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FACULDADE GUARAPUAVA CIÊNCIAS AMBIENTAIS ANDY ROBERTO ESSERT JOELMIR AUGUSTINHO MAZON O SANEAMENTO BÁSICO E A CONTEXTUALIZAÇÃO DO SISTEMA DE BACIAS DE EVAPOTRANSPIRAÇÃO COMO ALTERNATIVA PARA O SANEAMENTO ECOLÓGICO GUARAPUAVA 2011

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A falta de saneamento básico tem se mostrado, historicamente, um dos maiores problemas enfrentados pela humanidade, sendo, que atualmente, a poluição dos recursos hídricos e a falta de tratamento da água causam segundo a ONU, mais mortes que todas as formas de violência conhecidas. Existem variados sistemas de tratamento, tanto para a água, quanto para o esgoto, mas estas estruturas demandam de grandes investimentos e estão normalmente dispostas de maneira muito centralizada, sendo restritas na maioria das vezes a grandes cidades, limitando o acesso à população das regiões periurbanas e rurais. Este trabalho traz, por meio de pesquisa bibliográfica e prática de campo, o panorama do saneamento básico no Brasil e no mundo, as características e fatores interferentes de todo o processo e apresenta o sistema de Bacias de Evapotranspiração (BET), uma alternativa para tratamento do esgoto proveniente dos vasos sanitários e de outras fontes de efluentes com grande carga de matéria orgânica e organismos patogênicos existentes em uma residência, com seus princípios de funcionamento, alternativas de construção, dimensionamento, cuidados para a sua manutenção e análise de eficiência do sistema de tratamento, sendo apresentada também uma breve pesquisa sobre alternativas para o tratamento da água cinza, que carrega menor carga orgânica e patogênica, necessitando de processos de tratamento mais simples. The Lack of sanitation has been shown, historically, one of the biggest problems facing humanity, and, currently, pollution of water resources and lack of water treatment according to the UN cause more deaths than all forms of violence known. There are various treatment systems, both for water and for sewage, but these structures require large investments and are usually arranged in a very centralized, being restricted mostly to large cities, limiting access to the population of peri-urban regions and rural areas. This paper presents, through a literature search and field practice, the situation of sanitation in Brazil and worldwide, the characteristics and factors that determine the entire process and presents the system of basins Evapotranspiration (ET), an alternative to treatment of sewage from toilets and other sources of effluents with high organic matter content and pathogenic organisms in an existing residence, with its operating principles, alternatives of construction, sizing, their maintenance and analysis of system efficiency treatment, and also presented a brief survey of alternatives for the treatment of gray water, which carries lesser organic and pathogenic load, requiring treatment processes simpler. Der Mangel an sanitären Einrichtungen hat sich historisch gezeigt als einer der größten Probleme der Menschheit, und heutzutage, die Verschmutzung der Wasserressourcen und der Mangel an Wasser-Behandlung nach der UN, verursachen mehr Todesfälle als alle Formen der Gewalt bekannt. Es gibt verschiedene Aufbereitungsanlagen, sowohl für Wasser und für Abwasser, aber diese Strukturen erfordern hohe Investitionen und sind in der Regel in einer sehr zentralen angeordnet, wobei vor allem die großen Städte beschränkt, die den Zugang zu der Bevölkerung des peri-urbanen Regionen und ländlichen Gebieten. Diese Arbeit präsentiert, durch eine Literaturrecherche und Feld der Praxis die Situation der Abwasserentsorgung in Brasilien und weltweit, die Merkmale und Faktoren, die den gesamten Prozess und stellt das System der Becken Evapotranspiration (ET) zu bestimmen, eine Alternative zur Behandlung von Abwasser aus Toiletten und anderen Quellen von Abwässern mit hohen Gehalt an organischer Substanz und pathogenen Organismen in einer bestehenden Anlage, mit ihren Wirkprinzipien, alternative Konstruktion, Dimensionierung, sorgen für deren Wartung und Analyse der Effizienz des Systems Behandlung, und auch einen kurzen Überblick über Alternativen für die Behandlung von grauem Wasser, das weniger

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Page 1: O SANEAMENTO BÁSICO E A CONTEXTUALIZACAO DA BACIA DE EVAPOTRANSPIRAÇÃO PARA O SANEAMENTO ECOLÓGICO

FACULDADE GUARAPUAVA CIÊNCIAS AMBIENTAIS

ANDY ROBERTO ESSERT

JOELMIR AUGUSTINHO MAZON

O SANEAMENTO BÁSICO E A CONTEXTUALIZAÇÃO DO SISTEMA

DE BACIAS DE EVAPOTRANSPIRAÇÃO COMO ALTERNATIVA PARA O

SANEAMENTO ECOLÓGICO

GUARAPUAVA

2011

Page 2: O SANEAMENTO BÁSICO E A CONTEXTUALIZACAO DA BACIA DE EVAPOTRANSPIRAÇÃO PARA O SANEAMENTO ECOLÓGICO

FACULDADE GUARAPUAVA

CIÊNCIAS AMBIENTAIS

ANDY ROBERTO ESSERT

JOELMIR AUGUSTINHO MAZON

O SANEAMENTO BÁSICO E A CONTEXTUALIZAÇÃO DO SISTEMA

DE BACIAS DE EVAPOTRANSPIRAÇÃO COMO ALTERNATIVA PARA O

SANEAMENTO ECOLÓGICO

Trabalho de Conclusão de Curso a ser entregue ao Núcleo de Estágio da Faculdade Guarapuava para obtenção de nota final na disciplina de TCC II do Curso de Ciências Ambientais da Faculdade Guarapuava.

Orientador: Prof. Ms. Emmanuel Sanchez

GUARAPUAVA

2011

Page 3: O SANEAMENTO BÁSICO E A CONTEXTUALIZACAO DA BACIA DE EVAPOTRANSPIRAÇÃO PARA O SANEAMENTO ECOLÓGICO

AGRADECIMENTOS

Agradecemos primeiramente a Deus pela vida e a nossos pais pela base para

que pudéssemos concluir este curso.

Agradecemos também aos nossos professores, em especial ao Professor

Emmanuel Sanchez, pela sugestão do tema aqui abordado e pela sua orientação,

além de todos os professores que ajudaram e participaram direta ou indiretamente

na elaboração deste trabalho.

Page 4: O SANEAMENTO BÁSICO E A CONTEXTUALIZACAO DA BACIA DE EVAPOTRANSPIRAÇÃO PARA O SANEAMENTO ECOLÓGICO

EPÍGRAFE

“A quantidade de água suja significa

que mais pessoas morrem hoje por

causa da água poluída e contaminada

do que por todas as formas

de violência, inclusive as guerras”.

UNEP - Programa do Meio Ambiente das Nações Unidas (2010)

Page 5: O SANEAMENTO BÁSICO E A CONTEXTUALIZACAO DA BACIA DE EVAPOTRANSPIRAÇÃO PARA O SANEAMENTO ECOLÓGICO

RESUMO

A falta de saneamento básico tem se mostrado, historicamente, um dos maiores problemas enfrentados pela humanidade, sendo, que atualmente, a poluição dos recursos hídricos e a falta de tratamento da água causam segundo a ONU, mais mortes que todas as formas de violência conhecidas. Existem variados sistemas de tratamento, tanto para a água, quanto para o esgoto, mas estas estruturas demandam de grandes investimentos e estão normalmente dispostas de maneira muito centralizada, sendo restritas na maioria das vezes a grandes cidades, limitando o acesso à população das regiões periurbanas e rurais. Este trabalho traz, por meio de pesquisa bibliográfica e prática de campo, o panorama do saneamento básico no Brasil e no mundo, as características e fatores interferentes de todo o processo e apresenta o sistema de Bacias de Evapotranspiração (BET), uma alternativa para tratamento do esgoto proveniente dos vasos sanitários e de outras fontes de efluentes com grande carga de matéria orgânica e organismos patogênicos existentes em uma residência, com seus princípios de funcionamento, alternativas de construção, dimensionamento, cuidados para a sua manutenção e análise de eficiência do sistema de tratamento, sendo apresentada também uma breve pesquisa sobre alternativas para o tratamento da água cinza, que carrega menor carga orgânica e patogênica, necessitando de processos de tratamento mais simples.

Palavras-chave: Alternativas sustentáveis, bacia de evapotranspiração, esgoto doméstico.

ABSTRACT

The Lack of sanitation has been shown, historically, one of the biggest problems facing humanity, and, currently, pollution of water resources and lack of water treatment according to the UN cause more deaths than all forms of violence known. There are various treatment systems, both for water and for sewage, but these structures require large investments and are usually arranged in a very centralized, being restricted mostly to large cities, limiting access to the population of peri-urban regions and rural areas. This paper presents, through a literature search and field practice, the situation of sanitation in Brazil and worldwide, the characteristics and factors that determine the entire process and presents the system of basins Evapotranspiration (ET), an alternative to treatment of sewage from toilets and other sources of effluents with high organic matter content and pathogenic organisms in an existing residence, with its operating principles, alternatives of construction, sizing, their maintenance and analysis of system efficiency treatment, and also presented a brief survey of alternatives for the treatment of gray water, which carries lesser organic and pathogenic load, requiring treatment processes simpler.

Keywords: Sustainable Alternatives, evapotranspiration basin, domestic sewage.

Page 6: O SANEAMENTO BÁSICO E A CONTEXTUALIZACAO DA BACIA DE EVAPOTRANSPIRAÇÃO PARA O SANEAMENTO ECOLÓGICO

ZUSAMMENFASSUNG

Der Mangel an sanitären Einrichtungen hat sich historisch gezeigt als einer der größten Probleme der Menschheit, und heutzutage, die Verschmutzung der Wasserressourcen und der Mangel an Wasser-Behandlung nach der UN, verursachen mehr Todesfälle als alle Formen der Gewalt bekannt. Es gibt verschiedene Aufbereitungsanlagen, sowohl für Wasser und für Abwasser, aber diese Strukturen erfordern hohe Investitionen und sind in der Regel in einer sehr zentralen angeordnet, wobei vor allem die großen Städte beschränkt, die den Zugang zu der Bevölkerung des peri-urbanen Regionen und ländlichen Gebieten. Diese Arbeit präsentiert, durch eine Literaturrecherche und Feld der Praxis die Situation der Abwasserentsorgung in Brasilien und weltweit, die Merkmale und Faktoren, die den gesamten Prozess und stellt das System der Becken Evapotranspiration (ET) zu bestimmen, eine Alternative zur Behandlung von Abwasser aus Toiletten und anderen Quellen von Abwässern mit hohen Gehalt an organischer Substanz und pathogenen Organismen in einer bestehenden Anlage, mit ihren Wirkprinzipien, alternative Konstruktion, Dimensionierung, sorgen für deren Wartung und Analyse der Effizienz des Systems Behandlung, und auch einen kurzen Überblick über Alternativen für die Behandlung von grauem Wasser, das weniger organische Belastung und pathogene trägt, die eine Behandlung Prozesse einfacher vorgestellt.

Schlüsselwörter: Nachhaltige Alternativen, Waschbecken Evapotranspiration,

häuslichem Abwasser.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Cloaca máxima......................................................................................... 18

Figura 2 - Domicílios abastecidos de água por rede geral, segundo as Grandes

Regiões - 2000/2008. ................................................................................................ 33

Figura 3 - Percentual de domicílios com acesso à rede de esgotamento sanitário e

taxa de crescimento do número de economias residenciais, segundo as Grandes

Regiões - 2000/2008. ................................................................................................ 36

Figura 4 - Percentual de domicílios atendidos por rede geral de esgoto, em ordem

decrescente, segundo as Unidades da Federação – 2008. ...................................... 37

Figura 5 - Percentual de municípios com tratamento de esgoto, em ordem

decrescente, segundo as Unidades da Federação – 2008. ...................................... 37

Figura 6 - Evolução percentual das principais variáveis do esgotamento sanitário -

Brasil - 2000/2008. .................................................................................................... 38

Figura 7 - Processos de tratamento de uma ETE ..................................................... 46

Figura 8 - O uso do gradeamento em um sistema preliminar de tratamento ............ 47

Figura 9 - Decantador primário ................................................................................. 48

Figura 10 - Decantador secundário .......................................................................... 49

Figura 11 - Sistema de fossa séptica ....................................................................... 50

Figura 12 - Desenho esquemático de um reator RAFA ............................................ 52

Figura 13 - Tratamento por lagoas ........................................................................... 53

Figura 14 - Componentes do ciclo hidrológico.......................................................... 57

Figura 15 - Distribuição da água no Planeta Terra ................................................... 58

Figura 16 - Principais processos de contaminação e poluição das águas ............... 61

Figura 17 - Metabolismo de microrganismos heterotróficos ..................................... 68

Figura 18 - Croqui de uma "Watson wick" ................................................................ 78

Figura 19 - Corte esquemático de uma BET ............................................................ 80

Figura 20 - Dimensionamento de uma BET para três usuários ................................ 82

Figura 21 - Preparação da cova para a construção da bacia de evapotranspiração 83

Figura 22 - Passo a passo na construção de uma BET com estrutura de ferro-

cimento. ..................................................................................................................... 84

Figura 23 - Caixa da BET construída de alvenaria ................................................... 84

Page 8: O SANEAMENTO BÁSICO E A CONTEXTUALIZACAO DA BACIA DE EVAPOTRANSPIRAÇÃO PARA O SANEAMENTO ECOLÓGICO

Figura 24 - Isolamento com lona plástica em uma BET construída em Florianópolis-

SC. ............................................................................................................................ 85

Figura 25 - Utilização de lona plástica de 200 micras em uma BET em Guarapuava-

PR. ............................................................................................................................ 85

Figura 26 - Várias formas de construção de uma câmara anaeróbica. .................... 86

Figura 27 - Esquematização das camadas de preenchimento da BET .................... 87

Figura 28 - Espécies mais utilizadas em uma BET .................................................. 88

Figura 29 - Bacia de Evapotranspiração finalizada em Brasília-DF .......................... 89

Figura 30 - Etapas da digestão anaeróbia ................................................................ 91

Figura 31 - Ilustração do tratamento de águas cinza. ............................................... 99

Figura 32 - Círculo de Bananeiras .......................................................................... 100

Page 9: O SANEAMENTO BÁSICO E A CONTEXTUALIZACAO DA BACIA DE EVAPOTRANSPIRAÇÃO PARA O SANEAMENTO ECOLÓGICO

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - Número de estações de tratamento de esgoto nos EUA. ..................... 24

TABELA 2 - Municípios com serviço de abastecimento de água por rede geral de

distribuição, segundo as Grandes Regiões - 1989/2008. .......................................... 31

TABELA 3 - Percentual de municípios do País, total de domicílios, economias

residenciais e economias abastecidas em relação ao número de domicílios, segundo

as Grandes Regiões - 2008....................................................................................... 32

TABELA 4 - Municípios, total e com algum serviço de saneamento básico, por tipo

de serviço, Região Sul da Federação - 2000/2008 ................................................... 34

TABELA 5 - Resultados das análises físico-químicas do efluente do interior e da

saída da BET comparados com dados encontrados na bibliografia .......................... 95

TABELA 6 - Consumo doméstico, agrícola e industrial per capita por continente. ... 97

Page 10: O SANEAMENTO BÁSICO E A CONTEXTUALIZACAO DA BACIA DE EVAPOTRANSPIRAÇÃO PARA O SANEAMENTO ECOLÓGICO

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 - Cronologia dos eventos relacionados aos sistemas de esgotamento

sanitário ..................................................................................................................... 28

QUADRO 2 - Composição típica de esgotos sanitários ............................................ 41

QUADRO 3 - Inconvenientes do lançamento in natura de esgotos nos corpos d'água.

.................................................................................................................................. 63

QUADRO 4 - Principais doenças causadas por bactérias e que podem ser

transmitidas pela água .............................................................................................. 74

QUADRO 5 - Principais doenças causadas por enterovírus humanos e que podem

ser transmitidas pela água ........................................................................................ 74

QUADRO 6 - Doenças causadas por parasitas e que podem ser transmitidas pela

água .......................................................................................................................... 75

Page 11: O SANEAMENTO BÁSICO E A CONTEXTUALIZACAO DA BACIA DE EVAPOTRANSPIRAÇÃO PARA O SANEAMENTO ECOLÓGICO

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 14

2.SANEAMENTO BÁSICO E TRATAMENTO DE EFLUENTES: CONTEXTO

HISTÓRICO ...............................................................................................................16

2.1.SANEAMENTO BÁSICO E TRATAMENTO DE EFLUENTES NO BRASIL:

CONTEXTO HISTÓRICO.......................................................................................... 25

2.2.SANEAMENTO BÁSICO: CONTEXTO ATUAL .................................................. 29

2.2.1.Abastecimento de Água ................................................................................... 29

2.2.2.Esgotamento Sanitário ..................................................................................... 34

3.ESGOTO SANITÁRIO DOMÉSTICO ........................................... 40_Toc311037343

3.1.CONSTITUIÇÃO DO ESGOTO DOMÉSTICO .................................................... 40

3.1.1.Características Físicas ..................................................................................... 41

3.1.2. Características Químicas ................................................................................ 43

3.1.3. Características Biológicas ............................................................................... 44

3.2. TRATAMENTOS USUAIS DE ESGOTO SANITÁRIO........................................ 45

3.2.1. Estação de Tratamento de Esgoto – ETE ....................................................... 45

3.2.2. Tratamento Preliminar .................................................................................... 47

3.2.3. Tratamento Primário ....................................................................................... 47

3.2.4. Tratamento Secundário .................................................................................. 48

3.2.5. Tratamento Terciário....................................................................................... 49

3.3. TRATAMENTOS INDIVIDUAIS DE ESGOTO ................................................. 50

3.3.1. Sistemas de Tanques Sépticos com Sumidouro ............................................ 50

3.3.2. Filtro Anaeróbio .............................................................................................. 51

3.3.3. Reatores Anaeróbios de Fluxo Ascendente – RAFA ...................................... 51

3.3.4. Lagoas de Estabilização ................................................................................. 52

3.3.5. Lodos Ativados ............................................................................................... 54

4. A POLUIÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS: PAPEL DO DESPEJO DO

ESGOTO PARA O PROBLEMA ............................................................................... 56

Page 12: O SANEAMENTO BÁSICO E A CONTEXTUALIZACAO DA BACIA DE EVAPOTRANSPIRAÇÃO PARA O SANEAMENTO ECOLÓGICO

4.1. A IMPORTÂNCIA DA ÁGUA .............................................................................. 56

4.2.A CONTRIBUIÇÃO DO LANÇAMENTO DE ESGOTOS PARA A POLUIÇÃO

DOS RECURSOS HÍDRICOS ................................................................................... 59

4.3. POLUENTES HÍDRICOS MAIS COMUNS ...................................................... 63

4.3.1. Substâncias Orgânicas ................................................................................... 64

4.3.2. Substâncias Inorgânicas ................................................................................. 64

4.3.3. Substâncias Tóxicas ....................................................................................... 64

4.3.4. Sais Não-Tóxicos ............................................................................................ 65

4.3.5. Substâncias Antiestéticas ............................................................................... 65

4.4. PARÂMETROS PARA A QUALIFICAÇÃO DAS CARGAS POLUIDORAS ..... 65

4.4.1. Oxigênio Dissolvido (OD) ................................................................................ 66

4.4.2. Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) ...................................................... 67

4.4.3. Sólidos Totais ................................................................................................. 68

4.4.4. Nitrogênio Total .............................................................................................. 69

4.4.5. Fósforo ............................................................................................................ 70

4.4.6. pH ................................................................................................................... 70

4.4.7. Alcalinidade .................................................................................................... 71

4.4.8. Organismos Coliformes .................................................................................. 71

4.5. DOENÇAS DE VEICULAÇÃO HÍDRICA ............................................................ 72

5. BACIA DE EVAPOTRANSPIRAÇÃO: ALTERNATIVA DE SANEAMENTO

ECOLÓGICO PARA O TRATAMENTO DE EFLUENTES DOMÉSTICOS .............. 76

5.1. CARACTERIZAÇÃO E FUNDAMENTAÇÃO DO PROCESSO DE

TRATAMENTO DE EFLUENTES DOMÉSTICOS PELO MÉTODO DE BACIA DE

EVAPOTRANSPIRAÇÃO. ......................................................................................... 76

5.2. A IMPORTÂNCIA DA SEGREGAÇÃO DO ESGOTO DOMÉSTICO CONFORME

SUA ORIGEM ANTES DA DISPOSIÇÃO PARA O TRATAMENTO ......................... 78

5.3. CONSTRUÇÃO DE UMA BACIA DE EVAPOTRANSPIRAÇÃO: MÉTODOS E

ALTERNATIVAS ....................................................................................................... 80

5.3.1. Dimensionamento ........................................................................................... 81

5.3.2. Construção da bacia/vala/trincheira ................................................................ 82

5.3.3. Câmara Anaeróbia .......................................................................................... 86

Page 13: O SANEAMENTO BÁSICO E A CONTEXTUALIZACAO DA BACIA DE EVAPOTRANSPIRAÇÃO PARA O SANEAMENTO ECOLÓGICO

5.3.4. Preenchimento da BET com Materiais de Granulometria Decrescente .......... 87

5.3.5. Piezômetros .................................................................................................... 88

5.3.6. Plantação das Espécies Vegetais ................................................................... 88

5.4. CONJUNTO DE FATORES QUE CONTRIBUEM NO FUNCIONAMENTO DE

UMA BACIA DE EVAPOTRANSPIRAÇÃO ............................................................... 89

5.4.1. Processo de Digestão Anaeróbia de uma BET ............................................... 90

5.4.2. Processo de Digestão Aeróbia ....................................................................... 92

5.5. AÇÃO DA CAPILARIDADE DO SOLO E DA EVAPOTRANSPIRAÇÃO ............ 93

5.6. ANÁLISE DA EFICIÊNCIA DA BACIA DE EVAPOTRANSPIRAÇÃO ................ 94

6. ALTERNATIVAS PARA O TRATAMENTO DAS ÁGUAS CINZA ....................... 97

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 101

8. REFERÊNCIAS ................................................................................................... 102

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14

1. INTRODUÇÃO

A preocupação do ser humano em trazer para próximo de si a água para seu

abastecimento e afastar seus dejetos remete há milênios. De acordo com Fernandes

(1997), sociedades antigas da Índia já dispunham de equipamentos e estruturas de

saneamento básico, de mesmo modo que no Mediterrâneo e no Oriente médio. Com

a Revolução Industrial e a concentração da população e das fábricas próximas á rios

e lagos, veio também a tona o problema da poluição da água, levando-se a

percepção que este líquido tão essencial à manutenção da vida poderia se tornar um

meio de veiculação de doenças.

