redor tentando encontrar LUÍSA. Na primeira portaria, não consegue encontrá-la. Vira a esquina de carro e diminui a velocidade. De longe enxerga um vulto que parece ser ela. EDUARDO para o carro em frente à segunda portaria e desce rapidamente. EDUARDO abraça LUÍSA. Ele a leva até o carro. LUÍSA se senta e não diz uma palavra.

EDUARDO: - O que aconteceu? Você desapareceu. Fiquei muito preocupado com você a semana inteira. (pausa) E agora, o que foi isso? Você na rua à uma hora dessas? Você se perdeu, Luísa? Quer que eu te leve para casa?

LUÍSA não responde nada. Apenas pega na mão de EDUARDO que está sobre o câmbio.

EDUARDO: - Vou te levar para a minha casa então. Hoje você dorme lá. Amanhã resolvemos o que quer que tenha acontecido.

EDUARDO e LUÍSA chegam à casa dele. A câmera mostra apenas o carro parando um instante em frente à garagem. Na traseira do carro, a luz de freio se acende e enquanto o portão eletrônico se abre. Finalmente, o carro acelera, a luz de freio apaga-se e o veículo entra pela rampa. Eles já aparecem no quarto dele. Eles se beijam enquanto se despem. A câmera mostra ambos na cama e depois se afasta saindo pela porta que se fecha em seguida.

31) INTERNA – “SONHO À VENDA?” – DIA

LUÍSA vai ao encontro de um fundo de investimento indicado por HELDER MENDONÇA. Ela está um pouco nervosa. LUÍSA não consegue ninguém do tal fundo. Ela chega cedo à sede onde acontece a reunião. Após falar com a secretária, ela é orientada a sentar-se numa sala de espera. Embora o encontro esteja marcado para as 14 horas, logo após o almoço, os investidores a fazem esperar por mais de duas horas.

“O SEGREDO DE LUÍSA”

3º TRATAMENTO

30 ROTEIRO DE EDUARDO FERRARI INSPIRADO NO LIVRO DE FERNANDO DOLABELA

No inicio ela está ansiosa, mas com o passar do tempo vai ficando cansada. Quando finalmente é chamada para a reunião, LUÍSA está visivelmente mal humorada. A secretária a encaminha a uma sala de reuniões onde novamente é deixada sozinha. Finalmente, dessa vez após uma curta espera, chega à sala um homem, aparentemente de 30 anos, de terno bem cortado.

ACÁCIO: - Boa tarde, Luísa! Desculpe a demora. Estava em outra reunião e a agenda atrasou. (pausa) Então você é a moça prodígio que o senhor Helder nos indicou? Seu plano de negócios está muito bem elaborado e sua ideia nos pareceu ter potencial. (pausa) Assim queremos investir em você e no seu negócio. LUÍSA: - Boa tarde. Não se preocupe com a demora. (diz sem convicção) Eu havia reservado toda a tarde somente para nossa reunião. Que bom que gostou do plano de negócios. ACÁCIO: - Luísa, eu represento uma grande empresa de alimentos e como você quer ser nossa concorrente, nós vemos que você tem duas opções. (pausa) A primeira é ser nossa concorrente. (diz em tom de brincadeira, mas LUÍSA não acha graça) O que não será fácil. (pausa) Já a segunda opção é bem melhor. Queremos constituir uma sociedade com você. Quer ouvir nossa proposta? LUÍSA: - Claro. Eu tenho total interesse. Além disso, o senhor Helder, como você bem deve saber, é meu mentor e me orientou que devo ouvir mais e falar menos. ACÁCIO: - Ótimo... Nós queremos fazer uma sociedade com você nos seguintes moldes... Você terá 10% da propriedade da empresa e será a gerente. Nós não participaremos da administração porque não temos disponibilidade de tempo. Precisará apenas prestar contas dos resultados. Em compensação, nós colocaremos à sua um grande know-how do setor industrial alimentício e também montaremos a estrutura física da fábrica. (pausa) Como você não tem experiência, Luísa, temos certeza de que essa será a melhor proposta que você receberá. Se concordar, começaremos o mais breve possível. E então? Concorda?

Uma longa pausa se seguiu a pergunta. LUÍSA olhou para ACÁCIO. Depois olhou ao redor daquela sala. De repente, aquele ambiente corporativo, todo branco, lhe causou um pouco de enjoo. LUÍSA voltou a olhar para ACÁCIO, dessa vez bem nos olhos dele.

LUÍSA: - Você tem toda razão, Acácio. Eu não tenho experiência empresarial, mas como você ainda vai descobrir, eu aprendo muito rápido. (pausa) Eu agradeço muito o interesse da empresa que você representa na minha ideia. Prometo que vou considerar a proposta.

ACÁCIO: (surpreendido) - Muito bem, Luísa! Eu esperava que você já tivesse uma resposta para “nós”, mas estou vendo que você precisa pensar um pouco, não é mesmo? Assim, vamos combinar de você nos dar uma resposta definitiva até o fim dessa semana, ok? Depois disso, não podemos esperar mais, pois temos diversas oportunidades de investimento.

32) INTERNA – “SER OU NÃO SER” – DIA

LUÍSA sai da sede da empresa onde teve a reunião com ACÁCIO. Seu telefone celular toca. É EDUARDO. Ela atende. Os dois conversam ao telefone enquanto ela caminha. A câmera alterna entre LUÍSA na rua e EDUARDO no escritório.

“O SEGREDO DE LUÍSA”

3º TRATAMENTO

31 ROTEIRO DE EDUARDO FERRARI INSPIRADO NO LIVRO DE FERNANDO DOLABELA

LUÍSA: - Oi Edu. EDUARDO: - Nossa Luísa, que voz é essa? O que aconteceu? Pensei que estivesse melhor depois daquela noite. LUÍSA: - Desculpe-me, Edu. Não tem nada a ver com você. Acabo se sair de uma reunião com um possível investidor e foi terrível. Na verdade, ele não quer me financiar, ele quer me comprar. EDUARDO: - Luísa, não fica assim. Não é você que me diz sempre que tudo se resolve? Então... (pausa) Escuta, eu te liguei para te convidar para um programa. Tenho duas entradas para uma peça de teatro no Palácio das Artes. Você vai adorar. (pausa) Você aproveita e me conta tudo o que aconteceu na reunião. Nós dois pensamos numa solução juntos. Que tal? LUÍSA: - Edu... Eu não estou com espírito para sair hoje. EDUARDO: - Olha, eu não estou te convidando. Estou te avisando. Vou te pegar às oito da noite. LUÍSA: - Já vi que não vou conseguir te vencer. Te espero. Beijos.

33) EXTERNA – “BOCA DE CENA” – NOITE

LUÍSA e EDUARDO estão na fila para entrar na peça de teatro. Os dois conversam.

LUÍSA: - Você acredita Edu que o investidor me fez a proposta de eu ser sócia dele com apenas 10% de participação na empresa? Como se eu pudesse aceitar só uma décima parte do meu sonho. (pausa) Você acha que eu devia considerar? EDUARDO: - O que eu acho não é importante... Essa é uma decisão que você precisa tomar... (pausa) O que você tem que saber é que eu vou estar do seu lado, aconteça o que acontecer. LUÍSA: (após um longo silêncio, olhando ao redor, ela diz) - Edu... Você sabia que eu nunca tinha vindo ao teatro antes? É a minha primeira vez. EDUARDO: - Sério? Eu não sabia. Que emocionante! Isso merece uma comemoração. LUÍSA: - É, estou me sentindo outra pessoa. (pausa) Bem que o professor Fernando me disse que quando eu começasse esse processo eu me transformaria em outra pessoa. (pausa) E sabe de outra coisa? Você também faz parte desse processo. (pausa) Obrigada!

LUÍSA abraça EDUARDO e eles ficam abraçados até que a fila comece a andar e quase perdem o lugar.

EDUARDO: - A fila está andando. Vamos entrar.

“O SEGREDO DE LUÍSA”

3º TRATAMENTO

32 ROTEIRO DE EDUARDO FERRARI INSPIRADO NO LIVRO DE FERNANDO DOLABELA

34) INTERNA – “MAKE MONEY” – NOITE

LUÍSA está no apartamento alugado por seus pais. Será a última vez que a veremos no imóvel. Ela está sentada diante do computador. Na tela é possível ver o aplicativo “Make Money”. LUÍSA está na sala e sua irmã TINA no quarto, sentada na cama lendo.

LUÍSA: - As contas não batem. Já fiz e refiz. Elas não se encaixam. TINA: (quase gritando do quarto) - Em quem que você anda querendo se encaixar, Luísa? LUÍSA: - Não é isso, Tina! As contas não batem! TINA: (novamente quase gritando do quarto, sem aparecer em cena) - E você acha que bater em alguém vai adiantar alguma coisa? Se você for violenta ai é que ninguém vai querer se encaixar em você. Vai por mim. LUÍSA: (se levanta do computador e caminha até a porta do quarto de TINA) - Não é nada disso, Tina! Não quero bater nem me encaixar em ninguém. O que não está batendo são as contas. As contas do planejamento financeiro da empresa. Só isso. TINA: - Não está se encaixando em ninguém? Sei... Já vi muito bem como você olha para o tal do Eduardo. Tenho certeza de que vocês já se encaixaram faz tempo. LUÍSA: - Essa é outra história. TINA: - Não. É a mesma história. Estão interligadas as questões. Você jamais teria terminado com Delcídio se não tivesse começado a montar a empresa e também não teria conhecido o Eduardo. É tudo a mesma coisa. LUÍSA: - Tudo bem, nessa eu até concordo com você, mas dá para levar a sério o que estou falando sobre contas e dinheiro? TINA: - Minha irmã, eu escutei e entendi tudo que você falou sobre as contas para a empresa. (pausa) E o que você vai fazer a respeito? LUÍSA: - Vou mudar de vida. É isso que vou fazer.

35) EXTERNA – “CARRO À VENDA” – DIA

LUÍSA chega dirigindo seu carro a uma agência de veículos. Ela decidiu vender seu carro para conseguir dinheiro que investirá no início do seu negócio. O carro lhe foi presenteado por seu pai há cerca de dois anos. É um carro seminovo, com potência superior aos populares motor 1000 e muito bem cuidado. Seu valor aproximado é de 35 mil reais. O VENDEDOR da agência faz uma vistoria no carro enquanto LUÍSA observa a certa distância. Logo depois, o VENDEDOR chama LUÍSA para se sentar.

VENDEDOR: - Luísa, não é mesmo? Pois bem, eu posso oferecer 23 mil no seu carro.

“O SEGREDO DE LUÍSA”

3º TRATAMENTO

33 ROTEIRO DE EDUARDO FERRARI INSPIRADO NO LIVRO DE FERNANDO DOLABELA

LUÍSA: - Só isso? Ele vale pelo menos uns 35 mil. VENDEDOR: - Você teve alguma oferta nesse valor? Hoje em dia vale mais a pena investir num carro zero... Todo mundo prefere financiar. Fica mais barato do que comprar um usado. LUÍSA: - Na verdade eu não tive nenhuma oferta melhor. Está anunciado há semanas. (pausa) Você não pode melhorar esse valor? VENDEDOR: - Deixe-me ver. Vou conversar com o gerente. Um instante... O VENDEDOR se levanta e vai até uma sala com janela envidraçada onde LUÍSA pode vê-lo de costas conversando com alguém sentado. Após alguns minutos, o VENDEDOR retorna. VENDEDOR: - Posso te oferecer mais mil reais. Então ficamos em 24 mil. É o máximo a que posso chegar.

