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O PROIBICIONISMO DAS DROGAS E O OPERACIONISMO DA
NECROPOLÍTICA1
Luiza Costa Iunes Sa Fortes2 Daniela Cristina Belchior Mota3
Lara Brum de Calais4
RESUMO: Este artigo teve como finalidade analisar os modos pelos quais o proibicionismo das
drogas pode operar, produzir ou manter as lógicas da necropolítica no Brasil. Diante disso, foram utilizados como material de discussão e ilustração temática a pesquisa realizada pela Rede de Observatórios da Segurança “Racismo, Motor da Violência” , bem como a apresentação de gráficos e base de dados de noticiários para
exemplificar e constituir a temática aqui discutida, compondo eixos sobre raça, policiamento e necropolítica. A partir dos estudos sobre o proibicionismo das drogas, foi possível verificar que essa política é marcada pelo pilar da branquitude burguesa sobre o lugar de perigo associado ao uso de drogas. Além disso, infere-se que o
proibicionismo envolve interesses econômicos, políticos, jurídicos e policiais que vêm se constituindo através da biopolítica que atua na gestão da população, justificada pelo discurso de guerra contra a violência decorrente ao uso e comercialização das drogas. Contudo, o combate se faz majoritariamente contra a população que é
constantemente marginalizada pela racialização dos corpos e por um Estado de Exceção operacionalizado pela necropolítica e pelo extermínio da população pobre e negra, especialmente.
Palavras-chave: Proibicionismo das drogas. Racismo. Biopolítica. Necropolítica.
THE PROHIBITION ON DRUGS AND THE OPERATIONALISM OF THE
NECROPOLITICS
ABSTRACT: This article had as finality to analyze the ways that the prohibition on drugs can operate,
produce or maintain the necropolitics in Brazil. With that being said, as material of discussion and thematic illustration we used the research made by the Rede de Observatórios da Segurançã “Racismo, Motor da Violência”, as well as the presentation of graphics and data bases from newscasts to exemplify and build the
thematic here debated, making axes about race, policing and necropolitics. Considering the studies about prohibition on drugs, it was possible to verify that this
1 Artigo de trabalho de conclusão de curso de Graduação em Psicologia do Centro Universitário Academia, na Linha de Pesquisa Psicologia e relações sociais, comunitárias e políticas. Recebido em 02/11/2020 e aprovado, após reformulações, em 02/12/2020. 2 Discente do curso de graduação em Psicologia do Centro Universitário Academia (UNIACADEMIA). E-mail: [email protected] 3 Docente do Centro Universitário Academia (UNIACADEMIA) e Doutora em Psicologia pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). E-mail: [email protected] 4 Pós Doutoranda pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e Doutora em Psicologia pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). E-mail: [email protected]
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politics it’s tagged by the white bourgeoisie cornerstone about this place of danger
related to consume of drugs. Furthermore, it is inferred that the prohibition involves economics, political, legal and police interest that are constitute through the biopolitics that acts on the administration of the people, justified by the war speech against the violence that comes from de consume and the selling of drugs. However, the combat
happens mostly against the people that are constantly marginalized by the racialization of the bodies and by an Exception State that works for the necropolitics and for the extermination of the poor and black people specially.
Keywords: Prohibition on drugs. Racism. Biopolitics. Necropolitics.
1 INTRODUÇÃO
O presente artigo pretende analisar de que modo o proibicionismo das drogas
pode produzir ou manter as lógicas da necropolítica no Brasil. Para isso, utilizou-se
de análises da literatura a partir de exame crítico especialmente em articulação com
a Psicologia Política, dialogando com autores, como Mbembe, Foucault e Silvio
Almeida; e estudos sobre álcool e outras drogas. Para a busca teórica e metodológica,
expressões e conceitos disparadores foram utilizados para fins de acesso a materiais
que consubstanciassem as discussões provocadas pelo objetivo do artigo, sendo
estas: proibicionismo das drogas, biopolítica e necropolítica.
Até a instauração dos domínios governamentais, o termo droga não se
caracterizava como algo prejudicial. Determinadas substâncias, inclusive, se inserem
na história por serem consideradas benéficas em termos alimentícios, terapêuticos e
recreativos, auxiliando na contenção de dores, incômodos derivados de doenças e
sentimentos desconfortáveis. Desta forma, as drogas também foram e são utilizadas
para estímulos relacionados à percepção, concentração e até mesmo como fonte de
conexão em rituais religiosos (TORCATO, 2016).
Em suas análises históricas sobre a existência e uso das drogas, Carneiro
(2005) oferece argumentações significativas para uma leitura contextual sobre as
substâncias e sua relação com a sociedade. Deste modo, no âmbito religioso é
possível identificar as drogas como a própria materialização dos deuses, como por
exemplo, a existência do vinho como elemento simbolizante do sangue de Cristo nos
cultos religiosos cristãos. Além disso, as modificações da percepção sensorial
causadas pelo uso de algumas substâncias são notáveis por suas diversas funções
culturais, sendo uma delas a composição da sensação do prazer e bem-estar. Em
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vista disso, as funções e efeitos atribuídos ao consumo de drogas as transformaram
em produto de extrema vantagem político-econômica, o que configurou o controle
sobre determinadas substâncias como proveniente de poder e patrimônio, bem como
a rivalidade pela manipulação exclusiva na delimitação do consumo.
No século XX, sediada pelos Estados Unidos e atribuída pela Organização das
Nações Unidas (ONU), as convenções e conferências tiveram como finalidade o
controle do mercado e o consumo do ópio e da cocaína em seus países signatários e
respectivos territórios, o que instaurou o vigente modelo proibicionista e estabeleceu
a guerra contra às drogas (CARVALHO, 2011). A normativa política, econômica,
policial e jurídica do proibicionismo, advém de fatores ligados ao interesse econômico
da indústria farmacêutica pelo monopólio de substâncias; conflitos geopolíticos;
puritanismo religioso; racismo; e associações do dispositivo policial e judicial
(CARNEIRO, 2017).
