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527 CADERNOS DE PSICOLOGIA, Juiz de Fora, v. 2, n. 4, p. 527- 550, jul./dez. 2020 – ISSN 2674-9483 O PROIBICIONISMO DAS DROGAS E O OPERACIONISMO DA NECROPOLÍTICA 1 Luiza Costa Iunes Sa Fortes 2 Daniela Cristina Belchior Mota 3 Lara Brum de Calais 4 RESUMO: Este artigo teve como finalidade analisar os modos pelos quais o proibicionismo das drogas pode operar, produzir ou manter as lógicas da necropolítica no Brasil. Diante disso, foram utilizados como material de discussão e ilustração temática a pesquisa realizada pela Rede de Observatórios da Segurança “Racismo, Motor da Violência” , bem como a apresentação de gráficos e base de dados de noticiários para exemplificar e constituir a temática aqui discutida, compondo eixos sobre raça, policiamento e necropolítica. A partir dos estudos sobre o proibicionismo das drogas, foi possível verificar que essa política é marcada pelo pilar da branquitude burguesa sobre o lugar de perigo associado ao uso de drogas. Além disso, infere-se que o proibicionismo envolve interesses econômicos, políticos, jurídicos e policiais que vêm se constituindo através da biopolítica que atua na gestão da população, justificada pelo discurso de guerra contra a violência decorrente ao uso e comercialização das drogas. Contudo, o combate se faz majoritariamente contra a população que é constantemente marginalizada pela racialização dos corpos e por um Estado de Exceção operacionalizado pela necropolítica e pelo extermínio da população pobre e negra, especialmente. Palavras-chave: Proibicionismo das drogas. Racismo. Biopolítica. Necropolítica. THE PROHIBITION ON DRUGS AND THE OPERATIONALISM OF THE NECROPOLITICS ABSTRACT: This article had as finality to analyze the ways that the prohibition on drugs can operate, produce or maintain the necropolitics in Brazil. With that being said, as material of discussion and thematic illustration we used the research made by the Rede de Observatórios da Segurançã “Racismo, Motor da Violência”, as well as the presentation of graphics and data bases from newscasts to exemplify and build the thematic here debated, making axes about race, policing and necropolitics. Considering the studies about prohibition on drugs, it was possible to verify that this 1 Artigo de trabalho de conclusão de curso de Graduação em Psicologia do Centro Universitário Academia, na Linha de Pesquisa Psicologia e relações sociais, comunitárias e políticas. Recebido em 02/11/2020 e aprovado, após reformulações, em 02/12/2020. 2 Discente do curso de graduação em Psicologia do Centro Universitário Academia (UNIACADEMIA). E-mail: [email protected] 3 Docente do Centro Universitário Academia (UNIACADEMIA) e Doutora em Psicologia pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). E-mail: [email protected] 4 Pós Doutoranda pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e Doutora em Psicologia pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). E-mail: [email protected]

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O PROIBICIONISMO DAS DROGAS E O OPERACIONISMO DA

NECROPOLÍTICA1

Luiza Costa Iunes Sa Fortes2 Daniela Cristina Belchior Mota3

Lara Brum de Calais4

RESUMO: Este artigo teve como finalidade analisar os modos pelos quais o proibicionismo das

drogas pode operar, produzir ou manter as lógicas da necropolítica no Brasil. Diante disso, foram utilizados como material de discussão e ilustração temática a pesquisa realizada pela Rede de Observatórios da Segurança “Racismo, Motor da Violência” , bem como a apresentação de gráficos e base de dados de noticiários para

exemplificar e constituir a temática aqui discutida, compondo eixos sobre raça, policiamento e necropolítica. A partir dos estudos sobre o proibicionismo das drogas, foi possível verificar que essa política é marcada pelo pilar da branquitude burguesa sobre o lugar de perigo associado ao uso de drogas. Além disso, infere-se que o

proibicionismo envolve interesses econômicos, políticos, jurídicos e policiais que vêm se constituindo através da biopolítica que atua na gestão da população, justificada pelo discurso de guerra contra a violência decorrente ao uso e comercialização das drogas. Contudo, o combate se faz majoritariamente contra a população que é

constantemente marginalizada pela racialização dos corpos e por um Estado de Exceção operacionalizado pela necropolítica e pelo extermínio da população pobre e negra, especialmente.

Palavras-chave: Proibicionismo das drogas. Racismo. Biopolítica. Necropolítica.

THE PROHIBITION ON DRUGS AND THE OPERATIONALISM OF THE

NECROPOLITICS

ABSTRACT: This article had as finality to analyze the ways that the prohibition on drugs can operate,

produce or maintain the necropolitics in Brazil. With that being said, as material of discussion and thematic illustration we used the research made by the Rede de Observatórios da Segurançã “Racismo, Motor da Violência”, as well as the presentation of graphics and data bases from newscasts to exemplify and build the

thematic here debated, making axes about race, policing and necropolitics. Considering the studies about prohibition on drugs, it was possible to verify that this

1 Artigo de trabalho de conclusão de curso de Graduação em Psicologia do Centro Universitário Academia, na Linha de Pesquisa Psicologia e relações sociais, comunitárias e políticas. Recebido em 02/11/2020 e aprovado, após reformulações, em 02/12/2020. 2 Discente do curso de graduação em Psicologia do Centro Universitário Academia (UNIACADEMIA). E-mail: [email protected] 3 Docente do Centro Universitário Academia (UNIACADEMIA) e Doutora em Psicologia pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). E-mail: [email protected] 4 Pós Doutoranda pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e Doutora em Psicologia pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). E-mail: [email protected]

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politics it’s tagged by the white bourgeoisie cornerstone about this place of danger

related to consume of drugs. Furthermore, it is inferred that the prohibition involves economics, political, legal and police interest that are constitute through the biopolitics that acts on the administration of the people, justified by the war speech against the violence that comes from de consume and the selling of drugs. However, the combat

happens mostly against the people that are constantly marginalized by the racialization of the bodies and by an Exception State that works for the necropolitics and for the extermination of the poor and black people specially.

Keywords: Prohibition on drugs. Racism. Biopolitics. Necropolitics.

