o projeto de iniciaÇÃo cientÍfica como estratÉgia … · debates e reflexões do parecer cne/cp...
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O PROJETO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA COMO ESTRATÉGIA DIDÁTICA
NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO ENSINO SUPERIOR
O presente painel tem como objetivo apresentar três Projetos de Iniciação Científica
(PIC) desenvolvidos na Universidade Iguaçu e analisar essa modalidade de projeto
como estratégia didática na Formação de Professores em nível superior. O primeiro
trabalho traz como título ―A escrita do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) como
estratégia e instrumento de pesquisa no Curso de Pedagogia‖ e tem como objetivo geral
apresentar um levantamento dos temas dos trabalhos de conclusão do Curso de
Pedagogia dos anos de 2012 a 2015, buscando uma cartografia empírica das linhas de
pesquisa do referido curso. O segundo trabalho intitulado ―Caminhos de acesso à
educação e à justiça em Nova Iguaçu‖, traz como objetivo central investigar o acesso à
educação e à justiça em Nova Iguaçu, mais especificamente com os alunos dos cursos
de Pedagogia e Licenciaturas e Direito da Universidade Iguaçu; trata-se de um projeto
interdisciplinar que investigou as experiências dos alunos dos cursos em questão em
relação aos mecanismos de acesso às garantias educacionais e legais de exercício desses
direitos. O terceiro trabalho cujo título é ―Dificuldades e percepções de futuros
professores: um estudo sobre currículo nos Cursos de Licenciaturas‖ analisa os
indicadores educacionais, focando nos saberes profissionais efetivamente utilizados
pelos professores nos cursos de Licenciaturas em uma Instituição de Ensino Superior
(IES) e se estes contribuem para a formação dos alunos, futuros professores. O pano de
fundo do painel aqui sugerido é o Projeto de Iniciação Científica como importante
referencial de formação no Ensino Superior, enfatizando os aspectos relacionados à
pesquisa como um dos principais pilares dessa formação, apoiado na tríade
constitucional que configura uma universidade como lócus de ensino, pesquisa e
extensão, dimensões indissociáveis na prática cotidiana.
Palavras-chave: Projeto De Iniciação Científica. Formação de Professores. Ensino
Superior.
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A ESCRITA DO TCC COMO ESTRATÉGIA E INSTRUMENTO DE PESQUISA
NO CURSO DE PEDAGOGIA
Ana Valéria de Figueiredo da Costai
UERJ; UNESA; UNIG
Ilda Maria Baldanza Nazareth Duarte
UNIG; SEEDUC-RJ
Vanessa Monteiro Ramos Gnisci
UNIG; SEMED-Duque de Caxias
Resumo:
O presente projeto tem como foco a escrita de trabalho de conclusão de curso e seus
temas no Curso de Pedagogia, partindo do princípio que a pesquisa é uma estratégia
didática de formação continuada, via iniciação científica e pela elaboração do trabalho
de conclusão no fim do curso. Além de estar presente nos debates atuais, a formação
continuada tem sido colocada como uma das prerrogativas da Educação Superior, como
reza a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394/96. Observando-se o que
diz a lei, a formação contínua – pessoal e profissional - estão estreitamente intrincadas à
formação sociocultural dos sujeitos, o que faz da universidade um local decisivo na
trajetória acadêmica dos professores, licenciandos e estudantes em geral. A investigação
proposta é de orientação quanti-qualitativa. A pesquisa quanti-qualitativa, também
denominada como multimétodo por Campbell e Fiske (1959, citado por Jick, 1979),
orienta o pesquisador à utilização cuidadosa dos métodos quantitativos e qualitativos na
coleta e construção dos dados Também indica que esses mesmos dados sejam
criteriosamente analisados ao longo do estudo, apontando ou não a necessidade de
mudança dos rumos da pesquisa. No estudo aqui proposto foi levada em conta a
tabulação dos dados de forma a que se tenha acesso a uma parte numérica significativa
dos trabalhos concluídos e depositados nas bibliotecas do campus. A categorização dos
temas pesquisados pelos alunos do Curso de Pedagogia tem sido produtiva no sentido
de uma tentativa de compreensão dos valores que estes trazem e de suas necessidades e
interesses para que a universidade, na medida do possível, amplie o leque de opções de
formação inicial, continuada e, poderíamos dizer, a formação concomitante e
permanente como, de fato, uma estratégia didática pela pesquisa.
Palavras-chave: Projeto de Iniciação Científica; Trabalho de Conclusão de Curso;
Formação de Professores.
I - INTRODUÇÃO
Além de estar presente nos debates atuais, a formação continuada tem sido
colocada como uma das prerrogativas da Educação Superior, como reza a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394/96, em seu artigo 43:
a Educação Superior tem como finalidade: I – estimular a criação
cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento
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reflexivo; II – formar diplomados nas diferentes áreas de
conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a
participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar
na sua formação contínua; [...] V – suscitar o desejo permanente
de aperfeiçoamento cultural e profissional e possibilitar a
correspondente concretização, integrando os conhecimentos que vão
sendo adquiridos numa estrutura intelectual sistematizadora do
conhecimento de cada geração; [...] (grifos nossos).
Observando-se o que diz a lei, a formação contínua – pessoal e profissional -
estão estreitamente intrincadas à formação sociocultural dos sujeitos, o que faz da
universidade um local decisivo na trajetória acadêmica dos professores, licenciandos e
estudantes em geral. Dessa forma, o presente projeto tem como foco a escrita de
trabalho de conclusão de curso e seus temas no Curso de Pedagogia, partindo do
princípio que a pesquisa é uma estratégia de formação continuada, via iniciação
científica e pela elaboração do trabalho de conclusão no fim do curso. Dessa forma, o
estudo elaborou um levantamento dos temas dos trabalhos de conclusão do Curso de
Pedagogia dos anos de 2012, 2014 e primeiro semestre de 2015.
As etapas do estudo seguiram dessa forma: (1) levantamento dos principais
temas de monografias e agrupamento por assuntos, mapeando as linhas de pesquisa do
Curso de Pedagogia; (2) elaboração de um banco de palavras-chave na sugestão de
unificação do uso dessas palavras no Curso de Pedagogia; (3) articulação os assuntos
pesquisados com as disciplinas do curso, ressaltando seus pontos fortes e atentando
onde as fragilidades devem ser mais bem trabalhadas.
2 - MATERIAL E MÉTODOS
A investigação proposta é de orientação quanti-qualitativa. A pesquisa quanti-
qualitativa, também denominada como multimétodo por Campbell e Fiske (1959, citado
por Jick, 1979), orienta o pesquisador à utilização cuidadosa dos métodos quantitativos
e qualitativos na coleta e construção dos dados Também indica que esses mesmos dados
sejam criteriosamente analisados ao longo do estudo, apontando ou não a necessidade
de mudança dos rumos da pesquisa. No estudo aqui proposto foi levada em conta a
tabulação dos dados de forma a que se tenha acesso a uma parte numérica significativa
dos trabalhos concluídos e depositados nas bibliotecas do campus.
Nesse sentido, as abordagens não se excluem e, ao contrário, se complementam
alimentando o olhar do pesquisador. Segundo os autores citados por Jick, a combinação
de técnicas dessas duas naturezas torna a pesquisa mais densa e reduz os problemas de
adoção de um único caminho. Ainda, a utilização de uma abordagem exclusivamente
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quantitativa pode empobrecer a visão do pesquisador em relação ao contexto onde são
coletados os dados, impedindo a análise mais apurada das diversas faces do objeto
pesquisado.
4 - PROCEDIMENTOS
Apresentamos a seguir os procedimentos que foram tomados no decorrer da
pesquisa referente ao período setembro/2015 a fevereiro/2016. Demos início ao
levantamento dos temas depositados na biblioteca do campus com a finalidade de
identificar os temas efetivamente trabalhados pelas alunas do Curso de Pedagogia neste
intervalo de tempo e, nessa busca, sentimos a necessidade de ampliar o espaço de tempo
da pesquisa, que a princípio seria 2010 para 2012. Em face das interrupções na
sequência devido a não formação de turmas ficando assim definidos os anos para a
pesquisa: 2010, 2012, 2013.2, 2014 e 2015.
A partir da seleção dos títulos e respectivas palavras-chave, iniciamos os
debates e reflexões do Parecer CNE/CP de 05/2006 e Resolução CNE/CP nº 01 de
15/05/2006 para subsidiar a reorganização e, se necessário, a matriz curricular do curso
nas reuniões com os pesquisadores (Centro de Estudos) que se realiza semanalmente,
sendo um dos objetivos da empreitada iniciada com a pesquisa, ou seja, contribuir
significativamente para melhoria da qualidade do curso em questão. Seguem as
propostas que se tornaram ações
Em um primeiro momento, buscamos despertar nas alunas para o significado da
pesquisa e a importância da mesma em sua formação e nos reportamos à obra ―Educar
pela pesquisa‖ (DEMO, 1997), que discute a perspectiva da pesquisa tornar-se uma
maneira própria de aprender, pela qual o aluno deixa de ser objeto de estudo,
assumindo-se como sujeito na construção do conhecimento. O autor defende que educar
pela pesquisa exige rigor e que o professor e o aluno tomem a pesquisa como princípio
científico e educativo no seu cotidiano. Assim, ao participar do um grupo de pesquisa, o
aluno da graduação se concebe como copartícipe de sua formação, não depositando
apenas nos professores e na instituição escolar a responsabilidade do seu
desenvolvimento acadêmico.
Em um segundo momento nossa intenção era gerar conhecimentos novos, gerais,
organizados, válidos, transmissíveis, além da busca do questionamento sistemático,
crítico e criativo, tendo como referencial o texto de André (2007) que discute as
mudanças no cenário da pesquisa educacional, conclamando pesquisadores,
principalmente na área da Educação, para que reflitam sobre o fato do que se pode
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considerar como pesquisa, não sem antes afirmar que a pesquisa é uma empreitada
coletiva.
E, no terceiro momento, empreendemos a categorização dos temas pesquisados
pelos alunos do Curso de Pedagogia, o que tem sido bastante produtivo no sentido de
uma tentativa de compreensão dos valores que estes trazem e de suas necessidades e
interesses para que a universidade, na medida do possível, amplie o leque de opções de
formação inicial, continuada e, poderíamos dizer, a formação concomitante e
permanente.