Com o desenvolvimento industrial e econômico, além da já amadurecida

ideia de que várias doenças são transmitidas pela água, surge o interesse e a

preocupação com o seu tratamento, tanto para o abastecimento quanto dos

efluentes industriais, contemplando as cidades com sistemas de tratamento coletivos

e centralizados. A evolução dos processos de saneamento básico evoluiu de

sobremaneira no século XX com o surgimento de novas tecnologias e adoção de

parâmetros de qualidade contribuiu para que a água captada e processada pelas

atividades humanas fosse devolvida em seu pós-tratamento de maneira que não

afete o meio ambiente. Este avanço, contudo, não atinge todos os países, sendo

que, segundo a ONU (2010), cerca de 1/3 da população mundial ainda não tem

acesso ao saneamento básico.

O presente trabalho traz, por meio de pesquisa bibliográfica, um panorama

geral sobre o saneamento básico no Brasil e no mundo, o histórico destas atividades

desde as épocas mais remotas da humanidade até o momento atual, a importância

e os problemas relacionados entre o despejo de efluentes sem tratamento e os

recursos hídricos, além do processo de evolução dos sistemas de tratamento de

efluentes existentes, sendo o ponto chave deste estudo a apresentação do sistema

de Bacias de Evapotranspiração (BET), criada por permacultores e definida por

Gabialti (2009) como um método de tratamento das águas negras provenientes dos

vasos sanitários e outras fontes de efluentes com grande carga de matéria orgânica

e microrganismos patogênicos, surgindo como alternativa de saneamento ecológico

para regiões sem acesso à rede pública de esgoto, utilizando-se de processos

Page 15: O SANEAMENTO BÁSICO E A CONTEXTUALIZACAO DA BACIA DE EVAPOTRANSPIRAÇÃO PARA O SANEAMENTO ECOLÓGICO

15

físicos, químicos e biológicos para a degradação da matéria orgânica e patógenos

presente neste tipo de efluente e devolvendo ao meio ambiente de forma limpa.

Os princípios de funcionamento deste sistema, segundo Vieira (2010), se dá

pela construção de uma vala impermeabilizada, preenchida com materiais de

granulometria decrescente, com uma estrutura de câmara no seu fundo e deposição

de uma camada de solo em sua superfície, onde são plantadas espécies vegetais

participantes do processo.

O esgoto entra no sistema e se concentra no fundo da BET, na chamada

câmara anaeróbia. Neste setor, entram em ação as bactérias anaeróbias, que

promovem a degradação da matéria orgânica, gerando resíduos que ascendem por

capilaridade a regiões com maior concentração de oxigênio e são degradadas pelas

bactérias aeróbias e facultativas, resultando na geração de nutrientes

(principalmente compostos de nitrogênio) e água, que são absorvidas e aproveitadas

pelas plantas, que por sua vez, devolvem a água de maneira pura à atmosfera por

meio da evapotranspiração.

Esta etapa do trabalho utiliza-se além de pesquisa bibliográfica, práticas em

campo realizadas no Instituto de Pesquisas e Assessoria em Tecnologias

Sustentáveis e Educação Ambiental – ITEC, em Guarapuava-PR, expondo os

princípios de funcionamentos de uma BET, métodos e alternativas de construção,

cuidados na manutenção e a avaliação da influencia deste sistema de tratamento.

O tratamento das águas cinza também é contemplando neste estudo,

demonstrando suas características e algumas alternativas de tratamento.

Page 16: O SANEAMENTO BÁSICO E A CONTEXTUALIZACAO DA BACIA DE EVAPOTRANSPIRAÇÃO PARA O SANEAMENTO ECOLÓGICO

16

2. SANEAMENTO BÁSICO E TRATAMENTO DE EFLUENTES: CONTEXTO

HISTÓRICO

A preocupação com as questões sanitárias já denotam dos tempos mais

longínquos da história da humanidade. Os primeiros relatos de atividades de

saneamento básico na antiguidade sempre tiveram relação com o surgimento e

crescimento das cidades. Conforme Moreira (1998), neste processo era sempre

possível notar a presença de cursos de água em sua paisagem.

Com o surgimento dos primeiros povoados e cidades, o homem teve que

buscar formas de trazer a água para seu abastecimento e também afastar seus

dejetos.

Silva (1998, p.26) mostra que:

A aglomeração de milhares de pessoas levou o homem, desde a Antiguidade, a se ver confrontado com problemas de sobrevivência, ou seja, relacionado a problemas ecológicos, e a água é um bom exemplo disso. Para fazer face a tais dificuldades, era preciso desenvolver a criatividade e a engenhosidade, como pode ser observado nas obras de irrigação e captação para abastecimento de água potável, entre outras, construídas pelos povos antigos.

Os hindus foram os percursores na criação de sistemas de distribuição de

água eficientes, há cerca de 4 mil anos. Em sítios escavados, como o de Mohenjo-

Daro, e em Harappa, no Punjab, ambos na Índia, indicam a existência de ruas

alinhadas, pavimentadas e drenadas com esgotos canalizados em galerias

subterrâneas de tijolos, com pelo menos 50 centímetros abaixo do nível da rua. Nas

residências constatou-se a existência de banheiros com esgotos canalizados em

manilhas cerâmicas rejuntadas com gesso. Isto a mais de 3000 A.C. (FERNANDES,

1997).

Para Fernandes (1997), as civilizações primitivas não se destacavam por

práticas higiênicas individuais por razões absolutamente sanitárias, mas sim, por

questões de religiosidade, para se apresentarem limpos e puros aos olhos dos

deuses de modo a não serem castigados com doenças.

Entre 2100-1700 A.C. no Egito, mais especificamente em Kahum, estudos

constataram a existência de um sistema de urbanização organizado com construção

de galerias em pedras de mármore para drenagem de águas superficiais. Em Tel-el-

Page 17: O SANEAMENTO BÁSICO E A CONTEXTUALIZACAO DA BACIA DE EVAPOTRANSPIRAÇÃO PARA O SANEAMENTO ECOLÓGICO

17

Amarma, também no Egito, haviam algumas moradias mais modestas que

dispunham de banheiros (BRAGA, 2011).

Na Grécia antiga, além do culto aos deuses, havia preocupações com o

abastecimento devido à escassez de água e também com a eliminação dos esgotos.

Silva (1998, p.28), reforça que:

[...] as obras hidráulicas seriam realizadas não somente por interesses estéticos ou religiosos, mas também pela necessidade evidente de suprimento de água, conjugando-se assim duas funções - o culto e a funcionalidade. Além disso, ao evocar os deuses e os mitos, a população era induzida a executar as obras de grande porte.

De acordo com Xavier (2010), na Ilha de Creta foram construídos tanques

nos terraços com a finalidade de filtrar as águas provenientes dos telhados. Nas

construções localizadas em partes mais altas das cidades, coletava-se a água

pluvial em cisternas, das quais partiam estruturas canalizadas, transportando a água

até as regiões mais baixas.

Mumford (1982) apud Xavier (2010, p.183) ressalta que,

No período helenístico (338 a.C. a 146 a.C) as cidades com suas casas de banho, seu aperfeiçoado suprimento de água, muitas vezes canalizado desde as colinas, levantaram o nível físico geral da população. Mas ―no que diz respeito às latrinas privadas [...] não se têm sido desenterradas indicações de melhoramentos sanitários dentro da moradia helênica.

No período do Império Romano, pelo contrário, haviam contrastes bem

acentuados em relação às técnicas de saneamento gregas, observando-se a

existência de grandes obras com elevado padrão e técnica de engenharia civil, como

imensos aquedutos romanos, que transportavam, por gravidade, águas de fontes

nas montanhas até as cidades. A população também se utilizava destas fontes e de

latrinas (Toalete de Ephesus), além de banhos públicos, termas, etc. (ROCHA et al.,

2004).

Estes tipos de luxo eram praticamente exclusivos da classe rica e poderosa,

apesar das fontes de água serem abundantes. Conforme Xavier (2010), os

cenáculos (apartamentos de vários tamanhos para a classe média e inferior)

possuíam água encanada apenas no andar térreo e não possuíam privadas. Os

habitantes esvaziavam seus urinóis num recipiente comum, o dolium, localizado no

patamar das escadas ou diretamente na rua pelas janelas. Nos edifícios mais altos

de Roma, o transporte da água e dos dejetos era feita de forma braçal.

Page 18: O SANEAMENTO BÁSICO E A CONTEXTUALIZACAO DA BACIA DE EVAPOTRANSPIRAÇÃO PARA O SANEAMENTO ECOLÓGICO

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O maior símbolo de engenharia sanitária do período do Império Romano

certamente é a Cloaca máxima (Figura 1).

Figura 1 - Cloaca máxima – Pintura "Sbocca della Cloaca Massima." de Franz E. Roesler, 1883. Fonte: Site vroma.org (2011)

Sobre isso, Mumford (1982) apud Xavier (2010) aponta que:

Com relação aos esgotos, o mais antigo monumento da engenharia Romana é a Cloaca Máxima uma rede com dimensões gigantescas construída no século VI a.C para drenar as águas residuais e o lixo da cidade de Roma, despejando-os no Rio Tibre. Tão sólida era a construção de pedras, tão ampla suas dimensões, que foi utilizada por muito tempo após a queda do Império Romano.

Com a queda do Império romano, veio o período medieval, durando cerca de

um milênio. Neste período notou-se um grande declínio não só na preocupação em

encontrar formas de tratar as questões sanitárias, como também um total retrocesso

nas condições da população com as mesmas.

Segundo Fernandes (1997), para o Ocidente, esta época foi marcada pelo

retrocesso. Isto devido pela fusão de culturas clássicas, bárbaras e ensinamentos

cristãos, tendo como centro Constantinopla. O autor cita ainda que parte dos

conhecimentos científicos acabou sendo deslocado pelos cientistas em fuga para o

mundo árabe, principalmente para a Pérsia, dando início na Europa, a uma

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19

substituição deste conhecimento por uma cultura a base de superstições, gerando o

que hoje é denominada Idade das Trevas (500-1000 d.C.).

Neste período a população ainda tratava as doenças como castigos divinos

e buscavam a cura destas com procedimentos místicos, orações ou penitências,

trazendo com isto desleixo com a higiene e ignorando novas formas de tratamento

de sanitário de seus efluentes.

Com o desenvolvimento da economia na Idade Média, a água passa a se

tornar um elemento importante deste processo. Para Silva (2010) a implantação dos

moinhos e as atividades pré-industriais de moagem, tecelagem, tinturaria,

manufaturas em tecido e couro exigiam grandes quantidades de água, necessitando

estas instalarem-se próximas de rios para facilitar a captação da água. À medida

que essas atividades foram se instalando e se popularizando, ao redor delas

começavam a se formar aglomerações para mão-de-obra destinada aos trabalhos

pesados, incentivando com isto que o próprio planejamento urbano da época fosse

feito em função da circulação das águas no interior das cidades e vilarejos.

O autor ainda comenta que a maior parte da população utilizava-se de

poços escavados no interior de suas casas, com o intuito de suprir suas

necessidades domésticas e artesanais. Mas a presença de fossas em suas

proximidades contaminava quase todas essas fontes de água subterrânea,

contribuindo para o avanço das doenças. Já Rocha et al. (2004), comenta que os

fossos dos castelos feudais recebiam todas as espécies de dejetos e rejeitos, e nas

ruas e imediações das cidades, acumulava-se todo tipo de detrito, contribuindo na

proliferação de ratos, criando sérios problemas de saúde pública, culminando no

mais grave destes até então: a epidemia de peste bubônica, que matou cerca de 25

milhões de pessoas só na Europa.

Silva (1998, p. 33) comenta:

A peste negra no século XIV, conjugada com a guerra e a insurreição popular, demonstrava um período de crise e um terço da população, acometida pela doença, teria sido dizimada na Europa. Na Idade Média, ao contrário da Antiguidade, os hábitos higiênicos eram pouco considerados, visto a dimensão dos problemas sanitários com a deposição de restos orgânicos e lixo nas vias públicas, nas instalações sanitárias insuficientes ou ausentes, e nas reduzidas possibilidades de banho para a população. Este período foi marcado por grandes epidemias além da peste, dentre elas, a da varíola, a do cólera, a da lepra e a do tifo.

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Na tentativa de deter tais problemas, a Inglaterra, em 1388, promulgou a que

se considera a mais antiga lei de proteção ambiental, proibindo o lançamento de

excrementos, lixo e detritos nas valas, rios e águas (XAVIER, 2010).

Apesar das tentativas, tais normas de disciplinamento do uso dos recursos

hídricos não geraram os resultados desejados. Segundo Silva (1998), as cidades

medievais introduziram no meio ambiente, por meio de seus cidadãos e artesãos,

uma série de perturbações, como: poluição com modificação do equilíbrio das águas

fluviais; contaminação dos lençóis freáticos; acumulação dos riscos epidêmicos;

como também a destruição de vastas áreas florestais, levando à redução das

vazões das águas superficiais e subterrâneas, provocando o que Roche (1990)

denominou ser ―a primeira grande transformação dos ecossistemas‖

Mesmo que estas normas não tenham sido obedecidas, surgiam ali os

primeiros pensamentos sobre a importância da preservação da água para

abastecimento humano e a consciência de que a atividade humana trazia prejuízo à

qualidade de rios e das fontes (XAVIER, 2010).

O período do Renascimento é considerado como um divisor de águas na

questão do saneamento. Conforme Silva (1998), novos conhecimentos e novas

técnicas hidráulicas começaram a surgir a partir do advento da ciência e de seus

novos métodos, marcando uma transformação radical no mundo e nos paradigmas

que orientavam a sociedade até então. A preocupação com epidemias incentivou a

busca por novos meios de técnicas sanitárias que surgiram com a revolução

científica, dando evidência à decadência da visão naturalista e a mudança no

conceito do processo saúde-doença, consolidando-se somente no século XIX, com o

surgimento da medicina científica.

Neste período da história surgiram os primeiros aparelhos sanitários e

sistemas de água encanada, usados primeiramente pela nobreza.

De acordo com Fernandes (1997):

A sistemática de carreamento de refugos e dejetos domésticos com o uso da água, embora fosse conhecida desde o século XVI, quando John Harrington

1 instalou a primeira latrina no palácio da Rainha Isabel, sua

1 John Harrington (1561 - 1612), cortesão e poeta satírico inglês nascido em Kelston, Somerset.

Formado em Cambridge, entrou para a história do saneamento quando idealizou e convenceu sua protetora, a Rainha Isabel, a instalar no palácio, um recinto interno e fechado com vaso cloacal, a primeira latrina. Entre seus escritos destacaram-se uma tradução de Orlando Furioso, de Ariosto (1591), The Metamorphosis of Ajax (1596) e um tratado sobre a sucessão da coroa. (FERNANDES, 1997).

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disseminação só veio a partir de 1778, quando Joseph Bramah2 inventou a

bacia sanitária com descarga hídrica, inicialmente empregada em hospitais e moradias nobres. Estas instalações provocaram a saturação das fossas, contaminando as ruas e o lençol freático. A distribuição generalizada de água encanada e das peças sanitárias com descarga hídrica, fizeram com que a água passasse a ser utilizada com uma nova finalidade: afastar propositadamente dejetos e outras sujeiras indesejáveis ao ambiente de vivência.

O acúmulo de dejetos e rejeitos nas ruas continuou sendo um problema

sanitário até o século XVIII. Segundo Rocha et al. (2004), o lixo acumulava-se nas

ruas à medida que a população crescia e com o inicio da era industrial tornou-se

necessária a tomada de medidas para o afastamento destes resíduos para longe

das concentrações populacionais. O destino deste escoamento de resíduos

domésticos e industriais eram os rios, que passaram a receber grande carga de

poluentes gerando problemas como mortandade de peixes e transmissão de

doenças. A Inglaterra foi um dos primeiros países a serem atingidos devido à

pequena extensão e volume dos seus rios, passando com isso a ser também um

dos primeiros países a buscar medir e caracterizar poluição, criar os primeiros

regulamentos referentes à proteção sanitária dos cursos de água e os primeiros

processos de tratamento de águas residuais.

De acordo com Fernandes (1997):

As décadas de 1830 e 1840 podem ser destacadas como as mais importantes na história científica da Engenharia Sanitária. A epidemia de cólera de 1831/32 despertou concretamente para os ingleses a preocupação com o saneamento das cidades, pois evidenciou que a doença era mais intensa em áreas urbanas carentes de saneamento efetivo, ou seja, em áreas mais poluídas por excrementos e lixo, além de mostrar que as doenças não se limitavam às classes mais baixas. Em seu famoso Relatório (1842), Chadwick

3 já afirmava que as medidas preventivas

como drenagem e limpeza das casas, através de um suprimento de água e de esgotamento efetivos, paralelo a uma limpeza de todos os refugos

2 Joseph Bramah (1748 - 1814), engenheiro, inventor e construtor inglês nascido em Stainborough,

Yorkshire que inventou a bacia sanitária com descarga hídrica, em 1778, a tranca de Bramah, em 1784, e a prensa hidráulica, em 1796, em Londres. (FERNANDES, 1997) 3 Edwin Chadwick (1800 - 1890), sanitarista britânico, pioneiro da saúde pública e incansável apóstolo

da higiene, o primeiro a compreender a tremenda importância da purificação da água. Naquela época sua pátria achava-se em pleno desenvolvimento industrial e as condições de higiene haviam-se agravado, principalmente com o lançamento indiscriminado dos efluentes industriais líquidos nos arroios e rios. Seu famoso Relatório, de 1842, sobre doenças na classe trabalhadora inglesa, demonstrou a relação entre pobreza e insalubridade e tornou-se modelo para outros sanitaristas em várias outras nações. Após integrar várias comissões importantes na história da saúde pública inglesa, em 1848, com o estabelecimento do Conselho Geral de Saúde, considerado um marco na história da saúde pública mundial, consagrou definitivamente suas brilhantes "ideias sanitárias". (FERNANDES 1997)

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nocivos das cidades, eram operações que deveriam ser resolvidas com os recursos da engenharia civil e não no serviço médico.

As primeiras suspeitas de que a água poderia transmitir doenças é datada

do século XIX, mais especificamente em 1849. Segundo Grassi (1993), nesta

ocasião, aventou-se que a água poderia ser o agente transmissor do vibrião da

cólera. Fato confirmado junto ao rápido desenvolvimento da microbiologia durante a

segunda metade do século XIX, comprovando que os principais vetores de doenças

eram os microrganismos, como bactérias e vírus.

Segundo Rocha et al. (2004, p. 33):

Em 1847, foi iniciada, na Inglaterra, a construção de redes de efluentes domésticos (―reforma sanitária‖), aportando os resíduos diretamente nos mananciais e, consequentemente, aumentando em demasia o teor de matéria orgânica nos corpos d’água. Como consequência da deterioração da qualidade da água nos mananciais (alta DBO), uma comissão de cientistas reuniu-se em 1868, na Inglaterra, para discutir sobre tratamento e destinação de esgotos, podendo ser essa data considerada o marco inicial de futuros desenvolvimentos no setor. Em 1887, começou a funcionar em Frankfurt, na Alemanha, o primeiro sistema de tratamento de efluentes domésticos completamente mecânico [...]

Conforme Rocha et al. (2004), em 1884, o higienista Max von Pettenkofer

alertava para os perigos da contaminação das fontes de água via infiltração,

lembrando que as fossas destinadas a coleta de efluentes domésticos eram cavadas

próximas à fontes e poços de água para abastecimento humano.

A primeira Estação de Tratamento de Água (ETA) foi construída em Londres

no ano de 1829 e tinha função de coar a água do rio Tâmisa em filtros de areia.

Conforme Santos et al. (2009), a ideia era tratar o esgoto antes de lançá-lo ao meio

ambiente, porém, este método só foi testado pela primeira vez em 1874 na cidade

de Windsor, Inglaterra. Até então, não se sabia como as doenças saíam do lixo e

―chegavam‖ ao nosso corpo. Tinha-se por consenso que elas transmitidas pelo ar,

pois o volume de ar respirado por dia é muito superior ao volume de água ingerido.

Mas após a descoberta de que doenças letais da época (como a febre tifoide e a

cólera) eram transmitidas pela água, as técnicas de filtração e a cloração foram mais

amplamente estudadas e empregadas.

Para Rocha et al. (2004), a relação entre a água tomada pela população e o

contato destas com dejetos foi percebida pelo médico John Snow em 1885,

determinando como causa de uma epidemia que matou 521 pessoas em Londres, a

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água retirada de um poço situado no centro dessa área, que recebia contaminação

de efluente doméstico.

De acordo com Fernandes (1997), sua maior contribuição sanitária foi

demonstrar efetivamente que as fezes contaminavam a água e davam origem à

infecção pela cólera, mesmo que sua transmissão também pudesse ocorrer de

pessoa para pessoa e através do alimento contaminado. O médico deduziu ser um

organismo vivo a causa da doença.

Com os avanços nos estudos da microbiologia ao final do século XIX e início

do XX, observou-se uma quebra de paradigmas na compreensão do processo

saúde-doença. Sobre isso Silva (1998, p. 12) aponta:

O surgimento da teoria unicausal, pela qual a doença relacionava-se a um único agente patógeno, mudou o foco das ações de controle das epidemias, passando-se a combater o agente específico, seja através de medicamentos desenvolvidos e administrados ao paciente, seja pelo combate aos vetores. Houve, a partir de então, um reforço no sentido de individualizar as ações preventivas e curativas, responsabilizando-se o doente pela contaminação e instaurando-se a polícia sanitária com a finalidade de controlar os focos de contaminação nas cidades, numa tentativa de controle sanitário das patologias.

Conforme Leme (2010), nos Estados Unidos, a disposição e o tratamento da

água e dos dejetos não recebeu grande atenção até o final do século XIX, devido à

pequena densidade demográfica, já que seu território tinha grandes glebas de terra

inexploradas e a disposição dos dejetos era feita sobre o solo. O aumento da

densidade demográfica nas grandes cidades americanas e ao redor delas resultou

na dificuldade de obter áreas para disposição final dos efluentes, forçando assim na

adoção de intensivos métodos de tratamento de esgotos e no aumento das estações

de tratamento.

Com o desenvolvimento da ciência e a descoberta dos vetores de

transmissão, novos métodos de tratamentos de água e efluentes foram criados. De

acordo com Fernandes (1997), um destes primeiros sistemas foi o Separador

Parcial, um sistema no qual eram coletadas e conduzidas às galerias, além das

águas residuárias domésticas, apenas as vazões pluviais provenientes das áreas

pavimentadas interiores aos lotes (telhados, pátios, etc), com o objetivo básico de

reduzir os custos de implantação e, consequentemente, as tarifas a serem pagas

pelos usuários. Em 1879, o engenheiro George Waring foi contratado para projetar

um sistema de esgotos para a cidade de Memphis, no Tennesee, EUA, região cuja

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economia predominante era rural e relativamente pobre, praticamente incapaz de

custear a implantação de um sistema caro como eram os convencionais à época.