1 INTRODUÇÃO

O presente artigo pretende analisar de que modo o proibicionismo das drogas

pode produzir ou manter as lógicas da necropolítica no Brasil. Para isso, utilizou-se

de análises da literatura a partir de exame crítico especialmente em articulação com

a Psicologia Política, dialogando com autores, como Mbembe, Foucault e Silvio

Almeida; e estudos sobre álcool e outras drogas. Para a busca teórica e metodológica,

expressões e conceitos disparadores foram utilizados para fins de acesso a materiais

que consubstanciassem as discussões provocadas pelo objetivo do artigo, sendo

estas: proibicionismo das drogas, biopolítica e necropolítica.

Até a instauração dos domínios governamentais, o termo droga não se

caracterizava como algo prejudicial. Determinadas substâncias, inclusive, se inserem

na história por serem consideradas benéficas em termos alimentícios, terapêuticos e

recreativos, auxiliando na contenção de dores, incômodos derivados de doenças e

sentimentos desconfortáveis. Desta forma, as drogas também foram e são utilizadas

para estímulos relacionados à percepção, concentração e até mesmo como fonte de

conexão em rituais religiosos (TORCATO, 2016).

Em suas análises históricas sobre a existência e uso das drogas, Carneiro

(2005) oferece argumentações significativas para uma leitura contextual sobre as

substâncias e sua relação com a sociedade. Deste modo, no âmbito religioso é

possível identificar as drogas como a própria materialização dos deuses, como por

exemplo, a existência do vinho como elemento simbolizante do sangue de Cristo nos

cultos religiosos cristãos. Além disso, as modificações da percepção sensorial

causadas pelo uso de algumas substâncias são notáveis por suas diversas funções

culturais, sendo uma delas a composição da sensação do prazer e bem-estar. Em

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vista disso, as funções e efeitos atribuídos ao consumo de drogas as transformaram

em produto de extrema vantagem político-econômica, o que configurou o controle

sobre determinadas substâncias como proveniente de poder e patrimônio, bem como

a rivalidade pela manipulação exclusiva na delimitação do consumo.

No século XX, sediada pelos Estados Unidos e atribuída pela Organização das

Nações Unidas (ONU), as convenções e conferências tiveram como finalidade o

controle do mercado e o consumo do ópio e da cocaína em seus países signatários e

respectivos territórios, o que instaurou o vigente modelo proibicionista e estabeleceu

a guerra contra às drogas (CARVALHO, 2011). A normativa política, econômica,

policial e jurídica do proibicionismo, advém de fatores ligados ao interesse econômico

da indústria farmacêutica pelo monopólio de substâncias; conflitos geopolíticos;

puritanismo religioso; racismo; e associações do dispositivo policial e judicial

(CARNEIRO, 2017).

No mesmo século que foi instaurada, a proibição, segundo Luciana Rodrigues

(2006), ocasionaram-se contradições em seus princípios, tal como o aumento do

consumo de drogas. Na esfera da saúde pública e, diante deste cenário, um alto índice

de infecção pelo vírus HIV e demais doenças por meio de drogas injetáveis foi

alcançado, bem como o crescimento de mortes atribuídas aos conflitos ao tráfico de

drogas. No campo socioeconômico, encontra-se o aumento da vigilância, do controle

e da violência sobre a juventude pobre, negra e periférica, que frequentemente são as

pessoas mais atingidas pela maquinaria do racismo e pelos efeitos do tráfico. Está

incluída, ainda, a criminalização dessa juventude que decorre da somatória de

elementos que interseccionalmente justificam lógicas de culpabilização pelo tráfico de

drogas.

Em estudos sobre o proibicionismo, Thiago Rodrigues (2008, p. 98) destaca

este fator como uma importante estratégia de controle social e persecução seletiva, a

qual possibilita que uma determinada parcela da sociedade seja “controlada,

revistada, observada de perto e confinada”. E ainda, pode ser considerada como um

mecanismo de dominação que propicia a prática do racismo e a gestão da vida e da

morte da principal população alvo do proibicionismo (JÚNIOR, 2016). Tais

articulações colocam em diálogo dois conceitos que encontram suas semelhanças e

também distintos desdobramentos, que serão abordados ao longo do artigo, ou seja,

a aproximação com o que Foucault (2014) trabalha como noção de biopolítica e a

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ação de controle e governo sobre o corpo populacional e societário; e a relação com

a construção de Mbembe (2018) sobre a operação da necropolítica, por meio da

gestão sobre a morte da população e seus mecanismos de anulação da vida, por

vezes, operada pelo Estado.

A respeito desse conceito de necropolítica ou política de morte, o mesmo

caracteriza-se como expressão máxima do poder de decidir quem importa e quem não

importa para a sociedade, bem como, o poder de ditar quem merece viver ou morrer

para a lógica de políticas de um Estado de Exceção. Isso, ancorado na normatividade

do poder de matar, atuando na composição de uma racionalidade das relações na

contemporaneidade (MBEMBE, 2018).

Portanto, fez-se necessário abordar uma breve apresentação sobre as nuances

históricas do proibicionismo das drogas e como este se insere e (re) produz nas

tecnologias de poder. Como material de discussão e ilustração temática, sem, no

entanto, intencionar uma análise sistematizada sobre o material, foi utilizada a

pesquisa realizada pela Rede de Observatórios da Segurança – “Racismo, Motor da

Violência”, a qual contempla gráficos e base de dados de noticiários a partir da análise

de jornais e redes sociais. Tais materiais foram utilizados no presente estudo para

exemplificar e compor a temática aqui discutida, compondo os eixos de discussão,

sendo eles: “Racialização dos corpos, policiamento e necropolítica”; e “Efeitos da

necropolítica”.

2 O PROIBICIONISMO DAS DROGAS E AS TECNOLOGIAS DE PODER

No contexto brasileiro, as leis que normatizam a questão das drogas passaram

por grandes transformações segundo uma perspectiva normativa. Fundamentadas

nas convenções internacionais sediadas pelos Estados Unidos no século XX, em sua

maioria, as leis sobre drogas foram ancoradas pela opressão social. Tal ancoragem

objetivava limitar e penalizar o uso de drogas, o qual passou a ser considerado um

perigo para a sociedade e o responsável por boa parte dos problemas sociais,

forjando, portanto, uma visão criminalizante sobre o consumo e a venda de

substâncias. Este modelo colaborou para que o Brasil exercesse a proibição de

substâncias caracterizadas como ilegais, tais como o ópio e seus derivados (SILVA,

2017).

