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Eliana Aparecida Gonçalez Albonette Frois O PROCESSO DE FORMAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL: DESAFIO PERMANENTE DOUTORADO EM SERVIÇO SOCIAL PUC/SP SÃO PAULO 2009

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Page 1: O PROCESSO DE FORMAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL: DESAFIO ... Aparecida... · deste processo. Para tanto buscou-se como universo de pesquisa o curso de Serviço Social da Universidade

Eliana Aparecida Gonçalez Albonette Frois

O PROCESSO DE FORMAÇÃO DO ASSISTENTE

SOCIAL: DESAFIO PERMANENTE

DOUTORADO EM SERVIÇO SOCIAL

PUC/SP

SÃO PAULO

2009

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Eliana Aparecida Gonçalez Albonette Frois

O PROCESSO DE FORMAÇÃO DO ASSISTENTE

SOCIAL: DESAFIO PERMANENTE

Tese apresentada à Banca Examinadora da

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,

como exigência parcial para obtenção do Título

de DOUTORA em Serviço Social sob orientação

da Professora Dra. Maria Lúcia Martinelli.

PUC/SP

SÃO PAULO

2009

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São Paulo, _______/_______/_______

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________________

______________________________________________________

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______________________________________________________

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Eu sou a prova viva de que a aprendizagem ao longo da

vida é um desafio possível . Para mim não existe prova

maior do que defende Guy Claxton em sua obra O

DESAFIO DE APRENDER AO LONGO DA VIDA ,

pois o aprendizado me faz feliz. Feliz pelo novo, feliz por

saber que nada sei e que isso nos impolsiona para a busca

de saber e aprender mais a cada dia. Resta agora, esperar

para ver qual o próximo passo em rumo à sabedoria.

ELIANA FROIS

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar agradeço a Deus por mais esta jornada, por mais esta conquista. As

oportunidades me foram apresentadas e a elas me agarrei, e mesmo com dificuldades e

barreiras estou concretizando mais uma etapa da minha vida.

Para que minha trajetória fosse percorrida, pude contar com amigos especiais, compartilhar

experiências únicas e acreditar, ainda mais que, somos capazes.

Portanto, em especial, agradeço o incentivo, apoio, paciência e carinho a mim

dedicados pela Profa. Dra. Maria Lúcia Martinelli, minha orientadora, parceira e companheira

nesta jornada. Com sua leveza me fez sentir segurança nesta caminhada. Com sua luz especial

me fez enxergar a direção a ser seguida e acreditar na possibilidade de alcançar as metas

propostas no início de tudo.

Então, à senhora, professora Martinelli, rendo todo meu carinho e amizade.

Agradeço ainda a todos os sujeitos da pesquisa, alunos e professores da UEL pelo

carinho e pela disposição em contribuir para a mesma se efetivasse.

Agradeço também à CAPES e CNPQ pela liberação da Bolsa de Estudo, imprescindível para

concretização deste doutorado.

Às professoras Maria Lúcia Carvalho da Silva, Maria Carmelita Yasbek, Maria Ester

Braga Faria, Myriam Veras Batista, Liduina Oliveira e Profa. Elza Koumrouyan, por

aceitarem o convite para comporem minha banca de defesa.

À Universidade de Marília, onde exerço a docência, e à coordenadora do curso de

Serviço Social, Márcia Oliveira Alves, obrigada pela compreensão.

Aos meus alunos da UNIMAR.

À todos, sem palavras.................................

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Ao meu filhoAo meu filhoAo meu filhoAo meu filho PEDRO AUGUSTO PEDRO AUGUSTO PEDRO AUGUSTO PEDRO AUGUSTO, pela , pela , pela , pela bênção que é em minha vida, bênção que é em minha vida, bênção que é em minha vida, bênção que é em minha vida, e só pelo fato de e só pelo fato de e só pelo fato de e só pelo fato de ser quem é, possibilitouser quem é, possibilitouser quem é, possibilitouser quem é, possibilitou----me me me me seguir com meus seguir com meus seguir com meus seguir com meus sonhos. sonhos. sonhos. sonhos. Ao meu marido Ao meu marido Ao meu marido Ao meu marido ANTONIO ANTONIO ANTONIO ANTONIO pela compreensão pela compreensão pela compreensão pela compreensão e incentivo. e incentivo. e incentivo. e incentivo. À minha amada mãeÀ minha amada mãeÀ minha amada mãeÀ minha amada mãe ALZIRA ALZIRA ALZIRA ALZIRA que orou que orou que orou que orou incansávelmeincansávelmeincansávelmeincansávelmente. nte. nte. nte. AAAA todos os meus familiares pela compreensão todos os meus familiares pela compreensão todos os meus familiares pela compreensão todos os meus familiares pela compreensão nos momentos de ausência.nos momentos de ausência.nos momentos de ausência.nos momentos de ausência.

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LISTA DE APÊNDICES

Apêndice 1 – Correspondência enviada – via internet – para o coordenador do curso de

Serviço Social da UEL solicitando autorização para a realização da pesquisa.

Apêndice 2 – Correspondência enviada – via internet – convidando alguns professores

para serem sujeitos da pesquisa.

Apêndice 3 – Termo de consentimento livre e esclarecido.

Apêndice 4 – Roteiro para discussão no grupo focal.

Apêndice 5 – Questionário para os professores.

Apêndice 6 – Questionário para os alunos.

Apêndice 7 – Roteiro para entrevista com os alunos

Apêndice 8 – Roteiro para entrevista com professores

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LISTA DE SIGLAS

ABEPSS Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social

ABESS Associação Brasileira de Ensino em Serviço Social

CBAS Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais

CEDEPSS Centro de Documentação e Pesquisa em Política Social e Serviço Social

CES Câmara de Educação Superior

CFE Conselho Federal de Educação

CFESS Conselho Federal de Serviço Social

CNE Conselho Nacional de Educação

CRESS Conselho Regional de Serviço Social

ECA Estatuto da Criança e do Adolescente

EDUEL Editora da Universidade Estadual de Londrina

ENADE Exame Nacional de Desenvolvimento Estudantil

ENESSO Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDH Índece de Desenvolvimento Humano

IES Instituição de Ensino Superior

LDB Lei de Diretrizes e Bases

LOAS Leio Orgânica da Assistência Social

LOS Lei Orgânica da Saúde

MEC Ministério da Educação

OTCC Orientação de Trabalho de Conclusão de Curso

PNAS Política Nacional de Assistência Social

PNCFC Plano Nacional de Convivência Familiar e Comunitária

PPP Projeto Político Pedagógico

PUC-SP Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

S.S Serviço Social

SINASE Sistema Nacional de Atendimento Sócio-Educativo

SUAS Sistema Único de Assistência Social

SUS Sistema Único de Saúde

UEL-PR Universidade Estadual de Londrina - Paraná

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RESUMO A presente tese tem como tema O processo de formação profissional do assistente social: desafio permanente, cujo problema foi o de investigar a atuação docente nesse processo. Para sua realização foi percorrida um trajetória investigativa sobre Serviço Social e a Educação. Nesta tese procuro explorar os limites e possibilidades para que se formem assistentes sociais críticos e éticos, destacando o papel docente no processo de formação, tomando por base o Projeto ético político de profissão e o seu Código de Ética. Um dos principais pressupostos no qual a pesquisa se apoia é o reconhecimento de que o assistente social enquanto docente do curso de Serviço Social necessita de conhecimentos de natureza didática e pedagógica para exercer essa prática, pois só o exercício profissional não o qualifica para isso. Para realização da pesquisa buscou-se conhecer o processo de ensino aprendizagem dos alunos de graduação de Serviço Social na sua concretude, compreendendo as determinações e as particularidades deste processo. Para tanto buscou-se como universo de pesquisa o curso de Serviço Social da Universidade Estadual de Londrina-PR. O objetivo de pesquisar a prática profissional docente do professor do curso de graduação em Serviço Social da UEL/PR, foi alcançado conhecendo-se ainda as requisições que são postas para estes profissionais, compreendendo os determinantes e as peculiaridades deste tipo de atuação, detectando como tem ocorrido o processo de ensino-aprendizagem dos alunos do curso de Serviço Social. Finalizando a tese, são tecidas considerações recuperando os limites e principalmente as possibilidades contidas na realidade concreta vivenciada no âmbito escolar, onde se dá a formação do assistente social, destacando algumas propostas no sentido de colaborar com a categoria, direcionando ações capazes de potencializar a formação do assistente social como um desafio permanente. Palavras-chave: Formação, Assistente Social, Processo de Ensino-aprendizagem, Projeto Ético Político do Serviço Social.

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ABSTRACT

The current thesis has the social worker majoring process: a permanent challenge as a theme whose aim was to scrutinize the academician acting in this procedure. In order to make it happen, a investigative path has been ridden on Education and social service altogether. In this theses I try to explore the limitations and possibilities as to critical and ethical social workers are majored, highlighting academician role in the information process, taking into account the ethical-political project and its ethical code as a craft as well. One of the major promises in which the research has its heart on, is a acknowledgement that the social worker as a social services majoring academician needs some knowledge from teaching to exercise this practice, for only professional exercise doesn’t make them eligible for such. To perform such research it was necessary to study a graphic learning process for the Social Services graduates in its completion comprehending the ground rules and peculiarities of this process. For such, it has been searched as a Universe of research the Universidade Estadual de Londrina, PR, the social work majoring course. The aim of researching the academician professional exercise in graduation level in social services from UEL/ PR, had been reaching and yet, knowing the requirements which are made for those professionals, concerning the determiners and peculiarities of this kind work detect as the teaching/learning process has been happening to the Social services majoring undergraduates. In closing the thesis, considerations are composed retrieving the limitations and mostly the possibilities held in the concrete reality on the daily basis, in school vicinity, where soon-to-be social workers are majored, highlighting some purposes in a sense of collaborating with such category. Directing enabling actions to enhance the social worker majoring as a permanent challenge.

Key words: majoring, social worker, teaching and learning process and social ethical / political project in social services.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 13

CAPÍTULO 1- PARÂMETROS EDUCACIONAIS PARA O SERVIÇO SOCIAL..

1.1 A Lei de Diretrizes e Bases da Educação ..............................................................

1.1.1 O Sistema de Ensino Superior.......................................................................

1.2 As Diretrizes para o Currículo de Serviço Social ..................................................

1.3 A Profissão de Serviço Social e os Entraves Atuais .............................................

1.4 Do Projeto Pedagógico ao Projeto Educacional do Assistente Social ..................

1.4.1 O Projeto Pedagógico ...................................................................................

1.4.2 A Educação e a Formação do Assistente Social e a Consolidação do Projeto

Ético-Político do Serviço Social ...................................................................

1.4.3 O Processo Educacional ...............................................................................

18

18

21

22

29

38

38

56

73

CAPÍTULO 2 – COMPETÊNCIA PEDAGÓGICA DO PROFESSOR ....................

2.1 Aprendizagem: mais que um conceito, um objetivo .............................................

2.2 As Competências e Habilidades do Professor para se Constituir como um Profis-

sional da Aprendizagem ........................................................................................

2.3 A Didática .............................................................................................................

85

90

109

117

CAPÍTULO 3 – A CONSTRUÇÃO DA PESQUISA .............................................

3.1 O Processo de Construção da Pesquisa ................................................................

3.2 O Contexto e o Universo da Pesquisa ..................................................................

3.2.1 O Estado do Paraná ....................................................................................

3.2.2 A Cidade de Londrina-PR ..........................................................................

3.2.3 A Universidade de Londrina-PR – (UEL) ..................................................

3.2.4 O Curso de Serviço Social da UEL ............................................................

3.3 Os Sujeitos da Pesquisa ........................................................................................

3.3.1 Os Docentes ................................................................................................

3.3.2 Os Alunos ...................................................................................................

121

122

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TECENDO CONSIDERAÇÕES: limites e possibilidades no processo de formação do assistente social .........................................................................................................

166

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 177

APÊNDICES ............................................................................................................. 190

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INTRODUÇÃO

Nosso tempo, o dos educadores, é este em que já se encontra, em

gestação, o amanhã. Não um qualquer, mas um amanhã

intencional, planejado, provocado agora. Um amanhã sobre o

qual não possuimos certezas, mas que sabemos possibilidade possibilidade possibilidade possibilidade.

(Cortella)

A presente tese tem como tema O processo de formação profissional do assistente

social: desafio permanente, cujo problema foi o de investigar a atuação docente nesse

processo.

Para sua realização foi percorrida um trajetoria investigativa na área do Serviço Social

e na área da Educação.

Em 2002, depois de algumas tentativas, ingressei no mestrado na PUC-SP, que era

meu maior sonho. Depois de muitas lutas, senti-me uma iniciante no Serviço Social, pois o

passo dado, depois de 14 anos de formação não poderia me trazer outra sensação.

Durante o mestrado cursado de 2002 a 2004, participei da disciplina “Competência

Pedagógica e Docência Universitária”, oferecida pelo Programa de Pós-graduação em

Educação e Currículo, ministrada pelo professor Doutor Marcos Tarciso Masetto.

Na época busquei essa disciplina devido ao meu grande interesse pela carreira

docente, que ainda não exercia, mas entendia que precisava me preparar para ser um

assistente social docente.

A disciplina superou minhas expectativas, pois entendi que para ser um professor

universitário em um determinado curso não bastava apenas exercer uma determinada

profissão em uma área específica. Para ser um bom professor universitário, independente da

área de atuação, são necessários conhecimentos específicos na área de educação, pois assim

seremos profissionais e educadores, com qualidades específicas em cada modalidade de

atuação, pois atuar como assistente social me exige conhecimentos da área de serviço social e

da área específica de atuação, por exemplo saúde, assistência social, sócio-jurídico e já como

assistente social docente exige, além disso, um conhecimento na área pedagógica, didática,

metodológica específica da área de ensino.

Finalizando o mestrado em outubro de 2004, pretendia então o ingresso no doutorado

e iniciar a carreira docente.

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14 Obtive êxito, e no mês de janeiro de 2005 estava eu, fazendo minha matrícula para

iniciar o doutorado também tão almejado e sonhado, que parecia ser inacreditável, que alguém

que saiu do interior, onde tudo parece impossível, que não tem teatro, não tem cinema,

conseguir chegar até aqui.

Também, em decorrência do mestrado, neste mesmo mês, janeiro de 2005, fui

convidada a ingressar na carreira docente na Universidade de Marília, onde conclui minha

graduação e especialização. Mais um sonho estava se realizando.

No dia 01 de Fevereiro de 2005 iniciei minha carreira de docente universitária, me

responsabilizando pela Disciplina de Fundamentos Históricos, Teóricos e Metodológicos do

Serviço Social V, VI,VII E VIII; e pela OTCC (Orientação de Trabalho de Conclusão de

Curso).

No primeiro semestre minha carga horária foi de 8 horas, no segundo semestre de 12

horas, depois de 16 horas, no quarto semestre 18 horas, no quinto semestre 20 horas e assim

por diante. Com certeza, o ambiente de sala de aula, conciliado com a minha prática de

serviço social no Judiciário e o doutorado sempre tornaram as instâncias entre si ricas e

prazerosas.

Pelo fato de ser uma doutoranda e lecionar em uma universidade, passei a ser

convidada a ministrar cursos e palestras, sempre envolvendo temáticas ligadas à minha prática

profissional e docente, bem como à minha área de pesquisa do mestrado.

Só consegue definir ou expressar o real significado de estar, de participar e de ser

aluna do Programa de Estudos Pós-graduados em Serviço Social da PUC-SP, quem realmente

tem a possibilidade de fazê-lo.

Ser aluna deste programa proporciona uma clareza enorme do significado do nosso

Código de Ética, pois ali presenciamos lutas contra o preconceito, recebemos tratamento

igualitário, e o melhor de tudo, a maioria dos professores é portador de um valor humano

imensurável. Conseguem fazer com que passemos a acreditar mais em nós mesmos, nos

fazem sentirem seguros e capazes de enfrentar os desafios que a prática profissional e docente

nos impõe.

Além de tudo isso, estar neste programa e nesta universidade é maravilhoso! É banho

de saber e de conhecimento, e o melhor, muita atualização! A oportunidade de estar aqui é

única, por isso me agarrei a ela. Entendi ainda durante esse processo, que, na nossa profissão

tem lugar para todos, principalmente quando somos detentores de um conhecimento, e que

saber é poder, e só esse saber nos proporciona a autonomia.

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15 Então, estando no doutorado e tendo como orientadora a Profa. Dra. Maria Lúcia

Martinelli, que percebeu minha paixão pela área acadêmica e pela docência, direcionamos

minhas buscas para essa área.

Assim sendo, depois de muitas orientações, leituras, pesquisas bibliográficas, a

presente tese fechou-se no tema O processo de formação profissional do assistente social:

desafio permanente.

Muito se tem discutido, recentemente, acerca da precarização na formação do

assistente social por conta do grande número de cursos que estão abrindo e, principalmente,

pelos cursos à distância, que estão se disseminando assustadoramente.

Nesta tese procuro explorar os limites e possibilidades para que se formem assistentes

sociais críticos e éticos, destacando o papel docente no processo de formação, tomando por

base o Projeto ético político de profissão e o seu código de ética.

Fundamentado na teoria crítica o Projeto Ético-Político e o Código de Ética foram

pensados e elaborados como um novo panorama de atuação, rompendo-se com o

conservadorismo. Vinculam a profissão para uma nova ordem societária, sem exploração,

dominação, à favor da equidade de da justiça social, consolidando a cidadania e garantindo os

direitos civis, políticos e sociais das classes trabalhadoras, bem como da participação política

e socialização da riqueza socialmente produzida.

E como bem lembra NETTO:

Do ponto de vista estritamente profissional, o projeto implica o compromisso com a competência, que só pode ter como base o aperfeiçoamento intelectual do assistente social. Daí a ênfase numa formação acadêmica qualificada, fundada em concepções teórico-metodológicas críticas e sólidas, capazes de viabilizar uma análise concreta da realidade social – formação que deve abrir a via à preocupação com a (auto)formação social permanente e estimular uma constante preocupação investigativa.(2007, p.155)

Desta forma, como destaca o autor, a formação acadêmica qualificada é necessária

para que esse projeto se efetive. E como a formação tem seu início nos bancos universitários,

o objetivo desta pesquisa é examinar o processo de formação do assistente social, destacando

a importância e responsabilidade do papel docente neste processo.

Um dos principais pressupostos no qual a pesquisa se apoia é o reconhecimento de que

o assistente social enquanto docente do curso de Serviço Social necessita de conhecimentos

de natureza didática e pedagógica para exercer essa prática, pois só o exercício profissional

não o qualifica para isso.

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As Diretrizes Curriculares da ABEPSS(1996) situam como perfil exigido do

profissional que vai se formar competências e habilidades muito importantes e de extrema

responsabilidade, cabendo às IES resposabilizarem-se pela formação de seu aluno.

Assim, tanto quanto às IES cabe também a cada docente a responsabilidade pela

formação daquele aluno, exigindo dele conhecimentos apropriados da disciplina que vai

lecionar e do exercício docente, o que envolve práticas eduvativas e pedagógicas. Com esta

tese evidenciou-se que há possibilidades do assistente social preparar-se para ser docente, que

consiga trabalhar na direção de uma formação crítica e ética, sendo possível ser partícipe do

processo de ensino aprendizagem, e avaliando o aprendizado dos alunos como estratégia

também de aprendizado, e entendendo que os alunos do curso de Serviço Social apresentam

algumas particularidades no que se refere a sua motivação para o curso.

Para realização da pesquisa buscou-se conhecer o processo de ensino aprendizagem

dos alunos de graduação de Serviço Social na sua concretude, compreendendo as

determinações e as particularidades deste processo.

Para tanto buscou-se como universo de pesquisa o curso de Serviço Social da

Universidade Estadual de Londrina-PR.

O objetivo de pesquisar a prática profissional docente do professor do curso de

graduação em Serviço Social da UEL/PR, foi alcançado conhecendo-se ainda as requisições

que são postas para estes profissionais, compreendendo os determinantes e as peculiaridades

deste tipo de atuação, detectando como tem ocorrido o processo de ensino-aprendizagem dos

alunos do curso de Serviço Social.

Quanto ao marco teórico da tese, seus principais pilares foram situados em dois

aportes teóricos essenciais.

O primeiro trabalha os Parâmetros Educacionais para o Serviço Social, buscando-os na

Lei de Diretrizes e Bases da Educação, nas Diretrizes Curriculares da ABEPSS(1996),

destacando alguns entraves atuais enfrentados pela categoria e a necessidade do Projeto

Político Pedagógico do Curso de Graduação em Serviço Social estar pautado no Projeto Ético

Político, sendo implantado de acordo com um processo educacional adequado e coerente.

O segundo aporte teórico trabalha com a conceituação de aprendizagem destacando

seus objetivos, conhecendo as competências e habilidades para que o professor seja um

profissional da aprendizagem, buscando a didática como forma de sua realização.

Para tanto buscamos fundamentos nas teorias de ensino-aprendiagem que deram as

bases para realização da pesquisa possibilitado-me organizar a apresentação da tese em 3

capítulos.

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17 CAPÍTULO 1 – Os Parâmetros Educacionais para o Serviço Social, no qual trato da Lei de

Dretrizes e Bases da Educação, O Sistema Superior de Ensino, As Diretrizes Curriculares da

ABEPSS, os entraves atuais enfrentados pela profissão, o Projeto Político Pedagógico de

formação do assistente social vinculado ao Projeto ético-político e o processo educacional

necessário para que isso seja efetivado na sua concretude

CAPÍTULO 2 – A competência pedagógica do professor, entendendo a apendizagem como

principal objetivo a ser alcançado pelo docente, analisando suas competências e habilidades

para se constituir nesse profissional da aprendizagem, que utiliza-se de uma didática própria

para formar alunos, futuros profissionais.

CAPÍTULO 3 – A Metodologia da Pesquisa, onde apresento todo processo de construção da

pesquisa e a caracterização do universo e dos sujeitos pesquisados.

Embora esta tese tenha um capítulo específico para expor a pesquisa, vou tecer essa

teia narrativa juntamente com os sujeitos da pesqisa, utilizando suas valiosas contribuições,

no contexto dos capítulos, sendo necessário utilizar trechos longos de suas falas, mas que se

conectam perfeitamente com a teoria abordada, possibilitando uma maior compreensão.

O último ítem, Tecendo considerações: limites e possibilidades na formação do

assistente social, conforme indica a própria denominação, recupera os limites e

principalmente as possibilidades contidas na realidade concreta vivenciada no âmbito escolar,

onde se dá a formação do assistente social, destacando algumas propostas no sentido de

colaborar com a categoria, direcionando ações capazes de potencializar a formação do

assistente social como um desafio permanente.

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18 CAPÍTULO 1 - PARÂMETROS EDUCACIONAIS PARA O SERVIÇO SOCIAL

1.1 A Lei de Diretrizes e Bases da Educação

A gente até brincou, que a educação é como um banco, de depositar.(Michele)

De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB – Lei 9.394/96, os

processos educacionais devem abranger a vida do indivíduo como um todo. Ou seja, deve

enfocar os processos formativos para se ter qualidade de vida em família, em sociedade, no

trabalho, na própria escola e em movimentos sociais e culturais, significando que essa

formação deve permear toda sua vida preparando-o para o exercício da cidadania.

O § 2º. do Artigo 1º. estabelece que: “A educação escolar deverá vincular-se ao mundo

do trabalho e à prática social”.

Isso significa que a educação escolar deve preparar o seu aluno para ser um

trabalhador e para viver em sociedade.

Legalmente estes são processos fundamentais e se deve lutar pela efetivação dos

mesmos, uma vez que a escola não tem conseguido cumprir efetivamente esse papel. O jovem

não tem conseguido trabalho devido à escassez, exigências e competitividade do mercado, e

ainda, segundo Cristóvão Buarque, hoje, em muitas situações, estão sobrando vagas em

empresas porque os jovens não estão devidamente qualificados para assumirem as mesmas.

Estou querendo falar para 750 mil pessoas, 750 mil jovens, que eu li, pelo jornal O Globo, que fizeram parte de 1,5 milhão de pessoas desempregadas que foram, Senador Wellington Salgado, às agências de trabalho e saíram de lá sem emprego, apesar de que as vagas existiam. Havia 1,5 milhão, 720 mil conseguiram o emprego e 750 mil vagas continuaram vagas, porque aqueles que procuraram o trabalho não tinham condições de exercê-lo. Este é um país onde existem vagas e desempregados, e os desempregados não casam com as vagas por falta de qualificação. Quero falar para esses que hoje procuram emprego, sabem que existem vagas e sabem que as vagas não serão dadas a eles. E nem serão dadas a ninguém, porque no Brasil, hoje - e essa matéria do jornal O Globo mostra -, não há pessoal qualificado para preencher a demanda que nós temos. O título da matéria é: Sem fôlego para crescer. Nós nos acostumamos a ver que o Brasil não cresce por falta de porto, de estrada, de energia, o chamado "apagão de infra-estrutura" que o Brasil vive. Mas esquecemos um apagão maior do que esse, e mais difícil de resolver, porque leva anos para formar uma pessoa: é o apagão de qualificação profissional. Essa matéria do jornal O Globo mostra empresas que estão se preparando para ir embora porque aqui não vão ter mão-de-obra preparada; mostra empresários que começam a desativar seus investimentos

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por falta daqueles que querem, que precisam trabalhar e que não estão preparados (Pronunciamento do Senador no Senado Federal em 6 de novembro de 2007).

Percebe-se com essa fala de Buarque que a demanda é grande e as vagas são poucas,

porém, mesmo as vagas não sendo condizentes ao número de desempregados, as mesmas não

são preenchidas pela falta de qualificação dos candidatos. Essa qualificação vai desde a

escolaridade média até uma especialização em determinada área.

Quando se faz uma leitura minuciosa da LDB fica clara a finalidade de preparar o

aluno para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Algo extremamente

importante, porque o trabalho é fonte de vida e liberdade para o homem, proporcionando-lhe

autonomia e possibilidades de organizar e pensar sua própria vida.

Assim sendo, o Artigo 3º. dessa mesma lei estabelece os princípios da educação, sendo

eles:

I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas; IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância; V - coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; VI - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; VII - valorização do profissional da educação escolar; VIII - gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino; IX - garantia de padrão de qualidade; X - valorização da experiência extra-escolar; XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais.

Observa-se que são princípios fundamentais, porém não se concretizam na prática

cotidiana do processo educacional, apesar de que se tem presenciado uma preocupação do

governo federal em relação à política de educação.

Seguindo os mesmos objetivos, finalidades e princípios, a mesma lei nos traz em seu

capítulo IV, artigo 43, as finalidades da Educação Superior, sendo elas:

I - estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo; II - formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua; III - incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando o desenvolvimento da ciência e da tecnologia e da criação e difusão da cultura, e, desse modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio em que vive; IV - promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e

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técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicações ou de outras formas de comunicação; V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e profissional e possibilitar a correspondente concretização, integrando os conhecimentos que vão sendo adquiridos numa estrutura intelectual sistematizadora do conhecimento de cada geração; VI - estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular os nacionais e regionais, prestar serviços especializados à comunidade e estabelecer com esta uma relação de reciprocidade; VII - promover a extensão, aberta à participação da população, visando à difusão das conquistas e benefícios resultantes da criação cultural e da pesquisa científica e tecnológica geradas na instituição.

Essas finalidades da Educação Superior, visando o aguçamento do pensamento

reflexivo, aperfeiçoamento cultural, qualificação para o desenvolvimento do país, incentivo à

prática científica das descobertas para direcionar ações que melhorem a qualidade e a

proteção à vida em todos os seus aspectos devem ser alcançadas para então, não só fazer valer

esta lei, mas que tenhamos uma sociedade mais justa e sadia. Porém, o que acontece quando

essa finalidade, além de não ser almejada, também não é, nem sequer buscada?

Como garantir uma formação de qualidade? Como garantir que o formando tenha o

preparo para exercer a cidadania, o trabalho e então, como profissional, formar cidadãos?

Para isso cada Instituição de Ensino deve repensar a educação, deve partir do

pressuposto da idealização e da realização de tais objetivos e alcance destas finalidades. Um

dos momentos importantíssimos para que isso aconteça é quando da elaboração do Projeto

Político-pedagógico, o qual norteará a educação a ser trabalhada naquela instituição de

ensino. Este projeto deve, ainda, indicar que profissional e que cidadão queremos formar.

Quanto a isso, a LDB, em seus artigos 12, 13 e 14 regulamenta o assunto:

Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de: I - elaborar e executar sua proposta pedagógica; Art. 13. Os docentes incumbir-se-ão de: I - participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; II - elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I - participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola.

De acordo com os artigos e os incisos citados, os estabelecimentos de ensino têm o

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21 dever de elaborar e executar sua proposta pedagógica, sendo responsabilidade dos docentes

sua participação na elaboração da referida proposta e seu plano de trabalho elaborado de

acordo com a mesma.

Assim sendo, cabe a todo estabelecimento de ensino elaborar seu projeto político-

pedagógico em relação ao ensino a que está se propondo, atendendo e respeitando as normas e

princípios legais.

1.1.1 O Sistema de Ensino Superior Brasileiro

De acordo com a legislação, o sistema de ensino é formado por:

a) Universidades

São instituições pluridisciplinares, públicas ou privadas, de formação de quadros

profissionais de nível superior, que desenvolvem atividades regulares de ensino, pesquisa e

extensão.

b) Universidades Especializadas

São instituições de educação superior, públicas ou privadas, especializadas em um

campo do saber como, por exemplo, Ciências da Saúde ou Ciências Sociais, nas quais são

desenvolvidas atividades de ensino e pesquisa e extensão, em áreas básicas e/ou aplicadas.

c) Centros Universitários

São instituições de educação superior, públicas ou privadas, pluricurriculares, que

devem oferecer ensino de excelência e oportunidades de qualificação ao corpo docente e

condições de trabalho à comunidade escolar.

d) Centros Universitários Especializados

São instituições de educação superior, públicas ou privadas, que atuam numa área de

conhecimento específico ou de formação profissional, devendo oferecer ensino de excelência

e oportunidades de qualificação ao corpo docente e condições de trabalho à comunidade

escolar.

e) Faculdades Integradas e Faculdades

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22 São instituições de educação superior, públicas ou privadas, com propostas

curriculares em mais de uma área do conhecimento, organizadas sob o mesmo comando e

regimento comum, com a finalidade de formar profissionais de nível superior, podendo

ministrar cursos no vários níveis (sequenciais, de graduação, de pós-graduação e de extensão)

e modalidades do ensino.

f) Institutos Superiores ou Escolas Superiores

São instituições de educação superior, públicas ou privadas, com finalidade de

ministrar cursos nos vários níveis (sequenciais, de graduação, de pós-graduação e de

extensão).

g) Centros de Educação Tecnológica

São instituições especializadas em educação profissional, públicas ou privadas, com a

finalidade de qualificar profissionais em cursos superiores de educação tecnológica para os

diversos setores da economia e realizar pesquisa e desenvolvimento tecnológico de novos

processos, produtos e serviços, em estreita articulação com os setores produtivos e a

sociedade, oferecendo, inclusive, mecanismos para a educação continuada.

1.2 As Diretrizes para o Currículo de Serviço Social

Como o foco da pesquisa é o ensino superior, é óbvio que cada qual terá que ter um

projeto pedagógico próprio.

No caso do Serviço Social, além de respeitar a LDB, que busca formar cidadãos e

trabalhadores, tem-se que observar as Diretrizes Curriculares as quais devem orientar a

formulação do referido projeto direcionando a formação dos assistentes sociais. Porém, cabe

aqui historicizar o processo de conquista da Proposta de Diretrizes Curriculares para o Serviço

Social.

Essas Diretrizes foram estudadas e propostas pela ABEPSS.

A Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social – ABEPSS – surge em 1946, quando existiam apenas três escolas de Serviço Social no país. A criação da Entidade, ainda nos primórdios da profissão, demonstra a preocupação e o compromisso dos primeiros assistentes sociais brasileiros com a formação profissional na área. Desde então, a Associação mantém seus objetivos de congregar as Unidades de Ensino em torno da promoção e

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construção de um significado social para a formação dos assistentes sociais, imprimindo-lhe rigor teórico-metodológico e relação histórica com a sociedade. O papel da ABEPSS tem sido o de assegurar direção intelectual e político-pedagógica ao processo de formação profissional. Ao longo de sua trajetória, a Entidade passou por modificações em sua estrutura sem, no entanto, afastar-se dos objetivos de seu ato fundador (Site: ABEPSS).

Após a XXVIII Convenção Nacional da ABESS (hoje ABEPSS: Associação de

Ensino e Pesquisa em Serviço Social), ocorrida em Londrina-PR, em outubro de 1993,

discutiram-se e deliberaram-se os encaminhamentos para a revisão curricular, revisão esta

prevista desde 1982 através do Parecer nº. 412 do CFE (Conselho Federal de Educação), de

04/08/1982 e Resolução nº. 6 de 23/09/1982, que até então não havia se efetivado no país.

Foi então que, a partir de 1994, a ABESS, juntamente com o CEDEPSS, com o apoio

do CFESS e da ENESSO, promoveu um processo de mobilização das unidades de ensino de

Serviço Social no país. Essa mobilização resultou no acontecimento de 200 oficinas locais

realizadas em 67 IES filiadas à ABESS e 25 oficinas realizadas em âmbito regional e duas em

nacional.

Inicialmente buscou-se avaliar os entraves que interferiam numa formação com

“perspectiva contemporânea e de qualidade”.

Este processo avaliativo pelas entidades representativas da categoria resultou na XXIX

Convenção Nacional da ABESS, ocorrida em dezembro de 1995, em Recife.

Nesta Convenção foi aprovada a Proposta Básica para o Projeto de Formação

Profissional, onde se previam os pressupostos, diretrizes, metas e núcleos de fundamentação

do novo modelo curricular.

Com essa proposta aprovada, foi dada continuidade ao trabalho das entidades, através

da realização de novas oficinas, e contando com um serviço de assessoria de um grupo de

consultores foi elaborada uma segunda proposta, intitulada Proposta básica para o projeto de

formação profissional: novos subsídios para o debate.

Após todo esse processo de realização de oficinas, discussões, propostas, a ABESS,

ENESSO, CFESS, mais o grupo de consultores de Serviço Social e consultores pedagógicos

elaboraram a última proposta, sendo então chamada de Proposta Nacional de Currículo

Mínimo para o Curso de Serviço Social, que foi apreciada na II Oficina Nacional de

Formação Profissional e aprovada em Assembleia Geral da ABESS, ambas realizadas no Rio

de Janeiro em 7 e 8 de novembro de 1996.

Esta conquista foi extremamente importante, pois em 20/12/96, com a promulgação da

LDB – Lei 9.394, tornou-se oportuno o processo de normatização e definição de diretrizes

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24 gerais para o curso de Serviço Social. Foi quando a ABESS, enquanto órgão nacional

representante das IES no âmbito do Serviço Social, encaminhou a nova proposta curricular

para a apreciação do CNE e do MEC.

Como mostra o organograma abaixo, a ABEPSS é organizada da seguinte forma:

(Fonte: Site da ABEPSS).

Esta nova proposta de normatização curricular foi (e é) permeada por alguns

pressupostos que devem, a partir de então, nortear a formação profissional de Serviço Social.

Esses pressupostos estão relacionados ao entendimento da profissão interventiva nas

expressões da questão social; e sendo interventiva deve conhecer os processos sócio-

históricos e teórico-metodológicos que constituem a profissão como um processo de trabalho,

que está inserido na divisão sócio-técnica do trabalho. Além disso, necessita conhecer o

agravamento da questão social por conta dos ideais neoliberais, e por sua vez a inflexão que

esse processo acarreta no campo profissional.

Esta inflexão é resultante de novas requisições postas pelo movimento do capital e do trabalho, pela reforma do Estado e pelo movimento de organização das classes trabalhadoras, com amplas repercussões no mercado profissional de trabalho (Caderno ABESS nº. 7, p. 60).

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Como a sociedade sofre transformações no decorrer do processo histórico, há

necessidade de se mudar o foco de formação do profissional, repensando a própria profissão

que se insere no mercado do trabalho, o profissional é assalariado e tem vínculo empregatício.

Com isso entende-se que o processo de trabalho do Serviço Social é determinado pelas

configurações estruturais e conjunturais da questão social e pelas formas históricas de seu

enfrentamento, permeadas pela ação dos trabalhadores, do capital e do Estado, através das

políticas e lutas sociais.

Um segundo ponto a ser considerado nesta nova proposta são alguns princípios e

diretrizes que devem servir de base para a elaboração dos currículos de cada IES.

Os princípios que fundamentam a formação são:

1) Flexibilidade de organização dos currículos plenos, expressa na possibilidade de definição de disciplinas e ou outros componentes curriculares – tais como oficinas, seminários temáticos, atividades complementares – como forma de favorecer a dinamicidade do currículo; 2) rigoroso trato teórico, histórico e metodológico da realidade social e do Serviço Social, que possibilite a compreensão dos problemas e desafios com os quais o profissional se defronta no universo da produção e reprodução da vida social; 3) adoção de uma teoria social crítica que possibilite a apreensão da totalidade social em suas dimensões de universalidade, particularidade e singularidade; 4) superação da fragmentação de conteúdos na organização curricular, evitando-se a dispersão e pulverização de disciplinas e outros componentes curriculares; 5) estabelecimento das dimensões investigativas e interventiva como princípios formativos e condição central da formação profissional e da relação teoria e realidade; 6) padrões de desempenho e qualidade idênticos para cursos diurnos e noturnos, com um máximo de quatro horas/aulas diárias de atividades nestes últimos; 7) caráter interdisciplinar nas várias dimensões do projeto de formação profissional; 8) indissociabilidade nas dimensões de ensino, pesquisa e extensão; 9) exercício do pluralismo como elemento próprio da natureza da vida acadêmica e profissional, impondo-se o necessário debate sobre as várias tendências teóricas, em luta pela direção social da formação profissional, que compõem a produção das ciências humanas e sociais; 10) ética, como princípio formativo, perpassando a formação curricular; 11) indissociabilidade entre estágio e supervisão acadêmica e profissional (Caderno ABESS nº. 7, p. 61-62).

Esses mesmos princípios acabam por definir as diretrizes curriculares da formação

profissional, a qual deve ser permeada pela capacitação teórico-metodológica, ético, política e

técnico-operativa. Essa capacitação deve levar o futuro profissional à: 1) apreensão crítica do

processo histórico como totalidade; 2) investigação sobre a formação histórica e os processos

sociais contemporâneos que conformam a sociedade brasileira, no sentido de apreender as

particularidades da constituição do desenvolvimento do capitalismo e do Serviço Social no

país; 3) apreensão do significado social da profissão desvelando as possibilidades de ação

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26 contidas na realidade; 4) apreensão das demandas – consolidadas e emergentes – postas ao

Serviço Social via mercado de trabalho, visando a formular respostas profissionais que

potenciem o enfrentamento da questão social, considerando as novas articulações entre

público e privado; 5) exercício profissional cumprindo as competências e atribuições previstas

na legislação profissional em vigor.

Essa nova lógica curricular expressa uma concepção de ensino-aprendizagem calcada

no conhecimento do funcionamento da vida em sociedade; reafirma o trabalho como eixo

condutor do ser social; e, além disso, deve direcionar um novo pensar/agir dos profissionais

diante das mudanças ocorridas no processo de acumulação e regulação social que exige então,

novas respostas e ações.

O trabalho na concepção marxiana, analisado de modo ampliado, compreende toda a produção humana. Em qualquer forma de sociedade o homem trabalha, pois é por meio do trabalho que ele domina a natureza criando instrumentos que facilitem o seu processo de desenvolvimento, desde os primórdios de sua evolução. Ao trabalhar, o homem transforma a matéria prima ou seu objeto de trabalho e, ao mesmo tempo, transforma-se no processo, ou seja, desenvolve-se enquanto sujeito social, construindo, a partir de condições objetivas e de sua ação sobre elas, a sua subjetividade. A partir do trabalho o homem desenvolve processos sociais porque o trabalho pressupõe relações sociais e se vale de tudo o que foi socialmente construído anteriormente pelo próprio homem. (...) O trabalho, portanto pressupõe consumo, pois o homem consome a sua energia ao trabalhar, consome a matéria prima e os próprios instrumentos de trabalho por ele criados ao realizar o processo de trabalho (...). O trabalho também pressupõe planejamento, pois o homem idealiza aquilo que vai realizar antecipadamente, seu fazer tem clareza de finalidade, é o que diferencia o trabalho humano de qualquer ação realizada pelos demais animais (MENDES e PRATES, 2007, p. 187-188).

Essa concepção também está relacionada ao trabalho do próprio assistente social, pois

suas ações sugerem que o processo de trabalho do assistente social deve ser apreendido a

partir de um debate teórico-metodológico que permita a reflexão crítica do ideário

profissional e, conseqüentemente da inserção dos profissionais, recuperando o sujeito que

trabalha enquanto indivíduo social.

O objetivo central das diretrizes é a permanente (e contínua) construção (e revisão)

dos conteúdos (teóricos, éticos, políticos e culturais) que permitam uma intervenção

profissional na sociedade de forma dinâmica, flexível, assegurando uma formação de elevado

padrão.

Assim sendo, primeiramente deve-se recorrer ao Parecer 492/01 do CNE/CES

(Conselho Nacional de Educação/ Câmara Superior de Educação), que trata das Diretrizes

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27 Curriculares Nacionais de alguns cursos de graduação, entre eles o curso de Serviço Social.

Portanto, este instrumento coloca como diretrizes do curso de Serviço Social os

seguintes requisitos: “1) Perfil dos formandos; 2) As competências e habilidades; 3)

Organização do curso; 4) Conteúdos Curriculares; Estágio Supervisionado e Trabalho de

Conclusão de Curso (TCC) e 6) Atividades complementares”.

Quanto ao perfil do formando, este será considerado apto ao exercício da profissão

quando estiver preparado para atuar nas expressões da Questão Social, enfrentando-as com

propostas de intervenção, levando os usuários do Serviço Social a exercerem a cidadania,

tanto na vida pessoal quanto profissional.

Exigem-se, ainda, competências e habilidades gerais as quais viabilizem a capacitação

teórico-metodológica e ético-política, preparando-o para o exercício das atividades técnico-

operativas, compreendendo o significado social e o desenvolvimento sócio-histórico da

profissão no Brasil e no cenário internacional, encontrando ações para cada realidade,

identificando demandas, formulando respostas de enfretamento da Questão Social, utilizando-

se de recursos da informática.

Quanto às competências e habilidades específicas, essas devem desenvolver a

capacidade de:

• elaborar, executar e avaliar planos, programas e projetos na área social; • contribuir para viabilizar a participação dos usuários nas decisões institucionais; • planejar, organizar e administrar benefícios e serviços sociais; • realizar pesquisas que subsidiem formulação de políticas e ações profissionais; • prestar assessoria e consultoria a órgãos da administração pública, empresas privadas e movimentos sociais em matéria relacionada às políticas sociais e à garantia dos direitos civis, políticos e sociais da coletividade; • orientar a população na identificação de recursos para atendimento e defesa de seus direitos; • realizar visitas, perícias técnicas, laudos, informações e pareceres sobre matéria de Serviço Social.

Percebe-se que o perfil exigido do profissional cobra-lhe competências e habilidades

muito importantes e de extrema responsabilidade, cabendo às IES preocuparem-se com a

formação de seu aluno.