Waring projetou um sistema exclusivamente para coleta e remoção das águas

residuárias domésticas, excluindo, com isso, as vazões pluviais no cálculo dos

condutos. O nome deste método era Sistema Separador Absoluto cuja sua principal

característica é ser constituído de uma rede coletora de esgotos sanitários e outra

exclusiva para águas pluviais. Este tipo de sistema de tratamentos logo foi difundido

pelo mundo a partir das ideias e publicações de Waring e de Cady Staley,

engenheiro defensor e adepto deste novo método.

De acordo com Leme (2010), até 1925, cerca de 80% das cidades dos EUA

com população acima de 100 mil habitantes não possuíam sistemas para tratamento

de seus esgotos, porém, a situação melhorou gradativamente com o passar dos

anos, sendo que em 1970, praticamente todas as cidades deste porte já dispunham

de sistemas de tratamento.

A Tabela 1 mostra o aumento e a evolução Estações de Tratamento de

Esgoto (ETE’s) com tratamento simples, tratamento secundário, terciário e sistemas

via solo nos EUA:

TABELA 1 - Número de estações de tratamento de esgoto nos EUA.

Tipos de tratamento 1950 1962 1972 1982 1992 1996

1. Sem tratamento 5.156 2.262 2.265 237 0 0

2. Estações Menores 60 41 47 79 - -

3. Primárias 3.099 2.717 2.594 3.119 868 176

4. Intermediárias - 98 100 75 75 78

5. Secundárias 3.529 6.719 14.035 7.946 9.086 9.388

6. Avançadas/Terciárias - - 461 2.760 3.678 4.428

7. Via solo - - 142 1.600 1.981 2.032

Total geral 11.844 14.837 19.644 15.816 15.688 16.012

Total tratamento 6.688 12.575 17.379 15.579 15.688 16.102

População atendida (hab) 49,6.106 103,7.106 136,0.106 157,5.106 172,8.106 182,9.106

% / população total 54,03 87,66 95,97 96,33 95,68 95,94

Fonte: Adaptada LEME (2010)

É notado que ao longo dos anos o número de ETE’s com tratamento

secundário, terciário e sistemas via solo aumentam, em contrapartida, à diminuição

do número de estações com tratamento primário único e estações menores. De

Page 25: O SANEAMENTO BÁSICO E A CONTEXTUALIZACAO DA BACIA DE EVAPOTRANSPIRAÇÃO PARA O SANEAMENTO ECOLÓGICO

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acordo com Leme (2010), essa substituição se deu em função de suas

transformações e/ou substituições por aquelas com melhor eficiência de remoção e

geração de efluente final (esgoto tratado) com melhor qualidade. Desde 1972, cerca

de 96% da população americana é atendida com tratamento de esgoto doméstico.

Conforme Rocha et al (2004), os próximos avanços no tratamento vieram

com a constatação de que a filtração poderia eliminar a turbidez e a cloração, e

remover cerca de 99% das bactérias e vírus presentes na água. De acordo com o

mesmo autor, estudos epidemiológicos demostraram que processos de filtração

ajudaram de grande modo na redução na incidência do vibrião da cólera e da febre

tifoide nos EUA. Desde 1907, a filtração manteve-se como método recomentado de

tratamento de água potável recomendável, mas antes, em 1902 o cloro também

começava a ser empregado na desinfecção das águas destinadas ao abastecimento

humano e até hoje é utilizado principalmente nos EUA, alguns países da Europa e

em grande parte de países em desenvolvimento, como o Brasil.

Hoje, tem-se sob consenso que todo efluente ou água resíduária, seja de

origem industrial ou doméstica , tenha que ser tratado antes de ser devolvido ao

ambiente, diminuindo assim seu impacto ambiental e para a saúde humana.

(SANTOS, 2009).

2.1. SANEAMENTO BÁSICO E TRATAMENTO DE EFLUENTES NO BRASIL:

CONTEXTO HISTÓRICO

No Período Colonial (até o século XVIII), a economia brasileira estava

baseada na exploração intensiva de recursos naturais e de monoculturas com mão-

de-obra escrava, caracterizando-se por sucessivos ciclos mercantis, tais como o do

pau-brasil, do açúcar, do ouro, da borracha e do café. O desenvolvimento país e de

suas regiões estava associado diretamente a estes ciclos mercantis, fazendo-se

sentir, de maneira mais acentuada, os efeitos da ocupação humana sobre os

ecossistemas e as civilizações autóctones (SILVA, 1998).

Neste período da história brasileira, as questões sanitárias eram

praticamente negligenciadas pelo governo colonial.

Lembra Silva (1998) que as soluções relativas ao abastecimento de água e

evacuação dos dejetos ficavam sob encargo dos indivíduos, assim como a captação

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de água para abastecimento, feita em mananciais e, as ações de saneamento,

voltadas à drenagem com menor importância ao abastecimento de água.

De acordo com Fernandes (1997), a evolução tecnológica nas nações mais

adiantadas, como da Inglaterra, e a necessidade do intercâmbio comercial forçava a

instalação de medidas sanitárias mais eficientes, devido à proliferação de pestes e

doenças contagiosas em cidades desprovidas dessas iniciativas.

O mesmo autor comenta que isto gerava insegurança aos visitantes,

fazendo com que os navios comerciais da época retirassem os portos destas

cidades de suas rotas marítimas, temendo contaminação da tripulação e, gerando

com isso, consequentemente, prejuízos constantes às nações mais pobres e

dependentes do comércio internacional. No tocante ao Brasil, os portos do Rio de

Janeiro e Santos.

O Imperador Dom Pedro II, temendo os efeitos deste desastre econômico,

contratou engenheiros ingleses para elaborarem e implantar sistemas de

esgotamento para o Rio de Janeiro e São Paulo. Na época, as principais cidades

brasileiras. Os projetistas ingleses depararam-se com situações peculiares e

diferentes das encontradas na Europa, principalmente as condições climáticas (clima

tropical, com chuvas muito mais intensas) e a urbanização (lotes grandes e ruas

largas), obrigando a estes, implantar o Sistema Separador Absoluto, que coletava

separadamente o esgoto e as águas pluviais (FERNANDES, 1997).

No final do século passado, a recente Engenharia Sanitária Nacional foi de

suma importância para o setor de saneamento no Brasil, principalmente com

trabalhos desenvolvidos pelo engenheiro Saturnino de Brito.

Lembra Silva (1998, p. 54) que:

Nesta fase, as técnicas de intervenção passaram a incorporar os problemas urbanos de maneira mais abrangente sobre o espaço da cidade. Diversas transformações ocorreram nas concepções urbanísticas e na infraestrutura, marcada pela criação de novos serviços de saneamento e crescimento do abastecimento de água.

Em 1930 todas as capitais brasileiras possuíam sistema de distribuição de

água e coleta de esgotos. Mas, com o inicio da revolução industrial brasileira e

aumento populacional nos centros urbanos brasileiros veio poluição das águas, que

agravou-se ao decorrer do tempo, pois a implantação de obras de saneamento para

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servir água potável à população, coleta de lixo, coleta e tratamento de esgoto, nunca

acompanhou o ritmo de crescimento nas áreas urbanas (SANEPAR, 2004).

A seguir, no Quadro 1, Cronologia dos eventos relacionados aos sistemas

de esgotamento sanitário:

Ano Evento

4000 a. C. Mesopotâmia: início de construções de sistemas de irrigação.

3750 a. C. Índia: construção de galerias de esgotos pluviais em Nipur.

3750 a. C. Babilônia: construção de galerias de esgotos pluviais.

3100 a. C. Vários pontos: surgimento de manilhas cerâmicas.

3000 a. C. Harada e Mohenjodaro, Pakistão: muitas casas com banheiros abastecidos através de tubos cerâmicos e condutos em alvenaria de tijolos para condução de águas superficiais.

2750 a. C.

Índia: início dos sistemas de drenagem subterrânea no vale dos hindus.

2000 a. C. Creta: empregado no Palácio de Minos, em Knossos, manilhas cerâmicas de ponta e bolsa com cerca de 0,70m de comprimento.

1700 a. C. Creta: instalada a primeira banheira no palácio de Knossos, por Dédalus.

514 a. C. Roma: construção de uma galeria com 740m de extensão e diâmetro equivalente de até 4,30m, de pedras arrumadas, denominada de cloaca máxima, por Tarquínio Prisco, o Velho (1).

500 a. C. Roma: construção de galerias auxiliares a principal, em condutos de barro, por Tarquínio, o soberbo (2).

260 a. C. Atenas: criação da bomba parafuso, por Arquimedes (3).

200 a. C. Atenas: criação da bomba de pistão, por Ctesibius (4)

32 a. C. Roma: Agripa (5) ordenou a limpeza das galerias existentes e criou novas de até 3m de largura por 4km de extensão.

1237 d. C. Londres: surgimento da água encanada com o emprego de canos de chumbo.

1370 d. C. Paris: construída a primeira galeria com cobertura abobadada.

1500 d. C. Alemanha: uso obrigatório de fossas nas residências.

1650 d. C. Gloucester: instalação de latrinas municipais. 1680 d. C. Londres: início do emprego de água para limpeza de privadas.

1689 d. C. Paris: Denis Papin (6) inventa a bomba centrífuga.

1778 d. C. Londres: Joseph Bramah (7) inventa a bacia sanitária com descarga hídrica.

1785 d. C. Londres: James Simpson introduz no mercado os tubos de ponta e bolsa.

1804 d. C. Inglaterra: emprego de tubos de ferro fundido.

1805 d. C. Lichfield: substituição de canos de chumbo por de ferro fundido.

1808 d. C. Londres: substituição de estruturas de madeira por canos de ferro fundido. Idem Dublin (1809), Filadélfia (1817), Gloucester (1826), etc

1815 d. C. Inglaterra: autorizado o lançamento de efluentes domésticos nas galerias pluviais.

1827 d. C. Londres: uso compulsório de tubos de ferro fundido.

1830 d. C.

Londres: permissão para lançamento de esgotos domésticos no rio Tâmisa (o que seria proibido em 1876).

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1842 d. C. Hamburgo, Alemanha: iniciada a implantação de um sistema projetado de esgotos de acordo com as teorias modernas.

1847 d. C. Londres: lançamento compulsório das águas domésticas nas gale- rias pluviais.

1848 d. C.

Londres: promulgação na Inglaterra de leis de saneamento e saúde pública.

1854 d. C. Montevideo: inauguração do sistema de esgotos sanitários da cidade, pioneiro na América do Sul.

1855 d. C. Rio de Janeiro: contratação dos ingleses para criar sistemas de esgotamento para as cidades do Rio e São Paulo.

1857 d. C. Rio de Janeiro: inauguração do sistema de esgotos (separador parcial) da cidade, tornando-se uma das primeiras cidades do mundo dotada de rede coletora de esgotos.

1857 d. C. Nova Iorque: inauguração do sistema de esgotos da cidade.

1873 d. C. Recife: iniciada a construção da primeira rede coletora de esgotos Sanitários desta capital.

1876 d. C. São Paulo: inaugurado o primeiro sistema coletor de esgotos (separador parcial) da cidade.

1879 d. C.

Memphis, EUA: criação do Sistema Separador Absoluto por George Waring.

1889 d. C. Irlanda: apresentada pelo próprio autor, a expressão de Manning.

1892 d. C. Campinas: execução da rede coletora desta cidade.

1897 d. C. Belo Horizonte: inauguração da cidade com água e esgotos projetados por S. de Brito.

1900 d. C. Áustria: início da produção de tubos de cimento-amianto por Ludwing Hastscher.

1900 d. C. São Paulo: Saturnino de Brito inventou o tanque fluxível.

1907 d. C. São Paulo: Saturnino de Brito iniciou as obras de esgotos e drenagem da cidade de Santos.

1912 d. C. Brasil: adoção do sistema separador absoluto.

1920 d. C. São Paulo: invenção do tubo de ferro fundido centrifugado por De Lavaud.

1928 d. C. São Paulo: construção da estação de tratamento de esgotos de Santo Ângelo

1953 d. C. Inglaterra: iniciada a fabricação de tubos de PVC.

1962 d. C. Campina Grande: criação da primeira empresa pública nacional de saneamento (SANESA).

1968 d. C. Brasília: criação do PLANASA - Plano Nacional de Saneamento

1968 d. C. São Paulo: criação da CETESB - Companhia de Tecnologia e Saneamento Ambiental.

Quadro 1 - Cronologia dos eventos relacionados aos sistemas de esgotamento sanitário Fonte: Adaptado de Braga, (2011).

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29

2.2. SANEAMENTO BÁSICO: CONTEXTO ATUAL

2.2.1. Abastecimento de Água

Segundo o IBGE (2010), a oferta de saneamento básico é de fundamental

importância em termos de qualidade de vida, pois sua ausência acarreta poluição

dos recursos hídricos, trazendo prejuízo à saúde da população, principalmente o

aumento da mortalidade infantil.

Hoje, cerca de 40% da população mundial não tem acesso ao saneamento

básico. Conforme publicado pela agência Efe e replicado pelo site do jornal Estadão

em 15/03/2010:

Passados dez anos desde os compromissos que a ONU aprovou para melhorar a vida dos mais pobres do planeta, 884 milhões de pessoas seguem sem acesso à água potável e 2,6 bilhões não dispõem de saneamento básico nos locais em que vivem.

De acordo com a mesma fonte, em relação ao saneamento, apenas metade

da população dos países em desenvolvimento possuem banheiro, uma latrina ou um

poço séptico de uso doméstico sendo que os maiores progressos nesse campo nos

últimos anos foram registrados no norte da África e em regiões do leste e do sudeste

da Ásia.

Rodrigues e Malafaia (2009) apud OPAS/OMS, (2001, p. 6) comentam que:

Segundo dados publicados pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) em associação com a OMS (Opas/OMS, 2001) estimam que a cada 8 segundos uma criança morra em virtude de uma doença relacionada à poluição dos recursos hídricos (mais de 5 milhões de pessoas morrem por ano). A qualquer momento do dia é provável que metade de toda a população nos países em desenvolvimento esteja sofrendo de uma ou mais doenças associadas ao abastecimento de água e saneamento.

Com o resultado deste relatório sobre o estado do saneamento básico no

mundo, a ONU chegou a triste conclusão que as águas do planeta estão cada vez

mais poluídas e cada vez mais pessoas morrem em decorrência da poluição destas

águas do que por todas as formas de violência, inclusive guerras, tornando-se o

maior problema ambiental (MSIA, 2010).

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30

A matéria publicada no site do Movimento de Solidariedade Ibero- Americana (2010) sobre o relatório da ONU sobre a questão de saneamento básico mundial ainda reforça: De acordo com o estudo, a falta de água limpa mata 1,8 milhão de crianças com menos de cinco anos de idade anualmente, o que representa uma morte a cada 20 segundos. Grande parte do despejo de resíduos acontece nos países em desenvolvimento, que lançam 90% da água de esgoto sem tratamento.

No Brasil, a questão do saneamento básico apresenta, como na grande

maioria dos países em desenvolvimento, discrepância de condições em suas várias

regiões. Em 2008, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realizou

uma nova edição da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico – PNSB, com

objetivo de avaliar qualitativa e quantitativamente os serviços e abastecimento de

água, esgotamento sanitário, manejo de águas pluviais e manejo de resíduos sólidos

prestados à população pelas entidades que atuam no setor.

Sobre a pesquisa, o IBGE (2010, p. 16) destaca:

A pesquisa investigou, em todos os municípios do Brasil, informações sobre captação e análise da água, volume de água distribuída (tratada ou não), extensão das redes de abastecimento de água, esgotamento sanitário, tratamento de esgoto, locais de destinação, extensão das redes de esgotamento sanitário, pontos de lançamentos da rede de drenagem urbana, extensão das redes de drenagem urbana, fatores agravantes de enchentes ou inundações e de erosões, volume do lixo coletado, frequência da coleta, destino final do lixo e coleta de resíduos sólidos especiais, entre outros aspectos.

Sob o aspecto do abastecimento de água, que, segundo o IBGE (2010, p.

33) ―[...] caracteriza-se pela retirada da água bruta da natureza, adequação de sua

qualidade, transporte e fornecimento à população através de rede geral de

distribuição [...]‖, além de outras formas alternativas como a água proveniente de

chafarizes, bicas, minas, poços particulares, carros-pipas, cisternas, dentre outros a

pesquisa revelou que dos 5 564 municípios brasileiros existentes em 2008, 5531

(99,4%) realizavam abastecimento de água por rede geral de distribuição4 em pelo

menos um distrito ou parte dele.

A Tabela 2 demonstra a evolução da cobertura do serviço de abastecimento

de água por rede geral de distribuição nos municípios brasileiros.

4 Rede geral de distribuição de água: Conjunto de tubulações interligadas, instaladas ao longo das

vias públicas ou nos passeios, junto aos edifícios, conduzindo a água aos pontos de consumo (moradias, escolas, hospitais etc.), por meio de ligação predial. (IBGE, 2008, pg. 207)

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TABELA 2 - Municípios com serviço de abastecimento de água por rede geral de distribuição, segundo as Grandes Regiões - 1989/2008.

Grandes Regiões

Municípios com serviço de abastecimento de água por rede geral de distribuição

1989 2000 2008

Quantidade Percentual (%)

Quantidade Percentual (%)

Quantidade Percentual (%)

Brasil 4 245 95,9 5 391 97,9 5 531 99,4 Norte 259 86,9 422 94,0 442 98,4 Nordeste 1 371 93,8 1 722 96,4 1 772 98,8 Sudeste 1 429 99,9 1 666 100,0 1 688 100,0 Sul 834 97,3 1 142 98,5 1 185 99,7 Centro-Oeste

352 92,9 439 98,4 464 99,6

Fonte: Adaptado de IBGE (2010)

Segundo o IBGE (2010), comparando-se pesquisa efetuada em 1989 e a de

2008 observa-se um crescimento de 3,5% na cobertura do serviço de abastecimento

de água por rede geral que, em 2008, alcançou a marca de 99,4% dos municípios

do País, sendo que o maior avanço nesses 19 anos ocorreu na Região Norte, que

viu seu percentual aumentar de 86,9% dos municípios com o referido serviço para

98,4%, representando um acréscimo de quase 12%. A Região Sudeste foi a única

que apresentou a totalidade dos municípios que a integram abastecidos por rede

geral de distribuição de água, em pelo menos um distrito ou parte dele, sendo este

fato, identificado também na PNSB 2000.

A Tabela 3 demonstra a análise de percentual de municípios do País, total

de domicílios, economias residenciais e economias abastecidas em relação ao

número de domicílios segundo as Grandes Regiões.

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TABELA 3 - Percentual de municípios do País, total de domicílios, economias residenciais e economias abastecidas em relação ao número de domicílios, segundo as Grandes Regiões - 2008.

Grandes Regiões

Percentual de

municípios do País

Domicílios Economias abastecidas

Total

(em 1000 domicílios)

Distribuição percentual

(%)

Total

(em 1000 economias)

Percentual em

relação ao numero de domicílios (%)

Brasil 100,00 57 656 100,0 45 343 78,6 Norte 8,1 4 035 26,0 10 254 68,3 Nordeste 32,2 15 011 26,0 10 254 68,3 Sudeste 30,0 25 341 43,9 22 183 87,5 Sul 21,3 9 004 15,6 7 582 84,2 Centro-Oeste 8,4 4 264 7,4 3 495 82, 0

Fonte: Adaptado de IBGE (2010)

A partir destas informações, o IBGE (2010) realizou um cruzamento de

dados da PSNB 2008 referentes ao número de economias ativas residenciais

abastecidas por rede geral e os dados obtidos pela Pesquisa Nacional por Amostra

de Domicílios - PNAD5 sobre o número de domicílios no País. Tal cruzamento de

dados mostrou que o Brasil dispunha em 2008, de 78,6% dos domicílios

abastecidos, mas revelando-se também grandes desequilíbrios entre as regiões.

(Figura 2).

A Região Sudeste, em 2008, apresentou uma cobertura de 87,5% dos

domicílios abastecidos por rede geral, enquanto que na Região Norte, menos da

metade dos domicílios (45,3%) dispunham deste serviço, enquanto que a região

Nordeste apresentou um incremento de cerca de 14,4% , entre 2000 e 2008. As

demais regiões (Sul e Centro-Oeste) apresentaram um padrão de crescimento

parecido no número de domicílios abastecidos de água entre 2000 e 2008.

5 Conforme dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD, o Brasil dispunha, em

2008, de 57,7 milhões de domicílios particulares permanentes – incluindo os domicílios particulares permanentes ocupados, vagos, fechados e de uso ocasional. (IBGE, 2008, p. 36).

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Figura 2 - Domicílios abastecidos de água por rede geral, segundo as Grandes Regiões - 2000/2008. Fonte: IBGE (2010).

O IBGE (2010) salienta que o déficit na prestação do serviço de

abastecimento de água pelas entidades continuou elevado, com aproximadamente

12 milhões de residências no País sem acesso à rede geral.

Dentre os municípios brasileiros que possuem sistema de abastecimento de

água, nem todos tratam a água captada, conforme explica o IBGE (2010, p. 39) na

Pesquisa Nacional de Saneamento Básico 2008:

[...] a maior parte dos municípios brasileiros (87,2%) distribuía a água totalmente tratada. No entanto, há que se registrar que em 6,2% dos mesmos a água era apenas parcialmente tratada e, em 6,6%, não tinha nenhum tratamento. Em 2000, os municípios onde não se realizava nenhum tipo de tratamento na água representavam 18,1% do País. Dentre os municípios que, em 2008, distribuíam água sem qualquer tipo de tratamento, destacam-se aqueles situados na Região Norte (20,8% dos municípios). Nessa região, os Estados do Pará (40,0% dos municípios do estado) e Amazonas (38,7%) apresentaram as maiores proporções. Em seguida, figura a Região Nordeste, com 7,9% de seus municípios. Nessa região, é alta a proporção de municípios dos Estados de Piau (24,3%) e Maranhão (21,8%) que não efetuaram nenhum tratamento na água distribuída por rede geral à população. Observa-se, ainda, que dos 365 municípios do País que distribuíam água por rede geral sem nenhum tipo de tratamento, 99,7% tinham população com até 50 mil habitantes e densidade demográfica menor que 80 habitantes por quilômetro quadrado.

