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O que é comunicação? É fruto da necessidade que o homem tem de viver em sociedade e modificar o meio ambiente à sua volta. Ato de comunicar, passar uma informação ou uma mensagem, uma necessidade básica da pessoa humana. A comunicação é a essência do nosso funcionamento. Ela não existe por si mesma como algo separado da sociedade. Sociedade e comunicação são uma coisa só. A comunicação foi o canal pelo qual os padrões de vida de nossa cultura nos foram transmitidos, pelo qual aprendemos a ser membros da sociedade. A comunicação serve para que as pessoas se relacionem entre si, transformando- se mutuamente na realidade que as rodeiam. Por ela, as pessoas compartilham experiências idéias e sentimentos. De fato, ela é um processo multifacético que ocorre ao mesmo tempo em vários níveis, como parte orgânico no processo dinâmico da própria vida. É um produto funcional da necessidade humana de expressão e relacionamento. É próprio da comunicação contribuir para a modificação do significado que as pessoas atribuem às coisas. A comunicação colabora na transformação das crenças, valores e comportamentos, pois é uma interação social através de mensagens, que só são emitidas porque o homem precisa se relacionar com o mundo e só consegue isso através da comunicação. Na visão de David Berlo, nosso objetivo básico como seres humanos é alterar as relações originais entre o nosso próprio organismo e o ambiente em que nos encontramos. Especificando mais: o nosso objetivo é reduzir a probabilidade de que sejamos simplesmente um alvo de forças externas e aumentar a probabilidade de que exerçamos força nós mesmos. Tornarmo-nos agentes influentes, afetarmos os outros, nosso ambiente físico e nós próprios. Em suma, nos comunicamos para influenciar. Objetivos específicos da comunicação 1. Persuasão 2. Informação 3. Entretenimento 4. Educação/Conscientização O quem da comunicação Qualquer situação de comunicação humana compreende a produção de uma mensagem por alguém e a recepção dessa mensagem por alguém. Escreve-se para alguém ler, pinta-se para alguém ver, fala-se para alguém ouvir. O comunicador pretende afetar uma pessoa ou um grupo. Todavia, sabemos que às vezes a mensagem pode ir mais além. Afetar mais gente em alguns momentos e em outros momentos pode não atingir ninguém.

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O que é comunicação?

É fruto da necessidade que o homem tem de viver em sociedade e modificar o

meio ambiente à sua volta. Ato de comunicar, passar uma informação ou uma

mensagem, uma necessidade básica da pessoa humana.

A comunicação é a essência do nosso funcionamento. Ela não existe por si

mesma como algo separado da sociedade. Sociedade e comunicação são uma coisa só.

A comunicação foi o canal pelo qual os padrões de vida de nossa cultura nos

foram transmitidos, pelo qual aprendemos a ser membros da sociedade.

A comunicação serve para que as pessoas se relacionem entre si, transformando-

se mutuamente na realidade que as rodeiam. Por ela, as pessoas compartilham

experiências idéias e sentimentos. De fato, ela é um processo multifacético que ocorre

ao mesmo tempo em vários níveis, como parte orgânico no processo dinâmico da

própria vida. É um produto funcional da necessidade humana de expressão e

relacionamento. É próprio da comunicação contribuir para a modificação do significado

que as pessoas atribuem às coisas.

A comunicação colabora na transformação das crenças, valores e

comportamentos, pois é uma interação social através de mensagens, que só são emitidas

porque o homem precisa se relacionar com o mundo e só consegue isso através da

comunicação.

Na visão de David Berlo, nosso objetivo básico como seres humanos é alterar as

relações originais entre o nosso próprio organismo e o ambiente em que nos

encontramos. Especificando mais: o nosso objetivo é reduzir a probabilidade de que

sejamos simplesmente um alvo de forças externas e aumentar a probabilidade de que

exerçamos força nós mesmos. Tornarmo-nos agentes influentes, afetarmos os outros,

nosso ambiente físico e nós próprios. Em suma, nos comunicamos para influenciar.