De acordo com o parecer 492/01 que mantém os princípios indicados pela então

ABESS em 1996, o curso de Serviço Social deve ser organizado de forma que garanta a:

• Flexibilidade dos currículos plenos, integrando o ensino das disciplinas

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com outros componentes curriculares, tais como: oficinas, seminários temáticos, estágio, atividades complementares. • Rigoroso trato teórico, histórico e metodológico da realidade social e do Serviço Social, que possibilite a compreensão dos problemas e desafios com os quais o profissional se defronta. • Estabelecimento das dimensões investigativa e interpretativa como princípios formativos e condição central da formação profissional, e da relação teoria e realidade. • Presença da interdisciplinaridade no projeto de formação profissional. • Exercício do pluralismo teórico-metodológico como elemento próprio da vida acadêmica e profissional. • Respeito à ética profissional. • Indissociabilidade entre a supervisão acadêmica e profissional na atividade de estágio.

Essa organização colocada no parecer é condizente com os pressupostos para a

formação elaborados pela ABESS.

Quanto aos conteúdos curriculares a serem trabalhados na formação do assistente

social, o regulamento especifica que estes devem garantir um processo de ensino-

aprendizagem sem fragmentos, sustentado no tripé dos núcleos de fundamentação da

formação profissional, sendo estes:

• Núcleo de fundamentos teórico-metodológicos da vida social, que compreende o

conjunto de fundamentos teórico-metodológicos e ético-políticos para conhecer o ser social;

• Núcleo de fundamentos da formação sócio-histórica da sociedade brasileira, que

remete à compreensão das características históricas particulares que presidem a sua formação

e desenvolvimento urbano e rural, em suas diversidades regionais e locais;

• Núcleo de fundamentos do trabalho profissional, que compreende os elementos

constitutivos do Serviço Social como uma especialização do trabalho: sua trajetória histórica,

teórica, metodológica e técnica, os componentes éticos que envolvem o exercício profissional,

a pesquisa, o planejamento e a administração em Serviço Social e o estágio supervisionado.

É importante salientar que o primeiro núcleo, responsável pelo tratamento do ser social enquanto totalidade histórica, analisa os componentes fundamentais da vida social, que serão particularizados nos dois outros núcleos de fundamentação, o da formação sócio-histórica da sociedade brasileira e o do trabalho profissional. Portanto, a formação profissional constitui-se de uma totalidade de conhecimentos e estão expressos nestes três núcleos, contextualizados historicamente e manifestos em suas particularidades (Caderno ABESS, n. 7, p. 63).

Em relação ao estágio supervisionado e o TCC, estes devem ser realizados durante o

processo de formação. O Estágio é obrigatório e o objetivo é capacitar o formando para o

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29 exercício profissional, sendo necessário que a supervisão seja feita por um professor

supervisor e por um profissional do campo, com base em planos de estágio elaborados em

conjunto pelas escolas e organizações que oferecem o estágio.

Como atividades complementares entendem-se todas as atividades de monitoria,

visitas monitoradas, iniciação científica, projetos de extensão, participação em seminários,

publicações e outras atividades definidas no plano acadêmico do curso.

Então, o curso de Serviço Social deve atender à LDB e às Diretrizes Curriculares,

significando que, além de formar cidadãos críticos e éticos e prepará-los para viver a

cidadania no seu sentido mais pleno, deve prepará-los para que estejam aptos a fazer valer o

direito à cidadania dos usuários que serão atendidos pelos mesmos. Isso sugere um

compromisso muito grande na formação destes profissionais.

Assim, como todo curso superior tem que ter seu projeto pedagógico específico,

projeto este que direciona a formação do aluno e o desempenho dos mais diversos papéis no

processo de formação, é óbvio que este plano deve estar coerente com as Diretrizes

Curriculares, uma vez que elas foram discutidas e aprovadas pela categoria e transformada em

Lei.

Dessa forma, o curso de Serviço Social, no processo de formação do aluno:

Propõe-se uma lógica curricular inovadora, que supere a fragmentação do processo de ensino e aprendizagem e permita uma intensa convivência acadêmica entre professores, alunos e sociedade. Este é, ao mesmo tempo, um desafio político e uma exigência ética: construir um espaço por excelência do pensar crítico, da dúvida, da investigação e da busca de soluções. [...] componentes curriculares, uma vez que remetem a um conjunto indissociável para a apreensão da gênese, das manifestações e do enfrentamento da questão social, eixo fundante da profissão e articulador dos conteúdos da formação profissional. Portanto os núcleos não são autônomos e nem subseqüentes, expressando, ao contrário, níveis diferenciados de apreensão da realidade social e profissional, subsidiando a intervenção do Serviço Social (Caderno ABESS, p. 63-64).

Então, essa lógica curricular deve ser proposta e pensada no projeto pedagógico do

curso, necessitando sempre de muita atenção e avaliação, pois a realidade é dinâmica e o

Serviço Social sofre mudanças constantes, vejamos a seguir.

1.3 A Profissão de Serviço Social e os Entraves Atuais

O Serviço Social é uma profissão que se questiona, se

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revê, vê se está no caminho, está o tempo todo se buscando (...) (Olegna).

O Serviço Social, como muitas profissões, tem passado por muitas transformações e

enfrentado lutas para seu fortalecimento.

Desde que foi instituído o Projeto Ético Político de Profissão (1993), a Lei de

Regulamentação da Profissão (1993) e as Diretrizes Curriculares (1996), pretendia-se a

formação de profissionais sérios e comprometidos com uma sociedade mais justa e igualitária,

tentando ainda unificar a categoria, entendendo, porém, que a total hegemonia era e é difícil.

Mesmo com todas essas ações implantadas e enfrentadas pelos órgãos representantes

da categoria, a precarização da profissão assola a categoria. Não bastasse o fato de que muitas

IES não têm um ensino de qualidade, o que prejudica a qualidade profissional, começa a

aumentar assustadoramente o número de cursos de Serviço Social à distância devido à

proposta de Reforma Universitária apresentada pelo governo Lula. O Decreto nº. 5.622, de 19

de dezembro de 2005, especifica a oferta de ensino à distância em todos os níveis. Tal fato

assusta a categoria e os seus órgãos representativos, pois isso significa uma maior

precarização e banalização da formação profissional.

Em artigo publicado na revista Serviço Social e Sociedade nº. 94, Boschetti traz dados

alarmantes quanto a esta realidade:

O ensino à distância está em momento de franca expansão no âmbito das instituições privadas e públicas. Levantamento efetuado pelos Cress em 2007 mostra que cinco IES (Univali, Unitins/Educon, Unopar, Uniderp, UNC) ofertam cursos em pelo menos quinze Estados. Dados divulgados pela professora Marilda Iamamoto mostra que essas instituições são responsáveis pela oferta de 27.156 vagas em 202 instituições que implementam os cursos. Se essa proporção permanecer, dobraremos o quantitativo de profissionais em dez anos, que hoje está próximo de 74 mil assistentes sociais (p. 8).

Os dados trazidos pela autora nos levam a perceber que a intenção do governo é

ampliar a oportunização ao ensino superior sem se preocupar com a qualificação profissional,

uma vez que só a titulação não a garante.

Boschetti (2008) entende que o que vem acontecendo é uma mudança no sentido de

universidade, pois a mesma deixa de ser vista como espaço de produção de pesquisa e

conhecimento e passa a ser uma “usina de produção e titulação”.

Até as universidades públicas federais têm oferecido cursos de graduação à distância,

porém não oferecem, ainda, cursos de Serviço Social.

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31 A mesma autora chama a atenção para a possibilidade das IES públicas federais

abrirem cursos de Serviço Social presencial, pois assim ampliaria a possibilidade de os alunos

se interessarem mais pelo ensino presencial do que nos à distância, uma vez que não teriam

custos com mensalidades e garantiriam a qualidade.

Algo que não foi comentado pela autora, mas que é evidenciado, é que se isso

acontecesse, as vagas para a docência também se ampliariam, e por sua vez mais profissionais

buscariam a qualificação (mestrado e doutorado), principalmente àqueles que tivessem

interesse com a carreira docente, cabendo às IES a seleção dos docentes.

Universidades públicas que não ofertam cursos de graduação em Serviço Social:

IES por região Quantitativo

Norte 12

Nordeste 13

Sudeste 13

Centro-oeste 7

Total Geral 45

Fonte: Revista Serviço Social e Sociedade, n. 94, p. 8.

Conforme dados da tabela, se houvesse curso de Serviço Social em todas estas

universidades haveria muitas vagas para alunos, tendo nova oportunidade para fazer uma

graduação de qualidade e, ainda, vagas para docentes, pois haveria a necessidade de aumentar

o quadro docente para este curso, ampliando assim a oferta de trabalho.

A partir da precarização da formação profissional surge a discussão do exame de

proficiência para a categoria, ou seja, que ao final do curso de graduação o profissional só

poderia fazer seu registro no CRESS se fosse aprovado no referido exame. Este seria

proposto, de acordo com Boschetti (2008), como:

1) Estratégia de luta para influir na qualidade da formação e restringir a proliferação

dos cursos à distância.

2) Mecanismo para melhorar a qualidade do exercício profissional e dos serviços

prestados aos usuários.

A autora manisfestou-se contrária ao exame, entendendo que isso não resolveria a

precarização da atuação e nem da formação, que vem acontecendo em IES presenciais e à

distância, e coloca alguns pontos para reflexão: o exame de proficiência pode induzir as

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32 instituições a estruturar seus conteúdos a partir do exame como já vem ocorrendo com

ENADE, pode incentivar o desencadeamento de cursos preparatórios, jogando a culpa da não

aprovação nos profissionais, como se não houvesse a responsabilidade do Estado na ausência

de avaliação e acompanhamento das instituições de ensino.

Se esses exames tivessem provocado melhorias na formação universitária, não existiriam tantos cursinhos paralelos que só fortalecem o mercado e geram lucros a seus proprietários, sendo que muitos estão ligados às próprias faculdades privadas. O exame responsabiliza apenas o trabalhador pela apreensão dos conteúdos e desresponsabiliza todo o conjunto de condições necessárias a uma formação e exercício com qualidade, quais sejam: a garantia de conteúdos e condições para uma formação competente e crítica e a garantia de condições necessárias ao exercício do trabalho com qualidade teórica, técnica e ética, que devem ser asseguradas pelas instituições empregadoras.( (BOSCHETTI, 2008, p.12).

A autora lembra, ainda, que os conhecimentos adquiridos para o exame se tornarão

defasados devido às mudanças e necessidade de aprimoramentos constantes para

acompanhamento da realidade, a qual é dinâmica e sofre transformações cotidianamente.

Em relação ao exame de proficiência, houve também aqueles que se colocaram de

maneira favorável ao mesmo.

A autora Mavi Rodrigues(2008) faz uma análise sobre isso, explicando que devido ao

fato alarmante do número de vagas em cursos presenciais e à distância oferecidas por

instituições de ensino não se tem assegurado a formação competente conforme as diretrizes

curriculares da ABEPSS, vinculadas ao projeto ético-político.

Contudo, o processo de reconfiguração do ensino superior, empreendido intencionalmente pelo MEC, impacta não apenas as condições sobre as quais se efetivam a formação dos assistentes sociais. Ele tende a afetar também, num breve espaço de tempo, as condições do próprio exercício profissional, tornando cada vez mais difícil assegurar uma intervenção capaz de afiançar direitos (RODRIGUES, 2008, p. 25).

Essa situação pode trazer prejuízos à profissão, pois pode ocorrer um número grande

de desempregados, rebaixamento dos salários que já são precários, e ocorrer a precarização na

contratação dos profissionais.

Outros justificam que o exame seria uma forma de qualificar a categoria, e que só

exerceria quem realmente tivesse tido uma formação de qualidade e tivesse os conhecimentos

necessários.

Rodrigues (2008) expõe que:

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Seria uma simplificação do debate crer que estamos diante da escolha entre duas alternativas absolutamente excludentes: ou advogamos a favor do exame de proficiência no Serviço Social e damos as costas para os princípios e tradições que conformam o projeto ético político, ou refutamos peremptoriamente o dito exame e damos continuidade e aprofundamento à agenda política e às formas de luta que nossas entidades têm sustentado nos últimos 29 anos. Colocar as coisas nestes termos é plantar um falso dualismo que, mesmo ilusório, porque distorce a realidade, arrisca a minar a unidade da luta pela defesa do nosso projeto profissional. (...) Além de apostar na possibilidade que o exame pode ter de adensar as lutas de defesa do projeto ético-político, creio que é perfeitamente possível construí-lo em nossa profissão em moldes diferentes dos vigentes em outras categorias. Estou convencida de que os assistentes sociais dispõem de imaginação e maturidade suficientes para elaborar um exame de proficiência radicalmente distinto de uma avaliação tecnicista e instrumental capaz de atestar apenas a competência técnica de egressos dos cursos de graduação. (...) Não podemos esquecer a trajetória do Serviço Social brasileiro (...), não podemos desconsiderar a particularidade das nossas entidades, em especial do conjunto CFESS/CRESS (RODRIGUES, 2008, p. 32).

A autora explicita que o Serviço Social já possui muitos meios disciplinadores que

regulam a profissão, como exemplo, a Lei de Regulamentação, o Código de Ética, que

impedem a atuação do assistente social sem o devido registro, regulamenta o estágio,

suspende o registro profissional. Então o exame seria mais um meio de disciplinar a profissão.

Para ela,

(...) o exame de proficiência está sendo proposto ao Serviço Social não como um desvio de rota na defesa do projeto ético-político, mas como uma estratégia defensiva, legítima e à altura dos desafios que temos pela frente. Estratégia protetiva de projeto profissional que deve ser concebida e empreendida como um dos ingredientes de uma política mais ampla de preservação da auto-imagem que o Serviço Social brasileiro conseguiu construir nos últimos 29 anos e que está sob uma grave ameaça na conjuntura atual (Rodrigues, 2008, p. 36).

Com esses diferentes posicionamentos, a categoria levou a discussão a uma instância

de poder séria e onde a categoria estaria nacionalmente representada, que foi o 37º. Encontro

Nacional CFESS-CRESS, realizado em Brasília, em 28 de setembro de 2008.

Neste Encontro a categoria discutiu e decidiu assuntos importantíssimos em relação à

formação profissional.

O quadro a seguir elenca as propostas aprovadas neste encontro.

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FORMAÇÃO PROFISSIONAL

Item Propostas Responsabilidade

1 Fortalecer ações políticas contra a precarização do ensino superior para garantir a qualidade dos serviços prestados aos usuários e a preservação de seus direitos, conforme as seguintes estratégias: a) Acompanhar os debates e definições nos fóruns dos Conselhos Federais e Estaduais das profissões regulamentadas. b) Manter as articulações com as demais entidades da categoria e movimentos sociais no sentido de reivindicar e pressionar o MEC/ CNE para que cumpra suas atribuições de autorização, avaliação e regulamentação de cursos em unidades de ensino. c) Dar continuidade a notificação contra o MEC relativa ao cumprimento de suas responsabilidades na autorização e credenciamento das unidades de ensino para ofertar os cursos, bem como a supervisão destes, pelo ministério supracitado, no sentido de averiguar o cumprimento do que foi proposto por estas instituições para o funcionamento dos cursos de graduação em serviço social; d) Acionar o Ministério Público, em sendo constatadas irregularidades das unidades de ensino que ofertam a graduação em serviço social. e) Realizar estudo jurídico sobre a Portaria Normativa 040/2007 do MEC na perspectiva de verificar possibilidades jurídicas de intervenção, com base em Parecer Jurídico já emitido pela assessoria jurídica do CFESS. f) Constituir GT com representantes do CFESS e de um CRESS de cada região para construção de estratégias de enfrentamento à precarização do ensino superior. g) Realizar audiências públicas (regionais e nacional) envolvendo diversos Conselhos de categoria profissional, associações de classe, sindicatos e movimentos sociais, com o objetivo de debater e se posicionar frente à precarização do ensino em defesa da qualidade da formação profissional. h) Efetivar o plano de lutas em defesa do ensino público, gratuito, laico e de qualidade e contra a banalização, mercantilização, precarização e massificação da formação profissional por meio de uma campanha nacional em defesa da qualidade da formação profissional, cujas estratégias serão sistematizadas pelo GT Formação, constituído nesse encontro a partir de todas as propostas já aprovadas pelo Conjunto CFESS/CRESS. O GT deverá apresentar documento ao conjunto até 15 de dezembro de 2008.

CFESS-CRESS

2 Não realização do exame de proficiência no serviço social

CFESS-CRESS

3 Instituir uma Política Nacional de Educação Permanente para os assistentes sociais, envolvendo os CRESS e as unidades de ensino locais, a partir das seguintes estratégias: a) Estabelecer diretrizes nacionais para Política Nacional de Educação Permanente; b) Adotar mecanismos nacionais de incentivo e apoio aos CRESS para elaboração de sua política local de Educação Permanente, em conjunto com as entidades de ensino locais e nacionais,

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evitando ações isoladas e cursos fragmentados; c) Estabelecer parcerias institucionais entre as instituições de ensino superior e os CRESS, para oferta de cursos de pós-graduação a partir das demandas dos assistentes sociais e em conformidade com a Política Nacional de Educação Permanente; d) Elaborar minuta da Política Nacional de Educação Permanente pela Comissão de Formação do CFESS, encaminhando-a aos CRESS, ABEPSS, ENESSO e às Unidades de Ensino para conhecimento, e ao GT Formação para apreciação, debate e retorno com vistas à sua deliberação no Encontro Nacional CFESS/ CRESS de 2009.

b) CFESS

4 Estimular/manter a articulação dos Fóruns de Supervisores, com vistas ao estreitamento das relações entre o CRESS, ABEPSS, unidades de ensino e as instituições campos de estágio, socializando informações entre os CRESS e o CFESS no sentido de garantir visibilidade às ações desenvolvidas.

CFESS-CRESS

5 Acompanhar a discussão do GT Serviço Social em Saúde sobre as Residências multiprofissionais e uniprofissional de serviço social na área da saúde.

CFESS-CRESS

6 Articular debates com entidades do movimento social, especialmente o ANDES, no sentido de defender projeto de universidade em consonância com o projeto éticopolítico do serviço social.

CFESS-CRESS

7 Remeter ao GT Formação o debate sobre as gestões a serem feitas junto ao MEC para ampliação, a outras categorias (além da psicologia, da odontologia, do direito e da medicina), do poder de interferência nos processos de abertura e renovação de cursos de graduação (presencial e à distância), conforme previsto pela Portaria nº. 40 daquele Ministério. Desde já, manifestar-se junto ao MEC nos processos de reconhecimento dos cursos de serviço social nos termos do Artigo 37 do Decreto Nº. 5773/2006.

CFESS-CRESS

8 Articular junto ao CNS a inclusão do serviço social no conjunto de profissões que são analisadas pelo referido Conselho nos processos de autorização de abertura de cursos de graduação, reconhecimento, mediante alteração na legislação pertinente que prevê esse procedimento para os cursos de medicina, odontologia e psicologia.

CFESS-CRESS

9 Avaliar a utilização de mecanismos jurídicos para fortalecer a fiscalização em relação ao não cumprimento dos requisitos legais pelas instituições de ensino superior, na perspectiva de inviabilizar, nesta hipótese, a inscrição do bacharel no CRESS.

CFESS-CRESS

10 Avaliar a utilização de mecanismos jurídicos para fortalecer a fiscalização em relação ao não cumprimento dos requisitos legais pelas instituições de ensino superior, na perspectiva de inviabilizar, nesta hipótese, a inscrição do bacharel no CRESS.

CFESS-CRESS

11 Intensificar a fiscalização nas unidades de EAD, incluindo tele-salas e semipresenciais, para conhecer as

CFESS-CRESS

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Fonte: site CFESS – Relatório do Encontro CFESS-CRESS 2008

Como se vê, muitas foram as discussões e propostas aprovadas quanto ao eixo da

formação profissional.

Nesse eixo temático foi discutida e aprovada a Minuta de Resolução que trata da

Regulamentação da Supervisão Direta de Estágio no Serviço Social, a qual foi aprovada em

reunião do Conselho Pleno do CFESS em 29/09/08 sob n. 533.

Vários outros momentos de discussão já vinham proporcionando a reflexão sobre a

questão da precarização do ensino superior e o aumento do número de escolas que oferecem

cursos à distância, e a Resolução é uma das estratégias de garantir maior qualificação na

supervisão direta do estágio, coibindo as questões equivocadas que o ensino à distância vem

colocando.

Mesmo sabendo que isso não está acontecendo somente com o Serviço Social, a

categoria percebe a necessidade de pensar estratégias para enfrentar a realidade, uma vez que

o próprio Ministério da Educação (MEC) é quem aprova este método de graduação, fazendo

isso parte das estratégias de governo para ampliar o acesso ao nível superior.

O CFESS, o CRESS e a ABEPSS traçaram estratégias para combater a precarização

do ensino superior e defender a formação e o trabalho de qualidade. As ações vão desde a

fiscalização nas unidades de educação à distância até o estímulo à abertura de cursos

presenciais de serviço social nas instituições públicas, entendendo que essa ação ampliaria a

procura por um curso de maior qualidade e gratuito, e que, obviamente, os interessados

procurariam pela universidade pública.

atribuições dos professores especialistas, tutores eletrônicos, tutores de sala e dinâmica de funcionamento das aulas e do estágio supervisionado com vistas a garantir o previsto nos artigos 4º e 5º da Lei 8662/93. (remeter para o GT)

12 Elaborar dossiê com informações sobre a estrutura de funcionamento e irregularidades encontradas nos cursos de serviço social à distância e divulgar este documento junto à opinião pública (jornais, rádios, internet, demais conselhos profissionais, movimentos sociais, e outras). (remeter para o GT)

CFESS-CRESS

13 Mobilizar a opinião pública sobre a precariedade dos cursos de graduação à distância, em conjunto com os Conselhos de Fiscalização de outras categorias, com ampla divulgação dos Decretos que regulamentam o EAD, e de posicionamentos das entidades da categoria.

CFESS-CRESS

14 Acionar o Ministério Público, em sendo constatadas irregularidades das unidades de ensino que ofertam a graduação em serviço social.

CFESS-CRESS

15 Realizar estudos para fundamentar análise e decisão sobre a participação do Conjunto CFESS/ CRESS nos Conselhos Nacional e Estaduais de Educação, a ser apresentado e aprovado no Encontro Nacional CFESS/ CRESS de 2009.

CFESS-CRESS

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O resultado de tudo isso foi a elaboração do Plano de Lutas em Defesa do Trabalho

e da Formação e Contra a Precarização do Ensino Superior.

O conjunto de ações deste plano está organizado por sete eixos estratégicos: ações

relativas à Política Nacional de Fiscalização; ações de estudos e pesquisas; de articulação com

entidades, movimentos sociais e conselhos; ações junto ao MEC; junto ao Poder Legislativo;

ações jurídicas; e de comunicação e mobilização.

A profissão tem muitos motivos para comemorar, pois foram muitas as conquistas

ocorridas no processo histórico. Lembra Berhing(2009):

O primeiro é que comemoramos a maturidade do que chamamos nos anos 90 de projeto ético-político profissional: os 30 anos da Virada, quando estabelecemos coletivamente novos compromissos na sociedade brasileira – com os interesses dos trabalhadores. Esses compromissos se desdobraram na luta pelos direitos, pelas políticas sociais para viabilizá-los – a exemplo da política de educação e da seguridade social - pela democratização radical da sociedade brasileira(site CFESS)

Mas a categoria deve continuar lutando, abraçando as decisões dos órgãos

representativos, pois assim poder-se-á, um dia, comemorar os resultados positivos dessa luta.

Estamos lançando, neste 15 de maio, o documento base que dará origem à Política Nacional de Estágio. O objetivo é discutir com as unidades de formação acadêmicas públicas e privadas os dilemas do estágio supervisionado no contexto das novas regulamentações do Congresso Nacional e do CFESS, constituindo mais uma orientação para barrar a expansão da desqualificação da formação, seja ela presencial, mas, sobretudo à distância.(Berhing, 2009, site Cfess)

O CFESS, após o Encontro Nacional, dando continuidade às lutas pela categoria, cria

o documento Parâmetros para a Atuação dos Assistentes Sociais na Saúde, elaborado em

Brasília, em março de 2009. Este documento foi repassado para toda a categoria via e-mail, e

muitos Cress montaram grupos de estudos para o estudarem.

O mesmo servirá de referência para os profissionais que trabalham ou pretendem

trabalhar na área específica, ou para socialização do trabalho na área.

Na data de 25 de agosto de 2009, a ABEPSS repassou um e-mail para os seus

representantes cujo conteúdo tratava da portaria do governo federal descredenciando a

UNITINS, um dos maiores pólos de ensino à distância, tendo a mesma que fechar os cursos

de Serviço Social e de outras áreas.

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38 1.4 Do Projeto Pedagógico ao Processo Educacional do Assistente Social

(...) agora imagina se eu tivesse tido a oportunidade de participar da construção dele, que legal. Ai o trabalho fica muito mais “consulto”, as coisas andam muito juntas. Ai funciona muito mais se todo mundo participa da construção (Olegna).

1.4.1 O Projeto Pedagógico

O projeto pedagógico é um processo onde todos os envolvidos devem participar de sua

elaboração, buscando a educação que se quer dentro do que se enxerga como possível na

realidade institucional.

É propor e prever, sempre entendendo que se vive num processo histórico dialético, e

que ele sempre será passível de alterações.

Há necessidade de se realizar um trabalho coletivo e interdisciplinar, porém é bom

entender que existe interdisciplinaridade quando se trata verdadeiramente de um diálogo, ou

de uma parceria, que se constitui exatamente na diferença, na especificidade da ação de

grupos ou indivíduos querendo alcançar objetivos comuns, que jogam em posições diferentes

num mesmo time.

É trabalhar com objetivos comuns integrando as diversas áreas, disciplinas e conteúdo.

Quanto a essa integração, cabe destaque à fala da professora Olegna, sujeito de nossa

pesquisa, que durante a discussão do grupo disse:

Deixa eu falar uma coisa, eu não participei da construção desse currículo nosso aqui da UEL, eu não participei da construção então, eu cheguei a Londrina o currículo estava montado, eu fui apresentada para o currículo, peguei esse currículo e dei a disciplina de fundamentos, implantei uma disciplina dentro desse currículo, montei a disciplina de ética. Só que este ano, passando pela coordenação do colegiado eu tive que estudar o currículo, conhecer a estrutura dele, eu redimensionei meu curso de ética, hoje eu penso que meu curso de ética está mais dentro da proposta do currículo e funciona muito mais do que antes, porque ele estava solto, desconectado, então agora conhecendo o currículo, como eu estou cruzando com todas as disciplinas, de certa forma coordenando e estudando, nosso currículo é muito bom, muito bem montado, muito bem estruturadinho. (...) e uma coisa que eu achei interessante é que eu li o currículo quando eu entrei, foi me apresentado, eu li, eu manuseei, mas ele não entrava tanto como ele entrou agora depois que eu estou tendo que mexer com ele, agora imagina se eu tivesse tido a oportunidade de participar da construção dele, que legal. Ai o trabalho fica muito mais “consulto”, as coisas andam muito juntas. Ai

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funciona muito mais se todo mundo participa da construção (OLEGNA).

A entrevistada percebeu durante a discussão em grupo o quanto a participação de

todos na elaboração do Projeto Pedagógico do curso é importante, mas, principalmente, o

quanto a correlação de uma disciplina com a outra é importante e necessária para a formação

adequada e coerente.

Veiga destaca, ainda, que esse projeto tem dupla dimensão, por isso se chama projeto

político-pedagógico.

É político no sentido de compromisso com a formação do cidadão para um tipo de sociedade. (...) Pedagógico no sentido de definir as ações educativas e as características necessárias às escolas de cumprirem seus propósitos e sua intencionalidade (...). O projeto político-pedagógico, ao se constituir em processo democrático de decisões, preocupa-se em instaurar uma forma de organização do trabalho pedagógico que supre os conflitos, buscando eliminar as relações competitivas, corporativas e autoritárias (VEIGA, 2008).

Assim entendido, o projeto político-pedagógico serve para organizar a vida escolar e

todos os seus participantes (professores, alunos, direção) tendo a preocupação de buscar a

construção da sociedade que deseja, e para isso não pode haver conflitos ou competições,

porque se isso ocorrer descaracteriza-o como processo democrático, e os objetivos não serão

alcançados, principalmente o de organizar a escola.

Em relação a esse ponto, as entrevistadas têm contribuições, então cabe aqui destacar

um trecho do diálogo durante o grupo de discussão:

Deste currículo, este atual, na época que ele estava sendo construído, eu estava no doutorado, eu estava em licença. Mas eu vi, participei de reuniões. A construção dele demonstra a dificuldade da participação, porque(...), eu tenho algumas reservas, todo mundo conhece, mas independente disso, ele foi construído verdadeiramente por um pequeno grupo que naquele momento estava mais comprometido, mais interessado, enfim, mais envolvido com a necessidade de fazer mudanças no anterior. Eu acho que nesse caso para esse grupo motivou muito a recusa, a palavra não é recusa, mas o questionamento ao eixo anterior, que é a história, teoria e método, então, as pessoas que não concordavam com isso, com a centralidade das disciplinas, em particular no eixo de fundamentos: história, teoria e método, se envolveram mais que outras, de modo que as pessoas que estavam naquele momento, a Jô acompanhou de perto, o corpo docente naquele momento não participou verdadeiramente (SANDRA).

Sandra, um pouco eu participei da elaboração, eu já era coordenadora do colegiado, depois teve uma outra gestão que foi a que implantou e aprovou o currículo. Mas acho que essa estrutura, é importante deixar claro que essa é uma estrutura que a UEL tem, não é só do Serviço Social, é de todos os

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cursos de graduação da UEL. A UEL funciona com duas estruturas de mando que tem que se inter-relacionar com o projeto de formação profissional, a chefia do departamento, que no caso está aqui representado pela Sandra Pires, ela é a chefe do departamento de Serviço Social,(...) e o coordenador do colegiado do curso que está aqui também, que é a Olegna. Então, são duas instancias que tem a mesma importância para a formação profissional, porque uma instancia vai discutir a questão da operacionalidade do currículo, qual o professor que tem mais aptidão para dar esta ou aquela disciplina, dentro das escolhas que os professores podem fazer e com a questão prática, objetiva, administrativa, de locação de pessoal, então, a gente tem na verdade, duas dimensões que na UEL elas são separadas em dois grandes grupos. Então existe uma chefia de departamento com o nome de chefia para dar conta de distribuir as atividades, e existe uma coordenação de colegiado que tem participação do setor de estágio, do setor de organização e controle do tcc e também dos professores de outros departamentos que ministram aulas no curso. (...) Então nós temos ai um grupo de 6 professores que são os responsáveis vamos dizer, pelas discussões e questões pedagógicas, pelo encaminhamento, e pela inter-relação entre as disciplinas e entre as séries. Nessas EDS, que elas acontecem pelo menos a cada dois meses, vem o representante da turma, junto com todos os professores que ministram aula na turma, e acontece ali um bate papo de como está indo o curso. Então quando você diz assim: a importância da participação docente e discente na elaboração do projeto político pedagógico, eu acredito que no nosso caso, essa construção é coletiva mesmo antes de a gente ter que mudar o currículo, porque nesse espaço a gente discute já as grandes questões, e ai elas vão se juntando para quando a gente tiver que propor. Então aí Sandra, todo mundo participando da equipe didática de série, esse mecanismo propicia que todos, embora na época da mudança do currículo nem todos estivessem participando ativamente, porque quem puxa são esses seis, que são os responsáveis, mas eles participaram e a gente tem ai o backup (JOLINDA). Porque os grandes elementos já foram recolhidos, porque a EDS funciona como um momento de monitoramento e avaliação (ANDREA). E avaliação, e modificação inclusive durante o processo, porque estão sujeitas mudança de texto, mudança de metodologia, até mudança de professor (JOLINDA).

Evidencia-se aqui que o assunto teórico debatido é comprovado na prática com a fala

dos sujeitos, pois o ideal é a participação, e cada instituição deve encontrar a melhor forma de

fazer isso acontecer, e no caso específico da UEL eles encontraram uma maneira onde

docentes e discentes tem a oportunidade de contribuirem e proporem.

Pinto destaca, ainda, que:

Um projeto pedagógico é eminentemente político porque contém uma intencionalidade em relação ao processo de ensino e formação, e não pode ser elaborado por especialistas ou consultores externos ao curso que possam formatá-lo aos moldes desejados pelo controle institucional (PINTO, 2006).

Para se conseguir um projeto político-pedagógico coerente e adequado é necessário

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41 um referencial teórico-pedagógico que dê subsídios para formação daquele aluno, e no caso

específico, do futuro assistente social.

Porém, para

(...) que a construção do projeto político-pedagógico seja possível não é necessário convencer os professores, a equipe escolar e os funcionários a trabalhar mais, ou mobilizá-los de forma espontânea, mas propiciar situações que lhes permitam aprender a pensar e a realizar o fazer pedagógico de forma coerente (VEIGA, 2008).

Esse é o grande desafio. Será que todos estão disponíveis e abertos a aprender a pensar

diferente para um fazer coerente?

Os sujeitos da pesquisa, durante o grupo, fizeram a seguinte discussão em relação a

esse ponto:

(...) você pegar todas as nossas reformas, a historia das nossas reformas curriculares, todas elas tiveram um tipo de participação diferente, estratégias diferentes de participação, mas a idéia sempre foi que elas fossem participativas, o que não significa concretamente que 100%, seria o ideal. Mas o ideal a gente nunca atinge, que as pessoas tivessem envolvidas de verdade. Quando a e pessoa não está envolvida de verdade, acontecem situações, que a gente vivenciou muito, na sua época inclusive Jô, como coordenadora de colegiado, a pessoa pega uma disciplina, que tem um ementa, ela até constrói o programa que deveria ser (SANDRA). Porque tem que passar pela aprovação do colegiado (JOLINDA). Porque tem que passar pela aprovação do colegiado, mas em sala de aula ele dá outra coisa, o que der, o que queira dar(...)Mas isso é mais quando a pessoa não incorpora o espírito da coisa. Hoje eu acho que a gente vive muito menos isso, pelo menos é a minha imagem. Mas antigamente as pessoas não incorporavam a proposta da disciplina, não incorporavam as mudanças, as inovações que o currículo tinha trazido, então punham no papel, mas no dia a dia continuava fazendo: Movimentos Sociais continuou sendo Desenvolvimento de Comunidade, Fundamentos Históricos Teóricos e Metodológicos continuou sendo História, Oficina continuava sendo a Prática. A pessoa tinha a dificuldade e resistência de mudar, e incorporar as inovações. Eu acho que é mais sério do que... (SANDRA). Nós temos hoje, elementos, olhando o material que a gente tem no colegiado das EDS, das pesquisas, nós temos elementos muito interessantes pra pensar a reforma curricular, a gente tem tudo esquematizado e quem participou das reuniões, quem vem participando do processo, já está construindo novo projeto político pedagógico, agora é uma diferença enorme, eu agora e eu quando entrei. (OLEGNA).

(...) então quando a gente constrói um projeto pedagógico, e acontece isso, de uma maneira ou de outra o grupo conseguiu se colocar hegemonicamente, ganhou, conquistou espaço, mas tem alguém lá que não concorda “eu não quero ensinar desse jeito, pra mim é de outra forma”, existe uma ementa e a

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ementa todo mundo é obrigado a cumprir, partindo desse pressuposto da decisão do coletivo, agora os textos que a pessoa vai dar, a forma que ela vai ensinar é do professor(...) (ANDREA). (...) eu estava me referindo a uma coisa mais séria que isso, por exemplo, no currículo anterior nós tínhamos a tal disciplina de metodologia I e II. Essa disciplina foi pensada, pra fazer naquela época, os 3 grandes métodos. O que acontecia com a disciplina de metodologia, a pessoa não concordava do ponto de vista teórico, de concepção, de ideologia, não concordava com a necessidade, com a importância de você trabalhar os grandes métodos, então a pessoa ia pra sala de aula, tinha a ementa, não cumpria a ementa, e ao invés de discutir isso ia discutir qualquer outra coisa, família, qualquer outra coisa (SANDRA).

Com esse diálogo percebe-se que a participação coletiva pode ocorrer, mas um outro

problema é conseguir adesão do coletivo institucional nas mudanças necessárias, e que os

docentes assumam o novo, respeitando uma decisão coletiva, decisão da categoria

profissional. E de acordo com a professora Jolinda e a professora Sandra, hoje a participação

dos alunos também tem deixado a desejar, e que a mesma já não acontece como na época em

que ambas estavam na graduação. Sobre isso destaca-se:

Agora eu acho que a participação dos estudantes a cada tempo está pior. Eu como estudante da UEL que fui, eu me lembro, tenho até fotografia participando de discussão de currículo como estudante, a gente brigava naquela época por paridade, nós queríamos paridade com os professores do curso, e hoje eles tem as vagas, eles não se organizam, tem alguns que sim, mas eles têm um espaço e não vão participar (JOLINDA).

Como processo de construção coletiva, significa que os sujeitos devem estar

envolvidos com ele, acreditam na sua possibilidade. Caso contrário, o projeto político-

pedagógico não passará de mais um arquivo, um projeto escrito à espera de concretização.

Para a construção do projeto político-pedagógico deve-se ter em mente as finalidades e

objetivos da educação, da escola e do curso específico.

A educação, enquanto uma política pública, todos têm direito a ela. Inserida no

sistema capitalista, essa garantia é para todas as classes sociais, mesmo àquelas consideradas

como “classes subalternas” ou menos favorecidas. Mas independente de estar se referindo a

uma escola pública ou privada, deve-se atentar à contradição presente nela.

Está aí, segundo Cury, a contradição existente na educação vigente.

O autor trabalha algumas categorias, como sendo esses elementos que direcionam a

compreensão da educação: categoria da contradição, categoria da totalidade, da mediação, da

reprodução e categoria da hegemonia.

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A Categoria da CONTRADIÇÃO: é a base de uma metodologia dialética. A

contradição deve ser trabalhada como algo presente em nossa sociedade e é através dela que

se entende o funcionamento da realidade, compreendem-se as diferenças.

Para melhor entender a contradição que deve ser trabalhada na educação utilizar-se-á

uma afirmação de Gramsci (in:CURY, 1986, p. 83): o elemento popular ‘sente’, mas nem

sempre compreende ou sabe; o elemento intelectual ‘sabe’, mas nem sempre compreende e,

muito menos ‘sente’ (...).

Nem todos os intelectuais são munidos de valores humanos, e esses valores são

essenciais para o exercício da cidadania e do seu ensinamento.

A categoria da TOTALIDADE leva a entender algo, um fato, um caso inserido num

contexto amplo, como exemplo da educação, é enxergá-la dentro do contexto social como um

todo, com as influências que recebe de todos os meios.

A categoria da MEDIAÇÃO na educação significa que, para esta última se efetivar,

deve acontecer a medição entre a teoria e a prática. Mediação no sentido de relacionar o que

está sendo ensinado com seu acontecimento no real, eliminando o pensamento de que a teoria

na prática é diferente. Além disso, a mediação serve para mediar duas idéias diferentes,

trazendo o surgimento de uma nova idéia, mediar duas ações sociais.

A categoria de REPRODUÇÃO significa a conservação e manutenção das relações

básicas existentes nas instituições educacionais e na sociedade. “E a educação pode servir de

elo mediador para os processos de acumulação ao reproduzir idéias e valores que ajudam a

reprodução ampliada do capital” (CURY, 1986, p. 28).

Neste caso, enquanto educadores devem procurar a superação dessa contradição para

não serem meros reprodutores de um sistema que não se preocupa com a educação real de seu

povo.

Isso se torna mais claro quando a professora Olegna faz a seguinte discussão no grupo:

Eu acho que nós vivemos hoje, e isso é uma coisa que me preocupa muito, a formação profissional muito vinculada com uma perspectiva neoconservadora e pragmática. Acho que nós temos hoje, na formação profissional, uma preocupação com a competência, e é legal que tenha. Mas não competência vinculada a esse projeto, mas a gente está correndo o risco de ter uma competência pragmática, neoconservadora, tecnicista, eu vejo isso porque o mercado exige essa habilidade, exige essa competência, esse trânsito entre essa competência e uma direção ética e política, eu acho que a gente está bem longe disso(...) mas o neoconservadorismo ou o conservadorismo nos ronda cotidianamente (OLEGNA).

Na fala da professora Olegna está presente a preocupação com essa contradição

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44 categorizada por Cury.

Já, a categoria da HEGEMONIA tem dupla possibilidade, ou seja, pode ser utilizada

para se mostrar qual a classe que domina o país e a sociedade e que se mantenha a ordem

estabelecida ou que, através disso, se desperte a crítica sobre essa ideologia dominante e

levem as classes, principalmente as menos favorecidas, a pensar e descobrir como podem

atuar para se tornarem protagonistas de sua história sendo sujeito de direitos e deveres.

Como o próprio autor expõe, “buscou-se aquelas categorias que possam exercer esse

papel no contexto da educação” (CURY, 1986, p. 53). Papel esse de proporcionar o

entendimento da educação dentro de uma realidade mais abrangente.

As condições sociais existentes na sociedade capitalista se fazem presentes na

educação por serem permanentemente ligadas à realidade histórica e social.

Quando se fala em hegemonia logo se remete às relações de dominação, política de

dominação onde se coloca a presença do estado, que é o regulador do sistema capitalista e,

portanto, exerce a hegemonia legitimadora da dominação.

Para se manter essa hegemonia a educação ocupa importante papel, uma vez entendida

como “um processo da concretização de uma concepção de mundo. Assim a educação, escolar

ou não, nutre-se de uma ambivalência: o veículo possível de desocultação da desigualdade

real se torna também veículo de dominação de classe” (CURY, 1986, p. 57-58).

Pensando neste sentido, conclui-se então que dependerá do educador, professor ou da

visão e direção que o instrutor der à educação, terá um resultado, consciente de sua situação

de dominação e com espírito de luta pela igualdade através do saber e do conhecimento

adquirido, ou de alienação, de conformismo com a situação de dominado.

Quando se relaciona Educação com Reprodução, é porque, através da educação, é

possível reproduzir os meios de produção do capitalismo, bem como a reprodução das

relações de produção e produzir e reproduzir novas relações.

Essa função de reprodução na educação também “está sob o signo da contradição, ao

exigir homens de iniciativa, responsáveis, competentes na sua especialidade, mas ao mesmo

tempo dóceis ao sistema capitalista” (CURY, 1986, p. 61).

Durante a pesquisa a professora, um dos sujeitos de pesquisa, professora Líria diz:

(...) não dá pra gente continuar a reproduzir, porque o mundo mudou, a sociedade mudou, mas gente continua a reproduzir um meio que a gente tinha antigamente, a gente tem que fazer essas mudanças, então eu acho que as mediações pedagógicas elas são cada vez mais necessárias, principalmente nesse momento (LÍRIA).

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Há a percepção da necessidade de educar. Educar para o trabalho. E a educação,

entendida como uma função política do ESTADO, através de sua ideologia dominante,

propõe os temas de ensino através de uma Política Nacional de Educação (mesmo hoje, com a

descentralização e a municipalização) que são carregados de intencionalidade e valor.

No curso de Serviço Social essa ideologia dominante deve ser desmistificada, pois na

formação deve-se mostrar a ideologia dominante que o Estado exerce sobre os cidadãos.

Para essa questão a professora Eliane chama a atenção com as seguintes colocações:

Porque eles entram achando que as coisas vão mudar, vêem que as coisas não são bem assim, se frustram, e também, pensam que vão acabar com o capitalismo, e de repente vê que não vai acabar, tem que aprender a viver nesse capitalismo. Eu fico muito brava(...) Faça a crítica, faça, é profissional. Só que as pessoas precisam (...), que nós vivemos numa sociedade capitalista, e em cima disso é que tem que achar estratégias, pois, ao invés de ficar só criticando não ‘tá’ fazendo nada, a profissão não vai avançar, não vai consolidar, não vai ter o reconhecimento que a gente gostaria que tivesse, porque a gente fica só criticando. Nós temos que entender o contexto contraditório e buscar alternativas. Existe uma população, uma sociedade que depende da nossa atuação, nós temos um papel fundamental e o que a gente tem que fazer, conquistar esse espaço. (ELIANE)

Quanto à EDUCAÇÃO e MEDIAÇÃO proposta por Cury, a relação se dá porque a

educação possui um caráter mediador. “No caso concreto da sociedade de classes, ela se situa

na relação entre as classes como momento de mascaramento/desmascaramento da mesma

relação existente entre as classes” (CURY, 1986, p. 64).

