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Revista Contabilidade & Finanças FIPECAFI - FEA - USP, São Paulo, FIPECAFI, v.16, n. 27, p. 66 - 77, setembro/dezembro 2001

Revista Contabilidade & Finanças FIPECAFI - FEA - USP ARTIGO

APLICAÇÕES SOCIAIS DAS SOCIEDADES COOPERATIVAS: UM mODELO DE DEMONSTRAÇÃO CONTÁBIL

José Ricardo Maia de SiqueiraProfessor da UFRJ

Wagner SoltelinhoGraduando da UFRJ

O Profissional de Controladoria no MercadoBrasileiro - Do Surgimento da Profissão aos Dias Atuais

RESUMO Em um trabalho anterior, o pesquisador selecio-

nou quatro anos de anúncios publicados no Jornaldo Brasil - 1960, 1970, 1980 e 1989 - buscando aidentificação do perfil do profissional de controladoriaem cada um destes períodos. O objetivo era avaliar aevolução do controller no Brasil baseado nos anúnci-os publicados na seção de classificados. Neste tra-balho percebe-se no ano de 1960 uma baixa procu-ra por executivos em geral e de controllers em parti-cular. Em contraste com 1960, o ano de 1970 apre-sentava um número bastante elevado de anúncios -um total de 38 - que não se modificaria relevante-mente nos demais períodos da pesquisa. Talconstatação é um indício de que em algum momentodurante a década de 60 houve um crescimento con-siderável na demanda por estes profissionais. Estetrabalho tem por objetivo identificar quando ocorreeste incremento na demanda por controllers, buscan-do localizar indícios do nascimento da profissão nopaís. Além disso procura-se traçar um perfil da pro-fissão ao longo dos anos até a atualidade.

Palavras-chave: controle gerencial, controladoria,controller.

ABSTRACT

In a former work, the researcher analyzed adsrecruiting controllers published in the “Jornal do Bra-sil” in 1960, 1970, 1980, and 1989. The objective thenwas to evaluate the evolution of the profession inBrazil, and to identify the professional profile of thecontroller in each of these years. It was noticed thatthe search for executives in general (and controllersin particular) was low in 1960 when compared to 1970.The number of ads published in 1970, 38, would notchange considerably in the subsequent periods. Thisindicates that demand for controllers has presenteda great variation at some point between 1960 and1970. The objective of the present work is to detectwhen this happens. This way, it aims not only toinvestigate when the profession of the controller wasborn in Brazil, but also to observe how thecharacteristics of this professional have changedthroughout the years.

Key words: management control, controllership,controller.

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complexos, sendo constituídos por uma série de pro-cessos. São eles: planejamento do sistema de con-trole, feedback, quantificação e armazenamento erecuperação de informações (Richman & Farmer,1975, p. 225-226). O último dos processos é possi-velmente um dos mais importantes nas modernasorganizações, devido à rápida mutabilidade do ambi-ente onde as empresas estão inseridas. Nas atuaiscondições “informação é poder. Tudo que modifica oacesso à informação escassa e importante, alteraráa estrutura de poder nas organizações” (Robbins &De Cenzo, 1995, p. 493).

Isto torna o controller uma peça estratégica den-tro das organizações, pois ele é o profissional da in-formação por excelência. Souza & Souza (2000, p.70-71) chegam a afirmar que “dependendo das infor-mações reportadas à administração pode haver atéuma mudança na visão e missão da empresa”.

2. O PROFISSIONAL DE CONTROLADORIA

- DETERMINAÇÃO DO PERFIL O controller assume diferentes posturas em dife-

rentes organizações. Para se entender o que é ocontroller é necessário o entendimento prévio do queé controladoria. Almeida, Parisi & Pereira (1999, p.370) dividem o conceito de controladoria em doisvértices, sendo que em um deles a conceitua comoo órgão administrativo que responde “pela dissemi-nação de conhecimento, modelagem e implantaçãode sistemas de informações”. Nesta conceituação sepermite perceber a importância do profissional decontroladoria como elemento de geração de informa-ções dentro da organização. No entanto para ummelhor entendimento da importância do profissionalde controladoria, é necessário efetuar a identifica-ção de suas funções.

Muitos têm sido os autores com descrições defunções do controller. Kanitz (1976, p. 5-6), propõeseis funções da área de controladoria, são elas: in-formação, motivação, coordenação, avaliação pla-nejamento e acompanhamento. Já Heckert e Wil-son (1963, p. 13-14) fazem menção a cinco, sendoelas: função de planejamento, função de controle,função de relatar, função contábil e outras funções.Se ambas descrições forem comparadas com deta-lhe se verificará que não há grandes diferenças en-tre uma e outra.

1. PLANEJAMENTO E CONTROLE Chiavenato (1985, p. 125-126) divide o planeja-

mento dentro das organizações, bem como o pro-cesso de controle, em três níveis: estratégico, táticoe operacional. Aquele desenvolvido no mais elevadonível hierárquico organizacional e com maior impac-to sobre os destinos da organização é o planejamen-to estratégico. Este planejamento seráoperacionalizado, a posteriori, através dos planeja-mentos tático e operacional.