4 – CONSIDERAÇÕES SOBRE O PERCURSO
Em relação ao desenvolvimento no decorrer deste período, o grupo se manteve
coeso, frequente nas reuniões semanais e no levantamento dos temas arquivados na
biblioteca, ressaltando que foi um trabalho persistente e árduo em face de arquivos terem
se extraviado, sendo necessário recorrer a e-mails de ex-alunas solicitando o envio do
material (tarefa que demandou tempo).
Ressaltamos que o período em questão - setembro a dezembro 2015 - foi
bastante atribulado em face de feriados, congresso e atividades internas o que, de certa
forma, interferiu no andamento dos trabalhos. Após essa coleta de dados preliminares, se
iniciou a categorização dos temas por segmento/área de conhecimento, em linhas gerais:
educação infantil, educação fundamental e denominamos outros os temas ligados à
educação, mas não diretamente agregado a um segmento determinado.
Essa tarefa foi realizada entre outras nos encontros semanais, tais como também
leitura dos documentos com objetivo de constatar, mesmo que preliminarmente, se o
curso em questão atende às diretrizes imanadas pelo MEC, além da efetiva necessidade
dos alunos, o que possibilita um olhar mais apurado da e alguns aspectos da realidade.
Destacamos que os alunos bolsistas e colaboradores apresentaram desempenho
superiores, bem como a sintonia entre professoras orientadoras, bolsista e colaboradoras.
Abaixo são apresentados os quadros da primeira categorização, elaborados
pela equipe a partir dos levantamentos dos títulos:
QUADRO RESUMO DOS TEMAS DOS TCCS 2010
EDUCAÇÃO INFANTIL
Título do trabalho Palavras-chaves
A importância dos jogos e brincadeiras na educação infantil Ludicidade – Aprendizagem – Educação Infantil
A brincadeira como forma de aquisição do conhecimento na
educação infantil Brincadeira – Conhecimento – Educação Infantil
Diagnóstico pedagógico através da avaliação para crianças Avaliação – Deficiência Mental – Diagnóstico
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com deficiência mental de 04 a 06 anos
EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL
Título do trabalho Palavras-chaves
A importância do lúdico nas séries iniciais Ludicidade – Aprendizagem – Séries Iniciais
Bullying: Atitudes agressivas ou formas de brincadeiras Bullying – Agressividade - Crianças
O processo de alfabetização na perspectiva do letramento Letramento – Alfabetizar - processo
A importância da orientação sexual no processo ensino-
aprendizagem
Orientação sexual – Processo ensino-aprendizagem –
Jovens
Avaliação para a construção do conhecimento Avaliação – Ensino-aprendizagem - Processo
Alfabetização de jovens e adultos: uma necessidade dos
tempos atuais Alfabetização – EJA – Compromisso
Dislexia Dislexia – Diagnóstico – Avaliação
OUTROS
Título do trabalho Palavras-chaves
O pedagogo empresarial – Desafio do século XXI Pedagogo – Empresa - Desafio
Gestão participativa: a importância da participação da
comunidade na elaboração do projeto político pedagógico Projeto Pedagógico – Gestão – Participação
Um novo campo de atuação: o pedagogo nas forças armadas Pedagogia – Não escolar – Horizontes – pedagogo
A importância do ato de avaliar desde as séries iniciais Avaliação – Qualidade – Compromisso
A evolução da escrita Escrita – Primórdios – Evolução
Pedagogia empresarial: a atuação do pedagogo na empresa Empresa – Pedagogia – Clima organizacional
A importância do pedagogo no clima organizacional Pedagogia Escolar – Empresa – Oportunidades
A importância do pedagogo nas organizações empresariais Pedagogia Escolar – Empresa – Oportunidades
Gestão Escolar: uma forma de gerir com participação Gestão – Participação – Coletividade
O pedagogo e sua ação motivadora na empresa Pedagogo – Motivação – empresa
Escola: corpo social Escola – Atores sociais – Trabalho
Gestão participativa para a construção de uma escola de
qualidade Gestão participativa – Qualidade – coletividade
Gravidez na adolescência: as consequências de uma gravidez
não planejada na vida do adolescente e o papel da escola Gravidez – Adolescentes – Escola
Gestão escolar: o papel do gestor no espaço escolar Gestor – Participação – Qualidade
Desafios da gestão democrática Gestão – Participação – Democracia
Informática educativa Tecnologia – Informática – Ensino-aprendizagem
Pedagogia empresarial: A importância do pedagogo no
âmbito empresarial Empresa – Pedagogia - Qualidade
A participação da pedagogia e do pedagogo no processo
T&D empresarial Empresa – Pedagogia - Qualidade
QUADRO RESUMO DOS TEMAS DOS TCCS 2012
EDUCAÇÃO INFANTIL
TÍTULO PALAVRAS CHAVES
A Importância da Ludicidade no Desenvolvimento Infantil Ludicidade – criança – desenvolvimento.
EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL
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TÍTULO PALAVRAS CHAVES
Arte-Educação nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental Arte e Educação – Desenvolvimento – Séries
Iniciais do Ensino Fundamental.
A Afetividade Como Fator Determinante do Êxito na
Atuação Docente Afetividade – Ensino-aprendizagem – construção
Formação na Educação de Jovens e Adultos Formação – jovens e adultos – EJA.
OUTROS
TÍTULO PALAVRAS CHAVES
A atuação do Pedagogo na Classe Hospitalar Pedagogo Hospitalar – Classe Hospitalar - Inclusão
Pedagogia empresarial, o pedagogo no âmbito da gestão. Motivação – Capacitação – Desenvolvimento
A atuação do pedagogo na socialização de jovens excluídos
do contexto social Grupos sociais – educação popular – cidadão.
Integração: Comunidade e Escola Integração – escola – comunidade
Pedagogia na sociedade brasileira: uma reflexão sobre a área
de educação Pedagogia – Sociedade Brasileira – Educação.
QUADRO RESUMO DOS TEMAS DOS TCCS 2013
EDUCAÇÃO INFANTIL
TÍTULO PALAVRAS CHAVES
O ensino de artes como ferramenta motivadora na Educação
Infantil Educação Infantil – Arte – Motivação.
A importância de trabalhar os valores morais na Educação
Infantil Valores – educação infantil – cidadania
A importância do coordenador pedagógico: um olhar na
educação infantil
Coordenador Pedagógico – Planejamento –
Educação Infantil
O lúdico como ferramenta indispensável no fazer docente na
Educação Infantil
Políticas Públicas – Educação Infantil – A
Ludicidade – Prática docente.
A importância do lúdico na Educação Infantil Ludicidade – Desenvolvimento – Criança.
Aprendizagem
Os desafios da inclusão de alunos com Síndrome de Down
em turmas de Educação Infantil
Inclusão – Síndrome de Down – Educação Infantil
Inclusiva.
A importância dos Jogos Lúdicos na Educação Infantil Jogos lúdicos – brincadeiras – ensino aprendizagem
e educação infantil.
A formação do professor na educação infantil: uma tarefa
necessária
Educação Infantil – Políticas Públicas, Saberes
Docente – Formação Continuada.
EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL
TÍTULO PALAVRAS CHAVES
Atuação do professor no processo de ensino-aprendizagem
com crianças autistas Educação inclusiva, autismo, prática docente.
A Avaliação Escolar na atualidade: qualidade ou
quantidade?
Avaliação Escolar - Aprendizagem – Desempenho
– Qualidade - Quantidade
A Educação de Jovens e Adultos como ferramenta de
inclusão Educação, inclusão, liberdade.
A reflexão da EJA na visão de Paulo Freire Método. Professores. Conscientização.
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Alfabetização
Dificuldade de Adaptação da Criança na Pré-Escolar:
Fatores sociais, psicológicos.
Adaptação, fatores sociais, fatores psicológicos,
desenvolvimento.
O Ensino da Língua Estrangeira no Ensino Fundamental do
1º Segmento
LDB, Currículo, Língua Estrangeira nas séries
iniciais, O ensino da Língua Estrangeira.
A afetividade no processo educacional Afetividade. Aprendizado. Cotidiano Escolar
A atuação do Orientador Educacional no âmbito da escola
básica (Ensino Fundamental- 1º segmento) frente aos
desafios da atualidade
Orientação Educacional, educação, colaboração e
relação.
OUTROS
TÍTULO PALAVRAS CHAVES
A Importância de uma Gestão eficiente e eficaz no âmbito
escolar Gestão democrática; Liderança; Sinergia; Eficácia.
Gestão Escolar: Otimizando o Espaço Escolar. Participação. Gestão. Democracia. Aprendizagem
Gestão escolar: um olhar democrático Gestão democrática – participação – função social
O Pedagogo e a Liderança: O papel do líder e a influência
exercida na vida de seus colaboradores
Pedagogo. Liderança. Educação. Gestão
democrática
Gestão Escolar Democrática: A Base do Sucesso Escolar Participação, Democracia, Gestão, Qualidade.
A gestão escolar e o trabalho integrado com as famílias Gestão Escolar – Participação – Família
Agressão X Violência – Influência no aspecto psicossocial
do cotidiano escolar
Agressão, reflexão, prevenção, transformação e
educação.
QUADRO RESUMO DOS TEMAS DOS TCCS 2014
EDUCAÇÃO INFANTIL
TÍTULO PALAVRAS CHAVES
A contribuição do lúdico para construção da aprendizagem
dos alunos na Educação Infantil Lúdico, jogos, brincadeiras, aprendizagem.
A Avaliação na Educação Infantil Educação infantil-avaliação-qualidade
Disciplina Aplicada na Educação Infantil Ensino Fundamental, Disciplina, Autoridade,
Cidadania.
Os desafios da inclusão de alunos com Síndrome de Down
em turmas de Educação Infantil
Inclusão, Síndrome de Down, Educação Infantil
Inclusiva.
A Música no Processo de Ensino Aprendizagem na
Educação Infantil
Música na Educação Infantil. Desenvolvimento
social através da música.
Brinquedoteca: Espaço lúdico para a Educação Infantil Brinquedoteca, Educação Infantil, desenvolvimento
da Criança.
EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL
TÍTULO PALAVRAS CHAVES
Educação de jovens e adultos: o resgate da cidadania no
processo de alfabetização
Educação de Jovens e Adultos; Analfabetismo
funcional; Metodologia de ensino; Promoção à
cidadania.
A Ação Pedagógica do Professor Frente ao Educando com
Dificuldades de Aprendizagem Dificuldade de aprendizagem, professor, aluno.
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O papel da família no processo de aprendizagem da criança Família. Escola. Ensino-aprendizagem.
Provas, Testes e Exames: instrumentos de avaliação na
busca por uma educação de qualidade?
Instrumentos de avaliação. Qualidade.
Desenvolvimento
Aprovar ou reprovar? A importância da avaliação da
aprendizagem no cotidiano das práticas docentes. Avaliação-processo-qualidade
O conselho de Classe como espaço de discussão docente. Conselho de classe – participação – reflexão.
Avaliação Escolar: Processo ou Punição? Avaliação, Processo, Cotidiano.
A afetividade no processo educacional Afetividade. Aprendizado. Cotidiano Escolar
Indisciplina Escolar: uma vilã no desgaste pedagógico? Palavras chaves-indisciplina-parceria-espaço
escolar
A afetividade como ferramenta para o processo de ensino
aprendizagem
Afetividade- Relação Afetiva –Aprendizagem
Significativa
OUTROS
TÍTULO PALAVRAS CHAVES
Educação inclusiva em escola pública: realidade ou desafio? lnclusão - Deficiência - Necessidades Educacionais
Especiais.
Gestão participativa como instrumento de democratização
do espaço escolar
Democratização escolar; Administração
educacional; Gestão escolar.
Importância da integração escola-família no contexto dos
cursos de Qualificação Profissional Aprendizagem - Família – Escola – Integração
O Gestor escolar frente aos desafios da inclusão Necessidades especiais. Inclusão. Gestão
Gestão escolar e as relações interpessoais no cotidiano Interpessoais, cotidiano escolar, democrática,
gestão, educação.
O pedagogo e o seu papel na empresa Empresa – Mediação – formação
O pedagogo em espaços não escolares: reflexões da sua
atuação na empresa Pedagogo, empresa, transformação social.
QUADRO RESUMO DOS TEMAS DOS TCCS 2015
EDUCAÇÃO INFANTIL
TÍTULO PALAVRAS CHAVES
A abordagem do letramento na Educação Infantil Letramento. Educação Infantil. Formação docente.
Leitura. Escrita.
A Psicomotricidade contribuindo no Desenvolvimento do
Processo Ensino Aprendizagem da Educação Infantil
Psicomotricidade. Desenvolvimento Motor.
Aprendizagem.
A importância do lúdico como ferramenta de aprendizagem
na Educação Infantil
Educação Infantil. Atividades lúdicas.
Desenvolvimento psicomotor. Brinquedoteca.
Estímulo às relações interpessoais
A Importância do brincar na Educação Infantil Brincar. Brincadeira. Educação Infantil.
A Importância da afetividade na Educação Infantil Afetividade. Afetividade na Educação Infantil.
Prática Docente.
O lúdico na Educação Infantil Ludicidade. O brincar. Lúdico na Educação
Infantil.
A importância da contação de história na Educação Infantil Contação de histórias. Educação Infantil.
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Aprendizagem.
A arte no desenvolvimento e aprendizagem da criança na
Educação Infantil Artes. Desenvolvimento Infantil. Aprendizagem.
A importância do brincar na educação infantil Brincar, Brincadeira, Educação Infantil.
A Avaliação Escolar na Educação Infantil Avaliação; Educação Infantil; Ensino-
aprendizagem; Práticas Pedagógicas.
EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL
TÍTULO PALAVRAS CHAVES
A importância do lúdico na alfabetização nos espaços de
ambiente alfabetizador Lúdico. Alfabetização. Aprendizagem.
Práticas Educativas contemporâneas na educação de jovens
e adultos - EJA
Educação de Jovens e Adultos. Tecnologia.
Ensino-aprendizagem.
A importância do lúdico na alfabetização Brincar. Lúdico. Alfabetização.
Qual o real papel da afetividade no processo ensino-
aprendizagem? Afetividade. Ensino-aprendizado. Professor.
Síndrome de Down: Os Professores estão preparados para
atender a criança com Síndrome de Down nas séries iniciais
do ensino fundamental na escola regular?
Síndrome de Down. Educação Especial e Inclusiva.
Capacitação Profissional.
Avaliação Escolar no 2º segmento do Ensino Fundamental:
Métodos e Instrumentos
Avaliação; processo; instrumentos; métodos;
resultados; objetivo.
O verdadeiro valor da avaliação Avaliação da aprendizagem, ato amoroso, reflexão.
OUTROS
TÍTULO PALAVRAS CHAVES
O papel da gestão democrática na construção de uma escola
inclusiva
Gestão democrática, escola inclusiva,
democratização escolar.
Tecnologia Educacional: O Uso do Computador e Suas
Ferramentas na Educação
Informática; computador; educação e ensino-
aprendizagem.
Pedagogia Hospitalar: A importância do trabalho
pedagógico na recuperação de crianças e adolescentes
hospitalizados
Pedagogia hospitalar; Humanização; Educação;
Saúde.
Gestão democrática: liderança e trabalho em equipe Liderança, gestão escolar, Estilos de liderança,
Trabalho em equipe.
A importância da integração entre a família e a escola Ensino e Aprendizagem; Família e Escola;
Desenvolvimento.
Representações sociais: o que pensam os alunos do curso de
pedagogia sobre as relações étnico-raciais
Representações Sociais, Relações Étnico-Raciais,
formação docente, diversidade.
A terceira etapa do estudo, qual seja a categorização dos TCCs e a análise mais
aprofundada dessa categorização, vem apontando uma diferenciação dos temas trabalhados em
relação à Educação Infantil e ao Ensino Fundamental. Como por exemplo, o lúdico é um dos
temas mais trabalhados quando relacionado à Educação Infantil e o tema Gestão, tem sido mais
estudado relacionado ao Ensino Fundamental.
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Ainda há um número maior de trabalhos que versam sobre a pedagogia não
escolar, apontando o atual estado da pedagogia em outros espaços tais como empresa,
hospitais entre outros.
A temática étnico-racial também aparece bem recentemente (2015) e de forma
tímida – apenas um TCC contempla esse foco - , o que nos faz refletir sobre a produção
de trabalhos nessa área de estudos, visto o Curso de Pedagogia em questão ter uma
disciplina para esse debate e, além disso, a lei 10639/03 ter sido promulgada há treze
anos, tornando o estudo da história e cultura afro-brasileira obrigatório nas escolas e
universidades.
A preocupação com a Educação Especial/Inclusiva é notada em vários dos
títulos, principalmente relacionado a trabalhos do Ensino Fundamental, provavelmente
por conta da inclusão de alunos com necessidades especiais/deficiência nas escolas
regulares, tornando-se uma área de estudos na busca de encaminhamentos didáticos e
metodológicos para o professor em sala de aula.
A análise que aqui apresentamos, cada vez que a estudamos, apresenta-nos
novas facetas, não estando encerrada e muito menos, definitivamente acabada. Contudo,
já podemos vislumbrar caminhos para mudanças no currículo do Curso de Licenciatura
em Pedagogia, pensando em dinamizar algumas áreas e, ao mesmo tempo, refletir sobre
outras. Caminhos em constante movimento na formação de professores.
REFERÊNCIAS
ANDRÉ, M. Questões sobre os fins e sobre os métodos de pesquisa em educação. In:
Revista Eletrônica de Educação. Disponível em: <http//:www.reveduc.ufscar.br/
index2.php?option=com_content&task-view&id=37&Ite>. Acesso em: 16 jun. 2015.
BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977.
BRANDÃO, Z. Pesquisa em Educação. Conversas com pós-graduandos. Rio de
Janeiro: Ed PUC-Rio; São Paulo: Loyola, 2002.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 e suas emendas. 4
ed. Rio de Janeiro: Degrau Cultural, 2011.
_____. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n. 9394 de 20 de dezembro de
1996. Brasília: 1996.
DEMO, P. Educar pela pesquisa. Campinas, SP: Autores Associados, 1997.
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8078ISSN 2177-336X
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GATTI, B. A. Formação continuada de professores: a questão psicossocial. Cad.
Pesquisa, N.119. São Paulo, 2003. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0100-
1574200300020001>. Acesso em: 16 jun. 2015.
JICK, T. Mixing qualitative and quantitative methods: triangulation in action. In:
Administrative Science Quartely, vol 24, n. 4, december 1979, p. 602-611.
LIBÂNEO, J. C. Organização e gestão da escola. Teoria e Prática. Goiânia:
Alternativa, 2004
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CAMINHOS DE ACESSO À EDUCAÇÃO E À JUSTIÇA EM NOVA IGUAÇUii
Ana Valéria de Figueiredo da Costa
UNIG/ UERJ / UNESA; GEPPiii
Ilda Maria Baldanza Nazareth Duarte
UNIG/ SEEDUC/RJ; GEPP
Agenor Pereira da Costa
UNIG/MESTRANDO UMINHO; GEPP
Resumo: Nos dias atuais muito se tem debatido sobre o acesso à educação e à justiça como
direitos constitucionais garantidos, mas muitas vezes, não efetivados no dia a dia.
Inúmeras vezes na vida cotidiana esses direitos primordiais do ser humano são
desrespeitados em detrimento de uma pseudo-organização social, que controla muito
mais do que educa, e cerceia o caminhar para a autonomia e a prática da liberdade.
Tomando por base o descrito, o presente trabalho tem como objetivo investigar como
tem sido o acesso à educação e à justiça, mais especificamente com os alunos dos cursos
de Pedagogia e Direito de uma universidade privada na Baixada Fluminense, no estado
do Rio de Janeiro (Brasil). Nesse sentido, entende-se currículo como um artefato que
ultrapassa as disciplinas escolares, trazendo para o centro do debate as ações que têm
centralidade a questão do conhecimento como poder, ou seja, os mecanismos que
permitem o acesso à educação e à justiça são também currículo de maneira ampla.
