o que é sílica

27
1 - O que é Sílica? O termo sílica refere-se: aos compostos de dióxido de silício, SiO2, nas suas várias formas incluindo sílica cristalina; sílica vítrea e sílicas amorfas. O dióxido de silício, SiO2, é o composto binário de oxigênio e silício mais comum, sendo inclusive composto dos dois elementos mais abundantes na crosta da Terra. A sílica e seus compostos constituem: cerca de 60% em peso de toda a crosta terrestre. Os depósitos de sílica são encontrados universalmente e são provenientes de várias eras geológicas. A maioria dos depósitos de sílica que são minerados para obtenção das "areias de sílica" consiste de quartzo livre, quartzitos, e depósitos sedimentares como os arenitos. Sílica é um material básico na indústria de vidro, cerâmicas e refratários, e é uma importante matéria prima na produção de silicatos solúveis, silício e seus derivados carbeto de silício e silicones. Pela sua abundância na crosta terrestre, a sílica é 1 1

Upload: gualmada

Post on 29-Jun-2015

10.516 views

Category:

Documents


2 download

TRANSCRIPT

Page 1: O que é Sílica

1 - O que é Sílica?

O termo sílica refere-se: aos compostos de dióxido de silício, SiO2, nas suas várias formas incluindo sílica cristalina; sílica vítrea e sílicas amorfas.O dióxido de silício, SiO2, é o composto binário de oxigênio e silício mais comum, sendo inclusive composto dos dois elementos mais abundantes na crosta da Terra. A sílica e seus compostos constituem: cerca de 60% em peso de toda a crosta terrestre.

Os depósitos de sílica são encontrados universalmente e são provenientes de várias eras geológicas. A maioria dos depósitos de sílica que são minerados para obtenção das "areias de sílica" consiste de quartzo livre, quartzitos, e depósitos sedimentares como os arenitos. Sílica é um material básico na indústria de vidro, cerâmicas e refratários, e é uma importante matéria prima na produção de silicatos solúveis, silício e seus derivados carbeto de silício e silicones.Pela sua abundância na crosta terrestre, a sílica é largamente utilizada como constituinte de inúmeros materiais. Desta forma, trabalhadores podem ser expostos à sílica cristalina em uma grande variedade de indústrias e ocupações.

1

1

Page 2: O que é Sílica

1.2 - Ramos de atividade onde pode ocorrer exposição ocupacional a sílica livre cristalina.

No Quadro 1 apresentam-se exemplos de indústrias, operações e atividades específicas onde pode ocorrer exposição ocupacional a sílica livre cristalina. Sílica cristalina refere-se a um grupo mineral no qual a sílica assume uma estrutura que se repete regularmente, isto é uma estrutura cristalina.

Oito diferentes arranjos estruturais (polimorfos) do SiO2 ocorrem na natureza, no entanto sete dentre esses são mais importantes nas condições da crosta terrestre: a - quartzo, cristobalita, tridimita, moganita, keatita, coesita e stishovita.

As três formas mais importantes da sílica cristalina, do ponto de vista da saúde ocupacional são o quartzo, a tridimita e a cristobalita. Estas três formas de sílica também são chamadas de sílica livre ou sílica não combinada para distingui-las dos demais silicatos.

Quartzo tridimita cristobalita

2

2

Page 3: O que é Sílica

1.3 -ONDE MORA O PERIGO

Mineração (minas e pedreiras); Construção civil (perfuração de túneis e poços, corte de azulejos); Cerâmicas (para construção, artística e refratária); Indústria naval (jateamento); Fundições, indústrias metalúrgicas e siderurgia (jateamento, rebarbação, moldagem, sinterização); Fabricação de vidro, abrasivos e massas e adesivos para vedação; Beneficiamento de areia monazítica;

Ainda: construção e demolição de fornos, certas operações com fibras de vidro, rebolos e outros tipos de abrasivos.

3

3

Page 4: O que é Sílica

1.4 -Quadro especifico 1

Indústria/atividade Operação específica/tarefa Fonte do material

AgriculturaAragem, colheita, uso de máquinas

Solo

Mineração e operações relacionadas ao beneficiamento do minério

A maioria das ocupações (em baixo da terra, superficial, moinho) e minas (metal, não metal, carvão)

Minérios e rochas associadas

Lavra/extração e operações relacionadas com o beneficiamento do minério

Processo de trituração de pedra, areia e pedregulho, corte de pedra, abrasivo para jateamento, trabalho com ardósia, calcinação da diatomita

Arenito, granito, pedra, areia, pedregulho, ardósia, terras diatomáceas, pedra.