O planejamento estratégico servirá como um nor-te que orientará as decisões da empresa. SegundoSantos (1999, p. 163), a “função do planejamentoestratégico é permitir que a empresa, da maneira maiseficiente possível, consiga uma vantagem sustentá-vel sobre seus competidores”.

O planejamento estratégico orientará a confecçãodos planos tático e operacional; dentre eles destaca-se o orçamento que pode ser definido como o “instru-mento de que se valem as empresas para a definiçãoquantitativa dos objetivos e do detalhamento dos fato-res necessários para atingi-los” (Walter, 1985, p. 1).

O processo de orçamentação retrata uma carac-terística interessante: o íntimo relacionamento exis-tente entre planejamento e controle. O processo deorçamentação em si é uma atividade de planejamen-to, no entanto, ao finalizá-lo se terá um instrumentode controle. Esta particularidade é mencionada porPires & Gaspar (1988, p. 351) que afirmam que aofalar de controle está implícita a idéia de “comparar oque se fez com o que se planejou. Um bom sistemade informações dá ao chefe o grau decompatibilização entre o planejado e o executado”.

Stoner & Freeman (1995, p. 443) relacionam doistipos de controles: os de pré-ação e os de pós-ação.Os controles de pré-ação ou preventivo têm por ob-jetivo impedir que os problemas ocorram. Os contro-les preventivos podem assumir diversas formas, atémesmo um maior investimento em recrutamento,seleção e treinamento de pessoal. A premissa queestá por trás é “quanto mais alta a qualidade dosadministradores e de seus subordinados, menor seráa necessidade de controles diretos” (Koontz &Weihrich, 1994, p. 674). Os controles pós-ação sãoaqueles mais tradicionais, onde se mensura o resul-tado e, depois, adota-se a ação corretiva.

Os sistemas de controle organizacionais são muito

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Horngren (1985, p. 11), baseado na classificaçãodo Financial Executive Institute, propõe uma descri-ção um pouco mais abrangente com sete funções aserem desempenhadas pelo controller, são elas: pla-nejamento para o controle, relatórios e interpretação,avaliação e assessoramento, administração tributá-ria, relatórios para o governo, proteção de ativos eavaliação econômica.

Planejamento para o controle é estabelecer, “co-ordenar, e manter, através da gerência autorizada,um plano para o controle das operações”(Anderson& Schmidt, 1963, p. 13-14).

A função de relatórios e interpretação significamedir “a performance entre os planos operacionaisaprovados e os padrões, e reportar e interpretar osresultados das operações dos diversos níveisgerenciais” (Heckert & Wilson, 1963, p. 11).

Avaliação e assessoramento pode ser conceitua-do como a função de analisar e questionar a valida-de dos objetivos empresariais que são colocados,bem como, dos meios disponíveis para alcançá-los.O controller, pelo seu conhecimento de legislação epor possuir uma visão ampla das operações da or-ganização, é um funcionário estratégico no forneci-mento desta visão crítica à administração da empre-sa. Contudo, tal questionamento deve ir além dasconsiderações legais, chegando até mesmo ao nívelético.

Um amplo conhecimento da legislação sobre tri-butos é uma característica fundamental para que ocontroller consiga uma boa administração tributária.Uma gestão tributária com qualidade pode trazer maisrecursos do que muitos dos produtos existentes nacarteira da empresa.

É fundamental também que o profissional decontroladoria tenha bons conhecimentos dos princí-pios contábeis e da legislação societária para quepossa gerar bons relatórios para o governo, bem comopara os demais usuários externos das demonstra-ções financeiras. Em alguns setores, como o finan-ceiro por exemplo, tais conhecimentos não são sufi-cientes, sendo necessário o aprofundamento na re-gulamentação específica.

O controller deve fazer com que um sistema decontrole interno eficiente seja implantado dentro deuma empresa visando, entre outros objetivos, salva-guardar adequadamente seus ativos (CRC, 1998, p.19-20). Estes controles internos devem ser monta-

dos à luz dos objetivos empresariais, de suas neces-sidades e de sua cultura organizacional. Sancovschi(1999), por exemplo, alerta para a possibilidade deconflito entre os princípios do controle interno e dareengenharia de processos dentro de um ambienteorganizacional.

Finalmente tem-se a avaliação econômica que éa função de acompanhar as “forças econômicas esociais, assim como as influências do governo e in-terpretar os efeitos que possam incidir sobre os ne-gócios da empresa” (Yoshitake, 1984, p. 31). Umahabilidade muito valorizada no desempenho destafunção é a capacidade de trabalhar com cenários.Um cenário pode ser definido como “uma visão con-sistente do que o futuro poderá vir a ser” (Robbins &Coulter, 1999, p. 270) e trata-se de um poderosoferramental utilizado na área econômica.

Talvez a principal diferença entre a proposta deHorngren (1985) e as anteriores seja a inclusão daAvaliação Econômica que não tem correspondêncianas demais; no entanto, há algumas evidênciasempíricas sobre a relevância desta função.