A cena tem um corte e mostra LUÍSA saindo a pé. Ela olha para trás na agência de veículos, um instante, respira fundo, solta o ar de uma só vez e segue caminhando.

36) EXTERNA – “MUDANÇA DE HÁBITO” – DIA

LUÍSA esta em frente ao seu prédio onde mora no apartamento alugado pelos seus pais. Sua amiga LENINHA acaba de chegar. Diante da entrada está estacionado um pequeno caminhão de mudanças. Três homens entram e saem do prédio diversas vezes com objetos, móveis e caixas. São do apartamento de LUÍSA.

LENINHA: - Você tem certeza do que está fazendo, Luísa? LUÍSA: - Na verdade eu tenho que fazer isso. Eu preciso de cada centavo. Esse apartamento sai muito caro. Preciso de algo mais em conta. Meus pais não podem e não vão me sustentar a vida inteira. LENINHA: - É, mas não vai ser fácil viver num cubículo. LUÍSA: - Eu aguento. Eu aguento qualquer coisa em nome do meu sonho, Leninha. LENINHA: - Para onde vão os móveis? LUÍSA: - O caminhão de mudanças vai entregá-los na minha casa... Quer dizer, na casa de meus pais em Ponte Nova (pausa) Cuidado com essas caixas, moço! As loucas da minha mãe estão aí dentro! (diz para um dos carregadores da mudança) LENINHA: - O que seus pais disseram sobre você entregar o apartamento e os móveis irem de volta para a casa deles?

“O SEGREDO DE LUÍSA”

3º TRATAMENTO

34 ROTEIRO DE EDUARDO FERRARI INSPIRADO NO LIVRO DE FERNANDO DOLABELA

LUÍSA: - Eles não aprovaram, mas atualmente isso não é mais uma novidade nem para eles e nem para mim.

LUÍSA e LENINHA continuam conversando por mais alguns minutos enquanto os homens terminam e fecham o caminhão. Logo em seguida, o veículo sai da frente do edifício. LENINHA dá coloca a mão no ombro de LUÍSA.

LENINHA: - Vamos lá amiga! Vamos ver sua nova casa. Vou te dar uma carona!

LUÍSA carrega duas grandes malas até o carro de LENINHA que a ajuda a colocá-las no porta-malas.

37) EXTERNA – “40 METROS QUADRADOS” – DIA

LENINHA leva LUÍSA à sua nova casa. Para dar a impressão de distância, enquanto LENINHA dirige, LUÍSA observa as placas da Avenida Antônio Carlos. A câmera passa por dezenas delas até cruzar a barragem da Pampulha e chegar à Avenida Portugal, num pequeno condomínio (há vários deles na região). O apartamento se parece com um chalé conjugado com dois andares independentes com um pequeno kit net em cada andar com lugar apenas para uma pessoa. LUÍSA que antes morava bem próximo à Savassi e ao bairro de Lourdes, agora terá que se adaptar morando distante da região centro-sul, mais nobre da cidade.

LENINHA: (falando pela janela de dentro do carro) - Tem certeza de que não quer que eu fique com você? Para ajudar a desarrumar as malas, organizar o armário? LUÍSA: - Não precisa, querida! Você já fez muito me trazendo até aqui. Eu preciso encarar essa sozinha. LENINHA: - Tem pelo menos televisão no apartamento? Para você se distrair. LUÍSA: - Não, eu aluguei só com cama, geladeira e fogão. Eu preciso mesmo me concentrar nos meus projetos e o meu notebook vai ser o meu melhor companheiro nessas horas. LENINHA: - Vou ver se tenho uma tevê portátil em casa para te emprestar. LUÍSA: - Pode ir. Obrigada por tudo.

LUÍSA acena se despedindo de LENINHA dentro do carro que arranca devagar e segue pela avenida. LUÍSA pega sua malas com dificuldade e vai puxando ate a porta do apartamento. Ela abre a porta e entra.

38) EXTERNA – “PONTO DE ÔNIBUS” – DIA

LUÍSA está no ponto de ônibus em frente a universidade. Carrega uma grande quantidade de livros de odontologia e marketing além de uma mochila com seu notebook. Ela está vestida com uma roupa mais simples do que de costume e não usa maquiagem. É perceptível a diferença na aparência de LUÍSA em relação ao tempo em que ia à escola de carro vinda da região centro-sul da cidade. Enquanto ela aguarda, várias outras pessoas vão chegando ao ponto de ônibus. Alguns são colegas de LUÍSA que não estão acostumados a vê-la pegando ônibus nem vestida de maneira tão simples. LUÍSA está compenetrada com o fone de ouvido escutando música.

“O SEGREDO DE LUÍSA”

3º TRATAMENTO

35 ROTEIRO DE EDUARDO FERRARI INSPIRADO NO LIVRO DE FERNANDO DOLABELA

ANDRÉIA: - Luísa? É você? Quase cinco anos de faculdade e é a primeira vez que te vejo no ponto de ônibus. O que houve? Algum problema no carro? LUÍSA: - Oi Andréia. Sou eu sim. (pausa) Nenhum problema no carro. Eu tive que vendê-lo para financiar uns investimentos. ANDRÉIA: - Que coisa, hein? Enfim, pelo menos você pode fazer companhia para eu e a Juliana. Todo dia pegamos o ônibus. É uma viagem de uma hora até o centro. (pausa) Está indo para casa? LUÍSA: - Não, estou indo resolver algumas coisas no centro. Acredita que eu também me mudei da região centro-sul para economizar no aluguel? JULIANA: - Nossa... Logo agora que falta apenas um semestre para a faculdade terminar? Está precisando economizar até no aluguel? Aconteceu alguma coisa que não sabemos? LUÍSA: - Não, Ju... Apenas resolvi que preciso fazer uns investimentos e abri mão desses luxos para colocar toda a minha energia e recursos no novo negócio... JULIANA: - Ah, entendi.

Antes que LUÍSA pudesse dizer mais alguma coisa, mais colegas do curso de odontologia, dessa vez são três homens, estão passando de carro em frente ao ponto quando as veem. ROBERTO é quem está dirigindo.

ROBERTO: - Olá Meninas! (se dirigindo a ANDRÉIA e JULIANA) Estão indo para onde? Não querem uma carona?

JULIANA: - Estamos indo para o centro da cidade e você?

ROBERTO: - Para onde vocês estiverem indo. (pausa) Entrem ai.

Apenas JULIANA e ANDRÉIA vão em direção ao carro. ROBERTO percebe e, embora não tenha muito intimidade com ela, a convida para ir junto.

ROBERTO: - Luísa? Você não vem com a gente? LUÍSA: - Não precisa Roberto. Obrigada. Vou de ônibus mesmo. ROBERTO: - Tem certeza? Não precisa ficar com vergonha. Vem com a gente. LUÍSA: - Não é vergonha. Estou mesmo querendo ir de ônibus. (pausa) Além disso, o carro está cheio. Obrigada.

“O SEGREDO DE LUÍSA”

3º TRATAMENTO

36 ROTEIRO DE EDUARDO FERRARI INSPIRADO NO LIVRO DE FERNANDO DOLABELA

ROBERTO: - Ah, que bobagem, sempre cabe mais um, principalmente mais uma como você. Aposto que os rapazes não se importam de dar uma apertadinha no banco. (todos riem) LUÍSA: (rindo) - É, eu imagino. (pausa) Olha só, meu ônibus chegou. Obrigada. A gente se vê. Beijos.

LUÍSA segue na fila do ônibus e entra rapidamente.

39) INTERNA – “PESSOA JURÍDICA” – DIA

LUÍSA se reúne com um contador indicado pelo professor. Ela começa o processo de fundar a empresa GMA Alimentos. O contador chama-se FABRÍCIO. O encontro acontece no escritório do contador.

LUÍSA: - Bom dia, Fabrício. Obrigada por me receber. Acho que o professor Fernando já te explicou, mas eu queria saber quanto tempo gasta para abrir e legalizar uma empresa? FABRÍCIO: - O tempo médio é de dois meses, dependendo bastante de onde está sendo aberta a empresa. LUÍSA: - E quais documentos são necessários. O professor Fernando já tinha me avisado que eu precisaria separar vários deles. FABRÍCIO: - Então precisamos de informações básicas como tipo de empresa, sociedade, nome de fantasia e nome empresarial. (pausa) Também fazemos consultas prévias sobre os sócios, registro de contrato social, cadastro nacional de pessoa jurídica, inscrição estadual e municipal, registro de alvará e registro em sindicatos, se for o caso. (pausa) Fiz uma lista de tudo para você. (diz entregando um papel com as informações para LUÍSA) LUÍSA: - E quando podemos começar? Qual o custo para abrirmos a empresa? FABRÍCIO: - Eu cobro entre 600 e 800 reais. (pausa) E podemos começar assim que trouxer os documentos. LUÍSA: - Vamos fazer!

40) INTERNA – “FILA DO BANCO” – DIA

LUÍSA vai até o banco onde tem contas há anos conversar com seu gerente GUSTAVO que também a conhece desde que se mudou de suam cidade para estudar odontologia em Belo Horizonte. LUÍSA vai até o gerente que a cumprimenta de longe da mesa e pede que ela aguarde um instante. GUSTAVO está atendendo outro cliente. Mais uma vez LUÍSA terá que esperar para ser atendida. Enquanto GUSTAVO conversa com o cliente, um senhor mais velho, é interrompido algumas vezes. Primeiro por uma secretária para assinar alguns documentos. Depois por um atendente, que também mostra alguns formulários. Depois disso, ele tem que atender uma ligação enquanto o outro cliente continua à sua frente. Finalmente, chega a vez de LUÍSA e o GUSTAVO a chama até a mesa.

“O SEGREDO DE LUÍSA”

3º TRATAMENTO

37 ROTEIRO DE EDUARDO FERRARI INSPIRADO NO LIVRO DE FERNANDO DOLABELA

GUSTAVO: - Bom dia Luísa! Como está uma das minhas clientes favoritas? E seu pai como está? A que devo a honra da visita? Você quase nunca vem aqui. LUÍSA: - Olá Gustavo. Meu pai está bem. Obrigada pelo perguntar. Pois é... Eu vim aqui para transformar a conta em pessoa jurídica. GUSTAVO: - Pessoa jurídica? Mas você não é uma profissional liberal? Dentista não precisa de empresa para exercer a profissão. LUÍSA: - Eu sei, Gustavo, mas estou criando uma empresa diferente. Então por isso queria transformar e aproveitar que tenho boas referências com você. GUSTAVO: - Tudo bem. Podemos fazer isso. Vai demorar um pouco e vou precisar dos dados da empresa e do contrato social. LUÍSA: - Tenho tudo aqui. A propósito, como são as linhas de financiamento? GUSTAVO: - Ah, para ter acesso a essas linhas você precisa ter algum dinheiro aplicado e também tempo de existência da empresa. Digamos, pelo menos uns três anos... Ou então, você pode apresentar um bem de garantia, um imóvel, por exemplo. LUÍSA: - Tanto tempo assim? A empresa está a caminho! Não dá para esperar tanto tempo assim. E eu não tenho nenhum imóvel em meu nome. GUSTAVO: - É... E você precisa fazer saldo médio para o banco confiar em você. (pausa) Ou você pode se candidatar a linhas de financiamentos em bancos públicos e do governo federal, como o FAT, mas ai a concorrência é imensa... Tem que entrar na fila e preencher uma papelada enorme.