ConstruçãoAbrasivos para jateamento de estrutura, edifícios. Construção de alto estrada e túneis.Escavação e movimentação de terra.Alvenaria, trabalho com concreto, demolição.

Areia e concreto. Rocha solo e rocha concreto, argamassa e reboque.

Vidro incluindo fibra de vidro

Vidro incluindo fibra de vidroAreia, quartzo moído material refratário.

CimentoProcessamento da matéria prima

Argila, areia, pedra calcaria, terras diatomáceas.

AbrasivosProdução de carbeto de silício fabricação de Produtos Abrasivos

Areia, tripoli e arenito

Cerâmicas, incluindo tijolos, telha, porcelana sanitária, porcelana, olaria, refratários, esmaltes vitrificados.

Misturas, moldagem, Cobertura vifriticada ou esmaltada, acabamento.

Argila, pedra, areia "Shale"Quartzito, terras diatomáceas.

Fabricação de ferro e aço

Fabricação (manipulação) de refratários e reparos em fornos

Material refratário

Silício e ferro-silício Manuseio de matérias primas AreiaFundições (ferrosos e não ferrosos)

Fundição da peça, choques para retirada da peça do molde. Limpeza da peça que encontra-se com areia

Areia , Material refratário.

4

4

Page 5: O que é Sílica

aderida na superfície. Uso de abrasivo. Operações de alisamento/aplainamento. Instalação e reparo de fornos.

Produtos de metal, incluindo metal estrutural, maquinaria, equipamento de transporte.

Abrasivo para jateamento Areia

Borrachas e plásticos Manuseio de matéria primaFunis alimentadores (tripoli, terras diatomáceas)

Tintas Manuseio de matéria prima

Funis alimentadores (trípoli, terras diatomáceas, sílica flour)

Sabões e cosméticosSabões abrasivos, pós para arear

Sílica flour

Asfalto e papelão alcatroado

Aplicação como enchimento e granulado

Areia e agregado, terra diatomáceas.

Substâncias químicas para a agricultura

Trituração e manuseio de matérias primas.

Minérios e rochas fosfáticas

JoalheriaCorte, esmerilhar, polimento, lustramento

Gemas semi-preciosas ou pedras, abrasivos

Material dental Areia abrasiva, polimento Areia, abrasivosReparos de automóveis

Abrasivo para jateamento Areia

Escamação de "boiler""Boiler" com queima de carvão

Cinza e concreções.

5

5

Page 6: O que é Sílica

1.5 - Matérias-primas que contém sílica

Agalmatolito

Aplicações: Fabricação de fritas, esmaltes (vidrados), tintas serigráficas e na composição de algumas massas.

Andalusita - Cianita - Silimanita

Aplicações: Fabricação de refratários aluminosos e também para a produção de alguns tipos de porcelana.

Argila

Aplicações: As argilas apresentam uma enorme gama de aplicações, tanto na área de cerâmica como em outras áreas tecnológicas. Pode-se dizer que em quase todos os segmentos de cerâmica tradicional a argila constitui total ou parcialmente a composição das massas. De um modo geral, as argilas que são mais adequadas à fabricação dos produtos de cerâmica vermelha apresentam em sua constituição os argilominerais ilita, de camadas mistas ilita-montmorilonita e clorita-montmorilonita, além de caulinita, pequenos teores de montmorilonita e compostos de ferro. As argilas para materiais refratários são essencialmente cauliníticas, devendo apresentar baixos teores de compostos alcalinos, alcalino-terrosos e de ferro; podendo conter ainda em alguns tipos a gibbsita (Al2O3. 3H2O). As argilas para cerâmica branca são semelhantes às empregadas na indústria de refratários; sendo que para algumas aplicações a maior restrição é a presença de ferro e para outras, dependendo do tipo de massa, além do ferro a gibbsita. No caso de materiais de revestimento são empregadas argilas semelhantes àquelas utilizadas para a produção de cerâmica vermelha ou as empregadas para cerâmica branca e materiais refratários.