A postura do controller frente à administração tam-bém é motivo de estudos. Sathe (1983) identificaquatro tipos de controllers segundo sua postura, sãoeles: independente, envolvido, dividido e forte. Seutrabalho conclui que o mais adequado para as orga-nizações é o controller forte, pois um único profissi-onal serviria como contraponto para a administraçãoe, ainda, seria responsável pela geração de relatóri-os, obtendo uma atuação mais eficiente.

3. FLUXO DE CAPITAIS NO BRASIL NA

DÉCADA DE 60 Há fortes indícios que sugerem que a demanda

por profissionais de controladoria experimentou umforte incremento em algum momento durante os anos60. Este crescimento na procura destes profissionaisparece estar vinculado, em parte, ao crescimentoda importância da indústria na matriz produtiva bra-sileira. Logo, é de grande importância entender o pro-cesso de industrialização pelo qual passou o Brasildurante este período.

O país experimentou um forte crescimento indus-trial no pós-guerra. Prado Júnior (1986, p. 319-320)relaciona este intenso crescimento industrial à alta noíndice geral de preços que é acompanhada com gran-

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de defasagem pela elevação dos salários, o que “de-termina uma elevação das receitas das empresas re-lativamente às suas despesas essencialmente consti-tuídas pela remuneração do trabalho. Eleva-se emconseqüência a margem de lucros que vão alimentara acumulação capitalista”. As indústrias foram aindafavorecidas por facilidades de financiamento e por umprocesso de substituição de importações decorrenteda precariedade da balança de pagamentos.

Furtado (1976, p. 100) chama atenção, no entan-to, para o fato de que o processo de substituição deimportações corresponde a uma segunda etapa noprocesso de industrialização latino-americano. Em umprimeiro momento a industrialização nasce de umaumento na renda da população. “O aumento na pro-dutividade e consequente aumento no poder de com-pra da população leva à diversificação no padrão geralda demanda, envolvendo ainda um crescimento maisque proporcional na demanda por produtos manufa-turados”.

A decorrência deste processo de crescimento in-dustrial foi que o volume físico de produção mais doque triplicou entre os anos de 1947 e 1961 e, conse-qüentemente, no “início dos anos 60, o Brasil trans-formara-se em um país industrializado, ainda quepermanecesse notoriamente subdesenvolvido” (Fur-tado, 1972, p. 33).

Entretanto, a instabilidade política - que culminoucom a sucessão de Jânio Quadros por João Goularte o Golpe de 1964 - aliada a problemas econômicosnão equalizados levam a um declínio considerávelna taxa de crescimento da produção industrial de todaa primeira metade dos anos 60. Processo que só seriarevertido a partir de 1966.

Pereira (1987, p. 181) destaca que durante a se-gunda metade dos anos 60 a economia brasileira

entra em um novo processo expansionista, “repetin-do e tendendo a superar o desempenho expansivoocorrido na segunda metade dos anos 50”. Acres-centa ainda que isto só foi possível devido a umasérie de reformas econômicas implementadas porRoberto Campos e Octávio Gouveia Bulhões entre1964 e 1966, entre elas: a reforma do mercado decapitais, a reforma tributária, a reforma bancária e ainstituição da correção monetária.

Junte-se a isto a retomada dos investimentos di-retos estrangeiros no país a partir de 1965, asseme-lhando-se ao fluxo de capitais existentes na segundametade dos anos 50 - vide Tabela 1. Enquanto em1964 os investimentos diretos no país atingiam ainexpressiva marca de US$28 milhões - tratando-sedo mais baixo patamar dos anos 60 - em 1965 elesjá somam $70 milhões atingindo um máximo deUS$136 milhões em 1969 e iniciam os anos 70 como nível de US$122 milhões.

Este pano de fundo ajuda a explicar o aumentona procura por profissionais de controladoria duranteo período. Tal aumento parece ter ocorrido por trêsrazões:

1) a instalação de empresas estrangeiras, nota-damente norte-americanas, trouxe ou arraigoua cultura da utilização da área de controladoriapara o solo brasileiro;

2) uma maior penetração de empresasmultinacionais acirrou a competição, forçandoas empresas aqui instaladas, principalmenteas nacionais, a se reestruturar;

3) com o crescimento econômico as empresas ga-nharam porte e suas operações aumentaramem complexidade, necessitando de novos pro-fissionais que assegurassem o controle sobrea organização.

Tabela 1 - Investimento Estrangeiro Líquido no País: 1947-70 (em milhões)

Ano Valor Ano Valor Ano Valor Ano Valor1947 36 1953 22 1959 124 1965 701948 25 1954 11 1960 99 1966 741949 5 1955 43 1961 108 1967 761950 3 1956 89 1962 69 1968 631951 (4) 1957 143 1963 30 1969 1361952 9 1958 110 1964 28 1970 122

Fonte: BACEN. Boletim do Banco Central do Brasil, fev. 1972

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Uma das decorrências de todo este processo emuma esfera micro-econômica é a presença cada vezmais constante do profissional de controladoria nasmédias e, principalmente, grandes empresas exis-tentes no país.