Objetivos específicos da comunicação

1. Persuasão

2. Informação

3. Entretenimento

4. Educação/Conscientização

O quem da comunicação

Qualquer situação de comunicação humana compreende a produção de uma

mensagem por alguém e a recepção dessa mensagem por alguém. Escreve-se para

alguém ler, pinta-se para alguém ver, fala-se para alguém ouvir. O comunicador

pretende afetar uma pessoa ou um grupo. Todavia, sabemos que às vezes a mensagem

pode ir mais além. Afetar mais gente em alguns momentos e em outros momentos pode

não atingir ninguém.

O como da comunicação

Tomada uma decisão sobre o alvo da comunicação (O Quem) permanece a

questão: como pretende a fonte afetar o comportamento do recebedor, que espécie de

efeito quer produzir? Essa questão precisa ser analisada pelo menos de dois pontos de

vista. Podemos situar nossas intenções em objetivo consumatório e objetivo

instrumental. A posição ao longo desse contínuo é determinada pela resposta à seguinte

pergunta: Em que grau o objetivo desta mensagem é atingido no momento de sua

consumação, ou em que grau sua consumação é apenas instrumental na produção de

outro comportamento.

Por objetivo consumatório, entende-se que o indivíduo utiliza ou “consome” a

mensagem no instante imediato ao estabelecimento da comunicação. A informação é

aproveitada automaticamente.

Por objetivo instrumental, entende-se que o indivíduo armazena uma informação

recebida para aproveitá-la apenas mais tarde ou até mesmo num futuro distante. A

informação fica arquivada e é utilizada apenas no momento necessário, útil ou

apropriado.

O Processo de Comunicação

Um processo é qualquer fenômeno que apresente contínua mudança no tempo ou

qualquer operação ou tratamento contínuo. Os acontecimentos e as relações são

dinâmicas, em evolução, sempre em mudança.

Quando chamamos algo de processo, queremos dizer também que não tem um

começo, um fim, uma seqüência fixa de eventos. Não é coisa estática, parada. É móvel.

Os ingredientes do processo agem uns sobre os outros. Cada um afeta todos os demais.

Quando procuramos falar ou escrever sobre um processo - como o de

comunicação - enfrentamos dois problemas. Primeiro, temos de paralisar a dinâmica do

processo, tal como paramos o movimento quando tiramos uma fotografia. Podemos

fazer observações bem úteis por meio de fotografia, mas erraremos se esquecermos que

a câmara não é a reprodução completa dos objetos fotográficos. As inter-relações entre

os elementos são obliteradas; a fluidez do movimento, a dinâmica, paralisam-se. O

retrato é a representação do acontecimento. Não é o acontecimento.

O segundo problema da descrição do processo decorre da necessidade do

emprego da linguagem. Ao empregar-se a linguagem para descrever um processo,

precisamos escolher certas palavras, temos de como congelar de algum modo o mundo

físico. Além disto, temos de dispor certas palavras primeiro e outras depois. As línguas

ocidentais vão da esquerda para a direita, de cima para baixo. Todas vão da frente para

trás, do começo para o fim - mesmo sabendo que o processo que estamos descrevendo

pode não ter esquerda e direita, ápice e base, começo e fim.

Modelo de comunicação

O interesse pela comunicação tem produzido muitas tentativas de criar modelos

do processo - descrições, relações de ingredientes. Naturalmente, estes modelos

diferem. Nenhum pode ser tido como correto ou verdadeiro. Uns podem ser mais úteis

que outros, alguns podem corresponder mais que outros ao presente estado de

conhecimento sobre comunicação.

Na retórica, Aristóteles disse que devemos olhar para três ingredientes na

comunicação: quem fala, o discurso e a audiência. Quis dizer que cada um desses

elementos é necessário à comunicação e que podemos organizar nosso estudo do

processo sobre três títulos:

1. a pessoa que fala;

2. o discurso que faz;

3. a pessoa que ouve.