Segundo a PNSB (2008), o maior volume de água tratada e distribuída por

rede geral (69,2%) recebia tratamento convencional. Neste tipo de tratamento, a

água bruta passa por um tratamento completo em uma Estação de Tratamento de

Água (ETA), passando pelos processos de floculação, decantação, filtração e

desinfecção (cloração), podendo ocorrer também a correção do pH e a fluoretação.

O IBGE (2010, p.39) aponta que ―o tratamento do tipo não convencional era

efetuado em 7,5% da água distribuída, através de processos, tais como: clarificador

de contato; estação de tratamento de água (ETA) compacta; filtração direta;

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34

dessalinização; etc.‖ A pesquisa conclui que em outros 23,2 % da água distribuída,

utilizava-se apenas de um tratamento de desinfecção (cloração e outros).

Na Tabela 4, mostra um comparativo da Região Sul do Brasil. Destacando o

Paraná, observa-se quem entre 2000 a 2008, dos 399 municípios integrantes do

Estado, todos passaram a possuir abastecimento de água.

TABELA 4 - Municípios, total e com algum serviço de saneamento básico, por tipo de serviço, Região Sul da Federação - 2000/2008

Grandes regiões e unidades

da Federação

Municípios

Total

Com algum serviço de saneamento básico

Total

Total de serviço

Rede geral de

distribuição de água

Rede coletora

de esgoto

Manejo de resíduos sólidos

Manejo de águas

pluviais

2000 2008 2000 2008 2000 2008 2000 2008 2000 2008 2000 2008

Brasil 5507 5564 5497 5564 5391 5531 2877 3069 5475 5562 4327 5256 Sul 1159 1189 1157 1188 1142 1185 451 472 1149 1188 1094 1172 Paraná 399 399 399 399 398 399 152 168 399 399 377 399 Santa Catarina

293 293 292 293 283 292 87 103 291 293 269 292

Rio Grande do Sul

467 496 466 496 461 494 494 212 201 459 496 448

Fonte: Adaptado de IBGE (2010)

2.2.2. Esgotamento Sanitário

A Pesquisa Nacional de Saneamento Básico realizada em 2008 pelo IBGE

também obteve dados relativos às condições de esgotamento sanitárias dos

municípios brasileiros, observando-se um aumento de cerca de 3% em relação à

pesquisa realizada no ano 2000, revelando um percentual de 55,2% de municípios

com esgotamento sanitário por rede coletora6.

6 Rede coletora de esgotamento sanitário: Conjunto de canalizações que operam por gravidade e

que têm a finalidade de coletar os despejos domésticos e especiais da comunidade a partir de ligações prediais ou de outros trechos de redes, encaminhando-os a interceptores, local de tratamento ou lançamento final. Na extensão da rede coletora, deve-se considerar o comprimento

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35

Apesar do pequeno aumento no número de municípios que contêm sistema

de esgotamento sanitário, o IBGE (2010, p. 40) ressalta:

Em 2008, a proporção de municípios com rede de coleta de esgoto foi bem inferior à de municípios com rede geral de distribuição de água (99,4%), manejo de resíduos sólidos (100,0%) e manejos de águas pluviais (94,5%). É importante ressaltar que a estatística de acesso à rede coletora de esgoto refere-se apenas à existência do serviço no município, sem considerar a extensão da rede, a qualidade do atendimento, o número de domicílios atendidos, ou se o esgoto, depois de recolhido, é tratado.

Conforme os dados obtidos pelo Censo Demográfico do ano 2000 e pela

Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios de 2008, o IBGE (2010) contabilizou

que o Brasil possuía cerca de 47,8 milhões de domicílios particulares permanentes

(que incluem domicílios particulares permanentes ocupados, vagos, fechados e de

uso ocasional) no ano 2000 e 57,7 milhões de domicílios particulares permanentes

em 2008.

Com relação ao número de economias esgotadas residenciais 7, a Figura 3

mostra um importante avanço entre os anos de 2000 e 2008 na quantidade de

municípios que já possuíam rede coletora de esgotos. Como salienta IBGE (2010, p.

40):

Esse número aumentou 39,5%, com destaque para as Regiões Norte (89,9%) e Nordeste (64,7%), onde poucos domicílios eram atendidos, sendo, portanto, baixa a base de comparação. Em função disso, a proporção de domicílios com acesso à rede geral de esgoto passou de 33,5%, em 2000, para 44,0%, em 2008. No entanto, apenas na Região Sudeste, mais da metade dos domicílios (69,8%) tinham acesso à rede geral. A segunda região em cobertura do serviço foi a Centro-Oeste (33,7%), com resultado próximo ao da Região Sul (30,2%). Seguem-se as Regiões Nordeste (22,4%) e Norte (3,8%).

total da malha de coleta de esgoto operada pelo prestador de serviços, incluindo redes de coleta e interceptores e excluindo ramais prediais e linhas de recalque. IBGE (2010, p. 207). 7 O IBGE (2010) conceitua de economia residencial esgotada como equivalente ao domicílio com

acesso à rede geral de esgoto.

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Figura 3 - Percentual de domicílios com acesso à rede de esgotamento sanitário e taxa de crescimento do número de economias residenciais, segundo as Grandes Regiões - 2000/2008. Fonte: Fonte: IBGE (2010)

O PNSB 2008 revelou os extremos das condições de esgotamento sanitário

nas Unidades Federativas Brasileiras (Figura 4), com apenas três estados

apresentando mais de 50% dos seus domicílios com rede coletora de esgoto, como

afirma o IBGE (2010, p; 40) em sua PNSB 2008:

[...] os únicos estados com mais da metade dos domicílios atendidos por rede geral coletora de esgoto foram: Distrito Federal (86,3%); São Paulo (82,1%); e Minas Gerais (68,9%). O Rio de Janeiro (49,2%) e o Paraná (46,3%)%), com quase metade dos domicílios atendidos, se situaram acima da média nacional (44,0%), enquanto os demais apresentaram menos de 35% de cobertura, ficando as menores proporções com os Estados do Amapá (3,5%), Pará (1,7%) e Rondônia (1,6%).

O IBGE (2010, p. 42) lembra que desde 2000, o setor de saneamento básico

passou mudanças importantes:

No campo legislativo, destacam-se a criação da Lei no 10.257, de 10 de julho de 2001, denominada Estatuto da Cidade – com vigência a partir de outubro do mesmo ano – e da Lei no 11.445, de 5 de janeiro de 2007, conhecida como Lei de Saneamento Básico. Essa última lei só foi regulamentada três anos depois pelo Decreto no 7.217, de 21 de junho de 2010, e, portanto, pouca influência teve sobre o desempenho do setor até 2008. Outras mudanças importantes foram: a) o compromisso assumido pelo Brasil em relação às Metas do Milênio, propostas pela Organização das Nações Unidas, em setembro de 2000, o que implica em diminuir pela metade, de 1990 a 2015, a proporção da população sem acesso permanente e sustentável à água potável e ao esgotamento sanitário; b) a criação do Ministério das Cidades, em maio de 2003; e c) o lançamento do Programa de Aceleração de Crescimento - PAC, em janeiro de 2007, com previsão de grandes investimentos em infraestrutura urbana.

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Figura 4 - Percentual de domicílios atendidos por rede geral de esgoto, em ordem decrescente, segundo as Unidades da Federação – 2008.

Fonte: IBGE (2010)

O tratamento do esgoto é tão importante quanto a coleta, com fins de evitar

a contaminação dos recursos hídricos e proliferação de doenças. Conforme o IBGE

(2010, p. 45) em sua PNSB 2008 verificou que apenas 28,5% dos municípios

brasileiros realizaram tratamento do seu esgoto:

A Figura 5 mostra a realidade dos municípios por Unidades da Federação

com tratamento de esgoto verificado até 2008:

Figura 5 - Percentual de municípios com tratamento de esgoto, em ordem decrescente, segundo as Unidades da Federação – 2008. Fonte: IBGE (2010)

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38

Nota-se mais uma vez a discrepância entre os estados, sendo que apenas

três destes (excetuando o Distrito Federal) possuem mais de 50% de seus

municípios com tratamento de esgoto, enquanto que estados do Nordeste e Norte

apresentam percentual muito reduzido, sendo o Maranhão o estado com menor

percentual (1,4%) de todas as Unidades Federativas. O Estado do Paraná obteve o

melhor percentual da Região Sul (41,1%), mesmo assim não possui mais que 50%

dos seus municípios com tratamento de esgoto. A média Nacional contabilizou um

percentual baixo, de 28,5%.

De acordo com o IBGE (2010), de 2000 a 2008, houve aumento de 2 875

para 3069 no número de municípios com acesso a esgotamento sanitário,

representando um acréscimo de 6,8% (194 municípios) no período. A proporção de

domicílios com acesso à rede coletora de esgoto cresceu de 33,5%, em 2000, para

44,0%, em 2008.

Conforme o IBGE (2010, p. 47), neste período também houve avanços na

qualidade dos serviços:

[...] o contingente de municípios com ampliações ou melhorias no serviço de coleta de esgotamento sanitário, que passou de 58,0%, em 2000, para 79,9%, em 2008; o de municípios com tratamento de esgoto, que passou de 20,2%, em 2000, para 28,5%, em 2008; bem como o esgoto coletado que recebe tratamento, cujo volume passou de 35,3%, em 2000, para 68,8%, em 2008.

A Figura 6 demonstra esta evolução:

Figura 6 - Evolução percentual das principais variáveis do esgotamento sanitário - Brasil - 2000/2008. Fonte: IBGE (2010)

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O IBGE (2010) conclui que no período de 2000 a 2008, a expansão do

serviço de esgotamento sanitário deu-se principalmente pela ampliação da rede

coletora nos municípios que já dispunham do serviço, do que pela incorporação de

novos municípios, e que este fato veio acompanhado pela melhora da qualidade da

rede, resultando no aumento do volume de esgoto tratado.

Page 40: O SANEAMENTO BÁSICO E A CONTEXTUALIZACAO DA BACIA DE EVAPOTRANSPIRAÇÃO PARA O SANEAMENTO ECOLÓGICO

40

3. ESGOTO SANITÁRIO DOMÉSTICO

Segundo Von Sperling (1996), o esgoto sanitário é formado por esgoto

doméstico, águas de infiltração e despejos industriais. O presente trabalho é

relacionado ao tratamento de águas residuárias domésticas, dando, portanto, ênfase

ao tratamento do esgoto doméstico.

A NBR 9648 (ABNT, 1986) define esgoto doméstico como ―o despejo líquido

resultante do uso da água para higiene e necessidades fisiológicas humanas‖.

Quanto à composição geral do esgoto doméstico, Braga (2011, p.30) cita que estes

[...] ―são formados basicamente por restos de alimentos, urina, fezes, água de

banho, sabão, papel, detergente e lavagem em geral‖.

Para Nuvolari (2003), o efluente doméstico é gerado a partir da água de

abastecimento, tendo a sua medida relação com a água consumida pela população.

O autor comenta que esta medida é expressa pela ―taxa de consumo per capita”,

sendo que sua taxa média é de 200 litros por habitante por dia (200 l/hab.dia), mas

que varia conforme hábitos e costumes de cada localidade. Em grandes cidades, por

exemplo, esta taxa pode ser até quatro vezes maior, dando ao esgoto destas

cidades característica mais diluída, se comparada ao esgoto de cidades menores.

Lembra Leme (2010, p. 29) que ―[...] a vazão de esgoto doméstico não é uniforme ao

longo do dia, apresentando uma variação horária com dois picos, que ocorre entre

10 e 12 horas e outra observada entre 18 e 20 horas‖.

3.1. CONSTITUIÇÃO DO ESGOTO DOMÉSTICO

De acordo com Leme (2010, p. 30), ‖[...] o esgoto doméstico é formado por

constituintes físicos, químicos e biológicos‖, sendo que a quantidade desses

elementos nos esgotos é fundamental para identificar sua origem.

O Quadro 2 demonstra a composição típica dos esgotos sanitários:

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Constituintes

Concentrações

(em mg/L, onde não indicados)

Forte Médio Fraco

1. Sólidos totais 1200 720 350

1.1. Dissolvidos totais 850 500 250

1.1.1. Fixos 525 300 145

1.1.2. Voláteis 325 200 105

1.2. Suspensos totais 350 220 100

1.2.1. Fixos 75 55 20

1.2.2. Voláteis 275 165 80

2. Sólidos sedimentáveis (ml/l) 20 10 5

3. DBO5, 20⁰ C 400 220 110

4. Carbono total (TOC) 260 160 80

5. DQO 1000 500 250

6. Nitrogênio Total (como N) 85 40 20

6.1. Orgânico 35 15 8

6.2. Amônia livre 50 25 12

6.3. Nitritos 0 0 0

6.4. Nitratos 0 0 0

7. Fósforo total 15 8 7

7.1. Orgânico 5 3 1

7.2. Inorgânicos 10 5 3

8. Cloretos 100 50 30

9. Alcalinidade (CaCO3) 150 100 50

10. Graxa 150 100 50

QUADRO 2 - Composição típica de esgotos sanitários Fonte: Adaptado de Mello (2007).

3.1.1. Características Físicas

De acordo com Leme (2010, p. 31) as principais características físicas das

águas residuárias são: [...] ―temperatura, turbidez, teor de sólidos (totais, em

suspensão, dissolvidos, sedimentáveis, fixos e voláteis), odor, cor, vazão, material

retido, removido ou produzido‖.

A temperatura do esgoto, segundo Botelho et al. (2001) é superior à das

águas de abastecimento, devido às diversas reações físico-químicas contidas no

mesmo e de acordo com Funasa (2004) a velocidade em que um esgoto se

decompõe é proporcional ao aumento da temperatura do mesmo. Complementa

Silva (2004), que a faixa ideal para atividade biológica é entre 25 e 35ºC. Sendo ≤

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15ºC uma temperatura a qual bactérias formadoras do metano se tornam inativas na

digestão anaeróbia.

A turbidez, de acordo com Imhoff (1996, p. 26) ―é o contrario de

transparência‖, enquanto complementa Funasa (2004) que a cor e a turbidez

indicam imediato estado de decomposição do esgoto, sendo que a tonalidade

acinzentada acompanhada de alguma turbidez é típica de um esgoto fresco,

enquanto que uma tonalidade mais escura denota que o esgoto é mais envelhecido.

Por final, Botelho et al. (2001), relaciona que a turbidez se deve, em sua maior parte,

aos sólidos contidos na solução, sendo que quanto mais concentrado for o esgoto,

mais turvo ele se apresentará.

Com relação ao odor, Funasa (2004) e Botelho et al. (2001) comentam que

os odores característicos do esgoto são causados pelo seu processo de

decomposição, sendo que o cheiro de esgoto fresco é repulsivo, devido à presença

de gases mercaptanos (metano e/ou sulfídrico), possuindo odor de ovo podre e

sendo razoavelmente suportável se comparado ao esgoto velho ou séptico. Este

considerado quase insuportável devido à grande concentração de gás sulfídrico.

Referente à matéria sólida, Metcalf e Eddy (1979, 1991 apud Leme, 2010)

comentam que a sua composição bruta pode variar, dependendo do uso e costume

da população local, hora do dia, da semana, mês e estação do ano, podendo ser

classificada e, fraca, média e forte.

Completam Metcalf e Eddy (1979, 1991 apud Leme, 2010, p. 30) que:

Assim, dependendo da sua concentração, o esgoto doméstico bruto, contém de 99,53% a 99,87% de água e apenas 0,13% a 0,47% de constituintes suspensos e dissolvidos em sua massa líquida (sólidos totais, DBO, DQO, COT, compostos químicos e outros). Essa fração tão pequena de constituintes presentes no esgoto doméstico é responsável pela poluição e contaminação dos recursos de agua, resultando na necessidade do tratamento.

Conforme Mello (2007, p. 9),

Um dos parâmetros de grande utilização em sistemas de esgotos é a quantidade total de sólidos. Seu módulo é o somatório de todos os sólidos dissolvidos e dos não dissolvidos em um líquido. A sua determinação é normatizada, e consiste na determinação da matéria que permanece como resíduo após sofrer uma evaporação a 103ºC.

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43

Por final, explica Funasa (2004) que a vazão doméstica de esgoto é

calculada em função do consumo médio diária por indivíduo, estimando que a cada

100 litros de água consumidos pelo indivíduo, 80 litros de esgoto são lançados na

rede coletora.

3.1.2. Características Químicas

De acordo com Leme (2010) as características químicas das águas

residuárias são constituídas por componentes orgânicos e inorgânicos, sendo que

os compostos orgânicos são representados pela combinação de hidrogênio,

carbono, nitrogênio e oxigênio.

As excretas humanas, de acordo com a Funasa (2004), são compostas

basicamente de restos alimentares ou dos próprios alimentos não digeridos,

integrando também as albuminas, hidratos de carbono, gordura, proteínas, sais e

microrganismos, e a urina é composta por algumas substâncias resultantes de

processos metabólicos de compostos nitrogenados, como a ureia. As fezes e

principalmente a urina possuem grande porcentual de água e também matéria

orgânica e inorgânica, sendo que as fezes possuem cerca de 20% de matéria

orgânica e a urina em torno de 2,5%.

Lembra Mello (2007) que por volta de 70% dos sólidos no esgoto médio são

de origem orgânica. Esta porcentagem é constituída em sua maioria por proteínas,

gordura, carboidratos e óleos, e em menor parte, por ureia, surfactantes, fenóis,

pesticidas. Para Funasa (2004) a divisão percentual dessas substâncias nos esgotos

é de 40% a 60% por proteínas, 25% a 50% de carboidratos e 10% por óleos,

gorduras,ureias, sulfatos, fenóis, etc.

Detalham Mello (2007), Silva (2004) e Funasa (2004):

Proteínas: são produtoras de nitrogênio e contém carbono, hidrogênio

e oxigênio e em menores quantidades, fósforos, enxofre e ferro. São

geralmente de origem animal, mas ocorrem também em vegetais. O

gás sulfídrico, característico pelo mau cheiro do esgoto, é proveniente

do enxofre fornecido pelas proteínas;

Carboidratos: Contêm carbono, hidrogênio e oxigênio, e são as

primeiras substâncias a visadas e destruídas pelas bactérias.

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Presentes principalmente nos açúcares, celulose, amido, etc. A

degradação microbiana dos carboidratos é responsável pela produção

de ácidos orgânicos, que contribuem no aumento na acidez do

esgoto.

Gorduras e óleos: Originados normalmente da atividade doméstica

nas cozinhas, de óleos vegetais, animais (carnes), manteigas, óleos de

uso mecânico (lubrificantes, querosenes, etc.) também podem ser

encontrados nos esgotos domésticos. Estes tipos de componentes são

indesejáveis aos sistemas de tratamento, já que produzem escuma e

provocam entupimento dos filtros e afetam a atividade biológica.

Surfactantes: constituídos por moléculas orgânicas, contém a

propriedade de produzir espuma no corpo receptor ou estação de

tratamento de esgoto.

Fenóis: Outro tipo de composto orgânico originado por despejos

industriais.

A matéria inorgânica é caracterizada basicamente por areia e substâncias

minerais dissolvidas. Este tipo de componente do esgoto não causa grande

preocupação, com exceção nos casos de grande quantidade, que pode levar ao

entupimento e desgastes em equipamentos de tratamento.

3.1.3. Características Biológicas

Segundo Funasa (2004), os principais componentes biológicos do esgoto

doméstico são: microrganismos de águas residuárias e indicadores de poluição. Os

principais organismos componentes do esgoto doméstico são as bactérias, os

fungos, os protozoários, as algas e os vírus.

As bactérias são os organismos mais importantes para o tratamento do

esgoto, pois promovem a decomposição e estabilização da matéria orgânica. Esta

característica, segundo Von Sperling (1996) se dá pela natureza heterotrófica das

bactérias, responsável pela retirada de DBO do meio em que estão inseridas.

O grupo das bactérias, de acordo com Silva (2004) é subdividido em outros

dois:

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a) Organismos quimioautótrofos: Ligados à nitrificação utilizam-se da matéria

inorgânica como fonte de energia e o CO2 como fonte de carbono.

b) Organismos quimioheterótrofos: Utilizam-se de matéria orgânica como

fonte de energia e fonte de carbono. Respondem pela maior parte das reações

ocorridas no tratamento biológico.

Nos despejos domésticos, segundo Silva (2004), podem ser encontradas

bactérias aeróbias, anaeróbias e facultativas, caracterizadas a seguir:

a) Bactérias aeróbias: Consomem o oxigênio contido no ar, oriundo

diretamente da atmosfera ou do ar dissolvido na água para seu metabolismo. A ação

deste tipo de bactéria é denominada de oxidação ou decomposição aeróbia.

b) Bactérias anaeróbias: Este tipo de bactéria retira o oxigênio através de

ações sobre os compostos orgânicos ou inorgânicos que contêm oxigênio para seu

metabolismo, e não da atmosfera. Este processo bacteriano é denominado de

putrefação ou decomposição anaeróbia.

c) Bactérias facultativas: Flexíveis, possuem a capacidade de retirar o

oxigênio contido no ar ou através de ações sobre outros compostos, dependendo da

ocasião ou necessidade.

3.2. TRATAMENTOS USUAIS DE ESGOTO SANITÁRIO

3.2.1. Estação de Tratamento de Esgoto – ETE

Como visto anteriormente, o lançamento in natura do esgoto sanitário, isto é,

sem qualquer tratamento, leva à diminuição na qualidade da água, podendo causar

risco à saúde humana e da vida aquática. Porém, lembra Nuvolari (2003) que em

casos específicos, como o despejo de esgoto de Manaus no Rio Negro, um rio cuja

vazão, se comparada às vazões máximas de esgoto, são infinitamente menores que

a vazão mínima do rio, tornado desnecessário e dispendioso o seu tratamento, já

que o volume e vazão do Rio Negro são capazes de se autodepurar sem prejudicar

a qualidade da água do rio. O autor, no entanto, alerta que qualquer tipo de

lançamento de esgoto em corpos hídricos deve ser feita de forma criteriosa

De acordo com Imhoff (1996), existem vários métodos para o tratamento de

esgoto, sendo estes individuais ou combinados, que devem ser empregados levando

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em consideração as condições do curso d´água receptor (estudo de autodepuração

e os limites definidos pela legislação ambiental) e da característica do esgoto bruto

gerado, assim como a eficiência de cada processo unitário, localização e custo.

Do ponto de vista técnico, existem inúmeras opções para o tratamento de

esgotos, cada um com vantagens e desvantagens, seja do ponto de vista de área

necessária, eficiência no tratamento, utilização ou não de equipamentos

eletromecânicos com consumo de energia, sofisticação ou não de implantação e

operação, necessidade de mão de obra, dentre outros, que determinam qual o

sistema mais adequado para uma pequena cidade ou para uma megalópole

(NUVOLARI, 2003).