4. METODOLOGIA DA PESQUISA

Para atingir o objetivo a que este trabalho se pro-

põe será usada a mesma metodologia utilizada ante-riormente. Serão selecionados diversos anos e combase nos anúncios publicados no caderno de Classi-ficados de Domingo do Jornal do Brasil, se buscarátraçar o perfil do profissional de controladoria no Bra-sil, do seu surgimento aos dias atuais. Será conside-rada aqui uma acepção ampla do termo profissionalde controladoria, ou seja, não se selecionará apenasos anúncios que procurem controllers, mas também:assistant controllers, gerentes de controladoria,controllers assistentes e designações correlatas.

Cabe relembrar aqui que o objeto de análise des-ta pesquisa são anúncios publicados na seção declassificados. Tal objeto de estudo possui algumaslimitações. Primeiramente, por uma razão econômi-ca, tais anúncios geralmente são sintéticos, o quereduz a riqueza da análise devido à omissão de algu-mas informações que podem ser relevantes.

Em segundo lugar, como os anúncios têm porobjetivo a contratação de funcionários, muitas dasinformações coletadas podem ter um viés visandoaumentar a atratividade da organização aos olhosdos candidatos.

É importante ressaltar, contudo, que apesar desuas limitações os anúncios são fontes importantesde informação, principalmente no tocante à caracte-rização da função de controladoria em seusprimórdios. Trata-se, portanto, de um trabalho emi-nentemente exploratório visando identificar algunsindícios que poderão servir de insumos em futuraspesquisas.

Os anos abordados pela pesquisa são 1960 a1969, 1980, 1989, 1991, 1992 e 1999.

5. O SURGIMENTO DE UMA PROFISSÃO

- 1960 A 1965 O ano de 1960 é marcado principalmente pela

busca de contadores. Durante este período surgem

92 anúncios requisitando tal profissional. Alguns des-tes podem ser considerados como precursores dosprofissionais de controladoria, pois era requisitado odesempenho de funções como: administração tribu-tária e assessoria ao processo decisório. No entan-to, a grande maioria dos anúncios - 25% - desejavaalguém para supervisionar escritório ou departamentode contabilidade.

Nota-se inclusive a pouca familiaridade na épocacom o termo controller, já que havia um anúncio pro-curando um Assistente de Diretoria que tivesse ex-periência em contabilidade, legislação fiscal, conta-bilidade industrial e interpretação de balanços, ouseja, um profissional com um perfil bastante próximoao exigido pela área de controladoria.

Durante o ano de 1961 não há nenhum anúncioprocurando controllers, mas há dois bastante inte-ressantes procurando contadores. Um de uma em-presa do setor siderúrgico interessado em um conta-dor com experiência em custo industrial e na soluçãode problemas de organização e controle. O outro, daLacta S/A, procura um profissional para assumir oserviço de contabilidade e controle.

Em 1962, diferente de 1961, encontram-se trêsanúncios buscando profissionais de controladoria. Oprimeiro, de uma empresa americana da área farma-cêutica, que deseja um controller com conhecimentodos princípios contábeis americanos e legislação tri-butária brasileira. O interessante neste anúncio é queo profissional será responsável também pela área detesouraria que não é, a princípio, uma atribuição docontroller.

O segundo anúncio não revela muitas informa-ções sobre o cargo. A empresa requisitante éidentificada como de grande porte, pertencente aosetor siderúrgico e, curiosamente, exige que opostulante seja brasileiro nato ou naturalizado.

Por último tem-se uma empresa buscando umassistant controller. Este anúncio tem duas particu-laridades interessantes. Primeiramente ele eviden-cia a necessidade de um controller assistente que,provavelmente, trabalhará ligado a um controller.Devido ao baixo volume de anúncios de controller,isto é um indício de que nestes primórdios dacontroladoria no país a necessidade das empresasera suprida pela importação de profissionais ou pelaascensão e treinamento de funcionários do próprioquadro. Em segundo lugar o anúncio requisitava pro-

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fissionais com formação básica em contabilidade oueconomia, dando preferência à segunda.

No ano de 1963 há uma empresa procurando umcontrolador para ser responsável pela área de cus-tos e orçamentos e outras duas interessadas emcontrollers assistentes, sendo que uma delas desejaum profissional com experiência em contabilidade,orçamento, impostos e sistemas. Há ainda um anún-cio enigmático - já que não esclarece suas atribui-ções e atributos desejados - procurando um Controllerde Ativo Fixo.

Em 1964 existem três anúncios. O primeiro re-quisitando um profissional que tenha conhecimentode impostos brasileiros. O segundo, de uma indús-tria americana de porte médio, requisitava um indi-víduo com experiência em contabilidade industrial,custos, orçamento e legislação brasileira. Há aindaum outro, de assistant controller, onde se requer odesempenho da função de controle na matriz, fábri-ca e filiais.