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Neves (2015) aponta que o que predomina nos dispositivos da política

proibicionista é o governo sobre a vida do sujeito, sendo que estes, devem ser úteis

ao Estado e abster-se do uso de drogas ilícitas que os tornam, supostamente,

ineficientes a este. O governo sobre a vida da população, em uma leitura foucaultiana

delineia-se como modo de governamentalidade, ou seja, consiste na conformação de

instituições, técnicas, reflexões, análises e mecanismos orientados à população,

tendo como principal modelo de ferramentas e dispositivos de segurança a economia

política (FOUCAULT, 2008).

Enquanto modo de execução de determinada política, o proibicionismo aparece

como uma das tecnologias de poder que constituem regimes de verdade que pautam

uma suposta forma de proteção e segurança da população. Tal tecnologia, através da

normatização e controle se direciona sobretudo para a retenção de crimes e o

consumo de determinadas drogas, colocando em movimento uma lógica de controle

sobre corpos e práticas. Isso se evidencia com o modelo clínico de toxicomania que

representa também outros formatos de normalização através da governamentalidade

sobre a conduta dos indivíduos para com o consumo de drogas (NEVES,2015).

Este modelo advém da patologização da loucura e do crime a partir da

formação da categoria diagnóstica toxicomania, que possibilitou o diagnóstico de

algumas doenças como provenientes do consumo de determinadas drogas, ou seja,

passou-se a enxergar as drogas como agentes da degeneração da sociedade e

doenças sociais, o que foi fundamental para a estabilização de uma hegemonia da

psiquiatria e do saber médico sobre as drogas. Desta forma, substâncias que antes

eram utilizadas a partir do entendimento tradicional e cultural para curar, passaram a

ser condenadas e criminalizadas. Nesta concepção, a medicina deveria então, tratar

e curar o contexto urbano desordenado reproduzido pela a doença e pela loucura

(NEVES, 2015), enraizando-se a lógica higienista nas práticas e saberes sobre a

saúde e a vida.

Essas dimensões validadas pelo saber médico vão admitir no Brasil uma

natureza sobretudo racista, pautada pelos pilares da branquitude burguesa, tornando-

se então, a pobreza e a raça como indícios de subalternidades e perigo. Esta posição

de suspeição e periculosidade passaram a ser alvo de controle por dispositivos e

ações, dentre eles a repressão policial sobre a população pobre, negra e periferizada.

Assim, as discussões jurídicas atravessam a elaboração de políticas públicas que

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desdobram efeitos de “limpeza social”, em especifico, povos imigrantes e pobres. É

sobre esta população que foram dirigidos parâmetros em sua educação para conter

os supostos maus hábitos e depravações, dentre eles, o problema das drogas

(BORTOLOZZI, 2018).

2.1 BRANQUITUDE, RACISMO E BIOPOLÍTICA

Ribeiro (2019) aponta que a população negra subsistiu pelo seus hábitos,

linguagem e cultura até serem uniformizados pelo mundo colonial, momento em que

tornaram-se os negros, através de uma ordem discriminatória, produto e mercadoria.

Baseada nas leituras e estudos de Grada Kilomba, Ribeiro ainda destaca o racismo

como um desdobramento da população branca, criado e elaborado pela branquitude

que deveria se comprometer por ele e, sobretudo, reconhecer-se como privilegiado e

se ocupar de práticas antirracistas.

As práticas da branquitude, não sendo uma concepção antagônica à negritude,

foram atravessadas e consolidadas em diferentes contextos e finalidades históricas.

A medida que a negritude se caracteriza pela expressão do sujeito na tentativa de

enfatizar sua identidade, pertencimento e valor negro, rompido pelo colonialismo; a

branquitude é marcada pela manifestação do discurso ético, concebido para

desvendar práticas de dominação e desmoralizar o lado velado na construção

colonial, como uma tentativa de camuflar a naturalização do ideário branco como um

fenômeno universal (LEITE, 2020).

Maria Aparecida Silva Bento (2002, p. 7), reflete que a branquitude é exercida

através de “[...] um pacto entre brancos, aqui chamado de pacto narcísico, que implica

na negação, no evitamento do problema com vistas a manutenção de privilégios

raciais”, no qual o temor da eliminação desses privilégios e do comprometimento pelas

desigualdades raciais, concebem a justificativa do valor branco sobre o negro.

Todavia, um dos principais subsídios da branquitude é o privilégio, elemento que

abrange toda a população branca, por estarem em uma disposição de supremacia

que, em sua maior parte, não depende de si. Tal disposição não está interligada a

propósitos objetivos, e sim a uma sucessão de condutas sociais tênue que a brancura

assegurou ao longo do tempo e independem da vontade e opinião crítica do sujeito

(CONCEIÇÃO, 2020).

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No âmbito das drogas, essa perspectiva pode ser verificada desde a origem

das políticas que interligaram os elementos de classe social, gênero e étnico-raciais,

com o caminho demarcado da elite masculina branca contra os homens negros e

pobres (ROSA; GUIMARÃES, 2020). Estes modelos são explicitados, por exemplo,

em algumas ações sobre a criminalização da maconha, em que práticas como a do

psiquiatra Rodrigues Dória, vinculou a erva a um caráter de vingança de negros cruéis

em combate aos brancos civilizados que os tinham escravizado (BARROS; PERES,

2011). Desta forma, a criminalização do uso da maconha esteve estreitamente

associada ao preconceito racial, bem como a criminalização dos costumes culturais

africanos (ROSA; GUIMARÃES, 2020).

O racismo pode ser compreendido como artifício geral do Estado que se

manifesta tanto em formas de purificação constante, quanto de normalização social .

Desta forma, é vinculado ao exercício de um Estado que opera sobre a raça,

aniquilando-a e/ou criando artifícios de uma forjada purificação, para assim,

desempenhar seu histórico poder soberano do direito de morte (FOUCAULT, 2010).

Em discussão centrada nas complexidades que envolvem as construções brasileiras

no que se refere ao racismo, Silvio Almeida (2018, p.38), argumenta que este consiste

no resultado da própria estrutura social, isto é, “do modo normal com que se

constituem as relações políticas, econômicas, jurídicas e até familiares, não sendo

uma patologia social e nem um desarranjo institucional. O racismo é estrutural”. Logo,

condutas individuais e métodos institucionais são provenientes de uma sociedade na

qual o racismo é ordem e não exceção, tornando-se ainda, elemento de uma norma

social.