Bauxito

Aplicações: O bauxito é uma importante matéria-prima para obtenção de alumina (óxido de alumínio), que é indispensável para a produção de alumínio metálico, alguns compostos químicos, grãos abrasivos, materiais refratários e outros produtos cerâmicos. Abaixo são dados exemplos de produtos obtidos de composições constituídas, total ou parcialmente, de bauxito:

hidróxido de alumínio, alumina calcinada e sulfato de alumínio, cimento aluminoso, grãos eletrofundidos marrons destinados à indústria de abrasivos (lixas, rebolos,

etc) e de materiais refratários,

6

6

Page 7: O que é Sílica

mulita sintética escura

materiais refratários. Neste caso os bauxitos devem ter baixos teores de ferro e sílica e são utilizados após calcinação na faixa de 1450 ºC a 1800 ºC.

Calcita

Aplicações em massas calcárias em teores de até 30%. Apesar de proporcionar corpos de

elevada porosidade e, portanto baixa resistência mecânica tem a vantagem de apresentar corpos de baixa contração linear na queima, o que é conveniente para muitas aplicações;

em pequenas quantidades (até 3%), como fundente auxiliar e para minimizar o problema de trincas; em massas para produção de corpos vítreos e semivítreos;

na composição de fritas e esmaltes (vidrados);

na fabricação de cimento aluminoso.

Dolomita

Aplicações:

em massas calcárias em teores de até 30%, tendo comportamento semelhante ao da calcita;

na fabricação de materiais refratários, isolada ou em mistura com a magnésia;

na composição de fritas e esmaltes (vidrados)

Filitos Cerâmicos

Aplicações: Em massa de grês sanitário como substitutos parciais da fração argilosa e do feldspato, além de serem empregados em várias proporções para aumentar a velocidade de sinterização de massas cerâmicas de faiança para louça de mesa, placas cerâmicas e alguns tipos de refratários.

Grafita

Aplicações: Em cerâmica é utilizada principalmente no segmento de refratários para confecção de cadinhos, válvulas, tampões e em teores menores na confecção de inúmeros produtos, entre eles, magnésia-carbono e alumina-carbeto de silício-carbono.

Magnesita

Aplicações: Na fabricação de materiais refratários, após ser submetida à calcinação em elevadas temperaturas ou à eletrofusão, quando se obtém o sinter ou grãos eletrofundidos de magnésia (MgO). A partir deles são obtidos inúmeros produtos como: magnesianos, magnesianos-cromíticos, cromíticos-magnesianos, magnésia-carbono, espinélio, entre outros e diversos tipos de massas.

7

7

Page 8: O que é Sílica

Materiais Fundentes

Fundentes são materiais com elevado teor de álcalis (K2O e Na2O) que, quando presentes em uma composição cerâmica, reduzem a temperatura de queima e a porosidade do produto. Estas duas condições são importantes para produtos como os de cerâmica vermelha, cerâmica branca e materiais de revestimento (placas cerâmicas), uma vez que além de baixar o custo, reduzem a absorção de água e aumentam a resistência mecânica.

No caso de produtos de cerâmica vermelha, fabricados somente a partir de argilas que queimam com cores avermelhadas, não há necessidade de se adicionar materiais fundentes, uma vez que as argilas empregadas contêm álcalis. Por outro lado, no caso de cerâmica branca e de muitos produtos de revestimento (placas cerâmicas) que, por serem produtos mais elaborados que devem apresentar características determinadas, na composição da massa, junto às várias matérias-primas utilizadas, em geral refratárias, adicionam-se materiais fundentes.

No Brasil o feldspato e o filito, descritos anteriormente, são os fundentes mais tradicionais; no entanto o ceramista está sempre em busca de novos materiais e mais recentemente têm sido empregados outros materiais como fonolito e alguns tipos de rochas potássicas. Estas matérias-primas têm uma ação fundente mais enérgica que o feldspato e que o filito, em razão do menor teor de sílica e elevado teor de álcalis. A sericita existente no Paraná, muitas vezes comercializada como filito, também está sendo utilizada para este fim, pelo seu elevado teor de potássio. Ressalta-se que a possibilidade de utilização dessas matérias-primas depende do tipo de produto a ser fabricado.

