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O SAGRADO E O PROFANO NAS IGREJAS EVANGÉLICAS E AS
ELEIÇÕES PARA PRESIDENTE DO BRASIL
Alberto Pereira dos Santos1
Resumo
Este trabalho tem como objetivo discutir as relações entre sagrado e profano na espacialidade das
igrejas evangélicas no contexto das eleições presidenciais no Brasil, em 2018. Nossa hipótese é que,
por um lado, o sagrado é vivido pelos crentes nos múltiplos lugares sagrados, isto é, nos templos ou
igrejas evangélicas e, por outro, o sagrado se mistura com o profano das rivalidades políticas e disputas
territoriais nos anos eleitorais, com especial destaque para as eleições presidenciais no País. O método
utilizado se concentra na reflexão crítica da bibliografia que discute as relações entre religião e política,
bem como, também se apoia em trechos de discursos do presidente eleito, veiculados pela grande
imprensa. Ao identificarmos o sagrado na espacialidade das igrejas evangélicas, não se nega a
existência do profano que se expressa com especial destaque nos anos eleitorais para presidentes do
Brasil. Por sua vez, a Frente Parlamentar Evangélica no Congresso Nacional tem se apropriado do
espaço público para a realização de cultos religiosos-políticos. Segundo Huntington (1997), a religião
se imiscui cada vez mais na política e nas coisas públicas neste século XXI, tanto em nível nacional
como em nível internacional. No caso do Brasil, as evidências indicam que o lema “Deus acima de
todos”, utilizado nas eleições presidenciais de 2018, com a eleição do atual presidente da República,
expressa o simbolismo da mistura entre sagrado e profano na espacialidade evangélica. O fato de o
atual presidente eleito em 2018 ter vencido as eleições com o lema “Deus acima de todos”
supostamente o legitimaria com o uso do sagrado, porém, para atender interesses profanos. Com
aceno ao eleitorado evangélico, o presidente prometeu em campanha e tentou cumprir a promessa de
transferência da Embaixada brasileira de Tel-Aviv para a cidade sagrada de Jerusalém. Em nome do
sagrado os eleitores elegeram deputados federais evangélicos que defenderam interesses profanos
em esquemas de corrupção na CPI das ambulâncias em 2006 (BATISTA, 2009). A partir das
geopolíticas das igrejas evangélicas, o sagrado tem conquistado cada vez mais os “profanos”, isto é,
convertidos, novos crentes que, por sua vez, contribuem para as ofertas e pagamentos dos dízimos
que tem gerados milhões para os cofres de empresas evangélicas. Por outro lado, existem também as
disputas profanas pelo sagrado entre as próprias igrejas evangélicas (SANTOS, 2015). Em nível
internacional, Peter Berger advoga que existe articulação do evangelismo com encontros realizados
nos Estados Unidos para análises da expansão do evangelismo ao modo pentecostal (BERGER &
HUNTINGTON, 2004). Na espacialidade da geopolítica das igrejas evangélicas no Brasil, o sagrado se
mistura com o profano, quase de modo natural, para os interesses de “César” e glória de “Deus acima
de todos”. Afinal, recomenda Maquiavel que o “Príncipe”, o governante, mesmo que não seja, deve
passar a imagem de homem religioso. (MAQUIAVEL, 1998).
Palavras-chave: igrejas evangélicas, sagrado, profano, geopolítica, eleição presidencial
Abstract
This paper aims at discussing the relationship between the sacred and the profane within the domain of
evangelical churches in the context of the Brazilian presidential elections in 2018. Our hypothesis is
that, on the one hand, the sacred is experienced by believers in the multiple holy places, namely, in the
temples or evangelical churches and, on the other hand, the sacred mixes with the profane political
1 Doutor em Geografia Humana pela USP e Docente do PPGEO-UERJ – Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Contato: [email protected]
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rivalries and territorial disputes in the electoral years, especially in the presidential elections in the Brazil.
The method applied focuses on the critical reflection of the bibliography that discusses the relations
between religion and politics, and it also relies on excerpts from speeches of the president-elect,
published by the mainstream press. When we identify the sacred within the domain of the evangelical
churches, the existence of the profane that expresses itself with special emphasis in the electoral years
for presidents of Brazil is not denied. To its turn, the Evangelical Parliamentary Front in the National
Congress has been taking hold of the public space for the performance of religious-political cults.