Assim, um currículo é sempre retrato de uma época e suas demandas sociais, políticas,
históricas, culturais e muitas outras inseridas nas tramas cotidianas. Os autores que
sustentam o debate inicial são Estevão, Gatti, Freire entre outros, além de documentos
oficiais tais como a Constituição Federal. A pesquisa é de abordagem qualitativa, com a
Análise de Conteúdo de Bardin (1977), através da análise das respostas a um pequeno
questionário respondido por alunos do Curso de Pedagogia e de Direito de uma
universidade privada do Rio de Janeiro. É importante destacar que o estudo ora
apresentado tem caráter interdisciplinar, reafirmando a concepção de que currículo é
sempre escolha política e instrumento de conhecimento e poder, fruto de escolhas e
opções situadas e negociadas.
Palavras-chave: Projeto de Iniciação Científica. Pedagogia e Direito. Ensino Superior.
1. INTRODUÇÃO
Nos dias atuais muito se tem debatido sobre o acesso à educação e à justiça
como direitos constitucionais garantidos, mas muitas vezes, não efetivados no dia a dia.
No cotidiano, esses direitos primordiais do ser humano são desrespeitados em
detrimento de uma pseudo-organização social que controla muito mais do que o educa e
encaminha para a autonomia e à prática da liberdade.
Tomando por base o descrito anteriormente, o presente artigo é fruto do Projeto
de Iniciação Científica ―Caminhos de acesso à Educação e à Justiça em Nova Iguaçu‖iv
teve como objetivo investigar como tem se dado o acesso à educação e à justiça em
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Nova Iguaçu, mais especificamente com os alunos dos cursos de
Pedagogia/Licenciaturas e Direito da Universidade Iguaçu.
O projeto, de abordagem interdisciplinar, reafirma a concepção unitária de que
educação e acesso à justiça são direitos fundamentais do ser humano, conforme lhe
concede e garante o caput do artigo 5º da Constituição Federal (1988): ―todos são iguais
perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade [...]‖.
Direitos esses reafirmados e enfatizados na plenitude do artigo 6º no mesmo
documento: ―são direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a
moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à
infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição‖.
Complementando a base legal que amparou o projeto, citamos também a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional LDBEN 9394/96 no que diz respeito à prática
da pesquisa no âmbito universitário, colocada como uma das prerrogativas da Educação
Superior, como reza em seu artigo 43:
a Educação Superior tem como finalidade: I – estimular a criação
cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento
reflexivo; II – formar diplomados nas diferentes áreas de
conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a
participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar
na sua formação contínua; [...] V – suscitar o desejo permanente
de aperfeiçoamento cultural e profissional e possibilitar a
correspondente concretização, integrando os conhecimentos que vão
sendo adquiridos numa estrutura intelectual sistematizadora do
conhecimento de cada geração; [...] (grifos nossos).
Observando-se o que diz a lei, a formação para a pesquisa – pessoal e
profissional -, está estreitamente intrincada à formação sociocultural dos sujeitos, o que
faz da universidade um local decisivo na trajetória acadêmica dos professores,
licenciandos e estudantes em geral.
A intenção explícita da pesquisa ao buscar os alunos do curso de Pedagogia e
Licenciaturas e Direito foi conhecer como tem sido efetivado o acesso à educação e à
justiça no cotidiano desses sujeitos, buscando o entendimento dos mecanismos que
dificultam e, em contrapartida, os que facilitam esse acesso. A pesquisa também se
justificou por apontar, através de uma análise sistemática dos dados coletados, quais as
ações que podem ser empreendidas, reforçadas ou, até mesmo, evitadas pela
Universidade no sentido de atender aos anseios dos alunos e contribuir, mais
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pontualmente, como lócus de formação privilegiado, na formação inicial e continuada
em pesquisa dos alunos.
Dessa forma, estabelecemos como questões norteadoras do projeto: como os
alunos relatam o acesso à educação e à justiça no seu cotidiano? Qual a importância que
os alunos atribuem à Universidade no encaminhamento do acesso à educação e à
justiça? Quais as estratégias mais apontadas por esses sujeitos no seu cotidiano? Há
diferenças no acesso à educação e no acesso à justiça? Se há, quais? Se não há, por quê?
Em vista do que falam os alunos, quais as estratégias de implementação de ações de
extensão na própria universidade que promovam convênios e acordos de cooperação
técnica com entidades e órgãos oficiais na busca de encaminhamentos nos casos mais
recorrentes e urgentes?
Partindo dessas questões, a pesquisa, de cunho quanti-qualitativo, levou em
conta a tabulação dos dados de forma a que tivéssemos acesso às respostas de uma parte
numérica significativa dos sujeitos respondentes e, sobretudo, a qualidade das respostas
dos mesmos. Para tal, foi realizada a coleta de dados in loco, com a aplicação de
questionários nos períodos apontados pelo estudo.
O projeto também se caracterizou por um forte apelo que vai ao encontro da
regimentação legal na manutenção da tríade que caracteriza uma universidade: pesquisa,
ensino e extensão, como preconiza a Constituição Federal em seu artigo 207: ―as
universidades gozam de autonomia didático-científica, [...] e obedecerão ao princípio
de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão” (grifos nossos).
A apresentação sistemática dos resultados da pesquisa para Universidade tem
como objetivo a possibilidade de ser mais um subsídio no emprego de recursos de
ordem financeira, patrimonial, humana, além de outros que se julgarem necessários, na
prática e efetivação das ações de formação continuada. Do ponto de vista dos docentes,
os resultados podem sinalizar onde e como incentivar e orientar os licenciandos na
busca dessa formação que prima pela divulgação das amplas concepções de formação
continuada que ocupam hoje o cenário do qual somos atores e sujeitos.
2. APONTAMENTOS TEÓRICOS
Estevão (2004, p. 35) assim se pronuncia: ―o conceito de justiça articula-se
intimamente com outros conceitos, como o de igualdade, de equidade, de liberdade, de
mérito, de poder e autoridade, entre outros [...]‖. Na verdade, o conceito de justiça é
inseparável do de educação, de tal modo que Sturman citado por Estevão (2004)
considera que ―no contexto escolar a justiça social não é algo de diferente da educação‖.
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De acordo com o autor, a temática da justiça tem despertado grande interesse a
partir da década de 1970 com o re-equacionamento dos princípios de igualdade face aos
princípios de liberdade, herdados dos ideais da Revolução Francesa do século XVIII.
Ainda, mesmo com as tentativas neoliberais de retirar de cena esse debate na década de
1980, a temática continuou a ser pauta em ascensão em diversos países, fortalecendo-se
em vários campos do saber (ESTEVÃO, 2001).
Estevão (2001, p. 7) esclarece que.
[...] muitos autores, que não apenas os de tendência liberal, se têm
congregado na mira de encontrar a boa teoria da justiça e de a
confrontar [sic] com abordagens de bem comum, de equidade, de
comunidade, de direitos humanos, de multiculturalismo, enfim, de
democracia, em termos que têm mobilizado conhecimentos não
apenas filosóficos, mas também políticos, jurídicos, éticos,
sociológicos e organizacionais.
Ouvir o que dizem os alunos, ingressantes e concluintes dos cursos de
licenciatura mostrou-se bastante produtivo no sentido de uma tentativa de compreensão
dos valores que os alunos trazem e de suas necessidades, para que a universidade, na
medida do possível, amplie o leque de opções em relação á formação inicial e
continuada tendo em vista que a formação continuada toma hoje, na formação pessoal e
profissional, uma dimensão central.
Assim, é importante ressaltar que, neste projeto, a concepção de justiça não foi
tratada apenas.
[...] no sentido jurídico ou de acordo com os padrões de práticas que
ocorrem nos tribunais. Antes, ela será enquadrada nas questões da
gestão e distribuição de interesses e de poder, na problemática dos
direitos que excede o quadro normativo de um país, no contexto da
democracia e da igualdade; isto é, ela será estudada, sobretudo nas
suas dimensões sociológicas e políticas, tendo presente a sua aplicação
ao campo da educação [...].
Para além desse ponto, o PICv é também uma estratégia de formação
continuada, tão candente nos dias atuais. Segundo Libâneo (2004, p. 227) ―a formação
continuada é condição para a aprendizagem permanente e para o desenvolvimento
pessoal, cultural e profissional de professores e especialistas‖. Nesse sentido, investigar
estratégias de formação no local da formação é também apreender as estratégias dessa
formação, podendo-se, através das respostas, reforçar e/ ou criar outras maneiras de
ampliar esse desenvolvimento.
É ainda o mesmo autor (id. ib.) que fundamenta os conceitos de formação
continuada e formação inicial:
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o termo formação continuada vem acompanhado de outro, a
formação inicial. A formação inicial refere-se ao ensino de
conhecimentos teóricos e práticos destinados à formação
profissional complementado por estágios. A formação
continuada é o prolongamento da formação inicial visando ao
aperfeiçoamento profissional teórico e prático no próprio
contexto de trabalho e ao desenvolvimento de uma cultura geral
mais ampla, para além do exercício profissional (grifos do
autor).
Gatti (2003, p. 202) descreve pesquisa realizada em programa de formação
continuada para professores, onde ressalta que ―a maioria dos professores-cursistas não
só concluiu o curso, como este se entrelaçou com suas vidas e experiências
profissionais. Desse entrelaçamento deriva-se da efetividade e da possibilidade de um
impacto que perdure no futuro desses profissionais‖.
Assim é que, ao proporcionar mecanismos para que essa formação aconteça, há
também de se observar o que essa formação estabelece como base para vida profissional
responsável e eficaz, posto que os efeitos da formação inicial deixam marcas pessoais
que repercutem no cotidiano vivido de cada um daí a importância do tema de interligar
os fios da educação e justiça como forma de refletir as implicações éticas e políticas do
refletir os conceitos de igualdade e equidade imbricados no ser cidadão direitos e
deveres.
Não poderíamos deixar de citar Freire (2000) com a educação como prática da
liberdade no rol dos autores que debatem a educação em direitos humanos. Freire, no
conjunto de sua obra, defende que educação é sempre processo dialético e que se
constrói na confluência de saberes e no exercício de direitos. Assim, discutir educação
em direitos humanos à luz da obra de Paulo Freire é acreditar na força do dialogismo na
construção de uma sociedade mais justa e com melhores oportunidades para todos.