41) EXTERNA – “MOÇA FANTASMA” – DIA

EDUARDO está na porta do Chevrolet Hall em Belo Horizonte. Em cartaz mais um show musical que ele queria muito ver e para o qual combinou com LUÍSA há algumas semanas. Estava acertado que eles se encontrariam à porta do teatro por volta das 20h30. São quase 21 horas, horário de o show começar, e LUÍSA ainda não apareceu. EDUARDO liga insistentemente pelo celular para ela. Somente após as 21 horas, LUÍSA chega correndo e ofegante.

EDUARDO: - Luísa do céu! Que me matar coração? O show já começou. (pausa) Te liguei à tarde em casa, no celular e nem sinal de vida. (pausa) Aliás, liguei a tarde toda e agora há pouco uma dúzia de vezes no seu celular. LUÍSA: - Desculpe, Edu. Perdi a hora, mas cheguei, não foi? EDUARDO: - Por onde você andou? Que sumiço foi esse?

“O SEGREDO DE LUÍSA”

3º TRATAMENTO

38 ROTEIRO DE EDUARDO FERRARI INSPIRADO NO LIVRO DE FERNANDO DOLABELA

LUÍSA: - Em lugar nenhum. (pausa) Vamos ficar aqui fora conversando ou vamos perder o seu show? EDUARDO: - Ai, é mesmo. Vamos correr. Vem Luísa! (puxando a mão de LUÍSA e seguindo para a entrada)

EDUARDO e LUÍSA correm, ele entrega os ingressos e ambos sobem as escadas para assistir ao show. EDUARDO comprou os melhores ingressos que dão direito ao camarote do espetáculo. Trata-se de um show acústico onde é possível conversar entre uma música e outra. Perto da metade da apresentação, por volta de pouco mais das 22 horas, EDUARDO vai até o bar pegar dois refrigerantes. Retorna e entrega um para LUÍSA.

LUÍSA: - Edu, tenho mais uma confissão para você. Eu nunca tinha vindo a um show de música num lugar como esse. O máximo que já vi foi em parques de exposições na minha cidade. (pausa) Assim você está me deixando mal acostumada... EDUARDO: - Luísa, é um prazer ter você como companhia. Ainda mais sabendo que é a sua primeira vez. (pausa) Além disso, minha namorada merece. Não é mesmo? LUÍSA: - Nós estamos namorando oficialmente? EDUARDO: - Estamos. (pausa) Não estamos? LUÍSA: - Estamos, claro. Desculpe a cara de surpresa. É que faz tempo que eu não me sentia tratada como uma namorada.

EDUARDO sorri, abraça LUÍSA e a beija. Ambos voltam a assistir ao show.

42) INTERNA – “NO PREGO” – DIA

LUÍSA penhora as joias que ganhou de sua família. No conjunto estão duas gargantilhas, cinco anéis, dois pares de brincos, um broche. Todos em ouro maciço e com pedras preciosas como diamante, esmeraldas, rubis e safiras. O broche e um dos anéis foram presenteados pela sua avó quando ela fez 15 anos. Sem alternativas de financiamento, LUÍSA leva sua joias para o penhor na Caixa. Seu constrangimento é visível. Felizmente, para ela, a área de penhor no banco é escondida. (Novamente, LUÍSA está vestida de forma mais simples do que no início da cronologia. É importante mostrar a evolução de seu vestuário para modelos menos refinados).

AVALIADOR: - Bom dia! Em que posso ajudá-la? LUÍSA: - Bom dia! Eu trouxe algumas joias para avaliação. Dependendo do valor quero colocá-las no penhor. Quais são os prazos e as condições de juros? AVALIADOR: - O valor do empréstimo pode ser no máximo até 85% do valor do bem oferecido como garantia. Os prazos disponíveis para quitação do empréstimo são 30, 60, 90 e 180 dias. Você paga o empréstimo em uma única vez, quanto pega de volta o objeto penhorado.

“O SEGREDO DE LUÍSA”

3º TRATAMENTO

39 ROTEIRO DE EDUARDO FERRARI INSPIRADO NO LIVRO DE FERNANDO DOLABELA

LUÍSA: - O prazo máximo é de 180 dias. O que acontece se na data desse vencimento, você não tiver o dinheiro para pagar? Perde as joias? Elas são muito importantes para mim. Foi presente do meu pai e da minha avó. Ela me deu o broche quando eu completei quinze anos. AVALIADOR: - Não! Em caso de joias, você tem o direito de renovar várias vezes o empréstimo desde que pague os juros. LUÍSA: - Ah... Isso me deixa mais tranquila. (pausa) Aqui estão as joias. (entregando uma caixa)

O AVALIADOR pega a caixa, abre e começa a examinar cada joia para verificar sua autenticidade. Quando chega ao broche e no anel que foram presente da avó de LUÍSA, a câmera dá um close nessas peças. Ele coloca em um dos olhos o tradicional monóculo de lente de aumento para conferir o valor e também pesa as peças de ouro. Faz isso demoradamente com cada joia. LUÍSA parece impaciente, mas principalmente envergonhada. Após alguns minutos, o AVALIADOR dá o veredito.

AVALIADOR: - Você tem aqui mais de 250 gramas de ouro 18 e também várias pedras preciosas. O valor será significativo. Mais de 15 mil reais, mas você precisa saber que não há parcelamento para resgatar as joias. Como te disse, você pode renovar os empréstimos pagando os juros. LUÍSA: - Vamos fazer. Eu preciso do dinheiro. Quando eu posso resgatá-lo? AVALIADOR: - Você tem conta no banco? Se não tiver, como o valor é alto, solicitarei um cheque administrativo em seu nome para daqui a dois dias. LUÍSA: - Eu tenho conta sim. AVALIADOR: - Neste caso é mais fácil. O dinheiro estará na sua conta amanhã. Vamos fazer o contrato então. Preciso da sua carteira de identidade e do CPF. Os demais dados eu pego no sistema.

LUÍSA pega os documentos em sua bolsa e entrega ao AVALIADOR que confere os dados no computador à sua frente. Logo em seguida, ele imprime os contratos e os entrega à LUISA que assina e devolve ao AVALIADOR.

AVALIADOR: - Tudo certo. Amanhã o dinheiro estará na sua conta. Qualquer problema guarde o contrato que ele é a sua garantia de depósito e também o documento para retirar as joias ou renovar o empréstimo quando vencer o prazo. (diz entregando o contato à LUÍSA) Bom dia para você! LUÍSA: - Bom dia! Muito obrigada! (diz se levantando para sair)

Quando está de saída, entretanto, ela encontra outras colegas de faculdade. LUÍSA é parada um instante por JULIANA e CAROLINA para saber como está. Ela diz que estava apenas fazendo um saque. Todos se despedem rapidamente.

“O SEGREDO DE LUÍSA”

3º TRATAMENTO

40 ROTEIRO DE EDUARDO FERRARI INSPIRADO NO LIVRO DE FERNANDO DOLABELA

JULIANA: - Oi Luísa, tudo bem com você? Não te vi na escola esses dias. Aconteceu alguma coisa? LUÍSA: - Oi... Olá Juliana! Tudo bem comigo e com você? Nem te vi. Já estava de saída. Vim fazer um saque. CAROLINA: - Mas você anda sumida, viu, Luísa? O professor Leandro andou perguntando por você. Apareça mais nas aulas. LUÍSA: - Vou aparecer, meninas... Mas não reparem que estou na correria agora. A gente se vê na escola. Beijos.

Quando LUÍSA sai, uma delas olha do lugar de onde ela veio. Não está escrito “Caixa”, mas “Penhor”.

43) INTERNA – “MENSAGEM DO PROFESSOR” – DIA

Professor FERNANDO fala para a câmera como se conversasse com o público. Ele está sentado em seu escritório, o mesmo onde atendeu LUÍSA.

FERNANDO: - O Brasil é muito hostil com quem deseja empreender. Oferecemos obstáculos de toda ordem: burocracia para abrir e fechar empresas, tributação inadequada, legislação trabalhista desatualizada, crédito difícil, tudo conspira contra quem quer abrir uma empresa. Só vamos mudar algo se alterarmos o quadro institucional de apoio ao empreendedorismo.

44) INTERNA – “COLAÇÃO SEM GRAU” – DIA

Apesar de ter perdido o interesse no curso de odontologia, LUÍSA chega à Formatura. Suas notas foram apenas medianas, principalmente, no último ano quando se dedicou ainda menos do que de costume nos primeiros anos do curso. LUÍSA está sentada nas primeiras filas do auditório destinadas aos formandos. A cena começa com alguns nomes da turma sendo chamados antes de LUÍSA. Na plateia estão seu pai GERALDO e mãe MARIA HELENA, irmã TINA e seu namorado EDUARDO. No púlpito, o apresentador da cerimônia anuncia o nome dos formandos.

APRESENTADOR: (dando tempo para que a plateia aplauda cada nome) - Letícia Jobim Dias; (pausa) Luciano Ramires Cardoso; (pausa) Luísa Viana Pinheiro; (pausa) Manoela Silveira; (pausa) Marcelo Rocha Mendonça...

Quando o nome de LUÍSA é chamado, ela se levanta do auditório entre seus colegas. Há vários aplausos, mas não são os mais marcantes da noite. LUÍSA caminha até o palco, recebe simbolicamente o diploma do curso e cumprimenta todos os representantes da mesa. Quando termina, se vira para a plateia e consegue ver sua família mais ao fundo. Ela retorna para o grupo de alunos no auditório. A câmera corta para o fim da cerimônia quando o público já está saindo do auditório. Todos esperam por LUÍSA e a cumprimentam. Seu pai GERALDO, entretanto, se mantém mais à distância e espera que sua esposa MARIA HELENA venha para a porta depois de cumprimentar LUÍSA. Eles saem sem esperar por ela. LUÍSA, cercada por EDUARDO, TINA e LENINHA, observa a saída de seus pais.

45) INTERNA – “O NOVO NAMORADO DE TINA” – DIA

“O SEGREDO DE LUÍSA”

3º TRATAMENTO

41 ROTEIRO DE EDUARDO FERRARI INSPIRADO NO LIVRO DE FERNANDO DOLABELA

LUÍSA chega a sua casa depois de um longo dia de peregrinação. Está visivelmente cansada e até suada. Para sua surpresa, sua irmã TINA está à porta abraçada com RODRIGO, um rapaz que ela não conhece. Aos se aproximarem, ambas fazem menção de se cumprimentar. Antes que TINA tenha alguma reação, LUÍSA a puxa pelo braço até um canto.