According to Huntington (1997), religion is increasingly involved in politics and public affairs in the 21st
century, both nationally and internationally. In Brazil, the evidence indicates that the motto "God above
all", used in the presidential elections of 2018, with the victory of the current president, expresses the
symbolism of the mixture between sacred and profane in the evangelical domain. The fact that the
current president elected in 2018 won the dispute with the motto "God above all" would allegedly
legitimize him with the use of the sacred, but to serve profane interests. Nodding to the evangelical
constituency, the president made a campaign promise to transfer the Brazilian Embassy from Tel-Aviv
to the sacred city of Jerusalem and tried to keep it. In the name of the sacred voters elected evangelical
federal representatives who defended profane interests in corruption schemes in the CPI (Parliamentary
Investigation Committee) of ambulances in 2006 (BATISTA, 2009). Based on the geopolitics of the
evangelical churches, the sacred has increasingly conquered the "profane", that is, it has been
converting new believers who, in turn, contribute to the offerings and tithes that have generated millions
to the assets of evangelical companies. On the other hand, there are also profane disputes over the
sacred between the evangelical churches themselves (SANTOS, 2015). At international level, Peter
Berger argues that there is an articulation of evangelism analyzed in encounters held in the United
States to study the expansion of evangelism in the Pentecostal way (BERGER & HUNTINGTON, 2004).
In the domain of the geopolitics of the evangelical churches in Brazil, the sacred mixes with the profane,
almost in a natural way, for the interests of "Caesar" and the glory of "God above all." After all,
Machiavelli recommends that the "Prince", the ruler, must show the image of a religious man, even if it
is not the case. (MAQUIAVEL, 1998).
Keywords: evangelical churches, sacred, profane, geopolitics, presidential election
1 – Introdução
“Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João, 8:32). Eis o versículo
bíblico mais utilizado, dito repetidas vezes, pelo ”presidente evangélico eleito” em
outubro de 2018 para a República Federativa do Brasil.2
Até que ponto o “espaço sagrado” não se mistura com o “espaço profano”? Ou,
em outras palavras, até que ponto o espaço das religiões não se imbrica com o espaço
da política partidária?
2 Doravante utilizarei a expressão “presidente evangélico eleito” em referência ao Exmo. Sr. Presidente da República Federativa do Brasil, Jair Messias Bolsonaro, eleito em outubro de 2018. Os presidentes Café Filho – Presbiteriano – e Ernesto Geisel – Luterano -, chegaram à Presidência da República por via indireta.
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A Geografia, enquanto ciência, busca entender as inter-relações dos humanos
no espaço geográfico. Cada especialidade da Geografia se aprofunda em um
determinado aspecto da realidade geográfica (urbana, agrária, política, cultural, etc).
A meu ver, a especialidade da “geografia das religiões” (SANTOS, 2002) buscar
entender e explicar a dinâmica das populações religiosas no espaço geográfico, as
territorialidades das populações como manifestações do poder religioso sobre os
territórios. Nesse sentido, entendemos que o sagrado e o profano se misturam na
medida que existem as rivalidades de poderes e influências sobre as populações
religiosas nos territórios, isto é, existem as geopolíticas das igrejas (SANTOS, 2015).
O objetivo deste artigo é discutir, sucintamente, as relações entre sagrado e
profano na espacialidade das igrejas evangélicas no contexto das eleições
presidenciais no Brasil, em 2018. Nossa hipótese é que, por um lado, o sagrado é
vivido pelos crentes nos múltiplos lugares sagrados, isto é, nos templos ou igrejas
evangélicas e, por outro, o sagrado se mistura com o profano das rivalidades políticas
e disputas territoriais nos anos eleitorais, com especial destaque para as eleições
presidenciais no País.
Maquiavel, o clássico da ciência política, que no século XVI renegou a moral
cristã e preconizou que os “fins justificam os meios”, também recomenda ao Príncipe
ou ao governante que, para conquistar e se manter no poder – mesmo não possuindo
as cinco qualidades – o “Príncipe” deve passar a impressão de homem misericordioso,
sincero, íntegro, humanitário e religioso. Em suas palavras, “nada, aliás, se faz mais
indispensável do que passar a impressão de possuir esta última qualidade. ”
(MAQUIAVEL, 1998, p.102).
O presidente evangélico eleito foi batizado nas águas do rio Jordão, em Israel,
pelo Pastor evangélico Everaldo Pereira (PSC – Partido Social Cristão) da Igreja
Assembleia de Deus, em 12 de maio de 2016.