A dicotomia entre o conhecimento objetivo e o conhecimento reflexivo é
polarização a se evitar, aspecto que pode ser referendado tomando-se o PIC como uma
estratégia de formação e acesso à produção do conhecimento, ou seja, ao mesmo tempo
em que há a produção de novos conhecimentos pela pesquisa, há também uma reflexão
sobre esse conhecimento, proporcionando ao aluno uma dimensão mais ampla e
aprofundada do fazer pesquisa.
3. A METODOLOGIA DA INVESTIGAÇÃO
A pesquisa quanti-qualitativa, também denominada como multimétodo por
Campbell e Fiske (1959, citado por JICK, 1979), orienta o pesquisador à utilização
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cuidadosa dos métodos quantitativos e qualitativos na coleta e construção dos dados
Também indica que esses mesmos dados sejam criteriosamente analisados ao longo do
estudo, apontando ou não a necessidade de mudança dos rumos da pesquisa.
Nesse sentido, as abordagens não se excluem e, ao contrário, se complementam
alimentando o olhar do pesquisador. Segundo os autores citados por Jick, a combinação
de técnicas dessas duas naturezas torna a pesquisa mais densa e reduz os problemas de
adoção de um único caminho.
Os resultados finais da pesquisa ora em questão são apresentados em forma de
quadros, tabelas e gráficos a partir dos itens estruturados do instrumento de pesquisa
(questionários), com percentuais e informações organizadas quantitativamente, além de
categorizações qualitativas construídas a partir das respostas abertas dos questionários, à
luz das categorizações da análise de conteúdo como proposta por Bardin(1977).
4 - APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
Passamos, a seguir, a apresentar de forma mais sistemática os dados da
pesquisa. A idade dos respondentes, de forma geral, variava de 18 a 29 anos, ou seja,
um público jovem. Apesar do IBGEvi
definir como jovem a população na faixa dos 15
anos aos 24 anos, parte dos especialistas, no entanto, considera que a juventude vem
depois da adolescência, ou seja, dos 19 aos 29 anos.
Gráfico1 - Idade dos respondentes
A primeira pergunta do questionário foi a seguinte: na sua opinião qual o
principal objetivo da Universidade? Após os dados de identificação (idade, sexo, curso),
os respondentes foram consensuais ao afirmarem: ―preparar para o mercado de
trabalho‖; ―adquirir conhecimentos‖; ―promover conhecimento e crescimento‖; ―a
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universidade nos abre um leque informativo que propicia um melhor entendimento
sobre justiça‖; ―como justiça social sim, pois todo cidadão merece ter um ensino
superior de qualidade, independentemente de sua classe social‖; ―a universidade nos faz
ter consciência dos direitos‖; ―passamos a ter conhecimento e respeito‖.
Destacamos também a fala de alunos do Curso de Direito: ―formar jovens,
cabeças pensantes‖; ―diminuir as desigualdades sociais e elevar o nível intelectual do
país‖; ―aprendi que igualdade é diferente de justiça‖; ―antes de entrar para universidade,
eu achava que justiça era ter igualdade e aprendi que não‖; ―esclarecimentos que
adquirimos na universidade‖; ―acessando a universidade e formando-se, aprende-se
melhor como acessar a justiça e buscar nossos direitos‖. Esses depoimentos nos
remetem ao entendimento da consciência política destes futuros bacharéis.
A seguir o questionário perguntava sobre os mecanismos de acesso ao Ensino
Superior do conhecimento dos inquiridos. Identificamos neste primeiro questionamento
que os estudantes citaram como acesso à universidade o vestibular, que é ainda o meio
mais conhecido por todos e acreditamos que as respostas sejam decorrentes de ser o
veículo mais antigo para ascender ao ensino universitário.
No entanto o ENEMvii
desponta como uma forma mais socializada de ingresso,
seguida de ―outros‖: PROUNI; FIES etc. Algumas respostas apontam: ―estão ligadas,
uma depende da outra‖; ―o acesso à universidade deve estar ligado à justiça, pois os
meios de ingresso devem ser baseados em seleções justas‖; ―porque o acesso e
permanência na universidade geram uma relação entre as partes que envolvem, ou
melhor, pode envolver órgãos da justiça‖; ―a justiça, hoje, trouxe (auxiliou) meios para
a classe de baixa renda poder entrar na universidade, coisa que antes era impossível‖.
Gráfico 2 - Conhecimento dos mecanismos de acesso à justiça
Em termos do universo total dos pesquisados as respostas não se encontram
ajustadas, pois alguns respondentes sinalizaram conhecer e não responderam a pergunta
subsequente (4) – Como teve acesso a esse conhecimento? -, deixaram em branco.
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A quinta pergunta solicitava que os respondentes apontassem se já haviam feito
uso de algum mecanismo de acesso à justiça. O que se conseguiu apurar é que, segundo
os estudantes, a maioria nunca fez uso da justiça, como mostra o quadro 3. E os que
responderam afirmativamente à questão, utilizam principalmente o Juizado Especial.
Quadro 3 - Já fez uso de algum mecanismo de acesso à justiça
UTILIZAÇÃO DOS MECANISMOS DE ACESSO A JUSTIÇA [N=310]
OPÇÕES % % LEGENDA
SIM 39,84375 39,7% 1
NÃO 59,375 59,3% 2
NÃO OPINOU 0,78125 0,7% 3
Quando indagados se veem a ligação/articulação entre o acesso à universidade
e à justiça, a maioria dos alunos respondeu que não, conforme apontam o quadro 4 e a
gráfico 4.
Quadro 4 - Relação entre o acesso à universidade e justiça
RELAÇÃO ENTRE O ACESSO À UNIVERSIDADE E JUSTIÇA
OPÇÕES % % LEGENDA
SIM 44,28571 44,3% 1
NÃO 51,42857 51,4% 2
NÃO OPINOU 4,285714 4,2% 3
Gráfico 4 - Relação entre o acesso à universidade e justiça
Quanto a identificar a existência de vínculo entre universidade e justiça, um
número significativo de respondentes apontou positivamente e transcrevemos alguns
depoimentos: ―sou bolsista através do ENEM e se não fossem as políticas públicas não
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teria como financiar minha graduação‖; ―ajuda o indivíduo a ter acesso a informações
gerais, conhecendo algumas leis e diretrizes envolvidas com a justiça‖; ―intercâmbio,
bolsas‖; ―a universidade nos ensina a base da justiça e nos encaminha para isto‖; ―a
universidade nos dá respaldo social que faz com que despertemos para os problemas
ligados à justiça‖; ―a partir do momento que frequentamos á universidade adquirimos
conhecimento e assim conseguimos buscar pela justiça‖; ―pessoas com conhecimento
têm condições críticas para brigar por seus direitos‖; ―conhecimento leva a busca dos
direitos‖; ―quanto mais avançamos nos estudos, mais conhecemos nossos direitos e os
de outrem‖; ―a universidade fornece ferramentas para que o cidadão acesse a justiça‖.
Apreende-se dos depoimentos que os inquiridos indicam a universidade como
fonte de conhecimento que os direcionam a esclarecimentos dos direitos e do pensar as
questões sociais.
Prosseguindo na análise visualizamos, através do gráfico, o grande número de
respostas negativas. No entanto a maioria dos respondentes não soube explicar o não e
apenas sinalizou não identificar ligação entre a universidade e os mecanismos de justiça.
Transcrevemos algumas justificativas em número reduzido para tal posicionamento:
―são áreas distintas‖; ―o acesso à universidade é decorrente da educação recebida‖; ―a
maioria miserável do país recebe uma educação precária por conta da insuficiência
financeira e das escolas de má qualidade que frequentam. Logo o acesso à universidade
está ligado não à capacidade do aluno e sim, a sua condição financeira, por isso não vejo
ligação‖; ―porque não‖.
A expressão ―porque não‖ aparecem inúmeras vezes e denota que alguns
estudantes parecem ainda não dispor da análise necessária a esse ponto, tendo em vista
que a expressão de seu pensamento é bastante ingênua. Assim, levantamos a hipótese de
que a universidade precisa, cada vez mais, de cumprir adequadamente seu papel de
difusor do conhecimento e também de propositora de análises mais aprofundadas e
apuradas da realidade que nos cerca.
Contudo aventamos também a possibilidade dessas respostas ao fato do pouco
hábito de pesquisa que os alunos possuem; daí não identificarem a importância do
instrumento e a utilização posteriormente dos resultados da pesquisa e, deixamos
registrada a necessidade de um trabalho de conscientização da importância da pesquisa
(seus resultados) como mobilizador e questionador de ―verdades institucionalizadas‖
para um novo ―devir‖.
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
De forma geral diante dos resultados, pudemos observar que os alunos do Curso
de Pedagogia e do Curso de Direito conhecem os mecanismos de acesso à justiça, porém,
deles não fazem uso, em sua maioria.
Dentro desse contexto, também ficou nítido para o grupo de pesquisa que os
alunos do Curso de Pedagogia desconhecem o escritório modelo do Curso de Direito
(ESAJUR), que presta um trabalho de assistência jurídica à população de baixa renda.
Nos chama a atenção esse desconhecimento e nos leva à hipótese de que, mesmo
não sendo usuário dos serviços do ESAJUR, o aluno teria que ter pelo menos esse
conhecimento para que pudesse indicar ou, até mesmo, divulgar os benefícios e serviços
do mesmo.
Dessa forma, sugerimos que a divulgação dos serviços prestados pelo ESAJUR
seja ampla e, em um primeiro movimento, de forma interna, dando a ver os benefícios
oferecidos aos alunos da Universidade que serão, provavelmente, também os
divulgadores do escritório modelo para outras pessoas da comunidade.
Ainda é necessário um maior esclarecimento sobre a relação intrínseca entre
educação e justiça como direitos inalienáveis do cidadão previstos na Constituição
Federal e outras leis e documentos, pois a maioria dos respondentes da pesquisa indicou
que não haver relação entre o acesso à universidade e justiça.
Estes resultados nos confirmam a necessidade urgente de esclarecimento, tendo
em vista se tratar de universitários-bacharéis em Direito e o Curso de Pedagogia que
tem a importante tarefa de formar cidadãos críticos e conscientes do mundo em que
vivem, apregoando e vivenciando a concepção progressista da educação e os preceitos
da educação para o século XXI.
