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9 Introdução Para escrever este livro, percorri uma longa jornada, repleta de trilhas instigantes e, ao mesmo tempo, esclarecedoras. As “sociedades secretas” logo despertaram minha curiosidade, deixando-me especialmente intri- gada com a enorme influência que elas exerceram e ainda exercem, ma- nipulando inclusive muitos acontecimentos históricos. Fiquei ainda mais atônita quando percebi que a maioria das pessoas sequer tem idéia de que essas organizações existem. E isso não se restringe somente às pessoas comuns. Muitos membros desse tipo de sociedade pouco sabem a respeito das ações do grupo ou desconhecem a agenda secreta da associação. À medida que pesquisava sobre o assunto, percebi que muita coisa já foi escrita sobre as sociedades secretas, embora muito pouco tenha sido de fato compreendido. E não é difícil entender o porquê disso: se essas sociedades permitissem o acesso irrestrito aos seus arquivos e a sua história, não seriam mais secretas; logo, não poderiam agir da maneira como preferem, ou seja, longe das nossas vistas. Mas, afinal, quais são os objetivos dessas associações? Ao nos depararmos com essa pergunta, a maioria de nós automatica- mente conclui que os propósitos desse tipo de organização não se baseiam em atitudes em prol da humanidade; afinal, se essa fosse a intenção, não haveria necessidade de se manterem tão enigmáticas. De fato, a palavra se- creto nos induz a conotações negativas, ligadas ao oculto, ao misterioso ou ao desconhecido – palavras em geral também associadas à mentira, ao terro- rismo, a armações e tramóias. A lista é extensa: tudo o que é secreto também nos leva a pensar em cultos misteriosos, adoração satânica, espionagem ou máfias dispostas a governar na base do poder ilimitado e do dinheiro sujo. A verdade é que não gostamos de ter as coisas escamoteadas de nós, e, quando descobrimos que elas o foram, ficamos bastante ressentidos. Contudo, não raro ignoramos o fato ou, simplesmente, agimos com indi- ferença a respeito – aliás, governos e organizações religiosas vêm há anos explorando esse tipo de atitude, comum à maior parte das pessoas. A falta

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Page 1: O que Francine começou - martinsfontespaulista.com.br · suficiente de medo, terrorismo, problemas de transporte, crises econômicas, guerras desnecessárias e perda de recursos

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Introdução

Para escrever este livro, percorri uma longa jornada, repleta de trilhas

instigantes e, ao mesmo tempo, esclarecedoras. As “sociedades secretas” logo despertaram minha curiosidade, deixando-me especialmente intri-gada com a enorme influência que elas exerceram e ainda exercem, ma-nipulando inclusive muitos acontecimentos históricos. Fiquei ainda mais atônita quando percebi que a maioria das pessoas sequer tem idéia de que essas organizações existem. E isso não se restringe somente às pessoas comuns. Muitos membros desse tipo de sociedade pouco sabem a respeito das ações do grupo ou desconhecem a agenda secreta da associação.

À medida que pesquisava sobre o assunto, percebi que muita coisa já foi escrita sobre as sociedades secretas, embora muito pouco tenha sido de fato compreendido. E não é difícil entender o porquê disso: se essas sociedades permitissem o acesso irrestrito aos seus arquivos e a sua história, não seriam mais secretas; logo, não poderiam agir da maneira como preferem, ou seja, longe das nossas vistas. Mas, afinal, quais são os objetivos dessas associações?

Ao nos depararmos com essa pergunta, a maioria de nós automatica-mente conclui que os propósitos desse tipo de organização não se baseiam em atitudes em prol da humanidade; afinal, se essa fosse a intenção, não haveria necessidade de se manterem tão enigmáticas. De fato, a palavra se-creto nos induz a conotações negativas, ligadas ao oculto, ao misterioso ou ao desconhecido – palavras em geral também associadas à mentira, ao terro-rismo, a armações e tramóias. A lista é extensa: tudo o que é secreto também nos leva a pensar em cultos misteriosos, adoração satânica, espionagem ou máfias dispostas a governar na base do poder ilimitado e do dinheiro sujo.