Há um pequeno crescimento na demanda por pro-fissionais de controladoria em 1965. Neste ano sãoencontrados quatro anúncios voltados especificamen-te para a área de controladoria e outros três que,apesar de não requisitarem especificamente um pro-fissional da área, buscam alguém com suas atribui-ções. São dois anúncios procurando controllers, sen-do que um deles exige conhecimentos de contabili-dade, custos e impostos brasileiros e ambos exigemexperiência em orçamentação. Há ainda um anúnciode assistant controller com experiência em orçamen-to, e outro de controlador financeiro para atuar à frenteda contabilidade e do setor de controle financeiro.

Além dos casos acima se requisitou um contador(com conhecimento de legislação fiscal e trabalhista,contabilidade e controle), um gerente administrativo(para implementar um sistema de controle financeiroe com conhecimentos de legislação fiscal e traba-lhista) e um diretor financeiro assistente (responsá-vel pelo orçamento industrial e comercial da firma,análise de dados estatísticos, confecção de relatóri-os contábeis e fiscais e controle do planejamento fi-nanceiro).

Dois pontos devem ser destacados na análise dosdados coletados na primeira metade da década de60. Em primeiro lugar, observa-se uma baixa deman-da por profissionais de controladoria, possivelmentedevido à baixa complexidade dos negócios naquela

época, o que levava a uma baixa delegação de auto-ridade e concentração do poder nas mãos dos pro-prietários, reduzindo a necessidade de controle. Wil-son, Roehl-Anderson & Bragg (1995, p. 20) apontamo aumento da complexidade das operações nas em-presas como fator de suma importância no surgimentoda função de controladoria.

É possível também que esta baixa demanda te-nha também um forte componente cultural. Aindahoje muitas empresas visualizam investimentos emáreas que não sejam vendas ou produção comoconsumidores de recursos. Além disso, devido aoforte cunho familiar das organizações, as posições-chave eram ocupadas por membros da família oufuncionários de confiança que trabalhavam há anoscom os controladores do negócio, reduzindo as-sim, supostamente, a necessidade de instrumen-tos de controle.

Em segundo lugar, nota-se uma menor complexi-dade nas atividades do profissional de controladoria.As atribuições listadas em cada anúncio se encai-xam apenas em algumas das sete funções elencadaspor Horngren (1985).

6. O AUMENTO DA PROCURA

- 1966 A 1969 A segunda metade da década de 60 é marcada

por um rápido crescimento na demanda por profissi-onais de controladoria. Enquanto na primeira meta-de da década o número de anúncios nunca foi supe-rior a cinco, de 1966 a 1969 este total anual nunca foiinferior a oito atingindo um máximo de 20 anúnciosem 1968, conforme se pode observar na Tabela 2.Tal aumento na procura por estes profissionais temexplicação, provavelmente, no aumento do fluxo deinvestimento direto ocorrido neste período, trazendopara o país empresas de maior porte e complexida-de nas operações e que já estavam familiarizadascom o conceito de controladoria.

É importante destacar que do total de anúncioscoletados, a grande maioria das empresas seintitulava como de grande porte. Foram encontrados51 anúncios no período, destes, 25 revelaram o por-te da organização - vide Tabela 3. Deste número ne-nhuma organização se caracterizou como de peque-no porte e apenas uma - em 1968 - como de tama-nho médio. A grande maioria - 96% do grupo que

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revelou o tamanho organizacional - se conceituoucomo organização de grande porte.

Há que se destacar aqui duas considerações. Pri-meiramente há um grande número de anúncios - amaioria na verdade - que simplesmente não menci-ona o tamanho de suas operações. Portanto, ape-sar do forte indício de que o perfil das contratanteseram empresas de grande porte, isto não pode serafirmado categoricamente. Em segundo lugar, oconceito de tamanho é bastante subjetivo, podendovariar em função de critérios e setores de atuação.Uma empresa pode ser considerada como de gran-de porte quando se examina seu faturamento, maspode ser vista como pequena quando o critério passaa ser o número de funcionários. Além disso, dentrode um setor uma empresa pode ser consideradacomo grande, mas em outro ela seria consideradacomo pequena.

Tabela 2 - Anúncios por Ano

Ano Quantidadede Anúncios

1966 81967 121968 201969 111980 351989 371991 91992 111999 8

Cabe destacar ainda que os anúncios não forne-

cem um critério objetivo para se classificar as con-tratantes, estando esta pesquisa dependente da ava-liação que as empresas têm de si mesmas. E essaavaliação pode estar enviesada pela necessidade daorganização de se mostrar mais atrativa ao funcio-nário, superavaliando seu porte.

Considerando apenas aquelas empresas que reve-laram a nacionalidade do capital controlador, a maioriadas empresas contratantes no período é norte-ameri-cana, representando cerca de 46% do total - vide Tabe-la 4. Em segundo lugar, com uma certa surpresa, en-contram-se as empresas brasileiras - com aproximada-mente 38% do total - seguidas pelas empresas comnacionalidade inglesa - um pouco mais de 15%.