6. REFERÊNCIAS
BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977.
BRASIL. Constituição Federal. Brasília, 1988.
_____-. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n. 9394 de 20 de dezembro de
1996. Brasília, 1996.
DEMO, P. Educar pela pesquisa. Campinas, SP: Autores Associados, 1997.
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23
ESTEVÃO, C. V. Educação, justiça e democracia. São Paulo: Cortez, 2004.
_____. Justiça e educação. São Paulo: Cortez, 2001.
FOUCAULT, M. Vigiar e punir. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999.
FREIRE, P. Educação como prática de liberdade: a sociedade brasileira em transição.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000.
GATTI, B. A. Continued teacher training: a psychosocial issue. Cadernos de Pesquisa,
São Paulo, n. 119, 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S0100-15742003000200010&lng=en&nrm=iso>. Acesso
em: 25 jul. 2015.
JICK, T. Mixing qualitative and quantitative methods: triangulation in action. In:
Administrative Science Quartely, vol 24, n. 4, december 1979, p. 602-611.
OLIVEIRA, R. P. e CATANI, A. A. M. Constituições Estaduais Brasileiras e
Educação. São Paulo: Cortez, 1993.
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DIFICULDADES E PERCEPÇÕES DE FUTUROS PROFESSORES: UM
ESTUDO SOBRE CURRÍCULO NOS CURSOS DE LICENCIATURAS
Edith Maria Marques Magalhães
Resumo:
O presente estudo foi pautado na análise dos indicadores educacionais, focando os
saberes profissionais efetivamente utilizados pelos professores nos cursos de
Licenciaturas desta Instituição de Ensino Superior (IES), se contribuem para a formação
futura dos alunos. Assim sendo, nossa proposta inicial foi identificar qual conhecimento
dos alunos ingressantes sobre currículo e as possíveis contribuições ao longo da sua
formação, analisando aspectos específicos do currículo. Nossas propostas de estudos
foram investigadas embasadas pelos os contextos teóricos da profissão docente e as
questões relacionadas com o exercício profissional frente à contribuição das disciplinas
em relação à prática docente a ser exercida numa profissão futura, por meio de uma
análise sobre os currículos dos cursos em questão e compará-los às Diretrizes
Curriculares Nacionais (DCN), devido às dificuldades encontradas pelos alunos dessa
IES nas disciplinas de Práticas Pedagógicas. Avaliar a proposta curricular dos cursos de
licenciaturas e compará-las as diretrizes caracteriza a preocupação de vincular o eixo de
formação do profissional da educação à docência, assim sendo, um ponto de inflexão
dos múltiplos processos de formação humana. As considerações finais apontam que
atendendo as questões propostas em nosso estudo contemplamos nossa investigação,
discussão e análise de como os alunos dos cursos de Licenciaturas representam os
sentidos sobre currículo e como estão sendo desenvolvidos, ressaltando a discussão
numa compreensão dialética e plural, tornando-se condições indispensáveis para a
profissão docente, tornando-se fundamental o contato com a produção de outros autores
e de grupos de pesquisa que têm como objetivo principal investigar a profissão docente
e seus saberes.
Palavras-chave: Projeto de Iniciação Científica; Formação de
Professores/Licenciaturas; Currículo.
I - INTRODUÇÃO
O presente estudo foi pautado na análise dos indicadores educacionais, focando
os saberes profissionais efetivamente utilizados pelos professores nos cursos de
Licenciaturas desta Instituição de Ensino Superior (IES), se contribuem para a formação
futura dos alunos. Assim sendo, nossa proposta inicial foi identificar qual conhecimento
dos alunos ingressantes sobre currículo e as possíveis contribuições ao longo da sua
formação, analisando aspectos específicos do currículo. Nossas propostas de estudos
foram investigadas embasadas pelos os contextos teóricos da profissão docente e as
questões relacionadas com o exercício profissional frente à contribuição das disciplinas
em relação à prática docente a ser exercida numa profissão futura, por meio de uma
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análise sobre os currículos dos cursos em questão e compará-los às Diretrizes
Curriculares Nacionais (DCN), devido às dificuldades encontradas pelos alunos dessa
IES nas disciplinas de Práticas Pedagógicas.
Baseado neste contexto, Tardif (2002, p.54) afirma que o ―saber plural, formado
de diversos saberes provenientes das instituições de formação, da formação profissional,
dos currículos e da prática cotidiana‖ possibilita uma classificação coerente dos saberes
docentes só existe quando associada à natureza diversa de suas origens, às diferentes
fontes de sua aquisição e as relações que os professores estabelecem entre os seus
saberes e com os seus saberes.
II. METODOLOGIA
A metodologia foi descrita na abordagem de pesquisa quanti-qualitativa
(RIZZINI, CASTRO, SATOR, 1999), pois por meio dela será realizada a construção do
corpus da pesquisa. Adotou-se neste trabalho investigativo uma abordagem pautada no
entrelaçamento de análises teóricas e interpretativas, ocorridas no grupo de estudos e
pesquisas do Projeto de Iniciação Científica (PIC) na Universidade Iguaçu. O PIC
―Dificuldade e Percepções de Futuros Professores: um Estudo Sobre o Currículo nos
Cursos Licenciaturas‖ desenvolveu uma pesquisa dialógica e comparativa entre os
cursos na área de Educação oferecidos nesta IES, na qualidade de verificar a integração
deste estudo para os processos de formação inicial e a contribuição do curso de
formação com vista à profissão futura. Convém ressaltar, que não é a voz do
professor, que se manifestou nestas pesquisas e, sim a do aluno desta IES, em
processo de formação nos Cursos de Licenciaturas.
A investigação inicialmente se deu por meio de uma pesquisa bibliográfica, na
proposta de compreender ―O que é Currículo‖, com base nas alusões do diálogo crítico
dos curriculistas e teóricos: Lopes e Macedo (2011); Tura e Garcia (2013); Moreira e
Candau (2003); Libâneo (1998); Pacheco (2005) e Gabriel (2011), que contemplou uma
aprendizagem significativa, como também registros das leituras por meio de resenhas
informativas e críticas. Após várias leituras e discussões o presente PIC procurou
estudar o termo ―Currículo‖ a partir de duas técnicas. 1- questionário semiestruturado,
2- teste de associação livre de palavras (VÈRGES, 1994).
O questionário proposto teve como objetivo coletar informações acerca do que é
―Currículo‖, conforme o anexo. Este questionário foi respondido pelos graduandos
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ingressantes e concluintes dos cursos de Licenciaturas em 2013.2. Em sua composição
geral, apresentou um total de quatro questões, que variaram de abertas a fechadas. A
questão aberta incluiu questão relativa aos conhecimentos sobre currículos. As respostas
fechadas propuseram a verificação sobre metodologias utilizadas pelos professores,
ementário das disciplinas e currículo das disciplinas desde o entendimento, até as
necessidades dos sujeitos estudados.
Para tanto demos início a outro instrumento de coleta de dados desta pesquisa,
denominado Teste de Livre Associação de Palavras. Essa técnica possibilita é o
levantamento de identificação do núcleo central das representações sociais (VERGÈS,
1994), entretanto não é o suficiente para dar conta da apreensão de uma Representação
Social, uma vez que, seu estudo não pode se resumir a uma lista de palavras
desvinculadas do contexto social e discursivo dos sujeitos. É aí, que essas palavras irão
ganhar significados, filtrados pelos valores e crenças do grupo. Portanto, é necessário
empreender a articulação com outros procedimentos, em proveito da produção de
resultados capazes de fazer avançar a teoria e a pesquisa das Representações Sociais.
O teste foi aplicado com os graduandos ingressantes e concluintes de 2014.1 dos
cursos de Licenciaturas da IES em lócus. A primeira parte se deu pela caracterização
dos respondentes. No segundo momento, pediu-se que os sujeitos escrevessem as três
palavras que viessem em sua mente quando ouviam o termo: ―Currículo‖, após isso, foi
pedido que justificassem cada palavra mencionada e hierarquizasse a ordem escolhida
para cada uma. Dentre a variedade de técnicas de coleta e tratamento de dados que
podem identificar os elementos que compõem o núcleo central e o sistema periférico, a
técnica utilizada nesse estudo é uma das mais usadas na etapa de levantamento de
elementos representacionais: a análise prototípica ou, nos termos de Moliner (1994),
teste de associação livre de palavras.
É relevante mencionar que o instrumento foi aplicado nos cursos propostos e
após leitura exaustiva do material coletado, procedeu-se a análise de seu conteúdo,
segundo as proposições de Bardin (1977): desvendando significações de diferentes tipos
de discursos, baseando-se na inferência ou dedução, mas respeitando critérios
específicos propiciadores de dados em frequência e estruturas temáticas.
III – APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
Diante do panorama aqui delineado o presente estudo buscou investigar junto
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aos alunos dos cursos de Licenciaturas, algumas reflexões sobre currículo enquanto
conjunto de atividades desenvolvidas pelas universidades, com o olhar no estudo de
futuros professores sobre as práticas educativas, focando os aspectos estruturais e
conceptuais que distingue os Cursos pautados nas Diretrizes Curriculares Nacionais.
Foram distribuídos questionários a 85 alunos da nossa Instituição de Ensino, dos
diversos cursos de licenciaturas. O questionário foi dividido em dois momentos: o
primeiro momento destinado à caracterização dos sujeitos respondentes e num segundo
momento um questionamento com perguntas abertas e fechadas, priorizando uma
análise sobre o conhecimento do que é currículo.
Da análise do conteúdo empreendida, numa tentativa de compreensão das
respostas, indagamos sobre currículo e verificamos que a maioria afirma ser um
conjunto de disciplinas e correlacionam ao mercado de trabalho, outros apontam aos
conhecimentos adquiridos e as normas, conforme os discursos a seguir: ―Disciplinas
organizadas em cada período‖ (B5); ―É um planejamento dos conteúdos a serem
trabalhados‖(A10); ―Currículo é tudo aquilo que fica registrado em uma aula‖ (C17);
―É um documento onde é relatado suas experiências profissionais, o que você tem para
oferecer‖ (B28); ―É um documento que contém sua formação profissional a fim de levar
ao mercado de trabalho‖ (D56); ―É um conjunto de normas a serem seguidas ―(B74).