Pirofilita

Aplicações: Em massas de azulejos e em algumas massas de louça de mesa, mas devido a sua baixa plasticidade não pode entrar em quantidades maiores que 40% em massas plásticas. Entra também na composição de massas de isoladores elétricos e de alguns tipos de refratários.

Quartzo

Aplicações:

em massas de cerâmica branca e de materiais de revestimento, sendo um dos componentes fundamentais para controle da dilatação e para ajuste da viscosidade da fase líquida formada durante a queima, além de facilitar a secagem e a liberação dos gases durante a queima,

na fabricação de isolantes térmicos em composições de vidro e esmaltes (vidrados)

na fabricação de materiais refratários.

Andalusita - Cianita - Silimanita

Na prática comercial há uma grande confusão quanto à terminologia desses minerais,

8

8

Page 9: O que é Sílica

sendo que muitos países adotam erroneamente o termo silimanita ou cianita para designar indistintamente os três minerais.

Aplicações: Fabricação de refratários aluminosos e também para a produção de alguns tipos de porcelana.

Talco

Aplicações: Como constituinte principal (60% a 90%) em massas para a fabricação de

isoladores elétricos de alta freqüência. Este tipo de corpo é conhecido como esteatita.

Na composição de massas cordieríticas, que tem como característica principal o baixo coeficiente de dilatação térmica.

Em quantidades de até 15%, em massas de corpos porosos para melhorar a resistência mecânica e reduzir as trincas devido à absorção de umidade.

Como fundente, substituindo parcialmente o feldspato em massas para a fabricação de corpos semivítreos e vítreos.

Na composição de esmaltes (vidrados).

Wollastonita

Aplicações: Empregada principalmente na área de materiais de revestimentos, também utilizada na formulação de esmaltes (vidrados)

Zirconita

Aplicações: Fabricação de materiais refratários e esmaltes (vidrados). Além disso, ela é a principal fonte para obtenção do óxido de zircônio.

1.6 - O que é a silicose?

9

9

Page 10: O que é Sílica

1.6.1 - Definição

A silicose (CID J62) é definida como uma pneumoconiose caracterizada pela inalação de poeiras contendo partículas finas de sílica livre cristalina (quartzo, SiO2

cristalizada) e deposição no pulmão, com reação tissular decorrente causando uma fibrose pulmonar difusa de evolução progressiva e irreversível. Pode levar anos para se manifestar clinicamente, porém com a progressão das lesões, há uma redução da complacência pulmonar e limitação às trocas gasosas, o trabalhador queixa-se de dispnéia (falta de ar) aos esforços e astenia (fraqueza). Nas fases mais avançadas da doença aparece falta de ar em repouso e tosse, às vezes com catarro. Apesar de ser mais frequente na sua forma crônica, a doença pode se apresentar de três formas: A) Aguda – Normalmente relacionada à exposição maciça de sílica livre como nas operações de jateamento de areia ou moagem de quartzo. Surge nos cinco primeiros anos de exposição, os sintomas aparecem mais precocemente, em especial uma intensa dispnéia, perda de peso e hipoxemia. O trabalhador tem sobrevida em torno de um ano. B) Subaguda (ou acelerada) – As queixas surgem entre cinco e dez anos de exposição intensa à poeira e as alterações radiológicas são de rápida evolução. O aparecimento de falta de ar e tosse é precoce e limitante. Associa-se a um risco aumentado de co-morbidades, notadamente a tuberculose e doenças auto-imunes. Esta forma é observada comumente em cavadores de poços e em atividades que envolvam exposição intensa à poeira. C) Crônica – Geralmente se apresenta após dez anos de exposição. As alterações radiológicas (opacidades nodulares) tendem a surgir antes dos sintomas clínicos e evoluem com a progressão da doença. Os sintomas aparecem nas fases tardias.

1.6.2 - COMO A SÍLICA AGE NO PULMÃO

10

10

Page 11: O que é Sílica

Cada grão de sílica que chega aos pulmões provoca uma pequena cicatriz e fica preso lá. De grão em grão, o pulmão vai endurecendo.

Na radiografia (chapa) dos pulmões começarão a aparecer imagens brancas que vão ficando cada vez maiores. A silicose costuma surgir depois de alguns anos de trabalho.