Tabela 3 - Tamanho das Empresas Contratantes

PorteAno Sem Pequeno Médio Grande

Esclarecer1966 4 - - 41967 5 - - 71968 10 - 1 91969 7 - - 41980 24 - 2 91989 26 1 2 81991 5 - 3 11992 9 - 1 11999 6 - 1 1

É lamentável o baixo número de empresas que re-velou sua nacionalidade - 13 de um total de 51 anúnci-os - já que isso empobrece esta análise. No entanto, háque se considerar que estes números fornecem fortesindícios de que os grupos nacionais ficaram atentos àentrada dos grupos estrangeiros, ao crescimento dacomplexidade das operações e ao acirramento dacompetitividade, buscando profissionais que permitis-sem um melhor acompanhamento de suas atividades.

Tal indício é corroborado pela alta procura por pro-fissionais de controladoria com função de coordena-ção do processo de planejamento e de geração derelatórios gerenciais, respectivamente, nove e oitoanúncios - vide Tabela 5. Apesar da elevada procurade profissionais para o desempenho destas duas fun-ções, a função mais solicitada foi a de prover a divul-gação de informações contábeis aos usuários exter-nos, com 12 anúncios.

Os resultados apresentados no parágrafo anteri-or reforçam a importância do conhecimento contábilno desempenho do papel do controller dentro do pe-ríodo de tempo em questão. Não é surpresa que aformação básica mais solicitada nos anúncios tenhasido contabilidade - com um total de 15 requisições -seguida por economia e administração, conforme sepode observar na Tabela 6.

7. CONSOLIDAÇÃO DE

UMA FUNÇÃO - ANOS 80 Os anos 80 podem ser considerados como os da

consolidação do profissional de controladoria nomercado de trabalho, haja vista ao volume de anún-

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cios encontrados nos dois anos pesquisados destadécada. Enquanto durante os anos 60 o volume deanúncios dificilmente superou a barreira de uma de-zena - só o fazendo nos três últimos anos - nos anosde 1980 e 1989, o total anual foi de, respectivamen-te, 35 e 37 anúncios - vide Tabela 2.

Quanto ao perfil das empresas contratantes, elecontinua bastante semelhante ao apresentado na dé-cada de 60, ou seja, basicamente empresas de grande

porte. Das empresas que revelaram seu tamanho - umtotal de 22 - 17 se consideram grandes e 4 se vêemcomo de médio porte. Ao contrário do observado nadécada anteriormente analisada, há no ano de 1989um único de empresa de pequeno porte procurandoum profissional de controladoria. Dificilmente este casopode ser considerado como representativo da realida-de da década de 80, até porque não há evidenciaçãoempírica para isto.

Novamente um grande número de empresas nãoforneceu informações sobre a nacionalidade do capi-tal controlador, dos 72 anúncios coletados nos doisanos, apenas 17 forneceram tal informação. Tal qual oobservado na segunda metade da década de 60, amaioria das empresas era americana (oito no total),mas desta vez seguido de perto pelas empresas bra-sileiras - com sete anúncios. Foi detectado ainda umacontratante sueca - em 1980 e outra inglesa - em 1989.

Quanto à forma de atuação do controller, cresceuem muito a participação da função Avaliação eAssessoramento - veja a Tabela 5 - entre as funçõesdesejadas pelas empresas, superando inclusive a de

Planejamento para o Controle, que durante a décadade 60 havia sido a segunda função mais requisitada.

Tal movimento se aproxima de duas tipologiaspropostas por Sathe (1983) - a do controller envolvi-do e a do controller forte. Segundo Sathe ambas asposturas do controller levam a um elevado envol-vimento no processo decisório, seja fornecendo al-ternativas para possíveis cursos de ação, seja ques-tionando planos e ações da gerência. É possível queesta forma de atuação do profissional decontroladoria, seja decorrência do processo deprofissionalização pelo qual vem passando boa par-te das empresas brasileiras.

Tabela 4 - Nacionalidade do Controle Acionário

Ano S/Informar Americana Inglesa Brasileira Sueca Alemã1966 6 2 - - - -1967 9 1 1 1 - -1968 16 2 1 1 - -1969 7 1 - 3 - -1980 26 6 - 2 1 -1989 29 2 1 5 - -1991 9 - - - - -1992 7 1 - 2 - 11999 6 1 - 1 - -

Tabela 5 - Funções Solicitadas

Ano 1 2 3 4 5 6 7 81966 2 1 - - 4 1 1 31967 3 1 1 - 3 2 - 81968 4 5 3 4 3 2 - 131969 - 1 - - 2 2 - 61980 5 14 6 9 14 4 1 151989 3 16 12 17 13 3 - 91991 3 3 3 3 3 1 1 31992 3 4 3 4 5 - - 41999 2 2 - 3 4 1 - 4

Obs.: 1 - Planejamento para o Controle, 2 - Relatórios e Interpretação, 3 - Avaliação e Assessoramento, 4 - Administração Tributária,

5 - Relatórios para o Governo, 6 - Proteção de Ativos, 7 - Avaliação Econômica, 8 - Não esclareceu a função.

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Há que se destacar ainda o crescimento na re-quisição da função Administração Tributária, decor-rência do crescimento no emaranhado tributário re-sultante do aumento na complexidade da legislaçãobrasileira. Nos anos de 1980 e 1989 havia 26 anún-cios mencionando esta função contra apenas 4 nasegunda metade dos anos 60.