A verdade é que não gostamos de ter as coisas escamoteadas de nós, e, quando descobrimos que elas o foram, ficamos bastante ressentidos. Contudo, não raro ignoramos o fato ou, simplesmente, agimos com indi-ferença a respeito – aliás, governos e organizações religiosas vêm há anos explorando esse tipo de atitude, comum à maior parte das pessoas. A falta

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de informação leva ao desinteresse e, por fim, à aceitação... tudo que se precisa é de tempo. Com que freqüência somos bombardeados por no-tícias que serão esquecidas nos próximos meses? Escândalos políticos ou que envolvem celebridades da indústria do entretenimento são exemplos desse fugaz bombardeio de manchetes que logo cairão no esquecimento. Se, hoje, um esportista é flagrado no exame antidoping, amanhã – e nas semanas seguintes – os jornais publicarão versões do caso até esgotar to-das as possibilidades, relegando-o em seguida às páginas internas.

Ninguém que esteja fazendo algo escondido, de cunho secreto, anseia por atenção, ou pretende se expor ao grande público. Eis por que um livro como O Código Da Vinci, de Dan Brown, que fez referência a várias sociedades se-cretas, pode ser devastador para tais organizações. Embora O Código Da Vinci seja uma obra de ficção (com uma acurada pesquisa por trás dele), foi tão bem escrito que se tornou um sucesso mundial, mantendo as sociedades secretas sob os holofotes da sociedade. Com o despertar desse assunto, muitas obras de não-ficção também passaram a ser publicadas, vasculhando os porões dessas sociedades a fim de trazer à luz a verdade sobre elas… e é aí que eu entro.

O que Francine começouA maior parte dos livros que escrevi nasceu do trabalho que realizei

ao longo de cinqüenta anos em que atuei como médium, professora e pesquisadora, sempre dedicada a investigar não apenas as muitas fases da nossa vida, mas também a real natureza da espiritualidade, concen-trando-me em assuntos como profecias e religiões. Com este livro, não foi diferente. Eu e meu grupo de pesquisa esbarramos pela primeira vez com o assunto de forma bastante inocente cerca de trinta e sete anos atrás, graças ao meu espírito-guia Francine. Para quem não sabe, Fran-cine tem me acompanhado pela vida inteira. Embora eu seja capaz de ouvi-la, evito fazê-lo por um tempo muito longo. A voz costuma entrar pelo ouvido direito; desafinada, torna a comunicação difícil. Portanto, prefiro o estado de transe, de modo que Francine pode se expressar atra-vés do meu corpo, fornecendo informações ao meu grupo de pesquisa.

Mas, voltando à história sobre como tudo começou, um dia Francine deu início à sessão falando sobre o FBI e o controverso “reinado” de J. Edgar Hoover. Em seguida, passou ao debate sobre as sociedades secre-tas. Embora tivéssemos gravado, datado e arquivado essas informações para futura referência, eu especulava como afinal isso poderia algum dia

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ser usado. Aquilo tudo soava-me um pouco forçado e, até mesmo, um bocado perturbador. Todavia, o tempo apenas provou que meu espírito-guia era realmente bastante acurado naquilo que nos dizia.

Francine fez, por exemplo, algumas previsões muito graves sobre a situação política dos Estados Unidos. Lembro-me de, na hora, ter tido medo de que elas se concretizassem. Estávamos na década de 1970, muito antes do advento da internet e da média de um computador por lar –, e ela previu que os meios de comunicação seriam manipulados e afetados de tal maneira que seria possível fabricar bombas, regulamentar sistemas de saúde e transporte e instigar guerras num “apertar de teclas”. Alguém do grupo perguntou por quê, e ela simplesmente respondeu: “Para controlar e assumir o poder em escala mundial”. Francine ainda previu que os produtos americanos poderiam ser copiados por outras nações e, inclusive, aperfeiçoados. “Então, avisou ela, “irá se estabelecer uma luta sobre quem será a fonte de poder do planeta.”