De acordo com Copasa (2011), os processos de tratamento dos esgotos são

compostos por uma série de sistemas unitários empregados para a remoção de

substâncias indesejáveis e também para transformação destas substâncias em

outras de forma aceitável, passiveis de atingir nível de qualidade para o seu retorno

ao meio ambiente conforme os padrões e parâmetros estabelecidos pela legislação.

Concordam Mello (2007), Von Sperling (1996) e Copasa (2011), que o

tratamento de esgoto é usualmente classificado através dos seguintes níveis:

tratamento preliminar, tratamento primário, tratamento secundário e tratamento

terciário, conforme demonstra a Figura 7.

Figura 7 - Processos de tratamento de uma ETE Fonte: Sabesp (2011).

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3.2.2. Tratamento Preliminar

O tratamento preliminar, segundo Von Sperling (1996), se dá por processos

de separação de sólidos mais grosseiros por meio de gradagem (Figura 8), que

pode ser composta por grades grosseiras, finas e/ou peneiras rotativas, como

também por desarenamento em caixas de areia e por desengorduramento, nas

chamadas caixas de gordura ou em pré-decantadores. De acordo com Mello (2007),

nesta fase, o esgoto será preparado para as fases de tratamento seguintes,

podendo ser sujeito a um pré-arejamento e a uma equalização tanto de caudais

como de cargas poluentes.

Figura 8 - O uso do gradeamento em um sistema preliminar de tratamento Fonte: Souza (2009)

3.2.3. Tratamento Primário

No tratamento primário, segundo Silva (2004) ainda mantém suas

características poluidoras, tornando necessário um novo processo tratamento. Nesta

fase a água é separada dos materiais poluentes por meio da sedimentação por

aparelhos mecânicos através da ação física (Figura 9), podendo, em alguns casos,

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ser acelerada com a adição de agentes químicos, como coagulantes e floculantes,

possibilitando a obtenção de flocos e agregados de matéria poluente com maiores

dimensões e que são decantados de maneira mais eficiente. Após esta etapa de

tratamento, os poluentes que permanecem na água são de dimensões mais

reduzidas - normalmente coloides, devido à digestão do lodo, dificultando a sua

remoção por processos exclusivamente físico-químicos.

Figura 9 - Decantador primário Fonte: Mello (2007)

3.2.4. Tratamento Secundário

De acordo com Mello (2007), tratamento secundário é caracterizado por

processos biológicos, do tipo lodo ativado ou do tipo filtro biológico, o qual a matéria

orgânica coloidal é consumida por microrganismos nos em estruturas chamadas

reatores biológicos, que são normalmente constituídos por tanques com grande

quantidade de microrganismos aeróbios, necessitando de promover o seu

arejamento. O esgoto resultante do tratamento no reator biológico contém uma

grande quantidade de microrganismos e pouca matéria orgânica. Posteriormente, os

microrganismos são sedimentados nos decantadores secundários (Figura 10). No

final desta fase de tratamento, as águas residuárias apresentam níveis menores de

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matéria orgânica, podendo na maioria dos casos, serem devolvidas ao corpo de

água ou ambiente receptor.

Figura 10 - Decantador secundário Fonte: Mello (2007)

3.2.5. Tratamento Terciário

Segundo Mello (2007), depois do tratamento secundário, o lançamento final

do esgoto no corpo receptor, necessita ás vezes, passar por processos de

desinfecção para a remoção dos organismos patogênicos ou, em casos especiais, à

remoção de determinados nutrientes, como o nitrogênio e o fósforo, que podem

potenciar, isoladamente ou em conjunto, a eutrofização das águas receptoras.

De acordo com Tosetto (2005), são usados processos de desinfecção como

coagulação, floculação, decantação, filtração, adsorção por carvão, calagem e

osmose reversa.

Complementa Tosetto (2005), que os tratamentos preliminares, primários e

secundários, devido aos seus custos, são geralmente considerados como controle

de poluição das águas, e os tratamentos adicionais requeridos para o reuso de água

são normalmente designados como tratamento terciário ou avançado.

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3.3. TRATAMENTOS INDIVIDUAIS DE ESGOTO

3.3.1. Sistemas de Tanques Sépticos com Sumidouro

A ausência total ou parcial dos serviços públicos de esgotos sanitários em

áreas urbanas, suburbanas e rurais, segundo Botelho et al. (2001) leva ao uso de

alternativas individuais para a disposição dos esgotos, como o sistema de fossas/

tanques sépticos.

De acordo com a CAESB (2011), as fossas sépticas são unidades de

tratamento primário de esgoto doméstico nas quais são feitas a separação e

transformação da matéria sólida contida no esgoto. Segundo Botelho et al. (2001),

trata-se de um dispositivo de tratamento anaeróbio, de nível primário, capaz de

remover sólidos e matéria orgânica dos efluentes domésticos, que tem como

propósitos impedir a poluição hídrica, evitar as condições adversas para a

manutenção da vida aquática, não alterar condições de balneabilidade dos corpos

de água, como rios, praias e lagos, evitar a poluição utilizada para a dessedentação

de animais e irrigação de lavouras e servirem como tratamento primário para

efluentes para posterior lançamento ao solo. O sumidouro tem a função de permitir a

infiltração da parte líquida dos esgotos no solo, por meio de suas paredes vazadas e

fundo permeável.

Este sistema se caracteriza por um tanque enterrado, que recebe os esgotos

(dejetos e águas servidas), retém a parte sólida e inicia o processo (Figura 11).

Figura 11 - Sistema de fossa séptica Fonte: Caesb – Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (2011)

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3.3.2. Filtro Anaeróbio

Segundo definição da ABNT NBR 13969,

O filtro anaeróbio consiste em um reator biológico onde o esgoto é depurado por meio de microrganismos não aeróbios, dispersos tanto no espaço vazio do reator quanto nas superfícies do meio filtrante. Este utilizado mais como retenção dos sólidos. Todo processo anaeróbio, é bastante afetado pela variação de temperatura do esgoto; sua aplicação deve ser feita de modo criterioso. O processo é eficiente na redução de cargas orgânicas elevadas, desde que as outras condições sejam satisfatórias. Os efluentes do filtro anaeróbio podem exalar odores e ter cor escura.

De acordo com Botelho et al. (2001), os filtros anaeróbios são bastante

empregados nos sistemas de esgoto domésticos, de forma direta ou em conjunto

com as fossas sépticas, auxiliando no polimento das mesmas. Estes filtros também

são utilizados para tratamento de indústrias alimentícias dentre outras.

3.3.3. Reatores Anaeróbios de Fluxo Ascendente – RAFA

De acordo com a Copasa (2011), este tipo de reator consiste na

estabilização da matéria orgânica, anaerobiamente, por microrganismos que

crescem dispersos no meio líquido. A parte superior do reator RAFA (Figura 12) é

dotado de um separador trifásico de forma cônica ou piramidal que permite a saída

do efluente clarificado, a coleta do biogás gerado no processo e a retenção dos

sólidos dentro do sistema. Esses sólidos retidos são constituintes da biomassa, que

permanece no reator por tempo suficientemente para a degradação da matéria

orgânica. O lodo retirado periodicamente do sistema já se encontra estabilizado,

necessitando apenas de secagem e disposição final.

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Figura 12 - Desenho esquemático de um reator RAFA Fonte: http://o2engenharia.com.br/

3.3.4. Lagoas de Estabilização

Para Von Sperling (1996), o sistema de tratamento por lagoas de

estabilização (Figura 14) são simples, sendo baseado principalmente em movimento

de terra de escavação e preparação de taludes. De acordo com Mello (2007, p. 27)

―além do objetivo principal de remoção da matéria rica em carbono, as lagoas

realizam também o controle de organismos patogênicos em alguns casos‖.

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Figura 13 - Tratamento por lagoas Fonte: Sabesp (2011)

A Funasa (2007) divide o sistema de lagoas de estabilização em:

Lagoas anaeróbias: cuja finalidade é oxidar compostos orgânicos

complexos antes do tratamento com lagoas facultativas ou aeradas. As lagoas

anaeróbias não dependem da ação fotossintética das algas, podendo assim, serem

construídas em profundidades maiores do que as outras, variando de 2.0m a 5,0m e

normalmente são projetadas associadas à lagoas facultativas ou aeradas.

Lagoas facultativas: O seu funcionamento se dá por intermédio da

ação de algas e bactérias sob a influência da luz solar (fotossíntese). A matéria

orgânica contida nos despejos é estabilizada, parte transformando-se em matéria

mais estável na forma de células de algas e parte em produtos inorgânicos finais

que saem com efluente. Este sistema de lagos é assim denominado devido às

condições aeróbias mantidas na superfície, liberando oxigênio e às anaeróbias

mantidas na parte inferior onde à matéria orgânica é sedimentada. A profundidade

das lagoas facultativas varia de 1,0m a 2,5m e áreas relativamente grandes.

Lagoas de maturação: É utilizada para a redução de coliformes

fecais, provenientes e contidos dos despejos de esgotos, sendo essenciais e sempre

construídas após do tratamento completo de uma lagoa facultativa ou outro tipo de

tratamento convencional.

Lagoas aeróbias ou de alta taxa: Sua principal aplicação é cultura

colheita de algas, sendo projetadas para o tratamento de águas residuárias

decantadas. Constituem um poderoso método para produção de proteínas, sendo de

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100 a 1.000 vezes mais produtivas que a agricultura convencional. Seu uso para o

tratamento de esgotos é indicada quando houver a viabilidade do reaproveitamento

da produção das algas. A sua operação exige pessoal capaz e o seu uso é restrito.

3.3.5. Lodos Ativados

De acordo com a Copasa (2011), o sistema de lodos ativados consiste em

um reator onde a grande concentração de biomassa fica em suspensão no meio

líquido. Quanto maior a quantidade de bactérias em suspensão, maior será a

assimilação da matéria orgânica presente no esgoto bruto.

A Funasa (2007, p. 224) explica que:

Os lodos ativados consistem de agregados floculentos de microorganismos, materiais orgânicos e inorgânicos. Os microorganismos considerados incluem bactérias, fungos, protozoários e metazoários como rotíferos, larvas de insetos e certos vermes. Todos eles se relacionam por uma cadeia de alimentação: bactérias e fungos decompõem o material orgânico complexo e por essa atividade se multiplicam servindo de alimento aos protozoários, os quais, por sua vez, são consumidos pelos metazoários que também podem se alimentar diretamente de bactérias, fungos e mesmo de fragmentos maiores dos flocos de lodos ativados.

A biomassa (bactérias) que cresce no tanque de aeração, devido à sua

propriedade de flocular, é removida por sedimentação em um decantador

secundário, clarificando o efluente.

O lodo sedimentado é sempre recirculado para a unidade de aeração, pois

se deve sempre manter uma elevada concentração de biomassa no reator, sendo

este processo o princípio básico do sistema de lodos ativados, possuindo assim,

muitas vezes, o decantador primário, o tanque de aeração, o decantador secundário

e a elevatória de recirculação.

Segundo a Funasa (2007), o processo dos lodos ativados é o mais versátil

dos processos biológicos de tratamento. Este sistema pode produzir um efluente

com concentração de matéria orgânica, variando de muito alta a muito baixa.

Historicamente, foi desenvolvido a partir de 1913 na Inglaterra e permaneceu sem

sofrer grandes alterações por quase trinta anos. O começo das mudanças, foram

provocadas pelos operadores das estações, ao tentarem solucionar problemas

especiais, do que propriamente por engenheiros envolvidos em projetos ou

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pesquisas. Com o avanço da tecnologia, entretanto, começaram os grupos de

pesquisa a trazer sua contribuição em termos de modificações básicas no processo.

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4. A POLUIÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS: PAPEL DO DESPEJO DO

ESGOTO PARA O PROBLEMA

4.1. A IMPORTÂNCIA DA ÁGUA

A água é uma substância química composta de hidrogênio e oxigênio (H2O)

essencial para todas as formas conhecidas de vida.

De acordo com Leme (2010), a água é um recurso renovável, mas mesmo

assim finito, sendo de fundamental importância para a sobrevivência da biosfera e

por esta razão, utilizada em grande intensidade pelo homem, para o abastecimento

público, uso industrial, irrigação, dessedentação de animais, conservação da fauna e

da flora, recreação, estética, pesca, geração de energia, transporte e diluição e

depuração de despejos.

A água passa por alterações do seu estado físico em seu ciclo hidrológico,

definido por Tucci (2002, p. 35) como ―[...] o fenômeno global de circulação fechada

da água entre a superfície terrestre e a atmosfera, impulsionado fundamentalmente

pela energia solar associada à gravidade e à rotação terrestre.‖.

Conforme Tucci (2002), o ciclo hidrológico (Figura 14) começa com a

condensação do vapor de água presente na atmosfera, formando microgotículas de

água que mantem-se suspensas na atmosfera devido à turbulência. Com o

agrupamento destas microgoticulas, forma-se um aerossol (podendo este ser uma

nuvem ou um nevoeiro, quando formado próximo ao solo) que, com a ação das

massas de ar, leva à precipitação deste aerossol. A precipitação ocorre devido à

aglutinação e o crescimento das microgoticulas, levando-as a ter peso e tamanho

suficientes para que, com a força da gravidade, romper a turbulência normal ou os

movimentos atmosféricos ascendentes, cai em forma de chuva ou no caso do vapor

de água transformar-se diretamente em cristais de gelo, precipitar à superfície em

forma de neve ou granizo.

Quando a água precipita e atinge um solo com cobertura vegetal, parte desta

é interceptada pela massa foliar, evaporando e outra parte reprecipita para o solo.

Quando atinge o solo, lembra Tucci (2002), a água pode seguir por diversos

caminhos. Devido à natureza porosa do solo, pode ocorrer a infiltração de toda a

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água precipitada, até o ponto de sua saturação, levando à ocorrência do

escoamento superficial.

A umidade do solo, ocorrida e realimentada pelo fenômeno da infiltração, é

aproveitada em parte pelos vegetais, que a absorvem pelas raízes e incorporam a

seus tecidos, mas devolvendo em quase sua totalidade à atmosfera pela

transpiração em forma de vapor de água. A parte da água não aproveitada pelos

vegetais, normalmente percola ao lençol freático, contribuindo ao volume e

escoamento dos rios. Quando não existe cobertura vegetal sobre o solo, a energia

cinética do impacto da gota da chuva pode levar à erosão e surgimento de sulcos ou

valas. Em muitos casos, o escoamento superficial e estes fenômenos erosivos

aliados à topografia preexistente, pode moldar uma microrede de drenagem efêmera

que pode convergir em uma rede de escoamento estável, formando arroios e rios

(TUCCI, 2002).

Figura 14 - Componentes do ciclo hidrológico Fonte: Tucci (2002)

Conclui Tucci (2002, p. 37) que: ―Em qualquer tempo e local por onde

circula, a água na superfície terrestre, seja nos continentes ou nos oceanos, há

evaporação para a atmosfera, fenômeno que fecha o ciclo hidrológico ora descrito.‖.

Quanto à distribuição da água no planeta, ela se dá de várias formas, sendo

concentrada em sua maior quantidade como água salgada nos mares. A água doce

é encontrada de maneira ínfima se comparada à quantidade de água salgada, e sua

disposição está em rios, lagos, geleiras, calotas polares, no subterrâneo e na

biomassa.

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De maneira mais detalhada, Silvestre (2003, p. 38) comenta em quais

formas a água está distribuída no planeta:

A água recobre 70,0% da Terra. Componente bioquímico dos seres vivos, meio de vida ou de reprodução de espécies animais e vegetais, elemento essencial para a produção e consumo humano, a água é base de sustentação da vida. O volume estimado de água no Planeta é de 1,4 bilhões km³. Desse total, cerca de 97,5% correspondem aos oceanos e mares e 2,5%, isto é, mais ou menos 35 milhões km³, à água doce. A água doce encontra-se assim distribuída: 68,9% (24.115.000 km³) sob a forma de gelo e neves eternas; 30,8% no solo e subsolo (10.780.000 km³), sendo 29,9% (10.465.000 km³) em reservatórios subterrâneos e 0,9% (315.000 km³) em situações diversas, como umidade dos solos e pântanos; e 0,3% (105.000 km³) em rios, lagos e lagoas.

A Figura 15 mostra de maneira simplificada a distribuição da água no planeta:

Figura 15 - Distribuição da água no Planeta Terra Fonte: Silvestre (2003).

A distribuição geográfica da água no planeta é desigual, tornando algumas

regiões riquíssimas em recursos hídricos e outras com grande escassez do recurso.

De acordo com Silvestre (2003), dados indicam que o Brasil, a Rússia, o Canadá,

os Estados Unidos, a China, a Índia, a Colômbia e os quinze estados da União

Europeia concentram cerca de dois terços de toda a água doce existente; outras,

apontam que 65,0% desses recursos estariam concentrados em apenas 10 países,

sendo os países africanos e do Oriente Médio os mais prejudicados pela escassez

de água.

Para Moraes e Jordão (2002), a ação antrópica vem contribuindo para a

piora na qualidade da água. Desde que deixou de ser nômade e passou a se instalar

em cidades, trazendo consigo o aumento da densidade demográfica e

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desenvolvimento de sua tecnologia, o ser humano trouxe também impactos, como

produção de efluentes domésticos, erosão seguida de alteração da paisagem pela

agricultura, pela urbanização e pelo reflorestamento, alteração de canais de rios e

margens de lagos por meio de diques, canalização, drenagem e inundações de

áreas alagaveis e dragagem para navegação, supressão de recursos biológicos e

proliferação de agentes químicos tóxicos específicos ou não.

Moraes e Jordão (2002, p. 372) comenta que:

O déficit de água, produto da modificação ambiental cujo processo encontra-se acelerado, atinge a higidez humana não somente pela sede, principal consequência da escassez de água, mas também por doenças e queda de produção de alimentos, o que gera tensões sociais e políticas que, por sua vez, podem acarretar guerras.

Diante deste panorama, a poluição dos recursos hídricos agrava o problema,

levando localidades a perder o restante do volume de água para o abastecimento da

população.

4.2. A CONTRIBUIÇÃO DO LANÇAMENTO DE ESGOTOS PARA A POLUIÇÃO

DOS RECURSOS HÍDRICOS

O termo poluição é definido de várias formas por vários autores. Para

Derisio (2000, p.3), a poluição ambiental pode ser considerada como:

[...] a degradação do ambiente, resultante de atividades que direta ou indiretamente, prejudiquem a saúde, segurança e o bem estar das populações; criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; afetem desfavoravelmente a biota; afetem as condições sanitárias do meio ambiente; e lancem matéria ou energia em desacordo com os padrões de qualidade ambiental estabelecidos.

Complementa Derisio (2000), que a poluição ambiental ocorre devido ao

lançamento ou liberação, seja nas águas, na atmosfera ou no solo de algum tipo de

matéria ou energia, com intensidade, quantidade, concentração ou características

em desacordo com os padrões de qualidade ambiental estabelecidos na legislação,

prejudicando com isso os usos primordiais das águas, do ar ou do solo. A poluição

pode ser distinguida de diversas formas, como a poluição física, química, físico-

química, bioquímica, biológica ou radioativa.

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Porém, lembra Fellenberg (1980), que ao lado do comprometimento poluidor

antropogênico ao meio ambiente, existe também a poluição ambiental natural, que

muitas vezes não é levada em consideração e é caracterizada como por formações

de nuvem de pó nas regiões desérticas, espalhamento do pólen e desprendimento

de substâncias tóxicas por certas plantas, eutrofização natural, etc.

No Brasil, a Política Nacional do Meio Ambiente, Lei 6.938, de 31 de Agosto

de 1981 em seu Art. 3º IV define poluidor como a pessoa física ou jurídica, de direito

público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de

degradação ambiental. E em ser Art. 3º II, degradação da qualidade ambiental a

alteração adversa das características do meio ambiente. No tocante à poluição dos

recursos hídricos, de mesmo modo, existem várias definições por diversos autores.

Para Von Sperling (2005) poluição das águas se deve à adição de

substâncias ou de formas de energia que direta ou indiretamente, alteram a natureza

de um corpo d´água de uma maneira tal que prejudique os legítimos usos dele são

feitos.

Completa Leme (2010, p. 25), que: ―Um curso de água é considerado

poluído ou contaminado quando a composição, o estado ou a qualidade de suas

águas são direta ou indiretamente modificados pela ação antrópica.‖.

Quanto ao conceito legal de poluição hídrica no Brasil, podemos citar o

Decreto Federal 50.877, de 29 de junho de 1961, em seu artigo 3⁰ que define

poluição hídrica como:

[...] qualquer alteração das propriedades físicas, químicas ou biológicas das águas, que possa importar em prejuízo à saúde, à segurança e ao bem estar das populações e ainda, comprometer a utilização para fins agrícolas, industriais, comerciais, recreativos e, principalmente, à existência da vida aquática‖.

Cita Leme (2010) o fato de que o crescimento populacional e a característica

intrínseca do ser humano de aglomerar-se de forma organizada em cidades, as

quais se localizam geralmente próximas a locais onde existe disponibilidade maior

de água, leva aumento dos problemas de poluição dos recursos hídricos. O aumento

das atividades agrícolas em função do crescimento na demanda por alimentos para

a população, desenvolvimento industrial e agroindustrial são as principais causas de

lançamento de resíduos brutos - líquidos ou sólidos – no solo, nos rios, nos lagos e

nos mares, contribuindo com a destruição da biota, desequilibrando ecossistemas e

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rompendo a harmonia entre o homem e o meio ambiente, levando à diminuição da

qualidade de vida. A Figura 16 demonstra a dinâmica dos processos que levam à

poluição dos recursos hídricos:

Figura 16 - Principais processos de contaminação e poluição das águas Fonte: Martins (2009).

Comenta Nuvolari (2003), que quando o esgoto in natura é lançado nos

corpos de água, na maioria das vezes, podem-se esperar sérios prejuízos à

qualidade dessa água. Os principais problemas vão além do aspecto estético da,

mas também a nível químico, com o declínio do oxigênio dissolvido, prejudicial à

manutenção da vida aquática, a exalação de gases malcheirosos, além dos

problemas de saúde que a poluição desta água pode acarretar à seres humanos e

animais.

Quanto aos tipos de poluentes que afetam os recursos hídricos, estes podem

ser classificados como pontuais ou difusos.