Figura 1 – Batismo de Jair Bolsonaro
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O batismo nas águas é um ato simbólico de forte significado sagrado. Aliás, se
levarmos em consideração o fundamentalismo no qual se apoiam os evangélicos –
em especial os pentecostais e neopentecostais – o batismo é sagrado e de forte
simbolismo especialmente no rio Jordão onde, conforme a Bíblia, Jesus foi batizado:
“Então Jesus veio da Galileia ao Jordão para ser batizado por João” (Mateus, 3:13).
O método para produção deste trabalho se concentra na reflexão crítica da
bibliografia que discute as relações entre religião e política, bem como, também se
apoia em trechos de discursos do presidente eleito, veiculados pela grande imprensa.
Ao utilizar trechos jornalísticos vale ressaltar que se faz necessário o pensamento
crítico no tocante aos cuidados científicos que se deve ter quanto à verdade ou não
dos mesmos, uma vez que, como sugere Milton Santos (2000), a globalização tem
suas fábulas e a sociedade dos humanos vem sendo impactada pela tirania do
dinheiro e da informação neste século XXI. De fato, não se pode negar os impactos
da tirania da comunicação (RAMONET, 2007).
Ao identificarmos o sagrado na espacialidade das igrejas evangélicas, não se
nega a existência do profano que se expressa com especial destaque nos anos
eleitorais para presidentes do Brasil. Por sua vez, a Frente Parlamentar Evangélica
no Congresso Nacional tem se apropriado do espaço público para a realização de
cultos religiosos-políticos na Câmara dos Deputados. A eleição de parlamentares
evangélicos tem se configurado como uma das estratégias da geopolítica das igrejas.
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Afinal, o sonho e a meta de eleger um presidente evangélico existe desde a década
de 1980 (SANTOS, 2015).
Segundo Huntington (1997), a religião se imiscui cada vez mais na política e
nas coisas públicas neste século XXI, tanto em nível nacional como em nível
internacional. Em nível internacional, Peter Berger advoga que existe articulação do
evangelismo com encontros realizados nos Estados Unidos para análises da
expansão do evangelismo ao modo pentecostal (BERGER & HUNTINGTON, 2004).
O fato de o atual presidente eleito em 2018 ter vencido as eleições com o lema
“Deus acima de todos” supostamente o legitimaria com o uso do sagrado, porém, para
atender interesses profanos. Com aceno ao eleitorado evangélico, o presidente
prometeu em campanha e tentou cumprir a promessa de transferência da Embaixada
brasileira de Tel-Aviv para a cidade sagrada de Jerusalém. Essa notícia foi
amplamente divulgada pelos maiores jornais da imprensa brasileira, como Folha de
S. Paulo, O Estado de S. Paulo, O Globo, no primeiro semestre de 2019.
No caso do Brasil, as evidências indicam que o lema “Deus acima de todos”,
utilizado nas eleições presidenciais de 2018, com a eleição do atual presidente da
República, expressa o simbolismo da mistura entre sagrado e profano na
espacialidade evangélica.
Em nome do sagrado os eleitores elegeram deputados federais evangélicos
que defenderam interesses profanos em esquemas de corrupção denunciados na CPI
das ambulâncias em 2006 (BATISTA, 2009). A partir das geopolíticas das igrejas
evangélicas, o sagrado tem conquistado cada vez mais os “profanos”, isto é, pessoas
convertidas, novos crentes que, por sua vez, contribuem para as ofertas e
pagamentos dos dízimos que tem gerados milhões para os cofres de empresas
evangélicas. Por outro lado, existem também as disputas profanas pelo sagrado entre
as próprias igrejas evangélicas, a exemplo das disputas entre a Igreja Universal e a
Igreja Mundial (SANTOS, 2015).
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Na espacialidade da geopolítica das igrejas evangélicas no Brasil, o sagrado
se mistura com o profano, quase de modo natural, para os interesses profanos de
“César” e supostamente para a glória de “Deus acima de todos”.