No mesmo século que foi instaurada, a proibição, segundo Luciana Rodrigues
(2006), ocasionaram-se contradições em seus princípios, tal como o aumento do
consumo de drogas. Na esfera da saúde pública e, diante deste cenário, um alto índice
de infecção pelo vírus HIV e demais doenças por meio de drogas injetáveis foi
alcançado, bem como o crescimento de mortes atribuídas aos conflitos ao tráfico de
drogas. No campo socioeconômico, encontra-se o aumento da vigilância, do controle
e da violência sobre a juventude pobre, negra e periférica, que frequentemente são as
pessoas mais atingidas pela maquinaria do racismo e pelos efeitos do tráfico. Está
incluída, ainda, a criminalização dessa juventude que decorre da somatória de
elementos que interseccionalmente justificam lógicas de culpabilização pelo tráfico de
drogas.
Em estudos sobre o proibicionismo, Thiago Rodrigues (2008, p. 98) destaca
este fator como uma importante estratégia de controle social e persecução seletiva, a
qual possibilita que uma determinada parcela da sociedade seja “controlada,
revistada, observada de perto e confinada”. E ainda, pode ser considerada como um
mecanismo de dominação que propicia a prática do racismo e a gestão da vida e da
morte da principal população alvo do proibicionismo (JÚNIOR, 2016). Tais
articulações colocam em diálogo dois conceitos que encontram suas semelhanças e
também distintos desdobramentos, que serão abordados ao longo do artigo, ou seja,
a aproximação com o que Foucault (2014) trabalha como noção de biopolítica e a
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ação de controle e governo sobre o corpo populacional e societário; e a relação com
a construção de Mbembe (2018) sobre a operação da necropolítica, por meio da
gestão sobre a morte da população e seus mecanismos de anulação da vida, por
vezes, operada pelo Estado.
A respeito desse conceito de necropolítica ou política de morte, o mesmo
caracteriza-se como expressão máxima do poder de decidir quem importa e quem não
importa para a sociedade, bem como, o poder de ditar quem merece viver ou morrer
para a lógica de políticas de um Estado de Exceção. Isso, ancorado na normatividade
do poder de matar, atuando na composição de uma racionalidade das relações na
contemporaneidade (MBEMBE, 2018).
Portanto, fez-se necessário abordar uma breve apresentação sobre as nuances
históricas do proibicionismo das drogas e como este se insere e (re) produz nas
tecnologias de poder. Como material de discussão e ilustração temática, sem, no
entanto, intencionar uma análise sistematizada sobre o material, foi utilizada a
pesquisa realizada pela Rede de Observatórios da Segurança – “Racismo, Motor da
Violência”, a qual contempla gráficos e base de dados de noticiários a partir da análise
de jornais e redes sociais. Tais materiais foram utilizados no presente estudo para
exemplificar e compor a temática aqui discutida, compondo os eixos de discussão,
sendo eles: “Racialização dos corpos, policiamento e necropolítica”; e “Efeitos da
necropolítica”.
2 O PROIBICIONISMO DAS DROGAS E AS TECNOLOGIAS DE PODER
No contexto brasileiro, as leis que normatizam a questão das drogas passaram
por grandes transformações segundo uma perspectiva normativa. Fundamentadas
nas convenções internacionais sediadas pelos Estados Unidos no século XX, em sua
maioria, as leis sobre drogas foram ancoradas pela opressão social. Tal ancoragem
objetivava limitar e penalizar o uso de drogas, o qual passou a ser considerado um
perigo para a sociedade e o responsável por boa parte dos problemas sociais,
forjando, portanto, uma visão criminalizante sobre o consumo e a venda de
substâncias. Este modelo colaborou para que o Brasil exercesse a proibição de
substâncias caracterizadas como ilegais, tais como o ópio e seus derivados (SILVA,
2017).
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Neves (2015) aponta que o que predomina nos dispositivos da política
proibicionista é o governo sobre a vida do sujeito, sendo que estes, devem ser úteis
ao Estado e abster-se do uso de drogas ilícitas que os tornam, supostamente,
ineficientes a este. O governo sobre a vida da população, em uma leitura foucaultiana
delineia-se como modo de governamentalidade, ou seja, consiste na conformação de
instituições, técnicas, reflexões, análises e mecanismos orientados à população,
tendo como principal modelo de ferramentas e dispositivos de segurança a economia
política (FOUCAULT, 2008).
Enquanto modo de execução de determinada política, o proibicionismo aparece
como uma das tecnologias de poder que constituem regimes de verdade que pautam
uma suposta forma de proteção e segurança da população. Tal tecnologia, através da
normatização e controle se direciona sobretudo para a retenção de crimes e o
consumo de determinadas drogas, colocando em movimento uma lógica de controle
sobre corpos e práticas. Isso se evidencia com o modelo clínico de toxicomania que
representa também outros formatos de normalização através da governamentalidade
sobre a conduta dos indivíduos para com o consumo de drogas (NEVES,2015).
Este modelo advém da patologização da loucura e do crime a partir da
formação da categoria diagnóstica toxicomania, que possibilitou o diagnóstico de
algumas doenças como provenientes do consumo de determinadas drogas, ou seja,
passou-se a enxergar as drogas como agentes da degeneração da sociedade e
doenças sociais, o que foi fundamental para a estabilização de uma hegemonia da
psiquiatria e do saber médico sobre as drogas. Desta forma, substâncias que antes
eram utilizadas a partir do entendimento tradicional e cultural para curar, passaram a
ser condenadas e criminalizadas. Nesta concepção, a medicina deveria então, tratar
e curar o contexto urbano desordenado reproduzido pela a doença e pela loucura
(NEVES, 2015), enraizando-se a lógica higienista nas práticas e saberes sobre a
saúde e a vida.
Essas dimensões validadas pelo saber médico vão admitir no Brasil uma
natureza sobretudo racista, pautada pelos pilares da branquitude burguesa, tornando-
se então, a pobreza e a raça como indícios de subalternidades e perigo. Esta posição
de suspeição e periculosidade passaram a ser alvo de controle por dispositivos e
ações, dentre eles a repressão policial sobre a população pobre, negra e periferizada.