Dizendo de outra forma, o racismo é também, uma relação de poder que se

apresenta em condições históricas. Nesse sentido, o Estado enquanto condição

política do mundo contemporâneo, produz as condições de possibilidade para que

encontre sustentação em meio a uma ordem estatal. E assim, como seguimento

histórico e político, o racismo cria conjunturas sociais, a fim de que, direta ou

indiretamente, classes racialmente apontadas sejam discriminadas. É, então, através

do Estado que a categorização de pessoas e a separação de indivíduos e grupos é

efetuada, onde a disponibilidade da reprodução ordenada de padrões racistas está na

disposição política, econômica e jurídica da sociedade (ALMEIDA, 2018).

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Todavia, a política proibicionista apresenta não somente uma seletividade na

criminalização de substâncias, como também na execução da lei. A arbitrariedade da

vigente legislação é um dispositivo que possibilita a prática do racismo e a gestão da

vida e da morte da principal população alvo da política, a juventude negra e periférica

(JÚNIOR, 2016). Deste modo, considera-se a relevância do entendimento da atual

política como mecanismo que se aproxima do que Foucault (2014) trabalha como

noção de biopolítica.

Na perspectiva foucaultiana, os mecanismos e tecnologias da biopolítica atuam

na direção de gestão sobre a população, supostamente, para sua defesa e segurança;

paradoxalmente, para seu controle e vigilância (FOUCAULT, 2010). Deste modo, esta,

se ocupa da gestão de uma sociedade composta por corpos disciplinados, os quais

tem suas ideias, saúde, subjetividade e vida dominados pelo poder. Isto, entendendo

o poder como uma teia de práticas que opera a condução de um conjunto de seres

vivos individualizados pelo treinamento e disciplina de corpos submissos e dóceis

política e produtivamente, favorável para a biopolítica e aos interesses dos que a

exercem (FOUCAULT, 2014).

Neste cenário, a biopolítica se vale de dispositivos que sustentam a lógica de

soberania sobre um grupo. Assim, pode-se dizer que através da ação de gestão e

governamentalidade – incluindo mecanismos de segurança a partir do uso dos

saberes e racionalidades políticas– a dinâmica biopolítica coloca em ação modos de

governo sobre a vida da população que incidem em práticas que compõem discursos

e operam tecnologias de conduta (FOUCAULT, 2010). Na leitura de Rodrigues, Cruz,

Guareschi (2013, p.18) “a biopolítica, atravessa o corpus da população, utiliza-se de

estratégias e táticas específicas para atingir determinadas finalidades”.

E ainda, para um formato social que tem como finalidade a produção constante

de mercadorias, o corpo deve ser frequentemente produzido como dócil politicamente

e útil produtivamente, sendo a força do trabalho humano rentável para o modelo

capitalista vigente da época. Todavia, em meados do século XX, sucederam algumas

mudanças técnicas na prática de produção capitalista, onde estas passaram a eliminar

massas humanas, mover pessoas para o desemprego estrutural, excluí-las nas

prisões, necessitando cada vez menos da força do trabalho humano. Deste modo, a

potência de trabalho se concentra na forma de máquinas que descartam sujeitos

vistos, agora, como desnecessários, impróprios e sobrantes. Isto, representa o ponto

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máximo da subjacência da prática de reprodução social do capitalismo (HILÁRIO,

2016).

Portanto, de uma política apropriada à configuração social, orientada para a

produção de vida, passa-se para uma política cuja finalidade é o extermínio em larga

escala através do trabalho de morte, ou seja, os indivíduos já não são mais rentáveis

para a composição social atual. É a partir deste contorno do capitalismo que o filósofo

e historiador Achille Mbembe explora os conceitos foucaultianos para problematizar

sobre as configurações de poder na contemporaneidade e, sobretudo, nas periferias

do mundo (HILÁRIO, 2016).

3 METODOLOGIA

A pesquisa foi realizada a partir de uma revisão narrativa de base qualitativa,

abrangendo uma pesquisa bibliográfica que compusesse um arcabouço teórico-

conceitual necessário para as articulações e elaborações, segundo enfoque

contextual relacionado à realidade brasileira (SALLUM; GARCIA; SANCHES, 2012).

Deste modo, utilizou-se de análises da literatura a partir de exame crítico

especialmente em diálogos com a Psicologia Política e estudos sobre álcool e outras

drogas, dialogando com autores, tais como Mbembe, Foucault e Silvio Almeida.

Para a busca teórica e metodológica, expressões e conceitos disparadores

foram utilizados para fins de acesso a materiais que consubstanciassem as

discussões provocadas pelo objetivo do artigo. Neste sentido, as expressões:

proibicionismo das drogas, biopolítica e necropolítica serviram de base para as buscas

iniciais nas plataformas Google Acadêmico e Scielo. Por meio dessa estratégia o

acesso e escolha da publicação elaborada e publicada pela Rede de Observatórios

da Segurança – “Racismo, Motor da Violência” (2020) se deu intencionalmente,

utilizando-o como material de discussão e ilustração temática - sem, no entanto,

intencionar uma análise sistemática do mesmo.

O projeto que deu origem à referida publicação foi iniciado pelo Centro de

Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), que inclui instituições acadêmicas e

ativistas compostas pela troca constante de realidades, conhecimentos e informações

entre grupos de pesquisadores do estado do Rio de Janeiro, Ceará, Pernambuco,

Bahia e São Paulo. O projeto, que reúne informações ao longo de 2019, tem como

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uma de suas funções o acompanhamento da segurança pública e de situações de

violência sucedidos nos cinco estados brasileiros supracitados, que compõem ainda

a elaboração de informações e comunicados para a realidade de cada um (PAIVA;

NUNES; RAMOS, 2020).

O material escolhido para discussão apresenta dados que evidenciam a

sustentação da normativa do poder de matar abordada no presente artigo pela

conjectura da necropolítica. Além disso, as análises de noticiários disponibilizados

pelo material denotam a ausência do racismo no discurso sobre violência descritas

pelas mídias, ao mesmo tempo que os dados sobre violência e policiamento

notificados e explicito nas imagens ilustradas nas matérias demonstram sua presença,

o que compõem a racionalização/normatização da violência sobre a população negra

justificada pelo discurso de combate às drogas e a criminalidade.