Compreende-se, assim, que a mediação, através da educação, pode tanto camuflar uma

realidade; uma intencionalidade das forças hegemônicas, como pode trazer à tona a verdadeira

realidade, a face real da realidade e tornando visível a intenção do poder hegemônico da

sociedade.

A teoria materialista de que os homens são produtos das circunstâncias e da educação e de que, portanto, homens modificados são produtos de circunstâncias diferentes e de educação modificada, esquece que as circunstâncias são modificadas precisamente pelos homens e que o próprio educador precisa ser educado (CURY, 1986, p. 65).

Com essa afirmação entende-se que a educação como prática mediadora dependerá

muito de uma série de fatores que estão a ela relacionados, como exemplo, a instituição de

ensino, as propostas e projeto pedagógico, o educador. Portanto o educador deve estar em

constante aprimoramento e aprendizado, para que a mediação não seja apenas instrumento de

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46 manutenção da ordem social estabelecida.

“A educação como mediação tanto funciona, embora em graus diferentes, para a

afloração da consciência, como para impedi-la, tanto para difundir, como para desarticular,

(...) de encobrir-descobrir, (...) permanecer-superar” (CURY, 1986, p. 66).

E quanto a isso, percebe-se também a importância do material a ser utilizado pelo

educador, ou seja, a seleção dos textos e referenciais teóricos a serem utilizados pelo docente.

Quando Cury relaciona Educação com Totalidade é com a finalidade de entender a

educação de forma global.

Totalidade na Educação é entender essa última como uma política, como expressão

ideológica do estado, que sofre influência de todo sistema estrutural do país. Sofre com

condicionantes econômicos, sociais, culturais. Portanto a educação não é o que é por si só,

mas através de toda influência recebida dos diversos sujeitos e interesses e, portanto, a relação

da educação com a totalidade implica a ação-reflexão desses sujeitos e interesses.

“O mundo é do tamanho do conhecimento que temos dele. Alargar o conhecimento,

para fazer o mundo crescer e apurar seu sabor, é tarefa de seres humanos. É tarefa por

excelência de educadores” (RIOS, 2006, p. 24).

O professor deve educar não passando para o aluno apenas um determinado conteúdo,

mas deve formar cidadãos conscientes para que o mundo cresça e se desenvolva.

Pozo (2002, p. 269) estabelece os dez mandamentos que os professores deveriam

basear sua intervenção enquanto docente:

I- Partirás dos interesses e motivos dos aprendizes;

II- Partirá dos conhecimentos prévios dos aprendizes;

III- Dosarás a quantidade de informação nova;

IV- Farás com que condensem e automatizem os conhecimentos básicos;

V- Diversificarás as tarefas e aprendizagens;

VI- Planejarás situações de aprendizagem para sua recuperação;

VII- Organizarás e ligarás as aprendizagens umas às outras;

VIII- Promoverás a reflexão sobre os conhecimentos;

IX- Proporás tarefas abertas e incentivarás a cooperação;

X- Instituirá no planejamento e organização da própria aprendizagem de cada um.

E ainda, segundo o autor, estes dez mandamentos se condensam em dois:

I) Refletirás sobre as dificuldades que teus aprendizes enfrentam e buscarás meios de

ajudá-los a superá-las.

II) Transferirás, progressivamente, para os alunos o controle de sua aprendizagem,

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47 sabendo que a meta última de todo mestre é se tornar desnecessário.

Quando o mestre alcança isso, o aluno consegue ser o protagonista de sua própria

aprendizagem, valorizando-a.

A situação de aprendizagem também perpassa por momentos de crise. Mas, mesmo

assim tem-se que entender que esta proporciona perspectiva de perigo e oportunidade. E com

certeza os perigos devem ser enfrentados e as oportunidades aproveitadas.

No caso específico do curso de Serviço Social se reporta novamente às diretrizes

curriculares onde se tem o perfil do formando, ou seja, que profissional quer se formar?

Essa é a grande preocupação, pois para ser um assistente social busca-se um perfil do

aluno formando, naquilo que está relacionado aos elementos formativos. Porém, será que

existem outras peculiaridades necessárias nesse formando?

De acordo com as diretrizes curriculares da ABEPSS, esse formando deve ter o

seguinte perfil:

(...) profissional que atua nas expressões da questão social, formulando e implementando propostas de intervenção para seu enfrentamento, com capacidade de promover o exercício pleno da cidadania e a inserção criativa e propositiva dos usuários do Serviço Social no conjunto das relações sociais e no mercado de trabalho (Diretrizes Curriculares/Abepss).

Analisando esse perfil proposto pelas Diretrizes Curriculares surgem mais indagações,

ou seja, como garantir essa capacidade de promover os exercícios plenos de cidadania e a

inserção criativa e propositiva dos usuários? Como alcançar isso? O que é necessário? Por ser

uma profissão interventiva, não deveria ser exigido dos docentes a prática profissional

enquanto assistente social?

Para a professora Olegna, um dos sujeitos da pesquisa

(...) As duas questões pra mim envolvem a legislação, a legislação que hoje estabelece as competências e atividades privativas do Assistente Social, que é a nossa lei de regulamentação, das 2 formas ela deixa muito claro: 1) que tendo o titulo de graduação do Serviço Social é possível ser professor da universidade, não é exigido do professor, em princípio, a não ser que seja exigência do concurso publico que ele tenha pratica profissional, em principio não, tendo graduação e sendo credenciado, cadastrado no CRESS ele pode ser docente. (...) embora ele possa, por força de lei, ser docente, faltam-lhe elementos de vivência da prática profissional cotidiana do Assistente Social para que ele dê conta das questões que a profissão exige. Partindo do princípio que a nossa profissão tem natureza interventiva, ela é uma profissão de natureza interventiva, houve toda uma discussão histórica, se a gente fazia ou não ciência, se o Serviço Social produz ou não conhecimento, chega se ao final, depois da reconceituação, que a gente produz conhecimento sim, mas não é uma ciência, e que, portanto, é uma profissão que tem natureza interventiva. Ora, se ela tem natureza

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interventiva, você ter apenas a graduação, isso não lhe prepara, não lhe qualifica totalmente(...) mas eu acho que faltam elementos. Eu acho que seria necessário o docente ter a prática profissional. A outra questão, a prática docente é caracterizada como uma pratica profissional? Para mim, essa é uma questão muito polêmica, para mim não. A prática docente é uma pratica docente, uma pratica pedagógica por natureza. Nós somos filiados aos sindicatos dos professores, e aquilo que a gente exerce no cotidiano com os nossos alunos, que é para quem a gente direciona nossa pratica docente, não significa necessariamente a pratica profissional do Assistente Social (JOLINDA).

A professora Jolinda faz uma reflexão durante a discussão em grupo sobre a docência

em Serviço Social, elencando aspectos legais e práticos importantíssimos.

Portanto, entende-se que a formação do assistente social deve ocorrer:

Com base na análise do Serviço Social, historicamente construída e teoricamente fundada, é que se poderá discutir estratégias e técnicas de intervenção a partir de quatro questões fundamentais: o que fazer, por que fazer, como fazer e para quê fazer. Não se trata apenas da construção operacional do fazer (organização técnica do trabalho), mas, sobretudo, da dimensão intelectiva e ontológica do trabalho, considerando aquilo que é específico ao trabalho do Assistente Social em seu campo de intervenção (VEIGA, 1998, p.67-68).

Então tudo isso deve ser pensado antes da elaboração do projeto político-pedagógico,

que, segundo Veiga (1998), deve-se levar em conta a estrutura organizacional da escola,

geralmente dividindo-se em dois tipos básicos: a estrutura administrativa e a estrutura

pedagógica. A análise da estrutura organizacional da escola vai identificar quais estruturas são

valorizadas e por quem, verificando as relações funcionais entre elas. É preciso ficar claro que

a escola é uma organização orientada por finalidades, controlada e permeada pelas questões

do poder.

É importante saber como, quando e até onde vai a autonomia e liberdade de cada

membro participante do projeto político-pedagógico, levando-se em conta as questões

hierárquicas de poder, os limites, os conflitos, as fragilidades, as possibilidades e a realidade.

Conhecendo, portanto, todos estes aspectos, é necessário constar do PPP os conteúdos

curriculares.

Neste caso em debate, o curso de Serviço Social necessita de um currículo que

possibilite a formação do profissional que se almeja colocar no mercado de trabalho.

Na organização curricular é preciso considerar alguns pontos básicos. O primeiro é o de que o currículo não é um instrumento neutro. O currículo passa ideologia, e a escola precisa identificar e desvelar os componentes

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ideológicos do conhecimento escolar que a classe dominante utiliza para a manutenção de privilégios. A determinação do conhecimento escolar, portanto, implica uma análise interpretativa e crítica, tanto da cultura dominante, quanto da cultura popular. (...) O segundo ponto é o de que o currículo não pode ser separado do contexto social, uma vez que ele é historicamente situado e culturalmente determinado (VEIGA, 2007).

O terceiro ponto refere-se à forma de organização do currículo, lembrando que este

deve ser elaborado a partir de uma idéia integradora, as disciplinas colocadas de forma

interdisciplinar, evitando um conhecimento fragmentado.

O quarto ponto está relacionado ao controle social. Porém, esse controle não significa

um ato ou uma forma de coibir o pensamento na tentativa de manter a ordem societária. Esse

controle implica, contrariamente, a noção de emancipação, ou seja, controle social, esse

comprometido com os fins de liberdade que dêem ao estudante uma voz ativa e crítica.

A noção de controle social na teoria curricular crítica é mais um instrumento de contestação e resistência à ideologia veiculada por intermédio dos currículos (...). Orientar a organização curricular para fins emancipatórios implica, inicialmente, desvelar as visões simplificadas de sociedade, concebidas como um todo homogêneo, e de ser humano, como alguém que tende a aceitar papéis necessários à sua adaptação ao contexto em que vive. Controle social, na visão crítica, é uma contribuição e uma ajuda para a contestação e a resistência à ideologia veiculada por intermédio dos currículos escolares. (VEIGA, 2007).

Esse é o indivíduo que se deve formar. Esses são os pressupostos da educação básica.

Portanto, em relação ao aluno de Serviço Social, tem-se que pensar no reforço da formação

deste cidadão e na sua formação profissional, ou seja, formar um cidadão assistente social,

que conheça, vivencie e lute por processos de cidadania. É preciso se formar um cidadão

profissional com princípios de cidadania. E, ainda, capazes, críticos, competentes nas funções

que vier a exercer. Então nesse PPP implica uma busca por um projeto societário e um projeto

de profissão.

A organização escolar requer a construção de um projeto pedagógico que, elaborado

coletivamente, possibilite à escola cumprir sua função de instância socializadora do saber.

Partindo dessa perspectiva a responsabilidade dos profissionais da escola (professores ou

não) na tomada de decisões nortearão o projeto pedagógico. O acesso, a permanência e o

sucesso dos alunos, assim como o fracasso ou a exclusão escolar, podem ser resultantes,

dentre outros fatores, da direção tomada no processo de construção do projeto pedagógico.

Por isso, na fase de elaboração do PPP deve-se ter em mente um ponto básico, o

tempo. Tempo que se move, tempo que torna muitas coisas possíveis e outras impossíveis.

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50 Em relação ao PPP, o tempo escolar é fundamental, pois dele dependerá a execução desse

projeto. Ou seja, o calendário escolar irá direcionar a realização e o seu cumprimento, bem

como marcar e delimitar o início e o fim das tarefas escolares.

(...) quanto mais compartimentado for o tempo, mais hierarquizados e ritualizados serão as relações sociais, reduzindo também, as possibilidades de se institucionalizar o currículo integração que conduz a um ensino com extensão (VEIGA, 2007).

Isso significa que se deve tomar cuidado com sucessivos períodos breves dedicados às

disciplinas muito diferentes entre si, sem que haja uma seqüência lógica entre elas, sem que

haja tempo de discussão, de troca, de diálogo que possibilite o crescimento conduzindo o

aluno a uma busca continuada pelo conhecimento, extensivo ao espaço escolar.

Quanto a esse tempo, o mesmo deve garantir espaço para alterar a qualidade do

trabalho pedagógico estabelecendo períodos de estudo e reflexão docentes.

É preciso tempo para:

• que os docentes aprofundem seu conhecimento sobre os alunos e sobre o que estão

aprendendo;

• acompanhar e avaliar o PPP em ação;

• os estudantes organizarem e criarem seus espaços para além da sala de aula.

A fala de um dos sujeitos da pesquisa, a aluna Michele, durante a entrevista,

demonstra a importância da afirmação da autora quanto ao último item:

Eu me sinto assim, eu tive bastante conhecimento teórico, mas eu acho, mais por parte de projeto de pesquisa, que eu já fiz, extensão, estágio, de atividade de âmbito extra-classe, porque eu acho que se eu tivesse ficado só no dia a dia, assim lendo textos (...) em sala de aula(...)eu não teria amadurecido, eu acho. Essas atividades foram muito importantes pra formação, sabe. Mas é isso, o fundamental foi ter corrido atrás de outras coisas (MICHELE).

A aluna Afrânia também explicita:

(...) pra mim o que contribuiu mais foi eu entrar no projeto de pesquisa com a Olegna, que ela discute o projeto ético político, eu acho que isso contribuiu mais pra eu ter o conhecimento. (...) porque só a disciplina é o básico, e eu sinto que é muito complexo, tem umas discussões muito complexas que eu nem sabia, entrando no projeto da Olegna que eu fui saber, eu fui conhecer o LESSA, eu fui ler as discussões que ele faz, que ele é até contra algumas coisas, eu fui me aprofundando nessa discussão. (AFRÂNIA).

Fica evidente a necessidade de a escola oferecer outras oportunidades de momentos de

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51 aprendizado além da sala de aula. É necessário, também, que os alunos se disponham a

participar.

Um outro ponto importante na elaboração do PPP é o processo de decisão.

A mesma entende que todos os envolvidos na vida escolar, diretores, educadores e

alunos, devem ter o poder de decidir o que é melhor para a formação.

É importante reiterar que, quando se busca uma nova organização do trabalho pedagógico, está se considerando que as relações de trabalho, no interior da escola, deverão estar calcadas nas atitudes de solidariedade, de reciprocidade e de participação coletiva (...) (VEIGA, 2007).

Só assim será possível: quebrar a fragmentação do trabalho, a hierarquização do poder

e controle, romper com o pré-estabelecido, alcançando uma reflexão coletiva, na tentativa de

se articular práticas emancipatórias.

Um último ponto a ser proposto no PPP é a avaliação.

O PPP deve ser constantemente acompanhado e avaliado, pois só assim consegue-se

ter subsídios para o próprio projeto, analisando sua coerência e imprimindo uma direção às

atividades dos docentes e discentes, sendo sempre possível reformulações que proporcionem

um trabalho de qualidade com resultados ainda mais propositivos.

Para que esse projeto aconteça, é necessário que haja tempo hábil de reflexão do

cotidiano escolar para que consiga formular e pôr em prática suas ações e consolide, assim, as

propostas contidas no PPP.

Com essa afirmação compreende-se que esse projeto seja pensado e elaborado por

todos, por tratar-se de um espaço democrático, onde todos os envolvidos devem opinar e

decidir os rumos do processo ensino-aprendizagem daquela escola.

Em relação ao PPP, é importante ressaltar que ao montá-lo tem-se que ter em mente o

que o grupo concebe como: Escola, Conhecimento, Professor, Aluno e Avaliação, ou seja,

qual a concepção que se tem de cada um destes elementos, e só havendo uma comunhão de

todos os envolvidos no processo educacional em torno delas é que o mesmo poderá se validar.

No caso específico dos cursos de Serviço Social, o PPP, como já dito, deve seguir as

Diretrizes Curriculares. O problema é que:

A implementação das Diretrizes Curriculares esbarra justamente na construção dos projetos político-pedagógicos dos cursos. E este detalhe é que propicia a diferenciação entre os cursos e que devem ser considerados para a identidade dos mesmos. A elaboração do projeto pedagógico, até por uma exigência oficial, por ocasião do credenciamento/recredenciamento dos cursos interfere na

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avaliação do mesmo. Esta necessidade, porém, não deve ser confundida apenas como uma exigência oficial, mas como atitude intencional de planejamento das ações educativas para a formação do assistente social. (PINTO, 2007).

Ainda, ao se organizar o PPP tem-se que buscar qual concepção de educação deve ser

apropriada, pois para Paulo Freire:

Nesta concepção, o conhecimento não pode advir de um ato de "doação" que o educador faz ao educando, mas sim, um processo que se realiza no contato do homem com o mundo vivenciado, o qual não é estático, mas dinâmico e em transformação contínua. (...) Educar é construir, é libertar o homem do determinismo, passando a reconhecer o papel da História e onde a questão da identidade cultural, tanto em sua dimensão individual, como em relação à classe dos educandos, é essencial à prática pedagógica proposta. Sem respeitar essa identidade, sem autonomia, sem levar em conta as experiências vividas pelos educandos antes de chegar à escola, o processo será inoperante, somente meras palavras despidas de significação real. (...) Esta autonomia está presente na definição de vocação ontológica de ‘ser mais’ que está associada com a capacidade de transformar o mundo. É exatamente aí que o homem se diferencia do animal. Por viver num presente indiferenciado e por não perceber-se como um ser unitário distinto do mundo, o animal não tem história (Site: Paulo Freire e a Educação, 2007).

Deve-se entender também que o processo educacional se dá quando se tratam da

modelagem social, da produção e/ou reprodução de conhecimentos, condutas, hábitos e

valores tornando o aluno cidadão para intervir na sua história e na história da humanidade,

modificando a ordem societária.

O ato de educar pode se transformar numa relação de poder, pois o transmissor de um

conteúdo pode estabelecer uma divisão social, entre os que sabem e os que nada sabem. Para

que isso não ocorra há a necessidade de usar sua competência técnica, passando o conteúdo e

este sendo usado pelo indivíduo para se tornar um cidadão.

A escola deixa de ser o espaço onde o aluno apenas escuta as informações. Ela é o

espaço onde o aprendizado é construído de forma conjunta, e valorizando o conhecimento

trazido pelo aluno.

Quanto a isso merece destaque as falas das alunas, sujeitos desta pesquisa:

Eu sinto diferenças em alguns professores. Eu sinto que alguns estão mais presos ou mais ligados a metodologia mais tradicional, muito ligado à nota, à falta, à metodologia de prova(...) e eu vejo que outros apresentam uma dinâmica mais diferente, de colocar mais a discussão em sala de aula, de incentivar o aluno na aula, e não ficar só o professor falando.(...) Eu acho importante aula expositiva, mas alguns não proporcionam essa discussão que eu acho muito interessante, poucos proporcionam.(Afrânnia)

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Há professores que ensinam de forma tradicional, na perspectiva de ajustamento, no qual o professor deposita seus conhecimentos sobre o estudante, efetivam a educação bancária a qual Paulo Freire discute, e alguns ensinam de acordo com perspectiva de transformação, sendo as aulas realizadas através de debates, discussões, proporcionando ao estudante a reflexão (Fabiana). É complicado falar de como eles ensinam, depende de cada um. Há alguns que gosto bastante, que me fazem pensar, refletir sobre a prática profissional, no entanto há outros que pra mim não passam de exemplos a não serem seguidos, não pela didática ou coisa assim, mas pela postura enquanto profissional mesmo, o que eles demonstram em sala de aula (Christiane).

Este mesmo papel e o espaço tem se estendido às universidades, pois a preocupação é

se, realmente, elas estão cumprindo o papel de instigar o nível de consciência crítica e

política, preparando os alunos para a cidadania.

A educação deve ser um instrumento de integração entre os homens e um caminho que conduza a humanidade para o seu desenvolvimento. É através do conhecimento que os homens podem conhecer o seu passado, valorizar a sua história e criar uma identidade cultural, desenvolver habilidades, evoluir como pessoa, dentre outros aspectos. Mas para que a educação cumpra um papel de construção de sujeitos, é preciso antes de tudo conceber os agentes sociais como indivíduos capazes de modificar a sua realidade, transformá-la de acordo com as necessidades coletivas, para isso tendo uma visão crítica e autônoma da realidade circundante (PIMENTEL, 2007).

Assim sendo, de processo educacional pode-se chamar todo o movimento que ocorre

para que a educação se efetive e se consolide em sua totalidade. Como bem entende a aluna

Afrânnia:

Acho que foram poucas as vezes que as professoras proporcionaram discussões na sala. Mas eu sinto, que quando você fala, você expõe seu conhecimento, você sente(...) que você aprendeu, mas as vezes você lê, mas quando a professora pergunta, você não consegue explicar(...) acho que esse método de falar, da discussão, eu acho que contribui, mesmo o seminário também, eu acho que...

Então, segundo Pinto:

O processo educacional envolve, não apenas a transmissão para outro de conhecimentos e informações de alguém mais valores, conceitos, significados e finalidades que norteiam a vida em sociedade. Ao processo educacional deve estar articulado uma prática pedagógica, uma prática de ensino que propicie, ou melhor, desencadeie a formação profissional de sujeitos assistentes sociais. (...) Cabe ao educador compreender que o verdadeiro conhecimento é aquele que se interroga o tempo todo. Portanto, a missão do educador não é apenas a de ensinar lições, ao contrário, é colocar

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em dúvida as lições que ensina. Para isso, é preciso que ambos (educador e educando) aprendam e ensinem lições que nos ajudem a viver, a compreender a realidade, a transformar o mundo e contribuir para a construção de uma nova história.

O processo educacional, entendido sob esta ótica, direciona a conquista dos objetivos

propostos no PPP de cada curso e de cada Instituição Educacional. Como destaca

Pimentel(2006), a universidade que não se deseja é aquela que é meramente uma reprodutora

de conceitos; que não estimula o ensino crítico, e sim, uma absorção do maior número de

informações; que é alheia à sua realidade; o professor aparece como o dono da verdade, e o

que há é uma imposição de conhecimento. Ainda segundo ele, uma universidade sem pesquisa

não deve, rigorosamente, ser chamada de universidade. Já a universidade que queremos, seria

aquela em que as pessoas estão abertas à reflexão; onde os conhecimentos são

horizontalizados e avaliados, e não simplesmente deglutidos; que é eminentemente crítica;

que possua sujeitos comprometidos com a soberania do país; que luta por espaços de

liberdade.

Por alcançar esse objetivo, há necessidade de que todos os envolvidos no processo de

ensino-aprendizagem sejam partícipes na elaboração do Projeto Pedagógico da sua IES.

No caso do Serviço Social, além dos elementos já citados, as Diretrizes Curriculares

indicam algumas matérias básicas a serem ministradas aos alunos durante a formação na

graduação.

As matérias são expressões de áreas de conhecimento necessárias à formação profissional que se desdobram em: disciplinas, seminários temáticos, oficinas, laboratórios, atividades complementares e outros componentes curriculares (Caderno ABESS, p. 68).

As matérias básicas propostas pela ABEPSS são: Sociologia, Ciência Política,

Economia Política, Filosofia, Psicologia, Antropologia, Formação Sócio-histórica do Brasil,

Direito, Política Social, Acumulação Capitalista e Desigualdades Sociais, Fundamentos

Históricos, Teóricos e Metodológicos do Serviço Social, Processo de Trabalho do Serviço

Social, Administração e Planejamento em Serviço Social, Pesquisa em Serviço Social e Ética

Profissional.

Além dessas matérias, exige-se para a formação do assistente social, o estágio

supervisionado e a elaboração do TCC (Trabalho de Conclusão de Curso).

Ainda há algumas recomendações da ABEPSS que devem ser observadas:

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a) garantir carga horária mínima de 2.700 horas com duração média do curso de 4 anos, conforme o parecer 462/82 do CFE/MEC; b) garantir maior carga horária nas disciplinas de Serviço Social; c) Cursos diurno e noturno com o mesmo padrão de qualidade; d) até 5% da carga horária total dos currículos plenos deve ser destinada a atividades complementares podendo incluir monitoria, iniciação científica, pesquisa, extensão, seminários e outras atividades definidas no plano acadêmico do curso; e) estágio supervisionado constitui-se como momento privilegiado de aprendizado teórico-prático do trabalho profissional tendo como carga horária mínima de 15% da carga horária mínima do curso (2.700 horas) (p. 72).

Cabe aqui uma reflexão sobre o TCC e o estágio, levantados na pesquisa de campo:

Tem aluno que vai pro campo de estágio, tem uma aluna, ela foi pro campo de estágio e voltou falando, professora, eu vou às casas e as pessoas falam - olha dona eu sou daqui, eu moro aqui, mas eu não sou daqui – eu sou de outro lugar – eu moro aqui, mas eu não sou daqui. Então uma questão muito simples como essa a aluna percebeu a seguinte questão – o que leva o cara a não se sentir pertencente àquele espaço e como é duro viver sem se sentir pertencente ao dom do espaço. Mas como que você viu isso, perguntei pra ela. Não professora, eu estava lembrando do que você disse na aula, do exemplo que você deu do brejo e da cruz, e eles não se lembram mais que eles eram crianças e que comiam luz, e aí, eu fiquei pensando, será que eles se lembram do lugar de origem ou não, que lugar é esse, como que ele vai construir um projeto de vida se ele não tem nem noção de espaço (OLEGNA).

(...) o TCC sempre foi um momento muito traumático. Então a gente criou uma atividade, que agora o ano passado se tornou oficialmente uma disciplina, que é o seguinte, no primeiro mês enquanto o coordenador de TCC está coletando as informações, e fazendo a distribuição, e o aluno ainda não tem um orientador definitivo, a gente vai para a sala de aula, resgata alguns conteúdos de pesquisa, em particular a questão da metodologia e do projeto de pesquisa do TCC, tentando desmistificar um pouco aquele dragão, e passa um mês ajudando eles a definir as grandes coisas do projeto do TC: objeto, problema e objetivo. E depois, no segundo semestre, a gente volta pra fazer um seminário de TCC, que tem três objetivos, o de socializar na turma os TCCs que já se encaminharam, preparar o aluno para a banca, porque ele tem um momento de apresentação e depois o momento em que a turma e os professores que estão na sala, fazem contribuições para ele, então já faz esse treino, vamos dizer (SANDRA).

Com a fala dos sujeitos da pesquisa dá para perceber a importância do TCC e do

estágio para o aprendizado dos alunos e que estes são momentos de aprendizagem, tão quanto,

o ambiente de sala de aula.

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1.4.2 A Educação e a Formação do Assistente Social e a Consolidação do Projeto

Ético-Político do Serviço Social

(...) mas eu penso que não dá pra estudar o código de ética, ou estudar a formação da perspectiva do código de ética sem ter experiência profissional, muita experiência profissional, e muita formação teórica (Olegna).

A educação escolar, como consta da LDB, deve preparar seu aluno para ser um

trabalhador e para viver em sociedade.

Apesar de a educação não ser a única fonte de transformação radical da sociedade, mas

com certeza ocupa um papel importantíssimo no processo de transformação social.

Isso significa dizer que existem outros limites concretos refletidos pelas condições

sociais, econômicas, políticas, “enfim, limites infra-estruturais da própria sociedade: saúde,

moradia, alimentação, transporte, trabalho precoce das crianças, violência etc.” (VALE, 2001,

p. 67).

Esses fatores interferem na educação e ferem o homem na sua dignidade, porque o

mesmo vive um processo amplo de vulnerabilidade.

Frente a essa situação, cabe ao educador refletir sobre o tipo de educação que ele

deseja construir para formar cidadãos preparados para enfrentar a vida em sociedade. Quando

alcança isso, consegue interferir no campo social e educacional, demandando

comprometimento político, coragem e ousadia.

A finalidade principal da educação é o de preparar o aluno para o exercício da

cidadania e sua qualificação para o trabalho.

Além dos princípios educacionais que norteiam a LDB, a mesma coloca algumas

finalidades direcionadas à Educação Superior, as quais devem ser trabalhadas durante o

processo educacional:

I - estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo; II - formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua; III - incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando o desenvolvimento da ciência e da tecnologia e da criação e difusão da cultura, e, desse modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio em que vive;

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IV - promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicações ou de outras formas de comunicação; V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e profissional e possibilitar a correspondente concretização, integrando os conhecimentos que vão sendo adquiridos numa estrutura intelectual sistematizadora do conhecimento de cada geração; VI - estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular os nacionais e regionais, prestar serviços especializados à comunidade e estabelecer com esta uma relação de reciprocidade; VII - promover a extensão, aberta à participação da população, visando à difusão das conquistas e benefícios resultantes da criação cultural e da pesquisa científica e tecnológica geradas na instituição.

Visando a preparação para que o aluno exerça sua cidadania, ou seja, visando a

construção de uma melhor sociedade, portanto, a Educação e suas finalidades vinculam-se

referidas a um projeto societário.

Os projetos societários são projetos coletivos; mas seu traço peculiar reside no fato de se constituírem projetos macroscópicos, como propostas para o conjunto de sociedade. Só eles apresentam esta característica - os outros projetos coletivos, como os projetos profissionais, não têm esse nível de amplitude e inclusividade (NETTO, 2007, p. 142-143).

Dessa forma, compreende-se através de Netto, que projeto societário significa que a

sociedade, como um todo, deve lutar para construção de uma sociedade pautada em objetivos

sólidos e humanitários. Ou seja, é a partir da sociedade que se almeja que se propõem ações a

serem executadas para sua implantação.

Sobre isso, Braz (2004) esclarece que quando se fala em projeto, é importante que se

saiba que se trata de um plano de ação para realização de um ato. É a antecipação ideal da

finalidade que se quer alcançar, com objetivos e concretização de metas.

Um projeto, de acordo com Neto (2000), pode ser individual, coletivo ou societário,

ou seja, ele pode ser desenvolvido por uma pessoa, uma categoria ou um país.

O projeto societário, por sua vez, é aquele que apresenta a imagem de uma sociedade a

ser construída; uma sociedade ideal que se pretende alcançar, construir. Para que sua

construção seja viável, é preciso que haja adesão de grande parte da sociedade aos valores e

meios propostos pelo projeto, para que ele seja hegemônico. No Brasil o Projeto Societário

vigente é o neoliberalismo.

Segundo Braz (2004), o Projeto ético-político é um conjunto de valores e concepções

ético-políticas onde setores significativos da categoria dos assistentes sociais se expressam

tornando-o representativo e por vezes hegemônico. Vale citar que ele tem um núcleo e o

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58 reconhecimento da liberdade como valor central, um compromisso com a autonomia, a

emancipação e a plena expressão dos indivíduos sociais. É vinculado a um projeto societário

que se propõe a construção de uma nova ordem social sem denominação e/ou exploração de

classe, etnia e gênero. O Projeto afirma a defesa dos direitos humanos e a recusa ao arbítrio e

dos preconceitos levando em consideração o pluralismo tanto na sociedade como no exercício

profissional.

Vejamos a opinião de um dos sujeitos da pesquisa, professora de ética da UEL,

Eu acho muito difícil. Mas a primeira coisa que eu particularmente acho séria é o projeto ético político mesmo. Ele é um projeto em construção, não tem sido 100% um processo hegemônico, gostaria que fosse, mas não é. Eu acho que ele é hegemônico na academia, e é hegemônico ainda em alguns setores, embora eu seja professora de ética, aposte na possibilidade desse currículo, entenda como um diferencial na formação profissional, porque você tem que ter um norte, tem que se formar para uma coisa. Tem que ser Assistente Social, trabalhar voltado para uma determinada direção, acho que essa é a idéia do projeto ético político. Mas a forma como está sistematizado esse projeto, é difícil entender esse projeto ético político, as instâncias desse projeto político, as instâncias legais, código de ética, lei de regulamentação, diretrizes curriculares. Acho que o conjunto da categoria não tem noção dessa articulação entre esse três aspectos, eu acho que não tem noção da articulação entre todos os princípios do código de ética com o primeiro, relacionar competência profissional com aquela noção de verdade, naquela perspectiva ontológica, que supõe um entendimento filosófico, uma formação mais séria que as pessoas não tem. Então eu acho que ele é razoável, uma diretriz razoável, as pessoas sabem que tem. Eu diria com tranquilidade que a gente tem uma perspectiva critica, isso sim, eu acho que a possibilidade de construir uma formação profissional numa perspectiva critica existe, ponto. Mas não nos termos consolidados nesse projeto ético político. (...) acho possível porque eu acredito nisso. Mas é um campo de disputas políticas e nem quem está defendendo esse campo entende como é que é esse campo. É um campo de disputa política e muita gente que se coloca defendendo esse projeto ético-político e não tem a perspectiva de que a emancipação é a destruição dessa sociedade burguesa. Então eu acho tão sério, que você pega Marilda Yamamoto, por Exemplo, que fala o tempo todo dessa criticidade à sociedade burguesa e você não vê uma palavra de crítica a essa propriedade privada. Então é uma coisa complicada, não sei se eu estou um pouco negativista. É necessário, é importante, ele dá um norte, ele direciona, é fundamental, porém é um campo de disputa. E, mesmo os que estão defendendo essa postura, não tem muita clareza do que estão defendendo, é assim que eu vejo. Nós vivemos hoje, e isso é uma coisa que me preocupa muito, a formação profissional muito vinculada a uma perspectiva neoconservadora e pragmática. Acho que nós temos hoje na formação profissional uma preocupação com a competência, e é legal que tenha, mas não competência vinculada a esse projeto, mas a gente está correndo o risco de ter uma competência pragmática, neoconservadora, tecnicista. Eu vejo isso porque o mercado exige essa habilidade, exige essa competência, esse trânsito entre essa competência e uma direção ética e política. Eu acho que a gente está bem longe disso, é muito doido isso pra mim, mas o neoconservadorismo ou o conservadorismo nos ronda

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cotidianamente.(...) Mas Jô deixa eu te falar uma coisa, como uma estudiosa de ética, é uma coisa que eu penso. Mesmo os profissionais de caráter liberal, sequer conhecem o código de ética de sua profissão, então não vejo que diferencial maior há nisso. Por exemplo, um advogado, ele é um profissional liberal, tem um código de ética, mas ele nem lembra que tem aquele código de ética, nesse aspecto nós estamos na frente das outras profissões, porque nós conhecemos o nosso código, buscamos, nos questionamos, o Assistente Social, o Serviço Social é uma profissão que se questiona, se revê, vê se está no caminho, está o tempo todo se buscando, muito mais do que as outras profissões de caráter liberal que tem os seus códigos de ética e nem lembram que existe. O que eu penso é que esse código de ética nosso, a forma como ela está estruturado, redondinha, é fundamental, mas é ininteligível em alguns aspectos, por exemplo, a relação entre a perspectiva de liberdade fundada no marxismo, aquela liberdade que não é liberdade individual, é liberdade de gênero humano, essa perspectiva de liberdade de gênero humano vinculada a direitos, a viabilização de direitos, que nasce no formato de estado capitalista, é uma vinculação dicotômica, que parece, (...) eu diria esquizofrênica, (...) mas é possível fazer a articulação da forma como ele foi pensado, que seria o ideal. Por exemplo, trabalhar nessa perspectiva de direitos e de universalidade, porque o código ele tem uma estrutura assim, ele joga o princípio de liberdade que te da um horizonte de uma outra perspectiva, que é a criticidade da nossa profissão, ai ele tem cinco princípios universalistas, fincados no ideário da igualdade, que é direitos humanos, o segundo, direito a cidadania, o terceiro, o quarto ainda uma extensão ao direito e cidadania, porque ele fala de universalidade e equidade, e todos fundados no ideário de igualdade. Aí você tem o combate ao preconceito, e o respeito às diversidades fundados no mesmo ideário de igualdade, e tem o três vinculados à formação profissional, à competência, uma opção por um projeto profissional. Então, pra mim ele tem essa estrutura, entender essa estrutura, como essa estrutura se articula, e como lá dentro os deveres e direitos se articulam à essa primeira base, eu acho que isso é um movimento teórico difícil e é um movimento, que não da pra fazer. E aí eu posso estar absolutamente fora do ar ou sei lá o que, mas eu penso que não dá pra estudar o código de ética, ou estudar a formação na perspectiva do código de ética sem ter experiência profissional, muita experiência profissional, e muita formação teórica. (OLEGNA).

Os princípios do Serviço Social colocados no código de ética, e os do projeto

societário podem ser identificados em vários documentos: Código de Ética(1993), Lei de

Regulamentação da Profissão(1993), Diretrizes Curriculares da ABEPSS(1996). Além destes,

também existem outras leis na área social como, por exemplo, o ECA(1990), LOAS(1993),

LOS(1990), SUS(1990), SUAS(2004), PNAS(2004), SINASE(2006), PNCFC(2006), entre

outros. Todos têm imbricado um projeto da sociedade que se busca.

Em relação a esse projeto ético-político e seu vínculo com o projeto societário

desencadeou um interessante debate entre as professoras participantes do grupo de discussão:

Marilda tem uma contribuição imensa para a nossa profissão, eu sou fã de carteirinha dela, fui aluna dela, ela tem uma contribuição na virada de eixo do Serviço Social. Mas ela, em nenhum momento das Relações Sociais e

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Serviço Social, onde ela vai em Gramsci, ela não toca na propriedade privada, ninguém toca, Faleiros, Marilda, então todo mundo fala da critica a sociedade burguesa, de uma outra perspectiva, mas ninguém põe a mão na idolatrada propriedade privada, então...(OLEGNA).

Mas eu concordo, eu acho que é isso mesmo, porque na verdade nós não estamos aqui para questionar a propriedade privada, entendeu, não é isso... (JOLINDA). Não, então como que a gente fala de uma perspectiva crítica (OLEGNA).

Então joga isso no código de ética e vira dicotomia. (JOLINDA).

O código de ética tem complicações, tem incoerências internas, ele joga para um ideário que é complicado para as pessoas, para os reles mortais, entender o que é a ontologia do Serviço Social, por quê? Porque ele faz um distanciamento, ele ainda é uma expressão do que a gente viveu nas décadas anteriores, de uma dicotomia da academia e o resto, e quem tá, entre aspas, na prática. Isso que você tá colocando Jô, tem a ver com isso no seguinte sentido, o que eu acho que é complicado é que essa formação, vinda de um ponto de vista mais crítico, dessa forma que a Olegna tá falando, é muito complicado para o aluno durante a formação profissional introjetar e compartilhar, porque essa formação profissional tem fragilidades, mas acima de tudo, ele tem uma pressão do que a gente vive. Essa pressão não está neles, essa pressão está em nós, quando um de nós se diz crítico, mas na hora, no dia a dia, da gente enquanto individuo, nós estamos reproduzindo, estamos agindo e reproduzindo o ideário.Ideais conservadores, porque que a gente não tem como fazer, de ser de outro modo, porque é nesse mundo que a gente vive. Então eu entendo que o X da questão é outro. Como é que a formação profissional pode reforçar ou trabalhar essa idéia do código de ética, porque para ele entender a estrutura, ele não precisa entender todo o código de ética, ele precisa entender que perspectiva teórica é essa que esse código está pregando e assimilar essa perspectiva, e ai você tem um programa muito sério, que é o eixo História, Teoria e Método. (SANDRA)

Eu penso assim, essa questão da forma como você falou da possibilidade de formação de acordo com o que pede o código de ética, é possível? É possível, porém, muito complicado, então assim, eu não quero dizer que não seja possível, se não eu estaria sendo contra tudo que eu acredito. (OLEGNA) Eu já penso que é muito possível ensinar isso. (ANDREA)

Ensinar! (OLEGNA)

O problema é a pessoa, o Assistente Social chega numa instituição que é contraria a todos esses elementos, e se vê ali. (...)o que eu tenho dito para os estudantes, que nós temos que defender o projeto sempre, porque ele é uma conquista e quando você fala do neoconservadorismo, existe o neo e existe o conservador, que nunca foi superado. Então a gente tem que defender o projeto. E eu usei muitas vezes o principio do código de ética lá, trabalhando na FEBEM, e dizendo minha profissão tem esses princípios, tem esse, tem aquele, pra defender ali, garantir alguns direitos, ir contra a violência. Sempre usei na prefeitura, mas ai é que é o desafio nosso, é mostrar que é possível mesmo numa uma instituição toda enrijecida. Então um desafio de,

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fragmentadamente, ensinar os princípios, o marxismo, a prática. Se o estudante lê, estuda ‘pra caramba’, tem compromisso, ele vai entender. Agora a mediação, como o projeto ético político pode fazer sentido lá no CRAS do bairro, aí é o desafio.Na verdade o que eu queria dizer pra responder a Jô era isso, porque a questão não é se ele está aí pra derrubar a propriedade privada, não está para isso mesmo. Ele é um trabalhador, agora eu acho que ele não tem a obrigação da formação profissional. Se ele tem o domínio de verdade dessa perspectiva, o que significa, se ele tem o domínio de verdade do método, ele não vai chegar lá na instituição X, que é extremamente limitadora e se sentir perdido e dizer assim: “bom, já que agora eu estou aqui, eu preciso desse salário, então tudo bem”. Não, ele vai conseguir ler o que ele está fazendo, vai saber exatamente qual o seu papel e saber o que ele pode fazer ou não fazer dentro dos limites de uma profissão. (SANDRA)

É o que eu disse, a perspectiva crítica você garante, agora... (OLEGNA)

Não. A possibilidade do aluno, possibilidade do profissional ter uma prática mais próxima dos princípios do código de ética está na formação profissional quando a gente instrumentaliza ele através do método, se não, não acontece isso, ele vai chegar e falar “quando eu era aluno tudo bem, agora que eu sou profissional eu não posso, se não, vou perder o meu emprego” (SANDRA)

Não, mas não é bem isso que eu falei Sandra, não é por ai. É a inserção dele, ele tem uma inserção pela via do assalariamento, então o que eu estava discutindo é um pouco mais atrás disso, não necessariamente que ele vá fazer a opção por, brigar pelos princípios, não, não é isso. Eu estou dizendo que existe uma questão complicada que está entre as duas formas de você considerar ou conceber ou ver a profissão, uma você vê, você pode ditar as normas, as regras e dizer é isso que nós vamos fazer, e outra que está limitada pelas condições de trabalho do Assistente Social (JOLINDA)

Mas o método, em qualquer local de ocupação em qualquer, o método vai salvar? (ANDREA) Vai. (SADRA)

Eu não consigo ver o método tão instrumental assim, inclusive tem que aparecer aqui que método é esse. Nós sabemos, mas, ‘né’. (ANDREA)

Eu to falando do método mesmo, do método marxiano, é isso que eu estou falando, na medida em que você tem, que ele lhe possibilita uma leitura dessa realidade não só técnica, mas política, portanto ele te permite uma leitura de alternativas, ele te instrumentaliza. Ele não é um método pra você... (SANDRA)

Vai querer dizer que ele vai garantir que aquele profissional tenha uma ação mais... (ANDREA)

Mais consistente, e, portanto mais competente, eu acredito. (SANDRA)

Sandra uma vez o Zé Paulo me disse uma coisa, já lá pelas tantas, acho que numa, um dia assim, não lembro exatamente em que circunstancias, mas que me fez pensar muito, ele disse assim: “Olegna, cuidado, não fique sonhando, não existe a possibilidade de um Serviço Social Marxista como você sonha”.