LUÍSA: - O que está havendo, Tina? Quem é esse rapaz abraçado com você? E o Eriberto, seu namorado? Se alguém na nossa cidade souber disso, você não sabe o escândalo que vai ser. TINA: - Você está parecendo com a mamãe. Para sua informação, todo mundo de casa já sabe que eu terminei com o Eriberto. Ele me queria apenas como dona de casa. A essa altura ele deve estar de braços dados com o Delcídio, um afogando as mágoas do outro. LUÍSA: - Está bom. Então papai e mamãe já sabem, mas quem é esse rapaz? TINA: (fazendo sinal para RODRIGO chegar mais perto) - Este rapaz é o Rodrigo, meu novo namorado. Aliás, nem tão novo assim. Já faz alguns meses que nós nos conhecemos na turma do cursinho. (pausa) O Rodrigo não estuda com a gente, mas tem vários amigos no cursinho. RODRIGO: (oferecendo a mão à LUÍSA para um cumprimento) - Muito prazer Luísa! Há tempos estou querendo conhecê-la e conversar várias coisas com você. LUÍSA: - Comigo? (demonstrando espanto) Como assim comigo, Tina? (dirigindo-se à irmã) Ah, quase esqueci, muito prazer também, Rodrigo! TINA: - Pois é. Ele anda mais interessado em você do que em mim ultimamente. (pausa) Desde que falei que minha irmã estava planejando abrir uma fábrica, ele quis conversar com você. RODRIGO: - Eu estudo administração e trabalho numa empresa júnior, criada pelos alunos da universidade. Existem várias em diferentes cursos para permitir que os alunos ganhem experiência na gestão de outras empresas, na prestação de serviços e dando consultorias a baixo custo com a supervisão de professores. (pausa) Quando sua irmã me falou da sua empresa eu quis muito poder ajudar, principalmente na gestão financeira que é a área que estou me especializando. LUÍSA: - É uma grande coincidência ou você parece ter adivinhado. Eu ando mesmo precisando de ajuda na análise financeira e na aplicação desses recursos. RODRIGO: - Não é coincidência. É destino. (rindo) Sua irmã apareceu na minha vida para eu aparecer na sua. (pausa) TINA: - Viu? Não te falei? Ele só quer saber de você agora. (beliscando RODRIGO e sorrindo para LUÍSA) RODRIGO:

“O SEGREDO DE LUÍSA”

3º TRATAMENTO

42 ROTEIRO DE EDUARDO FERRARI INSPIRADO NO LIVRO DE FERNANDO DOLABELA

- Mas não vai me convidar para entrar? Que hábito é esse de deixar as pessoas só na porta? (rindo) LUÍSA: - Ah, desculpe. Vamos entrar. (abrindo a porta) Só não repara que a casa é bem pequena e está uma bagunça. RODRIGO: - O que é isso? Imagina. (pausa) Eu trouxe Coca-cola. Além de vocês, isso basta. Vamos conversar.

Todos entram e a porta se fecha atrás deles.

46) INTERNA – “O SEGREDO” – DIA

EDUARDO está chegando à casa de LUÍSA. Ele veio sem avisar. Haviam combinado de sair somente perto do fim da tarde, mas para evitar o trânsito, EDUARDO saiu do escritório mais cedo e foi até casa dela. Para sua surpresa, ela está saindo. Assim que ele quase para o carro, LUÍSA entra num carro logo à frente. Alguém vestido de preto está dirigindo, mas ele não consegue ver quem é. EDUARDO resolve seguir LUÍSA e mantém certa distância. O carro onde está LUÍSA faz o retorno rumo ao centro da cidade. A câmera acompanha apenas do ponto de vista de EDUARDO o caminho seguido pelo carro onde LUÍSA está. Depois de passar por várias ruas, o carro de LUÍSA para diante de um grande portão (no mesmo ambiente da Cena 26 – “Siga aquele carro”). O portão se abre e o carro entra. EDUARDO estaciona o carro logo depois e espera pela saída de LUÍSA, atento para ver se ela irá sair novamente de carro ou não. Ele fica cerca de duas horas dentro do carro quando finalmente vê LUÍSA sair. Ela, entretanto, segue em direção oposta ao seu carro e ele prefere deixá-la ir. Quando ela não está mais à vista, EDUARDO desce do carro e vai até o portão da construção. Ele vê escrito “Convento São Bento” e toca a campainha. Vários minutos se passam e ele é finalmente atendido por uma senhora com vestes de freira.

FREIRA: - Em que posso ajudá-lo? EDUARDO: (inventado uma desculpa) - Boa tarde, senhora! Meu nome é Eduardo. Eu tenho uma amiga que sempre vem aqui e por isso eu queria saber que tipo de trabalho vocês desenvolvem aqui. Quem sabe também não posso ajudar? FREIRA: - Ah, você deve ser amigo de Luísa. Ela nos falou de você. EDUARDO: (surpreso) - Falou? FREIRA: - Sim, ela acabou de sair. Ela nos ajuda em nosso trabalho social desde que entrou para a faculdade de odontologia. Aqui nós recebemos crianças abandonadas e lhes damos um lar. Graças ao trabalho de pessoas como Luísa prestamos assistência médica a todas as crianças. Ela atende no horário que a gente precisa, não importa o dia e fica até atender a última criança. Às vezes, como hoje, são mais de duas dezenas de crianças de uma só vez.

EDUARDO ficou em silêncio.

FREIRA:

“O SEGREDO DE LUÍSA”

3º TRATAMENTO

43 ROTEIRO DE EDUARDO FERRARI INSPIRADO NO LIVRO DE FERNANDO DOLABELA

- Quer conhecer as instalações e algumas crianças? Sempre precisamos de voluntários. EDUARDO: - Claro. Por favor.

A FREIRA indicou o caminho e EDUARDO a seguiu. Ele percorre corredores da casa anexa ao convento onde estava instalada a creche para atendimento às crianças. Após alguns minutos, foi levado de volta até o local por onde entrou no convento.

FREIRA: - Volte com Luísa na próxima vez. Deve ser no meio dessa semana. Vamos ligar para ela e pedir para uma de nossas voluntárias buscá-la. Espero que tenha gostado.

A câmera mostra apenas a FREIRA fechando a porta logo depois de terminar de falar com EDUARDO. Ele não aparece na cena.

47) EXTERNA – “AMIGA RICA, AMIGA POBRE” – DIA

LUÍSA recebe a visita de sua mãe MARIA HELENA em Belo Horizonte. A mãe veio ver como ela estava e ambas saem para fazer algumas compras num hipermercado da cidade. Elas caminham entre as gôndolas, empurrando um carrinho e escolhendo alguns produtos, enquanto conversam.

LUÍSA: - Obrigada por me fazer companhia, mãe. Esses dias de empresária tem sido muito solitários. Como está o papai? MARIA HELENA: - Pois é, minha filha! É justamente sobre isso que eu vim lhe falar. Seu pai anda inconsolável e nem é porque ele perdeu a filha doutora. LUÍSA: - Mãe, ele não perdeu a doutora. Eu me formei, lembra? Eu virei dentista. Só não sei o que vou fazer com o diploma. (pausa) Acho que dependurar em cima da geladeira. (rindo) MARIA HELENA: - Não é disso que ele tem medo. Que você nunca exerça a profissão. (pausa) Ele tem medo de perder a filha mesmo. LUÍSA: - É o que a senhora pensa também? Que perdeu a filha? MARIA HELENA: - Claro que não. (pausa) Mas o mais grave é que sua avó Mestra anda muito doente e você quase não vai mais a Ponte Nova. Ela está precisando da sua visita.

LUÍSA fica em silêncio e escolhe um último produto que coloca no carrinho.

LUÍSA: - Pronto. Vamos para o caixa, mãe? MARIA HELENA: - Vamos.

Enquanto esperam na fila, LUÍSA encontra com ANDRÉIA, uma ex-colega do curso de odontologia logo a sua frente. Ela está vestida toda de branco, como se tivesse acabado de sair do consultório, e acompanhada de seu marido.

“O SEGREDO DE LUÍSA”

3º TRATAMENTO

44 ROTEIRO DE EDUARDO FERRARI INSPIRADO NO LIVRO DE FERNANDO DOLABELA

ANDRÉIA: - Oi Luísa! (diz quase eufórica) Há quanto tempo? Como vão as coisas? (pausa) Deixa eu te apresentar meu marido, Frederico. (pausa) Fred, essa é a famosa Luísa. Uma das minhas colegas de curso mais brilhante.

FREDERICO: - Muito prazer, Luísa! LUÍSA: - Muito prazer, Fred. E que bom te ver Andréia. Faz algum tempo realmente. Você se lembra da minha mãe? (se cumprimentam ANDRÉIA e MARIA HELENA) Em que área você se especializou? ANDRÉIA: - Implantodontia e Reabilitação Oral. Temos uma clínica no Belvedere. Graças a Deus, os negócios vão bem. E você? LUÍSA: - Virei empresária. Estou na empreitada de montar meu próprio negócio na área de alimentos.

Enquanto conversam, LUÍSA e ANDRÉIA passam suas compras e caminham juntas até o estacionamento. LUÍSA irá pegar um táxi com sua mãe. ANDRÉIA vai até um carro importado, tipo um sedan novo e FREDERICO começa colocar as compras no porta-malas enquanto ela se despede de LUÍSA.

ANDRÉIA: - Foi um prazer revê-la, Luísa. Sucesso para você. Se precisar de uma dentista, marca uma consulta na clínica. (diz sorrindo enquanto entrega um cartão).

Todos se despedem. LUÍSA coloca as compras no porta-malas do taxi ajudada pelo próprio taxista. MARIA HELENA observa o carro importado, quase reluzente, deixar o estacionamento.

MARIA HELENA: - Está vendo? Se tivesse seguido o trabalho como dentista... LUÍSA: - Vamos para casa, mãe!

Elas entram no táxi.

48) INTERNA – “FÉRIAS FORÇADAS” – DIA

Tia FERNANDA vai até a casa de LUÍSA em Belo Horizonte para convidá-la para uma viagem para fora do Brasil. Quando chega, com um papel na mão tentando confirmar o endereço, tia FERNANDA encontra EDUARDO, chegando simultaneamente à casa de LUÍSA. Ela ainda não o conhece, embora tenha ouvido falar dele, porque não pôde vir à formatura. Como alguém estava saindo e deixou o portão aberto para eles, ambos caminham o trajeto entre o portão de fora e a porta do apartamento sem precisar se anunciar para LUÍSA. FERNANDA e EDUARDO entram juntos, a certa distância lateral um do outro, e vão seguindo para o apartamento de LUÍSA. A cada passo, parecem perceber que estão indo para o mesmo lugar e se entreolham. Quando finalmente chegou à porta tentam tocar a campanhia, mas a mão de um impede a mão do outro.

FERNANDA:

“O SEGREDO DE LUÍSA”

3º TRATAMENTO

45 ROTEIRO DE EDUARDO FERRARI INSPIRADO NO LIVRO DE FERNANDO DOLABELA

- Você deve ser o famoso Eduardo, o novo namorado da Luísa. Muito prazer, eu sou a tia Fernanda, mas se me chamar de tia ou de senhora deserdo você e a minha sobrinha! EDUARDO: - É um prazer conhecê-la, ti... Quer dizer, Fernanda. A senho... Você não pôde vir à formatura então ainda não tínhamos sido apresentados FERNANDA: - Quase não me perdoei por isso, mas não teve jeito. (pausa) Então, vim aqui pra me redimir e dar meu presente de formatura para Luísa.

LUÍSA, sem saber que tia FERNANDA e EDUARDO conversam diante de sua porta, se prepara para sair. Entretanto, quando abre a porta dá de cara com ambos.