Bem, parece que isso de fato aconteceu, como temos visto nas áreas de comércio e tecnologia, com cada vez mais nações competindo pelo domínio global. Embora todas provavelmente tenham começado com boas intenções, à medida que o poder crescia e os governos acumulavam mais dinheiro e mão-de-obra disponível, essas nações tornaram-se mais corruptíveis. Às vezes há uma linha tênue entre um líder benevolente e um tirano; com o aumento da competição pelos recursos – sejam eles naturais ou humanos – e pelo poder sobre a riqueza mundial, governos inteiros podem transigir ou fazer concessões desonrosas.

Francine foi ainda mais longe e previu a chamada “escassez de petró-leo”, dizendo que, se você conseguir impor na vida das pessoas uma dose suficiente de medo, terrorismo, problemas de transporte, crises econômicas, guerras desnecessárias e perda de recursos naturais, obterá uma nação com-placente e derrotada. E, meus caros, o que são os Estados Unidos agora?

A guia espiritual não só nos alertou sobre os terremotos políticos de hoje quase quarenta atrás, como também nos contou boa parte da informação que veio a aparecer em livros como O Código Da Vinci e O Santo Graal e a Linhagem Sagrada anos antes de eles serem publicados. Você pode especular por que não partilhei o que sabia na época. Tudo o que posso dizer é que naquele momento eu tinha outras prioridades. Estava muito ocupada com lições espirituais; confortando pessoas acerca do que acontece após a morte; ajudando indivíduos com suas vidas cotidianas; escrevendo e ministrando palestras sobre sonhos, anjos, o Outro Lado, Deus e assim por diante. Isso

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tudo era muito importante para mim, pois significava que eu estava ten-tando ajudar o máximo de pessoas que pudesse – e não me dedicando a disseminar informações que, a meu ver, teriam impacto limitado.

Com o advento de todas essas obras que tratam do relacionamento entre Jesus Cristo e Maria Madalena e do conhecimento confidencial que as sociedades secretas detinham sobre isso, acho que finalmente senti que era hora de pôr algumas coisas nos eixos. Também quis dar a meus leitores algum discernimento acerca do que essas associações secretas realmente fazem e como elas funcionam e afetam a todos nós. Para esse fim, en-quanto olhamos para cada um desses grupos, espero que o leitor tome sua própria decisão sobre eles. No mínimo, essas informações lhe abrirão uma fantástica janela para vislumbrar o comportamento humano!

O que essas organizações têm em comumMuitas sociedades secretas iniciaram um trabalho espiritual e tentaram

se manter “puras” nesse sentido; outras começaram como uma irmandande, sem estabelecer, no entanto, laços muito fortes, acabando por se desfazerem; algumas permaneceram, mantendo poder, riqueza e influência política. A única coisa que todas tinham em comum era o fato de terem sido formadas em nome de uma determinada causa. O trágico é que muitas dessas orga-nizações que começaram com a melhor e mais elevada das intenções, foram diluídas para dar lugar a cobiça, suborno e controle ilimitado.

As sociedades secretas também se assemelham na exigência de juramen-tos, sempre acompanhados pelas punições cabidas no caso de serem que-brados. Dependendo do grupo, os membros devem fazer o juramento em uma ou mais categorias, embora cada associação estipule votos específicos às suas necessidades. A seguir, são apresentadas algumas dessas categorias de juramento, de modo que você pode ter uma visão geral do assunto.

• O Juramento de Sigilo: Sob punição de morte ou excomunhão, os membros juram manter todos os segredos dentro da sociedade; como garantia, costumam doar dinheiro ou outros bens pessoais.