2 - O sagrado e o profano nas igrejas evangélicas
Segundo Mircea Eliade (2001), o sagrado e o profano constituem duas
modalidades de ser no mundo, duas situações existenciais assumidas pelo homem
ao longo da sua história. Sagrado é tudo que se refere às coisas divinas, à religião,
aos ritos ou cultos religiosos. Para os crentes - as pessoas religiosas, aqueles que
acreditam em Deus ou deuses - o sagrado é algo profundamente respeitável,
venerável, enfim algo santo, voltado para as coisas de Deus ou dos deuses. O que
não é sagrado só pode ser profano, ou seja, não pertence à religião, é contrário às
coisas sagradas. Profano, portanto, é tudo que diz respeito às coisas mundanas, em
detrimento das coisas espirituais, sagradas. A porta de entrada de uma igreja
representa o limiar que separa os dois mundos, o sagrado e o profano.
As igrejas são instituições sociais que administram a religião. E para Durkheim
(2004, p.79) “uma religião é um sistema solidário de crenças seguintes e de práticas
relativas a coisas sagradas, ou seja, separadas, proibidas; crenças e práticas que
unem na mesma comunidade moral, chamada igreja, todos os que a ela aderem”.
De acordo com a geógrafa Zeny Rosendahl (1996), um lugar sagrado é
controlado por uma autoridade religiosa que zela pela conservação dos aspectos
divinos, pela sacralidade do lugar. Nesse sentido, os templos das igrejas evangélicas
são lugares sagrado, porque são lugares controlados por uma autoridade religiosa,
um pastor evangélico, que zela pelos aspectos religiosos daquele lugar.
Contudo, a dicotomia entre sagrado e profano no espaço social muitas vezes
se rompe. A separação se dá muito mais numa tentativa de análise científica, porque
a realidade é muito mais complexa e desafiadora. E na espacialidade das igrejas
evangélicas - como, de modo geral, em todas as igrejas e religiões –, em certa
medida, o sagrado se mistura com o profano.
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Embora as igrejas evangélicas sejam lugares sagrados, seus líderes e seus
fiéis se relacionam com o mundo profano. Muitas vezes, as coisas profanas de “César”
são misturas com as coisas sagradas da religião.
De acordo com Max Weber (2004) a ação religiosa é uma ação racional, ou
pelo menos se orienta pelas regras da experiência, e está voltada para este mundo
(não para o além), sendo que seus fins são de natureza econômica. Na obra “A Ética
Protestante e o Espírito do Capitalismo”, Weber demonstra a importância fundamental
de certo protestantismo – o calvinismo – na formação do capitalismo, uma vez que a
doutrina calvinista da predestinação interpreta o êxito material como garantia da graça
divina.
É nessa perspectiva que na geografia das religiões no Brasil podemos
constatar dois aspectos que se relacionam: de um lado, o crescimento da população
evangélica – 6,2% (1980), 9,1% (1991), 15,4% (2000), 22,5% (2010) e estimativa de
31% (2020) – e, de outro, o crescimento da “bancada evangélica” de parlamentares
no Congresso Nacional, dos anos 1982 a 2018.
Figura 2 – Parlamentares evangélicos no Congresso Nacional
Parlamentares Evangélicos no Congresso Nacional
1982 1990 1998 2002 2006 2010 2014 2018
12 23 51 60 36 73 75 84
Fonte: DIAP – Depto. Intersindical de Assessoria Parlamentar- 2018
Como já constatamos, embora a ideologia político-religiosa fundamentalista
dos pentecostais e neopentecostais tenha contribuído enormemente para as eleições
de deputados evangélicos, os fatos revelam que muitos desses deputados não têm a
menor preocupação com a ética. Por exemplo, em 2006, no caso do escândalo de
corrupção “sanguessuga”, denunciado pelo Ministério Público Federal, dos 72
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parlamentares indiciados pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da máfia das
ambulâncias, 40% eram deputados evangélicos. (SANTOS, 2015).
3 – As igrejas evangélicas e o presidente evangélico eleito em 2018.
O batismo no rio Jordão, em Israel, do presidente evangélico eleito, teria sido
um ato simbólico sagrado ou um ato de profanação do sagrado?