Assim, as discussões jurídicas atravessam a elaboração de políticas públicas que
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desdobram efeitos de “limpeza social”, em especifico, povos imigrantes e pobres. É
sobre esta população que foram dirigidos parâmetros em sua educação para conter
os supostos maus hábitos e depravações, dentre eles, o problema das drogas
(BORTOLOZZI, 2018).
2.1 BRANQUITUDE, RACISMO E BIOPOLÍTICA
Ribeiro (2019) aponta que a população negra subsistiu pelo seus hábitos,
linguagem e cultura até serem uniformizados pelo mundo colonial, momento em que
tornaram-se os negros, através de uma ordem discriminatória, produto e mercadoria.
Baseada nas leituras e estudos de Grada Kilomba, Ribeiro ainda destaca o racismo
como um desdobramento da população branca, criado e elaborado pela branquitude
que deveria se comprometer por ele e, sobretudo, reconhecer-se como privilegiado e
se ocupar de práticas antirracistas.
As práticas da branquitude, não sendo uma concepção antagônica à negritude,
foram atravessadas e consolidadas em diferentes contextos e finalidades históricas.
A medida que a negritude se caracteriza pela expressão do sujeito na tentativa de
enfatizar sua identidade, pertencimento e valor negro, rompido pelo colonialismo; a
branquitude é marcada pela manifestação do discurso ético, concebido para
desvendar práticas de dominação e desmoralizar o lado velado na construção
colonial, como uma tentativa de camuflar a naturalização do ideário branco como um
fenômeno universal (LEITE, 2020).
Maria Aparecida Silva Bento (2002, p. 7), reflete que a branquitude é exercida
através de “[...] um pacto entre brancos, aqui chamado de pacto narcísico, que implica
na negação, no evitamento do problema com vistas a manutenção de privilégios
raciais”, no qual o temor da eliminação desses privilégios e do comprometimento pelas
desigualdades raciais, concebem a justificativa do valor branco sobre o negro.
Todavia, um dos principais subsídios da branquitude é o privilégio, elemento que
abrange toda a população branca, por estarem em uma disposição de supremacia
que, em sua maior parte, não depende de si. Tal disposição não está interligada a
propósitos objetivos, e sim a uma sucessão de condutas sociais tênue que a brancura
assegurou ao longo do tempo e independem da vontade e opinião crítica do sujeito
(CONCEIÇÃO, 2020).
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No âmbito das drogas, essa perspectiva pode ser verificada desde a origem
das políticas que interligaram os elementos de classe social, gênero e étnico-raciais,
com o caminho demarcado da elite masculina branca contra os homens negros e
pobres (ROSA; GUIMARÃES, 2020). Estes modelos são explicitados, por exemplo,
em algumas ações sobre a criminalização da maconha, em que práticas como a do
psiquiatra Rodrigues Dória, vinculou a erva a um caráter de vingança de negros cruéis
em combate aos brancos civilizados que os tinham escravizado (BARROS; PERES,
2011). Desta forma, a criminalização do uso da maconha esteve estreitamente
associada ao preconceito racial, bem como a criminalização dos costumes culturais
africanos (ROSA; GUIMARÃES, 2020).
O racismo pode ser compreendido como artifício geral do Estado que se
manifesta tanto em formas de purificação constante, quanto de normalização social .
Desta forma, é vinculado ao exercício de um Estado que opera sobre a raça,
aniquilando-a e/ou criando artifícios de uma forjada purificação, para assim,
desempenhar seu histórico poder soberano do direito de morte (FOUCAULT, 2010).
Em discussão centrada nas complexidades que envolvem as construções brasileiras
no que se refere ao racismo, Silvio Almeida (2018, p.38), argumenta que este consiste
no resultado da própria estrutura social, isto é, “do modo normal com que se
constituem as relações políticas, econômicas, jurídicas e até familiares, não sendo
uma patologia social e nem um desarranjo institucional. O racismo é estrutural”. Logo,
condutas individuais e métodos institucionais são provenientes de uma sociedade na
qual o racismo é ordem e não exceção, tornando-se ainda, elemento de uma norma
social.
Dizendo de outra forma, o racismo é também, uma relação de poder que se
apresenta em condições históricas. Nesse sentido, o Estado enquanto condição
política do mundo contemporâneo, produz as condições de possibilidade para que
encontre sustentação em meio a uma ordem estatal. E assim, como seguimento
histórico e político, o racismo cria conjunturas sociais, a fim de que, direta ou
indiretamente, classes racialmente apontadas sejam discriminadas. É, então, através
do Estado que a categorização de pessoas e a separação de indivíduos e grupos é
efetuada, onde a disponibilidade da reprodução ordenada de padrões racistas está na
disposição política, econômica e jurídica da sociedade (ALMEIDA, 2018).
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Todavia, a política proibicionista apresenta não somente uma seletividade na
criminalização de substâncias, como também na execução da lei. A arbitrariedade da
vigente legislação é um dispositivo que possibilita a prática do racismo e a gestão da
vida e da morte da principal população alvo da política, a juventude negra e periférica
(JÚNIOR, 2016). Deste modo, considera-se a relevância do entendimento da atual
política como mecanismo que se aproxima do que Foucault (2014) trabalha como
noção de biopolítica.
Na perspectiva foucaultiana, os mecanismos e tecnologias da biopolítica atuam
na direção de gestão sobre a população, supostamente, para sua defesa e segurança;
paradoxalmente, para seu controle e vigilância (FOUCAULT, 2010). Deste modo, esta,
se ocupa da gestão de uma sociedade composta por corpos disciplinados, os quais
tem suas ideias, saúde, subjetividade e vida dominados pelo poder. Isto, entendendo
o poder como uma teia de práticas que opera a condução de um conjunto de seres
vivos individualizados pelo treinamento e disciplina de corpos submissos e dóceis
política e produtivamente, favorável para a biopolítica e aos interesses dos que a
exercem (FOUCAULT, 2014).