Nessa perspectiva, a Rede utiliza-se de pesquisas fundamentadas na

monitoração diária de mídias, com precisão metodológica e análises por grupos locais,

bem como o diálogo conjunto com a sociedade civil sobre os casos de violência. O

relatório contempla ainda, gráficos e base de dados de noticiários a partir da análise

de jornais e redes sociais (PAIVA; NUNES; RAMOS, 2020). Tais materiais foram

utilizados no presente estudo para exemplificar e compor a temática aqui discutida,

compondo os eixos de discussão que serão apresentados nos tópicos a seguir, sendo

eles: “Racialização dos corpos, policiamento e necropolítica”; e “Efeitos da

necropolítica”.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após a breve apresentação sobre as nuances históricas do proibicionismo das

drogas e como este se insere e (re) produz nas tecnologias de poder, serão abordados

neste momento pesquisas realizadas pela Rede de Observatórios da Segurança –

“Racismo, Motor da Violência” que irão compor e ilustrar as discussões do artigo. As

pesquisas se fundamentam no acompanhamento da segurança pública e de situações

de violência sucedidos nos estados do Rio de Janeiro, Ceará, Pernambuco, Bahia e

São Paulo, a partir do monitoramento diário de mídias, os quais contemplam gráficos

e base de dados de noticiários a partir da análise de jornais e redes sociais. Dentre

diversos eventos monitorados pela Rede, as ações de policiamento foram as mais

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numerosas, sendo estas, no entanto, as utilizadas aqui para ilustração e discussão

acerca da racialização dos corpos e dos efeitos da necropolítica.

4.1 RACIALIZAÇÃO DOS CORPOS, POLICIAMENTO E NECROPOLÍTICA.

Mbembe (2018) aborda a soberania como manifestação máxima do poder e

decisão de ditar quem merece viver ou morrer, quem importa e quem não importa para

a lógica da política contemporânea. Essa lógica soberana é que conjectura os

impactos relevantes da necropolítica, tendo como principal finalidade a

operacionalização de corpos humanos e da sociedade. Para o autor, é

majoritariamente através do racismo que se desempenha o poder de determinar quem

deve viver e quem deve morrer, ou seja, este é uma das tecnologias que operam as

práticas do biopoder numa política de Estado letal. Destarte, a finalidade do racismo

é de governar a disposição da morte e tornar-se capaz os encargos assassinos do

Estado.

Conforme Silvio Almeida (2018), a partir do Século das Luzes, houve uma

organização social pautada na distribuição e especificação dos sujeitos. Nessa

perspectiva, através do biopoder, a raça tornou-se um elemento decisivo no

desenvolvimento humano, além de um argumento que embasasse a presença

concomitante de dois contextos que se opõem e que foram criados pela própria

configuração estatal, quais sejam autonomia e garantias iguais a todos em

contradição a trabalhos forçados e cerceamento de tomadas de decisão.

Além da valoração dos sujeitos, Mbembe (2016) aponta a questão racial como

finalidade para intensificar nos indivíduos aspectos do período do Iluminismo, à

medida que promove o afastamento de um sujeito para o outro. No entanto, da mesma

forma que o racismo constitui a divisão hierárquica da sociedade, também se

configura enquanto dispositivo que reforça o aparato estatal contemporâneo de decidir

quem deve morrer. Diante disso, Foucault (2005, p. 305) acredita que “A morte do

outro não é simplesmente a minha vida, na medida em que seria minha segurança

pessoal; [...] a morte da raça ruim, da raça inferior (ou do degenerado, ou do anormal),

é o que vai deixar a vida em geral mais sadia; [...]”.

No Brasil, a organização dos modos de punição advém de mecanismos

constituídos nos moldes da escravatura a partir do domínio entre o proprietário e a

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pessoa escravizada, onde ao longo da história criou-se a figura do criminoso a partir

da racialização de grupos considerados um perigo pela supremacia marcada pelo

embranquecimento e anulação do outro. Destarte, pode-se perceber o racismo como

um dispositivo que atua no saber e na prática policial adaptada pela ordenação jurídica

que opera sobre a categorização de delitos e divisões sociais, principalmente nos

crimes contra o patrimônio e o tráfico de drogas que se concentra no encarceramento

e extermínio de pessoas negras. E ainda, nos diversos modos de violência, desde as

ações policiais, às mortes e aprisionamento da juventude negra nas periferias,

encontra-se instrumentos de racialização estampados cotidianamente nos noticiários

sobre o combate às drogas e à marginalidade (RIBEIRO; SANTANA, 2020).

Nesse contexto, Mbembe (2018) enfatiza a construção colonialista onde os

povos negros eram considerados como mercadorias e estavam sujeitos a diversos

modos de violência. Desta forma, a colonização demonstra a projeção do poder sobre

a vida e às práticas de violência vividas pelos negros nesse momento histórico, que

se estende através das políticas vigentes impostas pelo Estado, a fim de educar e

distribuir objetivos racionais aos modos de matar. O autor conceitua essas práticas de

Estado como Estado de Exceção, o qual representa uma organização político-jurídica

e subjetiva que reduz o indivíduo ao corpo biológico e o priva de condição política, o

que favorece o trabalho da morte. Portanto, o Estado de Exceção é a sustentação

normativa do poder de matar que opera a construção de uma racionalidade na

constituição das relações na modernidade.

Além disso, também a respeito desse tipo de Estado, Mbembe (2016) aponta

que locais colonizados caracterizaram-se por restrições de direitos. A nação brasileira,

a qual permanece enraizada em sua construção colonial, acaba por reforçar,

frequentemente, nas mais variadas penalidades, a seletividade e a limitação de

direitos dos sujeitos marcados por serem alvo desse sistema, em que, dessa maneira,

prioriza uma parcela da sociedade em detrimento da supressão de uma outra. E ainda,

Carl Schmitt (2008) aponta que a permanência do poder tem como argumentação a

sua potência em promover conflitos dentro de seu território para então viabilizar que

seja mantida a homeostase, a qual é recorrentemente coagida por rivais constituídos

por eles próprios.