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(OLEGNA)

Mas não foi isso que eu falei. (SANDRA) Eu sei que não foi disso. Mas eu acho que esse é um parâmetro, se a gente pensar essa questão também, que uma coisa é a gente conseguir formar, como a Andréa coloca, dentro de uma perspectiva crítica, ponto. (OLEGNA) Que envolve método. (SANDRA)

Que envolve método, mas envolve muito mais que o método Sandra, não é só o método. (OLEGNA) (...) O compromisso com cidadania, com igualdade, você não esta fazendo nada além do que garantir o direito do sujeito, quando você vai instrumentalizá-lo para que ele tenha acesso aos direitos que são constitucionais. (JOLINDA)

Agora, que cidadania e que direitos? (OLEGNA)

O que é pregado pelo estado democrático de direitos, que é a pilastra das políticas sociais. (JOLINDA)

O diálogo dos sujeitos no grupo focal, apresentada acima, foi longa mas rica,

contribuindo com o assunto pesquisado teóricamente.

As bases que contornam o Projeto Ético-Político podem ser situadas em três

dimensões: a dimensão teórica, jurídica e político-organizativa.

O aspecto político desse projeto posiciona-se em favor da equidade e justiça social; a

universalização do acesso de bens e serviços relativos a políticas sociais; ampliação e

consolidação da cidadania como condição para a garantia de direitos civis, políticos e sociais

das classes trabalhadoras.

Existe um grande antagonismo entre o Projeto Político do Serviço Social e o Projeto

Societário vigente no Brasil, pois o projeto de profissão é que se lute em prol do alcance da

igualdade, direito a ter direitos iguais a qualquer coisa. Então aqui entram os direitos

humanos, direitos de ter uma boa moradia, trabalho e salário digno e justo, suficiente para

sustentar a família, a ter uma vida digna e de qualidade. Mas, o neoliberalismo, fato

confirmado pelas políticas dos governos, onde o projeto neoliberal promove a liquidação dos

direitos sociais, a privatização do Estado, a desnacionalização da economia, o desemprego, a

desproteção social e a centralização de riquezas, ou seja, formou-se um ambiente político-

econômico favorável ao capital financeiro, concentrando a riqueza nas mãos dos capitalistas

rentistas levou a um aprisionamento do Estado brasileiro pelo capital financeiro.

Mesmo com a troca de governos (FHC para LULA), continua-se a presenciar o

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63 desmonte da nação, onde o Estado brasileiro não tem um desenvolvimento, limitando-se

apenas a salários, alguns gastos de custeio, contas de juros altíssimos que consomem boa

parte do que se produz no país, além dos investimentos irrisórios nas políticas públicas. O

acirramento destas políticas neoliberais trouxe situações como a degradação salarial,

flexibilização das formas de contrato de trabalho, as más condições onde eles acontecem, e o

desemprego, que tende a aumentar. Todos esses elementos juntos implicarão em grandes

dificuldades ao exercício profissional do assistente social, principalmente no que diz respeito

aos fundamentos éticos consagrados no atual Código de Ética.

Com a redução da responsabilidade do Estado com relação às políticas públicas e às

restrições orçamentárias, a dimensão teórica enfrenta dificuldades quanto aos financiamentos

públicos de pesquisa, o abandono das universidades públicas, devido à degradação das

condições de trabalho dos docentes, atingindo as bases acadêmicas, as quais implicam na

formação e qualificação dos discentes.

Na dimensão jurídico-política, responsável pelo aparato legal, podem ocorrer duas

ordens de problemas: a alteração no sentido de flexibilizar as relações trabalhistas e

desrregulamentar a profissão que até então era regulamentada por uma lei que dava proteção

legítima; e o desenvolvimento do trinômio degradação/mercantilização/privatização do

aparato público estatal e a consequente retirada de direitos sociais.

Em relação à dimensão político-organizativa, vale dizer que as características

antidemocráticas afetam diretamente os trabalhadores, no que diz respeito ao não

questionamento dos seus direitos. Isso significa que as entidades representativas do Serviço

Social continuarão a enfrentar as dificuldades sociais impostas pelo sistema neoliberal, pois as

atuais condições fortalecem o individualismo e não as ações coletivas.

Então, quando o alvo é a formação profissional, entende-se que seja necessário

direcionar a graduação para a formação de um profissional comprometido com esse projeto

societário que o Serviço Social prega, e isso só acontece a partir do momento em que o

profissional incorpora o projeto ético-político profissional.

O projeto profissional é construído por um sujeito coletivo, ou seja, por uma

respectiva categoria profissional.

No caso do Serviço Social, tal projeto foi construído pela categoria, através do

conjunto de profissionais representados pelo sistema CFESS/CRESS, ABEPSS, a ENESSO,

os sindicatos e demais associações dos assistentes sociais.

No sentido de regular as ações operativas da profissão, cabem às entidades

representativas dessas profissões, por determinação estatutária, a elaboração de um código de

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64 ética profissional.

No caso do Serviço Social tem-se buscado com os códigos de éticas a intenção de

ruptura, buscando uma ação libertária e restauradora.

A professora Olegna, que leciona a disciplina de Ética na UEL, descreve o programa

da disciplina:

Dentro do meu programa eu trabalho com a noção do sujeito ético, a relação entre esse sujeito e a vida da cidade, e aí eu faço um mapeamento, primeiro histórico de como se vê esse sujeito nessa cidade a partir do ethos, como é que nasce o ethos numa determinada cidade, como isso é pensado, como isso é refletido e como é que isso existe. Então eu vou da Grécia até o Séc. VXIII. Claro eu pego só algumas expoentes, mas eu faço esse caminho. Então eu vou Sócrates, Platão e Aristóteles, aí eu pego uma das perspectivas subjetivistas que acontece quando Aristóteles morre, que é historicismo, epicurismo, fectismo, pego só o historicismo, que eu penso que é uma coisa de conformar-se com pré-destinação, uma coisa muito presente, então eu trabalho isso. Depois eu falo sobre a ética cristã, a noção do sujeito com Deus e depois Deus para cidade, da interioridade da ética cristã e aí a desconstrução dessa interioridade no Renascimento até chegar o Séc. XVIII e aí o Capitalismo, Niilismo, a noção de homem, sujeito, de conquista e a centralidade da ética passa a ser a liberdade. Então eu faço todo esse caminho no primeiro semestre. No segundo a gente dá centralidade da ética na liberdade, no sujeito, aí eu entro com a crítica marxista, código de ética, aí a gente passa todos os códigos de ética vinculando esses códigos aos conteúdos do primeiro bimestre.O primeiro código de 48, centrado no bem e no mal, idealista, cristão. Aí eu retomo o conteúdo anterior, e vou indo assim, pegando os códigos e fazendo uma analogia. (OLEGNA)

O primeiro Código de Ética do assistente social foi elaborado em 1947, aprovado em

1948 e revisado em 1965. Em 1975 houve uma nova reformulação, sempre sofrendo

influência do neo-tomismo e do funcionalismo, sempre recebendo a influência da doutrina

social da igreja.

O Código de 1986 foi elaborado durante 3 anos a partir de discussões realizadas nos

estados, por meios dos conselhos regionais e sindicatos, sendo finalmente homologado pelo

CFESS.

Este código foi gestado dentro de um contexto amplo de revisão de valores (...). Nasceu a partir de um movimento que se contrapunha ao conservadorismo e tentava resgatar um espaço social para os atores que se articulavam em busca da redemocratização (SILVA, 2004, p. 141).

A partir da década de 70, o paradigma da neutralidade começa a ser questionado e

passa-se a direcionar o olhar para a dimensão política da prática profissional. Era preciso

então buscar a renovação do Serviço Social. Assim surgem propostas para isso, ou seja, a

intenção de ruptura, que se articula a projetos sociais de transformação social mais geral, e nas

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65 universidades ocorria o processo de revisão do currículo.

Com a fala da professora Jolinda ficam claros os motivos que levaram o Serviço

Social a buscar alterações nas diretrizes do currículo de ensino.

Partindo do princípio que a nossa profissão tem natureza interventiva, houve toda uma discussão histórica, se a gente fazia ou não ciência, se o serviço social produz ou não conhecimento, chega se ao final, depois da reconceituação, que a gente produz conhecimento sim, mas não é uma ciência, e que, portanto, é uma profissão que tem natureza interventiva (JOLINDA).

Ainda, nessa década, é expressivo o número de publicações sobre o Serviço Social,

cujo papel fundamental teve a Cortez Editora.

A PUC/SP também tem papel relevante devido ao curso de mestrado implantado nesta

década e de onde se originavam as publicações.

Outro avanço se deu no âmbito dos próprios conselhos regionais que passam a buscar

uma democratização interna.

Assim todo esse contexto de renovação teve seu rebatimento naquilo que está chamando de uma nova moral profissional e de uma nova ética no interior do serviço social, a qual aponta para o compromisso com as classes trabalhadoras, tendo aí, então, dois sujeitos fundamentais: de um lado as unidades de ensino, de outro, as entidades da categoria (Silva, 2004, p. 142).

O Código de Ética de 1986 torna o Assistente Social, além de executor das políticas

sociais, mais participante dos espaços de decisão das instituições. Além disso, a partir dele, o

usuário ganha a possibilidade de denunciar a prática profissional quando a mesma contraria o

Código de Ética.

Mesmo com essas conquistas, esse Código ainda precisava ser reformulado,

principalmente, porque no processo de formação do assistente social, a ética, enquanto

disciplina, ocupava um lugar secundário no currículo escolar, porque como sendo obrigatória

dentro do currículo mínimo, ela passa a ser oferecida com descaso, vista como menos

importante, e a assumiam professores despreparados. A ética não se reduz ao Código,

expresso em cláusulas e artigos, mas está sujeito à apreciação da sociedade, indivíduo.

Com essa afirmação entende-se que a ética profissional, enquanto ética social e

instrumento legal, não é apropriada por todos os assistentes sociais.

Ainda, destaca-se no Código de 1986 a necessidade de compromisso profissional,

democratização das informações aos usuários, criar espaços de participação dos mesmos nos

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66 programas e decisões institucionais e abre a possibilidade de denúncias de qualquer tipo de

falha institucional.

Com isso há a necessidade de um novo perfil profissional, não se esquecendo então de

que a formação deve estar pautada em elementos que alcancem esse perfil.

Mesmo diante dessas inovações, esse código vinha se mostrando ineficaz, pois era

permeado por limitações teórico-filosóficas e por frágeis operacionalizações no cotidiano

profissional.

Essa nova revisão já se fazia urgente, sendo sua necessidade indicada em alguns

eventos da categoria, como o Seminário Nacional de Ética (1991), Encontros Estaduais, XX

Encontro Nacional CFESS/CRESS (1992). Buscava-se a articulação entre as normas e

aspectos legais de um código com a prática do assistente social, e a opção por um projeto

social e de um claro projeto profissional.

Esse projeto direciona-se então na busca pela

(...) viabilização dos direitos sociais, o A.S. se depara no seu dia a dia com a questão da cidadania. Assumir essa categoria como um valor central requer que se atribuísse a ela uma qualificação precisa, a partir dos processos históricos concretos, buscando a superação de seus limites enquanto referência civil e política do pensamento liberal (SILVA, 2004, p. 169).

Entende-se assim que o 7º. CBAS foi fundamental para a reformulação do Código de

Ética, pois nele foram feitas propostas das quais sugeria um projeto profissional voltado para

a construção de uma nova sociedade de base igualitária e democrática, e coloca a necessidade

do compromisso como a liberdade, entendendo-a como “como valor básico da moralidade”.

Em termos éticos, essa proposta, legitimada no 7º. CBAS, compromete-se com a liberdade, entendo-a como valor básico da moralidade fundada no preconceito, no autoritarismo, na violência, no desrespeito às constituições legítimas e aos direitos humanos (SILVA,2004, p. 170).

O Código de 1986 representa um marco da ruptura ética e ideo-política do Serviço

Social com a perspectiva do neo-tomismo e também com o funcionalismo, influências

tradicionais do Serviço Social até então. Mas, também, mostrou-se insuficiente do ponto de

vista teórico e filosófico, além de ter-se mostrado frágil quanto à sua operacionalização no

cotidiano profissional.

Então, o Código de 1993,

(...) em primeiro lugar no sentido de qualificá-lo como referência ético-política, foi necessário delimitar com clareza os valores e compromissos

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éticos e profissionais. Afinal de contas ‘só com valores nos tornamos capazes de prometer. De prometer e cumprir’. Dessa maneira, o conteúdo dos princípios indica um conjunto de valores fundamentais, os quais perpassam, por sua vez, enquanto motivação e exigência ético-política, todo o código. Em segundo lugar procurou-se, com o intuito de aprimorar e salientar sua dimensão normativa, estabelecer um elenco de regras jurídico-legais (PAIVA e SALES, p. 180).

O Código de Ética Profissional de 1993, sendo este publicado através da Resolução do

CFESS nº. 273, de 13 de março de 1993, inicia com a apresentação de seus princípios

fundamentais. Em seu Título I apresenta as Competências do CFESS, direcionando suas ações

as quais devem observar o cumprimento dos princípios fundamentais, fiscalizarem os

Conselhos Regionais, a prática do assistente social e das instituições e organizações na área de

Serviço Social. Este Título ainda lhe permite alterações neste Código, desde que haja a

participação da categoria, e estabelece seu funcionamento como Tribunal Superior de Ética

Profissional. O Título II trata dos direitos e das responsabilidades gerais do assistente social,

sendo que aqui aparecerão os direitos, os deveres e o que é proibido ao assistente social no

exercício profissional. O Título III trata das relações do assistente social com o usuário, com

as instituições empregadoras, com outros assistentes sociais e outros profissionais, das suas

relações com entidades da categoria e demais organizações da sociedade civil. Trata também

do sigilo profissional e das relações do A.S. com a justiça.

Já o Título IV trata das infrações e penalidades que o assistente social pode sofrer ao

descumprir o Código de Ética Profissional.

Sobre esse Código, Yasbek afirma que:

Os indiscutíveis avanços desse Código de Ética, que além dos princípios éticos fundamentais apresenta os direitos, deveres e impedimentos ético-legais do trabalho do assistente social, expressam o acúmulo do debate profissional dos últimos vinte anos do Serviço Social brasileiro (2004, p. 27).

A conquista desse Código de Ética Profissional não aconteceu de forma inesperada e

mágica. Foram anos e anos de discussão entre o conjunto CFESS/CRESS e uma discussão de

toda categoria profissional, que conseguem através de muito estudo e pesquisa traçar um

direcionamento para que o novo Código trouxesse como ponto central a implementação de

um novo projeto ético-político profissional.

Ainda em 1993, alguns pontos pareciam ser melhorados, e por isso a profissão passa

por uma regulamentação através da criação da Lei 8.662, de 7 de junho de 1993. Sobre essa

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68 Lei de Regulamentação da Profissão, o CRESS do Rio de Janeiro explica que essa lei, entre

muitas modificações:

(...) assegurou objetivamente competências e atribuições privativas do assistente social e alterou a denominação dos órgãos de fiscalização do exercício profissional, sendo que o CFAS (Conselho Federal de Assistentes Sociais) passou a ser CFESS (Conselho Federal de Serviço Social) e o CRAS (Conselhos Regionais de Assistentes Sociais) passou a ser então CRESS (Conselhos Regionais de Serviço Social), constituindo-os em seu conjunto, uma entidade com personalidade jurídica e forma federativa, com objetivo básico de disciplinar e defender o exercício da profissão do assistente social. ( CRESS-RJ, 2000, p. 30).

Essa lei foi resultado de um amplo processo de debate e discussão dos assistentes

sociais brasileiros e institucionalizou o espaço democrático de deliberação coletiva sobre os

problemas que envolvem a profissão. Passa então a ser um complemento do Código de Ética

de 1993 e não dá para ver um separado do outro, ou para não considerar essa lei como parte

do Código. Ambos se complementam e direcionam as ações do assistente social onde quer

que exerça a profissão. Conhecer essas leis é fundamental para que o assistente social tenha

uma atuação ética.

Com tudo isso, em 1996 é formulado um novo projeto de formação profissional

culminando então em novas alterações na grade curricular do curso de graduação do Serviço

Social, direcionando-as para a implantação do novo projeto ético-político-profissional.

Diante de tantas mudanças que o Serviço Social sofreu no decorrer de sua história,

vale lembrar que para compreendê-las é preciso conhecê-las e também é necessário que o

profissional reveja seus conceitos.

As mudanças sofridas pela profissão constituíram importantíssimos sinais para a busca

do novo projeto ético-político-profissional, pois sem conhecer sua história, mais difícil ficam

as mudanças.

A ética profissional, primeiramente, baseia-se em princípios teóricos, filosóficos e

metodológicos e também num Código, que é fundamental para qualquer profissão.

Eu acho que aí entramos em uma questão de fundo, que é a natureza da nossa profissão. Então de novo, se for pensar na natureza da profissão, ela é uma profissão considerada liberal, mas de fato nossa inserção no campo de trabalho, ela se dá como condição hoje, na maioria, de trabalhadores. Nós temos uma inserção por via dos concursos públicos, por via do assalariamento e não são características da condição de status liberal. O projeto ético político e o código de ética eles são características de profissões que tem o status de profissão liberal, então eu acho que ai que está a dicotomia, ai é que está uma questão de fundo, eu acredito que isso interfira,

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então a coisa é como os Assistentes Sociais vêem a profissão, como é que eles vêem a profissão, eles vêem a profissão, embora como profissionais, que definem estatutos, regimentos, códigos, atribuições e, por outro lado, somos inseridos no mercado de trabalho de uma forma que não é determinada pelo próprio profissional, eu acho que esta questão é uma questão que tem que ser pensada. (JOLINDA)

A ética profissional está relacionada à moralidade profissional, ou seja, o profissional

tem à sua disposição um conjunto de normas e princípios que expressam as escolhas

axiológicas e funcionam como parâmetros orientadores das relações entre a profissão e a

sociedade.

Não parece ser descabido sugerir que tudo aquilo que o Código de 1993 representa está longe de significar uma hegemonia indiscutível. Assim entenderemos que se ampliaram as bases para uma reflexão que, situada na sua perspectiva crítica, possibilita o enfrentamento de dilemas e opções, em face dos quais as polêmicas continuarão em aberto, determinando ou não a reatualização da hegemonia conquistada. Porém se os valores eticamente legitimados expressam conquistas sócio-históricas essenciais, sua permanência ou ‘perda’ é sempre relativa e não depende somente da categoria profissional, mas do conjunto das forças sociais democrático-populares. Sendo assim, a hegemonia que este Código sinaliza vincula-se à sua capacidade teórico-prática de responder positivamente a tais desafios; com isso a ética – componente básico, mas não exclusivo, de um projeto profissional – terá contribuído para concretizar a superação do histórico conservadorismo do Serviço Social. (BARROCO, 2001, p. 207-208).

Sobre isso Fernandes cita que:

Assim, fruto da renovação da profissão, na sua face progressista, o Código de Ética deve ser compreendido para além da sua função normatizadora e fiscalizadora da qualidade dos serviços prestados à sociedade, que são essenciais, mas com a mesma relevância há que apreender a sua centralidade: a defesa pela ampliação dos direitos e a explicitação pela vinculação a um projeto ético-político-profissional de sociedade, pautados como valores fundantes na liberdade, exigindo a sua concretização à realização dos princípios (...) (2004, p. 117).

Desta forma, o projeto profissional está vinculado a um projeto societário, que se

propõe a construir uma nova ordem social, baseada em alguns princípios:

1) Reconhecimento da liberdade como valor ético central e das demandas políticas a ela inerentes - autonomia, emancipação e plena expansão dos indivíduos sociais; 2) Defesa intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e do autoritarismo; 3) Ampliação e consolidação da cidadania, considerada tarefa primordial de toda a sociedade, com vistas a garantia dos direitos civis sociais e

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políticos das classes trabalhadoras; 4) Defesa do aprofundamento da democracia, enquanto socialização da participação política e da riqueza socialmente produzida; 5) Posicionamento em favor da equidade e justiça social, que assegure universalidade de acesso aos bens e serviços relativos aos programas e políticas sociais, bem como sua gestão democrática; 6) Empenho na eliminação de todas as formas de preconceito, incentivando o respeito à diversidade, à participação de grupos socialmente discriminados e à discussão das diferenças; 7) Garantia do pluralismo, através do respeito às correntes profissionais democráticas existentes e suas expressões teóricas, e compromisso com o constante aprimoramento intelectual; 8) Opção por um projeto profissional vinculado ao processo de construção de uma nova ordem societária, sem dominação-exploração de classe, etnia e gênero; 9) Articulação com os movimentos de outras categorias profissionais que partilhem dos princípios deste Código e com a luta geral dos trabalhadores; 10) Compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população e com o aprimoramento intelectual, na perspectiva da competência profissional; 11) Exercício do Serviço Social sem ser discriminado, nem discriminar, pó questões de inserção de classe social, gênero, etnia, religião, nacionalidade, opção sexual, idade e condição física.

A professora de Ética da UEL trabalha os princípios da seguinte maneira:

(...) eu vejo os alunos quando eles começam o curso, nas primeiras aulas eles vão ficando assim maravilhados com a descoberta do que é ética,(...) eu venho trabalhando perspectivas diferentes de entender a ética e quando eu estou trabalhando com as perspectivas idealistas, eles vão tranqüilos, mas quando eu mudo a rota para trabalhar a ética numa perspectiva materialista crítica, com uma outra proposta, com uma outra concepção de homem, que daí não é uma concepção essencialista, eles ficam com aquelas carinhas de espanto, desconfortados, é como se tivesse causado um desconforto(...) e eu percebo que eles tentam acomodar as duas perspectivas, acomodar essa perspectiva crítica a uma perspectiva essencialista cristã que a maioria tem.(...)Então eu sinto que eles lidam o tempo todo tencionando princípios, eu percebo eles amadurecendo(...) mas vão, caminhando, caminhando, e é muito gostoso ver o aluno descobrindo uma outra forma de refletir sobre as escolhas, sobre a liberdade, sobre os valores, esse é o trabalho que eu faço no primeiro semestre. O segundo semestre é bem mais tranqüilo, porque o segundo semestre eu centro no Serviço Social, nos princípios, vinculo os princípios aos direitos e aos deveres, e ai eu vou trabalhando tudo com exemplo, ai eu dou um texto básico de fundamentação teórica, e trabalho muito com exemplos a partir do texto, ai eles gostam muito, é uma coisa mais tranqüila, é outra proposta (...) (OLEGNA).

Desta forma, o professor como profissional, deve exercer a educação como práxis, ou

seja, deve exercer uma prática transformadora. Transformar o aluno em um profissional, que

por sua vez tenha em sua formação elementos para também exercer essa mesma prática no

cotidiano profissional, e, além disso, desencadeando reflexões com a finalidade de

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71 apropriação dos princípios éticos do código.

Do ponto de vista estritamente profissional, o projeto implica o compromisso com a competência que só pode ter como base o aperfeiçoamento intelectual do Assistente Social. Daí a ênfase numa formação acadêmica qualificada, fundada em concepções teórico-metodológicas críticas e sólidas, capazes de viabilizar uma análise concreta da realidade social (...) (NETTO, 2007, p. 155).

A busca pelo projeto de profissão passou por uma luta estratégica levantada por

profissionais da vanguarda que buscaram e incentivaram o envolvimento de profissionais nos

fóruns e em eventos profissionais.

Não se pode esquecer que o docente no curso de Serviço Social, ministrando as aulas,

cujos conteúdos são específicos do Serviço Social, deve ser um assistente social, e que como

tal tem a responsabilidade de exercer a profissão de assistente social e de educador, visando a

formação deste profissional.

E ainda existe outro ponto de análise muito importante, sobre os quais se pode refletir

a partir dos seguintes questionamentos: como ter certeza que esse aluno tem seu perfil

direcionado para concretização desse projeto ético-político-profissional? É só ter nota nas

provas? É só ser aprovado? Como o professor consegue saber se o aluno está apto para

exercer a profissão, sendo um profissional crítico e ético?

Durante a pesquisa, os professores entrevistados deram sua contribuição. A professora

Eliane explicitou que ela percebe se o aluno vai ser um profissional crítico e ético quando

entra no campo de estágio:

Já a professora Líria, percebe que o aluno está aprendendo e se transformando quando:

(...) está discutindo os temas na sala de aula e o aluno consegue fazer conexões, que não é só com os textos, mas com as outras disciplinas, ai que você percebe que ele sabe o que ele está falando, porque aquele conteúdo não é uma coisa isolada, quadradinha, que ele só sabe usar na sua disciplina, mas ele sabe usar isso em outras disciplinas, e é por isso que eu sempre procuro criar esses espaços para o aluno falar, para o aluno se colocar. Então essa coisa do trabalho em grupo, do filme e dos debates, que é a possibilidade de você ver se o aluno aprendeu de fato ou não. Então, ele vai te mostrando, no decorrer do curso, quando você vai apresentando e ele vai colocando. E depois os retornos que os colegas dão, “Olha um aluno falou que viu isso na sua disciplina”, então quer dizer, ele consegue associar o conteúdo com aquilo que está sendo posto no curso como um todo, de forma geral. Eu acho que esse é o maior retorno. (...)Não são todos, é lógico, a gente também não tem a pretensão nenhuma de ser unânime. Tem alunos com mais dificuldades, alunos que tem mais familiaridade com a temática (...)Eu acho que quando a gente pensa no exercício docente como um conjunto de coisas, que não é só uma prova, não é só uma avaliação, mas a

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vivência que você tem com o aluno durante aquele período, e durante aquele período você tem um papel importante, tanto para o bem quanto para o mal, você pode tanto contribuir, como você pode acabar com algumas coisas que o aluno traz (...). (ELIANE)

A professora Olegna consegue perceber que:

Alguns alunos aprendem sim, outros terminam a faculdade sem aprender. Por isso eu acho complicado afirmar que é possível ensinar o projeto ético político, é bastante complicado, teria que ter maior investimento nisso, maior carga horária, por exemplo, a minha carga horária é minúscula. Então eu faço o possível mais não dá. Tem aluno que entra, tem uma atitude cética em relação à alguns conteúdos mais críticos, responde o que é necessário pra passar, mas ele não abre mão, não quer mexer no que ele pensa e no que ele acredita e ponto.(...)Fica na refutação mesmo, ele refuta, ele não aceita aquele argumento. Alguns alunos têm isso, claro. Por exemplo, eu tive um aluno que levava a bíblia pra aula, e eu falava, ele contestava, eu falava, ele contestava: professora eu não quero usar esse código de ética, eu quero usar esse, porque eu não penso assim. Então, um aluno maduro, inteligente, mas ele refutou aquilo. Ele de certa forma apreendeu, mas eu não posso dizer que ele vai usar aquilo. Então tem esse grupo, tem o grupo dos que não conseguem aprender por uma questão intelectiva mesmo, aprendem só aspectos do que eu disse, e tem outros que aprendem pra ‘caramba’.(...) Na sala de aula, nas discussões da sala de aula, nas discussões de avaliação do último bimestre, que eu pego situações cotidianas do S.S., casos como se chama, eu não gosto desse nome, mas é o nome que se dá no Serviço Social, então eu pego situações pontuais e coloco questões do ponto de vista ético, e o retorno disso me mostra o quanto eles aprenderam ou não. E nas discussões em sala de aula, o nível de argumento do aluno, eu estou vendo que ele está crescendo, o quanto a fala cresceu ou não, e dentro da fala alguns alunos se destacam mais. Agora, tenho clara noção que tem alunos que entraram, escutaram, escutaram, escutaram, escutaram, e....Dá pra você perceber com certeza. Dá para você perceber se ele vai ser um profissional técnico, se ele vai valorizar só o aspecto técnico, se ele vai valorizar o ponto de vista crítico e ético, e o quanto ele vai valorizar disso, isso também dá. Porque tem alguns alunos que você sabe que eles vão ponderar eticamente algumas coisas, tem outros que ‘vc’ sabe que eles vão ser absolutamente críticos (...) (OLEGNA)

A professora Andrea responde em relação aos seus alunos:

(...) se eles conseguem aprender eu não tenho certeza, é certo que alguns sim, os que participam da aula, que se posicionam, que desenvolvem bem uma avaliação, uma prova. Agora se eles vão conseguir, no outro ano, usar, eu não sei. O que eu faço muito é refletir toda essa discussão dos fundamentos do Serviço Social trazendo exemplos do meu cotidiano profissional e, eu entendo que isso fica. Isso eu consigo e acho que é essencial. Então eu sempre digo para os estudantes, se no ano todo, eles conseguirem compreender qual a natureza do Serviço Social, para mim já está valendo, se eles conseguirem compreender como que o Positivismo influencia o Serviço Social, como o Marxismo influencia o Serviço Social historicamente, aí isso para mim já vale, já ganhei.

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Quanto aos alunos se tornarem profissionais críticos e éticos ela entende que:

O que é ético é muito subjetivo, o que é o projeto ético, o que é critica, acho que aquele dia a gente entrou em um debate interessante, eu não acredito que o Marxismo se materializa no Serviço Social, eu entendo que o Marxismo é uma opção daquele sujeito e certamente isso irá influenciar nas ações, mas o Marxismo é essencial para entender o lugar do Serviço Social nas relações, do modo de produção capitalista, então só a partir do Marxismo a gente consegue entender onde se situa o Serviço Social nessas relações, as contradições da sociedade.(...) eu não acredito que o Marxismo se materializa no Serviço Social, eu entendo que o Marxismo é uma opção daquele sujeito e certamente isso irá influenciar nas ações. (...)Agora o estudante de Serviço Social é critico sim, ele é critico porque a gente tem uma história da profissão, ele tem um posicionamento crítico, o Marxismo influencia muito, acho que por isso que estou falando tanto do Marxismo. Agora a questão ética vai depender muito de uma discussão filosófica, o que é ética, o que é um posicionamento ético.(ANDREA)

Os alunos, também sujeitos da pesquisa, foram questionados sobre como o professor

sabe que ele aprendeu, e as respostas obtidas foram:

Não Consegue... rsrsr, pois uma prova aplicada não lhe dá essa certeza, mas, penso eu, por meio de debates,discussões em sala, enfim acho mais aproveitado do que uma simples de prova frente e verso... (Veranice). Quando ele avalia não apenas através das provas, mas engloba outras atividades, e principalmente quando verifica as dificuldades dos estudantes e ajuda a superá-las. Mas sinceramente, considero que a maioria não sabe se realmente aprendemos ou apenas decoramos e logo esqueceremos o que julgam termos aprendidos (Fabiana). A grosso modo pela nota que ele me dá, mas como disse, é relativo, uma vez que eu posso ter decorado a matéria de uma prova e não saber nada sobre aquilo, não sabem empregar o que aprendi, então pra mim não aprendi nada (Christiane).

1.4.3 O Processo Educacional

Para que o processo educacional ocorra é necessária a mão de obra de um trabalhador,

que neste caso específico é o docente, pois é ele quem vai conduzir e direcionar o trabalho,

cuja ação terá um valor de troca, uma vez que será remunerado para que o objetivo

educação/formação se concretize.

Esse processo educacional é, portanto, processo de trabalho e por processo de trabalho

Marx entende que são as atividades humanas realizadas na produção e reprodução da vida

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74 material e espiritual dos homens.

Com essa afirmação Marx nos possibilita um entendimento de que o processo de

trabalho de um ser está relacionado a atitudes, ações, estratégias que possibilitem ao outro ser

a produção de meios para viver material e espiritualmente.

De acordo com Serrão, Adolfo Sanchez Vázquez define toda atividade geral como: “o

ato ou o conjunto de atos em virtude do qual um sujeito ativo (agente) modifica determinada

matéria-prima” (2006, p. 87).

Ele entende que uma atividade transforma ou constrói algo, envolvendo produto e

resultado. Mas a atividade que mais interessa quando se fala em educação é a atividade

humana.

A autora traz outra definição do mesmo autor em relação à atividade humana. Ele

entende que:

[...] para se conceber uma “atividade” como propriamente humana, faz-se necessário recorrer ao que lhe é específico: a intencionalidade [...]. Só é possível identificar a ‘atividade humana’ quando os atos dirigidos a um objeto para transformá-lo se iniciam com um resultado ideal, ou finalidade, e terminam como um resultado ou produto efetivo, real (SERRÃO, 2006, p. 88).

A atividade humana acontece quando o homem sente a necessidade de agir, ou pela

insatisfação em relação a algo presente em sua vida; e a partir do momento que sua

consciência aponta algo realizável em sua vida, ele vai à busca, colocando-se em atividade.

Essa atividade pode ser realizada através do processo de trabalho definida por Karl Marx.

Para que o homem atingisse um patamar elevado no processo social um longo

caminho foi percorrido.

Desde o início de sua história, o homem desenvolveu primeiro, parte de seu

organismo, como a mão, por exemplo - (isso aconteceu quando conseguiu uma postura ereta e

teve seus horizontes ampliados estando em pé).

Depois desenvolveu a laringe, ou seja, a fala, pois teve necessidade de se comunicar

com o seu coletivo.

“Primeiro o trabalho e depois dele e com ele a palavra articulada”. (Engels).

A partir daí o cérebro humano começa a se exercitar e os homens foram se tornando

capazes de executar tarefas cada vez mais complexas, atingindo objetivos cada vez mais

elevados. E o trabalho é a condição básica da vida humana. Porém, nesta sociedade

capitalista, o trabalho assalariado acontece através de uma relação de exploração social.

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Marx, em sua juventude e posteriormente, ressalta a necessidade de uma ação transformadora revolucionária do homem, considerando que no mesmo sentido em que determinado elemento impede o desenvolvimento pode, ele mesmo, gerar seu contrário, ou seja, sua superação (SERRÃO, 2006, p. 94).

O homem pode se conformar com o sistema capitalista, como pode também negá-lo.

Assim, cabe aos educadores e pesquisadores em educação apresentar propostas para a

implantação de políticas educacionais que propiciem a compreensão da realidade social, a

formação do ser humano como ser crítico e que busque a transformação social.

O estudo é considerado uma “particular atividade humana” porque assim como a ‘atividade humana’ em geral, a pessoa que a realiza se transforma ao mesmo tempo em que transforma os objetos materiais e simbólicos com os quais interage. Por meio da ‘atividade de estudo’, atitudes e habilidades de investigação são desenvolvidas nos estudantes, tornando-os capazes de se apropriarem de conhecimentos de um modo semelhante ao que historicamente ocorreu (SERRÃO, 2006, p. 119).

Essa é uma atividade conjunta e social. É necessária uma comunicação e relação com

o “outro”.

Nesse sentido o professor tem um papel fundamental na promoção da “atividade de

estudo”, pois a ele cabe organizar e proporcionar situações e meios para que o aluno assimile

e construa sua aprendizagem.

Para isso é necessário organização e clareza do trabalho pedagógico, lembrando que

existem alguns aspectos que interferem no desempenho dos estudantes.

O volume e o tipo dos meios auxiliares externos; as condições de realização da atividade, por exemplo, a limitação no tempo, os fatores de risco, etc.; assim como também variados fatores do meio exterior, que incluem a iluminação, a temperatura do ar, o nível de ruído, a atividade anterior e a próxima, etc. (Lompscher, apud SERRÃO, 2006, p. 121).

Outros aspectos interessantes e que interferem nos estudos é a motivação destes

alunos, os interesses e objetivos que os direcionam.

Entendendo essas interferências,

(...) o papel do ‘outro’ na aprendizagem se torna fundamental. Esse ‘outro’ pode ser o professor e os próprios colegas. Mas o papel do professor na organização do ensino é insubstituível, porque é ele o responsável por criar situações em que se apresentam problemas de aprendizagem que considerem o nível de desenvolvimento real dos estudantes, instigando e promovendo a atuação dos estudantes em sua zona de desenvolvimento próximo ou potencial. Dessa forma, os problemas de aprendizagem podem desencadear

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uma atitude ativa dos estudantes consigo próprios pelo estabelecimento do diálogo interno e em ações compartilhadas com colegas e com o professor (SERRÃO, 2006, p. 131).

Em relação ao aluno, a professora Líria destaca um aspecto fundamental para reflexão,

pois hoje o professor enfrenta uma realidade diferenciada e o aluno também:

(...) aluno trabalhador (...) dificuldade em cumprir com as tarefas, eles não têm tempo de participar de atividades fora da sala de aula, então a sala de aula acaba sendo o único momento que eles têm de discussão dos conteúdos da profissão, ou de estudo inclusive. Porque tem aluno que só vai estudar realmente a partir do momento que ele está na sala de aula, porque eles não tem tempo de participar de um grupo de extensão, eles não tem tempo de participar de um grupo de pesquisa, e você consegue ver isso claramente, quando ele vai fazer o projeto, quando ele vai fazer o trabalho de conclusão de curso, porque ele tem, é o primeiro trabalho. Para um número considerado de alunos é o primeiro momento que ele vai realizar uma pesquisa, porque durante o curso ele foi impossibilitado por essa condição de aluno trabalhador. (LÍRIA).

O intelectual sabe e conhece as contradições existentes na sociedade. Contradições

essas criadas pelo sistema de produção capitalista.

Sabe e conhece o excedente da produção, sabe nas mãos de quem esse excedente se

acumula, porém nem sempre compreende isso, não sente na própria pele as consequências

disso. Já o indivíduo trabalhador, o operário, que só tem sua mão de obra a oferecer, sente na

pele as consequências do sistema de produção capitalista. Sente, mas nem sempre

compreende ou sabe o porquê é explorado e não conta e nem usufrui os próprios produtos que

produz, porque isso se restringe a poucos.

Cabe citar um trecho da letra do poema de Vinicius de Moraes “O operário em

construção”

Notou que sua marmita

Era o prato do patrão Que sua cerveja preta

Era o uísque do patrão

Que seu macacão de zuarte Era o terno do patrão

Que o casebre onde morava

Era a mansão do patrão

Que seus dois pés andarilhos Eram as rodas do patrão

Que a dureza do seu dia

Era a noite do patrão Que sua imensa fadiga

Era amiga do patrão.

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Essa é a contradição existente na nossa sociedade capitalista e que ela pode ser

utilizada pela educação como elemento para despertar o conhecimento dessa realidade ou

mantê-la camuflada.

Assim, o professor não só trabalhará para a construção da aprendizagem do aluno,

como também terá que trabalhar na sua formação enquanto ser humano.

Para isso, há necessidade desse professor também passar por um processo de formação

adequado onde ele aprenda a ensinar.

Durante a realização do grupo de discussão com os professores da UEL, esse assunto foi

profundamente debatido quando o assunto discutido foi sobre o assistente social e o assistente

social docente.

Eu acho que essa questão ela tem dois lados, duas questões subjacentes a ela que a gente tem que considerar: Uma, é a questão que, a prática docente do Assistente Social é uma pratica profissional? A outra se, a graduação dá conta de preparar o profissional para ser docente? As duas questões pra mim envolvem a legislação, a legislação que hoje estabelece as competências e atividades privativas do Assistente Social, que é a nossa lei de regulamentação, das 2 formas ela deixa muito claro: 1º, que tendo o titulo de graduação do Serviço Social é possível ser professor da universidade, não é exigido do professor, em princípio, a não ser que seja exigência do concurso público que ele tenha prática profissional. Em principio não. Tendo graduação e sendo credenciado, cadastrado no CRESS ele pode ser docente. (...) eu acho que, embora ele possa, por força da lei ser docente, faltam-lhe elementos de vivência da prática profissional cotidiana do Assistente Social para que ele dê conta das questões que a profissão exige. (...) A prática docente é uma pratica docente, uma pratica pedagógica por natureza. Nós somos filiados aos sindicatos dos professores, e aquilo que a gente exerce no cotidiano com os nossos alunos, que é para quem a gente direciona nossa pratica docente, não significa necessariamente, a prática profissional do Assistente Social. Por isso eu digo que é polemico. (JOLINDA). (...) isso não é um problema só do Serviço Social, mas das outras disciplinas que, como o Serviço Social, são das tais Ciências Sociais Aplicadas. Então não é só o Serviço social que não tem habilitação em licenciatura, contabilidade, direito, uma série de outras, também não tem essa habilitação. No meu entendimento faz falta, e é uma coisa que a gente tem que enfrentar. Por quê? Eu me lembro que eu era uma professora antes de fazer licenciatura mesmo, de ir na faculdade de educação, estudar o que é didática, o que é pratica, o que é estrutura de ensino. E depois que eu fiz isso eu virei outra professora. (...) as disciplinas de formação para carreira docente fazem diferença, e muita diferença na hora de você atuar como docente. Então, eu vejo que isso não é um problema só do Serviço Social, mas falta a disciplina de educação, de caráter formativo então, por exemplo, a gente pode ter um colega, que é um excelente profissional no campo de atuação, trabalha super bem, e ele não sabe dar aula, ele não sabe ensinar. Então ele precisaria passar por uma formação mesmo, para ele ser professor. (OLEGNA).

(...) o que a gente tem pro Serviço Social é, uma formação, graduação em

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Serviço Social, não pra ser professor. Aí as pessoas, pelo menos é a reflexão que eu faço, as pessoas vão dar aula, vão ter uma graduação em Serviço Social e vão dar aula para o Serviço Social, então tem, que via de regra, passar, pelo menos, por uma especialização, que aí, traria então uma vivencia pra poder dar aula, melhor ainda um mestrado e doutorado, independente da área (ANDREA).

Talvez, eu esteja aqui me ressentindo do quanto foi importante para mim ensinar filosofia depois de ter feito licenciatura, ainda que a gente não dê aula no ensino médio, que não seja licenciatura o nome, mas falta alguma coisa. (OLEGNA)

Eu não sei Olegna, se seria isso, se necessariamente seria isso, porque se a gente for fazer um balanço de todos os professores de Serviço Social, de todas as universidades brasileiras ou faculdades, a gente vai ver que a maioria não teve essa disciplina ou esse curso, e, no entanto são ótimos professores. O inverso também é verdadeiro, porque às vezes você tem metodologia, licenciatura, é doutor, e não tem capacidade didática nenhuma, então eu também acho que tem um pouco a ver com essa questão da pessoa gostar, não sei se isso é muito individualizado, mas se ela gostar do que faz, e tiver uma prática que seja muito concreta, eu acredito, por ser uma profissão eminentemente prática de natureza interventiva, que ele pode se tornar professor sim, a partir dos conhecimentos que ele tem, a sua graduação e com a vivência específica de alguns anos, porque ele tem que levar para a sala de aula são essas discussões do cotidiano, ele tem que fazer a relação teoria e prática o tempo inteiro, e se ele tiver a formação do Serviço Social e tiver uma prática profissional concreta, e que ele conseguiu dar respostas às demandas, ele conseguiu ter efetividade, acredito que isso ajuda e substitui inclusive a questão da didática. Agora o que eu acho que é do projeto de vida de cada um. Tem gente que não gosta de ser professor, não gosta de ensinar, não quer saber disso. É aptidão, não sei? Porque que você escolhe a carreira docente? Porque você, de certa forma se sente bem em socializar o conhecimento com as outras pessoas. (JOLINDA)

Eu acho que a graduação não forma não para a docência. Eu acho que a docência exige habilidade que a formação de Assistente Social não dá, por outro lado, eu entendo assim que ser professor sem ter uma experiência profissional é muito complicado, porque, eu brinco assim: sem amassar o barro, ele perde a dimensão do que é realmente a necessidade do aluno, e o que ele está vivenciando na prática, então eu entendo que é fundamental que ele tenha essa experiência, não só uma questão de exemplo não, mas para entender os limites da prática (...) (SANDRA).

Esse debate faz o entrelaçamento com todas as teorias estudadas por esta

pesquisadora, constatando que só ser profissional com determinada graduação não o qualifica

para a docência. E que no Serviço Social isso não é diferente, pois a responsabilidade é de se

formar para exercer a cidadania e levar os usuários a terem seus direitos garantidos.

Para que isso ocorra o docente necessita se apropriar da didática, podendo ser

considerada como a arte de ensinar. Rios (2006) apresenta a Didática como saber, ramo do

conhecimento, uma ciência e uma disciplina que compõe a grade curricular dos cursos que

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79 formam professores.