Conforme Pereira (2004, p.1) pode referir-se a fontes de poluição hídrica

pontual ―[...] a aquelas onde os poluentes são lançados em pontos específicos dos

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corpos d’água e de forma individualizada, as emissões ocorrem de forma controlada,

podendo-se identificar um padrão médio de lançamento.‖ São exemplos de fontes

pontuais lançamentos clandestinos de esgoto de residências ou de indústrias.

Este autor afirma que:

A poluição difusa se dá quando os poluentes atingem os corpos d´água de modo aleatório, não havendo possibilidade de estabelecer qualquer padrão de lançamento, seja em termos de quantidade, frequência ou composição. Por esse motivo o seu controle é bastante difícil em comparação com a poluição pontual.

Exemplifica Pereira (2004, p. 1) como poluição difusa: ―[...] os lançamentos

das drenagens urbanas, escoamento de água de chuva sobre campos agrícolas e

acidentes com produtos químicos ou combustíveis‖.

O Quadro 3, apresentado por Nuvolari (2003), apresenta os principais

inconvenientes do lançamento de esgoto sanitário nos corpos d’água.

Matéria orgânica solúvel Provoca a diminuição do oxigênio dissolvido, contido na água dos rios e estuários. Mesmo tratado, o despejo deve estar na proporção da capacidade de assimilação do curso d’água. Algumas dessas substâncias podem ainda causar gosto e odor às fontes de abastecimento de água. Ex: fenóis.

Elementos potencialmente tóxicos

Ex: cianetos, arsênio, cádmio, chumbo, cobre, cromo, mercúrio, molibdênio, níquel, selênio, zinco, etc. apresentam problemas de toxicidade (a partir de determinadas concentrações), tanto às plantas quanto aos animais e ao homem, podendo ser transferidos através da cadeia alimentar.

Cor e turbidez Indesejáveis do ponto de vista estético. Exigem maiores quantidades de produtos químicos para o tratamento dessa água. Interferem na fotossíntese das algas nos lagos (impedindo a entrada de luz em profundidade).

Nutrientes Principalmente o fosforo e o nitrogênio, aumentam a eutrofização dos lagos e dos pântanos. Inaceitáveis nas áreas de lazer e recreação.

Materiais refratários Aos tratamentos: Ex: ABS (alquil-benzeno-sulforado). Formam espumas nos rios; não são removidos nos tratamentos convencionais.

Óleos e graxas Os regulamentos exigem geralmente sua completa eliminação. São indesejáveis esteticamente e interferem com a decomposição biológica (os microrganismos, responsáveis pelo tratamento, geralmente morrem se a concentração de óleos e graxas for superior a 20 mg/L).

Ácidos e álcalis

A neutralização é exigida pela maioria dos regulamentos; depende dos valores de pH do líquido há interferência com a decomposição biológica e com a vida aquática.

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Materiais em suspensão Formam bancos de lama nos rios e nas canalizações e nas canalizações de esgoto. Normalmente provocam decomposição anaeróbia decomposição anaeróbia da matéria orgânica, com liberação de gás sulfídrico (cheiro de ovo podre) e outros gases malcheirosos.

Temperatura elevada Poluição térmica que conduz ao esgotamento do oxigênio dissolvido no corpo de água (por abaixamento do valor de saturação)

Quadro 3 - Inconvenientes do lançamento in natura de esgotos nos corpos d'água. Fonte: Adaptado de Nuvolari (2003).

Para Nuvolari (2003), o crescimento populacional das cidades ajuda a

agravar o problema, afinal, quanto maior a densidade demográfica, maior é a

produção e o volume de esgoto. O tratamento do esgoto é de suma necessidade,

uma vez que o objetivo é manter a qualidade da água nos corpos receptores e

possibilitar que esta água sirva para vários usos, entre eles, o abastecimento

público.

De acordo com Leme (2010, p. 26), os principais efeitos causados pela

poluição hídrica são:

Redução do padrão de qualidade da água usada para abastecimento

da população, na irrigação, na indústria, na criação de peixes e outros

usos;

Destruição da fauna e da flora aquática, resultando na redução do

poder diluidor e autodepurador dos rios;

Redução do potencial hidráulico;

Redução das atividades esportivas e de lazer;

Redução do potencial de assentamentos urbanos e industriais;

Perigo potencial à saúde pública, resultando no aumento das doenças

veiculadas pela água; e

Exigência de tratamento mais sofisticado e de custo mais elevado para

garantir o padrão de potabilidade da água.

4.3. POLUENTES HÍDRICOS MAIS COMUNS

De acordo com Botelho et al. (2001), os poluentes mais comuns dos

recursos hídricos são substâncias de caráter orgânico, inorgânico, tóxicos, sais não

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tóxicos e substâncias antiestéticas. Explica resumidamente Botelho et al. (2001)

cada poluente:

4.3.1. Substâncias Orgânicas

Responsável pela desoxigenação da água do corpo receptor, devido aos

agentes redutores que possuem uma demanda imediata por oxigênio ou mesmo

através da decomposição biológica da matéria orgânica pelos microrganismos

aeróbios presentes naquele meio. Essa diminuição no oxigênio muitas vezes, afeta

de forma irreversível a fauna e a flora aquática.

Quando a quantidade de matéria orgânica introduzida em um meio

ultrapassa a capacidade de autodepuração do corpo de água, a deterioração poderá

chegar ao nível anaeróbio, causando alterações químicas ao líquido, como

escurecimento e produção de gases mal cheirosos (gás sulfídrico - H2S). Os

principais poluentes orgânicos são representados por esgotos humanos, dejetos de

animais e efluentes não tratados de agroindústrias como: curtume, lacticínio,

indústria alimentícia, abatedores, etc.

4.3.2. Substâncias Inorgânicas

Caracterizam-se por sólidos em suspensão inertes, como siltes, argilas,

óleos minerais e resíduos de mineração. Prejudicam os organismos fotossintéticos,

pois aumentam a turbidez e impedem a penetração da luz do sol no meio aquático.

Os particulados decantáveis podem se depositar sobre organismos e suas ovas,

atrapalhando suas atividades biológicas.

4.3.3. Substâncias Tóxicas

São caracterizadas pelos metais pesados., ácidos, álcalis, pesticidas, dentre

outros. Os metais pesados (mercúrio, zinco, cobre, etc.) são prejudiciais, pois

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permanecem ao longo da cadeia alimentar, podendo tornar-se letais para os

organismos.

A variação do pH pode causar variações na toxicidade em meios ricos em

compostos nitrogenados, pois caso o pH caia, a amônia tende a permanecer no

meio aquoso como amônia livre (NH3), tornando-se mais tóxica que em sua forma

iônica (NH4+), prevalecendo em sua condição alcalina, com pH elevado.

4.3.4. Sais Não-Tóxicos

São sais como cloreto de sódio e sulfato de potássio que se acumulam em

corpos de água e não são retidos nos sistemas de tratamento convencionais, tanto

de esgoto como de água, prejudicando o seu reuso para fins domésticos, agrícolas,

comerciais ou industriais. Os fosfatos e compostos nitrogenados são os grandes

responsáveis pelo fenômeno da eutrofização, devido à grande quantidade de

nutrientes os quais colaboram para o crescimento exagerado das algas. Já o

fosfatos e o nitrogênio amoniacal são originados de detergentes sintéticos ou de

escoamento de solos agrícolas com fertilizantes químicos.

4.3.5. Substâncias Antiestéticas

Estas substâncias podem causar mudanças na tonalidade das águas,

surgimento de odores desagradáveis ou no gosto. Podem prejudicar a saúde

humana e o bem estar da vida aquática. Estes tipos de substâncias tem origem no

despejo de compostos industriais complexos, normalmente provenientes de lavação

ou esterilização.

4.4. PARÂMETROS PARA A QUALIFICAÇÃO DAS CARGAS POLUIDORAS

Existem diversos parâmetros que podem determinar o caráter e a carga

poluidora em águas residuárias. Para Leme (2007), os parâmetros mais importantes

podem ser apresentados como a demanda bioquímica de oxigênio (DBO), demanda

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química de oxigênio (DQO), sólidos totais, nitrogênio total (amoniacal, orgânico,

nitrito e nitrato), fósforo, organismos coliformes – número máximo permitido (NMP),

oxigênio dissolvido, alcalinidade, pH, etc. Estes parâmetros são determinados por

meio de análises de amostras e interpretadas por profissionais habilitados.

Os parâmetros citados são resumidos e explicados a seguir:

4.4.1. Oxigênio Dissolvido (OD)

A CETESB (2009, p. 21) define o termo ―Oxigênio Dissolvido‖ - (OD) como:

―o oxigênio proveniente da atmosfera que se dissolve nas águas naturais, devido à

diferença de pressão parcial‖.

É de essencial importância para os microrganismos aeróbios, pois as

bactérias fazem uso do oxigênio nos seus processos respiratórios. Este consumo

pode levar a redução na concentração de oxigênio no meio, podendo resultar na

morte de vários organismos aquáticos. Quando o oxigênio é totalmente consumido,

leva a condições anaeróbias, com geração de maus odores (BOTELHO et al, 2001).

Além da incorporação do oxigênio por meios da cinética hidráulica

(correntezas, quedas d’agua, etc.), cita Cetesb (2009) que outra fonte de oxigenação

da água é por meio da fotossíntese das algas, apesar que esta fonte não é muito

significativa nos trechos de rios à jusante de fortes lançamentos de esgotos.

O autor ainda comenta que turbidez e a cor elevada dificultam a penetração

dos raios solares, permitindo apenas a poucas espécies resistentes condições de

sobreviver. A contribuição fotossintética de oxigênio só é expressiva após ocorrer

grande parte da ação microbiana na degradação da matéria orgânica, assim como

ter-se desenvolvido os protozoários que, além de decompositores, consomem

bactérias, clarificando as águas e permitindo a penetração de luz.

Finaliza CETESB (2009, p. 22) que:

Uma adequada provisão de oxigênio dissolvido é essencial para a manutenção de processos de autodepuração em sistemas aquáticos naturais e em estações de tratamento de esgotos. Através da medição da concentração de oxigênio dissolvido, os efeitos de resíduos oxidáveis sobre águas receptoras e a eficiência do tratamento dos esgotos, durante a oxidação bioquímica, podem ser avaliados. Os níveis de oxigênio dissolvido também indicam a capacidade de um corpo d’água natural em manter a vida aquática.

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A Resolução CONAMA 357/05 estabelece que em qualquer amostra a

quantidade de oxigênio dissolvido não pode ser inferior a 5,0 mg/L (MARTINS,

2009).

4.4.2. Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO)

Para Silva (2004, p. 21), ―[...] a DBO é utilizada para indicar o grau de

poluição de um esgoto, ou seja, um índice de concentração de matéria orgânica por

uma unidade de volume de água residuária‖. Segundo Nuvolari (2003), quanto maior

a quantidade de matéria orgânica biodegradável em um efluente, maior é a sua

DBO.

A CETESB (2009, p. 12), explica a partir da Figura 17 como ocorre a

degradação biológica dos compostos pelos microrganismos:

Neste esquema, apresenta-se o metabolismo dos microrganismos heterotróficos, em que os compostos orgânicos biodegradáveis são transformados em produtos finais estáveis ou mineralizados, tais como água, gás carbônico, sulfatos, fosfatos, amônia, nitratos etc. Nesse processo há consumo de oxigênio da água e liberação da energia contida nas ligações químicas das moléculas decompostas. Os microrganismos desempenham este importante papel no tratamento de esgotos, pois necessitam desta energia liberada, além de outros nutrientes para exercer suas funções celulares, tais como reprodução e locomoção, o que genericamente se denomina quimiossíntese. Quando passa a ocorrer insuficiência de nutrientes no meio, os microrganismos sobreviventes passam a se alimentar do material das células que têm a membrana celular rompida. Este processo se denomina respiração endógena. Finalmente, há, neste circuito, compostos que os microrganismos são incapazes de produzir enzimas que possam romper suas ligações químicas, permanecendo inalterados. Ao conjunto destes compostos dá-se o nome de resíduo não biodegradável ou recalcitrante. Pelo fato de a DBO5, 20 somente medir a quantidade de oxigênio consumido num teste padronizado, não indica a presença de matéria não biodegradável, nem leva em consideração o efeito tóxico ou inibidor de materiais sobre a atividade microbiana.

De acordo com Silva (2004, p. 21),

A medição da DBO é padronizada, segundo Jordão e Pessoa (1995) pelo ―Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater‖ que adota tempo de 5 dias e uma temperatura padrão de 20ºC. Vale ressaltar que a DBO5 não representa a demanda total de oxigênio, pois a demanda total ocorre em período muito superior.

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Figura 17 - Metabolismo de microrganismos heterotróficos Fonte: CETESB (2009)

A média da DBO de um esgoto doméstico é de cerca de 300 mg/L e a carga

per capita, representada pela contribuição de cada indivíduo por unidade de tempo

é de 54 g/hab.dia de DBO (VON SPERLING, 1996).

4.4.3. Sólidos Totais

Quanto aos sólidos totais, Botelho et al. (2001, p. 54) explica que ‖[...] as

análises de sólidos suspensos e fixos são comuns em águas poluídas‖, sendo que a

concentração máxima recomendadas de sólidos dissolvidos é de 500mg/L. Para

Nuvolari (2003), a presença de resíduos sólidos na água, em especial os resíduos

presentes no esgoto sanitário, leva ao aumento de turbidez naquele meio,

dificultando a passagem de luz e contribuindo para o valor de saturação do oxigênio

dissolvido. Estes sólidos nas águas, de acordo com CETESB (2009), correspondem

a toda matéria que permanece como resíduo, após evaporação, secagem ou

calcinação da amostra a uma temperatura pré-estabelecida durante um tempo

fixado, sendo então, que as operações de secagem, calcinação e filtração são as

que definem as diversas frações de sólidos presentes na água (sólidos totais, em

suspensão, dissolvidos, fixos e voláteis).

Complementa CETESB (2009, p. 5) que:

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No controle operacional de sistemas de tratamento de esgotos, algumas frações de sólidos assumem grande importância. Em processos biológicos aeróbios, como os sistemas de lodos ativados e de lagoas aeradas mecanicamente, bem como em processos anaeróbios, as concentrações de sólidos em suspensão voláteis nos lodos dos reatores tem sido utilizadas para se estimar a concentração de microrganismos decompositores da matéria orgânica. Isto porque as células vivas são, em última análise, compostos orgânicos e estão presentes formando flocos em grandes quantidades relativamente à matéria orgânica ―morta‖ nos tanques de tratamento biológico de esgotos. Embora não representem exatamente a fração ativa da biomassa presente, os sólidos voláteis têm sido utilizados de forma a atender as necessidades práticas do controle de rotina de uma Estação de Tratamento de Esgotos.

O conteúdo de sólidos totais geralmente varia entre 20 e 1000 mg/L e o

limite estabelecido pela Resolução CONAMA 357/05 é de 500 mg/L para os sólidos

dissolvidos totais (MARTINS, 2009).

4.4.4. Nitrogênio Total

As fontes de nitrogênio em águas naturais são diversas. Segundo Botelho et

al. (2001), as formas comuns do nitrogênio são: orgânico, amônia, nitrito, nitrato e

nitrogênio, sendo os esgotos sanitários em geral, conforme comenta CETESB

(2009), a principal fonte, lançando nas águas nitrogênio orgânico, devido à presença

de proteínas, e nitrogênio amoniacal, pela hidrólise da ureia na água.

De acordo com CETESB (2009), os diversos processos são responsáveis

pela introdução de substancias nitrogenadas no meio. Como exemplos, pode-se

mencionar que alguns tipos de efluentes industriais são responsáveis por descargas

de nitrogênio orgânico e amoniacal nas águas, entre elas, industriais petroquímicas,

siderúrgicas, farmacêuticas, alimentícias, matadouros, frigoríficos e matadouros. A

atmosfera também é uma fonte de nitrogênio, pois a partir dela ocorrem os diversos

mecanismos de biofixação ocorridos por meio de bactérias e algas presentes em

corpos hídricos, que incorporam o nitrogênio em seus tecidos e contribuem para a

presença de nitrogênio orgânico nas águas. Nas áreas agrícolas, o carreamento de

fertilizantes por meio do escoamento superficial da chuva também contribui para a

presença de diversas formas de nitrogênio, e nas áreas urbanas, a drenagem das

águas pluviais, associada às deficiências do sistema de limpeza pública, constitui

fonte difusa de nitrogênio de difícil caracterização.

Completa CETESB (2009, p. 26) que:

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Os compostos de nitrogênio são nutrientes para processos biológicos e são caracterizados como macronutrientes, pois, depois do carbono, o nitrogênio é o elemento exigido em maior quantidade pelas células vivas. Quando descarregados nas águas naturais, conjuntamente com o fósforo e outros nutrientes presentes nos despejos, provocam o enriquecimento do meio, tornando-o eutrofizado. A eutrofização pode possibilitar o crescimento mais intenso de seres vivos que utilizam nutrientes, especialmente as algas. Estas grandes concentrações de algas podem trazer prejuízos aos múltiplos usos dessas águas, prejudicando seriamente o abastecimento público ou causando poluição decorrente da morte e decomposição desses organismos. O controle da eutrofização, através da redução do aporte de nitrogênio é comprometido pela multiplicidade de fontes, algumas muito difíceis de serem controladas como a fixação do nitrogênio atmosférico, por parte de alguns gêneros de algas. Por isso, deve-se investir preferencialmente no controle das fontes de fósforo.

A Resolução do CONAMA 357/06 estabelece limites para amônia não

ionizável (NH3), de 0,02 mg/L, Nitrato, 10,0 mg/L, e Nitrito, 1,0 mg/L (MARTINS,

2009).

4.4.5. Fósforo

Para a CETESB (2009) a ocorrência do fósforo em águas naturais é devida,

principalmente, às descargas de esgotos sanitários, sendo a matéria orgânica fecal

e os detergentes em pó empregados em larga escala domesticamente constituem a

principal fonte. Alguns efluentes industriais e águas drenadas em áreas agrícolas e

urbanas também podem provocar a presença excessiva de fósforo em águas

naturais.

Lembra Botelho et al. (2001, p.54) que ―[...] um dos pré-requisitos no

tratamento biológico de efluentes é a presença suficiente de fósforo para a

manutenção do técnico celular das bactérias, para que haja crescimento

bacteriano‖, sendo necessária, em alguns casos, adicionar uma quantidade de

fosforo em algumas águas residuárias para auxiliar a atividade microbiológica. O

despejo e excesso de fósforo em corpos hídricos também levam ao processo de

eutrofização. A Resolução 357/05 do CONAMA fixa a quantidade de fósforo total em

0,025 mg/L.

4.4.6. pH

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Potencial hidrogeniônico. Para Botelho et al. (2001, p. 21), ―representa a

concentração de íons de H+ (em escala anti-logarítimica), dando uma indicação

sobre a condição de acidez, neutralidade ou alcalinidade da água‖.

Conforme CETESB (2009), o pH é um parâmetro importante em muitos

estudos no campo do saneamento ambiental, por influir em diversos equilíbrios

químicos que ocorrem naturalmente ou em processos unitários de tratamento de

águas. Sua influência sobre os ecossistemas aquáticos naturais se dá diretamente

aos seus efeitos sobre a fisiologia das diversas espécies e indiretamente,

contribuindo para a precipitação de elementos químicos tóxicos como metais

pesados; além de poder exercer efeitos sobre as solubilidades de nutrientes. A faixa

de pH é de 0 a 14, sendo menor que 7 considerada ácida, 7 neutra e maior que 7,

alcalina. Os critérios de proteção à vida aquática fixam o pH entre 6 e 9.

4.4.7. Alcalinidade

Segundo Botelho et al. (2001), a alcalinidade determina a quantidade de

íons na água que reagirão para neutralizar os íons de hidrogênio, sendo com isso,

uma substância ―tampão‖, que tem como característica resistir às mudanças de pH.

O autor cita os bicarbonatos, carbonatos e os hidróxidos como os principais

constituintes da alcalinidade.

4.4.8. Organismos Coliformes

De acordo com Martins (2009), são indicadores da presença de

microrganismos patogênicos na água, significando com isso que o corpo de água

recebeu matérias fecais ou esgotos. As fezes humanas e animais carregam grande

quantidade de coliformes fecais, estimando-se que em 100 ml de esgoto bruto

contém cerca de três milhões de coliformes. A determinação da concentração de

coliformes assume papel importante como um parâmetro indicador de existência de

microrganismos patogênicos presentes na água.

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O critério de densidade de coliformes é usado no momento de avaliar a

necessidade de tratamento das águas brutas, podendo esta, ser classificada em

águas limpas, boas ou poluídas. A diversidade de coliformes na água bruta é

expressa em termos de número mais provável – NMP. O limite padrão estabelecido

pela Resolução CONAMA 357/05, é de 1,0+3 NMP/100 ml, para a qualidade da água

em relação à sua potabilidade.

4.5. DOENÇAS DE VEICULAÇÃO HÍDRICA

Contaminação dos recursos hídricos por esgoto sanitário gera grandes

problemas à saúde humana. De acordo com Leme (2010), a ausência de

saneamento básico, o lançamento de esgoto doméstico bruto nos recursos hídricos

e a disposição de efluentes sanitários sem tratamento levam à contaminação por

microrganismos transmissores de doença por vinculação hídrica.

De acordo com Rodrigues e Malafaia (2009, p.3):

Acredita-se que 80% de todas as moléstias e mais de um terço de óbitos dos países em desenvolvimento sejam causados pelo consumo de água contaminada e, em média, até um décimo do tempo produtivo de cada pessoa se perde por causa de doenças relacionadas à água.

As enfermidades diarreicas, que são de natureza infecciosa e intimamente

ligadas a vetores de vinculação hídrica são responsáveis por milhares de mortes no

mundo, tornando primordial a avaliação da qualidade microbiológica dos recursos

hídricos (Rodrigues e Malafaia, 2009). Estas enfermidades (que incluem febre tifoide

e a diarreia aguda) são causadas principalmente por microrganismos patogênicos de

origem entérica (intestinais), contraídas na maioria dos casos pela ingestão de água

ou de alimento contaminado por água poluída com fezes.

Segundo Rodrigues e Malafaia (2009), estes tipos de doenças são

responsáveis por 1,5 milhão de mortes por ano, sendo a sua maioria de crianças e

88% dos casos são atribuídos à contaminação dos recursos hídricos, ao

saneamento inadequado ou à falta de higiene dos indivíduos.

No Brasil, a Agência Nacional de Águas (ANA) informou, por meio do Plano

Nacional de Recursos Hídricos de 2003 que ―[...] entre 1995 e 2000 foram

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documentadas cerca de 700 mil internações hospitalares anuais causadas por

doenças de vinculação hídrica‖.