Neste cenário, a biopolítica se vale de dispositivos que sustentam a lógica de
soberania sobre um grupo. Assim, pode-se dizer que através da ação de gestão e
governamentalidade – incluindo mecanismos de segurança a partir do uso dos
saberes e racionalidades políticas– a dinâmica biopolítica coloca em ação modos de
governo sobre a vida da população que incidem em práticas que compõem discursos
e operam tecnologias de conduta (FOUCAULT, 2010). Na leitura de Rodrigues, Cruz,
Guareschi (2013, p.18) “a biopolítica, atravessa o corpus da população, utiliza-se de
estratégias e táticas específicas para atingir determinadas finalidades”.
E ainda, para um formato social que tem como finalidade a produção constante
de mercadorias, o corpo deve ser frequentemente produzido como dócil politicamente
e útil produtivamente, sendo a força do trabalho humano rentável para o modelo
capitalista vigente da época. Todavia, em meados do século XX, sucederam algumas
mudanças técnicas na prática de produção capitalista, onde estas passaram a eliminar
massas humanas, mover pessoas para o desemprego estrutural, excluí-las nas
prisões, necessitando cada vez menos da força do trabalho humano. Deste modo, a
potência de trabalho se concentra na forma de máquinas que descartam sujeitos
vistos, agora, como desnecessários, impróprios e sobrantes. Isto, representa o ponto
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máximo da subjacência da prática de reprodução social do capitalismo (HILÁRIO,
2016).
Portanto, de uma política apropriada à configuração social, orientada para a
produção de vida, passa-se para uma política cuja finalidade é o extermínio em larga
escala através do trabalho de morte, ou seja, os indivíduos já não são mais rentáveis
para a composição social atual. É a partir deste contorno do capitalismo que o filósofo
e historiador Achille Mbembe explora os conceitos foucaultianos para problematizar
sobre as configurações de poder na contemporaneidade e, sobretudo, nas periferias
do mundo (HILÁRIO, 2016).
3 METODOLOGIA
A pesquisa foi realizada a partir de uma revisão narrativa de base qualitativa,
abrangendo uma pesquisa bibliográfica que compusesse um arcabouço teórico-
conceitual necessário para as articulações e elaborações, segundo enfoque
contextual relacionado à realidade brasileira (SALLUM; GARCIA; SANCHES, 2012).
Deste modo, utilizou-se de análises da literatura a partir de exame crítico
especialmente em diálogos com a Psicologia Política e estudos sobre álcool e outras
drogas, dialogando com autores, tais como Mbembe, Foucault e Silvio Almeida.
Para a busca teórica e metodológica, expressões e conceitos disparadores
foram utilizados para fins de acesso a materiais que consubstanciassem as
discussões provocadas pelo objetivo do artigo. Neste sentido, as expressões:
proibicionismo das drogas, biopolítica e necropolítica serviram de base para as buscas
iniciais nas plataformas Google Acadêmico e Scielo. Por meio dessa estratégia o
acesso e escolha da publicação elaborada e publicada pela Rede de Observatórios
da Segurança – “Racismo, Motor da Violência” (2020) se deu intencionalmente,
utilizando-o como material de discussão e ilustração temática - sem, no entanto,
intencionar uma análise sistemática do mesmo.
O projeto que deu origem à referida publicação foi iniciado pelo Centro de
Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), que inclui instituições acadêmicas e
ativistas compostas pela troca constante de realidades, conhecimentos e informações
entre grupos de pesquisadores do estado do Rio de Janeiro, Ceará, Pernambuco,
Bahia e São Paulo. O projeto, que reúne informações ao longo de 2019, tem como
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uma de suas funções o acompanhamento da segurança pública e de situações de
violência sucedidos nos cinco estados brasileiros supracitados, que compõem ainda
a elaboração de informações e comunicados para a realidade de cada um (PAIVA;
NUNES; RAMOS, 2020).
O material escolhido para discussão apresenta dados que evidenciam a
sustentação da normativa do poder de matar abordada no presente artigo pela
conjectura da necropolítica. Além disso, as análises de noticiários disponibilizados
pelo material denotam a ausência do racismo no discurso sobre violência descritas
pelas mídias, ao mesmo tempo que os dados sobre violência e policiamento
notificados e explicito nas imagens ilustradas nas matérias demonstram sua presença,
o que compõem a racionalização/normatização da violência sobre a população negra
justificada pelo discurso de combate às drogas e a criminalidade.
Nessa perspectiva, a Rede utiliza-se de pesquisas fundamentadas na
monitoração diária de mídias, com precisão metodológica e análises por grupos locais,
bem como o diálogo conjunto com a sociedade civil sobre os casos de violência. O
relatório contempla ainda, gráficos e base de dados de noticiários a partir da análise
de jornais e redes sociais (PAIVA; NUNES; RAMOS, 2020). Tais materiais foram
utilizados no presente estudo para exemplificar e compor a temática aqui discutida,
compondo os eixos de discussão que serão apresentados nos tópicos a seguir, sendo
eles: “Racialização dos corpos, policiamento e necropolítica”; e “Efeitos da
necropolítica”.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Após a breve apresentação sobre as nuances históricas do proibicionismo das
drogas e como este se insere e (re) produz nas tecnologias de poder, serão abordados
neste momento pesquisas realizadas pela Rede de Observatórios da Segurança –
“Racismo, Motor da Violência” que irão compor e ilustrar as discussões do artigo. As
pesquisas se fundamentam no acompanhamento da segurança pública e de situações
de violência sucedidos nos estados do Rio de Janeiro, Ceará, Pernambuco, Bahia e
São Paulo, a partir do monitoramento diário de mídias, os quais contemplam gráficos
e base de dados de noticiários a partir da análise de jornais e redes sociais. Dentre
diversos eventos monitorados pela Rede, as ações de policiamento foram as mais
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numerosas, sendo estas, no entanto, as utilizadas aqui para ilustração e discussão
acerca da racialização dos corpos e dos efeitos da necropolítica.