LUÍSA: - Tia Fernanda? Eduardo? O que fazem aqui? FERNANDA: - Viemos te ver! (pausa) Não é mesmo Eduardo? EDUARDO: - Sim, mas e essa bolsa na mão? Você está de saída? Aonde vai? LUÍSA: - Eu? Há lugar nenhum. Iria comprar um lanche... Mas, espera ai, vocês ainda não se conheciam. Quem os apresentou? FERNANDA: - Nós nos apresentamos. Não é mesmo, Edu? (pausa) E olhe, minha sobrinha, ele é mais bonito do que me disseram. (pausa) Não vai nos convidar para entrar? Por mim, posso ficar na sua porta o dia inteiro. LUÍSA: - Por favor, entre tia Fernanda. (pausa) Você nem preciso convidar, não é, Edu?

LUÍSA, tia FERNANDA e EDUARDO passam pela porta. LUÍSA, a última a passar, fecha a porta e faz sinal para que todos se sentem.

LUÍSA: - Mas tia o que a traz até aqui? A senhora não avisou que vinha. Senti sua falta na formatura, apesar de tudo. FERNANDA: - Ora, você sabe. Vim conhecer o Edu. (pausa) Estou brincando, claro. Vim me desculpar e te dar seu presente de formatura. (entrega um envelope à LUÍSA) LUÍSA: - Nossa, tia. A senhora sabe que não precisa, não é? (pausa) O que é? LUÍSA: - Abra e descubra. (pausa) Um aviso: não aceito devoluções e nem um não como resposta.

LUÍSA abre o envelope. Nele está uma passagem internacional e uma reserva para um resort. LUÍSA fica surpresa.

LUÍSA:

“O SEGREDO DE LUÍSA”

3º TRATAMENTO

46 ROTEIRO DE EDUARDO FERRARI INSPIRADO NO LIVRO DE FERNANDO DOLABELA

- Uma viagem internacional num resort cinco estrelas, tia? A senhora ficou maluca? Deve ter custado uma fortuna. FERNANDA: - Você vai comigo. Faz anos que estou me prometendo conhecer Miami e sempre adio. Dessa vez, eu vou e vou te levar comigo. LUÍSA: - Isso lá é momento de eu viajar, ainda mais para fora do Brasil? FERNANDA: - É o momento perfeito. Você está precisando. Não tem tido um minuto de descanso e também tem passado por grandes privações. Vai ser a oportunidade perfeita para você descansar, arejar as ideias e, principalmente, me fazer companhia. (pausa) A propósito, sua entrevista no consulado americano já é na semana que vem. E não reclame: no futuro, o visto vai ser útil também. (pausa) Não concorda, Edu? (olhando para EDUARDO) EDUARDO: - Eu concordo, tia... quer dizer, Fernanda! A Luísa está mesmo precisando descansar, desligar um pouco. (pausa) Além disso, vai ser apenas por uns dias. Não há nada aqui que não possa esperar. LUÍSA: - Estou vendo que vocês estavam era conspirando antes de entrar. (pausa) Aceitam um refrigerante?

49) INTERNA – “NAS NUVENS” – NOITE

LUÍSA e tia FERNANDA estão dentro do avião rumo a Miami. Para agradar à sobrinha, tia FERNANDA optou por passagens na classe executiva. As aeromoças servem o jantar. De “sobremesa”, algumas barras de doces como banana e cereais.

LUÍSA: - Está vendo, tia? Olha o que servem de sobremesa. Barras de doces e cereais. Tenho certeza de que um dia, vai ser o doce da nossa terra que vai estar nesse voo e muitos outros. FERNANDA: - Você não consegue parar de pensar em trabalho? Eu te trouxe para você recarregar as energias. (pausa) Veja bem o que vai fazer nessa viagem, menina! Não vá me abandonar senão eu reclamo com a Dona Maria Helena! (rindo) LUÍSA: - Não sei o que vou fazer, mas tenho certeza de que assim que chegar por lá, eu vou descobrir, tia! FERNANDA: - Nada de arrumar outro namorado. Trocar um por ano já basta. Além disso, gostei muito do Eduardo e prometi para ele que tomava conta de você. LUÍSA: - Não é disso que estou falando, tia. Estou falando de conhecer um mercado que não conheço. De abrir os horizontes. De ver de perto outro país. (pausa) A senhora sabe que é a minha primeira viagem internacional. Quem faz sucesso nos Estados Unidos, faz sucesso em qualquer lugar do mundo. Imagine se a GMA consegue colocar seus produtos lá. E para turistas? Pronto. Já seríamos um sucesso. FERNANDA:

“O SEGREDO DE LUÍSA”

3º TRATAMENTO

47 ROTEIRO DE EDUARDO FERRARI INSPIRADO NO LIVRO DE FERNANDO DOLABELA

- Concordo com você, Luísa. Agora, vá com calma. Você ainda nem tem uma empresa. Aproveite as férias. Na volta você pensa nisso. (pausa) Além disso, quero companhia, principalmente para compras. LUÍSA: - Vou tentar, tia. Vou tentar. FERNANDA: - Já terminou seu jantar? Agora vá dormir. Quando a gente acordar já vai ser em terras americanas. Descansa essa cabeça.

Nesse momento, as luzes são reduzidas na cabine dos passageiros. Tia FERNANDA fecha os olhos. LUÍSA fica por um instante olhando pela janela. A câmera mostra o céu estrelado quase sem nuvens. LUÍSA também fecha os olhos.

50) EXTERNA – “CITY TOUR” – DIA

Caracteres em superposição: MIAMI, FLÓRIDA - ESTADOS UNIDOS LUÍSA e tia FERNANDA são vistas saindo pelo portão principal da fachada do aeroporto internacional de Miami. Ainda são cerca de 8 horas da manhã. Como tia FERNANDA comprou um pacote, elas tem direito a traslado até o hotel. Ambas entram num van com mais algumas pessoas e seguem o caminho pela estrada de acesso à cidade. Durante o trajeto, a câmera mostra o movimento das ruas até chegar a Miami Beach onde também é possível ver diversas marcas, lojas, atrações e a beira mar característicos da cidade.

51) INTERNA – “BREAKFAST & DESSERT” – DIA

LUÍSA e tia FERNANDA desembarcam na porta do hotel. Elas saem de cena, mas a câmera ainda passeia pelo ambiente mostrando um pouco do luxo do hotel. Algum tempo depois, LUÍSA e tia FERNANDA são vistas já na restaurante do hotel, tomando café da manhã.

FERNANDA: - Ainda bem que deu tempo de tomarmos o café. Você sabe. Eu não sou ninguém sem um bom café da manhã. (pausa) Tem cada sobremesa. Eu adoro. LUÍSA: - Sobremesa? Sobremesa. É isso tia. A senhora tem toda razão. As sobremesas são parte da resposta. Quem não ia querer uma sobremesa típica do Brasil? (levanta-se) Preciso ver quais as opções de sobremesa neste café da manhã. (seguindo em direção à mesa de self-service) FERNANDA: - Deixa disso, menina. Volta aqui que precisamos ver a programação de compras para o dia e as opções de restaurantes para o almoço. (pausa) Se der tempo, quem sabe a gente não põe um biquíni. Melhor não. (olhando para si mesma) Você põe um biquine e vamos à praia? LUÍSA: - Tia, agora não vai dar. (olhando para a mesa e vendo diversos pontinhos lacrados de doces para consumo individual) Preciso ver algumas coisas. Vai se divertindo sem mim e mais tarde a gente se encontra. Obrigada, tia. Muito obrigada. (saindo em direção à área dos apartamentos) FERNANDA: - Essa menina não toma jeito. Ela me lembra de alguém. Quem será? (pausa) Provavelmente, eu. (risos)

52) EXTERNA & INTERNA – “FAST & FOOD” – DIA

“O SEGREDO DE LUÍSA”

3º TRATAMENTO

48 ROTEIRO DE EDUARDO FERRARI INSPIRADO NO LIVRO DE FERNANDO DOLABELA

LUÍSA caminha por Miami Beach. É possível vê-la entrar em alguns restaurantes, lanchonetes de fastfood e até supermercados. A cada parada, LUÍSA procura pelo gerente da casa e fica algum tempo conversando sobre produtos e compras. Ela se apresenta como estudante brasileira. Ela carrega uma mochila de onde tira várias cópias de seu plano de negócio (num formato de folder que fez especialmente para a viagem) e deixa seus contatos. A cena se repete várias vezes. LUÍSA caminha do início da manhã até o fim da tarde. Antes de anoitecer, volta ao hotel. LUÍSA esqueceu que FERNANDA estava esperando por ela. LUÍSA vai até o apartamento sem saber se sua tia está por lá, mas quando entra é surpreendida por ela.

FERNANDA: - Muito bonito, hein? Por onde a senhorita andou o dia inteiro? Está pensando que aqui é a praça da matriz de Ponte Nova? E se acontecer alguma coisa? Vou dizer o que para seus pais, menina? Além disso, eu também fiquei preocupada. (pausa) Nem precisa me contar nada que eu não quero saber. Não te trouxe aqui para você fazer contatos comerciais. Viemos para descansar. LUÍSA: - Não precisava se preocupar, tia! A senhora sabe que meu inglês é ótimo. Não vou me perder. FERNANDA: - O seu inglês pode ser ótimo, mas o meu é péssimo. Preciso de sua ajuda para não me perder ou ser enganada nas compras pelos gringos (pausa). Assim, amanhã, vamos às compras e nem adianta tentar fugir ou arrumar uma desculpa. Se não sair comigo, te coloco no primeiro voo de volta.

53) INTERNA – “ROAD SHOW” – DIA

LUÍSA e tia FERNANDA são vistas descendo de um táxi próximo a uma dos grandes shoppings de Miami. LUÍSA está visivelmente entediada quando finalmente percebe que num centro de compras daquele porte, com lojas de departamentos, cafés, restaurantes e outras lojas de grife internacionais, tem a oportunidade de entender um pouco mais sobre o mercado americano. Logo ela se anima e sai à frente de tia FERNANDA quase a deixando para trás. A cena de LUÍSA conversando com vendedores, gerentes e representantes das lojas se repetem. Ela olha os diversos produtos, inclusive alguns doces em embalagens lacradas, e se anima quando reconhece que vários deles têm os dizeres “Made in Brazil”. Agora é FERNANDA quem tem que apressar LUÍSA, praticamente a puxando de algumas lojas. A cada investida da tia, a cena se repete em outra loja. Novamente, o dia passa e ambas continuam sua peregrinação até quase anoitecer. A câmera corta para LUÍSA e FERNANDA abrindo a porta de seu apartamento no hotel onde estão hospedadas. FERNANDA se joga na cama. LUÍSA se senta na cama ao lado, pega seu notebook e vai fazer algumas anotações dos diversos materiais e cartões que pegou durante o dia.

54) INTERNA – “DESEMBARQUE” – DIA

LUÍSA acaba de desembarcar dos Estados Unidos com sua tia FERNANDA. Assim que pega suas malas, ela liga o celular. Há vários recados. LUÍSA começa ouvi-los. Ela sai caminhando até a porta da sala de desembarque do aeroporto de Confins com o ouvido colado no celular. EDUARDO está na porta esperando por ela e por FERNANDA. Alguns são ex-colegas da faculdade, propostas de trabalho, um recado de EDUARDO e finalmente uma de HELDER MENDONÇA, do Forno de Minas. LUÍSA escuta este último com especial atenção.