O objeto da didática é, portanto, o ensino. É quem ensina algo a alguém, o que torna

compreensível dizer que ele está articulado à aprendizagem.

Não é necessário somente ensinar, é preciso ensinar e é preciso que os alunos

aprendam. Assim sendo, o professor tem que exercer a docência, e ser docente significa

aquele que está desenvolvendo um processo de ensinar.

Neste processo didático o aluno aprende com o docente e este aprende no processo de

ensinar. A didática é teoria e prática do ensino, é a capacidade de levar o aluno a aprender a

aprender e do professor de ensinar a ensinar. Isso significa que este processo didático é

contínuo e se constitui em processo de trabalho.

Assim sendo, o docente, como trabalhador, emprega sua força de trabalho, apesar de

que essa força não gere mais valia, mas expressa um resultado, a educação/formação.

E como trabalhador, inserido no mercado de trabalho, recebendo pela sua força de

trabalho empregada que é paga dentro do sistema capitalista de produção, deve atender aos

princípios educacionais colocados no PPP da instituição de ensino, bem como deverá se

inserir e se integrar a ela, deparando-se com a matéria-prima a ser produzida por esta

instituição. “Qualquer processo de trabalho implica uma matéria-prima ou objeto o qual

incide a ação, meios ou instrumentos de trabalho” (RIOS, 2006, p. 61).

Quando inserido numa IES particular, se deparará com uma matéria-prima a ser

alcançada, que para a instituição deve ser a formação dos alunos, sendo o lucro apenas o

resultado. Caso contrário, a execução do PPP proposto, ou seja, corre-se o risco de que este

não se efetive.

Talvez não haja interesse dominante para que as classes populares tenham essa

oportunidade, correndo-se o risco de se tornarem críticos.

Nesse sentido, a função de reprodução e de inculcação ideológica conferida à escola sob a custódia do estado burguês tende a ser negada, na medida em que ela expressa em sua especificidade uma contradição que reflete a contradição da sociedade capitalista: se por um lado, ela tenta atuar como um canal de reprodução, por outro lado, ela é forçada a elastecer o acesso ao conhecimento, oportunizando aos segmentos populares uma instrumentalização favorável à transformação social (VALE, 2001, p. 100).

Assim a escola pode ser entendida como espaço de conflitos e lutas de classes, onde,

com o conhecimento, as classes populares podem avançar em rumo a uma transformação

social.

Por isso os educadores devem se conscientizar da importância de sua participação no

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80 processo educacional e no desafio de buscar clareza quanto ao tipo de escola que quer ajudar

a construir.

“Sem querermos atribuir à educação a responsabilidade maior pelo processo de

transformação social, estamos igualmente convictos de que ela representa um peso

fundamental no processo” (VALE, 2001, p. 105). Isso porque a escola é um espaço onde a

luta pode se iniciar, tanto em busca de uma nova sociedade como de uma nova escola.

Além de pensar o educador, inserido neste processo de trabalho, deve-se pensar que no

processo educacional é necessário direcionar a formação do aluno de Serviço Social como um

profissional que compreenda que será um trabalhador inserido no mercado de trabalho

assalariado.

Portanto, a condição de trabalhador assalariado, não só enquadra o assistente social na relação de compra e venda da força de trabalho, mas molda a sua inserção sócio-institucional na sociedade brasileira. (...) Como trabalhador assalariado, depende de uma relação de compra e venda de sua força de trabalho especializada em troca de um salário (...). O S.S. é um trabalho especializado, expresso sob a forma de serviços, que tem produtos: interfere na reprodução material da força de trabalho e no processo de reprodução sócio-política ou ideo-política dos indivíduos sociais (IAMAMOTO, 2004, p. 63-65).

Dessa maneira, o assistente social deve ter sua formação direcionada para o trabalho

interventivo. Intervenção esta direcionada às expressões da Questão Social. Para Turck(2006)

a questão social constituída como pano de fundo gerador das desigualdades e da exclusão

social possibilita ao assistente social que o seu processo de trabalho ao ser implementado,

possa intervir na realidade de seus usuários ao operacionalizar o método dialético materialista

através processo de conhecimento e processo de intervenção.

É preciso adquirir conhecimento, elementos informativos, entender o problema e antes

disso as suas causas, para, em seguida, esquematizar as ações; é pensar em estratégias de

ação, vislumbrando os possíveis resultados, ou seja:

(...) o processo de conhecimento como uma metodologia de operacionalização do Método, tem como máxima: conhecer para propor (...), pois, nem tudo o que parece ser é (...). É nesse movimento de desvendar o aparente que o processo de trabalho vai se instituindo para a superação da explicação dos fenômenos que se explicitam pela desigualdade social (Turck, 2006, p. 9-10).

NÚBIA (Revista Serviço Social e Sociedade nº. 3, 1980) pensa que:

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Os assistentes sociais, profissionais, que têm na população menos favorecida o seu cliente potencial e real, entram num completo choque entre o que fazer para tornar este homem capaz de autopromover-se, tendo em vista uma política educacional que não diríamos dúbia, mas maquiavelicamente elitista (p. 61).

A autora entende que a educação pode ter dois caminhos, um leva o homem à

aceitação das normas e valores impostos pela sociedade, ou leva este homem a se tornar livre

para escolher, criar e recriar sua própria vida.

Entende ainda que a educação deva ter como “objetivo principal” construir uma

sociedade justa.

Entendemos como sociedade justa, não a ingênua concepção de que esta seria uma sociedade de iguais. É absurdo pensar isto, desde quando vivemos numa sociedade de classes e de divisões de tarefa e trabalho. No entanto, a sociedade à qual nos reportamos é onde não haja homens exploradores e explorados, mas que a todos caiba a definição do destino da sociedade, a gestão e usufruto dos seus bens (NÚBIA, 1980, p. 61).

Batalhar pela educação visando o desenvolvimento do ser humano, quebrando os

paradigmas apenas do cumprimento de leis, diretrizes e regulamentos.

Educação é muito mais que isso, é a partir disso transformar as estruturas educacionais

fazendo com que o homem participe da vida e da sociedade, e não só que seja um mero

espectador.

Já no século XX, o objetivo da sociedade sempre foram os lucros e a educação passa a

preparar o homem para inseri-lo num mercado altamente competitivo e necessitado de mão de

obra qualificada, principalmente na área tecnológica.

Sabemos que quando o capitalismo amplia as oportunidades escolares com o cavalo de batalha da ‘democratização das oportunidades’, o faz em função do aumento do excedente com vistas a aumentar suas condições de apropriação deste (NUBIA, 1980, p. 62).

Assim sendo, a preparação, a formação do assistente social tem que estar vinculada a

essa realidade, além, é claro, de estar vinculada aos objetivos educacionais como um todo.

Já em 1980, a autora se questiona quanto ao processo de formação dos alunos de

Serviço Social, pois já nesta década o número de profissionais que se formava era grande e

com isso ocorre a depreciação dos salários. Também nesta década ela já questionava o

aumento do número de cursos noturnos e de escolas particulares, oferecendo:

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(...) uma qualificação profissional que marcha a passos combinados com a desqualificação desta, só pode, mais depressa do que se pensa, formar o profissional cada vez mais simplista, a-crítico, autônomo, buscador de um salário digno, quando sabemos que a dignidade do salário em muito depende de um preparo altamente seletivo (NÚBIA, 1980, p. 62).

A autora se pergunta:

Que se pode fazer pedagogicamente com um estudante que estuda pela manhã, trabalha à tarde e estagia à noite? Que qualificação pode ter um profissional preparado por caderninhos de notas, sem a pesquisa nas bibliotecas, sem o mínimo tempo para estudar? (NÚBIA, 1980, p. 62).

Isso acontece também nos dias de hoje, pois o perfil da maioria dos alunos do S.S. é:

estudam à noite, trabalham durante o dia, estagiam uma vez na semana ou nos finais de

semana. Tal fato se evidencia na fala da professora Líria, citada anteriormente, quando ela

aborda que o processo de ensino-aprendizagem tem que ser repensado a partir do momento

que a Universidade e o curso de Serviço Social têm recebido um grande número de alunos

trabalhadores. Pois sabe que se tem que imprimir um padrão de qualidade na formação do

aluno, mas também de um aluno trabalhador, aluno que trabalha o dia inteiro e estuda à noite,

ou que trabalha tarde e noite e estuda de manhã. São alunos de classes populares cujos

empregos são altamente exploratórios, vêm para faculdade cansados e têm dificuldades no

processo de abstração, além de não conseguir participar de outras atividades, principalmente

as atividades extra-classe. Por isso entende que há necessidade de mudanças do ponto de vista

pedagógico e do exercício docente, necessitando de aulas mais dinâmicas e de que o professor

não seja um mero reprodutor de conteúdo. De outro lado, por ser um aluno trabalhador, ela o

percebe mais amadurecido e com outro nível de contribuição em sala de aula.

Diante dessa realidade, que em pouco mudou de 1980 para 2008 (quase trinta anos),

no momento em que o aluno se torna profissional e cai no mercado de trabalho, ele percebe

sua dificuldade para conseguir um lugar na instituição empregadora. Aí se frustra e condena a

faculdade e seus ex-professores, esquecendo-se que a aprendizagem é um processo, onde ele

participou e foi conivente, por isso é importante procurar uma forma de desenvolver e de se

envolver no processo de ensino-aprendizagem.

Assim sendo, o profissional de Serviço Social atendendo a uma metodologia

específica de trabalho, deverá, segundo Gentilli, reunir neste trabalho,

(...) um conjunto de singularidades no seu cotidiano profissional, nos diversos ‘campos da prática’, transformando-se num processo de trabalho muito rico e complexo, sobretudo por se caracterizar como serviço (...).

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Como serviço, do ponto de vista econômico, tem historicamente se vinculado às políticas e aos programas sociais destinados aos mais pauperizados dos trabalhadores e aos diversos segmentos sociais excluídos do mercado de trabalho; assim como, politicamente, aos direitos de cidadania (GENTILLI, 1998, p. 23-24).

Aqui se entende que o assistente social deverá ser portador de características

singulares inerentes ao perfil profissional, e historicamente tem atuado em políticas e

programas sociais, cuja população atendida compõe a parcela de pauperizados da sociedade,

sendo sua função fazer com que os direitos da mesma sejam efetivados.

Assim, o aluno do curso de Serviço Social deve ter sua formação voltada para o pleno

exercício da profissão.

Para que isso ocorra, é necessário que os princípios educacionais propostos pela LDB

sejam efetivados no projeto político-pedagógico, e que este atenda às Diretrizes Curriculares

propostas pela portaria CNE/CSE 492/01, reforçada pela Resolução nº. 15, também do

CNE/CSE de 13/03/02, que estabelece os parâmetros para os Cursos de Serviço Social.

Por isso, o professor do curso de Serviço Social, além de detentor de conhecimentos,

como qualquer outro professor, deve ter uma competência pedagógica, ou seja, ser um

educador. E o que se espera de um educador é que ele deva ter uma formação e preparo para

exercer esse papel.

Aqui se deve trazer à tona a reflexão da professora Sandra, sujeito da pesquisa, quando

expõe uma questão muito interessante, pois ela percebe que existe a pessoa que é docente e a

pessoa que está docente. E que ser docente realmente faz parte do projeto de vida da pessoa.

Coloca-se como exemplo, pois ela foi professora primária, e que isso lhe deu uma formação

inicial para entender esse processo, ter uma preocupação com o aprendizado etc.

Isso significa dizer que quando um aluno termina a universidade ele vai se tornar

diferente do que era, não só porque ocupará um outro “lugar social” nas relações sociais

estabelecidas, mas principalmente porque transformou a forma e qualidade de seus

pensamentos, onde a eles foram adicionados outros valores positivos, tornando-os pessoas e

profissionais melhores. E que juntos, professor e aluno, durante todo o processo de

aprendizagem, desenvolvam sua condição humana.

A professora Eliane, também sujeito da pesquisa, durante a entrevista fez uma

colocação importantíssima para esse momento, entendendo que para a docente o processo de

ensino aprendizagem se dá durante toda formação do aluno, destacando a importância de

todas as disciplinas e do campo de estágio, pois caso contrário, o processo de ensino

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84 aprendizagem em sua disciplina pode ser prejudicado, entendendo que os alunos podem não

ter elementos suficientes para a compreensão dos conteúdos propostos.

Comprova-se aqui o compromisso do assistente social docente em ser um educador e

não um mero repassador de conteúdo.

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85 CAPÍTULO 2 – A COMPETÊNCIA PEDAGÓGICA DO PROFESSOR

Eu acho que você tem o professor, o cara que é professor e o cara que está professor (Sandra)

As mais recentes diretrizes gerais para o curso de Serviço Social propostas pela

Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS, 1996) foram

regulamentadas através do Parecer 492/01 do CNE/CES (Conselho Nacional de Educação/

Câmara Superior de Educação), que trata das Diretrizes Curriculares Nacionais de alguns

cursos de graduação, entre eles o curso de Serviço Social.

Elas tratam das disciplinas e conteúdos a serem trabalhados durante o curso, na

tentativa de unificar um aprendizado e um perfil profissional em todo o país.

Porém, as mesmas diretrizes e nem sequer qualquer outra instituição ou legislação

tratam do processo de aprendizagem e nem do processo de avaliação dos alunos que estão

cursando Serviço Social.

A professora Jolinda da UEL, sujeito da pesquisa, entende que essa questão envolve a

legislação que regulamenta a profissão. A princípio a lei coloca que ser docente no curso de

Serviço Social, das matérias específicas, é uma atribuição privativa do A.S., sem ser

necessário que tenha uma prática ou um curso. Então, pela lei, qualquer assistente social pode

ser docente. Só que vai depender das faculdades que contratam os docentes fazerem as

exigências quanto à preparação e tempo de prática. Ela entende, ainda, que o docente que tem

uma prática profissional consegue ter mais elementos concretos para relacionar a teoria à

prática e consegue então ter mais elementos para trabalhar em sala de aula. Destaca que para

ela a prática docente não é uma prática profissional do assistente social. Para ela a prática

docente é uma prática pedagógica e, portanto, a ela cabe peculiaridades a qualquer docente,

pois é uma prática pedagógica por natureza. E que então, não é só porque a lei de

regulamentação da profissão diz que a docência em Serviço Social é prática privativa do

assistente social que ela concorda com isso.

O papel do professor no processo de aprendizagem é fundamental, mas há necessidade

de uma competência pedagógica, que possivelmente tenha sido adquirida no seu processo de

formação.

Porém, uma preocupação surge em relação aos professores do curso de Serviço Social,

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86 pois o último curso no estado de São Paulo, específico para formação de professores

assistentes sociais aconteceu em 1976.1 Esses tipos de cursos sempre estão relacionados à

área da Educação, esquecendo-se de que aluno é aluno em qualquer curso e que todo

professor tem que ser um educador, um profissional da educação em primeiro lugar.

Todo professor do curso de serviço social, principalmente aqueles que são

profissionais de Serviço Social, conseguem ser professores educadores, ou são apenas

profissionais em sala de aula? Estes têm a competência pedagógica para ensinar e avaliar seu

aluno?

Que garantias existem de que os alunos que tiram notas maiores serão melhores

profissionais do que os que tiram notas menores?

Quanto à avaliação, a aluna Afrânnia declara:

(...)pra prova, ela, de certa forma, falava que podia estudar só com os slides, mas eu acho melhor pegar o texto, pra você entender todo o contexto, entender toda uma conjuntura, e pra você entender melhor, porque se você ficar muito no “esqueminha” acaba ficando meio ‘decoreba’. Eu acho que eu aprendo, mas aprendo melhor lendo, com certeza. E discutindo também, eu acho que eu aprendo melhor. Acho que foram poucas as vezes que as professoras proporcionaram discussões na sala. Mas eu sinto que quando você fala, você expõe seu conhecimento, ai parece que você sente que você conheceu, que você aprendeu. Mas às vezes você lê, mas quando a professora pergunta pra você, você não consegue explicar.

A mesma destaca, ainda, o posicionamento dos professores em relação às avaliações:

A maior parte é em nota, que eu percebo. Poucos na sala de aula, em discussões, em debates, te elogiam, e elogiam os alunos, “nossa bacana essa contribuição” “é isso mesmo que você apontou” “que legal que você lembrou disso”, e em seminários também. Mas a maioria eu vejo que seria mais a nota mesmo (AFRÂNNIA).

De acordo com as pesquisas teóricas realizadas, pode-se afirmar que o principal é que

o aluno consiga aprender os conteúdos passados pelo professor e que o professor saiba

detectar se o aluno apreendeu, e aí está a grande incógnita, como saber se o aluno conseguiu

atingir a aprendizagem necessária para ser um bom profissional?

Dando significado às falas das professoras entrevistadas na pesquisa, destacam-se suas

opiniões em relação ao aprendizado dos alunos:

1 Dados passados pela Profª. Dra. Maria Lúcia Martinelli, em orientação realizada na PUC/SP em 09/10/2007.

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87 Andreia – A mesma não consegue ter clareza se os alunos realmente aprendem o conteúdo de

sua disciplina. Ela percebe que alguns alunos vão bem na sua prova, tiram boas notas. Porém,

ela não pode afirmar que isso seja indício de que no próximo ano ele vai saber tudo o que ela

trabalhou. Destaca ainda a questão subjetiva de cada aluno, não podendo então generalizar.

Sandra – Ela coloca que antes de se ter uma prova, ela consegue perceber o aprendizado do

aluno pela qualidade de sua participação em sala de aula, pelas suas intervenções, pois ela tem

uma relação de muita proximidade com os alunos e jamais tolhe algum aluno que queira sanar

uma dúvida, fazer um comentário, etc.

Eliane – Diz que é possível perceber isso, porém destaca a questão individual de cada aluno e

a turma como um todo. Afirma que não atinge 100% e que ainda existe uma defasagem, pois

os alunos têm certa imaturidade e dificuldade de colocar a teoria estudada em ações concretas.

No seu caso ela percebe com maior clareza quando eles entram no campo de estágio no

terceiro ano e têm que fazer um diário de campo. E que eles até entendem visita, entrevista,

mas têm dificuldade de colocar em prática aquele instrumento.

Líria – Consegue perceber que os alunos aprenderam em sala de aula mesmo, e isso acontece

quando os mesmos conseguem visualizar a interdisciplinaridade dos conteúdos, e percebe que

o aluno consegue fazer “conexões, que não é só com os textos, mas com as outras

disciplinas...”. E, ainda, percebe através das colocações que eles vão fazendo no decorrer do

curso.

Olegna – A mesma vê o aprendizado dos alunos através da avaliação. A mesma é aplicada

sob forma de uma prova de múltipla escolha, pois através dela ela entende que é possível

detectar o que ficou faltando trabalhar, se eles entenderam os conceitos e o que eles

aprenderam ou não. A docente diz ter uma preocupação quanto ao nível de abstração das

questões, pois ela monta uma prova com o seu nível de abstração que nem sempre é o nível

que o aluno alcançou. Ela consegue detectar que uns 60 a 70% dos alunos alcançam o

aprendizado da forma que ela quis passar e que apenas uns 10% atingem os 100%. No caso da

disciplina de ética, entende ainda que alguns alunos aprendem, mas refutam aquilo e não

aceitam os argumentos, mas não vão utilizar aqueles conhecimentos. Já outros aprendem e

vão ser profissionais éticos.

Professor, quase sempre, é associado com a idéia de detentor do conhecimento e, por

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88 isso, responsável pela transmissão desse conhecimento para seus alunos, e é assim que muitos

alunos ainda têm essa imagem do professor.

Em relação a isso, a professora Andrea demonstra sua frustração:

(...) tem o texto base, então a didática acaba sendo esse feijão com arroz, (...) tenho tentado estimular a leitura, estimular para que eles construam conhecimento, porque só aula expositiva pra mim não é o modelo ideal, mas infelizmente os estudantes trazem um modelo de educação, que é de aula expositiva, e é o que eles querem. Esse modelo de aula expositiva não me agrada, mas os estudantes preferem, pelo menos eu tenho sentido isso, e isso não me agrada, eles gostam quando pegam uma aula e dá aquela aula expositiva, esmiúça o texto, e ai foi a melhor aula e aí, o professor é bom. Se tenta, “gente vamos ler, vamos discutir”, que ai pra mim, a meu ver constrói mais, ai conversa sobre outros assuntos, não focam no texto, então ai acabo ficando mais frustrada, então tenho dado mais aula expositiva do que... (ANDREA).

Para que essa transmissão do conhecimento se faça de forma eficaz, é preciso que o

professor tenha a totalidade da atenção dos alunos, de modo não apenas a facilitar a sua

concentração na exposição das idéias e temas, mas também para que possa escolher, entre as

muitas noções do conhecimento, aquelas que efetivamente devem ser transmitidas, segundo

sua ótica exclusiva.

Em outras palavras, além de transmissor, o professor é o gestor do conhecimento,

porque a ele compete também escolher aquilo que deve ser transmitido e aquilo que não tem

importância, tendo por base o currículo proposto por outros especialistas da instituição de

ensino e de fora dela.

A presença do aluno e sua participação são quase que secundárias no processo de

escolha do currículo, pois, na visão do senso comum, a noção é de que o aluno deve

comparecer às aulas para “assisti-las”, e desse modo sua participação no processo de escolha

do conteúdo, de montagem das aulas, não é essencial.

Vale aqui lembrar a fala da professora Sandra, sujeito da pesquisa, quando ela abordou

que há alguns docentes que são resistentes a mudanças e que eles até elaboram um programa

adequado e coerente porque o mesmo tem que ser aprovado pelo colegiado, mas na sala de

aula eles fazem o que querem e ministram o que querem, sem se comprometerem com a

formação do aluno.

Em artigo publicado no Suplemento Sinapse, do Jornal Folha de São Paulo, o

educador e psicanalista Rubem Alves afirma:

Aquele que é um verdadeiro professor toma a sério somente as coisas que

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estão relacionadas com seus estudantes – inclusive a si mesmo, afirmou Nietzche. Eu sonho com o dia em que os professores, em suas conversas, falarão menos sobre os programas e as pesquisas e terão mais prazer em falar sobre seus alunos.

A idéia de Rubem Alves de que os professores, em geral, não estão envolvidos com

seus alunos, pelo menos não de forma integral, pode parecer cruel à primeira vista, mas é

profundamente verdadeira para quem conhece a realidade do dia a dia da sala de aula.

Fundamentalmente, o que importa é cumprir os conteúdos programáticos dados, e garantir um

mínimo de ordem e disciplina que permita o cumprimento desses conteúdos.

O controle de presença se incumbe de ser o coibidor do excesso de faltas dos alunos,

enquanto que as provas regulares cujos resultados que determinam aprovação, ou não, se

incumbem de garantir um mínimo de atenção dos alunos à exposição do professor.

O professor controla a eficiência de seu trabalho pelo resultado obtido nas avaliações

e, não raro, um professor que dá notas muito baixas para seus alunos, ou mesmo que reprova

uma grande parcela deles, é tido como um professor cuja severidade e seriedade serão

fundamentais para a formação profissional deles. É um professor a ser elogiado, e nunca

responsabilizado pelo fracasso dos alunos, que, de resto, é só deles.

Com essa visão cristalizada em grande parte das instituições de ensino no Brasil, não

causa espanto que a figura do aluno seja quase uma figura secundária nas instituições de

ensino. O professor, o currículo, os recursos e equipamentos utilizados por uma determinada

instituição merecem maior destaque do que o bem-estar dos alunos em seu processo de

aprendizagem e avaliação.

Na atualidade, a utilização de recursos tecnológicos e o grau de formação dos

professores (doutores, mestres, especialistas), por exemplo, são fatores muito mais

valorizados nas instituições de ensino, em especial nas de nível superior, do que a satisfação

dos alunos, ou a forma como ocorreu a aprendizagem durante o curso e a formação que dela

resultou.

De outro lado, para significativa parte dos alunos, a aprendizagem também se mede

pelos resultados obtidos nas provas realizadas durante o curso, e, mais tarde, pelos resultados

obtidos na relação que conseguem estabelecer com o mercado de trabalho.

A seguir, a aluna Afrânia, sujeito da pesquisa, fala da maneira que detecta seu

aprendizado:

Mas eu acho que em segundo dá pra dizer que talvez a prova, porque na hora que você escreve, vamos supor, se for uma prova dissertativa, você escrevendo, você vai vendo como você arrumou suas idéias, não tanto por

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causa da nota, mas acho que a nota ajuda um pouco, porque, mesmo que indo contra nota um pouco, esse método meio quadradinho, a gente está acostumado, se tira uma nota baixa fica magoado. Mas acho que a prova dissertativa, você vai construindo suas idéias, também da para concluir se você aprendeu. (AFRÂNNIA).

Com esse pano de fundo, entende-se ser um retrato rápido, porém fiel, da realidade de

grande parte das escolas brasileiras na atualidade, esta tese pretende refletir sobre o processo

de ensino-aprendizagem do aluno de Serviço Social e a importância da avaliação, discutindo a

aprendizagem como foco da atividade do professor, e as competências necessárias para que

um professor atue tendo como principal preocupação a aprendizagem de seus alunos, e não

apenas seus próprios conhecimentos e a forma de transmiti-los, ou o cumprimento de

programas propostos no currículo da instituição educacional; bem como de que maneira

proceder nas avaliações exigidas pela universidade, sem que essa tenha um caráter repressor.

Vejamos a fala da aluna Michele:

Eu não gosto, a prova traz medo, traz ansiedade, e tem professor que dá uma prova ‘decoreba’ mesmo, uma prova que se você leu, decorou, você pode não entender mais nada. No dia seguinte você vai bem. E você precisa tirar nota sim, pra passar, então, você vai se revoltar, e falar não, eu não vou fazer. Teve vezes que sim, na sala, mas não é um movimento tão forte ainda. Mas eu não gosto desse tipo de avaliação, de medir o conhecimento, eu acho que não é uma coisa mensurável, sabe. Eu acho que poderia ser uma coisa mais para expandir, se tem que avaliar, eu preferiria um trabalho, ir a campo, relacionar uma experiência com o estágio. E não nessa perspectiva. A gente até brincou, que a educação é como um banco, de depositar, assim... eu acho que tem muito mais coisa para contribuir, os elementos da realidade, e essa coisa de decorar fecha muito e a gente esquece qual a nossa responsabilidade lá fora, e que estamos na universidade pública (...). (aluna Michele)

Por isso, o presente texto discute aspectos referentes às competências e habilidades de

professores, o conceito de aprendizagem, e o que é possível fazer para a mudança da relação

ensino-aprendizagem, e como ainda realizar uma avaliação adequada, seguindo esses

princípios.

2.1 Aprendizagem: mais do que um conceito, um objetivo

Mas eu sinto que quando você fala, você expõe seu

conhecimento, ai parece que você sente, que você

conheceu, que você aprendeu (Afrannia).

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Infelizmente, no mundo atual as antigas ou conservadoras crenças sobre a

aprendizagem ainda imperam nos espaços educacionais.

Eu sinto diferenças em alguns professores. Eu sinto que alguns estão mais presos ou mais ligados a metodologia mais tradicional, muito ligado a nota, a falta, a metodologia de prova, e que outros apresentam uma dinâmica mais diferente, de colocar mais a discussão em sala de aula, de incentivar o aluno na aula e, não ficar só o professor falando.(aluna AFRANNIA-sujeito da pesquisa)

Muitos ainda possuem “suposições ultrapassadas sobre a aprendizagem”, podendo

com isso ocorrer uma dificuldade ou bloqueio, pelo fato de as concepções sobre

aprendizagem serem equivocadas.

Além desse fator, a cultura é outro fator predominante, pois os valores que

determinada cultura atribui à educação influenciam no resultado da aprendizagem.

Assim, para muitos, a aprendizagem é apenas conhecimento. Não conseguem

compreender que a aprendizagem é um processo para que o aluno chegue ou adquira

determinado conhecimento.

O processo de aprendizagem é tão importante, que hoje existem movimentos sociais

dedicados a quebrar o paradigma de que aprender é apenas para jovens. Prova de que essa

crença é inválida são as universidades da terceira idade, e indicam que a aprendizagem ao

longo da vida é uma realidade.

Porém, para isso é necessário entender também que a aprendizagem ao longo da vida

ocorre dentro das mais variadas formas.

Há locais especializados em aprendizagem, como há locais especiais para se nadar, jantar, fazer compras: escolas e universidades: escolas e universidades, onde você encontra pessoas especializadas em ‘ensinar’ (CLAXTON, 2005, p. 28).

Os professores é quem possuem, ou pelo menos deveriam (grifo nosso), habilidades e

recursos especiais para fazer acontecer a aprendizagem.

Esse tipo de visão institucionalizada de aprendizagem coloca em primeiro plano

apenas um tipo de aprendizagem.

Quando se fala em aprendizagem, deve-se trazer o aluno para o centro da discussão,

colocando-o em destaque, iluminando-o com o holofote da reflexão, de maneira a

compreender, primeiramente, qual aprendizagem que se pretende que esse aluno obtenha, e de

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92 que forma ele deve deixar de ser apenas passivo para se tornar um agente com participação

contínua do processo de aprendizagem.

Primeiramente, é preciso considerar que existe uma marcante diferença entre

aprendizado e aprendizagem. Aprendizado sugere aquilo que pode ser medido como correto

em um processo de avaliação convencional, que premia ou castiga com notas, aprovações ou

reprovações, o desempenho do aluno ao final de um dado período de tempo, inclusive

capacitando-o para alçar novos estágios de aprendizado, teoricamente mais complexos,

estabelecendo os chamados marcos evolutivos de um curso.

Já, a aprendizagem envolve, desde o início, uma idéia de movimento e, frise-se desde

logo, não de qualquer movimento, mas de um tipo que se faça continuamente e em conjunto

com outros agentes.

De fato, aprendizagem é termo que carrega consigo a identidade de um processo que

nunca chega ao seu final, que se renova permanentemente impulsionado por sucessivos

interesses e que, uma vez despertado e desenvolvido no aprendiz, será capaz de fazê-lo

assumir permanentemente a responsabilidade por sua formação, dividindo-a com professores

e colegas, em um moto-contínuo de energia geradora de mais aprendizagem.

Nesse contexto, aprendizagem é ainda um objetivo que não pertence só a alunos, mas

também a professores os quais deverão estar envolvidos juntamente com os alunos na

identificação de temas, problemas e questões que devam ser conhecidos, estudados,

pesquisados, debatidos e que sejam esses professores, ainda, capazes de lançar novos

propósitos a serem alcançados juntamente com seus alunos.

Por outro lado, esses temas, problemas e questões que serão trabalhados

conjuntamente por professores e alunos não se restringem ao chamado conhecimento técnico,

capaz de criar habilidades específicas para o desenvolvimento de certa atividade profissional.

Mais do que isso, a aprendizagem pressupõe a escolha de um elenco de temas, problemas e

questões que sejam profundamente motivadores para alunos e professores e, por isso mesmo,

tratem de aspectos mais amplos da pessoa, envolvendo sua cidadania, sua participação social

e política, as experiências vividas por cada um dos participantes da relação ensino-

aprendizagem, e os objetivos que traçam para seu futuro pessoal e profissional.

Nesse sentido, Ribas (2.000), afirma:

Hoje já não se quer um aluno passivo e sim alguém que seja sujeito de sua própria aprendizagem e da própria história, que desenvolva a capacidade de pensar crítica e criativamente, que seja apto para obter informações e interpretá-las adequadamente, que construa/reconstrua o saber, que saiba definir o destino e nele atuar. Tal mudança de concepção torna mais difícil o

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trabalho da escola e, especialmente, o do professor, que precisa contornar todas as limitações do ambiente de trabalho.

Nesse universo, que pressupõe intensa relação de professor-aluno e aluno-aluno, que

se inicia com a busca de elementos significativos para a aprendizagem e se desenvolve com a

construção de estratégias, para que essa aprendizagem efetivamente ocorra, é preciso ressaltar

a importância de uma nova atitude dos professores e dos alunos, em especial dos primeiros, a

quem compete coordenar e liderar o processo.

Professor não é mais aquele que ensina, mas é também aquele que aprende; não é mais

só aquele que detém o conhecimento, mas aquele que reparte e avança na busca de novos

saberes, realizando pesquisas; não é só aquele que escolhe os conteúdos válidos para a

aprendizagem, mas aquele que participa da escolha como orientador; não é mais só aquele que

avalia, mas também que é avaliado pelo conjunto dos alunos; não é só mais aquele que

prepara as aulas a serem ministradas, mas aquele que incentiva a busca de elementos capazes

de fazer avançar o conhecimento; não é mais só aquele que lidera, mas aquele que participa de

um grupo de trabalho contínuo; é, enfim, um elemento do processo de aprendizagem e não o

principal elemento.

Veja a fala de duas professoras entrevistas na pesquisa:

Você vê o aluno que entra aquela criançona e sai maduro, crítico, com uma perspectiva clara do que quer(...). Eu acho que esse é um dos melhores retornos que eu tenho, os alunos me dão esse feedback. (OLEGNA) Eu me sinto com uma responsabilidade enorme, quando eu estou dando uma aula e que os alunos vão perguntando, e que ai um dia eles viram assim “como você falou um dia”, nem eu lembro às vezes, então eu acho que é uma responsabilidade muito grande, porque o docente tem um papel fundamental, eu acho que é um processo, e eu faço muito questão de dizer isso para os meus alunos, acho que a universidade tem um papel um papel grande, o professor docente tem um papel, uma contribuição fundamental, e os alunos também. Está todo mundo nesse processo, mas acho que o docente ele é primordial. Não daria pra dizer quem é mais importante que quem. Eu pelo menos procuro fazer meu trabalho de docente nessa perspectiva. Desde o cuidado com aquilo que você está ensinando ao cuidado com aquilo que você é enquanto Assistente Social, então eu acho que a defesa que a gente tem, as posições a gente tem com a categoria profissional, a importância que a gente atribui. Eu faço sempre questão de contar para os meus alunos como está minha pesquisa de doutorado, pra mostrar pra eles que eu também pesquiso, então eles vão falar do TCC, eu também conto da minha tese de doutorado, falo pra eles, estamos juntos, em estágios diferentes, mas estamos no mesmo barco, a questão de ir a biblioteca pra que eles também vejam que eu estou na biblioteca porque acho que isso é fundamental, vou a congressos quero que vocês também vão, então eu acho que essa é uma questão importante. Então nesse sentido eu me vejo como parte na vida desses meninos e meninas durante um tempo, e como parte nesse tempo eu quero

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ser o melhor que eu posso, e eu trabalho pra isso, eu gosto muito de ser professora, gosto muito de dar aula, acho que a sala de aula é a minha grande questão. Não tenho pretensão de ser perfeita e de ser unanimidade, por isso que faço questão de ser avaliada todo ano pelos meus alunos, e leio e reflito, e a partir dos pontos que vão sendo colocados. Acho que tenho muita coisa pra aprender ainda sabe, acho que que eu tenho muita coisa pra aprender ainda, e acho que isso é que faz a gente, parte desse processo. (LÍRIA)

Nessa vertente, é imperioso que o professor adote uma nova forma de atuação, despida

por completo dos conceitos tradicionais que envolvam sua atividade. Não mais a autoridade

advinda do fato de ser o detentor exclusivo do conhecimento, mas a autoridade pela

constância na participação e na troca. Não mais a distância que a legitimidade do saber

construído permitia, mas a disposição para aceitar as experiências vividas pelos alunos como

parte da construção da aprendizagem. Não mais a impessoalidade na transmissão de

informações, mas a troca de experiências que não raro contempla a afetividade e a emoção.

Não mais a palavra final expressa em uma nota de aprovação ou reprovação, mas a disposição

para pesquisar e produzir em conjunto com os alunos, avaliando também em conjunto o

resultado final do trabalho desenvolvido.

Nesse sentido, afirma Masetto (2001, p. 89):

Teoricamente, hoje, há um consenso de que “ aprender a aprender” é o papel mais importante de qualquer instituição educacional. O que me parece imprescindível destacar é que “aprender a aprender” é mais do que uma técnica de como se faz. É a capacidade do aprendiz de refletir sobre sua própria experiência de aprender, identificar os procedimentos necessários para aprender, suas melhores opções, suas potencialidades e suas limitações, e, então, a partir daí, desenvolver o próprio processo e a própria aprendizagem, no ritmo próprio, de forma contínua, sempre explorando as próprias competências.

Aprendizagem, portanto, é mais do que aprender um determinado conteúdo temático.

É mais do que fixar um conceito ou uma fórmula. É uma atividade contínua construída por

professores e alunos, que tem que ser significativa para ambos, e extrapola a construção de

um arcabouço exclusivamente técnico para atingir também, e principalmente, a formação total

do aprendiz, privilegiando aspectos como sua formação cidadã, e de participante ativo da

sociedade onde vive e onde deve atuar de forma pró-ativa para melhorá-la.

Colocado dessa forma, o sentido de aprendizagem pode parecer quase romântico,

solto, etéreo ou, ainda, desprovido de aplicabilidade no cotidiano. No entanto, como o espaço

do cotidiano em que pode ser vivenciada essa proposta de aprendizagem é, por excelência, a

sala de aula, local de convívio mais constante e direto de professores e alunos, talvez seja

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95 importante refletir sobre quem é o professor que participa desse processo de aprendizagem e

de que forma ele atua com os alunos.

Quanto à aprendizagem, Claxton (2005) entende que existe uma “caixa de

ferramentas” para ela, com diferentes compartimentos. Isso o faz crer que nem todos se

ajustarão a um determinado tipo de ensino e educação, e que acabará sendo prejudicado.

Se assim for,

(...) podemos privá-las, por exemplo, de oportunidades para desenvolver a resiliência que precisarão enfrentar nos desafios de aprendizagem com muita carga emocional, ou para lidar com seus próprios sentimentos quando experimentarem o fracasso e a frustração, o que inevitavelmente ocorrerá (CLAXTON, 2005, p. 28).

Resiliência é sinônimo de “capacidade de se adaptar às mudanças”. Ela é

extremamente importante, pois ela nos torna capazes de entender que a dificuldade existe,

mas que podemos enfrentá-la e superá-la nos tornando competentes.

Por isso a resiliência é necessária, pois ela tanto proporciona a facilidade de se aceitar

o sucesso quanto o fracasso.

Claxton mostra o resultado de uma pesquisa realizada por Dweck, e um ponto

importante e de destaque foram as respostas dadas quando questionados como eles se sentiam

quando tinham que se esforçar muito para aprender.

Os alunos resilientes disseram que gostavam disso porque achavam que estavam realmente aprendendo alguma coisa. Eles não só podiam resolver o problema, como também podiam até ficar mais inteligentes durante o processo. Os alunos fracos, por outro lado, não gostavam do esforço porque, na sua opinião, indicava que eles não eram muito brilhantes (CLAXTON, 2005, p.28)

Os alunos resilientes conseguem dimensionar sua própria competência de

aprendizagem e, mais, eles podem expandi-la cada vez mais.

Os não resilientes não gostam de se esforçar, não gostam de enfrentar situações novas

de aprendizagem.

E da mesma forma existem alunos que são inteligentes, mas não são resilientes, pois

não conseguem enfrentar as novas situações inerentes à aprendizagem. Não se sentem à

vontade para sair da sua zona de conforto.

Quanto a isso, fica perceptível essa abordagem de Claxton(2005) na fala de algumas

professoras entrevistadas na pesquisa:

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A gente percebe na sala de aula, o aluno que só faz a crítica e numa perspectiva pela crítica e não tem avanço nenhum. E aqueles que não estão nem aí. Que estão aqui para ser assistente social ou só para ter o curso. Se for pra ter o curso tudo bem. Mas se for para ser assistente social que eles sejam os melhores assistentes sociais. (ELIANE) (...) tem uma aluna que mandou um e-mail contando da empresa que ela foi trabalhar, e que um funcionário chegou lá apavorado porque tinha descoberto que o filho era homossexual, e que ela foi lembrando da aula, do princípio à diversidade, das discussões que a gente fez, e que ela conversou muito com o pai e foi legal porque ela conseguiu deixar o vínculo da família mais forte, sem segredos. E aí ela falou, Olegna, foi tão legal que eu lidei com tanta naturalidade que fortaleceu o vínculo da família, aí veio a mãe, aí veio o pai, veio todo mundo falar comigo. Você vê, é um princípio ético que o aluno aprendeu e que ele utilizou. (OLEGNA) (...) vou te dar um exemplo prático pra te mostrar como a gente consegue perceber, você consegue perceber, por exemplo, quando você discute uma nova ética no trabalho, a questão que o trabalho é uma categoria central, ele é importante, ele é um elemento decisivo na formação do ser social, só que não é qualquer tipo de trabalho, é um trabalho humanizado, um trabalho com direitos, e você percebe que alguns alunos acreditam que a pessoa tem que trabalhar independente do valor que é pago, que é o trabalho pelo trabalho, então não interessa se é um trabalho com direitos garantidos, que é um trabalho altamente exploratório não tem problema, as pessoas tem que trabalhar. Você percebe essa dificuldade, essa existência do caráter conservador da nossa sociedade, muito presente nos nossos alunos, e ai a gente consegue visualizar isso, e aí você consegue, você faz o embate, você vai para o debate, e ai o aluno fala “ eu vou trabalhar”, eu vou trabalhar como Assistente Social mesmo que seja por Seiscentos Reais, porque eu preciso sobreviver. A luta pela sobrevivência justifica algumas opções e isso é um resultado. Você consegue ver como esse aluno vai se portar, e ai eu acho que é o limite da nossa atuação, pois aí você não consegue, quando ele senta naquela verdade absoluta, você pode possibilitar momentos de reflexão, mas quem vai decidir se vai romper com essa posição. (LÍRIA)

O meu sonho é dar aula para estudantes que leiam o texto, que sentemos em circulo e discutamos o texto. Esse é o meu sonho, mas infelizmente eu descobri que o sonho dos estudantes é o professor que vem e dá uma aula expositiva, fala todo o tempo, e mastiga todo o texto, joga, e ai eu sou isso. Me deu até vontade de chorar agora, porque eu estou numa crise com relação a isso, e eu tenho feito isso e bem, tenho feito isso muito bem, mas não é o que eu gostaria, acho que essa história de ter ido para o doutorado, está mexendo nesse aspecto, eu docente, porque eu voltei a ser aluna, então eu estou de novo nesse papel, de dizer “a sala não está boa, isso aqui não está legal, esse professor está enrolando”, eu acho que eu cumpro esse papel que os estudantes esperam, que vem ali e fala, que infelizmente é o modelo de educação, que eles aprenderam assim, estudaram assim, que vai ser assim, e que volta e meia quando eu tendo quebrar com isso eu me frustro bastante. (ANDREA)

Através da análise das falas das professoras Eliane, Olegna, Líria e Andréa, fica claro

os alunos que terão um bom desempenho profissional, os que serão apenas mais um assistente

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97 social e aqueles que serão muito bons mesmo e que vão lutar pelos ideais de profissão.

Alguns deixam claro sua resistência para sair do comodismo em relação às novas

metodologias de ensino propostas pelo professor. Então, a resiliência é um diferencial,

segundo o autor, daqueles que vão ser simplesmente um assistente social dos que vão fazer a

diferença dentro da categoria profissional.

Claxton (2005) diz que o fato de os pais ou qualquer outra pessoa ajudar uma criança a

realizar uma tarefa difícil, ou seja, eliminar os obstáculos, não ajuda em nada, pois ela sempre

será incapaz de persistir nos obstáculos. Pois quando ela sabe que é capaz de enfrentar as

dificuldades é que a faz superar os problemas.

As pessoas devem ser encorajadas nas tarefas difíceis, fazendo com que se concentrem

no processo que ela vai enfrentar para atingir determinado resultado, e não ficar, desde o

início, focado apenas no resultado. Exemplo disso é quando o aluno foca suas forças e

pensamentos apenas na nota que precisa ou quer tirar, mas não planeja e não se dedica ao

processo que o vai fazer chegar lá.