1.6.3 - COMO PREVENIR A SILICOSEEVITAR A EXPOSIÇÃO

11

11

Page 12: O que é Sílica

É perfeitamente possível trabalhar sem ter que respirar sílica. Para isso as empresas devem:

SUBSTITUIR os materiais que têm sílica por outros (por exemplo, jateamento de areia pode ser substituído pelo jateamento com outros produtos ou água pura);

UMIDIFICAR (molhar) a perfuração das rochas, torneamento, lixamento e outras operações a seco, impedindo que a poeira fique no ar;

LAVAR OU LIMPAR COM ASPIRADOR: não limpar piso, máquinas e bancadas com vassouras ou ar comprimido;

INSTALAR EXAUSTORES para capturar a poeira no ponto em que ela se forma e impedir que o pó se espalhe pelo ar;

SEPARAR com paredes e vedações os locais que produzem poeira dos demais setores;

ISOLAR a máquina ou aquela parte onde se produz poeira do resto do local de trabalho.

O limite de tolerância da legislação é de 0,1mg/m³, que significa ambiente insalubre. NÃO QUER DIZER QUE SEJA SEGURO.

Pelo contrário, trabalhar neste nível de exposição por 30 anos pode causar silicose em até 10% dos trabalhadores. Se houver muita hora extra este risco pode aumentar muito.

1.6.4 - Fatores que contribuem para o aumento do risco de silicose:

12

12

Page 13: O que é Sílica

Fatores que contribuem para o aumento do risco de silicose: Concentração de poeira de sílica,

Superfície e tamanho da partícula (as menores do que 1 μm é mais tóxicas),

Duração da exposição,

Tempo decorrido desde o início da exposição,

Presença de outros minerais/metais na poeira respirável,

Forma de sílica cristalina (o quartzo é mais freqüente, mas a tridimita e cristobalita são mais tóxicas),

Tempo decorrido desde a quebra das partículas (partículas recém quebradas possuem maior número de radicais livres na superfície, que seriam responsáveis por um maior estímulo à produção de substâncias oxidantes). Como ocorre em perfuração de poços e jateamento de areia,

Atividades que exigem grandes esforços físicos aumentam as trocas gasosas e a inalação de sílica,

Atividades físicas em grandes altitudes,

Uso de equipamento de proteção que esteja com filtro impregnado de sílica na região respiratória,

Susceptibilidade individual.

1.6.5 - Diagnóstico

13

13

Page 14: O que é Sílica

O diagnóstico da sílica se baseia em 3 pontos: história ocupacional de exposição à sílica, história clínica e radiografia simples de tórax.

Métodos diagnósticos: - História ocupacional detalhada, visando à identificação de exposição às poeiras contendo sílica livre cristalina.

- História clínica com sintomas ausentes ou com presença de sintomas que, em geral, são precedidos pelas alterações radiológicas. A sintomatologia da silicose é a dispnéia aos esforços com astenia, em função da redução da complacência pulmonar e da restrição das trocas gasosas pela fibrose das paredes dos alvéolos.

- Radiografia simples de tórax interpretada de acordo com os critérios da Organização Internacional do Trabalho (OIT) (ILO, 2000). Esta é, em geral, suficiente para estabelecer o diagnóstico de silicose. A tomografia computadorizada (TC) de alta resolução do tórax fica reservada para os casos de dúvida quanto ao quadro clínico ou radiológico, em função de sua maior sensibilidade.

Ainda não existe tratamento específico eficaz para a silicose no que se refere à contenção da progressão do quadro, nem no que se refere à cura ou reversão das lesões. A conduta adequada no caso de suspeita de silicose é o afastamento da exposição.