Em que pese a opinião da jornalista Anna Virginia Balloussier (2018), da Folha
de S. Paulo, tentando, de uma lado, vincular o candidato à religião Católica e, de outro,
desvincular o presidente evangélico eleito da conversão à religião Evangélica pelo
batismo, porém, para muitos evangélicos pentecostais e neopentecostais, o batismo
realizado pelo Pastor Everaldo foi um ato sagrado sobre um homem político que viria
a ser um “ungido pelo Espírito Santo” para ser o presidente evangélico eleito pelo povo
de Deus, isto é, o povo das igrejas evangélicas. Essa afirmação foi veiculada pela
mídia evangélica, exemplo do jornal Gospel Prime:
Jair Messias Bolsonaro encontrou com o Messias Jesus Cristo. Em vídeo divulgado nas redes sociais, o deputado federal pelo Partido Social Cristão (PSC) e pré-candidato à presidência da República surpreendeu ao ser batizado por um pastor no rio Jordão, em Israel. (...) Bolsonaro até o momento não se identificava publicamente como evangélico. Ele é amigo de vários pastores, como Marco Feliciano, e Silas Malafaia. Sabe-se ainda que sua esposa é membro da Assembleia de Deus Vitória em Cristo no Rio de Janeiro. (Gospel Prime, 12 de maio, 2016).
Como se pode constatar no trecho acima, os leitores e fieis evangélicos
receberam a notícia afirmativa de que o homem político pré-candidato à presidência
da República se encontrou com Jesus, e foi batizado no rio Jordão por um pastor
evangélico. E a partir desse ato simbólico o pré-candidato passou a se identificar
publicamente como evangélico.
Em outro veículo de comunicação evangélica, no Guiame.com.br, a notícia do
batismo foi divulgada como verdadeira e com forte significado sagrado:
Na manhã desta quinta-feira, a jornalista Rachel Sheherazade publicou um vídeo em sua página oficial do Facebook, na qual mostra o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC - RJ) sendo batizado no Rio Jordão (Israel), após reconhecer a morte e ressurreição de Jesus Cristo.(...) Na postagem da jornalista, muitas pessoas declararam sua satisfação em ver a decisão do
parlamentar. (...) Antes de ser mergulhado nas águas do Jordão,
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Bolsonaro respondeu às perguntas do pastor Everaldo, reconhecendo a
morte e ressurreição de Jesus Cristo. (guiame-.com.br, 12 de maio, 2016).
Não se pode negar a vinculação do batismo do presidente evangélico eleito
com os votos dos eleitores evangélicos. De acordo com os dados estatísticos do
Datafolha, os votos dos eleitores evangélicos foram, de fato, o poder político religioso
decisivo para a vitória do presidente evangélico eleito em outubro de 2018, como se
pode constatar na tabela abaixo:
Figura 3 – Religião e votos dos eleitores para Presidente do Brasil - 2018
Os dados acima dos votos segundo as religiões demonstram que a diferença
entre os dois candidatos à presidentes, Bolsonaro e Haddad, de modo geral não foi
tão expressiva, com exceção aos votos dos evengelicos que representaram uma
diferença com mais de 10 milhões de votos a favor do presidente evangélico eleito.
Portanto, foram os votos dos eleitores evangélicos que deram a vitória ao candidato
que recebeu, do Pastor Everaldo Dias Pereira, da Assebleia de Deus, o batismo no
rio Jordão.
Além dos votos dos eleitores evangélicos, outro fator que corrobora para a
identificação do presidente evangélico eleito e convertido pelo batismo no rio Jordão
à religião Evangélica, tem sido o apoio explícito de líderes evangélicos como o pastor
Silas Malafaia, da Igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo, e o bispo Edir Macedo
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proprietário da Rede Record e presidente fundador da IURD – Igreja Universal do
Reino de Deus.
O cartograma “Populações evangélicas pentecostais no Brasil 2018”, a seguir,
demonstra que a região Nordeste concentra os menores índices de populações
evangélicas, podendo chegar até 7,6% como estimativa demográfica para o ano 2018,
enquanto que nas regiões Norte e Sudeste esses indices podem atingir até 31% de
população evangélica. Por outro lado, nessa região a popução católica atingiu até
mais de 90%, especialmente no estado do Ceará por influência da tradição religiosa
em devoção ao padre Cícero, em Juazeiro do Norte.
Figura 4 – Populações evangélicas pentecostais no Brasil - 2018
No cartograma “Eleição para presidente do Brasil – 2018”, a seguir, nota-se que
o presidente evangélico eleito perdeu em todos os estados da região Nordeste, na
qual a religião católica ainda é predominante.
Figura 5 – Eleição para Presidente do Brasil - 2018
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O presidente evangélico eleito, como gratidão ao seus seguidores religiosos do
segmento evengélico, tem sinalizado que não basta ter um presidente evangélico na
Presidência da República. Além da conquista do Poder Legislativo representado pelos
parlamentares evangélicos no Congresso Nacional, segundo o presidente evangélico
eleito, está na hora de conquistar também o Poder Judiciário com a indicação de um
Ministro evangélico para o STF – Supremo Tribunal Federal, como foi veiculada sua
opinião em vários jornais de grande poder na imprensa brasileira, a exemplo da Folha
de S. Paulo, O Globo, O Estado de S. Paulo e outros.