A função Relatórios para o Governo continua bas-tante requisitada, com 27 anúncios - sendo a segun-da mais relacionada neste interstício de tempo - oque explica a maior procura por contadores para oexercício da função de Controller - 22 anúncios - se-guidos por economistas, administradores e engenhei-ros, conforme demonstra a Tabela 5.

8. MERCADO ATUAL

E TENDÊNCIAS - ANOS 90

Segundo os dados coletados para esta pesquisa,os anos 90 foram marcados por uma queda no núme-ro de anúncios solicitando profissionais de

controladoria. Nos anos de 1991, 1992 e 1999 foramencontrados 9, 11 e 8 anúncios, respectivamente -vide tabela 2. Esta característica pode ser decorrên-cia de uma série de fatores. Consolidação do profissi-onal de controladoria nas empresas, o que levaria auma estabilização no número de vagas de controllerou a uma redução na sua taxa de crescimento, recor-rendo-se ao mercado somente para fins de reposiçãodos profissionais existentes. Maior uso de headhunters,que se valeriam de seus bancos de dados ao invés deanúncios de jornais para fins de seleção de profissio-nais. Maior uso de profissionais expatriados pelasmultinacionais, que buscariam no exterior os profissi-onais expatriados. A Nokia, só para dar um exemplo,recentemente trouxe um grande número de profissio-nais de outras unidades mundiais. Pelo exposto, háduas possibilidades a se considerar, ou a metodologiautilizada levou a um viés, ou a consolidação da profis-são realmente ocorreu. Seja qual for a opção verda-deira, a conseqüência para fins desta pesquisa é umasó: menor riqueza de informações.

Quanto ao porte das empresas contratantes ocor-reu um fenômeno interessante na década de 90, onúmero de empresas de médio porte superou o dasde grande porte nos três anos analisados. Este mo-vimento é um forte indício do efeito da globalizaçãonos mercados. Com o aumento da competição asempresas de médio porte tiveram que se adequarpara se tornarem mais competitivas. Muitas das em-presas de médio porte, que em outros tempos pos-suíam uma administração de cunho familiar, tiveramque profissionalizar seus quadros. Passou a ser ne-cessário ter um maior controle, entre outras coisas,sobre custos e preços, sem desviar a atenção domovimento dos novos participantes do mercado, sur-

gindo assim a necessidade de criação da área decontroladoria.

A globalização faz com que Gomes (1997) preve-ja grandes dificuldades para o processo de controlegerencial dentro das organizações, devido à existên-cia de um maior nível de incerteza, o que faz comque as decisões e comportamentos assumam cará-ter pouco rotineiro e de difícil estruturação em ter-mos racionais. Um dos caminhos poderá ser a ado-ção de controles preventivos, fortemente calcadosna busca de recursos humanos de alta qualidade ena internalização por estes dos objetivos e valoresorganizacionais.

Este fenômeno - o de uma maior participação das

Tabela 6 - Formação Requisitada

Ano Em Aberto Contabilidade Economia Administração Engenharia Direito1966 5 3 2 1 - -1967 7 5 3 - - -1968 13 6 6 1 - -1969 9 1 1 1 - -1980 23 10 9 7 2 -1989 21 12 9 9 - -1991 4 5 2 2 - -1992 6 4 2 2 - 11999 2 6 3 3 1 1

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empresas de médio porte - pode ser decorrência dasatuais condições de mercado. Muitas das novas em-presas de alta tecnologia são de médio porte. Estasorganizações representam um grande desafio paraa controladoria por possuírem centros de custos dis-cricionários de porte considerável, com maturaçãode longo prazo.

Duas estrelas em ascensão do setor são as em-presas de biotecnologia e genética. Os resultadospreliminares do Projeto Genoma arrefeceram o âni-mo dos investidores. Descobriu-se que o número degenes é muito menor do que se esperava e que amaior parte das reações orgânicas se concentramnas proteínas. “Com isso, a expectativa de lucrosimediatos, ou mesmo de patentes de um único gene,(...) saiu batendo asas” (Caparelli, 2001, p. 36). Sãoproblemas que se colocam frente aos controllers notocante a gestão de custos, controle do ativo diferidoe relacionamento com investidores. No entanto, osetor já traz alguns resultados, como o medicamentoImiglucerase, sintetizado por meio da engenhariagenética para tratamento da doença de Gaucher(Ruchaud, 2001, p. 7).

Pela primeira vez se constatou um maior númerode contratantes nacionais contra suas equivalentesestrangeiras - apesar do baixo número de empresasque identificou sua nacionalidade. Nos anos de 1991,1992 e 1999, o maior número era de empresas bra-sileiras, seguidas pelas organizações com nacionali-dade americana e alemã, com 3, 2 e 1 anúncios, res-pectivamente.

As funções mais solicitadas foram “Relatóriospara o Governo” e “Planejamento para o Controle”com, respectivamente 12 e 11 anúncios. Seguidasde perto pelas funções “Administração Tributária” e“Relatórios e Interpretação” com 10 e 9 anúncios,respectivamente.