“O SEGREDO DE LUÍSA”

3º TRATAMENTO

49 ROTEIRO DE EDUARDO FERRARI INSPIRADO NO LIVRO DE FERNANDO DOLABELA

FERNANDA: - Vamos, minha sobrinha! Pegar nossas malas e descansar! Fiquei cansada de correr atrás de você nessa viagem, viu? LUÍSA: - Desculpe-me, tia! No fim eu estava ansiosa para voltar para casa e colocar em prática o que vi por lá. (pausa) Vamos pegar as nossas malas!

LUÍSA liga o celular que apita avisando que há mensagens. Ela começa a ouvir:

VOZ ELETRÔNICA: (dito pausadamente) - Você tem sete novas mensagens. 1ª MENSAGEM: - Luísa? É a Leninha, onde você se meteu menina? Estou há dias te procurando. Liga quando... (LUÍSA apaga a mensagem). Mensagem apagada. (diz a VOZ ELETRÔNICA) 2ª MENSAGEM: - Luísa? É o professor Leandro. Tenho uma proposta de trabalho para você. A clínica está precisando de dentistas novos. Por favor me ligue no... (LUÍSA apaga a mensagem). Mensagem apagada. (diz a VOZ ELETRÔNICA) 3ª MENSAGEM: - Ei... É a Tina... Como foi a viagem? Liga pra mim quando chegar, precisamos marcar alguma... (LUÍSA apaga a mensagem). Mensagem apagada. (diz a VOZ ELETRÔNICA) 4ª MENSAGEM: - Luísa, é o Edu. Espero que você ouça esse recado quando chegar no aeroporto. Estou um pouco atrasado, mas vou chegar. Espere por mim no desembarque, ok? (LUÍSA apaga a mensagem). Mensagem apagada. (diz a VOZ ELETRÔNICA) 5ª MENSAGEM: - Luííísa, aqui quem está falando é o seu mentor. Lembra-se de mim? Helder Mendonça? Pois é... Eu sei que a conversa com o Acácio não foi boa, mas agora eu tenho outro nome que quer te fazer outra oferta. Quem sabe dessa vez não é interessa? O nome dele é Romeu Neto e ele tem uma fábrica de alimentos que está parada. Liga para ele e marca. O telefone dele é 9999...

Exatamente nesse momento, LUÍSA, que estava caminhando, chega à porta da sala de desembarque e EDUARDO vem em sua direção. Ele interrompe a mensagem que ela ouvia.

EDUARDO: - Oi, meu amor! (se aproximando para dar um beijo em LUÍSA) LUÍSA: - Espera aí, Edu. (tirando o rosto da direção de EDUARDO) Estou ouvindo um recado importante... (LUÍSA aperta novamente a tecla para ouvir novamente a mesma mensagem) Preciso de uma caneta, urgente. Você tem? EDUARDO: - Eu não... Ah, e a propósito, eu também senti a sua falta. (pausa) Oi, tia Fernanda. Foi assim a viagem inteira? Fizeram boa viagem? (se dirigindo a FERNANDA que vinha logo atrás de LUÍSA) FERNANDA:

“O SEGREDO DE LUÍSA”

3º TRATAMENTO

50 ROTEIRO DE EDUARDO FERRARI INSPIRADO NO LIVRO DE FERNANDO DOLABELA

- Não, Edu... Foi pior do que isso. Nem te conto. (pausa) Pra variar, sua namorada desapareceu todos os dias. Mas fizemos uma boa viagem sim. LUÍSA: - Moço, o senhor tem uma caneta pra me emprestar? (diz para o atendente na loja de revista próxima ao desembarque)

O atendente empresta a caneta à LUÍSA que ouve novamente a mensagem:

MENSAGEM DE VOZ: (voz de HELDER MENDONÇA) - O nome dele é Romeu Neto e ele tem uma fábrica de alimentos que está parada. Liga para ele e marca. O telefone dele é 9999-2345. Eu já avisei que você ligaria. Boa sorte. Depois me dê notícias. Abraço.

LUÍSA anota o telefone na própria mão e depois repassa para a memória do celular.

55) INTERNA – “O TAXISTA” – DIA

LUÍSA está no ponto de táxi à espera de um. Ela confere em sua carteira a quantidade de dinheiro para pegar o táxi. Ela está vestida com um “terninho” e salto alto para ficar apresentável para a reunião que terá com mais um possível sócio para a GMA Alimentos. Ela irá se encontrar com o industrial ROMEU NETO, da Doceminas que possui três unidades fabris, duas na região metropolitana e uma na Rodovia MG 262, entre as cidades de Mariana e Ponte Nova, cidade natal de LUÍSA. A entrevista acontece num restaurante Santa Fé, que fica no hotel Promenade Champagnat, na zona sul de Belo Horizonte, onde ROMEU está hospedado. Por este motivo, LUÍSA decide pegar o táxi.

LUÍSA: - Bom dia, senhor! Vamos para a Savassi. (Lendo num papel) Na esquina das ruas Santa Rita Durão e Pernambuco, onde está o restaurante Santa Fé. (pausa) O senhor sabe onde fica? OLEGÁRIO: - Sei sim, senhorita. E pode me chamar de Olegário, nada de senhor. (pausa) Está indo para alguma entrevista de trabalho? LUÍSA: (sorrindo) - É, é quase isso. (pausa) Se der certo vai dar muito trabalho. OLEGÁRIO: - Ah, então é uma coisa boa. (pausa) Mas você não está com uma cara muito animada, viu? Desculpe perguntar, mas o que aconteceu? LUÍSA: - Não, não tem problema. Pode perguntar sim. (pausa) Estou um pouco desanimada porque já tive uma reunião dessas e a conversa não foi boa. (pausa) Tem horas que a gente quase quer desistir, viu? OLEGÁRIO: - Ô, minha filha... Nunca desista. O que a gente tem que fazer é caminhar, porque nunca sabe se o sonho está perto ou longe. LUÍSA: - Nossa, o senhor agora falou como a minha avô. (pausa pensativa) Posso desistir não. Nem vou. Falta muito para chegarmos?

56) INTERNA – “NEGÓCIO FECHADO” – DIA

“O SEGREDO DE LUÍSA”

3º TRATAMENTO

51 ROTEIRO DE EDUARDO FERRARI INSPIRADO NO LIVRO DE FERNANDO DOLABELA

O táxi chega em frente ao hotel e para. LUÍSA sai do carro entregando o dinheiro para OLEGÁRIO.

LUÍSA: - Obrigada, “Seu” Olegário. Bom dia para o senhor. OLEGÁRIO: - De nada! Vai com Deus, minha filha! E boa sorte.

LUÍSA chega à entrada do restaurante. Logo que entra, pergunta pelo senhor ROMEU NETO. O “concierge” indica um senhor sentado à mesa numas das mesas laterais ao fundo. O restaurante não está muito cheio devido ao horário pouco antes das 11 horas da manhã. Assim que se aproxima, LUÍSA olha para ROMEU que se levanta para cumprimentá-la.

ROMEU: - Seja vem vinda. Eu estava ansioso para falar com você, Luísa. (pausa) Faz dias que te liguei, mas só caía na caixa postal. Depois, Helder me disse que você estava viajando e avisaria para você do meu interesse. (pausa) Obrigado por vir. LUÍSA: - Desculpe a demora em retornar, mas viajei para o exterior e fiquei meio incomunicável. Ainda bem que voltei a tempo de falarmos. (pausa) Eu é que agradeço o interesse. ROMEU: - Logo que Helder me contou o seu caso, eu pensei que nós podíamos fazer negócio. (pausa) Não sei se ele te deu muito detalhes, mas eu sou proprietário de um empresa que se chama Doceminas. Tenho três unidades e uma delas fica próximo a sua cidade, na estrada entre Mariana e Ponte Nova. (pausa) Justamente, essa unidade está parada. O que eu tinha pensado então era que você poderia utilizar minhas instalações de lá para produzir a goiabada. Em contrapartida, você me pagaria um valor unitário pela industrialização. O que acha? LUÍSA: Nossa, eu quase pensei em aceitar a proposta de outro industrial, que na verdade não me queria como sócia. Queria mais que eu fosse gerente do negócio dele com uma pequena participação na empresa dele. ROMEU: - Olha Luísa, não faço essa proposta para ser bonzinho com você. (pausa) Se você aceitar, vai ser ótimo para minha pois a unidade está parada. Posso lhe dar carência de três meses para você formar capital de giro. Ou a outra hipótese, já que acredito no seu negócio, é a gente fazer um contrato de risco em que eu teria 10% do seu faturamento bruto. Mas não vai ser fácil. A unidade está fechada e, embora as máquinas estejam em bom estado, não tem nenhuma mão de obra por lá. Você vai ter montar tudo, contratar pessoas, criar marca, distribuir. (pausa) A vantagem é que o negócio vai ser todo seu. Você praticamente vai ter que me pagar como um aluguel da fábrica. (longa pausa) O que acha? Você não precisa me responder agora, viu? Se quiser um tempo para pensar... LUÍSA: - Quando posso conhecer a fábrica?

ROMEU abre um sorriso e faz um sinal para o garçom. Ele se aproxima com o cardápio e entrega ao empresário. LUÍSA também sorri.

“O SEGREDO DE LUÍSA”

3º TRATAMENTO

52 ROTEIRO DE EDUARDO FERRARI INSPIRADO NO LIVRO DE FERNANDO DOLABELA

ROMEU: - Vamos pedir então?

ROMEU NETO e LUÍSA conversam animadamente enquanto a câmera se afasta até sair do restaurante.

57) EXTERNA & INTERNA – “MÃOS À OBRA” – DIA

LUÍSA visita as instalações da fábrica de doces desativada de ROMEU NETO. TINA acompanha a irmã a pedidos dela própria. A fábrica fica a cerca de 30 quilômetros de Ponte Nova, na rodovia entre a cidade e Belo Horizonte. As instalações estão fechadas há três anos. A fábrica não é nova, mas está bastante preservada. TINA vai no carro do pai até a fábrica. LUÍSA já a espera em frente à fábrica. Ela veio de ônibus de Belo Horizonte e pediu ao motorista para descer ali. TINA desce do carro depois de parar em frente no portão de grades da fábrica. Ambas se cumprimentam.

LUÍSA: - O que você disse a papai para pegar o carro dele emprestado e vir até aqui? Se ele souber que está visitando uma fábrica comigo é capaz de não falar mais com você. A propósito: muito obrigada por vir... TINA: - Ora, sou sua única irmã, não sou? Nem precisa me agradecer. Eu viria mesmo que não me pedisse. (pausa) Quanto a papai, não se preocupe. Disse a ele que iria visitar uma amiga na estrada rural. Ele não vai sentir minha falta pelo menos pelas próximas duas horas. (pausa) Então? Vamos lá? (diz apontando para a fábrica). LUÍSA: - Sim, claro! Vamos.

LUÍSA pega as chaves e abre o portão de correr. Na entrada passam por uma pequena guarita. Ao redor da fábrica há o que seria um gramado. Por falta de cuidados ele está amarelado e com diversas falhas. LUÍSA e TINA caminham até a entrada do galpão. LUÍSA tenta abrir a porta, mas ela está emperrada. TINA precisa ajudá-la para abrir a tal porta. Quando conseguem abrir o portão, ele se abre do ponto de vista de que está dentro da fábrica. O ambiente está na penumbra, LUÍSA e TINA não conseguem ver todos os detalhes por completo, entretanto, caminham entre a linha de montagem vagarosamente. LUÍSA encontra um interruptor e o aciona. Nesse momento, todas as luzes da linha de produção se acendem. LUÍSA e TINA são vistas de costas, paralisadas. A câmera faz a volta sobre elas mostrando numa panorâmica toda a fábrica iluminada, embora um pouco empoeirada.