• O Juramento contra Divisão: Os membros prometem não se desviar dos ensinamentos do grupo, nem fundar suas próprias organizações com base naquela à qual prestaram juramento. Também juram tra-balhar sempre para o progresso da sociedade e não de si mesmos.

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• O Juramento da Obediência Absoluta: Os membros juram prestar total obediência aos regulamentos e à ordem da sociedade. Devem prestar homenagem ao chefe ou fundador e, com freqüência (mas nem sempre), seguir as leis do país.

• O Juramento de Honestidade: Nesse caso, ele juram que nunca con-tarão uma mentira sobre alguém da sociedade ou sobre a organização, prometendo viver dentro do grupo com honestidade e retidão.

• O Juramento de Apoio: Os membros juram dar apoio – moral, espiritual, ou mesmo financeiro – à sociedade. Isso pode até mesmo se estender ao relato de qualquer conduta insidiosa capaz de prejudicar a associação.

Punições

O castigo por quebrar quaisquer desses juramentos e outras regras internas varia de uma sociedade para outra e pode chegar ao ponto de o infrator ser submetido à palmatória. Muitas punições prevêem humi-lhação pública por excomunhão, de modo que os outros membros nunca mais manterão contato com o infrator, destituído de seu cargo e poder. Em algumas situações a punição pode se estender a um amigo íntimo do infrator, que, ocupando uma posição importante, também será des-tituído dela. Algumas penas são tão velhas e arcaicas que deixaram de ser usadas. Por exemplo, já foi relatado (mas não provado) que as ações disciplinares dos shriners prevêem a perfuração dos globos oculares e o esfolamento dos pés. Em casos extremos, a punição pode resultar em morte dos membros e suas famílias.

Outras similaridades

Quase todas as sociedades secretas parecem prestar homenagem a algum tipo de divindade ou sumidade, que vai de Deus até os lí-deres do grupo ou seu fundador. Em muitas organizações religiosas, por exemplo, os membros com freqüência rogam para que consigam cumprir seus votos, como modo de reverenciar o seu deus.

Além da pauta rotineira de trabalho, a maioria das associações secretas também adota certo grau daquilo a que podemos nos referir como magia.

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Não se fala aqui de bruxarias ou feitiçarias, mas de rituais que iniciam o indivíduo no grupo. Por exemplo, no livro The International Encyclopedia of Secret Societies and Fraternal Orders, Alan Axelrod declara:

Cada geração remodela a magia a seu bel-prazer. Para os romanos, uma vez famosos por sua tolerância religiosa, mas freqüentemente duros na repressão política, isso foi tratado como qualquer outro risco políti-co, tal como envenenamento, assassinato, rebelião e assim por diante. Para os cristãos, durante seu período de expansão, foi tratado como uma ameaça religiosa. Qualquer coisa que não se adequasse às normas do mundo era provavelmente “magia”.

Muitas dessas sociedades secretas adotaram símbolos supostamente mágicos, meros instrumentos para atrair um novo membro com rituais, cânticos, encantamentos e cerimônias que envolviam pentagramas, os-sos de corpos mortos e outros objetos – uma forma de preparar o inicia-do para ser aceito no grupo.

Embora algumas sociedades conhecidas até hoje tenham se iniciado de-pois do nascimento de Cristo, Francine diz que havia encontros similares na antiga Roma, Egito, Pérsia, Grécia e qualquer outro lugar onde as pessoas sentiam que não podiam viver ou prestar culto como desejavam. Se existe uma verdade concernente às sociedades secretas, é que não há nenhuma verdade absoluta, porque elas diferem naquilo que desejam realizar. Sejam elas políti-cas, religiosas ou místicas, fraternais ou criminosas, todas parecem alimentar a necessidade de manter certa informação longe do público em geral – talvez por medo, por proteção ou por uma causa ou missão a que estão dedicadas e que consideram importante para o aperfeiçoamento do gênero humano.