A maioria dos atuais modelos de comunicação são similares ao de Aristóteles,

embora um tanto mais complexos. Um dos modelos contemporâneos mais usados foi

elaborado em 1947 pelo matemático Claude Shannon e pelo engenheiro eletricista

Warren Weaver. Shannon e Weaver nem mesmo tratavam da comunicação eletrônica.

Mas mesmo assim, os cientistas do contemporâneo julgaram o modelo Shannon e

Weaver útil na descrição da comunicação humana.

O modelo de Shannon-Weaver possui os seguintes ingredientes:

1. a fonte;

2. a mensagem;

3. o canal;

4. o destinatário.

A fonte: toda a comunicação humana tem alguma fonte, uma pessoa ou um

grupo de pessoas com um objetivo (idéias, necessidades, intenções, informações), uma

razão para empenhar-se em comunicação.

A mensagem: Na comunicação humana, a mensagem existe em forma física - a

trdução de idéias, objetivos e intenções num código, num conjunto sistemático de

símbolos.

O canal: é o meio através do qual se transmite a mensagem. Pode ser um

intrumento humano ou uma extensão dos sentidos humanos.

O destinatário: se falamos, alguém deve ouvir. Quando escrevemos, alguém

deve ler. A pessoa na outra extremidade do canal pode ser chamada de recebedor da

comunicação, o alvo da comunicação.

Há dois outros elementos incluídos opcionalmente: o codificador e o

decodificador.

Para traduzir seus objetivos num código, toda fonte precisa de um codificador.

E, para retraduzir, para decifrar esta mensagem e pô-la em forma que possa usar, o

destinatário precisa de um decodificador.

fonte codificador mensagem canal decodificador

recebedor

Ruídos no processo de comunicação

Havendo um objetivo a comunicar e uma resposta a obter, o comunicador espera

que sua comunicação seja a mais fiel possível. Por fidelidade, queremos dizer que ele

obterá o que quer. Um decodificador de alta fidelidade é o que traduz a mensagem para

o recebedor com total exatidão. Ao analisar a comunicação interessa-nos determinar o

que aumenta ou reduz a fidelidade do processo.

Shannon e Weaver, falando sobre fidelidade de comunicação, introduziram o

conceito de ruído. Ruído é todo o fator que distorce a qualidade de um sinal.

Ruído e fidelidade são as duas faces da mesma moeda. A eliminação do ruído

aumenta a fidelidade. A produção do ruído reduz a fidelidade. Parte da literatura da

comunicação fala em ruído, parte em fidelidade.

Há pelo menos quatro espécies de fatores, dentro da fonte, que podem aumentar

a fidelidade:

1. habilidades comunicadoras;

2. atitudes;

3. nível de conhecimento;

4. sistema cultural-social.

1. Habilidades comunicadoras: há cinco habilidades verbais na comunicação.

Duas são codificadoras: a escrita e a palavra. Duas são decodificadoras: leitura e

audição. A quinta é crucial tanto para a codificação como para a decodificação, é o

pensamento ou raciocínio.

Como codificadores-fontes, os nossos níveis de habilidade comunicativa

determinam de duas formas a fidelidade de nossa comunicação. Primeiro, afetam a

nossa capacidade de analisar nossos próprios objetivos e intenções, de dizer alguma

coisa quando nos comunicamos. Segundo, afetam a nossa capacidade de codificar

mensagens que exprimam o que pretendemos.

2. Atitudes: as atitudes de uma fonte de comunicação afetam os meios pelos

quais ela comunica. é a maneira como a fonte e o recebedor se posicionam durante o

processo de comunicação.

A postura negativa da fonte reflete-se quando ela não acredita que vai conseguir

o seu objetivo.

Você não quer sair comigo, não é? O senhor não quer comprar nada, não é?