A disposição da morte como realidade do poder do Estado, o fuzilamento desde

a infância na produção da experiência negra em espaços de confronto e a

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necropolítica atravessada por um agrupamento de práticas racializantes, determinam

a condição política, estabelecem o cenário televisivo e espalham o medo para

venderem a harmonia social pautados na justificativa de que se deve combater às

drogas e a violência através da guerra contra a população pobre, negra e periférica

(OLIVEIRA; RIBEIRO, 2018). Pesquisas realizadas pela Rede de Observatórios da

Segurança – “Racismo, Motor da Violência” (2020) apontam que os noticiários que

exibem episódios de violência vivido pela população negra, camuflam a racialização

envolvida cotidianamente neste cenário. E ainda, demonstram a ausência de

informações quando se usa termos como “morte de jovem negro”, “racismo” e

“violência racial”, tendo apenas as ilustrações como f iguras que estampam a dinâmica

racial presente nos casos, enquanto o texto não as tornam visíveis (RIBEIRO;

SANTANA, 2020).

As análises de noticiários realizadas por estudos do Guia de monitoramento de

violações de direitos na mídia brasileira (2016, p. 105), demonstraram o racismo

produzido e naturalizado nos espaços midiáticos que pode ser verificado quando se

observa que somente os policiais disponibilizam informações sobre as ocorrências

sem indicar a ligação entre os crimes e a conjuntura socioeconômica e étnico-racial

das vítimas. Além disso, em relação ao discurso jornalístico de episódios de violência,

o estudo manifesta que “os jornais brasileiros debatem sobre racismo, mas

negligenciam a relação entre esta violência e o quadro de homicídios que vítima,

principalmente, a população negra no País”.

Coimbra (2001, p. 2) se atenta para as mídias como uma das ferramentas

sociais mais significativas no que diz respeito a construção de verdades, o qual opera

não somente no pensar, sentir e agir da sociedade frente as situações violentas

descritas pelas mídias, mas também sobre o que e como pensar e sentir diante desses

cenários. Deste modo, através da constante organização de “[...] racionalidade, de

legitimidade, de justiça, de beleza, de cientificidade os meios de comunicação de

massa produzem formas de existir que nos indica como nos relacionar [...]”, ou seja,

como sustentar-se num incessante seguimento de padronização midiática.

Ao analisar outros bancos de dados, a Rede evidência o distanciamento entre

negros e brancos no que diz respeito às mortes violentas. Tal distanciamento é

possível ser verificado nas taxas disponibilizadas pelo Atlas da Violência (2020), o

qual aponta que o índice de mortes da população negra é maior que o da população

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branca. Em 2018, dado mais recente disponibilizado pelo documento, indica que “[...]

os negros representam 75,7% das vítimas de homicídios, com uma taxa de homicídios

por 100 mil habitantes de 37,8”. Comparado a população branca que envolve também

amarelos e indígenas, “[...] a taxa foi de 13,9, o que significa que, para cada indivíduo

não negro morto em 2018, 2,7 negros foram mortos. Sobre a predominância de

homicídios entre homens e mulheres negros dos não negros, indica-se “74,0%

superior para homens negros e 64,4% para as mulheres negras (IPEA, 2020, p. 47-

68).

De 2019 a 2020, ao acompanhar 12.559 episódios que envolveram eventos de

feminicídio e violência contra mulher; violência contra crianças e adolescentes;

policiamento; manifestações, greve e protesto; violência contra LGBTI+; racismo e

injúria racial; eventos envolvendo arma de fogo e outros, a Rede de Observatórios da

Segurança (2020, p.8) constatou que “[...] as ações de policiamento foram as mais

numerosas, representando 56,2% do total” e que, embora se compreenda que o uso

e comercialização de drogas ilícitas não ocorrem apenas nas favelas e periferias, a

maior parte das ações constantemente associadas a guerra às drogas acontecem nos

territórios marcados pela pobreza, onde se localiza majoritariamente a população

negra (RIBEIRO; SANTANA, 2020).

Enquanto mecanismo de controle e práticas de racialização, o combate às

drogas, por meio de seu cumprimento baseado em objetivos tomados como

estratégicos, torna-se a frente da execução do plano genocida do Estado atual

brasileiro sobre a população negra e periferizada. Na tentativa de conter a

criminalidade e a comercialização de drogas, autoridades atuam de forma violenta nos

espaços periféricos, o que aumenta a lógica de criminalização nestes territórios e ao

mesmo tempo, desconsideram a presença do consumo e tráfico de drogas em

ambientes elitizados marcado pelos privilégios da branquitude. E ainda, o fato de não

existirem áreas ampliadas para produção de armas e plantação de drogas nas favelas,

enfatiza a desproporcional centralização de violência nesses espaços, considerando

a justificativa de encerramento da comercialização ilícita de armas e substâncias

(OLIVEIRA; RIBEIRO, 2018).

A Rede de Observatórios (2020) indicou que, durante um ano, 60% dos casos

documentados pelas mídias, sites de notícias e grupos de WhatsApp tiveram como

ponto central as polícias. Ainda ressaltou que temáticas importantes como “[...]

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violência de gênero (11% dos eventos monitorados), violência contra crianças e

adolescentes (5%) e outros tópicos, como racismo, violência LGBTI+ e intolerância

religiosa, também aparecem no momento atual”, porém, as ações policiais

permanecem no foco das discussões sobre violência e segurança (RAMOS et al.

2020, p. 25).

Os dados apresentados até o momento demonstram a dificuldade de

desenvolver e expandir novas narrativas perante as oposições que alcançam a

população negra. A instituição policial produz regimes de verdade (FOUCAULT, 1996)

através de informações constantes sobre “[...] apreensões de armas, prisões de

suspeitos, traficantes feridos em tiroteios, operações policiais que vitimam procurados

etc. forma e consolida um campo discursivo, que justifica e naturaliza excessos

policiais [...]”, e ainda, justificam operações violentas que se repetem cotidianamente

(RAMOS et al. 2020, p. 25).

Das informações sobre o policiamento, o que mais assombra é o total de mortes

ocasionadas pelas polícias, as quais foram verificadas pela Rede de Observatórios e

descritas por Ramos et al. (2020, p. 26) que constataram 984 mortos e 712 feridos, o

que significa que a cada sete operações fiscalizadas pelo menos uma morte foi

registrada. Portanto, a pesquisa enfatiza que “os números são a demonstração mais

cabal de que o problema da violência policial nos estados pesquisados é o uso da

força letal e não apenas os excessos e as arbitrariedades”, e que, mortes e violências

nas periferias são uma conjuntura factual diária, especialmente no Rio de Janeiro e

na Bahia.