4- Considerações finais
Este artigo buscou refletir sucintamente a respeito das interfaces entre o
sagrado e o profano nas igrejas evangélicas e a eleição para presidente do Brasil em
2018. Com base nas tabelas e cartogramas revelando os dados da população
religiosa evangélica e a distribuição dos votos, podemos inferir que as igrejas
evangélicas e os votos de seus eleitores foram determinantes para a vitória do
primeiro presidente evangélico eleito de forma direta.
Embora seja polêmico e questionável, não se pode negar a verdade do fato de
que o presidente evangélico eleito recebeu o batismo, ato sagrado e simbólico, no rio
Jordão, realizado pelo Pastor Everaldo da Igreja Assembleia de Deus e presidente do
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PSC (Partido Social Cristão), em 12 de maio de 2016, quando era pré-candidato à
Presidência da República.
Se houve profanação do batismo, isto é, uma ação maquiavélica pautada na
máxima “os fins justificam os meios”, cabe aos eleitores evangélicos refletirem sobre
a crise moral na qual mergulhou o movimento evangélico brasileiro que desde a
década de 1990 vem revelando sinais de corrupção em nome das igrejas.
O Brasil é um País laico, isto é, segundo a Constituição Federal, um Estado de
Direito Democrático, embora com fortes fragilidades em suas instituições
especialmente no Congresso Nacional onde se consolidou a “bancada evangélica” ou
Frente Parlamentar Evangélica com mais de 80 parlamentares eleitos a partir da
geopolítica das igrejas (SANTOS, 2015).
Não se pode negar o sagrado nas igrejas evangélicas, uma vez que os templos
são lugares que reúnem uma comunidade com base na mesma moral religiosa. Por
outro lado, as evidências tem demonstrado inúmeros fatos de profanação, corrupção
e até assassinatos cometidos por pastores de igrejas, a exemplo do assassinato de
Mirele Souza, uma jovem mulher de 22 anos, mãe de uma criança de oito meses, que
foi morta em Mogi das Cruzes, em janeiro de 2019, segundo a Polícia Civil, a mando
do pastor Adir Neto Teodoro, da Assembleia de Deus do ministério do Belem (São
Paulo).
A meu ver, atualmente o Brasil passa por uma profunda crise moral. Crise essa
na qual o que era sagrado passou a ser contaminado pelo profano. Não se deve
confundir o conceito de “moral” do latim “mos”, com o conceito de Ética, do grego
“ethos” (carater, Bem Supremo, segundo Aristóteles). A Ética é a vigilante crítica de
toda e qualquer moral. Toda e qualquer pessoa tem moral, todo e qualquer ato é
moral, mas nem sempre é ético. Nesse sentido, a moral religiosa, supostamente
sagrada, está sendo corrompida pela política segundo a concepção de Maquiavel que,
no século XVI, preconizou o abandono da “moral cristã”.
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Se os políticos e seus partidos aplicam a máxima de Maquiavel, “os fins
justificam os meios”, para quem se preocupa com uma Geoética é, no mínimo,
desafiador pensar sobre a aparente e/ou frágil dicotomia entre o sagrado e o profano
na espacialidades das religiões e das religações e/ou reconexões para um caminho
do homem ético neste mundo complexo.
Referências
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Fontes eletrônicas
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/10/catolico-bolsonaro-investe-em-pauta-evangelica-e-
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https://www.gospelprime.com.br/jair-bolsonaro-batizado-rio-jordao. acesso em 01 de julho de 2019.
![Page 14: O SAGRADO E O PROFANO NAS IGREJAS EVANGÉLICAS E AS ......ou ao governante que, para conquistar e se manter no poder – mesmo não possuindo as cinco qualidades – o “Príncipe”](https://reader034.vdocuments.com.br/reader034/viewer/2022052015/602d5608e13915053c5cf1dc/html5/thumbnails/14.jpg)
https://guiame.com.br/gospel/videos/jair-bolsonaro-confessa-jesus-cristo-e-se-batiza-no-rio-jordao-
assista.html acesso em 01 de julho de 2019