Um repórter, um redator, um publicitário recebe a incumbência de produzir uma

mensagem. Se ele não acredita nas idéias, será difícil para ele comunicar efetivamente.

As atitudes da fonte para com o recebedor afetam também a comunicação.

Quando a fonte aceita ou não rejeita o recebedor a fidelidade será muito maior.

3. Nível de conhecimento: ninguém é capaz de comunicar aquilo que não sabe.

Ninguém comunica com a máxima efetividade material o que não conhece; de outro

lado, se a fonte sabe demais, se é ultra-especializada, poderá errar pelo fato de suas

habilidades comunicadoras serem empregadas de maneira tão técnica que o recebedor

acabe não entendendo.

4. Sistema cultural-social: nenhuma fonte comunica como livre agente, sem ser

influenciada por sua posição no sistema cultural-social. Cada pessoa tem um papel no

sistema social, desempenha determinadas funções, possui um prestígio e um status que

ela própria e outras pessoas lhe atribuem.

Um norte-americano não comunica da mesma forma em que faz um indonésio.

Japoneses e alemães podem codificar mensagens iguais para exprimir objetivos

amplamente diversos.

Um capitão do exército fala de um modo quando dirige-se a sargentos e de outro

modo quando fala à coronéis.

Um líder sindical fala de um modo à gerência e de outro aos seus companheiros

de sindicato.

Um vice-presidente de uma companhia fala de um jeito à secretária e de forma

diferente à esposa ou ao presidente da empresa.

Em relação à mensagem, há três fatores que interferem no processo da

comunicação:

1. código;

2. conteúdo;

3. tratamento.

Código: um código pode ser definido como qualquer grupo de símbolos capaz

de ser estruturado de maneira a ter significação para alguém (é o vocabulário mais a

síntaxe). O idioma português é um código. O idioma francês é outro código. A música

tem um código específico. A pintura envolve outro tipo de codificação. A propaganda

possui sua própria linguagem. Os programas de TV e rádio também.

Conteúdo: é o material da mensagem, escolhido pela fonte para exprimir seu

objetivo. É vital para a maior ou menor fidelidade do processo.

Tratamento: ao apresentar a mensagem que exprima seu objetivo, a fonte

seleciona uma ou outra peça de informação, um ou outro conjunto de afirmações, um ou

outro conjunto de evidências. Pode dispor o conteúdo desta ou daquela forma. Pode

repetir parte dele. Pode resumir todo ele, no fim. Pode deixar parte dele para que o

recebedor a complete, caso queira fazê-lo.

Enfim, podemos definir o tratamento da mensagem como sendo as decisões que

a fonte de comunicação torna a selecionar e dispor tanto o código como o conteúdo.

4. Funções da comunicação

Além dos Meios e Mensagens

Juan Diaz Bordenave

(1983)

Considerada a comunicação como processo de interação humana que se

realiza mediante signos organizados em mensagens, é oportuno perguntar: Quais são

suas funções? Para que serve a comunicação na sociedade?

Talvez a função mais básica da comunicação seja a menos freqüentemente

mencionada: a de ser o elemento formador da personalidade. Sem a comunicação, de

fato, o homem não pode existir como pessoa humana.

Um caso histórico ilustra este fato induvidável. Em 1797, em um

bosque da França, uns caçadores capturaram um meninos de uns 12 anos, totalmente nu,

que vivi no mato como uma fera selvagem. As expectativas dos curiosos, que

esperavam que ele falasse alguma língua primitiva (houve alguns que até esperavam que

falasse hebreu), foram malogradas. Era uma criatura suja, cheia de cicatrizes, que

trotava e grunhia como um animal, comia o lixo mais imundo e mordia e arranhava

todos os que dele se aproximavam. Em Paris, o “Selvagem de Aveyon” foi exibido em

uma jaula, onde ele incessantemente caminhava nas extremidades dos pés e das mãos,

cheirando tudo que lhe era dado para comer e não aceitava alimentos cozidos.