Dentro das propostas de nossos estudos, tendo em vista que muito se tem
discutido sobre o currículo e a constituição do processo de formação docente que
implica em uma reflexão permanente sobre a natureza, os objetivos e as lógicas que
presidem na concepção do educador enquanto sujeito que transforma e ao mesmo tempo
é transformador pelas próprias contingências da profissão.
Para tanto, o universo de alunos já caracterizado é feminino, com 90% dos
alunos. Quanto à idade encontramos em A 33% entre 20 a 25 anos e entre 31 a 35 anos
e 24% na faixa de 36 a 40 anos e 30% de 20 a 25 anos no curso de B. E quanto às
atividades profissionais 67% de A e 78% de B trabalham e destes totais 50% atuam na
área da educação.
Como nosso mergulho implica aos desafios da demanda por uma coesão entre o
currículo e as DCN nos resultados encontrados identificamos que 50% de A e um total
de 56% de B afirmam ter conhecimento das diretrizes de seu curso. Entretanto, 50%
declaram não ter conhecimento se as matrizes curriculares dos cursos atendem as
exigências das diretrizes específicas de seus cursos. Verificou-se que o Curso A aponta
que os conteúdos específicos devem ser evidenciados na composição do currículo, mas
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para os alunos de B, consideravelmente o enfoque foi na abordagem dos conhecimentos
didáticos e metodológicos de ensino.
Em seguida, aplicamos o teste de associação livre com justificativas para os
alunos concluintes dos cursos. O tratamento do teste com a expressão indutora DCN foi
realizado com o auxílio do software EVOC, conforme propõe Vérges (1994) que
identifica os possíveis elementos do núcleo central considerando a frequência e a ordem
média de evocação. Verificou-se que o elemento conhecimento e metodologia estavam
presentes na estrutura das representações.
A análise do conteúdo conforme Bardin (1977), do elemento central
conhecimento, de acordo com as justificativas dos sujeitos sinalizam de forma positiva,
pois este elemento é suma importância no fazer docente, como eles alegam: ―O
conhecimento é muito importante ensino da língua portuguesa, com o professor deve
sempre estudar e se atualizar‖(L 01); ―O Pedagogo deve ser um eterno pesquisado e
conhecimento nunca é demais‖(P08).
Mediante o posicionamento dos sujeitos pode-se apontar que as discussões sobre
currículo e DCN incorporam as questões dos conhecimentos escolares, sobre os
procedimentos e as relações sociais ―que conformam o cenário em que os
conhecimentos se ensinam e se aprendem‖ (MOREIRA; CANDAU, 2003, p.28).
Assim, reiteramos que conhecimento é um dos aspectos primordiais de currículo. Nesse
sentido, surge a necessidade de uma prática docente eficaz e comprometida ―que
conheça bem, escolha, organize e trabalhe os conhecimentos a serem aprendidos pelos
alunos. Daí a importância de selecionarmos, para a inclusão no currículo,
conhecimentos relevantes e significativos‖ (MOREIRA; CANDAU,2003, p.21).
O elemento metodologia, que também aparece no núcleo central, se dá tanto pela
dificuldade de ensinar e aprender uma disciplina: ―A disciplina de Estatística é muito
difícil de ser aprendida e até mesmo ensinada‖( P15 ); ―Eu pensei que quando eu
entrasse para o curso eu ia saber tudo sobre a gramática, que desilusão, é difícil de
aprender e de ensinar‖ (L11).
É neste aspecto que muitos professores hoje em dia utilizam de uma prática
totalmente fora da sua realidade escolar, já que quando ingressou numa universidade
para aprender a ser professor e nesta universidade se preocupou com questões mais
reflexivas do que práticas, fugindo de modo geral das Diretrizes.
Conforme explica Sá (1998), na perspectiva de Moscovici as representações
deveriam ser reduzidas a formas de conhecimento da vida cotidiana, com a função de
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possibilitar a comunicação entre os sujeitos e orientar comportamentos. Durkheim tinha
uma concepção estática das representações, mas na sociedade atual, a qual interessa a
Moscovici, as representações possuem caráter plástico; portanto, elas passam a ser
consideradas dinâmicas, conforme ele mesmo explica:
se, no sentido clássico, as representações coletivas constituem
em um instrumento explanatório e se referem uma classe geral
de ideias e crenças (ciência, mito, religião, etc.), para nós, são
fenômenos que necessitam ser descritos e explicados. São
fenômenos específicos que estão relacionados com um modo
particular de compreender e de se comunicar — um modo que
cria tanto a realidade como o senso comum. É para enfatizar
essa de ―coletivo‖ (MOSCOVICI, 2003, p. 49).
Abric (2001, p.28) entende que as representações sociais são ―o conjunto
organizado de informações, atitudes, crenças que um indivíduo ou um grupo elabora a
propósito de um objeto, de uma situação, de um conceito, de outros indivíduos ou
grupos, apresentando- se, portanto, como uma visão subjetiva e social da realidade‖. Ele
se dedica à estrutura das representações sociais e elabora, em 1976, a perspectiva do
núcleo central. Nesta perspectiva, a RS de um objeto é organizada em torno de um
núcleo central, constituído por um ou mais elementos que lhe dão significado, e um
sistema periférico. Ainda Abric (idem, p.31), núcleo central é ―todo elemento que
desempenha um papel privilegiado na representação, no sentido que os outros
elementos dependem dele diretamente porque é em relação a ele que se definem seu
peso e seu valor para o sujeito‖. O sistema periférico, situado ao redor do núcleo central,
faz conexão entre o núcleo central e a realidade concreta, possibilita que as
representações sejam ao mesmo tempo rígidas e flexíveis.
Desta forma, a teoria das RS é pertinente ao escopo desta pesquisa por focalizar
os sentidos atribuídos ao currículo pelos alunos do Curso de C e ao mesmo tempo
apontar constitutivos da representação correlacionados no percurso da graduação.
Conhecer a RS sobre currículo pelos alunos pode ampliar o espaço da discussão sobre
cognição, processos e práticas educativas. Assim sendo, separamos os testes de livre
associação aplicados aos graduandos ingressantes e concluintes de 2014.1.
Uma nova releitura das palavras evocadas foi submetida ao software EVOC
(VÉRGES, 1994) que identifica os possíveis elementos do núcleo central, para tanto
foram encontrados a estrutura do núcleo central da representação social de currículo
quando alunos concluintes o elemento planejamento e quando alunos ingressantes os
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possíveis elementos conteúdo, formação, emprego e trabalho. As justificativas às
palavras evocadas foram analisadas conforme proposto por Bardin (1977) para
compreender os sentidos atribuídos aos elementos identificados no núcleo central e
sistema periférico dessas representações sociais.
Para tanto, ressaltamos algumas justificativas dos alunos concluintes ao
afirmarem da importância do planejamento e suas implementações adequadas nas fases
pertinentes ao fazer docente no exercício da elaboração das atividades curriculares
contribuindo para o processo ensino e aprendizagem, como nos dizem que ―o currículo
se faz mediante um planejamento sério a respeito das necessidades dos grupos
escolares‖– CC10 e ―é necessário planejamento para criar um currículo‖– CC14.
Na primeira periferia se encontra formação e para compreender os sentidos
atribuídos aos elementos, demos sequência na análise das justificativas dadas às
palavras evocadas conforme proposto por Bardin (1977). Sendo o planejamento
entendido como necessário na prática docente, mas não se pode deixar de lado que a
organização curricular é muito importante como diz CC02– ―pois currículo contém a
formação que temos para entrar no mercado de trabalho‖. A análise de conteúdo das
respostas dos alunos ingressantes ratificam as hipóteses e mostram a imensa
desinformação e desconhecimento dos mesmos quanto ao conhecimento sobre currículo
ao chegarem ao ensino superior, por encontrarmos os elementos conteúdo, formação,
emprego e trabalho, o que se justificam nas falas a seguir: CI-31: ―Onde encontramos
informações sobre formação acadêmica‖; CI-32: ―Para trabalhar é preciso de um
currículo‖ e CI-19: ―Através de uma boa formação e um bom currículo gera um
emprego‖. Para esses alunos o currículo nada mais é do que um documento preparado
com as informações acadêmicas necessárias para comprovação na busca de emprego.
Diante do panorama aqui delineado o presente estudo buscou investigar junto
aos alunos do curso de licenciatura de Letras, de uma Universidade privada, no
Município de Nova Iguaçu, Baixada Fluminense/Rio de Janeiro, algumas reflexões
sobre currículo enquanto conjunto de atividades desenvolvidas pelas universidades, com
o olhar no estudo de futuros professores sobre as práticas educativas, focando os
aspectos dialógicos entre as disciplinas: Língua Portuguesa e Linguística Aplicada
pautadas nas Diretrizes Curriculares Nacionais.
Foram distribuídos questionários aos alunos do Curso de Letras, sendo dividido
em dois momentos, o primeiro momento destinado à caracterização dos sujeitos
respondentes e num segundo momento um questionamento com perguntas abertas e
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fechadas, priorizando uma análise sobre a relação entre Língua Portuguesa e Linguística
Aplicada. Encontramos um universo de alunos no curso de licenciatura feminino, onde
totalizamos uma representação acima 90% dos alunos. E quanto às atividades
profissionais 80% trabalham e destes totais 40% na área da educação. Da análise do
conteúdo empreendida, numa tentativa de compreensão das respostas, indagamos sobre
o conhecimento das disciplinas de Língua Portuguesa e Linguística Aplicada nos
resultados encontrados identificou que 70% dos alunos afirmam terem conhecimentos
teóricos sobre essas disciplinas.
Quanto à prática educativa, 40% declaram que preferem ensinar a língua de
forma pragmática e 60% ensinarem por meio da relação teórico-prática. Após, foi
analisada a pergunta que propõe um tópico que deve ser mais enfatizado na composição
de todo curso a luz de uma avaliação curricular. Da análise do conteúdo, na tentativa de
compreender as resposta e numa reflexão sobre a profissão futura e a contribuição das
disciplinas, verificou-se que as duas disciplinas podem trabalhar de forma interacionista.