4.1 RACIALIZAÇÃO DOS CORPOS, POLICIAMENTO E NECROPOLÍTICA.
Mbembe (2018) aborda a soberania como manifestação máxima do poder e
decisão de ditar quem merece viver ou morrer, quem importa e quem não importa para
a lógica da política contemporânea. Essa lógica soberana é que conjectura os
impactos relevantes da necropolítica, tendo como principal finalidade a
operacionalização de corpos humanos e da sociedade. Para o autor, é
majoritariamente através do racismo que se desempenha o poder de determinar quem
deve viver e quem deve morrer, ou seja, este é uma das tecnologias que operam as
práticas do biopoder numa política de Estado letal. Destarte, a finalidade do racismo
é de governar a disposição da morte e tornar-se capaz os encargos assassinos do
Estado.
Conforme Silvio Almeida (2018), a partir do Século das Luzes, houve uma
organização social pautada na distribuição e especificação dos sujeitos. Nessa
perspectiva, através do biopoder, a raça tornou-se um elemento decisivo no
desenvolvimento humano, além de um argumento que embasasse a presença
concomitante de dois contextos que se opõem e que foram criados pela própria
configuração estatal, quais sejam autonomia e garantias iguais a todos em
contradição a trabalhos forçados e cerceamento de tomadas de decisão.
Além da valoração dos sujeitos, Mbembe (2016) aponta a questão racial como
finalidade para intensificar nos indivíduos aspectos do período do Iluminismo, à
medida que promove o afastamento de um sujeito para o outro. No entanto, da mesma
forma que o racismo constitui a divisão hierárquica da sociedade, também se
configura enquanto dispositivo que reforça o aparato estatal contemporâneo de decidir
quem deve morrer. Diante disso, Foucault (2005, p. 305) acredita que “A morte do
outro não é simplesmente a minha vida, na medida em que seria minha segurança
pessoal; [...] a morte da raça ruim, da raça inferior (ou do degenerado, ou do anormal),
é o que vai deixar a vida em geral mais sadia; [...]”.
No Brasil, a organização dos modos de punição advém de mecanismos
constituídos nos moldes da escravatura a partir do domínio entre o proprietário e a
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pessoa escravizada, onde ao longo da história criou-se a figura do criminoso a partir
da racialização de grupos considerados um perigo pela supremacia marcada pelo
embranquecimento e anulação do outro. Destarte, pode-se perceber o racismo como
um dispositivo que atua no saber e na prática policial adaptada pela ordenação jurídica
que opera sobre a categorização de delitos e divisões sociais, principalmente nos
crimes contra o patrimônio e o tráfico de drogas que se concentra no encarceramento
e extermínio de pessoas negras. E ainda, nos diversos modos de violência, desde as
ações policiais, às mortes e aprisionamento da juventude negra nas periferias,
encontra-se instrumentos de racialização estampados cotidianamente nos noticiários
sobre o combate às drogas e à marginalidade (RIBEIRO; SANTANA, 2020).
Nesse contexto, Mbembe (2018) enfatiza a construção colonialista onde os
povos negros eram considerados como mercadorias e estavam sujeitos a diversos
modos de violência. Desta forma, a colonização demonstra a projeção do poder sobre
a vida e às práticas de violência vividas pelos negros nesse momento histórico, que
se estende através das políticas vigentes impostas pelo Estado, a fim de educar e
distribuir objetivos racionais aos modos de matar. O autor conceitua essas práticas de
Estado como Estado de Exceção, o qual representa uma organização político-jurídica
e subjetiva que reduz o indivíduo ao corpo biológico e o priva de condição política, o
que favorece o trabalho da morte. Portanto, o Estado de Exceção é a sustentação
normativa do poder de matar que opera a construção de uma racionalidade na
constituição das relações na modernidade.
Além disso, também a respeito desse tipo de Estado, Mbembe (2016) aponta
que locais colonizados caracterizaram-se por restrições de direitos. A nação brasileira,
a qual permanece enraizada em sua construção colonial, acaba por reforçar,
frequentemente, nas mais variadas penalidades, a seletividade e a limitação de
direitos dos sujeitos marcados por serem alvo desse sistema, em que, dessa maneira,
prioriza uma parcela da sociedade em detrimento da supressão de uma outra. E ainda,
Carl Schmitt (2008) aponta que a permanência do poder tem como argumentação a
sua potência em promover conflitos dentro de seu território para então viabilizar que
seja mantida a homeostase, a qual é recorrentemente coagida por rivais constituídos
por eles próprios.
A disposição da morte como realidade do poder do Estado, o fuzilamento desde
a infância na produção da experiência negra em espaços de confronto e a
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necropolítica atravessada por um agrupamento de práticas racializantes, determinam
a condição política, estabelecem o cenário televisivo e espalham o medo para
venderem a harmonia social pautados na justificativa de que se deve combater às
drogas e a violência através da guerra contra a população pobre, negra e periférica
(OLIVEIRA; RIBEIRO, 2018). Pesquisas realizadas pela Rede de Observatórios da
Segurança – “Racismo, Motor da Violência” (2020) apontam que os noticiários que
exibem episódios de violência vivido pela população negra, camuflam a racialização
envolvida cotidianamente neste cenário. E ainda, demonstram a ausência de
informações quando se usa termos como “morte de jovem negro”, “racismo” e
“violência racial”, tendo apenas as ilustrações como f iguras que estampam a dinâmica
racial presente nos casos, enquanto o texto não as tornam visíveis (RIBEIRO;
SANTANA, 2020).
As análises de noticiários realizadas por estudos do Guia de monitoramento de
violações de direitos na mídia brasileira (2016, p. 105), demonstraram o racismo
produzido e naturalizado nos espaços midiáticos que pode ser verificado quando se
observa que somente os policiais disponibilizam informações sobre as ocorrências
sem indicar a ligação entre os crimes e a conjuntura socioeconômica e étnico-racial
das vítimas. Além disso, em relação ao discurso jornalístico de episódios de violência,
o estudo manifesta que “os jornais brasileiros debatem sobre racismo, mas
negligenciam a relação entre esta violência e o quadro de homicídios que vítima,
principalmente, a população negra no País”.