Às vezes, manter segredos ou pertencer a uma sociedade secreta faz os indivíduos se sentirem especiais, pois estão partilhando algo que a maioria das pessoas desconhece. À medida que dermos uma olhada mais atenta nessas organizações, você também verá quantas delas camuflam seus reais objetivos com a ajuda da arte, ocultando as pistas que levam ao desvendar os segredos que guardam. Ao longo dessa “visita” às sociedades secretas, você ainda saberá a minha opinião a respeito disso e tudo o que Francine me contou nos muitos anos de pesquisa aos quais me dediquei.

Como diz o ditado, quando o aluno estiver pronto, o professor apare-cerá. Como seu instrutor, tentei com muito empenho garantir que as re-velações que farei nas próximas páginas estejam isentas de preconceitos ou opiniões tendenciosas, reafirmando, porém, a veracidade dos fatos.

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Política versus religiãoQuase todas as sociedades secretas podem ser rastreadas e investi-

gadas sem grandes dificuldades, embora a quantidade e a qualidade das informações acerca de sua atuação dependam de quão herméticas ou se-cretas elas de fato sejam. É verdade que não existem tantas organizações desse tipo quanto existiam em séculos passados, e que elas parecem mais presentes em certos períodos da história do que em outros. Isso prova-velmente se deve à nossa atual conjuntura política e social. Os grupos secretos tendem a surgir em épocas difíceis, em que a liberdade deixa de ser um bem natural, por exemplo.

Como você está prestes a descobrir, enquanto alguns dos grupos mais poderosos sobreviveram, centenas de outros se dispersaram ou simples-mente desapareceram. Em geral isso aconteceu porque os objetivos do grupo tiveram vida curta, ou seja, eram restritos a determinada situação ou época. Sem ter mais por que lutar, a sociedade acabou se dissipando. Em alguns casos, os grupos ficavam órfãos de líderes, dispersando os membros, que perdiam o interesse pela causa.

Como mencionei, algumas sociedades secretas apareceram antes do nas-cimento de Cristo, mas muitas delas se originaram durante a Idade Mé-dia, em especial aquelas associações ligadas ao gênero místico ou religioso. Muitos desses grupos baseados na fé foram produtos das Cruzadas e da inflexível postura da Igreja católica, obcecada por esconder a verdade sobre o nascimento e a morte de Cristo, bem como o fato de que ele sobreviveu à crucificação. Como se vê, as religiões têm agenda fixa e esmagam qualquer um que se ponha no caminho de seus objetivos. O velho adágio sobre julgar os outros pelo que eles fazem e não pelo que dizem é particularmente ver-dadeiro aqui; em outras palavras, se figuras religiosas dizem “ama teu pró-ximo como a ti mesmo”, e depois cometem atrocidades contra esse mesmo próximo – extermindo-o, inclusive – para dar seguimento ao cronograma de trabalho instituído, elas certamente não estão fazendo o trabalho de Deus.

Assim, não é difícil perceber que as sociedades secretas mantiveram e mantêm ocultos segredos provavelmente relacionados com os dogmas religiosos, o poder e o dinheiro. (Ao contrário das organizações religio-sas, a maior parte das associações políticas só surgiu por volta do último século, graças à natureza cada vez mais global dos governos.) Anos atrás, Igreja e Estado eram unidos e trabalhavam em conjunto para controlar

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uma população ignorante, parecendo se separar em seguida... mas será que o fizeram realmente? Atualmente, enquanto muitos grupos secre-tos restringem-se a determinado domínio – à política ou à religião –, vários deles, porém, transitam pelas duas arenas. A Franco-Maçonaria, por exemplo, é uma organização fraterna que teve grande impacto no domínio político, embora também tenha muitas implicações religiosas.