As mortes ocasionadas por operações policiais já supracitadas representam o

amedrontamento concreto e contínuo para com a juventude negra e territórios

subalternizados, já que episódios de violência e mortes não serão investigados,

apurados ou penalizados. De certa forma, as movimentações de noticiários sobre

policiamento formam um pretexto que fundamenta essas mortes (RAMOS et al. 2020).

Nos registros sobre ações policiais contabilizadas em um total de 7.062 foram

analisados pela Rede de Observatórios da Segurança (2020) e esboçado por Ramos

et al. (2020) sobre quais acontecimentos e palavras foram mais utilizadas nas ações,

englobando descritores como prisão; suspeito; drogas; operação; tráfico;

mortos/feridos; abordagem; investigação; tiros; apreensão; confronto; inteligência;

negro/negra; racismo/racial.

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Como resultado da análise, a Rede, através da descrição de Ramos et al.

(2020, p.27) identificou que “[...] expressões como operações, drogas, suspeitos,

tráfico, prisão aparecem na ordem do milhar. Já as palavras investigação e inteligência

aparecem 373 e 25 vezes, respectivamente”. Já a palavra racismo/racial não foi citada

em nenhum momento e a expressão negro/negra apareceu apenas uma vez. Nessa

perspectiva, é possível observar que o racismo institucionalizado no aparato policial e

no sistema de segurança fica escamoteado na composição narrativa, uma vez que,

ao analisar 7.000 registros de policiamento, fundamentado em notícias de jornais e

redes sociais, a palavra “negro” aparece uma vez, sendo que, esta, é a população

mais atingida por mortes violentas no Brasil (RAMOS et al. 2020, p. 27).

O racismo estrutural e institucional fica evidente na matéria enfatizada pela

Rede de Observatórios da Segurança (2020) e apresentada pelo jornal Extra Globo,

quando policiais envolvidos na morte de Maria Eduarda Alves Ferreira,13 anos, por

quatro disparos dentro de uma escola municipal durante uma operação policial em

Irajá, Zona Norte do Rio de Janeiro, são presos em flagrante e soltos dois meses

depois por decisão do juiz. Além disso, os policiais que respondem pelo homicídio da

menina trabalham no Centro de Recrutamento e Seleção de Praças (CRSP), local

encarregado para fazer a seleção dos candidatos a entrar na corporação (SOARES,

2020a).

Neste âmbito, Silvio Almeida (2018, p. 90) compreende que no território

brasileiro, a medida que as lógicas de poder são afetadas pelos efeitos do mundo

colonial, deixou de manter a ordem do viver e morrer, constituindo a deliberada

atuação do poder de exterminar a população em larga escala ou de submetê-la a isso,

dentro de um contexto no qual a “guerra, política, homicídio e suicídio tornam-se

indistinguíveis”. Portanto, o racismo enquanto elemento estrutural opera na condição

da normalidade, perpetuando vivo discursos que desviam quaisquer tentativas de

impedimento de ações racistas.

4.2 EFEITOS DA NECROPOLÍTICA

“Eles chegaram atirando. Eu não consigo

entender, não sei o que se passa na cabeça

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desses policiais, atirar numa criança

inocente. É muito desprezo pela vida”.

Relato da mãe de João Pedro Matos, 2020.5

“Se fosse na Zona Sul, eles não entrariam

atirando”.

Relato da mãe de João Pedro Matos, 2020.6

Enquanto racionalidade estruturante que assegura lógicas de violência no

Brasil, o racismo é estampado nas diversas reportagens que envolvem narrativas de

operações policiais, combate ao tráfico de drogas e violência. A distribuição da morte

de jovens negros enquanto política de estado é um cenário que autoriza operações

como a que matou João Pedro Matos Pinto, jovem negro de 14 anos, em São Gonçalo,

Rio de Janeiro. A reportagem citada pela Rede de Observatórios da Segurança (2020)

e apresentada pelo jornal Extra Globo por Rafael Soares (2020b) mostrou que a casa

em que João Pedro e seus amigos estavam não foi alvo de nenhuma ordem judicial.

A operação conjunta com a força especial da Polícia Civil e Federal, mobilizou 65

agentes e dois helicópteros, sendo que, no dia em que João Pedro foi morto, os

agentes não apreenderam armas ou drogas na região que foi indicada na investigação

como esconderijo de chefes do tráfico e apreenderam apenas duas contas de gás, um

celular e um carro.

Conforme o laudo, o jovem foi morto por um tiro de fuzil pelas costas, de mesmo

calibre que a arma utilizada pelos policiais. Os policiais civis apresentaram uma pistola

e granadas que alegaram terem sido encontradas na parte de fora da casa, como

prova que havia traficantes no local e justificativa pela invasão que contabilizou mais

de 70 marcas de tiros espalhados pelos cômodos, sendo a maioria deles de fora para

dentro (SOARES, 2020b).

Através da leitura da obra “Desmilitarizar” de Luiz Eduardo Soares, Ramos et

al. (2020) esclarecem que a eficiência policial é medida pela quantidade de prisões e

5 - 6 Epígrafe da entrevista da mãe de João Pedro Matos para o jornal Extra Globo: Para mãe, João Pedro foi vítima de racismo: ‘Se fosse na Zona Sul, eles não entrariam atirando’ (2020). Disponível em: https://extra.globo.com/casos-de-policia/para-mae-joao-pedro-foi-vitima-de-racismo-se-fosse-na-zona-sul-eles-nao-entrariam-atirando-24478148.html.

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apreensões de armas e drogas. Nesse sentido, as ações policiais são norteadas pelo

cumprimento de objetivos que incluem operações nas favelas e aprisionamento de

jovens negros que comercializam pequena quantia de drogas, o que gera uma custosa

e fracassada ideia de guerra às drogas, enquanto na realidade o combate é contra a

população negra, que através do discurso pautado no combate à violência, se justifica

a operacionalização da necropolítica, ou seja, o extermínio em larga escala dessa

população.

É desta forma que comandos autorizam operações policiais coercivas e

violentas na periferia que se desdobram em mortes da população negra, como no

caso também brutal do jovem William da Silva Melo, 19 anos, morto com um tiro no

peito em Recife. Um amigo de William relatou que havia juntado muita gente no local

pois estava acontecendo a gravação de um clipe quando a polícia chegou atirando

com bala de borracha e bomba de gás, dizendo ainda que “quem chegou com tumulto

lá foi realmente a polícia”. Logo, o primo do jovem disse que a Polícia Militar, ao

abordar com chutes um homem em uma moto, algumas pessoas presentes no local

gritaram com o policial que em seguida se virou e atirou, acertando no peito de William,

disse o primo na reportagem ilustrada pela Rede de Observatórios da Segurança

(2020) e exibida pelo Jornal do Commercio (AZEVEDO, 2020).