A formação básica mais requisitada continua aser de contador, seguida de economistas e adminis-tradores. Há ainda um anúncio pedindo profissionaiscom formação em engenharia e outro, pela primeiravez nesta pesquisa, solicitando alguém com forma-ção em direito.

Ainda no tocante à formação, percebeu-se nes-tes anos mais recentes que a requisição de algumashabilidades apareceu com grande constância nosanúncios, demonstrando ser uma exigência do mer-cado. Notoriamente destacam-se o domínio da lín-

gua inglesa e de softwares computacionais. Tais ha-bilidades, na verdade, não são mais diferenciais, masatributos básicos que o candidato deve ter para serconsiderado em um processo de seleção.

A busca por profissionais com formação de altonível passou a ser a tônica do mercado, não sendoincomum a exigência de domínio de uma segundalíngua estrangeira ou de uma pós-graduação. O mer-cado está ávido por profissionais com uma base só-lida, segundo Guimarães (2000, p. 2), hoje “a indús-tria valoriza quem tem títulos”.

9. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por ser esta uma pesquisa exploratória e devido

à metodologia adotada - análise de anúncios de clas-sificados - seria pretensão falar em conclusões. En-tretanto, alguns fortes indícios surgiram ao longodeste trabalho.

O uso do profissional de controladoria pelas or-ganizações parece ter tido sua gênese na segundametade da década de 60, quando a procura porcontrollers e profissionais correlatos - determinadapelo número de anúncios publicados - apresentou umaumento considerável. Tal movimento coincide como crescimento no volume de investimentos diretosfeitos no país por organizações estrangeiras. Tal in-gresso teria forçado, provavelmente, umreposicionamento das empresas aqui estabelecidaspara se adequarem à nova realidade. Estes novosentrantes com novas práticas passaram a ser umbenchmark, fazendo com que as empresas aqui ins-taladas copiassem muitas das suas práticas admi-nistrativas, inclusive a adoção da área decontroladoria em suas estruturas organizacionais.

Deve-se ressaltar, no entanto, que a localizaçãoem 1962 de um anúncio de assistant controller indi-ca a existência anterior do cargo de controller, o queleva a duas suposições. Primeiramente que nosprimórdios da controladoria no país, as empresas,notadamente as multinacionais, se valiam deexpatriados com experiência em seu país de origem,onde a controladoria estava em um estágio mais avan-çado, para desempenho de tal função. Em segundolugar, que a contratação de profissionais da área decontrole teria uma característica cíclica, estando emalta quando as condições econômicas e -notadamente neste período - políticas fossem favo-

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ráveis. Considerando-se esta segunda hipótese, osurgimento da função de controladoria não teria ocor-rido na década de 60, mas em algum período anteri-or. Talvez a segunda metade da década de 50, quan-do também houve um grande ingresso de investimen-tos diretos vindo do exterior - conforme se pode ob-servar na Tabela 1.

Ao longo dos anos - desde a segunda metade dadécada de 60 - percebeu-se um alto grau de aderên-cia entre a descrição de funções do controller feita porHorngren (1985) à realidade brasileira. Possivelmen-te, a única exceção seja a função “Avaliação Econô-mica” que surgiu poucas vezes nos anúncios consul-tados. No entanto, em diversas empresas, como naAsea Brown Bovery, o controller é um cargo estratégi-co com grandes responsabilidades no planejamentoda empresa (D’Ambrosio, 1999). Partindo desta con-sideração, não há como o controller deixar de lado afunção de “avaliação econômica”. Além disso, da for-mação básica solicitada nos anúncios, Economia sem-pre esteve entre as mais requisitadas, sendo a segun-da na maioria dos anos e a primeira, empatada comContabilidade, nos anos de 1968 e 1969.

Logo, há fortes evidências sugerindo que “Avalia-ção Econômica” é uma função necessária para o de-sempenho do papel de controller. O fato de não estarsendo mencionada nos anúncios é atribuível, possi-

velmente, ao custo dos anúncios que faz com que oconteúdo destes seja reduzido. Ou ainda, pode serreflexo de uma possível assunção por parte dasempresas de que o exercício de um cargo tão eleva-do na cadeia hierárquica organizacional, necessaria-mente inclui tal função e, conseqüentemente, estariaimplícita em seus atributos.

A pesquisa mostrou claros indícios de que asempresas contratantes são de grande porte, com umgrande número de organizações americanas e brasi-leiras e com interesse em profissionais com forma-ção em ciências contábeis, economia e, em menorgrau, administração.

Examinando as requisições de profissionais decontroladoria dos últimos anos, ficou claro que omercado deseja um profissional experiente, com pro-fundos conhecimentos de informática, não raro jáexperimentado no uso do SAP ou assemelhado, comdomínio de uma ou mais línguas estrangeiras, habi-litado a trabalhar sob pressão e em equipe, comuni-cativo e com capacidade de liderar.

O que se depreende desta análise é que o mer-cado atual exige um profissional de controladoria comsólida formação, compatível com a crescente visãoestratégica do cargo, se aproximando cada vez maisda postura do Controller Forte proposta por Sathe(1983).

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