o que se trabalha na psicomotricidade

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Infantário 62 Abril 2008 Abril 2008 63 Durante os primeiros anos, o movimento é essencial. N o infantário, mais que falar de ginástica ou de educação física (como se de- nomina a actividade física em etapas posteriores) devemos falar em psicomotricidade. O desenvolvimento psicomotor é fundamental nos primeiros anos de vida e, por isso, é trabalhado no infantário de modo sistemático. A psicomotricidade é uma disciplina que parte do cor- po e das suas habilidades motoras para atingir o de- senvolvimento psicológico global da criança. Desde que nasce, e até aos seis ou sete anos, as experiências mais enriquecedoras são as que obtém do seu próprio corpo. Mediante os seus movimen- tos e as suas acções sobre os objectos e as pessoas em seu redor, as crianças conhecem e compreendem o mundo que as rodeia. Assim, partindo do seu corpo e das suas expe- riências, vão construindo o seu pensamento. l O tónus é necessário para qualquer movimento. É regulado pelo sistema nervoso, mas necessita de aprendizagem. As crianças devem aprender a controlar a tensão muscular para que os seus movimentos sejam cada vez mais eficazes, precisos e adaptados à actividade que está a realizar. Até aos 3 anos: torres de argolas, cubos empilháveis, jogos de abrir e fechar, de enfiar e tirar; andarilhos e aranhas; caixas com formas geométricas, jogos de enroscar, construções, espelhos, escorregas, baloiços e balancés, bolas de diferentes tamanhos e texturas; argolas, cordas e ladrilhos de plástico ou madeira; centros de actividade, almofadas, telas, etc. Dos 3 aos 6 anos: instrumentos de ritmo, teatros de marionetas e fantoches, mosaicos, construções, bolas, arcos, cordas, discos para lançar, pintura de dedos, lápis de cor e de cera, impressões digitais com mãos e pés, tapetes túneis para gatinhar, livros e jogos para aprender a escrever, quadros para desenhar, bolichas, cestos… n Entre a escola e os pais devem existir redes de comunicação que lhes permitam trocar opini- ões sobre as distintas formas que as crianças têm de, dependendo da sua idade, explorar o seu cor- po, os objectos e o espaço. n O educador pode propor para casa jogos adequados ao momento evolutivo da criança. Não se trata de um programa de estimulação precoce, mas antes de brincar e desfrutar juntos, tendo em conta nunca forçar posturas ou movimentos. n Em casa, devemos criar um ambiente estimulante à volta da criança que lhe permita manipular materiais variados (água, barro, pintura) e facilitar-lhe a brincadeira ao ar livre para que desenvolva movimentos globais, assim como brincadeiras que potenciem a sua actividade manual. Mediante jogos e brincadeiras, ajuda-se as crianças a fazer deslocações autónomas, a realizar mudanças de postura coordenadas (estar sentado a pôr-se de pé não é tão fácil como parece), a que adquiram controlo sobre o impulso (não é o mesmo parar e encontrar um obstáculo e ter que se deter), a aumentar o equilíbrio, etc. Muito mais que ginástica n Construção do esquema corporal O esquema corporal é uma representação mental do próprio corpo, das suas partes e dos seus limites. As crianças não nascem com o seu esquema corporal construído (ao princípio, não se diferenciam do corpo da sua mãe), vão-no elaborando a partir das suas experiências motoras e sensitivas. O contacto físico, os espelhos e as massagens ajudarão. n A lateralidade n Tónus muscular n Coordenação corporal Ser destro ou canhoto não é uma questão de capricho, estando determinada pelos hemisférios centrais No infantário, devem estimular-se (sem forçar, nem contrariar) as duas mãos da criança (e as duas metades do corpo) para que seja ela a escolher a sua mão preferencial. n Habilidades manipulativas No início, as suas mãos são torpes e descoordenadas mas, pouco a pouco, a sua preensão sobre os objectos será mais fina, adquirirá destreza com a pinça digital (polegar e indicador) e poderão apanhar pequenos objectos. As brincadeiras com as mãos e dedos vão preparando a criança para uma grande aprendizagem: a escrita, que exige precisão de movimentos, coordenação olho-mão e uma preensão adequada. Todos os educadores estão qualificados para trabalhar a psicomotricidade, uma disciplina que, tal como a comunicação, envolve todas as áreas Motricidade grossa Está relacionada com as capacidades que permitem movimentos globais. As actividades dirigem-se no sentido das crianças conhecerem e controlarem pro- gressivamente o seu corpo, descobrindo todas as suas possibilidades e limitações. Brincando e desfrutando, irão adquirindo o controlo da postura (de pé, sentadas, de joelhos, deitadas); o equilíbrio tanto estático como dinâmico (quietas ou em movimento); as deslocações (voltas, gatinhar, saltos, marcha, corrida); a direcção do movimento (à frente, atrás, entre, abaixo, à volta); o controlo da tensão muscular, etc. Todas estas activi- dades podem fazer-se de mil maneiras divertidas: no chão, a ritmo rápido ou lento, com os olhos abertos ou fechados, em espaços livres, seguindo itinerários e trajectórias… Motricidade fina A motricidade fina faz referência àquelas habilidades que exigem maior precisão de movimentos, uma correc- ta coordenação olho-mão e destreza manipulativa com as mãos e os dedos. Experimentando e divertindo-se, irão – com a ajuda do educador - melhorando a sua habilidade para agarrar e segurar objectos (preensão) e aprenderão que cada dedinho se pode mexer de modo independente. Além disso, ir-se-ão acostumando a seguir atentamente com a vista tudo aquilo que fazem com as mãos. O que se trabalha na psicomotricidade Materiais para o desenvolvimento psicomotor Objectivos A psicomotricidade é tão importante no desenvolvimento global das crianças, que não podemos delegar totalmente na escola esta tarefa educativa. Os pais também devem estimulá-la