TINA: - É uma bela visão, não é? Só acho que não vai ser nada fácil. A fábrica está precisando de mais do que uma faxina. Ainda quer prosseguir com isso? LUÍSA: - Você acha que alguma coisa foi fácil até agora, minha irmã? (pausa) Precisa de uma faxina, mas vai me servir. Ela serve perfeitamente para começarmos. TINA: - Ah, é? Viu o tamanho dessa linha de produção? São dezenas de panelas. Você vai precisar de muita gente que saiba fazer seus doces para dar conta de uma fábrica dessas. Onde vai arranjar tanta mão de obra assim? LUÍSA:

“O SEGREDO DE LUÍSA”

3º TRATAMENTO

53 ROTEIRO DE EDUARDO FERRARI INSPIRADO NO LIVRO DE FERNANDO DOLABELA

- Ora, Tina... Estamos em Ponte Nova, terra da melhor goiabada cascão do mundo. Qualquer senhora ou até as meninas nessa cidade sabem fazer um doce sem igual. E eu sei exatamente onde elas estão. TINA: - Você está falando das “doceiras” que ficam à beira da estrada rural da nossa cidade? LUÍSA: - Sim. Tenho certeza de que posso ajudá-las e que elas também seriam um diferencial para a fábrica. Uma mão lava a outra. (pausa) E com a receita da nossa família, certamente, faremos o melhor da terra do melhor doce do mundo. (pausa) Outra coisa boa da fábrica ser nessa região é que grande parte da produção de goiabas de Minas é vendida em Viçosa, que também é bem próximo daqui. TINA: - Eu não duvido que você tenha coragem de fazer isso, mas me conta o que você realmente entende de produção industrial de alimentos e como vai conseguir colocar o produto no mercado? LUÍSA: - Eu não entendia muita coisa. Era só uma ideia na cabeça, você sabe. Mas isso já mudou faz tempo. No último ano, eu criei uma rede de relacionamentos que tornou possível inclusive arrendar essa fábrica. (pausa) Romeu Neto é um industrial experiente e vai me ajudar no processo. Já o Helder Mendonça, do Forno de Minas, vai me ajudar na distribuição do produto. Com uma rede dessas, não tem como dar errado. TINA: - Então você já decidiu? Vai mesmo arrendar essa fábrica e colocá-la para funcionar? LUÍSA: - O que você acha?

TINA sorri e abraça a irmã. Ambas voltam a caminhar e a ver outros detalhes da fábrica.

58) INTERNA – “MENSAGEM DO MENTOR” – DIA

HELDER MENDONÇA fala para a câmera como se conversasse com o público. Ele está sentado em seu escritório, o mesmo onde atendeu LUÍSA.

HELDER: - O trabalho gera prazer. O empreendedor, como o artista, jamais pensa em aposentadoria, porque significa o abandono de sua paixão. Depois de vender a fábrica para uma multinacional e de anos trabalhando menos, eu voltei ao negócio original. Recomprei a fábrica deles e estou trabalhando dois turnos por dias. Mas quer saber? Não estou reclamando. Estava muito novo para pendurar as chuteiras. É este o tipo de sucesso que eu te desejo.

59) EXTERNA – “DE PORTA EM PORTA” – DIA

A câmera vem passando (e passeando) pelo meio de uma grande plantação de goiabas. Depois a imagem vai abrindo para mostrar o tamanho da área até chegar a um grupo de pequenas casas espalhadas, as mesmas casas da cena 4 (“Estrada Rural”). LUÍSA para de porta em porta para conversar com as senhoras que sempre via vendendo os doces. Logo na primeira casa, ela se apresenta e faz o convite para a dona da casa vir trabalhar na fábrica. A ideia de LUÍSA é aproveitar o know-how das doceiras na fábrica e também implantar uma creche na fábrica para que elas possam trabalhar sem se preocupar onde deixar suas crianças. Ela também pretende colocar dois ônibus para transporte das doceiras até a fábrica.

“O SEGREDO DE LUÍSA”

3º TRATAMENTO

54 ROTEIRO DE EDUARDO FERRARI INSPIRADO NO LIVRO DE FERNANDO DOLABELA

LUÍSA: (à porta da casa) - Bom dia! A senhora é que a Dona Marlene? MARLENE: - Sim, sou eu. E você, quem é? (pausa) Espera um pouco, eu te conheço. Você é a neta da Dona Amália, não é? Como ela faz falta, viu? Ela era tão boa com a gente. Sempre que podia nos ajudava. (pausa) Mas o que veio fazer aqui? LUÍSA: - Ah, a senhora lembra-se da minha avó? Saudade dela, não é? Foi justamente porque a senhora a conheceu é que comecei minha peregrinação por aqui. (pausa) Então. Em vim fazer uma proposta de trabalho para a senhora e para todas as doceiras da região. (pausa) Estou montando uma fábrica de goiabadas, nossa iguaria local, próximo de Ponte Nova, e preciso de mão de obra. Não pude pensar em outras pessoas que não fossem as doceiras como a senhora. MARLENE: - Minha filha, eu adoraria trabalhar numa fábrica de doces, mas tenho dois meninos e não tenho com quem deixá-los. Toda vez que tentei arranjar um emprego na cidade, não consegui. Ninguém quer contratar um peso para sua empresa. (pausa) Então, tenho que me virar vendendo os doces aqui mesmo na porta de casa. LUÍSA: - Então, mas justamente pensando nisso, eu vou montar uma creche na fábrica. Os filhos da senhora e de todas as doceiras vão poder ir ficar com vocês. Vão ter assistência e qualquer coisa vocês ainda estarão por perto. (pausa) Além da creche, vou pagar um salário. Eu sei que não é muito, mas é bem mais do que as doceiras conseguem vendendo o doce na porta de casa. Com o tempo, assim que a fábrica se consolidar, vou implantar um sistema de pagamento conforme a produção e das vendas. Todas vão poder ganhar melhor. MARLENE: - Mas menina, o que você ganha com tudo isso? LUÍSA: - Eu ganho as melhores produtoras de goiabada do mundo. Não tem dinheiro que pague por isso. MARLENE: - E quantas doceiras você precisa para a sua fábrica? LUÍSA: - De todas vocês! MARLENE: - Mas que notícia maravilhosa. (pausa) Espera ai que você nem precisa ir de porta em porta. Eu mesmo vou chamar todas elas para você. Está quase na hora mesmo da gente se reunir para colher as goiabas. Conceição! Jurema! Lúcia! (diz praticamente gritando e caminhando em direção as casas próximas) Venham cá. Venham! (além das citadas, outras mulheres; entre senhoras e outras mais novas, também saem de casa ou olham pela janela para saber o que aconteceu) Venham todas, meninas! Vocês não vão acreditar no que aconteceu. Venham...

Aos poucos, uma pequena multidão de mulheres vai se juntando ao redor de MARLENE e LUÍSA até formarem um grande círculo com elas no meio. A câmera vai se afastando devagar para mostrar a cena de longe.

“O SEGREDO DE LUÍSA”

3º TRATAMENTO

55 ROTEIRO DE EDUARDO FERRARI INSPIRADO NO LIVRO DE FERNANDO DOLABELA

60) EXTERNA & INTERNA – “PRIMEIRO TURNO” – DIA

A fábrica abre suas portas. Trabalhadoras chegam de ônibus (três ou quatro que estacionam logo à porta da empresa). LUÍSA está na porta para recebê-las. EDUARDO, TINA e RODRIGO também estão ao seu lado. RODRIGO é o novo gerente financeiro da fábrica. A maioria das mulheres deixam as crianças numa creche. Começam as atividades na fábrica que vão desde a limpeza das instalações, a chegada de matéria-prima, as funcionárias na linha de produção e grandes caldeirões produzindo calda com as goiabas. A produção e o trabalho não param. LUÍSA está ao lado de TINA observando a primeira leva de produção do doce.

TINA: - Você acha que vai dar certo, irmã? LUÍSA: - Tem que dar. Investi até o último tostão arrecadado para colocar essa fábrica em produção. (pausa) Fiz tanta propaganda do empreendimento que já temos até uma parte da produção vendida. (pausa) Vai dar certo.

61) INTERNA – “VOVÓ MESTRA” – NOITE

Já é tarde da noite, LUÍSA está em Belo Horizonte no novo escritório comercial da fábrica quando recebe uma ligação de sua mãe MARIA HELENA. EDUARDO espera por LUÍSA para levá-la para casa.

MARIA HELENA: - Luísa, minha filha. Vovó Mestra teve um derrame agora à tarde e foi internada em estado grave. Seu pai está arrasado. (pausa) Vamos todos rezar por ela amanhã. Você precisa vir para Ponte Nova o mais rápido que puder. LUÍSA quase não consegue responder. Fica um longo instante calada com o telefone na mão. MARIA HELENA: - Luísa? Você está ai? Conseguiu me ouvir? LUÍSA: - Estou, mãe! Eu ouvi sim. Vou amanhã mesmo. Vou pedir o Eduardo para me levar.

62) EXTERNA & INTERNA – “VIGÍLIA” – DIA

LUÍSA e EDUARDO chegam de carro ao centro da cidade de Ponte Nova. O carro estaciona bem em frente à casa da família de LUÍSA. Há um grande movimento no local. LUÍSA desce rapidamente e quase deixa EDUARDO para trás. Entretanto, volta-se para ele, segura em sua mão e vai puxando para dentro de casa. Entra na sala e quase não há lugar. Familiares e amigos ocupam todos os espaços. Há um silêncio profundo apesar da quantidade de pessoas. LUÍSA larga a mão de EDUARDO por um instante e sinaliza para que ele espere por ela. Ele fica num canto, perto da porta. LUÍSA vai ao encontro de sua mãe MARIA HELENA. Quando LUÍSA sai de cena, todos olham quase que simultaneamente para EDUARDO.

LUÍSA: - A sua benção, minha mãe! Eu vim o mais rápido que pude. Como está vovó? MARIA HELENA: - Deus te abençoe, minha filha. (pausa) Estamos todos rezando pela vovó Mestra. Graças a Deus, o último boletim diz que ela está estável. Se tudo correr bem, ela vai poder voltar para casa breve. (pausa) Você veio sozinha ou o Eduardo te trouxe? LUÍSA: - Graças a Deus mesmo. (pausa) Eu vim com o Edu mesmo. Ele fez questão de vir.

“O SEGREDO DE LUÍSA”

3º TRATAMENTO

56 ROTEIRO DE EDUARDO FERRARI INSPIRADO NO LIVRO DE FERNANDO DOLABELA

MARIA HELENA: - E onde ele está? Você não o deixou sozinho lá fora, não é? LUÍSA: - Acho que fiz pior que isso. Ele está agora mesmo na sala, no meio daquela multidão de parentes e rezadeiras. Coitado. (pausa) Vou lá salvá-lo, mãe.