Um médico tomou a criança aos seus cuidados e se

propôs a ensinar-lhe a falar. A tarefa levou anos e o menino chegou a aprender algumas

palavras e a conduzir-se como um jovem civilizado. Entretanto, o educador teve que se

convencer de que o moço era subnormal e não podia ultrapassar certos limites mínimos

de inteligência e habilidade.

A subnormalidade da criança selvagem explica-se pelas

descobertas de Jean Piaget, para quem a inteligência humana só se desenvolve quando é

estimulada; porém os estímulos devem corresponder a determinadas etapas de

desenvolvimento da inteligência, uma das quais coincide com a aparição da capacidade

da linguagem. Se, nessa etapa, ninguém fala com a criança, nem sua linguagem nem sua

inteligência são desenvolvidas. A comunicação, portanto, é fundamental para a

formação da personalidade normal.

Aliás, o filósofo norte-americano George Herbert Mead já

afirmava que a mente e a personalidade emergem na experiência social por meio da

comunicação. Segundo Mead, “por meio da linguagem, o indivíduo torna-se um objeto

para si mesmo, no mesmo sentido em que os outros são objetos para ele, e, desta

maneira, suas experiências sociais não são só privadas e psíquicas”. Para Mead, o

indivíduo humano é uma pessoa somente porque pode tomar a atitude de outro para

com ele.

“A sociedade existe na comunicação e por meio da

comunicação, porque é através do uso de símbolos significativos que nos apropriamos

das atitudes de outros, assim como eles, por sua vez, se apropriam de nossas atitudes”.

Isto quer dizes que a personalidade é um produto social, gerado graças à interação com

as demais pessoas.

Em outras palavras, a comunicação tem uma função de

identidade.

É por esta e por outras razões que Ruesch e Bateson

acham que a comunicação é a matriz da psiquiatria e que muitos psicólogos clínicos

acreditam que a maioria das desordens mentais de que sofremos são desordens de

comunicação.

Em síntese, a comunicação constrói a pessoa. Toda

família, organização ou sociedade que reprima o diálogo e desconfirme os homens pela

indiferença radical, está conspirando contra a normal formação das personalidades.

Outra função essencial da comunicação também com

frequência esquecida, é a função expressiva. As pessoas não só desejam e precisam

receber comunicação, participar na comunicação, mas ainda mais basicamente desejam

expressar suas emoções, idéias, temores e expectativas. A pessoa quer sair do seu

mundo interno, do fechamento em si mesmo, e exteriorizá-lo quer por meio de uma

simples conversação, expressão corporal, poesia, quer pelo canto ou a dança, pelo ritual

e a liturgia, ou ainda pelo próprio silêncio partilhado. Um sacerdote mostrou a este autor

uma fotografia de Jerusalém, por ocasião de visita que fizera ao seminário. Tinha sido

dada de presente por um companheiro seminarista. Mostrava a cidade vista por um

monte vizinho e tinha esta dedicatória.

“A César, lembrança do lugar onde calávamos juntos”

A necessidade humana de expressão é tão forte que às vezes

supera a necessidade de comunicar-se com os outros. Há poetas que queimam poemas

que nunca mostraram a ninguém e pintores que só pintam pelo prazer de pintar.

Uma necessidade básica do homem é vincular-se a um

grupo mediante relações afetivas. Daí ser o relacionamento outra função fundamental da

comunicação. “Nenhum homem é uma ilha”, dizia Thomas Merton.

Mas além de existir na sociedade, o homem existe

primeiro no mundo físico. A comunicação possui uma função informativa ou de

conhecimento do mundo objetivo. Alguém poderia dizer que isto não é comunicação

mas apenas informação. Porém, se calcularmos quanto de informação do mundo chegou

a nós através de outras pessoas ou de seus produtos (livros, história, imprensa,

fotografias, etc) veremos que a função informativa é uma função de comunicação.