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Page 1: O que se trabalha na psicomotricidade

Infantário

62 Abril 2008 Abril 2008 63

Durante os primeiros anos, o movimento é essencial.

No infantário, mais que falar de ginástica ou de

educação física (como se de-nomina a actividade física em etapas posteriores) devemos falar em psicomotricidade. O desenvolvimento psicomotor é fundamental nos primeiros anos de vida e, por isso, é trabalhado no infantário de modo sistemático.

A psicomotricidade é uma disciplina que parte do cor-po e das suas habilidades motoras para atingir o de-senvolvimento psicológico global da criança. Desde que nasce, e até aos seis ou sete anos, as experiências mais enriquecedoras são as que obtém do seu próprio corpo. Mediante os seus movimen-tos e as suas acções sobre os objectos e as pessoas em seu redor, as crianças conhecem e compreendem o mundo que as rodeia. Assim, partindo do seu corpo e das suas expe-riências, vão construindo o seu pensamento. l

O tónus é necessário para qualquer movimento. É regulado pelo sistema nervoso, mas necessita de aprendizagem. As crianças devem aprender a controlar a tensão muscular para que os seus movimentos sejam cada vez mais eficazes, precisos e adaptados à actividade que está a realizar.

Até aos 3 anos: torres de argolas, cubos empilháveis, jogos de abrir e fechar, de enfiar e tirar; andarilhos e aranhas; caixas com formas geométricas, jogos de enroscar, construções, espelhos, escorregas, baloiços e balancés, bolas de diferentes tamanhos e texturas; argolas, cordas e ladrilhos de plástico ou madeira; centros de actividade, almofadas, telas, etc.