Claxton cita em sua obra o pensador Edward Bono, o proponente do pensamento

lateral. Este declarou que as pessoas que são inteligentes – e que se enxergam como tal – na

visão limitada e racional do que seja talento, podem bem ser piores aprendizes do que aquelas

que não se comportam desse modo.

Então, a crença de que a inteligência como recurso mental, e competência intelectual

como a principal qualidade da mente tem efeito negativo, com isso na sociedade moderna se

deturpa a natureza da inteligência supervalorizando apenas uma de suas formas.

Essa crença tende a destruir a resistência das pessoas diante da dificuldade da aprendizagem e a conduzi-las desnecessariamente a restringir suas opções de aprendizagem; até mesmo, talvez, a evitar ou fugir totalmente da aprendizagem (CLAXTON, 2005, p.35).

A resiliência deve ser cultivada no aprendiz, pois com ela este consegue ser confiante

e competente, superando sentimentos negativos, porque a aprendizagem é uma atividade

emocional, que Claxton coloca como 1º. pilar da aprendizagem.

Esses sentimentos estão relacionados às emoções, por isso é necessário entender que

lugar as emoções ocupam no processo de aprendizagem, como aprender a lidar, contê-las e a

tolerá-las. A isso o autor denomina “inteligência emocional”.

Claxton (2005) coloca também sobre a decisão de aprender:

Quando alguém opta por não aprender, é porque não sente que isso seja

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bastante seguro, ou porque acredita não possuir habilidades que isso requer, ou não há tempo bastante, ou os possíveis sacrifícios envolvidos são grandes demais, ou simplesmente isso não é importante o suficiente (p. 39).

O importante é o aprendiz conseguir dimensionar seu interesse, necessidades, seus

recursos internos, suas prioridades em relação àquilo que está se dispondo a aprender.

Quando isso não ocorre, ele pode se impor barreiras como: fuga, lutar contra tudo e

todos, angústia, não tentar, desatenção, prejudicando toda a aprendizagem.

Um outro item importante a considerar é a tensão interna, que passa a reprimir reações

físicas do indivíduo.

Às vezes você está sem condições psicológicas, chega nervoso, com dor de barriga pra fazer a prova, já aconteceu com uma amiga minha, ela sabia, na hora deu piriri, errou tudo, foi mal. Eu não sei até que ponto, porque falam que a universidade tem uma certa autonomia, tem, mas não sei onde fica isso, parece que o sistema continua mesmo centrado no professor. (MICHELE)

Com a fala da aluna, sujeito da pesquisa, percebe-se que a questão emocional é muito

séria no processo de ensino-aprendizagem, e os alunos que conseguem dominar suas emoções

podem tem um sucesso maior.

Um exemplo disso é a tensão no pescoço e ombros que causa dores, agitação, pressão

sanguínea, baixa no sistema imunológico. Todas essas reações servem para destruir ainda

mais a energia para a aprendizagem e a disposição para se envolver nela.

O medo também afeta muito a aprendizagem, pois ele pode levar o aprendiz a

(...) prestar a atenção à fonte de uma possível ameaça em vez de ao próprio tópico de aprendizagem (...) e não consigamos perceber a informação importante (...) o medo pode ampliar e difundir (...) de modo que nossa atenção fica dispersa e somos distraídos por coisas não importantes”. (Claxton, 2005, p.44)

O medo desvia a atenção do aprendiz para as situações de ameaça, de preocupação

com o outro, prejudicando sua aprendizagem.

A vergonha é outra categoria que atrapalha o aprendiz. Pode-se sentir vergonha

quando se está em desacordo com determinados padrões.

Todas essas crenças e paradigmas são as que surgem no decorrer da aprendizagem.

Deve-se entender que aprender significa agir na incerteza, pode cometer um erro,

sentir-se confuso, agir de forma inadequada. Entender que o homem, o ser humano, e o

aprendiz têm sentimentos. Por isso tem que conseguir tolerar para sentir-se livre para se

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99 “envolver com os desafios da aprendizagem”.

Todos esses paradigmas, se não forem superados, enfraquecem a resiliência e a

autoconfiança.

Quanto mais acreditamos em nossas habilidades, mais possibilidades são encontradas

em nossa carreira, para atingir nossos objetivos, e porque não dizer, nossas metas.

Por isso o aprendiz deve desligar-se das crenças que diminua sua auto-estima e passe

a ser persistente, insistir sempre para alcançar a aprendizagem.

Ainda, segundo Claxton (2005, p. 45), “permanecer inteligentemente envolvido som

os desafios de aprendizagem que nos são importantes, apesar das dificuldades e dos reveses,

talvez seja a qualidade mais importante de um bom aprendiz”.

Crer na própria competência ao longo da vida faz diferença para a própria

aprendizagem ao longo da vida.

Claxton conclui que:

(...) o fundamental é a competência para se levantar – não uma competência idealizada para jamais cair. Entretanto esperar resiliência o tempo todo não é uma atitude realista. Todo mundo tem dias ruis; a crença em si naturalmente aumenta e diminui. Isso acontece tanto com as crianças quanto com os adultos. (2005, p. 49)

Isso acontece porque somos seres possuidores de sentimentos e emoções, por isso

deve-se sempre buscar por sentimentos positivos. Por isso para que as pessoas desenvolvam o

seu potencial de aprendizagem é preciso entender a necessidade das emoções no processo de

aprendizagem, e saber, ainda, lidar com elas.

Ciente da necessidade do conhecimento e controle do fundo emocional há a

necessidade do aprendiz ser desenvolto, ou seja, “precisa saber o que fazer quando não sabe o

que fazer” (Claxton, 2005, p. 51).

Para isso, o aprendiz pode construir sua aprendizagem através da imersão, que

significa aprender por meio da experiência. E uma das imersões que mais é significativa é o

papel do professor.

Muitos têm a visão de que o ensino tem a ver com a personalidade e que ocorrerá

quando o professor tiver conhecimento, entusiasmo e empatia sem limites.

Esse modelo centrado no conhecimento reforça a crença dos professores de que eles Têm de ser a fonte de todo conhecimento – uma crença que os deixa muito ansiosos e frequentemente os leva a concentrar seus esforços na preparação, estudando com afinco a matéria em vez de pensar sobre as estratégias adequadas de ensino e aprendizagem. Para eles não saber é ser

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menosprezado, ser considerado deficiente e, assim, correr o risco de perder o respeito dos alunos (Claxton, 2005, p. 58).

Não consegue reconhecer que é parte de seu trabalho desenvolver e praticar uma série

de maneiras de ajudar os alunos a aprenderem e saberem.

O autor aborda ainda o poder da intuição para a aprendizagem. Além disso, entende

que os insights, pressentimentos e suposições também são fundamentais.

Explica que o ato de esforçar-se para a aprendizagem pode ter vários efeitos, e um

deles pode destruir a criatividade.

Em primeiro lugar (...) ele pode tornar-nos menos sensível a fontes sutis de informação, tanto aquelas de percepção quanto aquelas das nossas próprias lembranças. Em segundo lugar, ele tende a envolver o ego, a parte de nós que se preocupa com a aparência e com o desempenho, e por isso faz com que nos sintamos ansiosos e sob pressão. Em qualquer campo sabemos como a pressão conduz à auto-percepção, à tensão e à perda de perícia. Em terceiro lugar, ele tende a nos puxar para o pensamento rígido (Claxton, 2005, p. 113).

O fato de se sentir pressionado, de ter que se esforçar ao máximo para impressionar,

conduz as pessoas a um jogo; e jogo não é criatividade.

Essa situação pode se tornar estressante e acaba reprimindo ainda mais a criatividade e

a aprendizagem.

O esforço e a tensão tendem a estreitar o foco da atenção, da mesma forma que a

pressão restringe a atenção, assim também acontece com o excesso de recompensas.

Para amenizar tudo isso, Claxton aborda ainda sobre a possibilidade de aprender a

pensar de forma flexível.

Esse tipo de pensamento acontece em seu tempo próprio. Tem-se que criar condições

para que esse pensamento ocorra, e a mais importante é a necessidade de se permitir:

(...) um tempo no início da aprendizagem antes de nos concentrarmos em questões de análise, planejamento e execução. Se nos apressarmos nesse estágio, tanto a qualidade do processo de aprendizagem quanto a solução criativa estarão em risco. [...] Há muitas histórias de pessoas que tem seus insights quando estão de férias, quando as sementes das idéias de outros podem chegar à superfície da mente e criar raízes (CLAXTON, 2005, p.116 - 126).

Com essa afirmação Claxton indica que muitas vezes a aprendizagem ocorre em

momentos em que você está fora do próprio processo, pois estando mais relaxado você

consegue compreender, entender algo, concretizando assim a aprendizagem. Ele entende

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101 ainda que além de ser resiliente e desenvolto o aprendiz precisa ser reflexivo, sendo então a

reflexão o terceiro pilar da boa aprendizagem.

(...) o potencial de aprendizagem precisa de uma boa base de tolerância emocional em relação às vicissitudes da aprendizagem. E certamente sobre essa base tem de ser construído um repertório amplo e flexível de habilidades e estratégias de aprendizagem – saber o que fazer quando não se sabe o que fazer. (...) os bons aprendizes também precisam ser estrategistas. Precisam conhecer suas próprias mentes; estar conscientes de suas potencialidades e fragilidades; ser capazes de fazer uma avaliação de sua própria aprendizagem e administrá-la eficientemente. Precisam ter a mente aberta, disposição e competência para enxergar, através das aparências de familiaridade, as oportunidades de aprendizagem ocultas por trás delas. Eles precisam ter a disposição e a competência para serem reflexivos (CLAXTON, 2005, p. 135).

O ato de refletir, de se utilizar da reflexão dependerá do incentivo da instigação de

outras pessoas.

Se ouvirmos repetidas vezes, implícita ou explicitamente, que só há basicamente uma forma de olhar as coisas não há porque pensar como poderíamos olhá-las de forma diferente. Porém, se nos disseram que essa é apenas uma forma de olhar as coisas, há motivos para acreditarmos que vamos assumir o controle de nossa aprendizagem e exercer nosso critério, nossas faculdades críticas e nossa criatividade (CLAXTON, 2005, p. 137).

Além disso, a curiosidade de conhecer essas outras formas de olhar as coisas, de

enxergá-las leva à reflexão.

Quanto mais complexas e ambíguas forem as situações ou assuntos é que a mente se

obriga à reflexão, à contemplação daquela determinada situação.

Quando se reflete, pensa-se sobre a experiência e as impressões e significados que

estas causam. As idéias e teorias que foram registradas intelectualmente podem ser

reexaminadas à luz da história pessoal.

Há um forte movimento mundial hoje para colocar essa reflexão ou essa aprendizagem

reflexiva em prática, inicialmente valorizando fundamentalmente a própria experiência da

pessoa. Pois assim, ela consegue expor-se e assume uma postura crítica.

Todos esses recursos discutidos até agora se tratam de recursos internos do aprendiz.

Mas além desses, os aprendizes também necessitam de ferramentas físicas e recursos

materiais.

Não há como aprender a escrever sem caneta e papel, fazer uso de um dicionário, ou

de qualquer outro instrumento que permita o ato de rabiscar (cerâmica, giz, carvão, terrão,

etc.).

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102 As bibliotecas e computadores são recursos fundamentais. Porém a tecnologia deve ser

usada com inteligência, pois caso contrário ela torna os indivíduos preguiçosos. Por isso o uso

da tecnologia deve ser diligente, tornando maior a aprendizagem.

Claxton entende que a educação convencional, que persiste em operar como se a

inteligência estivesse toda na cabeça, deve ser superada.

A percepção de que os aprendizes humanos rotineiramente se baseiam tanto nas ferramentas externas quanto nas internas dá o golpe de misericórdia na noção tradicional de “competência” (2005, p. 165).

Além disso, a idéia de que a inteligência é puramente cognitiva não é válida porque a

pessoa enquanto aprendiz não se separa de suas qualidades, valores, crenças, disposições e

personalidade.

Como cita Claxton:

Competência é a pessoa mais as oportunidades de ajuda que seu ambiente proporciona mais sua habilidade de detectar, criar e lidar com esses recursos [...]. Se não entendermos a inteligência dessa forma, se insistirmos em pensar que ela está toda na cabeça, negligenciaremos um aspecto importante do potencial de desenvolvimento. Somente enxergaremos nossas mentes como usuárias de ferramentas, desenvolveremos o hábito de olhar em torno, pois só assim enxergaremos que ajuda temos à mão (2005, p. 166).

Encontram-se muitas dessas ferramentas no contexto social: família, escola,

professores, amigos, onde se desenvolvem as relações.

Com a família vivenciam-se os valores, costumes, e certa cultura. E é claro afetando e

interferindo no processo de aprendizagem.

As mudanças ocorridas mundialmente no século XX, como o aumento das grandes

corporações globais industriais e na mobilidade de seu capital, acabaram por aumentar a

necessidade do potencial de aprendizagem para ingressar no mundo do trabalho.

Porém, os tipos de empregos disponíveis mudaram do manual para o mental. Então

esse trabalho exige o gosto pelo trabalho cerebral e uma enorme competência para tal.

Mudou também a maneira de como as pessoas pensam no trabalho e como

administram suas vidas profissionais.

Foi-se o tempo em que uma pessoa estudava para uma profissão e confiantemente a exercitava até se aposentar. (...) As pessoas devem estar preparadas para se reexercitarem, talvez várias vezes no decorrer de suas vidas profissionais, buscando constantemente meios de investir, como diz o jargão atual, em seu ‘capital cognitivo’ (CLAXTON, 2005, p. 180).

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Esse investimento significa atualização constante, aprender sempre, acompanhar os

acontecimentos e os eventos em torno de si e de seu trabalho. É exercitar a aprendizagem.

A aprendizagem sob este foco é algo que se constrói durante toda vida, não é algo que

começa e acaba.

Para uma boa aprendizagem é necessário que o indivíduo cresça num ambiente seguro,

que:

(...) proporcione padrões claros e consistentes, os quais a competência de aprendizagem natural do cérebro da criança pequena possa captar e utilizar. Os pais devem transmitir uma segurança básica que permita às crianças acreditarem que o seu mundo é compreensível, previsível e, por conseguinte, controlável. Essa segurança básica torna valioso para as crianças investirem seus próprios esforços e talentos para extrair significado delas próprias (CLAXTON, 2005, p. 189).

Além dessa segurança a ser transmitida, as crianças devem ser estimuladas com

“opções de aprendizagem interessantes e desafiadoras”.

Uma criança cujos pais podem lhe proporcionar recursos materiais, pode cuidar, dar-

lhe brinquedos, jogos, férias, viagens, passeios a parques, jardins, tem um tipo de

oportunidade de aprendizagem.

Os que não têm esses recursos possuem uma diferenciada oportunidade de

aprendizagem. Porém, as bases de uma vida de aprendizagem são determinadas tanto por

considerações financeiras e políticas quanto pelas condições psicológicas.

Mais importante que os meios materiais é a relação que se tem com as pessoas com as

quais convive: seus pais, cuidadores, irmãos, irmãos mais velhos; e se as interações entre eles

são responsivas e recíprocas a aprendizagem ocorrerá mais facilmente.

É também fundamental que

(...) pais e cuidadores não ajudem demais os filhos, especialmente quando eles têm dificuldades na aprendizagem. Apressar ou socorrer as crianças prematuramente as priva da oportunidade de flexionar seus músculos da aprendizagem, tornando-as acostumadas às emoções que naturalmente acompanham essas dificuldades: frustração, confusão, apreensão, etc. (CLAXTON, 2005, p. 191).

Além disso, Claxton adverte que os pais não devem querer proteger seus filhos da

angústia, resolvendo os problemas de aprendizagem por eles.

Devem permitir que eles lutem com as dificuldades. Devem ensinar-lhes que não

precisam se envergonhar ou se preocupar com isso. Mas ao contrário, muitos pais transmitem

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104 para o filho sua própria ansiedade.

Por isso a idéia de que precisamos preparar os jovens para lidar bem com a incerteza, e estar prontos para construir suas próprias mentes a fim de lidar com dilemas complexos, não é algo oposto à idéia de que as crianças precisam de estrutura, proteção e orientação. É claro que devemos dar a elas a base mais segura que pudermos. Contudo, atualmente, uma estrutura moral tem de ser a plataforma de lançamento para as perguntas e as explorações de uma criança, e não um código de ética, rigidamente, imposto que impeça essa aprendizagem (CLAXTON, 2005, p. 195).

As escolas também são extremamente importantes, mas o ensino está muito longe de

proporcionar a qualidade de educação necessária.

Hoje a educação deve lidar com um futuro imprevisível. Assim o que se deve tentar é

preparar jovens para lidar com as incertezas.

Como disse John Holt na década de 1960: como não podemos saber que conhecimento será mais necessário no futuro, não faz sentido tentar ensiná-lo antecipadamente. Em vez disso devemos formar as pessoas que gostam muito de aprender e aprendem tão bem para que elas sejam capazes de aprender qualquer coisa que precise ser aprendida (CLAXTON, 2005, p. 201).

O objetivo da educação deve ser então o de preparar o jovem para que no futuro tenha

uma vida feliz, seja responsável e bem sucedido. E isso é possível quando ele desenvolve todo

o seu potencial de aprendizagem.

Ajudar os alunos a se tornarem melhores aprendizes não significa abandonar as preocupações do currículo tradicional; significa encontrar formas de cuidar do processo da aprendizagem ao mesmo tempo em que se está elaborando qualquer conteúdo particular (CLAXTON, 2005, p. 208).

A universidade tem enfrentado um grande problema, pois a falta de resiliência, de

coragem e curiosidade dos alunos, parece ser de âmbito mundial.

Os alunos não desafiam seus professores por temer irritá-los e assim, não conseguirem a nota que precisam [...]. E talvez alguns professores perpetuem o embotamento, porque seus empregos dependem de um bom feedback dos alunos e porque as finanças da sua universidade dependem de um bom recrutamento[...]. Quanto menos os alunos forem desafiados, estimulados a pensar mais ou escrever com mais clareza, menos eles passarão a esperar por isso – e a ser capazes de tolerá-los quando acontecer. E, quando a auto-estima torna-se mais frágil e a resiliência entra em colapso, também os professores, devido a um amálgama curioso de preocupação e interesse próprio, recuam [...] Mesmo em uma visão relativamente convencional da educação superior, a forma de avaliação tem um profundo impacto naquilo

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que os alunos aprendem, em como eles aprendem e o que consequentemente aprendem sobre a aprendizagem. Quando a avaliação externa é a norma, a influência sobre o modo como os alunos aprendem é o tipo de avaliação que eles antecipam. Os testes de memória direcionam os aprendizes para estratégias de retenção literal e os distanciam da tentativa de assimilar e interpretar. [...]. Ser um profissional bem sucedido requer mais que o domínio de uma habilidade específica e de uma matéria; demanda a competência para aplicar o próprio conhecimento e a própria experiência de modo criativo adequado diante de uma sucessão de situações sem precedentes[...]. De certa forma o ensino superior tem feito novas abordagens, buscando na aprendizagem dos adultos métodos e atitudes que valorizam a imersão na experiência, o uso da imaginação, da colaboração, “assim como desenvolvendo a competência e a disposição dos alunos para assumir a responsabilidade por sua própria aprendizagem” (CLAXTON, 2005, p. 212-219).

O futuro é incerto e por isso precisamos desenvolver todo potencial de aprendizagem

que for possível. As instituições empresariais e de educação, até mesmo os estilos de

paternidade/maternidade, têm de mudar para que o desenvolvimento e a expressão do

potencial de aprendizagem tornem-se possibilidades reais. Esse novo modelo de

aprendizagem nos diz que todos têm competência para se tornar um melhor aprendiz e que há

condições, nas quais o potencial de aprendizagem se desenvolve. A aprendizagem é

impossível sem resiliência: a competência para tolerar uma certa estranheza .

Há muitas evidências de que é totalmente possível melhorar o potencial de

aprendizagem, e que esse processo se iniciado na infância pode se estender ao longo da vida.

É verdade, eu acredito nisso, que o mundo de amanhã será um mundo que imporá exigências sem precedentes às pessoas comuns para serem bons aprendizes ao longo da vida. (...) Aqueles que estão preocupados em construir uma sociedade de aprendizagem global têm de desenvolver sua própria resiliência, seus próprios recursos e sua própria reflexão. É uma tarefa desafiadora e incerta. Contudo, não conheço nenhuma mais importante (CLAXTON, 2005, p. 240).

Todas as propriedades, recursos e capitais que a criança consegue abstrair das relações

sociais efetivas, significam dizer que:

(...) as propriedades, capitais ou recursos não são coisas que determinam o indivíduo, mas realidades emanadas em seres sociais concretos que, através de seu modo de relacionamento com as crianças, irão permitir, progressivamente, que constitua uma relação com o mundo (LAHIRE, 2004, p. 18).

O autor se afasta de qualquer ideologia de que a evolução cognitiva é natural e

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106 universal, comum às crianças de uma mesma faixa etária.

Ele acredita que os resultados e os comportamentos escolares da criança só podem ser

compreendidos se for reconstruída sua rede de interdependências familiares através das quais

estes esquemas podem reagir quando funcionarem em formas escolares de relações sociais.

De certo modo, podemos dizer que os casos de fracassos escolares são casos de solidão dos alunos no universo escolar (os tipos de orientação cognitiva, os tipos de práticas de linguagem, os tipos de comportamentos próprios à escola), as formas escolares de relações sociais (LAHIRE, 2004, p. 19).

Muitas vezes as crianças não possuem condições e nem disposições cognitivas para

atender às necessidades escolares, e então ficam sozinhas e alheias diante das exigências

escolares. Quando vão para casa levam um problema escolar e as pessoas de suas relações

sociais não podem ajudá-las e elas permanecem mais uma vez alheias e sozinhas, carregando

problemas insolúveis.

A família pode ajudar de forma positiva, não necessariamente voltada ao domínio

escolar, mas a domínios periféricos.

Moral do bom comportamento, da conformidade às regras, moral do esforço, da perseverança, são esses os traços que podem preparar, sem que seja consciente ou intencionalmente visada, no âmbito de um projeto de uma mobilização de recurso, uma boa escolaridade (LAHIRE, 2004, p. 26).

Além desses fatores, o autor é contra a idéia de que as famílias populares cujos filhos

tiveram sucesso na escola exerçam práticas de supervalorização. Significando muitas vezes

que os estudos dos filhos passaram a ser o projeto exclusivo da família, tornando-se uma

obsessão, buscando que seu filho tenha um seguro sucesso.

Mas isso muitas vezes tem a ver com pais que querem ver os filhos chegarem aonde

não chegaram. Mas isso tudo é perigoso, pois:

(...) os efeitos sobre a escolaridade da criança podem variar segundo as formas para incitar a criança a ter “sucesso” ou a estudar para ter “sucesso”, segundo a capacidade familiar de ajudar a criança a realizar os objetivos que lhes são fixados (LARIRE, 2004, p. 29).

Quanto a isso, vai depender dos modelos de famílias, cujos filhos garantem “sucesso

escolar”, pois as famílias populares alcançam isso com seus filhos em várias hipóteses:

projeto escolar, superinvestimento escolar, família operária militante (que por serem

militantes religiosos, sindicais, políticos, desenvolve um interesse intelectual maior), famílias

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107 autodidatas (operário especializado), famílias que intervêm nas condições morais, financeiras

e afetivas.

O capital cultural a ser transmitido ou adquirido depende das relações sociais duráveis.

É um mito a omissão parental como fator do fracasso escolar.

Muitos professores fazem deduções a partir de comportamentos e dos desempenhos

escolares dos alunos. Alegando que os pais não se importam com os filhos.

Nosso estudo revela claramente a profunda injustiça interpretativa que se comete quando se evoca uma ‘omissão’ ou uma ‘negligência’ dos pais. Quase todos os que investigamos qualquer que seja a situação escolar da criança, têm o sentimento de que a escola é algo importante e manifestam a esperança de ver os filhos ‘sair-se’ melhor do que eles (LAHIRE, 2004, p. 334).

O futuro herdeiro do ‘capital cultural’ nem sempre encontra condições adequadas para

receber determinada herança.

Entendendo a aprendizagem dessa forma, necessário se faz entender melhor como o

professor deve proceder no momento de avaliar o aluno. Entende-se que o processo de

avaliação está aliado ao processo de aprendizagem, e que a aprendizagem não pode estar

ausente quando se discute a avaliação.

Quanto a isso, Masetto entende que:

Com efeito, se os professores do ensino superior se dispusessem a fazer todas as alterações que vimos defendendo ao longo dessas páginas, modificando suas aulas, utilizando de novas tecnologias, selecionando conteúdos significativos, desenvolvendo um relacionamento adulto com a turma, pondo em prática uma mediação pedagógica e ao final não alterasse a avaliação, ou seja, continuasse fazendo uma avaliação como em geral se fazem nas instituições, eu diria que em nada teria adiantado todas as mudanças, pois para o aluno tudo continuaria sendo decidido nas provas e todo o trabalho inovador e participante durante o ano não teria nenhum outro valor. Esse comportamento seria o mesmo que colocar uma pá de cal sobre as inovações pedagógicas e mais uma vez perder a confiança dos alunos (MASETTO, 2003, p.145).

Essa colocação do autor remete à certeza de que depois de todo um trabalho, de

dedicação para envolver o aluno no processo de aprendizagem, trazendo-o para o centro, uma

simples aplicação de prova, a somatória apenas de seu conceito faz cair por terra todo trabalho

anterior e, sem dúvidas, o professor também perde a credibilidade, pois os alunos entenderão

que aquilo que ele prega não condiz com sua atitude final deste processo de aprendizagem.

Por isso, avaliação e aprendizagem são aliados, fazem parte do mesmo processo e é

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108 necessário conhecimento e desprendimento para se lançar mão de técnicas avaliativas, não se

esquecendo que todo processo de avaliação não envolve somente discente, mas também os

docentes.

Quanto a isso, interessante é o fato de que muitos professores se acham “muito bons”

quando toda a classe vai mal, não se atentando para o seu desempenho como professor no

processo de aprendizagem.

Todos os professores querem que seus alunos aprendam, mas nem todos estão atentos a algumas características do processo de aprendizagem. Embora na teoria saibam que as pessoas são diferentes, não são homogêneas, que ritmos de aprendizagem variam de indivíduo para indivíduo e até mesmo no próprio indivíduo, dependendo de uma série de circunstâncias, no entanto agem de forma contraditória ao elaborar um plano para todo o grupo, sem flexibilidade para ritmos diferentes entre os alunos, para situações de erros, para dificuldades maiores na consecução dos objetivos. Quando se dão conta dessas questões, tratam-nas como problemas que aparecem quando não deviam e surgem para complicar as atividades docentes ou atrasar o programa (MASETTO, 2003, p. 149).

O Serviço Social tem em seu Código de Ética alguns princípios norteadores da

profissão para construção de um projeto ético-político profissional que visa a conquista de

uma nova sociedade.

Um dos onze princípios que é apresentado traz o seguinte: “Empenho na eliminação

de todas as formas de preconceito, incentivando o respeito à diversidade, à participação de

grupos socialmente discriminados e à discussão das diferenças”.

Além disso, outros princípios dizem sobre a garantia do pluralismo, a construção de

uma nova ordem societária, sem dominação-exploração, compromisso com a qualidade dos

serviços prestados e com o aprimoramento intelectual, na perspectiva da competência

profissional, exercício do Serviço Social sem ser discriminado ou discriminar.

Tentando fazer uma ponte destes princípios com o assunto discutido, podem-se fazer

alguns questionamentos.

O professor (assistente social) não deixa de ser um profissional, mesmo que na

qualidade de professor em sala de aula tenha que respeitar as diferenças, não ser dominador

ou explorador, comprometer-se para que sua atividade profissional seja de qualidade,

principalmente como professor, pois este exerce um papel fundamental na formação do futuro

profissional. E um dos principais, em relação ao assunto, é não discriminar. Não discriminar o

aluno por ele ser “melhor” ou “pior” ou “diferente” daquele que ele entende como “bom

aluno” ou porque não tira as melhores notas.

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109 De acordo com CURY (2006, p.89): “Bons alunos são repetidores de informações,

alunos fascinantes são pensadores”.

O autor nos remete a uma reflexão muito importante. Muitos professores aplicam suas

provas e só valorizam aquilo que o aluno repete, tanto do conteúdo dos textos ou das palavras

do próprio professor. Será que assim se garante um aluno fascinante, que consegue ordenar

seus pensamentos e se tornar um pensador crítico?

Se ninguém é igual a ninguém, então:

Nunca valorizem um defeito físico de alguém ou um comportamento de alguém que vocês achem estranho. Valorizem suas qualidades e respeitem as diferenças. Jamais coloquem apelidos ou diminuam as pessoas. Mesmo em tom de brincadeira, não copiem os programas de humor que debocham das características dos outros para fazer a platéia rir. Os verdadeiros pensadores são apaixonados pela humanidade, conseguem colocar-se no lugar dos outros e enxergar o invisível (CURY, 2006, p.103).

Analisando essa afirmação de Cury, fica clara a idéia de que um bom aluno é esse, e

muitas vezes aquele aluno que aparenta ser “mau aluno” ou “desinteressado” é um ótimo

crítico e saberá como conduzir-se na profissão. E o risco de traumas e sequelas causadas por

atitudes impensadas de professores muitas vezes causam situações irreversíveis.

2.2 As Competências e Habilidades do Professor para se Constituir como um Profissional da Aprendizagem

Eu acho que quando a gente pensa no exercício docente como um conjunto de coisas, que não é só uma prova, não é só uma avaliação, mas a vivencia que você tem com o aluno durante aquele período, e durante aquele período você tem um papel importante, tanto para o bem quanto para o mal, você pode tanto contribuir, como você pode acabar com algumas coisas que o aluno traz... (Líria)

O professor sobre o qual se está refletindo é aquele que desenvolve competências e

habilidades para ser um participante contínuo e ativo do processo ensino-aprendizagem da

forma como delineado no item anterior.

É, portanto, mais do que um transmissor de conhecimentos adquiridos em sua própria

formação e experiência de vida. É um professor que terá que desenvolver, necessariamente,

outras e significativas competências além da sua própria formação intelectual. Esta se espera

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110 que seja sólida e consistente, mas não apenas isso. Terá que estar associada a outras

competências para construir um profissional capaz de participar efetivamente de um processo

que tem como visto no item anterior, os alunos como centro da aprendizagem.

Uma primeira dificuldade se coloca para a discussão das habilidades desse professor.

Em que sistema educacional ele atua e como se coloca nele?

Perrenoud (2002, p. 12) adverte que:

Não é possível formar professores sem fazer escolhas ideológicas. Conforme o modelo de sociedade e de ser humano que defendemos, não atribuiremos as mesmas finalidades à escola e, portanto, não definiremos da mesma maneira o papel dos professores. .... As finalidades do sistema educacional e as competências dos professores não podem ser dissociadas tão facilmente. Não privilegiamos a mesma figura do professor se desejamos uma escola que desenvolva a autonomia ou o conformismo, a abertura ao mundo ou o nacionalismo, a tolerância ou o desprezo por outras culturas, o gosto pelo risco intelectual ou a busca de certezas, o espírito de pesquisa ou o dogmatismo, o sentido de cooperação ou o modo de competição, a solidariedade ou o individualismo. ... O que será colocado em prática depende da luta política e dos recursos econômicos. Mesmo no caso de nos dirigirmos a uma sociedade planetária dominada por algumas grandes potências, as finalidades da educação continuam sendo uma questão nacional. O pensamento e as idéias podem atravessar fronteiras, mas os brasileiros é que definirão as finalidades da escola no Brasil, e consequentemente, formarão seus professores. A questão é saber se o farão de uma forma democrática ou se a educação continuará sendo, como na maioria dos países, um instrumento de reprodução das desigualdades e de sujeição das massas ao pensamento dominante.

Portanto, lícito concluir que não se pode refletir sobre competências de um professor

isolado, mas que se deve ter em conta, também, o sistema educacional do qual este professor

faz parte, assim como as dificuldades e limitações que isso implica.

O professor capaz de desenvolver as competências necessárias para a implantação de

uma efetiva aprendizagem está situado em um sistema educacional ainda bastante elitista e

precário. Sistema que trafega entre a busca da profissionalização e do sucesso econômico

existente em grande parte das escolas privadas do país, e a miserabilidade quase absoluta a

que se encontram reduzidas as escolas públicas, nos diferentes graus de formação de seus

alunos.

É, portanto, com os “pés no chão” da realidade brasileira, cuja educação para além do

nível fundamental é ainda um artigo de luxo de expressiva parcela da população, e onde o

ensino universitário nos grandes centros urbanos ocorre mais em instituições privadas e

comprometidas com seus próprios resultados financeiros do que em instituições públicas

compromissadas apenas com a relação ensino-aprendizagem, que se pretende refletir sobre

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111 competências e habilidades do professor para desenvolver e participar de um processo de

ensino-aprendizagem. E pode-se ver que mesmo em universidades públicas os problemas

existem colocando limites na atuação docente. Veja a fala das professoras Sandra e Olegna,

sujeitos da pesquisa:

Por isso que eu acho complicado afirmar que é possível ensinar o projeto ético político, teria que ter maior investimento nisso, maior carga horária, por exemplo, a minha carga horária é minúscula, então eu faço o possível mas não dá. (OLEGNA) E com o Arrocho, que a gente foi sofrendo nos últimos anos, eles foram diminuindo, então agora para cada grupo de 10 alunos, nós só temos 7 horas, ou seja, nós temos cerca de 35 minutos por aluno. (SANDRA)

É Machado (2002, p. 141) quem, abordando aspectos da competência com objetividade,

lembra que:

Mesmo sem ter sido enunciado qualquer conceito, sem ter sido utilizada a palavra “competência” senão em sentido intuitivo ou em ligação direta com sua distante etimologia, certamente causaria estranheza entre educadores afirmações do tipo: “Meu computador é extremamente competente.”, ou “Tenho um livro muito competente.” De fato, há uma espécie de consenso tácito no que se refere à semântica da palavra “competência”: as pessoas é que são ou não são competentes, e toda tentativa de atribuição de competência a objetos ou artefatos parece insólita ou inadequada. A pessoalidade é, pois, a primeira característica fundamental da idéia de competência.

Busca-se, portanto, de um professor competente, independentemente da instituição de

ensino onde ele atue, e do sistema educacional de que ela faça parte. Para além da utopia ou

da fantasia, reflete-se sobre a prática competente de profissionais da educação que, apesar dos

limites e barreiras do cotidiano das instituições educacionais onde atuam, se proponham

efetivamente a atuar com as competências e habilidades essenciais para a construção de um

verdadeiro processo de ensino-aprendizagem.

Nessa perspectiva, é possível admitir que existam professores competentes para atuar

no processo ensino-aprendizagem, apesar da precariedade da escola pública brasileira e dos

interesses nem sempre transparentes do ensino privado, em especial daquela parcela do ensino

voltada exclusivamente para a formação profissional do aluno sem maior preocupação com a

formação cidadã desse mesmo aluno. Esses seriam os docentes que realmente têm aptidão

para exercer a profissão e que a escolheram pelo veio do amor e da paixão e não

simplesmente pela necessidade de exercer uma atividade remunerada.

Quanto a isso, as professoras Jolinda e Sandra explicitam suas opiniões:

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Eu sempre quis ser docente. Qualquer profissão que seu escolhesse eu seria professora. Minha mãe já dizia, desde pequinininha que eu não cansava de explicar. Então ela falava: ela vai ser professora, não tem jeito. Então eu não sei se a gente pode chamar isso de aptidão, vocação, não sei, eu acho que é você gostar de fazer aquilo, eu me realizo, eu me realizo dando aula.(JOLINDA) Eu acho que você tem o cara que é professor e o cara que está professor. (SANDRA)

Adverte ainda MACHADO(2002) que a idéia de pessoa inclui a de cidadão, em

especial no que se refere aos diversos papéis e âmbitos em que se dá a vivência e a atuação de

cada um, ou seja, social, político, econômico, entre outros.

Nesse sentido, é possível detectar que uma das primeiras competências do professor

deva ser sua interação com a esfera do coletivo, ou seja, que sua relação com a profissão seja

moldada para além da esfera da realização pessoal, e consequentemente, comprometida com a

sociedade onde atua. Em outras e poucas palavras, só se pode admitir um processo

educacional que verdadeiramente privilegie a aprendizagem, se organizado por um professor

que seja cidadão, e que exerça essa cidadania para muito além do simples ato de votar ou

discutir política partidária. É preciso que priorize e pratique a cidadania em sua atividade

cotidiana, como um propósito permanente, como verdadeira responsabilidade ético-política.

Reafirmando essa idéia, Ribas (2.000) coloca que por ser social, o homem não se realiza

pessoalmente se não puder realizar-se socialmente. Portanto, precisa conhecer-se, educar-se,

preparar-se para responder às responsabilidades coletivas, exercer direitos e deveres, cumprir

as responsabilidades profissionais e políticas para alcançar a cidadania. O homem educado é

capaz, com os próprios conhecimentos, ter acesso à herança cultural da humanidade. Com os

desafios do terceiro milênio, a capacidade de produzir conhecimento torna-se uma estratégia

de todas as escolas e de todas as instâncias educativas, em particular dos seus profissionais.

Nessa perspectiva, o professor se integra e se relaciona com alunos, e pretende

colaborar para construir a formação deles como cidadãos, e não apenas como técnicos

habilitados para a carreira profissional escolhida. A construção do conhecimento que se

dispõe a realizar com esses alunos leva em conta, também e permanentemente, a esfera social

em que se realiza, objetivando a escolha de valores e práticas que sejam, antes de tudo,

marcadas pela preocupação com as injustiças sociais e a busca da melhoria do projeto social

em vigor, e no caso do Serviço Social, levar os alunos a se engajarem na luta pela implantação

do projeto ético-político da profissão.

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113

Também no mesmo sentido, Perrenoud (2002, p. 14) destaca:

Consigo visualizar uma figura do professor ideal no duplo registro da cidadania e da construção de competências. Para desenvolver uma cidadania adaptada ao mundo contemporâneo, defendo o perfil de um professor que seja ao mesmo tempo: 1. Pessoa confiável; 2. Mediador intercultural; 3. Mediador de uma comunidade educativa; 4. Garantia da Lei; 5. Organizador de uma vida democrática; 6. Transmissor cultural; 7. Intelectual. No registro da construção de saberes e competências, citaria um professor que fosse: 1. Organizador de uma pedagogia construtivista; 2. Garantia dos sentidos dos saberes; 3. Criador de situações de aprendizagem; 4.Administrador da heterogeneidade; 5. Regulador dos processos e percursos de formação.

Sem a pretensão de comentar todos os aspectos destacados por Perrenoud, cumpre

enfatizar que a relação entre cidadania-confiança-democracia constitui a base sobre a qual se

assentam as competências de um professor capaz de criar situações de aprendizagem efetivas

para os alunos com os quais desenvolve sua atividade profissional.

O saber-fazer do professor vai além da transmissão do conhecimento, e não está nunca

definitivamente pronto e acabado, visto que se renova a cada experiência vivenciada com seus

alunos, e se constitui, sobretudo, em uma prática de permanente reflexão sobre seu trabalho e

a relação deste trabalho com o grupo de alunos, com a instituição educacional e com a própria

sociedade. Ao mesmo tempo, esse saber-fazer profissional do professor tem por objetivo,

permanente e integrado com a transmissão de saberes, o desenvolvimento de alunos que

sejam participantes ativos de seu processo de aprendizagem, e cuja atividade de aprendizagem

não se esgote apenas na relação formal da escola e sob a batuta de um professor, mas se

estenda para todos os vértices de sua vida.

Talvez nesse sentido é que Altet (2001, p. 23-35) afirme:

O ensino não existe sem a sua finalidade de aprendizagem e o professor deve ser o gestor das condições de aprendizagem, desenvolvendo a regulação interativa em sala de aula. As competências do professor profissional é o conjunto formado por conhecimentos, posturas, ações e atitudes.

Com a habilidade de gestor das condições de aprendizagem, o professor se coloca na

dualidade de ser, sim, detentor de conhecimento de conteúdos específicos, mas, ao mesmo

tempo, esse conhecimento não se revela como um sentido em si próprio para ser ensinado sem

questionamento, e nem se constitui em um elemento sem importância para o aluno.

É antes um conhecimento motivador que permitirá ao aluno, juntamente com outros

colegas e com o próprio professor, definir trajetos para serem trilhados, utilizando as

vivências já adquiridas e buscando outras e novas trajetórias, de tal sorte que o aluno seja

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114 participante e ativo nessa busca e compreensão.

Essa perspectiva implica, em significativa mudança do papel do professor, o que

somente será possível se ele estiver disposto a arriscar, renovar, ousar e ir além dos limites

colocados como normais da transmissão do conhecimento.

Nessa nova proposta de atuação, que prioriza a aprendizagem do aluno e não o simples

cumprimento burocrático dos conteúdos programáticos postos pela Instituição de Ensino, o

professor é antes de tudo um pesquisador. Pesquisador de conteúdos do conhecimento, mas

também um pesquisador constante das formas que possam facilitar a aprendizagem dos

alunos, formas que ajudem o aluno a aprender, que o estimulem a trazer suas vivências

pessoais para o contexto da aprendizagem, que criem, enfim, condições efetivas para essa

aprendizagem.

É, sem dúvida, uma experiência muito mais intensa para o professor, mas que vai

causar medo, angústia, dúvida e ansiedade, não apenas por se tratar de uma nova proposta,

mas porque exige muito mais do professor do que o tradicional papel de detentor e

transmissor do conhecimento.

Exige, principalmente, o caminho da elaboração e da pesquisa realizados

conjuntamente com os alunos, o que nem sempre é trajetória fácil para o professor, sobretudo

em razão das condições dadas pela instituição educacional.

De todo modo, sem um traço de ousadia e coragem, nenhum professor poderá

vivenciar com sinceridade a opção por uma relação que privilegie a aprendizagem dos alunos,

e a sua construção conjunta. Em síntese, o professor ou, melhor dizendo, o assistente social

docente, deve ser além de profissional, um educador, um gestor e um pesquisador. Deve ter

um adequado preparo para exercer a função docente como educador, e que consiga avaliar o

aluno em compatibilidade ao processo de ensino aprendizagem que tenha lhe sido

proporcionado.

Uma das professoras entrevistadas na pesquisa aborda aspectos relacionados a isso:

Eu questiono muito a forma de avaliação, eu gosto de fazer avaliação de multipla escolha, teste, porque quando eu vou montar eu monto com o meu nivel de abstração, que nem sempre é o nivel que o aluno alcançou, então eu sofro muito pra montar as avaliações, porque eu fico pensando, “eu quero perguntar isso dessa forma, mas será que ele vai chegar nesse nivel de raciocionio que eu cheguei”, então eu fico tentando achar uma forma que eu consiga manter uma coisa bem, com conteudo bem pesado, mas que dê para o nivel de abstração que o aluno tem que é diferente do meu. E nem sempre da muito certo, nas de multipla escolha geralmente eles vão muito mal na prova, mas eu não aboli isso, porque mesmo eles indo muito mal, eu sei o que ficou faltando trabalhar(...). (OLEGNA).

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115

O aluno deve conquistar autonomia, através de sua responsabilidade na participação de

seu processo de aprendizagem.

O educador contemporâneo necessita romper com o tradicional, executando uma

“prática educativa crítica e superadora das formas de opressão e exclusão atuais”. (ALBIERO,

2006, p. 50).

E, considerando a avaliação como parte do processo de ensino-aprendizagem, ela pode

ser um meio de exclusão do aluno, por isso o docente deve ser cuidadoso com os métodos e

formas de avaliar o aprendizado de seus alunos.