Neste caso, salientamos que os resultados intensificam o perfil do profissional
almejando as competências e habilidades implícitas nas diretrizes de seus cursos, mas
comprometedor no que diz respeito ao desconhecimento se as matrizes dos cursos
atendem as exigências focadas e essenciais à formação e ao exercício da docência.
A pesquisa foi realizada numa Instituição de ensino superior da rede privada na
Baixada- Nova Iguaçu, com alunos concluintes em 2013.2, sendo alunos do Curso A e
do Curso C, no intuito de identificar a preparação que este alunado obteve no processo
de formação na sua IES. Em relação aos instrumentos de Coleta de Dados, a presente
pesquisa procurou estudar o fenômeno Estágio, a partir da técnica de questionário
semiestruturado, por da análise de conteúdo da pesquisa quantitativa e qualitativa pela
teoria de Bardin (1977).
O questionário semiestruturado foi aplicado aos alunos do último período dos
cursos em estudo de 2013.2, que estudam no horário noturno, visando coletar a opinião
pessoal dos graduandos-concluintes referente ao Estágio e à Formação Docente Inicial.
Esta técnica apresentou um total de 16 questões que variaram de abertas a fechadas e
incluíram questões relativas à categorização dos sujeitos, conhecimentos curriculares e
teórico-práticos. Em relação à categorização dos sujeitos no Curso A têm-se 83 % o
sexo feminino; 25 % estão na faixa etária de 26 a 35 anos e 58% na de 36 a 45 anos;
17% se consideram pardos e 83% brancos; quanto ao nível de formação do ensino
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médio têm-se 25% com formação geral e 25% com formação profissionalizante e 75%
cursaram o ensino normal médio.
No Curso C têm um universo de 75 % de alunos do sexo feminino, e 25%
masculino, onde 18 % estão na faixa etária de 20 a 25 anos; 35% 26 a 35 anos e 47% na
de 36 a 45 anos; 22% se consideram pardos e 78% brancos; quanto ao nível de
formação do ensino médio têm-se 58% com formação geral e 30% com formação
profissionalizante e 12% cursaram o ensino normal médio. Nesta técnica, após análise
destacamos as questões mais relevantes para apresentarmos neste estudo.
Primeiramente, a respeito dos Cursos de Licenciaturas houve a intenção de saber se os
alunos achavam o seu curso fácil ou difícil, sendo que (58%) ,disseram que acham um
curso difícil: ―Sim. Principalmente a Língua Portuguesa‖ (A 01); ―Sim. Muito difícil‖
(C 03). Se a escola de hoje precisa propor respostas educativas e metodológicas, em
relação às novas exigências de formação postas pelas realidades contemporâneas, é
primordial pensar num sistema de formação de professores supondo, portanto, a
reavaliação de objetivos, conteúdos, métodos, formas de organização do ensino, diante
da realidade em transformação.
Em relação à disciplina que eles menos se identificavam encontrou-se um
universo de 75% (setenta e cinco) respondentes que não gostam da Didática: ―A meu
ver está fora da realidade‖ (A 20); ―Porque ela se aplica muito bem na teoria, mas a
prática é diferente‖ (C 03). As declarações indicam que a maioria dos alunos configurou
uma imagem sobre os Cursos como ―difícil‖. Todavia, eles têm mais interesse em
aprender as disciplinas teóricas como Língua Portuguesa e Ciências Biológicas. O
interessante é que os respondentes são contraditórios, uma vez mencionados por eles
que o Curso é difícil, devido à metodologia ser muito teórico, com muitas regras a ser
decoradas. Entretanto, em seguida, sinalizaram que gostam dessas disciplinas
mencionadas e que não se identificam, com a Didática.
É necessário refletir sobre o discurso desses respondentes em relação que a
Língua Portuguesa, Ciências Biológicas e a Didática têm como relevância a parte
teórica. Assim, indicam que a disciplina Didática aplicada em sala de aula, tende a fugir
da realidade dos Cursos de Licenciaturas; ou seja, ela é ministrada sem relacionar a
teoria com a prática e, com isso, os alunos acham desnecessária esta disciplina em sua
matriz curricular. É de suma importância, em qualquer curso de formação de
professores o conhecimento pedagógico; ele é a base para desenvolver o saber-fazer e o
saber-teórico conceitual e suas relações. Esse conhecimento pedagógico emancipa a
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aprendizagem em diferentes situações, sendo importante a adequação do ensino dentro
do espaço escolar, em suas dimensões sociais e culturais (BOLZAN, 2002).
Outra questão era saber se, quando este graduando foi para a sua vivência no
Estágio, ele conseguiu associar, na sua prática, o que aprendeu na Universidade e 67%,
responderam que não conseguiram: ―A teoria que aprendi na faculdade, pouco me
ajudou no Estágio‖ (A18); ―Não consegui fazer na prática o que aprendi na
Universidade‖ (C 05).
O Estágio não é um conhecimento que se faz em si, todavia necessita de saberes
constituído em todas as disciplinas do curso de formação. Ele não é uma prática
individual e sim coletiva, pois a função do docente está inserida numa sociedade
histórica e cultural. Sendo assim, a teoria e prática estão inseridas tanto na Universidade
como no campo do Estágio. O desafio está em saber desenvolver essa relação durante o
processo de formação (PIMENTA, 2001). E, para contemplar esta análise sobre os
conhecimentos adquiridos no Estágio, foi levantada a questão de como os alunos
ministrariam a aula após a sua formação, sendo que 8% disseram que iriam trabalhar de
forma contextualizada e com atividades teórica-prática; 17% com atividades práticas;
25% com aulas teóricas e 42% não sabem como ensinar, nesse aspecto, é relevante
destacar: ―Da forma como aprendi‖ (A 01); ―Não sei, pois tive pouca experiência em
sala de aula‖ (C 12).
As práticas dos professores da educação continuam as mesmas, tais como aulas
cópias para copiar; não conseguem relacionar a teoria com a sua prática,
impossibilitando sua renovação; alguns professores não ultrapassam o mero ensino e a
mera aprendizagem por duas razões claras: definem o professor como repassador de
aulas e o aluno como receptor disciplinado (DEMO, 1998). Por isso considera-se que
―escola e universidade têm diante de si desafios muito próprios, que são: gerir o talento,
administrar a criatividade e manejar a rebeldia crítica. [...] Pois, não basta administrar é
indispensável saber construir e participar‖ (DEMO, 1998, p. 146). Para finalizar esta
análise, verificaram-se os alunos, a partir da sua formação inicial, estavam preparados
para enfrentarem a sua profissão, sendo que 67% alegam não estarem preparados para
sua futura profissão.
V – CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Como resultado inicial percebemos que da análise do conteúdo empreendida,
verificou-se que a maioria afirma o currículo ser um conjunto de disciplinas e
correlacionam à exigência do mercado de trabalho; outros apontam aos conhecimentos
adquiridos e as normas. Nesta perspectiva, nos fez considerar a busca de questões
ligadas à metodologia utilizadas pelos professores focando suas práticas educativas e as
ementas abordadas são pertinentes no escopo de estudos futuros.
Na sequência de nossos estudos, percebemos que no segundo resultado da
pesquisa a maioria dos alunos está preocupada em aprender mais as disciplinas da sua
área específica. Com isso, nos fez refletir algumas questões: será que no seu curso foi
levantada a hipótese de que só a teoria da área específica não iria gerar o ensino-
aprendizado de seus alunos? Contudo foi relevante buscar indícios junto aos alunos dos
cursos de licenciatura das Representações Sociais deles frente à contribuição das
disciplinas em relação à prática docente a ser exercida numa profissão futura,
Nesse trabalho, nossos resultados nos fazem perceber que para os alunos
ingressantes, o sentido de currículo é atribuído a sua expectativa de atuação profissional
no mercado de trabalho, baseado na estrutura dos conhecimentos recebidos durante o
curso. Com relação aos alunos concluintes fica claro uma verdadeira contribuição da
formação do curso quando enfatizam o sentido da organização dos conteúdos a serem
trabalhados não de uma forma restrita e rotineira, mas numa possibilidade ampla e
plural. Neste sentido, acreditamos que se ao ingressarem os alunos pareciam ancorar os
sentidos de currículo ora exigido como um documento de apresentação com os devidos
comprovantes da sua vida escolar e profissional, ora a um conjunto de conteúdos
propostos no curso. Ao concluírem o curso, parecem ancorá-los no planejamento da
ação pedagógica, entendido como um processo de racionalização, organização e
coordenação da ação docente e que necessita conhecimento e responsabilidade para
executá-la.
O resultado desta pesquisa se fez pela coleta e análise do questionário
semiestruturado, em que eles relatam que ensinar uma disciplina isolada como no Curso
A e no Curso C, se tornam difícil, pois estas se distanciam da realidade social, cultural
do alunado, como também apontou que não gostam da disciplina didática por ela não
fazer relação com essas disciplinas mencionadas. Assim, os cursos de Licenciaturas,
neste estudo, apresenta o perfil do futuro professor se encontra fora da realidade escolar,
pois, durante o período de estudos, as disciplinas ministradas não contribuíram para o
enfrentamento da sala de aula, desta forma, se torna notório que possivelmente não há
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uma interação quanto à teoria e a prática, necessitando de uma reformulação curricular
em alguns Cursos de Licenciaturas, já que formação de professor precisa acompanhar as
necessidades que irão qualificar e preparar os futuros profissionais ao exercício do seu
ofício através do desenvolvimento da consciência reflexiva-crítica.
IV – REFERÊNCIAS
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i As autoras e o autor dos trabalhos que compõem esse painel são pesquisadores do Grupo de Pesquisa
Gestão Escolar e Políticas Públicas da Universidade Iguaçu (RJ). ii Uma versão desse estudo foi publicado na Revista Saberes Múltiplos da Universidade Iguaçu (n. 2, out.
2015, p. 95-106). iii
Grupo de Pesquisa Gestão Educacional e Políticas Públicas/UNIG. iv Projeto iniciado em 2014 e finalizado em 2015, no âmbito da Universidade Iguaçu.
v PIC – Projeto de Iniciação Científica.
vi Cf. http://ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/populacao_jovem_brasil/default.shtm. Acesso em: 29
jul. 2015. vii
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