Dos 3 aos 6 anos: instrumentos de ritmo, teatros de marionetas e fantoches, mosaicos, construções, bolas, arcos, cordas, discos para lançar, pintura de dedos, lápis de cor e de cera, impressões digitais com mãos e pés, tapetes túneis para gatinhar, livros e jogos para aprender a escrever, quadros para desenhar, bolichas, cestos…

n Entre a escola e os pais devem existir redes de comunicação que lhes permitam trocar opini-ões sobre as distintas formas que as crianças têm de, dependendo da sua idade, explorar o seu cor-po, os objectos e o espaço.

n O educador pode propor para casa jogos adequados ao momento evolutivo da criança. Não se trata de um programa de estimulação precoce, mas antes de brincar e desfrutar juntos, tendo em conta nunca forçar posturas ou movimentos.

n Em casa, devemos criar um ambiente estimulante à volta da criança que lhe permita manipular materiais variados (água, barro, pintura) e facilitar-lhe a brincadeira ao ar livre para que desenvolva movimentos globais, assim como brincadeiras que potenciem a sua actividade manual.

Mediante jogos e brincadeiras, ajuda-se as crianças a fazer deslocações autónomas, a realizar mudanças de postura coordenadas (estar sentado a pôr-se de pé não é tão fácil como parece), a que adquiram controlo sobre o impulso (não é o mesmo parar e encontrar um obstáculo e ter que se deter), a aumentar o equilíbrio, etc.

Muito mais que ginástica

n Construção do esquema corporal O esquema corporal é uma representação mental do próprio corpo, das suas partes e dos seus limites.As crianças não nascem com o seu esquema corporal construído (ao princípio, não se diferenciam do corpo da sua mãe), vão-no elaborando a partir das suas experiências motoras e sensitivas. O contacto físico, os espelhos e as massagens ajudarão.

n A lateralidade

n Tónus muscular

n Coordenação corporal

Ser destro ou canhoto não é uma questão de capricho, estando determinada pelos hemisférios centrais No infantário, devem estimular-se (sem forçar, nem contrariar) as duas mãos da criança (e as duas metades do corpo) para que seja ela a escolher a sua mão preferencial.

n Habilidades manipulativas

No início, as suas mãos são torpes e descoordenadas mas, pouco a pouco, a sua preensão sobre os objectos será mais fina, adquirirá destreza com a pinça digital (polegar e indicador) e poderão apanhar pequenos objectos. As brincadeiras com as mãos e dedos vão preparando a criança para uma grande aprendizagem: a escrita, que exige precisão de movimentos, coordenação olho-mão e uma preensão adequada.

Todos os educadores estão qualificados para trabalhar a psicomotricidade, uma disciplina que, tal como a comunicação, envolve todas as áreas

Motricidade grossa Está relacionada com as capacidades que permitem

movimentos globais. As actividades dirigem-se no sentido das crianças conhecerem e controlarem pro-gressivamente o seu corpo, descobrindo todas as suas possibilidades e limitações. Brincando e desfrutando, irão adquirindo o controlo da postura (de pé, sentadas, de joelhos, deitadas); o equilíbrio tanto estático como dinâmico (quietas ou em movimento); as deslocações (voltas, gatinhar, saltos, marcha, corrida); a direcção do movimento (à frente, atrás, entre, abaixo, à volta); o controlo da tensão muscular, etc. Todas estas activi-dades podem fazer-se de mil maneiras divertidas: no chão, a ritmo rápido ou lento, com os olhos abertos ou fechados, em espaços livres, seguindo itinerários e trajectórias…

Motricidade finaA motricidade fina faz referência àquelas habilidades

que exigem maior precisão de movimentos, uma correc-ta coordenação olho-mão e destreza manipulativa com as mãos e os dedos. Experimentando e divertindo-se, irão – com a ajuda do educador - melhorando a sua habilidade para agarrar e segurar objectos (preensão) e aprenderão que cada dedinho se pode mexer de modo independente. Além disso, ir-se-ão acostumando a seguir atentamente com a vista tudo aquilo que fazem com as mãos.

O que se trabalha na psicomotricidade

Materiais para o desenvolvimento psicomotor

Objectivos

A psicomotricidade é tão importante no desenvolvimento global das crianças, que não podemos delegar totalmente na escola esta tarefa educativa. Os pais também devem estimulá-la