Coimbra (2001, p. 2) se atenta para as mídias como uma das ferramentas
sociais mais significativas no que diz respeito a construção de verdades, o qual opera
não somente no pensar, sentir e agir da sociedade frente as situações violentas
descritas pelas mídias, mas também sobre o que e como pensar e sentir diante desses
cenários. Deste modo, através da constante organização de “[...] racionalidade, de
legitimidade, de justiça, de beleza, de cientificidade os meios de comunicação de
massa produzem formas de existir que nos indica como nos relacionar [...]”, ou seja,
como sustentar-se num incessante seguimento de padronização midiática.
Ao analisar outros bancos de dados, a Rede evidência o distanciamento entre
negros e brancos no que diz respeito às mortes violentas. Tal distanciamento é
possível ser verificado nas taxas disponibilizadas pelo Atlas da Violência (2020), o
qual aponta que o índice de mortes da população negra é maior que o da população
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branca. Em 2018, dado mais recente disponibilizado pelo documento, indica que “[...]
os negros representam 75,7% das vítimas de homicídios, com uma taxa de homicídios
por 100 mil habitantes de 37,8”. Comparado a população branca que envolve também
amarelos e indígenas, “[...] a taxa foi de 13,9, o que significa que, para cada indivíduo
não negro morto em 2018, 2,7 negros foram mortos. Sobre a predominância de
homicídios entre homens e mulheres negros dos não negros, indica-se “74,0%
superior para homens negros e 64,4% para as mulheres negras (IPEA, 2020, p. 47-
68).
De 2019 a 2020, ao acompanhar 12.559 episódios que envolveram eventos de
feminicídio e violência contra mulher; violência contra crianças e adolescentes;
policiamento; manifestações, greve e protesto; violência contra LGBTI+; racismo e
injúria racial; eventos envolvendo arma de fogo e outros, a Rede de Observatórios da
Segurança (2020, p.8) constatou que “[...] as ações de policiamento foram as mais
numerosas, representando 56,2% do total” e que, embora se compreenda que o uso
e comercialização de drogas ilícitas não ocorrem apenas nas favelas e periferias, a
maior parte das ações constantemente associadas a guerra às drogas acontecem nos
territórios marcados pela pobreza, onde se localiza majoritariamente a população
negra (RIBEIRO; SANTANA, 2020).
Enquanto mecanismo de controle e práticas de racialização, o combate às
drogas, por meio de seu cumprimento baseado em objetivos tomados como
estratégicos, torna-se a frente da execução do plano genocida do Estado atual
brasileiro sobre a população negra e periferizada. Na tentativa de conter a
criminalidade e a comercialização de drogas, autoridades atuam de forma violenta nos
espaços periféricos, o que aumenta a lógica de criminalização nestes territórios e ao
mesmo tempo, desconsideram a presença do consumo e tráfico de drogas em
ambientes elitizados marcado pelos privilégios da branquitude. E ainda, o fato de não
existirem áreas ampliadas para produção de armas e plantação de drogas nas favelas,
enfatiza a desproporcional centralização de violência nesses espaços, considerando
a justificativa de encerramento da comercialização ilícita de armas e substâncias
(OLIVEIRA; RIBEIRO, 2018).
A Rede de Observatórios (2020) indicou que, durante um ano, 60% dos casos
documentados pelas mídias, sites de notícias e grupos de WhatsApp tiveram como
ponto central as polícias. Ainda ressaltou que temáticas importantes como “[...]
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violência de gênero (11% dos eventos monitorados), violência contra crianças e
adolescentes (5%) e outros tópicos, como racismo, violência LGBTI+ e intolerância
religiosa, também aparecem no momento atual”, porém, as ações policiais
permanecem no foco das discussões sobre violência e segurança (RAMOS et al.
2020, p. 25).
Os dados apresentados até o momento demonstram a dificuldade de
desenvolver e expandir novas narrativas perante as oposições que alcançam a
população negra. A instituição policial produz regimes de verdade (FOUCAULT, 1996)
através de informações constantes sobre “[...] apreensões de armas, prisões de
suspeitos, traficantes feridos em tiroteios, operações policiais que vitimam procurados
etc. forma e consolida um campo discursivo, que justifica e naturaliza excessos
policiais [...]”, e ainda, justificam operações violentas que se repetem cotidianamente
(RAMOS et al. 2020, p. 25).
Das informações sobre o policiamento, o que mais assombra é o total de mortes
ocasionadas pelas polícias, as quais foram verificadas pela Rede de Observatórios e
descritas por Ramos et al. (2020, p. 26) que constataram 984 mortos e 712 feridos, o
que significa que a cada sete operações fiscalizadas pelo menos uma morte foi
registrada. Portanto, a pesquisa enfatiza que “os números são a demonstração mais
cabal de que o problema da violência policial nos estados pesquisados é o uso da
força letal e não apenas os excessos e as arbitrariedades”, e que, mortes e violências
nas periferias são uma conjuntura factual diária, especialmente no Rio de Janeiro e
na Bahia.
As mortes ocasionadas por operações policiais já supracitadas representam o
amedrontamento concreto e contínuo para com a juventude negra e territórios
subalternizados, já que episódios de violência e mortes não serão investigados,
apurados ou penalizados. De certa forma, as movimentações de noticiários sobre
policiamento formam um pretexto que fundamenta essas mortes (RAMOS et al. 2020).
Nos registros sobre ações policiais contabilizadas em um total de 7.062 foram
analisados pela Rede de Observatórios da Segurança (2020) e esboçado por Ramos
et al. (2020) sobre quais acontecimentos e palavras foram mais utilizadas nas ações,
englobando descritores como prisão; suspeito; drogas; operação; tráfico;
mortos/feridos; abordagem; investigação; tiros; apreensão; confronto; inteligência;
negro/negra; racismo/racial.