Quando LUÍSA retorna à sala, todos estão rezando o terço. EDUARDO está praticamente vermelho, mas tenta acompanhar a reza, embora não saiba sequer a ordem de um terço. Todos continuam rezando, mas não tiram os olhos dele. Vez ou outra, entre um intervalo de oração, alguma tia comenta como se cochichasse com a pessoa ao lado sobre a figura de EDUARDO. Ele percebe que é o tema da conversa e vai ficando cada vez mais encolhido. Quando LUÍSA entra na sala, ele sente um alívio. Ela faz sinal para ele vir até perto dela. Nesse momento, sua mãe MARIA HELENA também chega ao seu lado. Elas conversam cochichando para não atrapalhar a reza.

LUÍSA: - Mãe, e papai como está? Fiquei muito preocupada com ele também. MARIA HELENA: - Seu pai está na igreja da praça, rezando por sua avó. Você devia ir vê-lo. LUÍSA: - Estou indo lá agora mesmo. (pausa) Enquanto isso, a senhora faz companhia para o Eduardo? (pausa) E você, Edu, se comporte. Eu já volto. MARIA HELENA: - Pode deixar que tomo conta dele para você.

63) INTERNA – “PAI & FILHA” – DIA

LUÍSA encontra seu pai GERALDO sentado dentro da igreja. Ele está rezando numa das primeiras fileiras, sozinho. LUÍSA se aproxima discretamente e se senta ao seu lado, sem tocá-lo. GERALDO não percebe logo de cara que LUÍSA está sentada ao seu lado.

LUÍSA: - A sua benção, meu pai! GERALDO: (de cabeça baixa olhando para o lado onde LUÍSA está sentada) - Deus te abençoe, minha filha! Pensei que você não se importasse. LUÍSA: - Pai, eu nunca deixei de me importar. (pausa) Eu posso não ser a filha que o senhor sonhou, mas sou e sempre vou ser a sua filha. GERALDO: - Desculpe, seu pai, minha filha. (pausa) Eu tinha medo de te perder, só isso. Queria você perto da gente. LUÍSA: - O senhor nunca vai me perder, pai! Não tem um só momento em que eu deixo de pensar no senhor e na mamãe. Eu é que devia pedir desculpas... GERALDO: - Desculpas aceitas, minha filha. (pausa) Agora, faz uma oração comigo pelo sua avó Mestra? LUÍSA:

“O SEGREDO DE LUÍSA”

3º TRATAMENTO

57 ROTEIRO DE EDUARDO FERRARI INSPIRADO NO LIVRO DE FERNANDO DOLABELA

- Ave Maria, cheia de graça, o senhor é convosco... GERALDO: - Santificado seja o vosso nome, venha a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade...

A câmera vai se afastando para fora da igreja enquanto os dois continuam rezando.

64) EXTERNA – “ENTREGANDO OS PRODUTOS” – DIA

Um caminhão para diante de um supermercado. No baú está a logo marca de fantasia dos produtos da GMA Alimentos: Vovó Amália Doces. Dois homens uniformizados descem da cabine. Enquanto um deles abre o baú, outro vai até a gerência do supermercado com uma nota fiscal na mão. Logo retorna e ambos começam a descarregar várias caixas de produtos com a logomarca da fábrica. Outros homens, dessa vez do próprio supermercado, começam a pegar os produtos e a levá-los para dentro. Depois de algum tempo, a câmera entra no supermercado, segue até uma gôndola onde estão os produtos e é possível ver alguns clientes colocando os produtos em seus carrinhos de compras.

65) INTERNA – “LANCHONETE” – DIA

O professor FERNANDO está num dos intervalos de suas aulas e sai com um grupo de 10 alunos para fazer um pequeno lanche. É quando vê os doces de goiaba da marca “Vovô Amália” na lanchonete. Sua feição é de surpresa e alegria.

ALUNA: - O que foi professor? Que cara é essa? FERNANDO: - Nada. (pausa) Luísa! (em voz alta, mas falando para si mesmo) Eu sempre soube que essa menina ia longe. (pausa) Alguém ai aceita um doce de goiaba? É da melhor qualidade. (dizendo para os alunos e tirando a carteira para comprar alguns) ALUNA: - Eu quero professor. Adoro goiabada. ALUNO: - Eu também quero professor. FERNANDO: - Por favor, eu quero uma dúzia desse doce Vovó Amália. (dizendo para o atendente no caixa da lanchonete)

66) INTERNA – “INTERNACIONAL” – DIA

Caracteres em superposição: COLÔNIA, LESTE DA ALEMANHA - 2012 LUÍSA está na cidade de Colônia, na Alemanha, para participar da Feira Internacional de Comércio de Alimentos e Bebidas, a mais importante do mundo no setor de alimentação. A câmera passeia pela feira até encontrar o estante da GMA Alimentos. A empresa montou um grande espaço com a logo de sua marca de fantasia, escrito em bilíngue, “Vovó Amália” e “Candies Grandma Amalia”.

“O SEGREDO DE LUÍSA”

3º TRATAMENTO

58 ROTEIRO DE EDUARDO FERRARI INSPIRADO NO LIVRO DE FERNANDO DOLABELA

A linha de produtos inclui balas, biscoitos, potes e barras energéticas, todas à base de doce de goiaba. Também está sendo lançado na feira um chocolate com pedaços de goiaba, criado especialmente para exportação. O estande da GMA está tipicamente decorado com a identidade do Brasil. Os produtos levam o slogan “Guava candy: one of traditional dessert from Brazil now in your hand”. Para os europeus é uma novidade e o estande atrai um grande número de visitantes. A GMA cresceu bastante desde que foi fundada. O departamento de marketing da empresa preparou um kit que é entregue aos visitantes com todas as informações sobre os produtos da empresa, seu processo produtivo e as ações sociais da empresa. Além de LUÍSA, é possível ver pelo menos mais dois funcionários da empresa, além de duas recepcionistas. A própria LUÍSA recebe, atende e conversa com vários visitantes.

67) EXTERNA & INTERNA – “GRANDE PRÊMIO DE MÔNACO” – FIM DO DIA

Caracteres em superposição: MÔNACO, SUL DA FRANÇA - 2013 LUÍSA representa o Brasil na final mundial do prêmio World Entrepreneur of the Year, promovida pela Ernst & Young. O evento de premiação ocorre na Salle desEtoiles, localizado no Sporting Club Monte Carlo, em Mônaco. Este prêmio é mais importante do mundo no setor de empreendedorismo e conta com a participação de representantes de 50 países de 150 cidades e um único ganhador. Passaram-se seis desde que LUÍSA decidiu pela criação da GMA Alimentos. A empresa foi reconhecida por suas ideias inovadoras e pelo desenvolvimento de um negócio bem-sucedido, sustentável, dinâmico, com presença em todo o território nacional e exportações para mais de 25 países. LUÍSA está vestida com um belo vestido de festas da cor preta. É possível ver que ela está usando o broche e o anel, presentes de sua avó, que havia colocado no penhor (obviamente, ela os resgatou com as demais joias). A câmera passeia por Mônaco antes de chegar até a entrada do salão da recepção. O evento é em formato de jantar de gala no fim de tarde. Antes de entrar, todos os indicados fazem uma foto juntos. LUÍSA é a única mulher entre eles e também a mais jovem. Fica quase perdida no meio da imagem. Antes do anúncio é servido o jantar. Na mesa da família de LUÍSA está sua mãe MARIA HELENA, que entre uma garfada e outra, segura um pequeno terço; seu pai GERALDO, o namorado EDUARDO, sua irmã TINA e seu namorado RODRIGO, sua tia FERNANDA, vovó MESTRA e a própria LUÍSA. O professor FERNANDO também foi convidado, mas não chegou a tempo. Isso deixa LUÍSA inquieta, olhando todo tempo para o relógio no pulso e vez ou outra para a entrada do salão. A festa transcorre por algum tempo com várias atrações. De repente, o palco é iluminado, a música cessa e o presidente da empresa patrocinadora do prêmio anuncia.

PRESIDENT ERNST & YOUNG: - And now, that by which everyone expected… The 2013 Ernest Young World Entrepreneur of the Year Award Winner is… (pequena pausa de respiração, ele abre um envelope e lê) Mrs. Luísa Viana Pinheiro, from Brazil.

LUÍSA recebe abraços de todos a sua volta e enquanto caminha até o palco é aplaudida de pé pelos demais presentes. No momento exato em que recebe o troféu, o professor Fernando aparece na entrada do salão. LUÍSA não pode vê-lo. A câmera se volta para ela no meio das pessoas. Depois a câmera se volta para Fernando que apenas sorri em sinal de orgulho. Retorna a LUÍSA que também sorri. A imagem congela.

68) INTERNA – “RETRIBUINDO UM FAVOR” – DIA

“O SEGREDO DE LUÍSA”

3º TRATAMENTO

59 ROTEIRO DE EDUARDO FERRARI INSPIRADO NO LIVRO DE FERNANDO DOLABELA

LUÍSA está em seu escritório comercial. MARIANA chega para uma entrevista. Ela foi indicada por HELDER MENDONÇA, do Forno de Minas. Apesar da secretária em cena, a própria LUÍSA abre a porta. MARIANA está sentada na recepção.

LUÍSA: - Mariana? Bom dia! MARIANA: - Bom dia, Dona Luísa! Desculpe vir assim de última hora, mas foi o senhor Helder quem disse que eu podia vir que a senhora faria o “favor” de me atender. LUÍSA: - Não tem problema. O único problema é você me chamar de “dona”. (pausa) Helder sempre me disse que eu ficaria devendo um favor para ele, mas falar sobre a história da empresa e ser uma mentora não é favor nenhum. É um prazer. Entra e vamos conversar.

As duas entram. LUÍSA fecha a porta. Na porta está escrito: Luísa Viana Pinheiro, Presidência. Caracteres finais em superposição: (em “fade in” ou “aparecimento gradual”)

Luísa faturou no último ano 8 milhões de dólares. Seu projeto de produção de doce típico incluiu mais de 50 famílias carentes de Ponte Nova. Para o próximo ano, Luísa deve faturar 10 milhões de dólares. Ela continua atendendo todas as semanas como dentista a crianças carentes no convento São Bento, em Belo Horizonte. Eduardo jamais disse a ela que sabia seu segredo.

69) INTERNA – “EMPREENDEDORISMO” – HOLOFOTE

Durante os créditos, que aparecem na metade da tela, LUÍSA retorna num púlpito, na outra metade da tela. Primeiro a meia luz, logo depois a luz se acende completamente. LUÍSA lê um pequeno texto:

LUÍSA: - Oi Pessoal! Obrigada por assistir ao nosso filme. Não vão embora ainda. Tenho uma última mensagem para vocês. (abrindo um papel para leitura de um pequeno discurso) “Para o empreendedor, o ser é mais importante que o saber. A empresa é a materialização dos nossos sonhos. É a projeção da nossa imagem interior, do nosso íntimo, do nosso ser em sua forma total. O estudo do comportamento do empreendedor é fonte de novas formas de compreensão do ser humano em seu processo de criação de riquezas e de realização pessoal. Sob esse prisma, o empreendedorismo é visto também como um campo intensamente relacionado com o processo de entendimento e construção da liberdade humana”.

Ao término da leitura a luz se apaga e os créditos continuam agora em tela inteira, até seu encerramento.

“O SEGREDO DE LUÍSA”

3º TRATAMENTO

60 ROTEIRO DE EDUARDO FERRARI INSPIRADO NO LIVRO DE FERNANDO DOLABELA