Na avaliação é emitido um juízo de valor, pois depende de um julgamento subjetivo,

pois os valores dependem da questão cultural e ideológica, e a ela está ligada uma

intencionalidade do avaliador, tendo como objetivo a intervenção para atingir a melhora.

A avaliação tem um caráter includente e não excludente. Essa inclusão está

relacionada ao ato de proporcionar mudanças e crescimento para o aluno e professor, pois os

dois devem se comprometer a recuperar a maneira de aprender.

O aluno deve ser considerado como sujeito, valorizando seu potencial individual, e

sendo estimulada e incentivada nele sua autoconfiança e auto-realização.

[...] para avaliar processos participativos, é preciso participar, e isso exige tempo de convivência e compromisso comprovado. A avaliação qualitativa de processos participativos necessita também da auto-avaliação, pois a qualidade não se capta observando, e sim participando (ALBIERO, 2006, p. 53).

É só na relação de troca, diálogos, ou seja, numa participação conjunta durante todo

processo educativo, através de um tempo de convivência, que se consegue avaliar o processo

participativo.

Em relação ao curso de Serviço Social, suas diretrizes curriculares acompanham as

exigências da LDB e surge como proposta de se formar profissionais críticos em relação aos:

(...) processos sociais numa perspectiva de totalidade, oferecendo elementos para análise das particularidades do movimento de constituição da sociedade, do Estado, de modo a apreender os traços próprios assumidos pela expansão capitalista no Brasil ( ALBIERO, 2006, p. 71).

Na década de 1990, algumas conquistas foram atingidas: a Assistência Social como

política pública, compondo o tripé da Seguridade Social, vislumbrada pela Constituição

Federal de 1988; a municipalização e descentralização das políticas sociais públicas; revisão

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116 curricular dos cursos de graduação em Serviço Social e revisão do Código de Ética e da Lei

de Regulamentação da profissão.

Para o Serviço Social brasileiro, foi um período de consolidação de avanços que estão expressos no Código de Ética dos Assistentes Sociais (1993) e nas diretrizes curriculares da área do Serviço Social (1999), que resultam na hegemonia do atual projeto ético-político do Serviço Social, nos âmbitos da formação universitária e do exercício profissional (ALBIERO, 2006, p. 75).

O assistente social trabalha na “mediação entre Estado, burguesia e classe

trabalhadora” e muitas vezes sequer trabalho ou emprego o cidadão consegue, nem mesmo na

informalidade.

Portanto, este profissional deve realizar essa mediação para que se efetivem direitos

sociais que a população atendida tem.

Para formar um profissional para trabalhar neste cenário encontra-se um enorme

desafio.

Daí a grande importância de uma formação profissional de qualidade, que não esteja voltada apenas às exigências do mercado, mas que dê subsídios a uma atuação comprometida com conhecimentos teóricos e práticos ancorados pela ética. [...] O assistente social é desafiado a atuar nesta complexa realidade. Desafio este que se coloca necessariamente para a formação profissional, de modo a garantir um conjunto de novas competências alicerçadas nos componentes históricos, teóricos, éticos, políticos, técnicos e operativos e no acúmulo de conhecimentos adquiridos pela maturidade acadêmico-profissional e político-organizativa da profissão (ALBIERO, 2006, p. 76).

Assim, a formação do Assistente Social perpassa por diversos campos para que ele se

prepare para enfrentar o mercado de trabalho e, acima de tudo, seja um profissional

comprometido com os princípios éticos, e é por isso que no “projeto político da profissão a

formação dos futuros assistentes sociais ocupa lugar central”.

Esta formação está alicerçada nos “princípios da formação profissional” expressos nas

Diretrizes Curriculares da ABEPSS(1986), que também abrange três núcleos de

fundamentação para esta formação, sendo eles: núcleo de fundamentos teórico-metodológicos

da vida social, núcleo de fundamentos da particularidade da formação sócio-histórica da

sociedade brasileira e núcleo de fundamentos do trabalho profissional.

Esses núcleos são “a essência da formação profissional e dão suporte teórico-prático à

compreensão dos fundamentos teórico-metodológicos da crítica marxiana, vendo o ser social

enquanto totalidade histórica” (ALBIERO, 2006, p. 80).

É fundamental que o assistente social consiga compreender e assimilar esses

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117 fundamentos para que possa realizar uma intervenção consciente e comprometida com seus

usuários, buscando a garantia de seus direitos, enquanto cidadão, com dignidade.

E, neste caso, a avaliação formativa é o melhor caminho, entendida como uma ética da

libertação e não como instrumento de domesticação, para assim conseguir a formação de

profissionais críticos.

Eu acho, que independente, tratando-se de Serviço Social, independente da matéria, eu acho que ele consegue ver se a gente conseguiu relacionar com as outras coisas, eu acho que, não dá nada para ser individual, fechadinho, sabe. E essas formas, eu não acho que então seria uma prova, por exemplo, objetiva, de ‘decoreba’. Talvez um trabalho, igual eu já tinha falado, ou uma discussão, uma visita de campo, ou num relatório, alguma coisa assim. (Michele) Na sala de aula, nas discussões da sala de aula, nas discussões de avaliação do último bimestre, que eu pego situações cotidianas do S.S., casos como se chama, eu não gosto desse nome, mas é o nome que se dá no Serviço Social, então eu pego situações pontuais e coloco questões do ponto de vista ético, e o retorno disso me, me mostra o quanto eles aprenderam ou não. E nas discussões em sala de aula, o nível de argumento do aluno, eu estou vendo que ele está crescendo, o quanto a fala cresceu ou não e dentro da fala alguns alunos que se destacam mais. Agora, tenho clara noção que tem alunos que entraram, escutaram, escutaram, escutaram, escutaram, e....(OLEGNA) Quando, a gente está discutindo os temas na sala de aula e o aluno consegue fazer conexões, que não é só com os textos, mas com as outras disciplinas, ai que você percebe que ele sabe o que ele está falando, porque aquele conteúdo não é uma cosia isolada, quadradinha, que ele só sabe usar na sua disciplina, mas ele sabe usar isso em outras disciplinas, ele sabe pegar aquilo lá, que tem a ver com “aquela” disciplina naquele momento, então os debates, e é por isso que eu sempre procuro criar esses espaços para o aluno falar, para o aluno se colocar, então essa coisa do trabalho, do trabalho em grupo, do filme e dos debates, que é a possibilidade de você ver se o aluno aprendeu de fato ou não. (LÍRIA) O professor aqui, dependendo da carga horária, ele tem um número de notas que ele tem que dar, então, por exemplo, uma disciplina de 68 horas semestral, ele tem que dar duas notas, como ele vai compor essas duas notas é autonomia dele. Ele pode fazer seminários, pode fazer provas, desde que conste do programa que ele entrega para a aprovação do colegiado. Eu nunca, raramente dou uma nota sozinha, só uma prova ou só um trabalho, minhas notas são todas picadinhas assim, duas, três coisas pra compor uma nota, porque daí você fecha. Porque tem gente que tem a facilidade de expressão verbal, não tem escrita e o inverso é verdadeiro, então você acaba secando um pouco essa variável.(SANDRA)

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118 2.3 A Didática

O que significa didática?

A palavra didática (didáctica) vem da expressão grega techné didaktiké, que se pode traduzir como arte ou técnica de ensinar. A Didática é a parte da pedagogia que se ocupa dos métodos e técnicas de ensino destinados a colocar em prática as diretrizes da teoria pedagógica. A didática estuda os processos de ensino e aprendizagem e o educador Jan Amos Komenský, mais conhecido por Comenius, é reconhecido como o pai da Didática Moderna e um dos maiores educadores do século XVII. Os elementos da ação didática são: o professor, o aluno, a disciplina (matéria ou conteúdo), o contexto da aprendizagem, as estratégias metodológicas (Wiquipédia – 2007).

Neste contexto, qual o papel da Didática no desenvolvimento profissional?

A Didática constitui uma área integradora transversal, articulando contribuições da

psicologia, da sociologia, da epistemologia, do pensamento educacional etc., mobilizando-os

para a reflexão sobre a prática pedagógica do próprio professor. Ela pressupõe uma análise

dos processos de construção dos saberes em cada área curricular, discutindo a natureza das

atividades de aprendizagem, os processos de pensamento e as inter-relações entre os diversos

intervenientes no ato educativo.

Assim, a Didática, longe de se reduzir a um mero repositório de métodos e técnicas de

ensino, constitui o enquadramento teórico fundamental em que se situam os quadros de

referência de ação do professor. Toda a sua atuação com os alunos pressupõe uma perspectiva

didática, explícita ou implícita. É a partir dela que cada professor seleciona objetivos,

organiza atividades, formula critérios de avaliação, determina procedimentos de atuação para

cada tipo de circunstância. Além disso, seleciona conteúdos, e deve participar com

cumplicidade na organização do projeto político-pedagógico, tendo o aluno como centro no

processo de ensino-aprendizagem.

A contribuição do saber didático para o desenvolvimento profissional implica desde

logo a valorização da reflexão sobre o que é o fazer docente, o que constitui o seu processo de

criação e ampliação, a sua relação com a realidade extracurricular.

Hoje, a metodologia é somente uma parte do processo educativo. O sucesso ou não do ensino se deve a um conjunto de fatores, entre os quais se pode destacar a relevância e o significado dos conteúdos, a relação professor-aluno (respeito mútuo, diálogo etc.), a seriedade e as condições do trabalho tanto do aluno quanto do professor, as relações dentro da sala de aula, dentro da escola, da escola com a comunidade, a consideração do contexto sociocultural, etc. Essa perspectiva enriqueceu as reflexões educacionais. Em outras palavras, a metodologia, a “didática do professor” já não é mais

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119

“tudo”. (DOLL e ROSA, 2004, p. 37).

Em segundo lugar ressalta a natureza das atividades de aprendizagem e a sua

articulação com os objetivos do ensino. Todo professor é (ou deveria) ser um construtor de

situações de aprendizagem que conhece o modo de tirar partido dos recursos disponíveis,

incluindo os instrumentos tecnológicos. É, em certa medida, um especialista curricular.

Porém, na construção da metodologia de ensino deve-se atentar para alguns pontos:

a) Diferenças entre os alunos (idade, contexto sociocultural, biografia, experiência, aptidão, etc.); b) interesses e necessidades dos alunos (atuais e futuros); c) interesses e necessidades dos professores; d) diferentes canais de comunicação (língua oral, língua escrita, linguagem da música, da imagem, do filme, etc.); e) autonomia e emancipação dos alunos (espaço para uma participação responsável do aluno, instigando-o à atividade, criatividade, capacidade crítica); f) diferentes formas sociais de trabalho (individual, pequeno grupo, turma, comunidade); g) objetivos do ensino; h) especificidade da matéria, do assunto, da disciplina, do projeto. (DOLL e ROSA, 2004, p. 37-38).

O objetivo do ensino é a realização da cidadania.

No Brasil há necessidade da escola aprimorar seu trabalho no sentido de superar o

grave problema da exclusão social, fazendo frente às demandas existentes na sociedade e

nelas intervir.

Para se alcançar isso há necessidade de o ensino ser competente e de boa qualidade.

Por isso hoje se fala em competências do docente e que ele tenha boas qualidades.

O desenvolvimento de competências conduz à formação de um indivíduo qualificado.

Se a qualificação for encarada como um processo, pode-se afirmar que um profissional

competente é um profissional qualificado, reconhece-o pelo “saber fazer bem o dever”.

Em terceiro lugar, surge a dinâmica das situações de aprendizagem, onde sobressai a

comunicação e o discurso na sala de aula e toda a problemática da avaliação – tanto da

aprendizagem como da sua própria atividade. O professor é o agente direto da ação educativa.

O trabalho docente, portanto, e as decisões metodológicas cotidianas não podem estar

descoladas de discussões teóricas mais amplas sobre as grandes questões educacionais.

É um trabalho que deve ser dinâmico e permite conhecer muitas pessoas e conhecer

diferentes perspectivas de vida.

O Homem como educador não é um recurso da educação. Ele possui recursos e cria

recursos como a imaginação, memória, inteligência para agir sobre uma dada realidade

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120 podendo adaptá-la e transformá-la.

Para alcançar esse patamar de competência, o professor deve ser um cidadão político,

deve dominar várias técnicas e conteúdos.

Para ser competente o professor deve entender que além de dominar conteúdos e

saberes a ensinar, ele precisa dominar conteúdos e saberes para ensinar. Observem a fala dos

docentes pesquisados:

Aí a gente percebe essa diferença, quando o cara tem alguma formação, seja porque já tenha sido professor anteriormente, ou porque nos seus cursos teve uma noção disso, ele tem uma outra visão da relação pedagógica, da forma de passar o conteúdo, da preocupação com o aprendizado, claro que não é regra geral, mas eu penso que configura. (SANDRA) Eu conheci, um dia desses, uma guria que se formou o ano passado e está dando aula, então tem de tudo nesse mundo, a menina se formou em dezembro e em fevereiro já estava dando aula em Serviço Social. Uma loucura. (ANDREA)

Nas falas das professoras percebe-se que a preocupação com a formação docente é

recorrente, pois existe diferença entre o docente que se prepara e o que não se prepara para a

docência. E que existem, ainda, docentes que mal terminaram a graduação e já estão

lecionando. Que preparo para a docência ele tem, se nem uma especialização ele ainda fez?

A Didática desempenha um papel fundamental como instrumento de orientação,

ajudando a conceber as situações de aprendizagem. Mas é também o instrumento privilegiado

de análise, identificando questões, sugerindo alternativas.

Os professores, como quaisquer outros profissionais, têm os seus quadros de

referência próprios, construídos de forma a fundamentar e justificar as suas práticas. O

contato com outros quadros de referência, proporcionado por excursões pelos mais diversos

domínios, proporciona um maior leque de escolhas e estimula o surgimento de inquietações,

criando as condições para uma mudança de valores e concepções educativas e conduzindo a

novas práticas.

Então, o professor que consegue fazer com que o aluno aprenda, pode ser visto como o

professor que tem uma “excelente didática” em sala de aula. Ele consegue chamar a atenção

do aluno e despertar seu interesse em relação ao conteúdo trabalhado.

Nesse aspecto, cada docente tem seu estilo próprio de trabalho, e isso ficou claro com

os resultados da pesquisa de campo, pois os entrevistados têm maneiras diferentes de se

trabalhar. Alguns se utilizam de filmes, poemas, contos, músicas; outros de discussão de

casos, situações de estágio, discussão de textos, aulas expositivas, visitas, proporcionando aos

alunos maneiras diferentes de desenvolver seu aprendizado.

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A CONSTRUÇÃO DA PESQUISA

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122 CAPÍTULO 3 – A CONSTRUÇÃO DA PESQUISA

(...) nós vivemos numa sociedade capitalista, em cima disso é tem que achar estratégias, pois também ao invés de ficar só criticando não tá fazendo nada, a profissão não vai avançar, não vai consolidar, não vai ter o reconhecimento que a gente gostaria que tivesse, porque a gente fica só criticando.(Eliane)

3.1 O Processo de Construção da Pesquisa

O processo de construção desta pesquisa ocorreu com base no entendimento e

preocupação em conhecer e desvelar a realidade.

Conhecendo a realidade se pode entendê-la, é possível projetar ações sobre ela e

modificá-la, se for o caso.

Isso é possível a partir do entendimento de que sendo o homem o único ser racional,

indicando que só a ele é possível o uso da razão, o mesmo pode prever os resultados de suas

ações e, sendo isto possível, o mesmo pode projetá-las antes de agir.

No caso de uma pesquisa científica como esta, a pesquisa empírica traz à tona dados,

fatos que são analisados, estudados, comparados para que sobre eles seja construída uma base

de conhecimento, um novo entendimento e uma nova visão.

Isto ocorre partindo-se do princípio de que o conhecimento é inacabado, infinito.

Então quando se realiza um trabalho científico, este mesmo pode tornar-se uma nova teoria.

Como esta pesquisa busca conhecer o processo de formação do assistente social,

evidencia-se que a mesma é realizada num campo social, buscando teorias no campo das

ciências sociais e constituindo-se em um novo conhecimento também nesta área.

Tratando-se de Ciências Sociais Minayo afirma:

O objeto das Ciências Sociais é histórico. Isso significa que as sociedades humanas existem num determinado espaço, cuja formação social e configuração são específicas. Vive o presente marcado pelo passado e projetado para o futuro, num embate constante entre o que está sendo construído. Portanto, a provisoriedade, o dinamismo e a especificidade são características fundamentais de qualquer questão social. (2003, p.13)

Compreende-se, portanto, que a pesquisa social, a pesquisa na área das ciências sociais

tem seu objeto “essencialmente qualitativo”. “A realidade social é o próprio dinamismo da

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123 vida individual e coletiva com toda a riqueza de significados dela transbordante” (MINAYO,

2003, p. 15).

E quando se conhece a realidade é possível reinventá-la. Reinventar novas estratégias,

novas ações, novos perfis, novos modelos. Consegue-se ainda uma busca pela quebra de

paradigmas.

Afirmando que a pesquisa social tem seu objeto na história, e que este é estudado

através da pesquisa qualitativa, não significa que a pesquisa quantitativa não seja importante e

necessária. Acontece que ambas só têm significado quando se completam.

Como explicita Martinelli:

[...] à medida que fui vivendo minha vida profissional, realizando minhas atividades docentes, trabalhando com famílias, com crianças, a cada momento via mais claramente que a pesquisa quantitativa era importante para dimensionar os problemas com os quais trabalhamos, para nos trazer grandes retratos da realidade, mas era insuficiente para trazer as concepções dos sujeitos. Como pensam sua problemática? Que significado atribuem às suas experiências? “Como vivem a sua vida”? (1999, p. 20).

Seguindo o direcionamento e pensamento da autora, entende-se que a pesquisa

quantitativa por si só não tem um valor significativo, mas é a partir dos dados coletados

através dela que partimos para a utilização da pesquisa qualitativa, onde os dados

quantitativos serão analisados dentro de seu contexto social e dos sujeitos que estão

intrinsecamente relacionados nos dados numéricos.

E como o saber não se esgota nunca, e uma dada realidade perpassa por diversos

campos do conhecimento, é necessário que se busque uma visão interdisciplinar das áreas de

conhecimento e das áreas sociais.

Quanto a isso Martinelli lembra:

Nesse sentido reforçava-se em mim a convicção de que o saber não é posse individual de cada profissão, é heterodoxo, é pleno, é encontro de signos. Então se queremos produzir práticas sociais que tenham a dimensão do coletivo, temos que dialogar com saberes múltiplos, temos que pesquisar e pesquisar com qualidade (1999, p. 21).

Um estudo qualitativo busca compreender seu objeto de estudo em seu ambiente, ou

seja, busca conhecer como as pessoas vivem, se comportam, como atuam, o que pensam,

como agem, como estudam e como aprendem.

Assim, quanto à pesquisa qualitativa, Martinelli tece três considerações:

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A primeira é quanto ao seu caráter inovador, como pesquisa que se insere na busca de significados atribuídos pelos sujeitos às suas experiências sociais; a segunda é quanto à dimensão política desse tipo de pesquisa que, como construção coletiva, parte da realidade dos sujeitos e a eles retorna de forma crítica e criativa; a terceira é que exatamente por ser um exercício político, uma construção coletiva, não se coloca como algo excludente ou hermético, é uma pesquisa que se realiza pela via da complementaridade, não da exclusão (1999, p. 26- 27).

Portanto, a investigação sobre o processo de formação do Assistente Social, analisando a

prática docente neste processo, teve seu início na pesquisa teórica.

A pesquisa foi sedimentada na teoria social, utilizando como referência teórica autores

contemporâneos da área de conhecimento da Educação e do Serviço Social.

Da área de educação foram pesquisados PERRENOUD, CLAXTON, MASETO,

CURY, VEIGA, PINTO, PIMENTA, PAULO FREIRE, VALE, SERRÃO MACHADO,

RIOS, LAHIRE, ALTET, RIBAS, DOLL e ROSA. Do Serviço Social foram pesquisados

NETTO, BARROCO, YASBEK, GENTILLI, ALBIERO, BRAZ, SILVA, MOREIRA,

PAIVA e SALES, IAMAMOTO, MARTINELLI, MINAYO, TÜRCK e NÚBIA.

Os autores PERRENOUD, LAHIRE, MASETO, CURY, RIOS, CLAXTON

trabalham com a questão educacional relacionada ao processo de ensino-aprendizagem,

entendendo que por ser um processo, aluno e professor são parceiros e coadjuvantes.

Já os autores VEIGA, PINTO, PIMENTA, ALTET, DOLL e ROSA, SERRÃO,

MACHADO, RIBAS, VALE e PIMENTEL trabalham com o processo educacional, com o

Projeto Político-Pedagógico e com a competência pedagógica do docente.

Quanto aos autores do Serviço Social, abordam sobre o Projeto Político-Profissional

do Serviço Social como eixo condutor da formação dos alunos do curso de Serviço Social,

bem como abordam questões e elementos necessários para comporem a grade curricular,

contendo elementos formativos direcionando o preparo para o trabalho com as expressões da

questão social.

Este processo foi realizado em diversas etapas, dialeticamente interligadas, que são

descritas a seguir.

Num primeiro momento de aproximação com o tema proposto foram levantados os

aportes teóricos, sendo estes divididos em dois grandes pilares.

O primeiro pilar foi construído em cima de autores que conceituam o processo

educacional e as diretrizes norteadoras da formação do Assistente Social, tratando a

necessidade do Projeto Político-Pedagógico para uma organização institucional e as

possibilidades educacionais de se alcançar uma formação de qualidade direcionando a

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125 formação do assistente social baseando-se nos princípios consolidados no Projeto Ético-

Político da Profissão de Serviço Social.

Para construção desse primeiro pilar foram efetuadas pesquisas em documentos

legais como a LDB/1996 (Lei de Diretrizes e Base para Educação), cujo princípio

fundamental é a formação do sujeito para o exercício da cidadania e do trabalho.

Além desse instrumento legal, foi realizado um breve levantamento histórico sobre as

Diretrizes Curriculares propostas pela ABEPSS, que está centrada na formação de cidadãos e

profissionais críticos, competentes e éticos. Para isso foram utilizadas obras elaboradas pela

própria ABEPSS através de uma construção coletiva.

Ainda dentro desse primeiro pilar está VEIGA, que traz uma análise sobre o PPP,

esclarecendo que deste deve constar toda a estrutura organizacional da escola, sendo esta

dividida em: estrutura administrativa e estrutura pedagógica.

E quanto ao Serviço Social, o PPP deve possibilitar meios administrativos e

pedagógicos para formação de um assistente social, cidadão, que conheça, vivencie e lute por

processos de cidadania. E para que isso se efetive há necessidade de que este PPP busque um

projeto societário e um projeto de profissão.

O autor CURY forneceu elementos de análise quanto à existência de algumas

categorias presentes na educação, sendo estas: contradição, totalidade, mediação, reprodução

e hegemonia. Essas categorias podem ser entendidas, segundo o autor por:

1) Contradição: “base da metodologia dialética”, onde o autor a utiliza entendendo que

na sociedade há contradições e que através delas se entende o funcionamento da sociedade

capitalista e se compreendem as diferenças.

2) Totalidade: Significa enxergar a educação como um elemento dentro de um

contexto social maior, sendo este dialético e contraditório.

3) Mediação: o autor entende que para que a educação seja de qualidade é necessário

ocorrer a mediação entre teoria e prática, mediação de idéias opostas, construindo uma nova

idéia.

4) Reprodução: A educação é um campo fértil para a reprodução dos ideais e valores

dominantes, direcionando o pensamento e ações dos indivíduos. Mas CURY entende que os

educadores devam superar essas idéias levando o educando a ter pensamento crítico.

5) Hegemonia: o sistema social vigente busca manter a hegemonia entre seu povo.

Busca uma aceitação da dominação. Porém, cabendo ao educador transformar essa categoria,

desencadeando o espírito de luta pela igualdade através do saber e do conhecimento

adquirido.

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126 Os autores NETTO e BRAZ abordam aspectos importantes para a formação do

assistente social. Traz em suas análises a necessidade de se buscar, primeiro, por um projeto

societário e baseando-se nesse é que se busca um projeto profissional. Assim entendido, no

PPP deve estar clara a idéia de que profissional pretende-se formar e como formar instigando-

o à construção da sociedade almejada.

RIOS trabalha a didática como arte de ensinar e a indica como elemento principal em

um educador. Para isso o educador deve saber ensinar e o que ensinar.

A autora NUBIA contribui com sua análise sobre o perfil do espaço educacional em

S.S. e do perfil dos alunos que buscam pelo curso, sendo estes elementos de reflexão para

uma modificação na formação.

No segundo pilar discute-se o processo de ensino-aprendizagem, onde a

aprendizagem deve ser o objetivo principal desse processo, porém todos os atores devem se

envolver nele.

Quanto à aprendizagem foi pesquisado CLAXTON, que trabalha a aprendizagem ao

longo da vida e como ela ocorre. Destaca que a resiliência é um elemento fundamental para o

acontecimento da aprendizagem.

Já, o autor LAHIRE reflete sobre o capital cultural e que desse depende a qualidade da

educação que o aluno vai construir.

MASETO aborda a avaliação como parte constitutiva do processo de ensino-

aprendizagem e não como resultado deste. E que a avaliação indica não só o aprendizado do

aluno, mas o papel do professor para que essa aprendizagem ocorra.

Quanto a esse assunto, PERRENOUD traz suas colaborações, afirmando que não se

pode refletir sobre competências de um professor isolado, mas que se deve levar em conta o

sistema educacional do qual ele faz parte, bem como as dificuldades e limitações que isto

implica.

A autora ALTET aborda sobre a habilidade que o professor deve ter no processo de

ensino-aprendizagem, considerando-o como gestor, que utiliza o seu conhecimento de forma

motivadora, e que para isso o professor precisa arriscar, renovar e ousar.

ALBIERO destaca a necessidade de o educador contemporâneo romper com o

tradicional, executando uma “prática educativa crítica e superadora das formas de opressão e

exclusão atuais” (2006, p. 50).

Finalizando o marco teórico, a autora DOLL e ROSA contribuiu para o entendimento

do que seja a Didática, trazendo-a como o fazer docente. Para isso coloca que é necessário um

saber fazer. Analisa a necessidade de o educador construir sua metodologia de trabalho,

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127 objetivando sempre a aprendizagem do aluno. Assim possibilita a afirmação de que o

educador que consegue fazer com que o aluno aprenda tem uma excelente didática.

O segundo momento da pesquisa constituiu-se de ações para a organização da

pesquisa de campo, quando, então, buscar-se-ia a realidade, para em seguida, analisá-la à luz

das teorias estudadas. Inicialmente foram realizados alguns contatos com o coordenador do

curso de Serviço Social da Universidade Estadual de Londrina (UEL) e com a Chefe do

Departamento de Curso de Serviço Social.

O contato inicial se deu através de alguns e-mails enviados aos mesmos, manifestando

o interesse em realizar a pesquisa naquela IES, explicitando os motivos que desencadearam na

escolha da UEL como universo de pesquisa, solicitando uma prévia autorização.

Foi obtida a resposta, sendo a mesma positiva quanto à realização desta.

Após a resposta positiva, demorou-se um tempo para que a pesquisa ocorresse, ficando

então a pesquisadora no estudo e montagem do instrumental de pesquisa.

Importante destacar aqui o empenho da professora Olegna e da professora Jolinda no

agendamento do grupo e das entrevistas.

O terceiro momento da pesquisa foi realizado em duas etapas. Na primeira etapa foi

realizado um grupo focal, cuja participação aconteceu espontaneamente após convite a 6

professores, tendo comparecido 4.

Quanto ao grupo focal afirma Gatti (2005, p. 69):

A potencialidade mais enfatizada do grupo focal como meio de pesquisa está ligada à possibilidade que ele oferece de trazer um conjunto concentrado de informações de diferentes naturezas (conceitos, ideias, opiniões, sentimentos, preconceitos, ações, valores [...]).

O grupo dialogou sobre pontos elencados em roteiro elaborado pela pesquisadora.

O mesmo foi elaborado após um mapeamento do material teórico pesquisado e

construído.

O mesmo aconteceu no dia 03 de julho de 2009, na sede do INBRAPE, localizada na

Avenida Higienópolis, 70, Londrina – PR.

Inicialmente os participantes assinaram o termo de consentimento, e foram orientados

sobre os objetivos e finalidades da pesquisa.

A seguir iniciou-se a discussão, tendo a mesma durado uma hora e quarenta minutos,

tendo sido extremamente importante para os resultados alcançados.

Participaram do grupo as professoras Jolinda, Olegna, Sandra e Andrea.

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Todas foram cordiais e receptivas quanto à pesquisa, recebendo a pesquisadora com

carinho, respeito e harmonia.

O objetivo deste grupo foi o diálogo e a discussão sobre os seguintes pontos:

Assistente Social x Docente

A importância de curso para ingresso na docência

A importância da participação docente e discente na elaboração do Projeto

Político-Pedagógico.

Possibilidade de uma formação de acordo com o Projeto Ético-Político e o

Código de Ética.

Que tipo de relação entende como adequada entre professor e aluno.

A segunda etapa se deu pela realização de entrevistas individuais com professores e

alunos do curso de Serviço Social desta mesma universidade.

As entrevistas aconteceram em dias diferentes uma das outras, todas no Departamento

de Servi;o Social da UEL-PR. Foram entrevistados por esta pesquisadora 5 professores e 2

alunos, e por questionário via e-mail participaram 3 alunos. Com as entrevistas pretendeu-se o

levantamento de dados que indicassem se o Projeto Político-Pedagógico do Serviço Social é

tomado como referência para que se desenvolvam metodologias adequadas para o processo de

ensino-aprendizagem capaz de formar profissionais críticos e competentes.

Para isso o roteiro das entrevistas para os professores continha os seguintes

questionamentos:

Como você percebe o processo de ensino-aprendizagem em sua disciplina?

Como costuma trabalhar os conteúdos?

Você considera que o aluno aprende o que você ensinou?

Como você percebe ou detecta que o aluno aprendeu ou não o que você ensinou?

Dá para perceber ainda se ele será um profissional crítico e ético? Como?

Como você se vê neste processo?

O foco da pesquisa foram as ações docentes realizadas nas disciplinas correspondentes

aos núcleos básicos do Projeto Político-Pedagógico do Curso de Serviço Social, bem como

detectar como os alunos percebem essas ações, devendo a entrevista e demais instrumentais

possibilitar elementos para essa reflexão.

Os 3 núcleos de fundamentação propostos pela ABEPSS são:

• Núcleo de fundamentos teórico-metodológicos da vida social, que compreende

um conjunto de fundamentos teórico-metodológicos e ético-políticos para conhecer o ser

social;

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• Núcleo de fundamentos da formação sócio-histórica da sociedade brasileira,

que remete à compreensão das características históricas particulares que presidem a sua

formação e desenvolvimento urbano e rural, em suas diversidades regionais e locais;

• Núcleo de fundamentos do trabalho profissional, que compreende os elementos

constitutivos do Serviço Social como uma especialização do trabalho: sua trajetória histórica,

teórica, metodológica e técnica, os componentes éticos que envolvem o exercício profissional,

a pesquisa, o planejamento e a administração em Serviço Social e o estágio supervisionado.

Para os alunos entrevistados foi utilizado o roteiro com os seguintes questionamentos:

Como seu professor ensina?

Você consegue aprender? Como?

Quando ou como você conclui que aprendeu?

Como você considera que o professor consegue saber que você aprendeu?

A seguir, contextualiza-se o universo de pesquisa

3.2 O Contexto e o Universo da Pesquisa

Segundo dados da ABEPSS há aproximadamente 191 cursos de Serviço Social

espalhados pelos Estados brasileiros. Destes, apenas 91 são filiados à ABEPSS.

A ABEPSS dividiu o Brasil em Regiões, sendo estas :

1) Região Centro Oeste – composta por Brasília, Goiás e Mato Grosso.

2) Região Leste: Estado do Espírito Santo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

3) Região Norte: Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Pará, Piauí, Rondônia e

Tocantins.

4) Região Nordeste: Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do

Norte e Sergipe.

5) Região Sul I: Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

6) Região Sul II: Mato Grosso do Sul e São Paulo.

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A escolha pela UEL se deu pelo fato de a pesquisadora residir no Estado de São Paulo,

na cidade de Palmital e por esta estar na divisa com o Paraná.

Observem no mapa abaixo em destaque a cidade de Palmital-SP e Londrina-PR,

ficando distantes aproximadamente 180 km.

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Desta forma optou-se pela escola da Região Sul I da ABEPSS, que tem algumas

características que, além da proximidade, levou-a a ser escolhida, como por exemplo, ser uma

universidade pública, ser referência para a categoria, ter boas notas no ENADE e ser

reconhecida pela ABEPSS.

Com isso buscou-se dados qualitativos para a pesquisa.

Por tratar-se de pesquisa qualitativa o seu universo não pode ser muito amplo, e de

acordo com Martinelli (1999, p. 23-24):

Nessas pesquisas, ao invés de trabalharmos com grandes temas, com grandes cronologias, o fazemos de forma mais localizada. [...] Não se trata, portanto, de uma pesquisa com um grande número de sujeitos, pois é preciso aprofundar o conhecimento em relação àquele sujeito com o qual estamos dialogando. Podemos conceber instrumentos que nos aproximem de grupos

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maiores, mas essa não é nossa busca nessa metodologia de pesquisa. Como não estamos procurando medidas estatísticas, mas sim tratando de nos aproximar de significados, de vivências, não trabalhamos com amostras aleatórias, ao contrário, temos a possibilidade de compor intencionalmente o grupo de sujeitos com os quais vamos realizar nossa pesquisa.

A escolha pela pesquisa qualitativa limita o número de sujeitos, porém proporciona

uma riqueza nas análises, porque aos mesmos é dada a vez e a voz, e aos pesquisadores cabe

decifrá-las.

3.2.1 O Estado do Paraná

O Estado do Paraná localiza-se na região sul do país, ocupando uma área de 199.314

km², que corresponde a 2,3% da superfície total do Brasil, contando atualmente com 399

municípios.

Os centros de convenções de Curitiba, Foz do Iguaçu e os Conventions Bureaux

dessas cidades e de Londrina, Maringá e Ponta Grossa marcam definitivamente a entrada do

Paraná na área de congressos e convenções, provocando um acréscimo significativo nas

empresas organizadoras e prestadoras de serviços, totalizando 91 empresas. No litoral, com 98

km de extensão, está localizada a baía de Paranaguá com 300 km² de área, uma das mais

importantes do Sul do Brasil, onde se destacam os portos de Paranaguá e Antonina.

A população estimada em 9,9 milhões de habitantes (IBGE - 2003) é formada,

predominantemente, por descendentes de diversas etnias como: poloneses, italianos, alemães,

ucranianos, holandeses, espanhois e japoneses que aqui se fixaram, juntando-se ao índio, ao

português e ao negro, os três elementos básicos que formaram o povo e a cultura paranaense,

fazendo com que o Paraná seja conhecido como a “Terra de Todas as Gentes”. A diversidade

de paisagens, a fertilidade do solo, os usos, costumes e as características de sua gente fazem

do Paraná um Estado sui generis e o coloca em privilegiada situação no cenário nacional.

3.2.2 A Cidade de Londrina

Londrina está localizada ao norte do Estado do Paraná e a 369 km da capital

paranaense, Curitiba.

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133

Fonte: Google Pesquisa - Mapa do Estado do Paraná

Importante polo de desenvolvimento regional, Londrina exerce grande influência

sobre todo o Paraná e região sul. Com uma população estimada em 510.719 habitantes, é a

segunda cidade mais populosa do Paraná e a terceira mais populosa da região sul do Brasil. É

um centro regional, composto de comércio, serviços agro-industrias e universidades,

incluindo a Universidade de Londrina – UEL – que é famosa pela qualidade de ensino e atrai

estudantes de todo o país.

Londrina ocupa 1% da área total do Estado do Paraná, tem clima subtropical úmido

mesotérmico, com chuvas o ano todo, mas com tendência a concentração de chuvas no verão.

A temperatura média anual fica acima dos 21 graus centígrados.

Seus indicadores apontam como – IDH 0,824, PIB R$ 6.612.093 mil e PIB per capita

R$ 13.339,00.

Devido a estes índices, Londrina se coloca no quadragésimo oitavo lugar no ranking

das 100 maiores cidades brasileiras e em quarto lugar na comparação com as demais cidades

paranaenses, usando como referência este índice econômico.

A composição do PIB demonstra a força do setor de serviços na economia local, onde

Londrina conta com grandes hospitais, shopping centers, um comércio forte e tradicional e

diversificado, servindo de referência para várias cidades da região, inclusive de cidades

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134 paulistas, localizadas na divisa com o estado do Paraná.

Londrina possui 10 instituições de ensino superior, sendo as mais conhecidas –

Universidade de Londrina (UEL), Universidade Tecnológica do Paraná (UTFPR), Pontifícia

Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), Universidade Norte do Paraná (UNOPAR),

Centro Universitário Filadélfia (UNIFIL) e Faculdade Pitágoras.

Fonte: Google: imagens de Londrina.

Fonte: Google: imagens de Londrina.

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A UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA

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3.2.3 A Universidade Estadual de Londrina – PR (UEL)

Fonte: Pesquisa Google imagens da UEL

A Universidade de Londrina foi criada em 1970, a partir da junção de cinco

faculdades, sendo as de Direito, Filosofia, Ciências e Letras, Odontologia, Medicina e

Ciências Econômicas e Contábeis.

Ela tem como finalidade: gerar, disseminar e socializar o conhecimento em padrões

elevados de qualidade e equidade, formar profissionais nas diferentes áreas do conhecimento,

valorizar o ser humano, a vida, a cultura e o saber, promover o conhecimento científico,

tecnológico, econômico, social, artístico e cultural da sociedade. Conservar e difundir os

valores éticos e de liberdade, igualdade e democracia, estimular a solidariedade humana na

construção da sociedade e na estruturação da vida e do trabalho, educar para a cidadania,

estimulando a atuação coletiva, estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente.

A Universidade Estadual de Londrina está localizada na Rodovia Celso Garcia Cid

(PR 445) – KM 380 – Campus Universitário – Cep 86051-990 – telefone (43) 33714- 000.

Fonte: Google Pesquisa – imagens da UEL

O projeto inicial agregou em departamentos os vários professores e disciplinas dos

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137 cursos, ofertados à época, congregando áreas afins, dentro do sistema de créditos, então

vigente, e os Departamentos afins, por sua vez, foram reunidos em Centros de Estudos.

Iniciou suas atividades com um total de 13 cursos de graduação: História, Geografia,

Letras Anglo-Portuguesa e Letras Franco-Portuguesa, Pedagogia, Ciências (1º grau), Direito,

Odontologia, Medicina, Farmácia e Bioquímica, Ciências Biomédicas, Ciências Econômicas e

Administração.

A pós-graduação também se iniciou na instituição na década de 1970 com o retorno

dos docentes que se encontravam em capacitação, sendo implantado, em 1972, o Curso de

Especialização em Odontopediatria, seguido, no ano de 1973, pela implantação de seis áreas

de Residência em Medicina e pelos Mestrados em Ciências de Alimentos (1975) e em Direito

(1978) e tem se desenvolvido de forma expressiva quali e quantitativamente.

Enquanto Fundação Estadual contou com recursos provenientes da contribuição do

alunado e do Governo do Estado. Em 1978, foi implantado o ensino gratuito no nível de

graduação, sendo transformada em Autarquia pela Lei Estadual 9.663, de 16/07/91.

Possui autonomia didático-científico-administrativa e de gestão financeira e

patrimonial, mas é dependente financeiramente no Governo Estadual, de onde se origina a

maior parte dos recursos que asseguram sua operação e manutenção.

Em 2005, adotou o sistema de cotas para estudantes negros e os oriundos de escolas

públicas em seu vestibular.

Está localizada em Londrina–PR, uma das maiores cidades do sul do país, é

reconhecida como potencializadora econômica, com influência direta e indireta aos

municípios localizados no norte do Estado do Paraná, Sul de São Paulo e Mato Grosso do Sul.

Em um Estado que conta com 192 instituições de Ensino Superior (2 federais, 17 estaduais, 3

municipais, e 170 particulares), a UEL é reconhecida como uma das melhores universidades

do País, desempenhando um papel decisivo no dinâmico desenvolvimento da cidade e região,

com destaque na prestação de excelentes serviços de saúde, na pesquisa e extensão à

sociedade e no ensino de qualidade para a formação de profissionais, em diferentes áreas de

conhecimento.

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Fonte: Google Pesquisa – Imagens da UEL

Recursos acadêmicos disponíveis aos alunos da UEL

Bibliotecas

A UEL possui uma Biblioteca Central localizada no calçadão do campus, três

Bibliotecas Setoriais (no HU, Escritório de Aplicação e COU) e uma Biblioteca Especial (no

CLCH).

Livraria

A Livraria EDUEL trabalha com livros de sua própria editora - EDUEL - e também

com livros das demais editoras - universitárias e comerciais, aceitando, inclusive encomendas.

Editora

A EDUEL já publicou mais de trezentos títulos, alguns deles em parceria com outras

importantes editoras. Sua linha editorial está voltada para o público universitário, publicando

livros de docentes da UEL e de outras universidades também. A EDUEL também funciona

como campo de estágio para diversos cursos da Instituição. Fone/Fax: 3371-4656 e 3371-

4674 - e-mail: [email protected] - www.uel.br/editora.

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Casa de Cultura

A Casa de Cultura é um dos órgãos responsáveis pela promoção cultural na

Universidade. Sua sede é um Centro Cultural Integrado que fica no centro de Londrina. A

Casa de Cultura possui quatro divisões: a Divisão de Música, que além de participar da

realização do Festival de Música de Londrina, realiza atividades de musicalização infantil e

adulta, administra 1 orquestra, 6 corais (Infantil, Juvenil, Adulto, de Terceira Idade, H.U. e

Campus), 2 grupos de música antiga (o NEUMA Ensamble Universitário de Música Antiga e

o ARS Mensurabilis). A Orquestra Sinfônica da UEL e os corais da UEL realizam concertos

oficias e didáticos e já gravaram vários CDs. No início de cada semestre, voluntários da

comunidade externa e interna da UEL podem inscrever-se para processo seletivo dos corais.

Não é necessário conhecimento prévio de música. A Divisão de Artes Cênicas organiza o

FILO - Festival Internacional de Teatro de Londrina, e presta assessoria a grupos de teatro. A

Divisão de Artes Plásticas promove a Semana de Arte, desenvolve oficinas e cursos e mantém

espaços de exposição. A Divisão de Artes Cinema e Vídeo priorizando a exibição de obras

que estão excluídas do circuito comercial tradicional. A Casa de Cultura mantém ainda o

CINE TEATRO OURO VERDE, o maior da cidade, com quase mil lugares que se localiza no

centro de Londrina. O prédio faz parte do patrimônio Histórico do Paraná. Neste espaço

também são apresentados shows musicais, peças de teatro e espetáculos de dança. Fone:

3323-8562 - e-mail: [email protected] - www.uel.br/ccultura.

Museu Padre Carlos Weiss

O Museu Histórico de Londrina Pe. Carlos Weiss tem como finalidade dar suporte à

pesquisa e à extensão, dispondo para isto de um valioso acervo histórico constituído de

objetos, fotografias e documentos textuais que resgatam e preservam a memória da cidade de

Londrina desde os primórdios da colonização. Parte deste acervo encontra-se em salas de

exposição abertas ao público de segunda a sexta, das 9h00 às 11h30 e das 14h30 às 17h30 e

aos sábados e domingos das 9h00 às 11h30 e das 13h00 às 17h00. Fone: 3323-0082 - e-mail:

[email protected] - www.uel.br/museu.