Noticiários como os supracitados neste artigo representam o cotidiano de

milhares de famílias da periferia, tal como reafirmam o racismo como uma ausência

presente no discurso sobre violência, que bem colocado pela Rede de Observatórios

da Segurança (2020), mesmo não aparecendo em dados, se efetua onde os silencia.

“A punição guarda relação profunda com a vigilância racial, e a prisão e a morte são

parte dessa solução punitiva para problemas sociais complexos, que não estão

ligados às ideias de crime” (RIBEIRO; SANTANA, 2020, p. 17). Nesse sentido, ao

considerar que o proibicionismo das drogas carrega em si práticas racistas que

operam como dispositivo da necropolítica para fundamentar lógicas de violências a

população negra, infere-se que este modelo é também um dispositivo da necropolítica

que possibilita a construção da racionalidade das mortes supracitadas, o que

assegura a desobrigação daqueles que concebem estas práticas a título de proteção

da sociedade (JÚNIOR, 2016).

Nesse contexto, a guerra às drogas enquanto ferramenta que constrói um corpo

econômico e socialmente geradores de perigo, colocando-os às margens da

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sociedade e operando através desse controle de elementos ameaçadores, possibilita-

se um sutil, implícito e agressivo mecanismo de gestão da sociedade (BORTOLOZZI,

2018). Nessa perspectiva, o discurso de uma guerra às drogas justifica e valida a

morte de um suspeito como indispensável para um cenário de conflito criado pela

narrativa policial e pelas mídias que, ao venderem a ideia de combate ao crime e

tráfico de drogas, justificam o apagamento de corpos e vidas negras estampadas nos

jornais como envolvidos no tráfico (FERRUGEM, 2018).

Diante dessa construção da racionalidade da morte, apoiada em modelos da

branquitude, a sociedade confirma, naturaliza e aprova mortes através da afirmativa

de que “bandido bom é bandido morto”. Além disso, a sujeição de corpos negros é

estabelecida atravessada por marcadores sociais como raça, território, nível

socioeconômico e classe social, que são características próprias de identificação que

definem e desprotegem jovens à violência expressa pelo comércio ilegal das drogas

e ao confronto policial. Tal fator, explicita a dura afirmativa de que “a juventude negra

não está morrendo, está sendo assassinada” (FERRUGEM, 2018, p. 78-83).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após estudos realizados para o presente artigo, foi possível identificar que os

diversos modos do uso de drogas tornaram-se existentes em toda a construção

histórica e social da humanidade, logo, entende-se que é improvável extingui-las

integralmente de todos os contextos sociais, compreendendo, inclusive, sua

existência possível e regulamentada. Entretanto, por traz do discurso pautado na

proteção e segurança da sociedade, o proibicionismo das drogas se instala por

diversos interesses políticos, econômicos, jurídicos e policiais, que operam como um

importante dispositivo de controle da população pobre, negra e periférica, as quais

são as mais atingidas pela maquinaria do racismo.

O ideário constituído e marcado pelo mundo colonial e pela branquitude

burguesa sobre o usuário e vendedor de drogas como um perigo a ser combatido e o

terror construído pelas mídias e noticiários que associam as drogas à violência,

criaram um cenário que justifica operações policiais violentas nas favelas e práticas

racializantes de um Estado que opera na decisão de quem vai viver e quem vai morrer.

Desta forma, este determina qual corpo é rentável economicamente falando para uma

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composição capitalista que necessita cada vez menos da força do trabalho humano e

se sustenta pelo fazer e deixar morrer a população imprópria e sobrante de uma

sociedade marcada pelos pilares da braquitude.

O informe anual da Anistía Internacional (2019, p. 24-25, tradução nossa)7,

movimento global de pessoas que trabalham pelo respeito e proteção dos direitos

humanos, demonstra em dados a população que morre pelo policiamento através do

discurso do combate as drogas, trazendo o recorte do Estado do Rio de Janeiro, onde

alegações de seu governante efetivou operações referente à guerra nomeada contra

as drogas que permaneceram como justificativa para ações policiais violentas. Os

dados mostram que, entre janeiro e julho 1.249 pessoas foram mortas pela polícia no

Rio de Janeiro, sendo que cinco dessas pessoas eram crianças negras que residiam

em favelas e periferias de cidades da região. Este recorte demonstra o poder de um

Estado assassino que cria discursos sobre a preservação e segurança da sociedade,

constituí seu próprio inimigo e opera nas disposições do direito de matar, criminalizar,

silenciar e exterminar vozes de resistência e pessoas negras como Marielle Franco,

Ágatha Felix e João Pedro Matos.

Deste modo, assumindo que as drogas continuarão existindo e que após a

proibição o índice de consumo e tráfico de drogas aumentaram e, concomitantemente,

o índice de violência pela criminalização das vendas e disputa pelo tráfico, infere-se

que a guerra às drogas não é direcionada as drogas em si, uma vez que não é possível

encarcerar, combater e matar substâncias, mas sim, um projeto necropolítico, o qual

se faz necessário racializar, gendrificar, territorializar corpos como efeito do espaço

social. Portanto, é através da proibição que o poder do Estado controla, determina

quem é descartável ou não, e assim, dita quem deve viver e quem deve morrer,

caracterizando a necropolítica.

7 No original: El gobernador del estado de Río de Janeiro, Wilson Witzel, realizó declaraciones y llevó a cabo acciones relacionadas con la denominada “guerra contra las drogas”, que continuaba empleándose como pretexto para realizar intervenciones policiales militarizadas que se caracterizaban por altos niveles de violencia policial, crímenes de derecho internacional y violaciones de derechos humanos. Según cifras oficiales, entre enero y julio la policía mató a 1.249 personas en Río de Janeiro. [...] Entre las personas muertas a manos de policías en servicio activo figuravan cinco niños negros que vivian en favelas y en comunidades desfavorecidas situadas en las afueras de ciudades de la región metropolitana de Río de Janeiro.

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