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Como resultado da análise, a Rede, através da descrição de Ramos et al.
(2020, p.27) identificou que “[...] expressões como operações, drogas, suspeitos,
tráfico, prisão aparecem na ordem do milhar. Já as palavras investigação e inteligência
aparecem 373 e 25 vezes, respectivamente”. Já a palavra racismo/racial não foi citada
em nenhum momento e a expressão negro/negra apareceu apenas uma vez. Nessa
perspectiva, é possível observar que o racismo institucionalizado no aparato policial e
no sistema de segurança fica escamoteado na composição narrativa, uma vez que,
ao analisar 7.000 registros de policiamento, fundamentado em notícias de jornais e
redes sociais, a palavra “negro” aparece uma vez, sendo que, esta, é a população
mais atingida por mortes violentas no Brasil (RAMOS et al. 2020, p. 27).
O racismo estrutural e institucional fica evidente na matéria enfatizada pela
Rede de Observatórios da Segurança (2020) e apresentada pelo jornal Extra Globo,
quando policiais envolvidos na morte de Maria Eduarda Alves Ferreira,13 anos, por
quatro disparos dentro de uma escola municipal durante uma operação policial em
Irajá, Zona Norte do Rio de Janeiro, são presos em flagrante e soltos dois meses
depois por decisão do juiz. Além disso, os policiais que respondem pelo homicídio da
menina trabalham no Centro de Recrutamento e Seleção de Praças (CRSP), local
encarregado para fazer a seleção dos candidatos a entrar na corporação (SOARES,
2020a).
Neste âmbito, Silvio Almeida (2018, p. 90) compreende que no território
brasileiro, a medida que as lógicas de poder são afetadas pelos efeitos do mundo
colonial, deixou de manter a ordem do viver e morrer, constituindo a deliberada
atuação do poder de exterminar a população em larga escala ou de submetê-la a isso,
dentro de um contexto no qual a “guerra, política, homicídio e suicídio tornam-se
indistinguíveis”. Portanto, o racismo enquanto elemento estrutural opera na condição
da normalidade, perpetuando vivo discursos que desviam quaisquer tentativas de
impedimento de ações racistas.
4.2 EFEITOS DA NECROPOLÍTICA
“Eles chegaram atirando. Eu não consigo
entender, não sei o que se passa na cabeça
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desses policiais, atirar numa criança
inocente. É muito desprezo pela vida”.
Relato da mãe de João Pedro Matos, 2020.5
“Se fosse na Zona Sul, eles não entrariam
atirando”.
Relato da mãe de João Pedro Matos, 2020.6
Enquanto racionalidade estruturante que assegura lógicas de violência no
Brasil, o racismo é estampado nas diversas reportagens que envolvem narrativas de
operações policiais, combate ao tráfico de drogas e violência. A distribuição da morte
de jovens negros enquanto política de estado é um cenário que autoriza operações
como a que matou João Pedro Matos Pinto, jovem negro de 14 anos, em São Gonçalo,
Rio de Janeiro. A reportagem citada pela Rede de Observatórios da Segurança (2020)
e apresentada pelo jornal Extra Globo por Rafael Soares (2020b) mostrou que a casa
em que João Pedro e seus amigos estavam não foi alvo de nenhuma ordem judicial.
A operação conjunta com a força especial da Polícia Civil e Federal, mobilizou 65
agentes e dois helicópteros, sendo que, no dia em que João Pedro foi morto, os
agentes não apreenderam armas ou drogas na região que foi indicada na investigação
como esconderijo de chefes do tráfico e apreenderam apenas duas contas de gás, um
celular e um carro.
Conforme o laudo, o jovem foi morto por um tiro de fuzil pelas costas, de mesmo
calibre que a arma utilizada pelos policiais. Os policiais civis apresentaram uma pistola
e granadas que alegaram terem sido encontradas na parte de fora da casa, como
prova que havia traficantes no local e justificativa pela invasão que contabilizou mais
de 70 marcas de tiros espalhados pelos cômodos, sendo a maioria deles de fora para
dentro (SOARES, 2020b).
Através da leitura da obra “Desmilitarizar” de Luiz Eduardo Soares, Ramos et
al. (2020) esclarecem que a eficiência policial é medida pela quantidade de prisões e
5 - 6 Epígrafe da entrevista da mãe de João Pedro Matos para o jornal Extra Globo: Para mãe, João Pedro foi vítima de racismo: ‘Se fosse na Zona Sul, eles não entrariam atirando’ (2020). Disponível em: https://extra.globo.com/casos-de-policia/para-mae-joao-pedro-foi-vitima-de-racismo-se-fosse-na-zona-sul-eles-nao-entrariam-atirando-24478148.html.
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apreensões de armas e drogas. Nesse sentido, as ações policiais são norteadas pelo
cumprimento de objetivos que incluem operações nas favelas e aprisionamento de
jovens negros que comercializam pequena quantia de drogas, o que gera uma custosa
e fracassada ideia de guerra às drogas, enquanto na realidade o combate é contra a
população negra, que através do discurso pautado no combate à violência, se justifica
a operacionalização da necropolítica, ou seja, o extermínio em larga escala dessa
população.
É desta forma que comandos autorizam operações policiais coercivas e
violentas na periferia que se desdobram em mortes da população negra, como no
caso também brutal do jovem William da Silva Melo, 19 anos, morto com um tiro no
peito em Recife. Um amigo de William relatou que havia juntado muita gente no local
pois estava acontecendo a gravação de um clipe quando a polícia chegou atirando
com bala de borracha e bomba de gás, dizendo ainda que “quem chegou com tumulto
lá foi realmente a polícia”. Logo, o primo do jovem disse que a Polícia Militar, ao
abordar com chutes um homem em uma moto, algumas pessoas presentes no local
gritaram com o policial que em seguida se virou e atirou, acertando no peito de William,
disse o primo na reportagem ilustrada pela Rede de Observatórios da Segurança
(2020) e exibida pelo Jornal do Commercio (AZEVEDO, 2020).