De acordo com Nuvolari, (2003), toda água natural abriga comunidades

biológicas, e neste meio biológico sempre podem existir microrganismos causadores

de doenças, tornando as características biológicas da água um dos parâmetros mais

importantes em seu tratamento.

Para Cozac e Miranda (2009), nos resíduos fecais, componentes do esgoto

doméstico, podem ser encontrados vários organismos patogênicos, incluindo-se

nessa categoria vírus, bactérias, parasitos e protozoários.

A Quadro 4 mostra as principais doenças causadas por bactérias e que

podem ser transmitidas pela água:

Agente causador Doença Sintomas Habitat

Salmonella Typosa

Febre tifoide Enxaqueca, náuseas, perda de apetite, constipação ou diarreia, insônia, dor de garganta, bronquite, dor abdominal, hemorragia nasal, rubor no rosto e tronco. Período de incubação de 7 a 14 dias.

Fezes e urina do portador ou doente.

S. paratuphi S. schottinulleri S. hirschfeldi C.

Febre paratifoide

Infecção generalizada, caracterizada por febre continua diarreia, algumas vezes rubor no rosto e tronco. Período de incubação de 1 a 10 dias.

Fezes e urina do portador ou do doente

Shigella flexneri Sh. dysentriae Sh. sonei Sh. paradysinteriae

Disenteria bacilar

Diarreia, febre, tenesmo e evacuação líquida frequentemente contendo muco e sangue. Período de incubação de 1 a 7 dias.

Líquidos intestinais de portadores e pessoas infectadas

Vibrio comma V. cholerae

Cólera Diarreia, vômito, evacuação de líquido, sede, dor, coma. Período de incubação de poucas horas a 5 dias.

Líquidos intestinais e vômito de pessoas infectadas.

Pasteurella tularensis Tularemia Mal-estar repentino com dores, febre e prostração. Período de incubação de 1 a 10 dias.

Roedores, coelhos, mutucas, cães, raposas e porcos.

Brucella melitensis

Brucelose Febre irregular, suor, frios, dores musculares.

Tecidos, sangue, mofo, animais infectados.

Pseudomonas pseudomallei

Melioidosis Diarreia aguda, vômito, febre alta, delírio, mania.

Ratos, gatos, coelhos, cães e cavalos.

Leptospira icterohemorrhagie

Leptospirose Febre, rigidez, enxaquecas, náuseas, dores musculares, vomito, sede, prostração e

Urina e fezes de rato, suíno, cão, gato, camundongo, raposa,

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pode ocorrer icterícia. ovelha. Enteropathogenic E. Coli

Gastroenterite Diarreia líquida, náuseas, prostração e desidratação.

Fezes do portador

Quadro 4 - Principais doenças causadas por bactérias e que podem ser transmitidas pela água Fonte: Adaptado de Nuvolari (2003, p. 383).

As doenças virais de veiculação hídrica são adquiridas após o consumo de

água ou alimentos contaminados, como peixes e moluscos, além de vegetais

irrigados com água poluída por esgoto (COZAC e MIRANDA, 2009).

O Quadro 5 mostra as principais doenças causadas por enterovírus humanos

(vírus que se instalam no tubo digestivo) e que podem ser transmitidos pela água:

Patógeno Doenças e/ou sintomas causados no organismo

Rotavírus humanos Gastroenterite aguda com diarreia grave

Adenovírus humanos Gastroenterites, infecções respiratórias e conjuntivite

Norovírus Gastroenterites epidêmicas com grave diarreia

Astrovírus humanos Gastroenterite

Parvovirus humanos Gastroenterite

Coronavirus humanos Gastroenterite e doenças do trato respiratório

Torovirus humanos Gastroenterite

Virus da hepatite A Hepatite

Virus da hepatite E Hepatite

Poliovirus

Paralisia, meningite e febre

Coxsackiervirus Meningite, pneumonia, hepatite e febre

Echovirus Meningite, paralisia, encefalite, febre

Quadro 5 - Principais doenças causadas por enterovírus humanos e que podem ser transmitidas pela água Fonte: Adaptado de Cozac e Miranda (2009, p. 5).

A contaminação dos recursos hídricos por esgoto sanitário também leva à

transmissão de doenças por parasitas e protozoários, conforme mostra o Quadro 6:

Agente causador Doença Sintomas

Ascaris lumbricoides (lombriga) Ascaridíase Vômito, lombrigas vivas nas fezes.

Cryptosporidium e muris Criptosporidiose Diarreia aguda, dores

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parvum

abdominais, vômito e febre baixa. Podem ser uma ameaça à vida de pacientes imunodeficientes.

Entamoeba histolyca Amebíase Diarreia alternada com constipação, disenteria crônica com muco e sangue.

Giardia lambia Giardíase Diarreia intermitente

Naegleria guberi Meningoencefalite amoébica Morte Schistosoma mansoni Schistosomiase Infecção no fígado e bexiga Taenia saginata Teníase Dores abdominais, distúrbios

digestivos e perda de peso.

Quadro 6 - Doenças causadas por parasitas e que podem ser transmitidas pela água Fonte: Adaptado de Nuvolari (2003, p. 38)

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5. BACIA DE EVAPOTRANSPIRAÇÃO: ALTERNATIVA DE SANEAMENTO

ECOLÓGICO PARA O TRATAMENTO DE EFLUENTES DOMÉSTICOS

5.1. CARACTERIZAÇÃO E FUNDAMENTAÇÃO DO PROCESSO DE TRATAMENTO DE EFLUENTES DOMÉSTICOS PELO MÉTODO DE BACIA DE EVAPOTRANSPIRAÇÃO.

De acordo com Piergili e Filho (2003), além dos sistemas convencionais

utilizarem energias não renováveis e basearem-se amplamente em transformações

biológicas dos poluentes, os processos envolvidos são tipicamente encerrados em

recipientes de concreto, aço ou plástico e movidos pela adição de aeração forçada,

misturadores mecânicos e uma variedade de produtos químicos e devido à

intensidade de energia utilizada nestes sistemas, o espaço físico requerido para as

transformações biológicas é bastante reduzido. Além disso, os sistemas

convencionais de tratamento de esgotos frequentemente ocorrem de maneira

centralizada, necessitando de uma grande e dispendiosa rede e infraestrutura de

coleta, necessitando esta, ainda, localizar-se preferencialmente em locais afastados

de bairros residenciais e zonas comerciais devido à poluição visual e ao odor

desagradável. Desta maneira, a utilização de sistemas sustentáveis é necessária

para funcionar localmente, em escala reduzida, de maneira a serem eficientes e de

baixo custo, além de apresentarem um aspecto visual agradável, não emitirem

odores e gerarem recursos de uma situação que outrora poderia ser um problema. A

Bacia de Evapotranspiração entra neste contexto.

Quando se fala no tratamento por bacias de evapotranspiração, a literatura

relacionada ao tema ainda é bastante restrita. As informações são encontradas

principalmente em livros, sites e teses sobre permacultura pelo mundo, com poucos

estudos de caso, sendo os mais relevantes os estudos feitos por Galbiati (2009),

Pamplona e Venturi (2004) e Paulo e Bernardes (2008).

O sistema de Bacias de Evapotranspiração – BET agrega conceitos de

saneamento ecológico8 e de permacultura9, que, de acordo com Pamplona e Venturi

8 O saneamento ecológico representa uma mudança no modo como as pessoas pensam e agem com

relação às fezes humanas. Trata-se de uma abordagem baseada no ecossistema que reconhece a

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(2004), vem sendo difundida por permacultores do mundo todo e utilizada para o

tratamento das chamadas águas negras, provenientes dos vasos sanitários nas

residências.

Segundo Galbiati (2009), este sistema (também chamado por alguns autores

de ―Tanque de Evapotranspiração – Tevap‖, ―Fossa de bananeiras‖ ou ―Trincheira de

evapotranspiração‖) consiste na escavação de uma vala, que é impermeabilizada e

preenchida com camadas de substrato de granulometria decrescente, na qual, em

sua superfície, são plantadas espécies vegetais de crescimento rápido e alta

demanda por água. A bacia de evapotranspiração recebe o efluente dos vasos

sanitários, que passa por processos naturais de degradação microbiana da matéria

orgânica, mineralização dos nutrientes, absorção e evapotranspiração das plantas,

resultando na ciclagem de água e dos nutrientes em conjunto com as espécies

vegetais.

A idealização do sistema foi proposta originalmente pelo permacultor

americano Tom Watson, denominada Watson wick (Figura 18). Esta primeira

experimentação consistia em uma trincheira de dimensionamento variável, a qual

era encaminhado o todo o conteúdo do esgoto (águas servidas e do vaso sanitário)

através de um tubo, posicionado dentro de um infiltrador, feito com um tambor

cortado e colocado com a concavidade voltada para baixo no fundo do tanque e sob

uma camada de 5 cm de rochas porosas, 45 cm de pedras e 15 cm de solo, onde

são colocadas as plantas. O sistema não possui paredes impermeabilizadas e

permite a infiltração do efluente no solo (GALBIATI, 2009).

necessidade e o benefício de se promover o bem estar e a saúde da população ao mesmo tempo em que recupera e recicla os nutrientes. Representa uma abordagem que valoriza o fechamento do ciclo dos nutrientes, evitando a abordagem linear de pretender "jogá-los fora.‖ (ESREY et al., 1998) 9 A Permacultura envolve a implantação de projetos e manutenção consciente de ecossistemas

produtivos por meio de técnicas tradicionais para o planejamento e desenvolvimento socioambiental de toda complexidade abordada nas práticas agrícolas, no ecodesign, na compra e venda sustentável, no ciclo de vida, gerenciamento de resíduos, entre outros; proporcionando conceitos, práticas e metodologias de trabalho para pequenos e médios produtores rurais e comunidades carentes, por meio da interação e inovação dos modelos de produtividade tradicionais; discutindo os saberes e a valorização humana e social, como a valoração ambiental, proporcionando novas fronteiras para a organização e sustentabilidade biopsicossocial e ambiental (MIRANDA, 2007, p. 1)

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Figura 18 - Croqui de uma "Watson wick" Fonte: www.greenbuilder.com

Outros sistemas semelhantes à BET são conhecidos, como os jardins de

águas servidas ou as wetlands, com processos de tratamento semelhantes à BET,

mas usadas para o tratamento de águas cinza, que serão demonstradas

posteriormente.

5.2. A IMPORTÂNCIA DA SEGREGAÇÃO DO ESGOTO DOMÉSTICO

CONFORME SUA ORIGEM ANTES DA DISPOSIÇÃO PARA O TRATAMENTO

O esgoto doméstico, segundo Galbiati (2009, p.15): [...] ―pode ser

classificado em águas cinza – águas servidas de pias, chuveiro, lavadora de roupas

- e águas negras, provenientes do vaso sanitário, composto principalmente por

água, urina e fezes‖.

Para Rebêlo (2011), devido a interesses econômicos e ecológicos, a

segregação e reaproveitamento de diferentes efluentes (águas cinza, negras e

pluviais) têm aumentado nos últimos anos. A sua separação visa facilitar o

tratamento, tornando assim mais viável o reuso das águas cinza (baixa matéria

orgânica) e melhora as condições de tratamento das águas negras (elevada matéria

orgânica).

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Lembra Gonçalves et al. (2006), que:

Os estudos realizados no Brasil e no exterior indicam que as águas cinza contêm elevados teores de matéria orgânica, de sulfatos, além de turbidez e de moderada contaminação fecal. Alguns estudos comprovaram também a presença de compostos orgânicos rapidamente biodegradáveis na sua constituição. Por tais motivos, seu reuso direto nas edificações (em estado bruto) não é recomendável, tendo em vista, sobretudo, o aspecto desagradável e à possibilidade de produção de mau cheiro nas instalações sanitárias (DIXON et al., 1999). Para a obtenção de água de reuso com baixa turbidez, inodora e isenta de microrganismos patogênicos, um tratamento a nível secundário seguido de desinfecção será necessário.

Segundo Galbiati (2009) o volume de águas negras é bem menor que o

volume de água cinza. As águas negras em contrapartida, contém a maior parte dos

microrganismos patogênicos e dos nutrientes encontrados no esgoto doméstico. As

características deste tipo de efluente são descritos conforme Rebêlo (2011), da

seguinte maneira:

Características de vazão: grande variação temporal, geração

descontinuada e vazões pontuais elevadas;

Elevada concentração de matéria orgânica e sólidos em suspensão;

Influência no consumo de água do aparelho sanitário utilizado

influenciam nas características do esgoto gerado. Quanto menor consumo de água,

maior concentração dos compostos presentes nas fezes e urina no efluente;

A autora comenta a possibilidade de encaminhamento das águas de cozinha

ao tratamento de águas negras, devido à concentração de matéria orgânica e graxa.

Possibilidade esta, não discutida pelos autores no tratamento por bacias de

evapotranspiração.

Comenta Rebêlo (2011, p. 53), que de acordo com um número significativo de

pesquisadores,

[...] as unidades mais recomendadas para este tipo de efluente, seriam sistemas de tratamento que utilizam o processo anaeróbio de estabilização da matéria orgânica, que são aqueles que se adaptam com mais flexibilidade às características deste tipo de efluente, tendo em vista suas características consagradas: baixo consumo de energia, tamanho pequeno, baixa produção de lodo, lodo de descarte já estabilizado e pronto para a disposição final, porém com um efluente final que não se adequa à legislação para o lançamento em corpos d’água.

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Neste contexto está inserido o tratamento pelo sistema de bacia de

evapotranspiração (Figura 19), que utilizando princípios anteriormente apresentados,

não despeja no ambiente as cargas poluidoras provenientes das águas negras.

Figura 19 - Corte esquemático de uma BET Fonte: Paulo e Bernardes (2008)

5.3. CONSTRUÇÃO DE UMA BACIA DE EVAPOTRANSPIRAÇÃO: MÉTODOS E

ALTERNATIVAS

A construção de uma bacia de transpiração pode ser feita de várias formas

dependendo dos materiais e recursos disponíveis, mas atendendo a alguns

cuidados de suma importância para o funcionamento do sistema, como alertam

Pamplona e Venturi (2004) e Vieira (2011):

Destinar apenas as águas negras à BET. As águas cinza, devido ao

volume bem superior, poderá levar ao extravasamento de efluente na

BET, deve ser destinada a um sistema de tratamento próprio;

Criar uma camada de isolamento entre a bacia e o solo, para impedir a

infiltração do efluente no mesmo;

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Propiciar a ação anaeróbia das bactérias, criando-se uma estrutura de

câmara dentro da BET;

Utilizar-se de cobertura com substratos que permitam a penetração das

raízes das plantas na BET, como areia e terra;

Construção da BET para a face norte e sem sombreamento, permitindo

a incidência do sol durante a maior parte do dia e a sua ventilação;

5.3.1. Dimensionamento

De acordo com Vieira (2011), por meio de estudos práticos convencionou-se

que a cubagem de 2m³ de bacia para cada morador, utilizando a profundidade

padrão de 1 metro e largura padrão de 2m, é o suficiente para que não ocorram

sobrecargas de efluentes para o bom funcionamento do sistema , confeccionando-se

a seguinte fórmula:

( )

Onde:

L = Largura padrão (2m)

P = Profundidade padrão (1m)

C = Comprimento em metros = número de usuários

Para a construção de uma BET em uma casa com uma média de usuários

diários de três pessoas, o dimensionamento ficaria da seguinte forma (Figura 20).

Cálculo para dimensionamento de uma BET em uma residência de 3

usuários:

(L x P x C)

(2x1x3) = 6m³

L= 2 m

P = 1 m

C = 3 usuários

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Figura 20 - Dimensionamento de uma BET para três usuários Fonte: Autores (2011)

5.3.2. Construção da bacia/vala/trincheira

Após a determinação do dimensionamento, de acordo com Pamplona e

Venturi (2004), a escolha do local para instalação da BET levar em conta a

profundidade do lençol freático, o tipo de solo e a incidência solar direta e em um

local com declividade que permita o escoamento do efluente para dentro da BET. A

Figura 21 mostra a preparação de uma cova para a construção de uma BET.

Apesar de alguns autores, como Galbiati (2009) considerarem opcional, um

dos princípios ecológicos do sistema é criar uma camada impermeabilizada que

isole o efluente do contato com o solo, impedindo que este percole e atinja o lençol

freático. Foram observadas várias formas de proporcionar esse isolamento,

utilizando vários tipos de materiais, conforme a disponibilidade e recursos.

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Figura 21 - Preparação da cova para a construção da bacia de evapotranspiração Fonte: http://www.amigosdemaua.net (2011)

Um dos mais indicados e utilizados é o sistema de ferro-cimento, um sistema

construído com armações de ferro e camada de argamassa, conforme explica Vieira

(2011):

O ferro-cimento é uma técnica de construção com grade de ferro e tela de ―viveiro‖ coberta com argamassa. A argamassa da parede deve ser de duas (2) partes de areia (lavada média) por uma (1) parte cimento e argamassa do piso deve ser de duas (2) partes de areia (lavada) por uma (1) parte cimento. Pode-se usar uma camada de concreto sob (embaixo) o piso caso o solo não seja muito firme.

A Figura 22 mostra o passo a passo da construção de uma estrutura de ferro-

cimento:

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Figura 22 - Passo a passo na construção de uma BET com estrutura de ferro-cimento. Fonte: Vieira (2011)

Também são observadas construções de alvenaria (Figura 23):

Figura 23 - Caixa da BET construída de alvenaria Fonte: http://www.amigosdemaua.net/

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A impermeabilização pode ser feita, devido ao custo, com lonas plásticas,

conforme as Figuras 24 e 25. É aconselhável a utilização de lonas com espessura

de pelo menos 200 micras, podendo estas sendo dobradas e formando camadas, o

que proporciona maior segurança, impedindo que esta rasgue durante a construção

ou funcionamento e permitindo a infiltração do efluente ao solo.

Figura 24 - Isolamento com lona plástica em uma BET construída em Florianópolis-SC. Fonte: Timmermann et al. (2003)

Figura 25 - Utilização de lona plástica de 200 micras em uma BET em Guarapuava-PR. Fonte: Autores (2011)

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5.3.3. Câmara Anaeróbia

De acordo com Gabialdi (2009, p. 11), a principal função da câmara anaeróbia

é ―[...] a recepção do esgoto e a deposição de eventuais materiais sólidos, evitando

entupimentos no sistema, já que a digestão anaeróbia da matéria orgânica ocorre

em toda a extensão das camadas inferiores e não só na câmara‖.

Segundo Vieira (2011), esta etapa deve ser seguida após a secagem da bacia

e de assegurar a impermeabilidade (no caso desta ser feita com o sistema de ferro-

cimento). A câmara pode ser improvisada com diversos materiais (Figura 26), desde

construção fixa com tijolos, linha de pneus usados, manilhas de concreto cortadas

ao meio e perfuradas, placas velhas de pré-moldado empilhadas, etc., desde que se

forme longitudinalmente um duto para permitir a entrada dos efluentes.

Figura 26 - Várias formas de construção de uma câmara anaeróbica: 1) Manilhas

perfuradas (Timmermann et al., 2003) ; 2) Pneus velhos alinhados (Vieira, 2011); 3)Tijolos cimentados (Amigos de Mauá, 2011); 4) Armação com placas de pré-moldado (Autores, 2011).

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De acordo com Gabialdi (2009), depois de construída a câmara anaeróbica,

deve-se preenchê-la com aproximadamente 45 a 50 cm de entulho cerâmico (tijolos,

telhas, pedras e outros restos de construção civil), cobrindo todo o fundo da bacia,

finalizando a camada onde o efluente percolará e ocupará espaço e onde

acontecerá a digestão anaeróbica pelas bactérias.

5.3.4. Preenchimento da BET com Materiais de Granulometria Decrescente

No preenchimento da Bacia de evapotranspiração, são colocados materiais

de granulometria decrescente, começando com os restos de entulho, com uma

camada de mais ou menos 45 cm, que cobrem e compõe a câmara anaeróbica. Em

seguida, coloca-se uma camada de cerca de 10 cm de pedra-brita, 10 cm de areia e

35 cm de solo, como mostra a Figura 27:

Figura 27 - Esquematização das camadas de preenchimento da BET Fonte: Autores (2011)

A cobertura do sistema com palhada, mantém a umidade e colabora para

manter o fenômeno de capilaridade do solo e também segundo Vieira (2011), auxilia

no escoamento da água da chuva. Aconselha-se, segundo Paulo e Bernardes

(2008), instalar um tubo de drenagem (ladrão) a 18 cm do solo, para permitir o

escoamento da água em eventuais extravasamentos.

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5.3.5. Piezômetros

No interesse de realizar manutenções e coletas para a amostra, podem ser

instalados tubos de visita (piezômetros) com tubos de PVC de 100 mm de diâmetro,

com acesso à câmara anaeróbica e demais camadas (GABIALDI, 2009).

5.3.6. Plantação das Espécies Vegetais

De acordo com Vieira (2011) e Gabialdi (2009), deve-se escolher espécies

folhosas e que consumam grande quantidade de água, sendo estas plantadas em

um espaçamento mínimo de pelo menos 30x30x30 cm. As espécies mais utilizadas

(Figura 28) são as bananeiras (Musa spp.), taiobas (Xhantosoma spp.), mamoeiros

(Carica sp.) e beri (Canna spp.) e algumas de caráter paisagístico, como os líros-do-

brejo (Hedychium coronarium), indivíduos do gênero Impatiens, copo-de-

leite (Zantedeschia aethiopica), dentre outras.

Figura 28 - Espécies mais utilizadas em uma BET – 1) Xanthosoma sagitifolium

(Foto: Tauʻolunga); 2) Impatiens walleriana (Foto: Rafael Zenni); 3) Musa sp. (Foto: http://www.bananas.org); 4) Vinca major (Foto: Autores,2011).

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Em lugares de clima mais frio, com ocorrência de geadas, como

Guarapuava-PR, as espécies citadas, conforme experiências práticas observadas

podem consorciadas com espécies resistentes ao frio, como por exemplo, a espécie

Vinca major, que resiste durante o ano todo e garante o funcionamento da BET

enquanto as espécies intolerantes ao frio regeneram-se.

Figura 29 - Bacia de Evapotranspiração finalizada em Brasília-DF Fonte: http://semrhima.blogspot.com (2010)

5.4. CONJUNTO DE FATORES QUE CONTRIBUEM NO FUNCIONAMENTO DE

UMA BACIA DE EVAPOTRANSPIRAÇÃO

O funcionamento da BET depende de uma série de fatores que atuam

conjuntamente para a degradação do efluente até a liberação da água na atmosfera

e o aproveitamento dos nutrientes pelas plantas. De acordo com Gabialti (2009), os

principais processos envolvidos no funcionamento do sistema são: precipitação e

sedimentação de sólidos no fundo da BET, ação microbiana anaeróbica na

degradação do efluente, decomposição aeróbia, movimentação da água por

capilaridade e absorção de água e nutrientes pelas plantas.