Neste livro explicarei que muitas dessas sociedades possuem agendas similares, ao ponto de especialistas acharem que algumas delas juntam for-ças de tempos em tempos para acelerar seus objetivos. Também mostrarei quantas dessas organizações usaram diferentes alcunhas ou mudaram seus nomes por completo para evitar detecção ou perseguição. (Na prática, a troca de nome não causa impacto na estrutura da sociedade, apenas ajuda o grupo a sobreviver e preservar seus segredos.) Com freqüência, elas dissemina-ram informações falsas com o objetivo de não deixar rastros, ou utilizaram cortinas de fumaça para esconder suas atividades. Além disso, você vai ver neste livro que muitas dessas associações são ligadas a teorias conspiratórias e ações que parecem superar suas agendas particulares a longo prazo.

Quanto mais você pesquisar as sociedades secretas, mais descobrirá que de alguma forma elas se interligam, quase como dedos diferentes da mesma mão. Não obstante, decidi dividir este livro em três partes distintas. Embora haja alguma sobreposição entre os grupos, me detive separadamente nas sociedades políticas (Parte I) e religiosas (Parte II). Depois, na Parte III, vamos dar uma olhada atenta no lado escuro de todo esse segredo – como o medo e a intimidação têm sido utilizados por governos, religiões e organi-zações secretas durante séculos e por que são tão eficazes.

Existem centenas de grupos secretos, e de modo algum esperei cobrir todos num único livro. Em vez disso, tentei manter meu foco naqueles que estão sob a vista do público ou que poderiam ter impacto significativo na sociedade. (Vale ressaltar que a quantidade de informação sobre cada organização varia bastan-te, de modo que alguns capítulos serão bem mais longos do que outros.)

Não tenha medo de remexer essas pesadas rochas, que escondem grandes segredos; afinal, conhecimento é poder. Portanto, seja bem-vin-do ao mundo das sociedades secretas – prepare-se para descobrir o que elas têm tentado esconder com tamanho empenho por tantos anos.

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Parte ISociedades Políticas

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Crânio e Ossos

Essa famosa organização foi designada como “o sistema secreto dos Esta-dos Unidos” pelo autor Antony Sutton, mas é também conhecida como “Ir-mandade da Morte”, “a Ordem”, “Capítulo 322” ou simplesmente “Ossos”.

Por mais de cento e cinqüenta anos, a Crânio e Ossos esteve ativa na Universidade de Yale. Para alguns, a ordem é um ramo de outra sociedade secreta fundada em uma universidade alemã. Esse grupo teria um viés fas-cista e comunista, movido por uma filosofia hegeliana a “serviço do Estado”. Muitos teóricos da conspiração também acreditam que ela era a infame “Sociedade Thule” (cujos membros vieram a formar o Partido Nazista), que mantinha laços com os Illuminati (que serão tratados no Capítulo 11).

Aparentemente, o ramo americano desse grupo foi fundado em 1832, na Universidade de Yale, por William Russell, orador da formatura da turma, e seu colega Alphonso Taft. William era primo de Samuel Rus-sell, que fez fortuna contrabandeando ópio para a China, e que suposta-mente ficou amigo do líder da organização secreta alemã, ao passar dois anos estudando naquele país. É provável que tenha se envolvido tanto com os objetivos da tal organização que acabou obtendo permissão para formar uma “filial” nos Estados Unidos.

Mais tarde, William Russell elegeu-se deputado por Connecticut e general do exército. Seu parceiro, Alphonso Taft, foi logo depois no-meado procurador-geral dos Estados Unidos, secretário de Guerra e embaixador na Áustria-Hungria e na Rússia. Vale lembrar que William Howard Taft, filho de Alphonso, tornou-se o único homem a ser presi-dente da Corte Suprema e presidente dos Estados Unidos.