1.6.6 - Câncer de Pulmão

14

14

Page 15: O que é Sílica

A Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC) da Organização Mundial de Saúde (OMS) considera a sílica livre cristalina inalada como um cancerígeno do Grupo 1, isto é, definitivamente cancerígeno para seres humanos . Estudos epidemiológicos mostram que há maior risco de desenvolvimento de câncer de pulmão em silicóticos do que em não silicóticos, e há evidências demonstrando que o persistente processo de inflamação dos pulmões gera substâncias oxidantes que resultam nos efeitos genotóxicos no parênquima pulmonar. Segundo a IARC (1997) o aumento do gradiente de risco foi observado em relação à dose, a exposição cumulativa, a duração da exposição ou a presença de silicose definida radiologicamente. Atualmente, um Grupo de Trabalho reafirmou a carcinogenicidade da poeira de sílica cristalina e o aumento do risco de câncer de pulmão para várias indústrias e processos de trabalho (Straif et al, 2006). O mecanismo do câncer pela exposição à sílica se dá pela clearance de partículas fraturadas levando a ativação de macrófagos e persistente inflamação (Straif et al, 2006). A revisão de Steeland (2001) demonstrou em estudos de Coortes que a exposição acumulativa por 15 anos foi um forte e crescente preditor de câncer de pulmão, particularmente em minas subterrâneas onde o risco aumentou de forma linear com o aumento de exposição, variando de 1,0 a 1,6 vezes. O risco de câncer de pulmão para trabalhadores expostos a 0,1mg/m3 de sílica livre respirável foi 1,7 vezes. O risco de trabalhadores em geral expostos à sílica apresentarem câncer de pulmão é 2,1 vezes comparados aos não expostos e, entre os trabalhadores com silicose, o risco aumenta para 2,8 vezes (Wong 2002). O risco estimado de óbito por silicose após 45 anos de exposição a 0,1 mg/m3 de sílica é de 13 por 1.000 (Mannetje et al. 2002).

1.6.7 - Outros agravos à saúde

15

15

Page 16: O que é Sílica

A silicose, ou a exposição à sílica, atual ou antiga, aumenta o risco de desenvolvimento de Tuberculose Pulmonar e Extra Pulmonar. Os silicóticos podem apresentar um risco até 40 vezes maior do que a população em geral. A maior susceptibilidade à tuberculose parece ser conseqüência de uma combinação de fatores, destacando-se um possível efeito químico da sílica sobre o crescimento bacilar, a toxicidade macrofágica e uma maior permanência dos bacilos no tecido pulmonar por dificuldade na drenagem linfática. Além da tuberculose, a silicose pode estar associada a outro mico bacterioses não-tuberculosas, limitação crônica do fluxo aéreo, bronquite crônica e enfisema pulmonar. Estudos também apontam uma maior incidência de doenças auto-imunes decorrentes da exposição à sílica, como esclerodermia, artrite reumatóide, lúpus eritematoso sistêmico e vasculite com comprometimento renal, independente da presença de silicose . Outros ainda apontam aumento de risco para insuficiência renal crônica, como conseqüência de glomerulonefrite ou nefrite intersticial, entre indivíduos expostos à sílica.

2 - Exposição ocupacional

16

16

Page 17: O que é Sílica

A exposição ocupacional dá-se por meio da inalação, pelo trabalhador, de poeira contendo sílica livre cristalizada.

Poeira é toda partícula sólida de qualquer tamanho, natureza ou origem, formada por trituração ou outro tipo de ruptura mecânica de um material original sólido, suspensa ou capaz de se manter suspensa no ar. Essas partículas geralmente têm formas irregulares e são maiores que 0,5 μm

 O local de deposição das partículas no sistema respiratório humano, Figura 2 depende diretamente do tamanho das partículas:

Figura 2

as inaláveis - partículas menores que 100 μm, são capazes de penetrar pelo nariz e pela boca;

as torácicas - partículas menores que 25 μm, são capazes de penetrar além da laringe;

as respiráveis - partículas menores que 10 μm, são capazes de penetrar na região alveolar.

 

17

17

Page 18: O que é Sílica

As poeiras podem ser classificadas de várias formas. No entanto, a classificação quanto ao tamanho da partícula, têm importância fundamental quando se trata de poeira que contem sílica, pois a avaliação do risco de se desenvolver silicose depende da quantidade de sílica livre cristalizada inalada e depositada na região dos bronquíolos respiratórios e alvéolos pulmonares. Os fatores determinantes são: a concentração atmosférica de fração respirável de poeira e seu teor de sílica livre cristalina, duração da exposição do trabalhador e a suscetibilidade individual.