Outras funções, também muito importantes, mas talvez

menos básicas que as mencionadas, incluem as de:

- vigilância e educação

- articulação política de interesses e tomada de decisões

- atribuição ou legitimação de status

- imposição e manutenção de normas sociais

- facilitação da troca de bens e serviços na atividade

econômica

- divertimento ou função lúdica

- participação ou acesso ao diálogo e cooperação

Merton distingue consequências que são funções

deliberadas ou manifestas daquelas funções não intencionais ou latentes. Ele chama de

dis-funções às consequências indesejáveis e, neste sentido, todas as ações de

comunicação podem ter efeitos funcionais e disfuncionais.

As funções de informação e divertimento, por exemplo,

podem ter consequências disfuncionais de narcotização, contribuindo para a legitimação

de regimes políticos opressores, etc.

Fatores que afetam os efeitos da comunicação

Além dos Meios e Mensagens

Juan Diaz Bordenave

(1983)

Como se processam os efeitos das mensagens? Que fatores

afetam a produção de um efeito ou de outro?

Dizíamos que os novos significados induzidos pelas

mensagens entram em interação com os significados originais. É desta interação que

dependem os efeitos das mensagens sobre o repertório global da pessoa: seus

conhecimentos, crenças, valores, atitudes. Destes efeitos internos vai depender, por sua

vez, a resposta externa que a pessoa eventualmente irá expressar na forma de

comportamento.

Ora, os fatores que intervêm na produção dos

comportamentos provocados por mensagens são muito numerosos e complexos. Alguns

correspondem à estrutura psicológica da pessoa. Outros mantêm relação com

características da própria mensagem, ainda outros originam-se no contexto social da

situação. Só a título de ilustração passemos em revista a alguns fatores relevantes:

- As crenças e valores da pessoa.

Toda pessoa tem um sistema de crenças e valores, onde

algumas crenças ocupam uma posição central, profunda, muito ligada à própria

identidade da pessoa. Idéias conectadas com a fé religiosa, por exemplo, ou com o amor

próprio e com lealdades familiares, possuem maior centralidade com as crenças e

valores que idéias relacionadas com a ocupação, os esportes e o estado do tempo.

- A importância da mensagem para manter ou ferir a ego-

imagem da pessoa e para favorecer ou impedir a realização de seus propósitos (por

exemplo, de ascensão social)

- A compatibilidade ou consonância da mensagem com as

crenças e valores prévios da pessoa e do grupo a que ela pertence.

- O prestígio e a credibilidade da fonte da mensagem.

- A relação percebida entre o esforço necessário para

aceitar e aplicar a mensagem e a recompensa ou a gratificação esperada.

- A empatia que a pessoa sente para com seu interlocutor,

isto é, a capacidade de se colocar no lugar do outro e ver o mundo como ela o vê.

- A maior ou menor flexibilidade mental da pessoa

receptora, isto é, se ela é de mente aberta ou mente fechada, dogmática ou liberal,

autoritária ou democrática.

- A situação particular em que acontece a comunicação.

Esta lista de fatores nos dá uma idéia de como é difícil

prever os efeitos da comunicação.

Isso explica os resultados tão variáveis das pesquisas sobre

o efeito da TV nas crianças e adolescentes. Daí, também, os custosos esforços que as

agências de publicidade fazem incessantemente para conhecer o mais profundamente

possível as crenças, valores e hábitos dos consumidores potenciais.

É que a comunicação não é, como antes se acreditava, um

processo linear e mecânico de codificação, transmissão e decodificação. O enorme

potencial conotativo dos signos, as sutis variações possíveis na estrutura da mensagem,

e, sobretudo, o intenso dinamismo da vida mental das pessoas, fazem que a

comunicação seja um processo de muitas facetas, com um amplo leque de efeitos

possíveis, às vezes totalmente inesperados, como ocorreu no caso do programa

radiofônico de Orson Welles sobre a invasão da Terra pelos marcianos, onde a ficção

conseguiu causar pânico coletivo.