Bem, pelo que fui capaz de coletar durante a minha pesquisa, o Ca-pítulo 322 de Yale é o único nos Estados Unidos, embora alguns digam que existe outro na Virginia Commonwealth University, em Richmond. Seus membros também são conhecidos como “Ossos”, “Cavaleiros de Eulogia” e “Boodle Boys”, apelidos típicos de organizações fraternais universitárias... mas esse grupo parece ir além de seus objetivos.

Capítulo 1

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De um tapinha a presidente?A identidade daqueles que pertenceram à sociedade Crânio e Ossos

é presumidamente secreta, mas o grupo na verdade publicou listas de associados (mantidas na Biblioteca de Yale) até 1970. Só depois dessa época é que a associação foi de fato mantida em segredo, embora não isenta de vazamentos ao longo dos anos – um deles conseqüência de uma ruptura, e outro resultante de um membro descontente que deu uma lista de membros da sociedade a Antony Sutton em meados dos anos 1980. A associação é uma espécie de coluna de celebridades da Costa Leste, com membros da antiga nobreza e de famílias podero-sas que progrediram na política, no ramo bancário e empresarial. Três presidentes dos Estados Unidos (o já mencionado Taft, George H.W. Bush e George W. Bush) foram Ossos, por exemplo; o Bush filho in-clusive nomeou onze de seus velhos “companheiros de fraternidade” para cargos governamentais no seu primeiro mandato.

O ritual de iniciação no campus de Yale começa com um tapinha nas cos-tas, próximo ao final do ano letivo, uma vez que a organização só permite alu-nos do último ano do curso. São escolhidos quinze novos membros, e, embora se possa recusar o convite, é sempre uma honra ganhar um tapinha.

Só homens eram elegíveis até 1992; por meio de um referendo secreto entre os membros existentes (que foi significativamente bas-tante acalorado), diz-se que agora o grupo admite mulheres. Para ser considerada candidata, é útil que a mulher pertença a uma família dos Ossos; e que seja enérgica, ativa, política e rica. Na verdade, até mesmo para ser admitido em Yale, exige-se proeminência acadêmica ou influência familiar, de modo que a ordem pode obviamente pinçar candidatos entre a nata da sociedade americana.

Como a associação é composta apenas por alunos do último ano, pode-se presumir que a meta da Crânio e Ossos provavelmente tem mais a ver com uma agenda externa do que com a universidade ou a “irmandade”. Para esse fim, teóricos da conspiração com freqüência se reúnem com esse grupo, ligando-o com inúmeras outras organizações políticas secretas, tais como a Comissão Trilateral, o Conselho para Relações Exteriores, o Gru-po Bilderberg e os Illuminati (todas serão tratadas neste livro).

A Crânio e Ossos possui duas propriedades: seu prédio no campus de Yale, chamado “a Tumba”, que realmente é bastante amplo, e a Deer Island,

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um refúgio particular no rio São Lourenço. Claro que os dois locais são para uso exclusivo da ordem. A Tumba não tem janelas com vista para o campus; as paredes são de concreto, e dizem que abriga muitos cômodos, inclusive quartos de dormir. Segundo alguns que estiveram lá dentro, existe uma sala dedicada a William H. Taft e sua presidência, projetada quase como um santuário. Além disso, o relato de uma testemunha ocular, feito por uma in-tegrante de um grupo de mulheres de Yale convidadas para uma visita guia-da por um membro “dissidente”, alegou que havia outra sala aparentemente dedicada ao regime nazista alemão, incluindo uma seção de “memorabilia”. A testemunha relatou o seguinte:

Havia grande quantidade de cômodos, uma seqüência deles. Eram quartos de dormir coligados e havia essa monumental sala de jantar com diversos rolos das canções da Crânio e Ossos pendurados no teto. E havia uma sala de memorabilia do presidente Taft cheia de panfletos, pôsteres e buttons. A sala toda parecia um santuário de Miss Havisham . Havia ainda uma grande sala de estar com um lindo tapete, e no corredor uma grande e luxuosa escultura de marfim. Tudo era enorme, em escala medieval. A coisa mais chocante – e digo isso porque acho que é importante, quero dizer, o presidente Bush pertencer à Crânio e Ossos, todo mundo sabe disso – é que existe um pequeno santuário nazista lá dentro. Uma sala do segundo andar tem um monte de suásticas, uma espécie de iconografia SS-macho-nazista. Alguém deveria perguntar ao presidente Bush sobre as suásticas de lá – não creio que ele dirá que não existem. Acho que irá dizer: “Oh, não era nada importante, era apenas uma pequena sala”. O que não acho que seja verdade e que não acharia tranqüilizador, de qualquer modo. Não penso que ele ne-garia por completo, porque é verdade. Quero dizer, creio que a parafernália nazista não era mais grave do que os ossos que havia em toda parte, mas continuo achando um pouco desconcertante.

Os iniciados na ordem, segundo relatos, têm que deitar nus num caixão e contar sua história sexual para os outros candidatos – se isso é uma indução ino-fensiva ou se tem propósitos de chantagem, ninguém realmente sabe. Os inicia-dos recebem nomes que carregarão pelo resto da vida. Por exemplo, o nome do presidente Bush (o filho) é “Temporário” (faça disso o uso que desejar).

Além de presidentes, houve pelo menos vinte e oito senadores ou con-gressistas que pertenceram à ordem, incluindo James Buckley, Prescott Bush, John Chaffee, Thomas Ashley, Jonathan Bingham, David Boren, Thurston Morton, Robert Taft e John Kerry. Vários outros serviram como membros de gabinete em vários governos (tal como William A. Harriman), e a maio-ria de nós sabe do envolvimento de George H.W. Bush com a CIA.

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Algumas das famílias tradicionais americanas tiveram vínculos com a ordem por meio da filiação de um ou mais de seus descendentes, incluindo as famílias Whitney, Perkins, Stimson, Taft, Gilman, Wadsworth, Payne, Davidson, Pillsbury, Sloane, Weyerhaeuser, Harriman, Rockefeller, Lord, Brown, Bundy, Bush e Phelps. Sim, são nomes que você vê em marcas por todo o mundo, dirigindo enormes corporações bancárias e industriais ou assumindo a liderança na arena política. Como se pode perceber, fazer parte desse clube significa equiparar-se à elite do planeta.

Por ser uma organização secreta, os membros da Crânio e Ossos prestam juramentos de que não vão revelar nada sobre a sociedade ou sua filiação a ela. Por exemplo, tanto George W. Bush quanto John Kerry negaram-se a dizer uma só palavra sobre a ordem em entrevistas recentes, e muito menos a citam em seus dados biográficos. Uma vez que o grupo só aceita algo em torno de quinze membros por ano, é provável que existam apenas qui-nhentos a seiscentos membros vivos a cada determinado período, e a maior parte dos especialistas diz que cerca de um terço desses indivíduos trabalha ativamente pelo grupo. É também postulado por muitos que esses membros ativos estão profundamente envolvidos na política e em grandes negócios – já se disse que alguns até mesmo estiveram ligados ao narcotráfico e a diversos escândalos tais como Irã-Contras, Watergate, o assassinato de JFK e nefandos acordos com a China e a União Soviética.

Não importa se, para você, a Crânio e Ossos é uma poderosa socie-dade secreta ou uma simples agremiação estudantil; não há como ne-gar o fato de que seus membros são pessoas extremamente influentes e causaram impacto em assuntos de escala mundial. Se quiser ler mais sobre a ordem, recomendo os seguintes livros:

• Fleshing Out Skull & Bones: Investigations into America’s Most Powerful Secret Society, de Kris Millegan et al.;

• America’s Secret Establishment: An Introduction to the Order of Skull & Bones, de Antony Sutton;

• Secrets of the Tomb: Skull and Bones, the Ivy League, and the Hid-den Paths of Power, de Alexandra Robbins.