Noticiários como os supracitados neste artigo representam o cotidiano de
milhares de famílias da periferia, tal como reafirmam o racismo como uma ausência
presente no discurso sobre violência, que bem colocado pela Rede de Observatórios
da Segurança (2020), mesmo não aparecendo em dados, se efetua onde os silencia.
“A punição guarda relação profunda com a vigilância racial, e a prisão e a morte são
parte dessa solução punitiva para problemas sociais complexos, que não estão
ligados às ideias de crime” (RIBEIRO; SANTANA, 2020, p. 17). Nesse sentido, ao
considerar que o proibicionismo das drogas carrega em si práticas racistas que
operam como dispositivo da necropolítica para fundamentar lógicas de violências a
população negra, infere-se que este modelo é também um dispositivo da necropolítica
que possibilita a construção da racionalidade das mortes supracitadas, o que
assegura a desobrigação daqueles que concebem estas práticas a título de proteção
da sociedade (JÚNIOR, 2016).
Nesse contexto, a guerra às drogas enquanto ferramenta que constrói um corpo
econômico e socialmente geradores de perigo, colocando-os às margens da
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sociedade e operando através desse controle de elementos ameaçadores, possibilita-
se um sutil, implícito e agressivo mecanismo de gestão da sociedade (BORTOLOZZI,
2018). Nessa perspectiva, o discurso de uma guerra às drogas justifica e valida a
morte de um suspeito como indispensável para um cenário de conflito criado pela
narrativa policial e pelas mídias que, ao venderem a ideia de combate ao crime e
tráfico de drogas, justificam o apagamento de corpos e vidas negras estampadas nos
jornais como envolvidos no tráfico (FERRUGEM, 2018).
Diante dessa construção da racionalidade da morte, apoiada em modelos da
branquitude, a sociedade confirma, naturaliza e aprova mortes através da afirmativa
de que “bandido bom é bandido morto”. Além disso, a sujeição de corpos negros é
estabelecida atravessada por marcadores sociais como raça, território, nível
socioeconômico e classe social, que são características próprias de identificação que
definem e desprotegem jovens à violência expressa pelo comércio ilegal das drogas
e ao confronto policial. Tal fator, explicita a dura afirmativa de que “a juventude negra
não está morrendo, está sendo assassinada” (FERRUGEM, 2018, p. 78-83).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após estudos realizados para o presente artigo, foi possível identificar que os
diversos modos do uso de drogas tornaram-se existentes em toda a construção
histórica e social da humanidade, logo, entende-se que é improvável extingui-las
integralmente de todos os contextos sociais, compreendendo, inclusive, sua
existência possível e regulamentada. Entretanto, por traz do discurso pautado na
proteção e segurança da sociedade, o proibicionismo das drogas se instala por
diversos interesses políticos, econômicos, jurídicos e policiais, que operam como um
importante dispositivo de controle da população pobre, negra e periférica, as quais
são as mais atingidas pela maquinaria do racismo.
O ideário constituído e marcado pelo mundo colonial e pela branquitude
burguesa sobre o usuário e vendedor de drogas como um perigo a ser combatido e o
terror construído pelas mídias e noticiários que associam as drogas à violência,
criaram um cenário que justifica operações policiais violentas nas favelas e práticas
racializantes de um Estado que opera na decisão de quem vai viver e quem vai morrer.
Desta forma, este determina qual corpo é rentável economicamente falando para uma
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composição capitalista que necessita cada vez menos da força do trabalho humano e
se sustenta pelo fazer e deixar morrer a população imprópria e sobrante de uma
sociedade marcada pelos pilares da braquitude.
O informe anual da Anistía Internacional (2019, p. 24-25, tradução nossa)7,
movimento global de pessoas que trabalham pelo respeito e proteção dos direitos
humanos, demonstra em dados a população que morre pelo policiamento através do
discurso do combate as drogas, trazendo o recorte do Estado do Rio de Janeiro, onde
alegações de seu governante efetivou operações referente à guerra nomeada contra
as drogas que permaneceram como justificativa para ações policiais violentas. Os
dados mostram que, entre janeiro e julho 1.249 pessoas foram mortas pela polícia no
Rio de Janeiro, sendo que cinco dessas pessoas eram crianças negras que residiam
em favelas e periferias de cidades da região. Este recorte demonstra o poder de um
Estado assassino que cria discursos sobre a preservação e segurança da sociedade,
constituí seu próprio inimigo e opera nas disposições do direito de matar, criminalizar,
silenciar e exterminar vozes de resistência e pessoas negras como Marielle Franco,
Ágatha Felix e João Pedro Matos.
Deste modo, assumindo que as drogas continuarão existindo e que após a
proibição o índice de consumo e tráfico de drogas aumentaram e, concomitantemente,
o índice de violência pela criminalização das vendas e disputa pelo tráfico, infere-se
que a guerra às drogas não é direcionada as drogas em si, uma vez que não é possível
encarcerar, combater e matar substâncias, mas sim, um projeto necropolítico, o qual
se faz necessário racializar, gendrificar, territorializar corpos como efeito do espaço
social. Portanto, é através da proibição que o poder do Estado controla, determina
quem é descartável ou não, e assim, dita quem deve viver e quem deve morrer,
caracterizando a necropolítica.
7 No original: El gobernador del estado de Río de Janeiro, Wilson Witzel, realizó declaraciones y llevó a cabo acciones relacionadas con la denominada “guerra contra las drogas”, que continuaba empleándose como pretexto para realizar intervenciones policiales militarizadas que se caracterizaban por altos niveles de violencia policial, crímenes de derecho internacional y violaciones de derechos humanos. Según cifras oficiales, entre enero y julio la policía mató a 1.249 personas en Río de Janeiro. [...] Entre las personas muertas a manos de policías en servicio activo figuravan cinco niños negros que vivian en favelas y en comunidades desfavorecidas situadas en las afueras de ciudades de la región metropolitana de Río de Janeiro.
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