2.1 - Efeitos tóxicos

18

18

Page 19: O que é Sílica

Os efeitos tóxicos sobre o organismo humano devido à exposição às poeiras contendo sílica livre cristalina dependem de uma série de variáveis:

tipo de exposição: composição da fração respirável, concentração de poeira ambiental, concentração de sílica livre cristalina, outros minerais presentes na fração respirável, tamanho da partícula e o tempo de exposição;

tipo de resposta orgânica: integridade do sistema mucociliar e das respostas imunológicas; concomitância de outras doenças respiratórias; hiperreatividade brônquica.

O caminho que as partículas de poeira percorrem dentro do sistema respiratório é constituído pelo nariz, boca, faringe, laringe, árvore traqueobronquial e alvéolos pulmonares, e se depositam em diferentes regiões dependendo do seu diâmetro aerodinâmico. Em situações normais, o aparelho respiratório intercepta a maioria das partículas inaladas, através da ativação dos mecanismos de defesa e restauração. Entretanto, essa capacidade de auto-proteção e reparo de danos tem um limite. Durante a exposição ocupacional, a deposição excessiva de poeira, provocada pela inalação freqüente e contínua desse agente, causa diversos efeitos adversos dentro do aparelho respiratório. Na região traqueobronquial a presença da poeira estimula um aumento na produção de muco para auxiliar o trabalho de condução dos cílios ali existentes na remoção das partículas. A estimulação prolongada das células e das glândulas de secreção do muco pode induzir a hipertrofia dessas estruturas.

As partículas que penetram além do bronquíolo terminal são rapidamente ingeridas por células chamadas macrófagos, cuja função é destruir material estranho. Alguns dos macrófagos, com suas partículas ingeridas, são transportados sobre a lâmina mucociliar. Outros macrófagos morrem, liberando partículas, substâncias ativas e restos celulares, que são ingeridas por novos macrófagos, e esse processo são repetidos indefinidamente. A vida do macrófago sob circunstâncias normais é medida em termos de semanas ou talvez um mês ou mais. Sua vida é encurtada se a partícula ingerida é especialmente tóxica, como é o caso da sílica livre cristalina, que devido às suas propriedades de superfície, mata o macrófago em um período de horas ou dias. Partículas de poeira que se alojam nos alvéolos estimulam o recrutamento e acúmulo dos macrófagos nessa área provocando reações do tecido pulmonar. Estudos têm demonstrado um aumento nos indicadores

de inflamação principalmente nos pulmões de pessoas silicóticas. A formação de colágeno acompanha a inflamação prolongada ou crônica na maioria dos órgãos do corpo. É uma parte da familiar formação de cicatriz nos tecidos, que pode agir tanto sobre a pele como dentro do pulmão. A fibrose pulmonar é uma seqüela comum da inflamação pulmonar crônica. Além disso, as células do pulmão que estão em contato com o ar, possuem uma alta taxa de reposição ou renovação, onde as células com a superfície parcialmente danificada são rapidamente trocadas por células novas. Devido à rápida regeneração das

19

19

Page 20: O que é Sílica

células do pulmão, há provavelmente maior vulnerabilidade às alterações carcinogênicas pela presença da poeira. Com base em todas as considerações anteriores, pode-se antecipar que a poeira depositada nos pulmões pode induzir:

pequena ou nenhuma reação; hiperprodução de muco e hipertrofia das glândulas de secreção de

muco, recrutamento de macrófagos; proliferação crônica ou reação inflamatória; fibrose; câncer

3.2 - LIMITES DE EXPOSIÇÃO

20

20

Page 21: O que é Sílica

QUADRO 4 – Prevalência de Silicose no Brasil, segundo estudos nacionais.

Prevalência (%) Setor Econômico Tipo de estudo Autor3,5 Pedreira Seccional Franco,1978 3,9 Indústria

Cerâmica Estudo de Prevalência em Indústria Cerâmica

Oliveira,1988

13,5 Borracharias Estudo de caso Souza Filho, 1992 23 Construção Civil

e Construção e Reparo Naval – Rio de Janeiro

Busca ativa de dados

Comissão técnica estadual de pneumopatias, 1995

40,6 Cavadores de poço - Ceará

Intervenção em comunidade

Holanda, 1995

5 Fundição Busca ativa de dados

Polity, 1995

3,9 Marmoraria de São Paulo

Seccional Freitas, 2002

53,7 Escultores de pedra

Seccional Antão, 2004

16,3 Pedreiras Seccional /Araújo, 2004

21

21