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5.4.1. Processo de Digestão Anaeróbia de uma BET

Segundo Gabialti (2009), logo que entram no sistema, as partículas e o

líquido do efluente se depositam no fundo da BET. Para Von Sperling (1996, p. 139),

―A sedimentação é uma operação de separação de partículas sólidas com

densidade superior à do líquido circundante‖. O autor explica que, dependendo da

velocidade do fluxo da água e sua agitação, as partículas podem ficar dispersas em

fluxos altos e decantarem por gravidade em fluxos baixos. Como consequência da

decantação dos sólidos, o líquido do efluente tende á clarificar-se, enquanto que a

parte sólida forma camadas de lodo no leito do tanque. A deposição dos sedimentos

do efluente no fundo da bacia e a ascensão da parte líquida a outras camadas

proporcionam condições para a digestão anaeróbia.

Esta etapa é definida da seguinte maneira por Vale (2006, p. 14):

O metabolismo da digestão anaeróbica é um processo microbiológico que ocorre na ausência de oxigênio molecular, onde há interação entre os microrganismos e o substrato e pode ser interpretada como um processo de dois estágios, realizados por dois grupos distintos de bactérias (acidogênicas e metanogênicas) nos quais os resíduos organismos complexos (carboidratos, proteínas e lipídios) podem ser biologicamente convertidos em metano e outros produtos.

O processo de digestão anaeróbica, de acordo com Sant’Anna Junior (2010),

é complexo e demanda de da participação de diferentes grupos microbianos que

desempenham funções diferenciadas, que são responsáveis pela biodegradação

anaeróbia da matéria orgânica (Figura 30). Essa degradação pode ser subdividida

em quatro fases: hidrólise, acidogênese, acetogênese e metanogênese.

O mesmo autor define estas quatro fases da seguinte maneira:

Hidrólise das substâncias e materiais orgânicos complexos: Nesta

fase, ocorre a transformação de substâncias de alta massa molar, como proteínas,

polissacarídeos, lipídeos, ácidos nucleicos e material orgânico na forma particulada

em substancias de menor massa molar, pela ação de enzimas hidrolíticas que são

excretadas por diversas espécies microbianas.

Fermentação ácida – acidogênese: As substâncias resultantes da

fase anterior são fermentadas, dando origem à ácidos carboxílicos de cadeia curta,

os chamados ácidos voláteis, como o ácido fórmico, acético, propiônico, butírico e

valérico.

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Fermentação acetogênica: Nesta etapa, os ácidos de maior cadeia

são transformados em ácidos com apenas um ou dois átomos de carbono, como é o

caso do formiato e do acetato, produzindo também hidrogênio.

Metanogênese: Fase de suma importância no processo. Nesta etapa,

o carbono que originalmente estava presente na matéria orgânica, passa a fazer

parte do metano ou do gás carbônico. É nesta fase que ocorre de fato a

mineralização dos compostos de carbono. A partir daqui, acontece o processo de

respiração anaeróbia.

Conforme Gabialti (2009), dentro da câmara anaeróbia da BET,os

compostos orgânicos complexos como os carboidratos, proteínas e lipídios são

fermentados e bioconvertidos em materiais orgânicos simples (acidogênese). Em

seguida, ocorre a conversão dos ácidos orgânicos, gás carbônico e hidrogênio em

outros gases, como o metano e o gás carbônico (metanogênese).

A formação do metano é desejável nos processos anaeróbicos, segundo

Gabialti (2009, p.8): ―uma vez que a matéria orgânica, geralmente medida como

demanda bioquímica de oxigênio (DQO), é efetivamente removida na fase líquida,

pois o metano apresenta baixa solubilidade na água‖.

De acordo com Von Sperling (1996), as bactérias anaeróbias são sensíveis

a uma série de substancias, que, dependendo da concentração podem prejudicar e

Matéria orgânica (carboidratos, proteínas e

lipídeos)

Hidrólise e fermentação

Desidrogenação acetogênica

Hidrogenação acetogênica

Acetato H2 e CO2

Descarboxilização

do acetato Formação redutiva

de metano

CH4,CO2 CH4, H2O

Figura 30 - Etapas da digestão anaeróbia Fonte: Adaptado de Santa’Anna Junior (2010)

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92

até paralisar o processo de digestão. As substancias inibidoras mais conhecidas

são: hidrocarbonetos, compostos organoclorados, detergentes aniônicos não

biodegradáveis, agentes oxidantes e cátions inorgânicos.

A redução de patógenos, segundo o mesmo autor, é feita de forma

satisfatória, pois a estabilização anaeróbia cria uma barreira parcial entre os agentes

patogênicos e os usuários, reduzindo os riscos de transmissão.

5.4.2. Processo de Digestão Aeróbia

Com a ascensão capilar do efluente até a superfície da BET a matéria

orgânica começa a entrar em contato com o oxigênio, deixando de passar por

processos anaeróbios e facultativos para começar a sofrer processos de degradação

aeróbia (GABIALTI, 2009).

De acordo com Santa’Anna Júnior (2010), os principais agentes do processo

de degradação aeróbia são as bactérias, mas também a existe a participação de

protozoários e metazoários.

A conversão aeróbia da matéria carbonácea, se dá pelo consumo de

oxigênio do meio, gerando gás carbônico, água e energia. Esta matéria carbonácea,

é baseada no carbono orgânico, sendo dividida em matéria orgânica inerte (não

biodegradável) e matéria orgânica biodegradável, que sofre alterações na sua

passagem pelo sistema (VON SPERLING, 1996).

Nas comunidades aeróbias, existe a predominância das bactérias

heterotróficas, que utilizam fonte de carbono orgânico e que convivem com uma

população menor de bactérias autotróficas, que utilizam carbono inorgânico e fazem

parte do processo de nitrificação dos compostos orgânicos nitrogenados

(SANTA’ANNA JÚNIOR, 2010).

Estes compostos orgânicos nitrogenados, segundo Von Sperling (1996) e

Santa’Anna Júnior (2010), passam pelo processo de nitrificação, convertendo

amônia em nitrito, para em seguida ser transformado em nitrato. Os gêneros mais

conhecidos de bactérias envolvidas na nitritação (primeira etapa) e nitratação

(segunda etapa) são, respectivamente, Nitrosomonas e Nitrobacter.

O nitrato produzido pelo processo aeróbio pode ser absorvido e aproveitado

para nutrição das espécies vegetais plantadas na BET.

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93

5.5. AÇÃO DA CAPILARIDADE DO SOLO E DA EVAPOTRANSPIRAÇÃO

Segundo Gabialti (2009) partir do momento em que o efluente é totalmente

transformado pela ação aeróbia, a água continua ascendendo até a superfície por

capilaridade.

Conforme Mello (2009), a capilaridade ocorre em conjunto com o fenômeno

da evapotranspiração, que leva ao ressecamento da superfície do solo, ocorrendo

uma diferença de potencial matricial entre as camadas superiores do solo e as

inferiores, promovendo o movimento capilar da água, buscando equilibrar os teores

de umidade. Este movimento capilar é devido à ação de forças de adesão, coesão

molecular e tensão superficial que atuam no solo, levando as partículas sólidas do

solo, que compõem a sua matriz, a atraírem as moléculas de água por adesão

molecular, transmitida através da massa de água mediante a atração entre

moléculas de mesma natureza (coesão molecular). O potencial de atração decresce

com o aumento da distância entre a molécula de água e a partícula sólida, assim

sendo, a água tende a mover-se das áreas do solo onde as películas líquidas tem

maior espessura, até as áreas onde as películas são mais finas, ou seja, de áreas

de alto conteúdo de umidade para áreas de menor conteúdo.

De acordo com Gabialti (2009), na porção superior do leito, a água continua

ascendendo até a superfície por capilaridade devido aos fenômenos de coesão,

adesão e adsorção da água pelas partículas do solo (carregadas eletricamente),

levando as raízes das plantas a estabelecer uma diferença de potencial entre as

regiões próximas às raízes e as mais distantes. Este fato, segundo a autora, ocorre

devido à procura espontânea da água a elementos com estados mais baixos de

energia, levando esta a mover-se em direção as raízes.

Enfatiza Vieira (2011), para a necessidade de deposição de uma camada

vegetal sobre o leito superficial da BET, para que não haja ressecamento exagerado

desta superfície e prejudique os processos de capilaridade e evapotranspiração da

água pelo solo.

A vaporização da água que ascendeu à superfície por meio da capilaridade

e a absorção da outra porção da água pelas plantas designam ao fenômeno da

evapotranspiração, explicada por Reichardt e Timm (2004, p. 293):

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O termo evapotranspiração é usado para a passagem da água do estado líquido para o gasoso, e, em Agronomia, inclui dois processos distintos. A água de um solo úmido ou de um reservatório, barragem ou lago pode evaporar, sendo o processo regido por leis puramente físicas. A esse processo se reserva o termo evaporação. Já na evaporação da água através de uma planta, fenômenos biológicos limitam as leis físicas. A esse processo se reserva o termo transpiração. Quando ambos os processos ocorrem simultaneamente, como ocorre em uma cultura vegetal, utiliza-se o termo evapotranspiração.

A transpiração vegetal, de acordo com Dias (2008), designa por uma parcela

da quantidade de água absorvida que é perdida pelas partes aéreas da planta para

a atmosfera sobre a forma de vapor. Essa perda pode ser caracterizada por três

maneiras: a transpiração cuticular (processo físico de evaporação, sem o controle da

planta), transpiração lenticular (pelas lentículas – estruturas de trocas gasosas) e

transpiração estomática (estrutura mais importante de trocas gasosas das plantas),

sendo que os fatores que mais influenciam na transpiração vegetal são divididos em

fatores ambientais e fatores da própria planta:

Fatores ambientais:

o Radiação solar e temperatura: a intensidade é proporcional à

transpiração da planta;

o Umidade relativa do ar: quanto maior é a umidade do ambiente, menor

é a transpiração da planta, devido ao gradiente de pressão e vapor

d’água na folha e no ar que a envolve; e.

o Vento: Ventos moderados, por exemplo, evitariam a acumulação de ar

saturado sobre a folha, aumentando, dessa forma, a transpiração, e

diminuição da resistência do ar.

Fatores da própria planta: Características morfológicas das plantas, como

tamanho das folhas e sua filotaxia.

Para Vieira (2011), a escolha de plantas com folhas largas e de grande

demanda hídrica e de nutrientes, como as espécies citadas anteriormente, são de

vital importância para o balanço de capacidade da BET, impedindo a saturação da

mesma pelos efluentes.

5.6. ANÁLISE DA EFICIÊNCIA DA BACIA DE EVAPOTRANSPIRAÇÃO

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A avaliação da eficiência do sistema de Bacias de Evapotranspiração é

baseado em estudos e análises de Rebouças et al (2007) e Gabialti (2009), que

fizeram diversas análises de caráter qualitativo do sistema de tratamento. A tabela

abaixo traz um comparativo com os dois estudos:

TABELA 5 - Resultados das análises físico-químicas do efluente do interior e da saída da BET comparados com dados encontrados na bibliografia Parâmetro

Unidade

Interior do Tanque Saída

Rebouças

et al

(2007)

Média

Desvio

Padrão

Média

Desvio

padrão

pH 7,84(9)* 0,28 7,81 (10) 0,14 7,84

Condutividade (mS/cm) 2,22 (9) 0,53 2,45 (10) 0,52

Turbidez NTU 481,04 (9) 291,35 88,01 (10) 44,22

Coliformes totais NMP/(100m ℓ)

1,65 x 107

(3) 1,47x10

7 3,24 x 10

7

(5)

6.91 x

107

1,5 x 109

E. coli NMP/ (100m ℓ)

5,15 x 106

(6) 4,72 x 10

6 3,71 x 10

6

(6)

5,27 x

106

DQO mg/ℓ 723,46 (9) 363,41 406.05 257,85 6619

PO4-3

mg/ℓ 54,46 (5) 20,27 43,18 (6) 30,68

NH3 mg/ℓ 326,85 (5) 81,04 46,21 (5) 96,74

NO2- mg/ℓ 0,03 (5) 0,02 0,44 (5) 0,66

NO3- mg/ℓ 0,17(5) 0,04 0,17 (5) 0,08

NTK mg/ℓ 335,40 (5) 89,30 227,01 (5) 145,44 365

OD mgO2/ℓ 0,00 (1) 0,00 0,00 (1) 0,00

DBO mg/ℓ 360,88 (5) 237,37 72,74 (5) 24,92 1893

ST mg/ℓ 1137, 58(6) 249,34 746,75 (6) 205,04

SST mg/ℓ 385,69(9) 200,01 37,74 (9) 11,50 2365

Cloreto mg/ℓ 141,38 (4) 83,31 154,01 (4) 88,86

Alcalinidade mg/ℓ 816,04 (5) 341,11 1061,56 (5) 251,10

* (№ de amostras) NTU= Unidades Nefelométricas de turbidez

NMP = Número mais provável

Fonte: Gabialti (2009)

A autora lembra que o sistema de Bacias de Evapotranspiração não visa

obtenção de resultados de qualidade de entrada e de saída do efluente, haja vista

que não se pretende devolver o efluente aos corpos hídricos e sim aproveitamento

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da matéria resultante da digestão dos microrganismos pelas plantas e devolução da

água para atmosfera.

Analisando os dados obtidos, nota-se que o pH de entrada e de saída

manteve-se inalterado, assim como os parâmetros de condutividade e cloretos. De

mesmo modo pode-se perceber baixa variação nos parâmetros microbiológicos.

Nos parâmetros de sólidos suspensos totais, nota-se diminuição significativa

na remoção e diminuição da turbidez. De acordo com Gabilati (2009) isto se pode

dever pela retenção do material sólido nas camadas de areia e solo.

Nos parâmetros de DQO e DBO observa-se diminuição acentuada se

comparada com a amostra de entrada da BET. A alcalinidade aumentou

substancialmente na análise de saída da bacia.

Segundo análise de Gabialti (2009), tanto o conteúdo no interior do tanque,

quanto o efluente de saída apresentaram valores menores do que os de entrada

(água negra bruta), atestando a eficiência deste sistema de tratamentos tanto na

degradação e aproveitamento da matéria orgânica pelos agentes biológicos

(microorganismos e plantas), quanto pelos mecanismos físico-químicos que

compõem os processos de tratamento da BET.

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6. ALTERNATIVAS PARA O TRATAMENTO DAS ÁGUAS CINZA

Para a manutenção das atividades humanas diariamente são bombeados

milhares de litros de água, que são devolvidos ao meio depois de serem utilizados,

retornando com características e composição modificadas. De acordo com

Bazzarella (2005), o sistema de uso convencional da água apresenta, hoje, um ciclo

imperfeito. A água é bombeada de uma fonte local, é tratada, utilizada e, depois,

retornada para o rio ou lago, e posteriormente rebombada, repetindo o ciclo, sendo

que a água que é devolvida raramente possui a mesma qualidade da original.

Nestes efluentes vários tipos de resíduos são encontrados, como sais, matéria

orgânica e outros, que caracterizam a poluição.

Segundo Otterpohl et al. (1997), os sistemas tradicionais de saneamento

produzem um fluxo linear de materiais, fazendo assim com que seja acumulado e

misturado ao ciclo da água e o ciclo de alimentos. Esse sistema adota a premissa de

que os nutrientes eliminados nas excretas humanas não têm valor significativo,

sendo assim, devem ser descartados (ESREY et al., 1998).

O reuso de água já é difundido entre os países desenvolvidos e com a

consciência de precisamos preservar este recurso tão importante para a vida de

todos, lembra Borges (2003), que em países como Japão, Austrália, EUA, Canadá,

Alemanha, Reino Unido e Israel o reuso já é praticada.

A tabela abaixo traz a quantidade per capita de água utilizada por

continente:

TABELA 6 - Consumo doméstico, agrícola e industrial per capita por continente.

CONTINENTE CONSUMO PER CAPITA

l/hab/dia

América do norte 1680

América Latina e Caribe 402

Europa 626

Ásia 542

África 202

Oceania 586

Fonte: BORGES (2003).

O Esgoto pode ter origem por várias fontes e com características

específicas. Para se adotar o melhor tratamento é necessário conhecer cada classe.

Como cita Borges (2003), a definição de esgoto em seu sentido amplo, caracteriza-

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se os despejos oriundos dos mais diversos usos da água. O esgoto de uma

comunidade é originado através de três fontes distintas: doméstica, incluindo

residências, instituições públicas e comércio, a segunda é por infiltração através de

tubos defeituosos, e por fim a terceira são os despejos industriais.

Podemos dizer que as propriedades das águas cinza vão depender

diretamente de sua origem e as particularidades do local gerador, bem como clima e

condições sanitárias locais. De acordo com Borges (2003), as propriedades físicas,

químicas e biológicas da água cinza dependem da sua fonte de origem.

Citando Borges (2003), podemos apontar várias aplicações para águas cinza

dentre elas: Usos domésticos não potáveis como descargas sanitárias e Irrigação de

jardins, gramados e campos. O mesmo autor cita cinco padrões de qualidade de

água:

Saúde Pública.

Aceitação pelo usuário.

Preservação do Ambienta.

Qualidade da fonte de água.

Adequação da qualidade da água ao uso pretendido.

Como a utilização de água cresce a cada ano e a poluição da mesma vem

se tornando cada vez mais importante, o caminho para reverter o processo de

desperdício é seu reuso. Para Bazzarella (2005), que o saneamento ecológico é um

caminho alternativo para evitar as desvantagens de um sistema convencional de

esgoto. O paradigma do saneamento ecológico é baseado nos caminhos naturais

dos ecossistemas e no ciclo fechado de materiais. As excretas humanas (fezes e

urina) bem como as demais águas residuárias domésticas são reconhecidas como

um recurso que pode ser passível para o reuso. O reuso de águas cinza bem como

a racionalização do uso de água potável é parte integrante e importante desse ciclo,

pois promove a preservação de águas de melhor qualidade para fins potáveis e

reduz a poluição no meio ambiente.

Alternativas para tratamento de águas cinza, de acordo com Bazarella

(2005):

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Sistemas simplificados tipo dois-estágios (two-stagesystem):a filtração grosseira seguida de desinfecção é uma tecnologia comumente utilizada no Reino Unido para reúso doméstico e várias empresas fabricam sistemas de tratamento de reúso que se baseiam nesse processo de dois estágios (two-stageprocess). Segundo Jefferson et al. (1999) o processo genérico emprega um curto período de detenção hidráulica. Assim a natureza química da água cinza permanece inalterada e apenas um mínimo tratamento é requerido. A desinfecção pode ser feita utilizando tanto cloro como bromo, sendo eles dispersos na forma de pastilhas que se dissolvem lentamente ou através de dosagem de solução líquida. Entretanto, concentrações de matéria orgânica elevadas limitam a eficiência da desinfecção química, pois dificultam a difusão do desinfetante, aumentam a demanda do agente desinfetante e, no caso do cloro, pode gerar subprodutos como cloraminas e trihalometanos.

Outro tipo de sistema é o físico químico, sendo basicamente um sistema de

filtração. Os processos físicos desenvolvidos para o tratamento de águas cinza

compreendem principalmente a filtração com leitos de areia e processos utilizando

membranas, esses últimos geralmente são precedidos de um pré-tratamento

apropriado. Os tratamentos biológicos agem principalmente no material

biodegradável como cita o tratamento biológico de água cinza é requerido para

remover o material biodegradável e é indicado especialmente para sistemas de

reuso que possuem grandes redes de distribuição (BAZZARELLA, 2005).

A Figura 31 representa uma ilustração de um processo de tratamento de

águas cinza para reuso.

Figura 31 - Ilustração do tratamento de águas cinza. Fonte: Huke (2010).

Outro sistema interessante para o tratamento de águas cinza é o ―Círculo de

Bananeiras‖ que se dá pelo tratamento através de filtração pelas plantas de bananeira,

como cita Vieira (2011). Ele também beneficia a produção de bananas para o consumo,

ligando a necessidade de se tratar a águas que saem das pias e chuveiros das

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residências com a grande capacidade de tratamento que proporciona o sistema de

círculo de bananeiras.

Figura 32 - Círculo de Bananeiras Fonte: Vieira (2011).

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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A falta de saneamento básico é um dos maiores problemas que o mundo

enfrenta na questão da saúde. As mortes em decorrência de doenças de veiculação

matam mais que todas as formas de violência, segundo a OMS causando grande

preocupação aos governantes.

Existem várias formas de tratamento, adequadas e eficientes, mas que

demandam de grande investimento, dificultando o acesso destas à todas as cidades,

principalmente às pequenas cidades e regiões de interior. A busca de soluções

eficientes, acessíveis e ecológicas para o tratamento de efluentes devem ser mais

amplamente discutidas e estudadas.

Este trabalho apresentou as formas convencionais de tratamento do esgoto

e também o sistema de bacia de evapotranspiração, um método criado por

permacultores que se utiliza de processos físicos, químicos e biológicos para a

degradação da água negra advindas do vaso sanitário e devolvendo-a ao meio

ambiente de forma mais limpa.

Este sistema pode ser construído por grande variedade de matérias, tendo

que ser obedecidos critérios para que propicie seu eficiente funcionamento, como a

câmara anaeróbia, plantação de espécies vegetais hidrófilas e isolamento do

sistema para evitar infiltração do efluente no solo e calculo correto do

dimensionamento.

A bibliografia sobre o método é escassa, mas os trabalhos mais relevantes

mostram que o sistema é eficiente e realmente propicia um bom tratamento do

efluente.

Quanto às águas cinza, de tratamento mais simplificado e menor carga de

patógenos, também pode ser tratado utilizando-se alguns princípios de

funcionamento da BET, como no caso da Ilha de bananeiras, apresentado neste

trabalho.

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APÊNDICE

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APÊNDICE A- Colocação da lona para isolamento da BET construída no ITEC –

Guarapuava/PR

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Apêndice B – Preparação para construção da câmara anaeróbia (ITEC –

Guarapuava/PR)

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Apêndice C – Câmara anaeróbia (ITEC – Guarapuava/PR)

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Apêndice D – Câmara anaeróbia pronta (ITEC – Guarapuava/PR)

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Apêndice E – Preenchimento da BET (ITEC – Guarapuava/PR)

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APÊNDICE F – Plantação das espécies vegetais (ITEC – Guarapuava/PR)

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APÊNDICE G – Bacia de evapotranspiração construída e em funcionamento no

ITEC – Guarapuava desde o ano 2000