Laboratório de Línguas

Situado no centro de Letras e Ciências Humanas, no Instituto de Referência em

Ciências Humanas (IRCH), 2º piso, o Laboratório de Línguas dá apoio às atividades de ensino

do curso de Letras e dos cursos de graduação do CLCH. Também oferece cursos de línguas

nos idiomas: Francês, Espanhol, Italiano, Alemão, Inglês e Japonês (em diferentes níveis)

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140 ligados ao programa de extensão do departamento de Letras Estrangeiras Modernas. Os

cursos são oferecidos em módulos semestrais. O ingresso se dá através de aprovação em teste

de nivelamento, para quem já possui conhecimento da língua. Informações pelo fone: 3371-

4296, fax: 3371-4438 - e-mail:[email protected] - www.uel.cch/lablinguas.

Programa de acompanhamento a estudantes com necessidades educacionais

especiais – PROENE

O estudante com necessidade educacional especial é aquele com dificuldade

decorrente de problemas de deficiência física, motora, visual e auditiva, distúrbio ou

dificuldade de aprendizagem, doenças crônicas e emocional. Nesta Universidade, desde

outubro de 1991, o estudante é amparado por normas e disposições regimentais. A UEL

realiza ações referentes à remoção de barreiras físicas/arquitetônicas, comunicacionais e

pedagógicas, visando à manifestação plena do potencial acadêmico do estudante com

necessidades educacionais especiais, nos momentos de aprendizagem e de avaliação,

garantindo a sua permanência e êxito na Instituição Universitária.

Rádio Universidade FM

A Rádio Universidade FM, emissora da Universidade Estadual de Londrina é a única

rádio educativo-cultural do Norte do Paraná que contribui para a educação, a cultura, a arte, a

ecologia, a ética e a construção da cidadania.

Laboratório de Tecnologia Educacional - LABTED

Localizado no CLCH, o LTE possui uma videoteca com 1.800 fitas e 5.000 títulos,

entre documentários e programas educativos e blocos de “slides”.

Núcleo de estudos Afro-Asiáticos - NEAA

Desenvolve programação de atividades em prol da divulgação da cultura Afro-

Asiática. Realiza eventos nacionais e internacionais. Promove Simpósio sobre Comunicação e

Cultura no Terceiro Mundo no 1º semestre e um Ciclo Afro-Asiático no 2º semestre com

palestras, exposições fotográficas, apresentação de danças e músicas dos países afro-asiáticos.

Mantém seu acervo de livros e exposições sobre países da África e da Ásia para consulta e

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141 empréstimos.

Escritório de Aplicação de Assuntos Jurídicos

O EAAJ é um Órgão Suplementar do CESA, presta assistência jurídica à população

economicamente carente de Londrina, permitindo-lhe acesso à justiça e consequentemente ao

exercício da cidadania, e ao mesmo tempo é campo de estágio para os estudantes do Curso de

Direito, Serviço Social e Psicologia da UEL.

Núcleo de Atividades Físicas – NAFI

Realização de atividade físicas ofertadas pelo Centro de Educação Física e Desportos

através do Programa de Atividade Física - NAFI, mediante uma taxa. O CEF conta com duas

piscinas internas (aquecidas), quadras esportivas externas, ginásio poliesportivo interno,

aparelhos de ginástica e musculação, campos de futebol e salas de ginástica e dança.

Serviços de apoio que podem ser utilizados pelos estudantes

Linha de Ônibus

Banco

Correio

Segurança

Serviço de Bem-Estar da Comunidade - SEBEC

Restaurante Universitário - RU

Passe Escolar

Convênios com Profissionais da Área de Saúde e Laboratórios

Atendimento Ambulatorial à Comunidade Universitária

Seleção e Triagem Sócio-Econômica

Apoio Sócio-Familiar

Atenção, Educação e Prevenção em Saúde

Programa de Prevenção dos Riscos do Uso de Drogas

Fotocópias

Cantinas

Capela Ecumênica da UEL

Moradia Estudantil/Casa do Estudante – CEUE

No início do ano letivo a Casa do Estudante da UEL informa, através de boletins e

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142 cartazes, o período de inscrições para novos moradores. O SEBEC faz o processo de seleção

em conjunto com a diretoria da Casa do Estudante. Informe-se pelo fone 3371-4654 sobre a

documentação necessária ou diretamente na Casa do Estudante, localizada na Av. JK, 2006.

Fonte: Google: Imagens da UEL

Representação Política dos Estudantes

Diretório Central do Estudantes – DCE

Centro Acadêmico – CA

Representação Estudantil junto aos Conselhos Superiores

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Fonte: Google Pesquisa Imagens da UEL

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144

Fonte: Google Pesquisa Imagens da UEL.

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O SIMBOLO DA UEL

A marca-símbolo da Universidade representa o trinômio das funções da universidade –

o Ensino, a Pesquisa e a Extensão, representada pelas três faixas que desenham o “U” de

Universidade. A circunferência central e a haste que a sustenta simbolizam a peroba, árvore

original do Campus onde está instalada a Universidade.

O campus universitário possui 235,57 hectares (2.355.731,81 km²), tendo 186.614,93

m² de área construída e 11.799,95 m² de área em construção.

Fonte: Google Pesquisa Imagens da UEL.

Para o vestibular 2009, dos 43 cursos disponíveis da UEL, foram disponibilizadas

3.050 vagas para 23.082 candidatos.

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146 Nos cursos de graduação existem 13.630 alunos matriculados, sendo 6.217 do sexo

masculino e 7.413 do sexo feminino.

A universidade também oferece cursos de pós-graduação lato-sensu e stricto-sensu,

tendo 14 cursos de doutorado com 309 alunos matriculados, 33 cursos de mestrado com 846

alunos matriculados, 154 cursos de Especialização com 2.335 alunos matriculados.

Os docentes da universidade totalizam 1.619, divididos pela seguinte titulação:

Graduação 49, Especialização 129, Mestrado 579, Doutorado 844, Pós-doutorado 16, Livre-

docência 2, sendo que destes, 1.296 trabalham em regime integral e 323 em regime parcial.

Fonte: Google Pesquisa imagens da UEL.

OS CURSOS DE GRADUAÇÃO OFERECIDOS PELA UEL

Administração

Agronomia

Arquitetura e Urbanismo

Arquivologia

Artes Cênicas - Habilitação: Interpretação Teatral

Biblioteconomia

Biomedicina

Ciência da Computação

Ciências Biológicas

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Ciências Contábeis

Ciências Econômicas

Ciências Sociais

Comunicação Social - Habilitação: Jornalismo

Comunicação Social - Habilitação: Relações Públicas

Design de Moda

Design Gráfico

Direito

Educação Artística

Educação Física

Enfermagem

Engenharia - Habilitação: Engenharia Civil

Engenharia - Habilitação: Engenharia Elétrica

Esporte

Farmácia

Filosofia

Física

Fisioterapia

Geografia

História - Habilitação: Licenciatura

Letras

Matemática

Medicina

Medicina Veterinária

Música - Habilitação: Licenciatura

Odontologia

Pedagogia

Psicologia

Química

Secretariado Executivo

Serviço Social

Zootecnia

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O CURSO DE SERVIÇO SOCIAL DA UEL

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3.2.4 - O Curso de Serviço Social da UEL

O Curso de Serviço Social da UEL foi criado pela Resolução N. 100 de 25-05-1972,

tendo sido o curso implantado na UEL em 16-02-1973, e reconhecido pelo Decreto Federal N.

81.7257, de 24-05-1978.

O curso de Serviço Social da UEL tem duração de quatro anos e é oferecido no

período matutino e noturno.

O mesmo faz parte do Centro de Estudos Sociais Aplicados (CESA), tendo como

chefe do departamento do curso de Serviço Social a Profª. Dra. Sandra Pires, e como

coordenadora do Colegiado do curso de Serviço Social a professora Doutora Olegna.

Fonte: site da UEL

O bacharel em Serviço Social formado pela UEL deve ser um profissional: capaz de

atuar na malha dos serviços sociais, formulando e implementando propostas para sua

expansão e desenvolvimento, por meio de políticas sociais públicas, empresariais, de

organizações da sociedade civil e dos movimentos sociais; dotado de formação intelectual e

cultural generalista crítica, competente em sua área de desempenho, com capacidade de

inserção criativa e propositiva, no conjunto das relações sociais e no mercado de trabalho;

comprometido com os valores e princípios norteadores do Código de Ética do assistente

social e habilitado a intervir através do uso adequado de estratégias, instrumentos e técnicas

na relação direta com a população usuária de serviços sociais.

O Curso de Serviço Social pretende formar assistentes sociais capazes de intervir e

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150 construir conhecimentos numa perspectiva crítico-científica, considerando as demandas

decorrentes da dinâmica da sociedade, do Estado e do próprio Serviço Social. Para isso,

oferece instrumentos para levar o aluno a: Conhecer os determinantes das desigualdades

sociais como expressões da questão social; Analisar o surgimento e a consolidação da

profissão; Adquirir habilidades necessárias à elaboração de trabalhos científicos e à vivência

acadêmica; Conhecer as formas de intervenção do Estado na questão social; Conhecer as

propostas de intervenção profissional; Assumir postura ética com relação à ação profissional;

Desenvolver habilidades básicas para a intervenção profissional; Conhecer os instrumentos da

administração e do planejamento social; Intervir nas várias áreas da política social; Participar

do processo de intervenção supervisionada e aprofundar as principais questões abordadas

durante o curso através da reflexão dirigida e da elaboração de trabalho científico.

Fonte: Google pesquisas imagens da UEL

DISCIPLINAS QUE COMPÕEM A GRADE CURRICULAR DO CURSO DE

SERVIÇO SOCIAL DA UEL

1º ANO

Fundamentos do Serviço Social

Formação Política e Social Cultural do BR

Oficina de Serviço Social

Oficina de Letras

Economia Política

Filosofia E

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151

Ciência Política

Sociologia

2º ANO

Psicologia Social B

Fundamentos do Serviço Social II

Oficina de Serviço Social II

Ética Profissional

Política Social A

Pesquisa Serviço Social I

Antropologia

3º ANO

Oficina de Estatística

Prática Profissional I

Gestão em Serviço Social I

Política de Seguridade Social

Instituições de Direito

Planejamento Social

Políticas Setoriais

Oficina III

4º ANO

Prática Profissional II

Gestão em Serviço Social II

Movimentos Sociais e Direitos Sociais

Persp. Profissional na Atualidade

Trabalho e Sociedade

O Ensino da Sup. no Serviço Social

Oficina de Serviço Social IV

Oficina de Serviço Social V

Comunicação

Elaboração de TCC

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152

EMENTÁRIO DO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL DA UEL

1ª Série

Economia Política

Diferentes escolas do pensamento econômico e as diferentes interpretações sobre a

economia capitalista: liberal, marxista , keynesiana e neoliberal.

Filosofia E

Concepção de Filosofia. Perspectivas filosóficas para reflexão sobre a racionalidade, a

ontologia, a epistemologia, a ética e a política.

Oficina de Letras

Teoria e prática de redação, resumo, resenha, monografia, relatório. Revisão de textos.

Leitura, interpretação e elaboração de texto acadêmico.

Fundamentos do Serviço Social I

O Serviço Social como profissão: a lei de regulamentação da profissão. Concepções

sobre a origem e evolução do Serviço Social. História do Serviço Social no Brasil. Influência

das correntes filosóficas e sociológicas no Serviço Social.

Formação Política e Social do Brasil

O processo histórico e cultural de desenvolvimento do Brasil. A constituição do

Estado Brasileiro. As diferentes configurações do Estado brasileiro e sua relação com a

sociedade civil.

Oficina de Serviço Social I A

Investigação da realidade social. A expressão da questão social no cotidiano da

profissão. A contribuição do Serviço Social no estudo da questão social.

Ciência Política

Política, Poder e Estado. A concepção liberal. A política enquanto forças sociais.

Sociologia

As correntes clássicas do pensamento sociológico: o positivismo, a teoria

compreensiva e o materialismo histórico.

2ª Série

Psicologia Social B

Análise das relações entre indivíduo e sociedade na perspectiva do materialismo

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153 histórico. Instituições e grupos sociais. A constituição da subjetividade no processo de

produção e reprodução da vida social. Categorias fundamentais da psicologia social:

identidade, consciência, alienação, ideologia e representação social.

Fundamentos do Serviço Social II

O movimento de reconceituação. O debate sobre a questão da metodologia no Serviço

Social. O processo de formação profissional. O Serviço Social na contemporaneidade.

Oficina de Serviço Social II

A contribuição do Serviço Social nas políticas sociais. Instrumentos e técnicas:

Instrumental técnico do Serviço Social nas abordagens individual e grupal. Elaboração e

organização dos documentos técnicos. Estratégias de trabalho com grupos e comunidades.

Ética Profissional

Os fundamentos ontológicos da dimensão ético-moral da vida social: a natureza da

ética em sua dimensão filosófica e seu objeto de reflexão. Questões éticas contemporâneas. A

dimensão ético-política da profissão. O Código de Ética da profissão.

Política Social A

Fundamentos de política Social. História das políticas sociais no Brasil até a década de

70. A relação do Estado e da Sociedade Civil na constituição das políticas sociais. As

políticas sociais no período da transição democrática até os dias atuais. Direitos sociais e

cidadania.

Pesquisa em Serviço Social

O processo investigativo e a construção do conhecimento no âmbito do Serviço Social.

Fases da pesquisa. A pesquisa social. Métodos, técnicas e instrumentos da pesquisa

quantitativa e qualitativa.

Antropologia

A contribuição da Antropologia para a compreensão da sociedade contemporânea. A

cultura como atributo essencial da condição humana. Etnocentrismo e diversidade

sociocultural. As reflexões contemporâneas da Antropologia sobre os efeitos da globalização.

A diversidade sociocultural brasileira.

3ª Série

Oficina de Estatística

Estatística aplicada à pesquisa em Serviço Social. Introdução à estatística básica.

Distribuição de frequência e apresentação gráfica. Medidas de posição e dispersão, medidas

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154 de assimetria e curtose. Margens de erro. Universo e amostra. Indicadores sociais.

Estágio Supervisionado I

Análise conjuntural e sócio-institucional. Aproximação e delimitação das áreas de

intervenção. Estratégias de ação. Utilização de instrumental técnico.

Direito A

Direitos e garantias fundamentais da cidadania. A organização do Estado e dos

poderes. O direito da Família. A pessoa física e a pessoa jurídica.

Prática Profissional I

Análise das práticas profissionais. Espaço profissional e atribuições do assistente

social. Estratégias de intervenção profissional.

Gestão em Serviço Social I

Processos de gestão nas políticas sociais: planejamento, direção, acompanhamento e

avaliação. Construção e controle de orçamento. A organização do fundo público e o

financiamento das políticas sociais. Trabalho social em rede de serviços. O controle social,

papel dos Conselhos e a atuação profissional.

A Política de Seguridade Social

Histórico, constituição e perspectivas das atuais políticas brasileiras de seguridade

social: saúde, previdência e assistência. A atuação do assistente social.

Planejamento Social A

Planejamento social e política social. O Planejamento social no Brasil. A teoria do

planejamento: conceitos, níveis, tipos, fases. O planejamento enquanto instrumento do

Serviço Social.

Políticas Setoriais A

Histórico, constituição e perspectivas atuais das políticas sociais brasileiras nas áreas

de: habitação; educação; agrária; justiça e meio ambiente. A atuação do assistente social.

Oficina de Serviço Social III A

Elaboração e desenvolvimento de projetos de pesquisa. Elaboração e desenvolvimento

de projetos de intervenção.

4ª Série

Estágio Supervisionado II

Planejamento, execução, avaliação e proposição de práticas profissionais.

Comunicação Social

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155

Teorias e práticas da comunicação. Teorias voltadas para análise de mensagens. A

linguagem dos meios de comunicação. Técnicas de comunicação aplicadas à atuação

profissional.

Prática Profissional II

A prática profissional e análise institucional. A questão do poder, do controle e da

burocracia. A democratização das instituições e a contribuição do Serviço Social . Estratégias

de intervenção profissional.

Gestão em Serviço Social II

O terceiro setor e sua articulação com o Estado. Modalidades de gestão no Terceiro

Setor. Gestão de Recursos Humanos.

Movimentos Sociais e Direitos Sociais

Diferentes abordagens teóricas dos movimentos sociais. História dos movimentos

sociais no Brasil. As lutas sociais e seu rebatimento nas políticas sociais. Movimentos sociais

em suas diferentes expressões. O serviço Social e os Movimentos Sociais.

Perspectivas Profissionais na Atualidade

Áreas emergentes de atuação profissional. Seminários temáticos.

Trabalho e Sociedade

A crise capitalista contemporânea e as transformações no mundo do trabalho. As

novas demandas do Serviço Social.

O Ensino da Supervisão no Serviço Social

A formação profissional e o estágio. A relação entre as instituições de ensino e os

campos de estágio. O papel do supervisor. A supervisão pedagógica e a supervisão de campo.

O papel do estágio. O conteúdo da supervisão. Planejamento , execução e avaliação.

Oficina de Serviço Social IV

Aplicações das Tecnologias de Informação na prática do assistente social. Bancos de

dados.

Oficina de Serviço Social V

Seminários de trabalhos científicos.

Elaboração de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC)

Elaboração de trabalho de conclusão de curso: monografia ou projeto concernente à

temática do Serviço Social. Elaboração de planos de trabalho. A delimitação do objeto. A

pesquisa empírica. A construção da análise.

Corpo Docente Do Curso de Serviço Social da UEL

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� Adiloar Franco Zemuner – Efetivo - 40 H – Direito - Mestrado

� Adriana Aparecida dos Santos - Temporário – 20 H - Serviço Social - Mestrado

� Alaide M. M. Fernandes da Silva - Efetivo - Tide - Serviço Social - Mestrado

� Ana Satie Yotsumoto - Efetivo – 40 H - Matemática - Mestrado

� Andrea Pires Rocha – Efetivo – Tide - Serviço Social - Mestrado

� Aparecida Lopes Prado – Efetivo - 40 H - Serviço Social - Mestrado

� Betty Elmer Finati – Temporário – 20 H - Serviço Social - Mestrado

� Carlos Alberto Albertuni – Efetivo – 40 H – Filosofia - Doutorado

� Cassia Maria Carloto – Efetivo – Tide - Serviço Social - Doutorado

� Claudia Neves da Silva - Efetivo –Tide - Serviço Social - Doutorado

� Clodomiro Bannwart Junior - Efetivo – Tide – Filosofia - Mestrado

� Debora Braga Zagabria – Efetivo – Tide - Serviço Social - Doutorado

� Deise Maia Efetivo – Tide - Ciências Sociais - Doutorado

� Denise Fank - Temporário -20 H - Serviço Social - Mestrado

� Dione Lolis – Efetivo - 40 H - Serviço Social - Doutorado

� Eliane C. Santos de Campos – Efetivo – 40 H - Serviço Social - Mestrado

� Evaristo Emigdio Colman Duarte – Efetivo – Tide - Serviço Social - Doutorado

� Joana D’arc Moreira Nolli – Temporário - 40 H - Ciências Sociais - Mestrado

� Jolinda de Moraes Alves – Efetivo - 40 H - Serviço Social - Doutorado

� Jose Carlos de C. Lourenco – Efetivo – Tide – Física - Mestrado

� Lino Tucunduva Neto – Efetivo – Tide - Comunicação Social - Mestrado

� Liria Maria Bettiol Lanza – Efetivo – Tide - Serviço Social - Mestrado

� Liz Clara Ribeiro de Campos – Temporário – 20 H - Assistente Social - Mestrado

� Lucia Helena M. do Carmo – Efetivo – Tide - Serviço Social - Mestrado

� Luciane Braz Peres Mincoff – Efetivo – 40 H – Letras - Doutorado

� Marcelle Diorio de Souza – Temporário – 20 H - Serviço Social - Mestrado

� Márcia Helena Carvalho Lopes – Efetivo – 40 H - Serviço Social - Mestrado

� Marcia Pastor – Efetivo – Tide - Serviço Social - Doutorado

� Maria Clementina Espiler Colito – Efetivo – Tide - Serviço Social - Mestrado

� Maria Inez Barboza Marques- Temporário – 40 H - Serviço Social - Mestrado

� Olegna de Souza Guedes – Efetivo – Tide - Serv. Social/Filosofia - Doutorado

� Patrícia de Araújo Rodrigues – Efetivo – Tide – Letras - Doutorado

� Paulo Roberto de Carvalho – Efetivo – Tide – Psicologia - Doutorado

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� Sandra da Cruz P. Domiciano – Efetivo – Tide - Serviço Social - Mestrado

� Sandra Maria Almeida Cordeiro – Efetivo – 40 H - Serviço Social - Mestrado

� Sandra Regina de Abreu Pires – Efetivo – Tide - Serviço Social - Doutorado

� Savio Machado Cavalcante – Temporário – 40 H - Ciências Sociais - Mestrado

� Selma Frossard Costa – Efetivo – Tide - Serviço Social - Doutorado

� Silvia Alapanian - Efetivo - Tide - Serviço Social - Doutorado

� Silvia Maria Solci – Temporário – Tide - Serviço Social - Mestrado

� Sinival Osorio Pitaguari – Efetivo – 40 H - Ciências Econômicas - Graduação

� Vera Lucia Tieko Suguihiro- Efetivo – Tide - Serviço Social - Doutorado

Os Professores e as respectivas disciplinas lecionadas:

� Jolinda M. Alves – Fundamentos do Serviço Social

� Claudia Neves – Formação Pol. e Social Cultural do BR

� Aparecida Lopes Prado – Oficina de Serviço Social I

� Betty Elmer – Oficina de Serviço Social I

� Patrícia Rodrigues – Oficina de Letras

� Sinival Osório Pitaguari – Economia Política

� Carlos Alberto Albertuni – Filosofia E

� Sávio Machado Cavalcanti – Ciência Política

� Joana D’arc Moreira Nolly - Sociologia

� Paulo Roberto de Carvalho – Psicologia Social B

� Andréa Pires Rocha – Fundamentos do Serviço Social II

� Eliane Campos – Oficina do Serviço Social II

� Liz Clara Ribeiro de Campos – Oficina do Serviço Social II

� Olegna de Souza Guedes – Ética Profissional, Persp. Profissional na Atualidade

� Silvia Alapanián – Política Social A

� Deise Maia - Antropologia

� José Carlos de C.Lourenço – Oficina de Estatística

� Dione Lolis – Persp. Profissional na Atualidade, Prática Profissional I

� Sandra Cordeiro - Prática Profissional I

� Sandra Perdigão - Prática Profissional I

� Silvia Solci - Prática Profissional I

� Márcia Helena Lopes – Gestão em Serviço Social I

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� Adriana A. Santos – Política de Seguridade Social

� Márcia Helena Lopes – Política de Seguridade Social

� Lúcia Helena do Carmo – Política de Seguridade Social

� Walquiria – Instituições de Direito

� Selma Frossard da Costa – Planejamento Social

� Sandra Lourenço – Políticas Setoriais

� Alaíde Morita – Prática Profissional II

� Lucia Helena do Carmo – Prática Profissional II

� Denise Fank – Prática Profissional II

� Maria Inêz Barbosa Marques – Prática Profissional II

� Márcia Pastor – Movimentos Sociais e Direitos Sociais

� Liria Bertiol – Trabalho e Sociedade

� Evaristo Colmán – Oficina de Serviço Social IV

� Marcelle Diório - Oficina de Serviço Social IV

� Maria Clementina Spiler Collito – Oficina de Serviço Social V

� Sandra Pires – Persp. Profissional na Atualidade, Oficina de Serviço Social V

� Lino Tucunduva Neto – Comunicação

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OS SUJEITOS DA PESQUISAOS SUJEITOS DA PESQUISAOS SUJEITOS DA PESQUISAOS SUJEITOS DA PESQUISA

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160

3.3 Os Sujeitos da Pesquisa

3.3.1 Os Docentes

Foram sujeitos 6 professores do curso de Serviço Social da Uel.

A pesquisa se deu através de um grupo de discussão e de entrevistas individuais.

Houve a participação de 4 professores no grupo, e foram entrevistados 6 professores.

Porém, 1 professor só participou do grupo, 3 participaram do grupo e entrevista e 2 só da

entrevista. A seguir, segue um quadro demonstrativo do perfil dos docentes que foram

sujeitos.

Quadro 1 – Perfil dos Docentes

Sujeitos (professores)

Faixa Etária Disciplina Lecionada

Local da graduação

Ano da Graduação

Titulação Atual

Tempo de docência

Jolinda Entre 41 e 50 anos

Fundamentos UEL 1979 Doutora 27 anos

Sandra Entre 41 e 50 anos

Chefe do Departamento

e Oficina de TCC

UEL 1983 Doutora 23 anos

Olegna Entre 41 e 50 anos

Coordenadora do Colegiado e

Ética

PUC-SP 1986 Doutora 9 anos

Líria Entre 31 e 40 anos

Oficina III e Trabalho e Sociedade

UNESP-Franca - SP

1999 Mestre 9 anos

Eliane Entre 41 e 50 anos

Oficina I e IV UEL 1990 Mestre 9 anos

Andréa Entre 31 e 40 anos

Fundamentos II e TCC

Unesp-Franca 2000 Mestre 5 anos

Observando os dados, percebe-se que os docentes são do sexo feminino, sendo esta

uma característica histórica em relação aos assistentes sociais, que desde os primórdios da

profissão são as mulheres quem a exercem.

As mesmas são jovens, pois nenhuma tem mais que 50 anos de idade. Das

participantes três são doutoras e três são mestres, e apesar de não constar do quadro, duas

estão cursando o doutorado, sendo a professora Líria e a professora Andréa. Cinco se

graduaram em Universidades Públicas, uma se graduou em IES privada, sendo que das que se

graduaram em IES públicas, três se graduaram na própria UEL.

Entre as docentes, apenas duas possuem mais de 20 anos de docência, sendo a

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161 professora Jolinda com 27 anos e Sandra com 23 anos. Das demais, três são docentes há 9

anos, sendo a docente Olegna, Líria e Eliane. A mais nova na carreira docente é a professora

Andréa, com 5 anos de exercício docente.

3.3.2 - Os Alunos

Foram sujeitos 5 alunos do sexo feminino, sendo que 2 foram entrevistadas

pessoalmente por esta pesquisadora e 3 responderam a um questionário, com as mesmas

questões contidas no roteiro da entrevista. A intenção inicial era a de entrevistar todos os

alunos, mas por conta da gripe A1N1 as aulas na UEL foram suspensas por mais de uma

semana no mês de julho e o mês todo de agosto, sendo este um fato que não estava previsto

pela pesquisadora. Entendendo então a questão enfrentada por toda sociedade brasileira, foi

necessário apelar para o questionário via e-mail.

É obvio que este instrumento não traz a mesma riqueza de detalhes quanto à

entrevista, porém não se pode considerar prejuízos na pesquisa, uma vez que o objetivo

principal era o de conhecer o processo de formação e a atuação docente nesta universidade.

Então os dados trazidos pelos alunos foram significativos, em ambas as situações.

Quadro 2 – Perfil dos Alunos.

Sujeitos (alunos)

Faixa etária Ano que cursa Cidade de origem Escola que concluiu o segundo grau

Motivo da escolha pelo curso de S.S.

Veranice 26 a 33 anos 4 ano Florestópolis - PR Pública -supletivo

Por identificar-se com o público atendido

Michele 18 a 25 anos 4 ano Cornélio Procópio-Pr

pública Por se identificar com as relações humanas

Fabiana 18 a 25 anos 4 ano Londrina-Pr pública por ser voltado à justiça social, aos direitos sociais mais do que aos demais cursos.

Afrannia 18 a 25 anos 4 ano Londrina pública Na verdade foi sua segunda opção, mas a escolheu devido às matérias de sociologia, filosofia que chamaram a sua atenção.

Christiane 18 a 25 anos 4 ano Londrina particular Não sabe por que escolheu o curso, mas sabe que não troca a profissão por nada!

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Quatro das alunas entrevistadas têm uma característica em comum, todas concluíram o

segundo grau em escola pública e todas são do Estado do Paraná.

Por terem concluído o ensino médio em escola pública, fica aqui um elemento para

uma reflexão mais aprofundada, que não cabe aqui, pois pelo conhecimento do senso-comum,

são os alunos que estudam em escolas privadas que conseguem as vagas em universidades

públicas.

É importante destacar a situação da aluna Veranice, que mais que estudar em escola

pública, conseguiu concluir o segundo grau através do Ensino Supletivo, estando na faixa

etária de 26 a 33 anos.

Apenas uma sempre estudou em escola particular.

Uma das alunas diz que o curso de Serviço Social foi sua segunda opção de escolha, e

que as matérias é que chamaram sua atenção.

Três delas escolheram pelo fato de a profissão possibilitar a proximidade com o ser

humano, e uma diz que desde o primeiro ano de curso tenta se responder essa pergunta, mas

não consegue, mas sabe que é o que quer para ela.

No quadro a seguir, as alunas expõem um pouco mais sobre elas e a escolha pelo curso

de Serviço Social.

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163 Quadro 3 – Um pouco mais sobre as alunas

ALUNAS ESCOLHA PELO SERVIÇO SOCIAL

NÍVEL DE CONSCIENCIA CRÍTICA E POLÍTICA

CONHECE O PROJETO ETICO-POLÍTICO

MOVIMENTO ESTUDANTIL

VERANICE Porque te traz uma preparação, que permitirá no futuro profissional a emancipação na vida cotidiana da população atendida.

Um pouco, acho que poderia ser mais

Sim, mais acho que devo me apropriar mais desses princípios, uma vez que norteará minha postura profissional

Raramente, muito pouco.

MICHELE porque se identifica com as relações humanas

Sim Sim Já participou

FABIANA pois através dele é possível evidenciar aos sujeitos históricos seus direitos, diferenciando estes da filantropia e caridade. Dá uma base crítica e política referente ao passado e as atualidades, as mazelas do capitalismo e mostrando o jogo de interesses que há na mídia, na área da comunicação em geral, propostas governamentais entre outros.

Sim, o curso é bem voltado ao pensamento crítico e político, incentivando constantemente à reflexão.

Sim, no 2º ano tivemos uma disciplina anual voltada exclusivamente ao Projeto Ético Político Profissional, sendo também relembrado em outras disciplinas e discutido sempre nas de Prática Profissional I e Prática Profissional II.

Participei de várias reuniões e assembléias do movimento estudantil, na comissão eleitoral do plebiscito sobre a Vale do Rio Doce, e já fiz parte do centro acadêmico do curso na gestão de 2007-2008. Não sei se entra, mas nos movimentos de manifestações o serviço social sempre esta inserido, manifestação contra o monopólio do Xérox, monopólio do Pinguin (cantina), contra o muro na UEL, contra o polícia no Campus, Manifestação pelo Passe Livre.

AFRANIA pois me identifico com a área das ciências sociais, e a profissão mesmo com traços e heranças conservadoras, traz o amadurecimento, a perspectiva critica e a prática profissional voltada à conquista de políticas públicas e sociais em relação aos usuários, conquistas para a categoria profissional, e as demais lutas que buscam a ampliação de direitos e defesa da

democracia.

acha que o envolvimento com o movimento estudantil influencia muito

Conhece o básico sobre ele, mas o que ajudou mesmo foi ela ter entrado no grupo de pesquisa que discute sobre o projeto ético político

Sempre participa dos movimentos e lutas da universidade e diz que isso já é da sua personalidade

CHRISTIANE porque me faz pensar mais sobre o mundo.

Sim, posso dizer que não sairei da universidade com aquele mesmo pensamento de senso comum que eu entrei, hoje tenho uma visão mais ampliada das pessoas saio mais julgando como fazia

Sim, faço pesquisa sobre esse tema na UEL.

Não, nunca.

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Em um pequeno questionário as alunas responderam se gostam do curso de Serviço

Social e o porquê, se ele tem instigado o nível de consciência crítica e política, se conhecem o

projeto ético-político da profissão e se participam de algum movimento estudantil.

Todas disseram que gostam do curso e que este, de certa maneira, tem instigado o

nível de consciência crítica e política das mesmas, e que conhecem o projeto ético-político,

sendo que as que participam do grupo de pesquisa sobre ele demonstram conhecer mais sobre

o mesmo, deixando claro que só nas aulas elas conseguem apenas o conhecimento básico.

Das alunas, apenas 3 participam de movimento estudantil, indicando a vontade e o

perfil para a militância política, muito presente na história da profissão de Serviço Social.

Numa segunda parte do questionário havia perguntas relacionadas ao dia a dia da sala

de aula.

Inicialmente foi perguntado como o professor ensina e as respostas obtidas das que

responderam o questionário foi:

Muitas vezes em experiências próprias, acho que só isso, empobrece o conteúdo dado (Veranice). Há professores que ensinam de forma tradicional, na perspectiva de ajustamento, no qual o professor deposita seus conhecimentos sobre o estudante, efetivam a educação bancária a qual Paulo Freire discute, e alguns ensinam de acordo com perspectiva de transformação, sendo as aulas realizadas através de debates, discussões, proporcionando ao estudante a reflexão (Fabiana). É complicado falar de como eles ensinam, depende de cada um. Há alguns que gosto bastante, que me fazem pensar, refletir sobre a prática profissional, no entanto há outros que pra mim não passam de exemplos a não serem seguidos, não pela didática ou coisa assim, mas pela postura enquanto profissional mesmo, o que eles demonstram em sala de aula (Christiane).

Com as respostas obtidas fica nítida a preferência dos alunos pelas aulas dinâmicas e

que instigam os alunos a refletirem, indicando sua contrariedade com as aulas expositivas.

Num segundo momento foi-lhes perguntado como elas conseguem aprender, e essas

foram as respostas:

Ouvindo, participando e estudado o conteúdo aplicado (Veranice). Sim, aprendo principalmente quando relacionam a teoria com a prática. E quando as aulas são dinâmicas, e há discussões, pois posso verificar pensamentos diferentes do meu, coisas que não havia pensado antes, aprendendo e refletindo melhor sobre determinado assunto (Fabiana).

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Sim, consigo, através das aulas, mas também pelos textos e principalmente pela experiência no campo de estágio (Christiane).

Com as respostas podem ser identificadas várias maneiras de aprendizado, como

através das explicações do professor, com as discussões e debates, com a leitura dos textos,

quando a teoria é relacionada com a prática e quando vivenciam isso no estágio.

Num terceiro momento responderam a questão como e quando conclui que aprendeu,

e as respostas foram:

Quando eu falo com propriedade do assunto (Veranice). Quando consigo relacionar o que julgo ter aprendido com outras coisas, fatos, filmes, e/ou com a prática (Fabiana). Put’s, é uma pergunta que não sei responder e que inclusive estava discutindo isso com uma professora antes das férias. Eu acho que aprendi quando sei discutir sobre um assunto, quando estou no estágio e chega alguma questão sobre BPC, por exemplo, e eu sei se o caso se enquadra nos critérios ou não; quando consigo lembrar de alguma lei que possa ajudar um usuário ou quando de alguma forma posso responder a demanda que me chega, quando isso acontece, eu acho que aprendi o que me foi ensinado na sala de aula, pois posso colocar na prática o que aprendi na teoria. Não sei se estou equivocada, mas é essa forma que eu tenho de saber se aprendi. A nota também é importante, mas é relativo (Christiane).

Todas as respostas evidenciam que para elas o que lhes dá a certeza do aprendizado é

quando conseguem falar sobre o conteúdo aprendido, quando conseguem relacioná-lo com a

prática ou enxergá-lo em atos e situações sociais. Somente uma citou sobre a nota, mas

mesmo a que disse isso aponta a nota como algo relativo enquanto identificador de

aprendizado.

Para uma última reflexão, lhes foi questionado sobre como considera que o professor

consegue saber que aprendeu?

Não Consegue... rsrsr, pois uma prova aplicada não lhe dá essa certeza, mas, penso eu, por meio de debates,discussões em sala, enfim acho mais aproveitado do que uma simples de prova frente e verso... (Veranice). Quando ele avalia não apenas através das provas, mas engloba outras atividades, e principalmente quando verifica as dificuldades dos estudantes e ajuda a superá-las. Mas sinceramente, considero que a maioria não sabe se realmente aprendemos ou apenas decoramos e logo esqueceremos o que julgam termos aprendidos (Fabiana). A grosso modo pela nota que ele me dá, mas como disse, é relativo, uma vez que eu posso ter decorado a matéria de uma prova e não saber nada sobre aquilo, não sabem empregar o que aprendi, então pra mim não aprendi nada (Christiane).

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Nesta pergunta as alunas demonstram mais uma vez que não acreditam em provas, que

estas não medem seus conhecimentos, pois quando estudam, decoram, na verdade não é nesse

momento que elas aprendem ou não, pois podem ir bem na prova e não ter entendido nada, ou

pode ir mal na prova e ter aprendido muito, por isso dizem que isso é relativo. Concretiza-se

então a idéia de que a prova, como instrumento para medir o aprendizado é vista pelos alunos

como meio de punição e não de construção, e que não é na prova ou estudando para a prova

que conseguem aprender.

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TECENDO CONSIDERAÇÕES SOBRE O DESAFIO PERMANENTE NO PROCESSO DE FORMAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL

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168 Tecendo Considerações: limites e possibilidades no processo de formação do assistente

social.

A realização desta tese permitiu identificar os limites e possibilidades no processo de

formação do assistente social.

A interpretação da proposta de formação atual do assistente social e da participação

docente do assistente social como uma prática pedagógica no processo de formação,

possibilitou o conhecimento do processo de ensino aprendizagem no curso de Serviço Social,

evidenciando ainda como se dá a prática de ensino dos conteúdos, de avaliação e da

possibilidade de se formar assistentes sociais críticos e éticos.

A interpretação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação(1996) tornou possível o

entendimento em relação aos objetivos que a Educação, e especificamente a Educação

Superior coloca como metas a serem atingidas durante a formação dos alunos.

Então o aspecto crucial é formar o sujeitos para o exercício da cidadania e prepará-lo

para o trabalho, sendo este fundamental para a vida de qualquer cidadão, pois é a partir dele

que vivemos a forma mais plena de liberdade. Liberdade de escolha, de garantia de

sobrevivência e de qualidade de vida e de referância profissional, intimamente ligada a

referência pessoal.

Diante desta evidência, a pesquisa teve como objetivo analisar a prática profissional

docente do professor do curso de graduação em Serviço Social da UEL/PR, mediante as

requisições que são postas para estes profissionais, compreendendo os determinantes e as

peculiaridades deste tipo de atuação, detectando como tem ocorrido o processo de ensino-

aprendizagem dos alunos do curso de Serviço Social.

Deve-se ressaltar que a pesquisa não teve a pretensão de avaliar a prática docente e

nem de fazer julgamentos sobre ela, buscando conhecê-la de modo qualitativo, o que

enriqueu muito esta tese.

A pesquisa possibilitou conhecer e analisar os elementos que constituem o processo

de formação dos alunos do curso de Serviço Social, identificando como se dá a participação

docente e discente no processo de ensino-aprendizagem, conhecendo a metodologia de

avaliação utilizada pelos docentes no processo de ensino-aprendizagem no curso de Serviço

Social da UEL-PR.

Para a efetivação desta pesquisa foi necessário a busca pelos pareceres ministeriais

referentes ao curso de Serviço Social, que regulamentam as Diretrizes Curriculares do Curso

de Serviço Social(1996), tendo sido estas uma conquista da ABEPSS, que movimentou toda a

Page 169: O PROCESSO DE FORMAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL: DESAFIO ... Aparecida... · deste processo. Para tanto buscou-se como universo de pesquisa o curso de Serviço Social da Universidade

169 categoria na busca de sua elaboração e efetivação. A ABEPSS trouxe uma nova lógica

curricular, deixando o conservadorismo e colocando o Serviço Social na categoria de

profissão que se baseia nas Ciências Sociais, tendo como referência a teoria marxista, o que

significa uma teoria crítica, sendo o objeto do Serviço Social a Questão Social, aquela gerada

pela relação Capital/Trabalho e que se expressa de variadas formas em nosso meio social.

No contexto da tese refletiu-se sobre os entraves que a profissão tem buscado superar,

relacionados à própria precarização na formação do assistente social, desvelando aqui

algumas possibilidades. Se o governo federal ampliasse a oferta de cursos de Serviço Social

nas universidades federais ampliaria muito o número de vagas gratuitas para as pessoas

interessadas no curso, que poderiam deixar o ensino à distância, que é pago, para frequentar

um ensino presencial de qualidade. Ainda possibilitaria a contratação de muitos docentes,

mestres e doutores, incentivando a busca pela qualificação no nível stricto-sensu.

o fato da ABEPSS não citar essa questão da ampliação de vagas para docentes

possivelmente se dê pela sua obviedade, pois se há alunos há professores. Mas essa

possibilidade é rica para a categoria, pois é certo que temos muitos profissionais que se

interessam pela carreira docente.

O Projeto Político Pedagógico foi definido e interpretado, sendo possível o

entendimento de que é ele que oferece as bases para o planejamento de um curso em

determinada universidade. E esse planejamento deve ser participativo, envolvendo todas as

instâncias que tem relação direta na formação do aluno.

Quanto ao Projeto Político Pedagógico do Curso de Serviço Social, este deve seguir na

mesma linha, porém, deve ser pensado como um um projeto pedagógico para o curso de

Serviço Social. Em se tratando de Serviço Social, deve ser elaborado e pensado de acordo

com as Diretrizes Curriculares da ABEPSS(1996), que direciona a formação de profissionais

críticos e éticos, preparados para trabalhar com as expressões da Questão Social, participando

de uma categoria profissional comprometida com o Projeto Ético Político de Profissão.

Como a formação do assistente assistente social se dá na universidade, e sendo a

universidade um estabelecimento educacional, regido pela LDB, fiscalizado pelo MEC, trata-

se de um local de práticas educativas, de uso da metodologia de ensino e, portanto local de

prática pedagógica e didática. Há necessidade de uma prática pedagógica ao ensinar os

fundamentos históricos teóricos e metodológicos do Serviço Social, ao ensinar sobre os

instrmentos tecnico operativos e como se dá uma intervenção profissional nas diversas áreas

de atuação.

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170 Sendo assim, todo docente é visto como um professor, inclusive chamado pelos seus

alunos de professor. Mas professor é aquele que se formou para ser professor.

No caso do Serviço Social, muito bem lembrado por um dos sujeitos da pesquisa, pela

professora Jolinda, é atribuição privativa do assistente social dar aulas em curso de Serviço

Social. Mas o assistente social não tem em sua formação nenhuma disciplina ou

direcionamento para o aprendizado do exercício da docência. Então não é ilegal e, nem

podemos dizer incorreto, se qualquer assistente social lecionar em um curso superior.

Infelizmente isso tem acontecido nos cursos à distância. Os tutores, muitos deles, tem

exercido a tutoria desses cursos sem nenhum conhecimento pedagógico e, muitas vezes sem

um conhecimento profundo da própria teoria que norteia a profissão. Então a precarização se

evidencia tanto naquele que forma como nos que se formam a partir de seus ensinamentos.

Entendendo então a prática docente do assistente social como uma prática de natureza

pedagógica, buscou-se aprofundar a reflexao sobre a aprendizagem, indicando os momentos

de aprendizagem que são proporcionados e quando e quais momentos os alunos definem

como os melhores momentos desse acontecimento, conhecendo ainda como e quando o

professor detecta que o aluno aprendeu, quando o aluno sabe que aprendeu e se ele consegue

identificar quando o professor sabe que ele aprendeu.

Os estudos teóricos aliados à pesquisa de campo direcionam ao entendimento de que o

assistente social e a docência, necessariamente, não caminham juntos, pois o assistente social

só com a graduação não reúne elementos suficientes para participar efetivamente do processo

de ensino-aprendizagem. Pode ser que ele reúna elementos de caráter vocacional e que o

impulsionam à docência. Porém, só isso também não o qualifica. Razão pela qual deve-se se

partir do pressuposto de que para lecionar em curso superior, quase que em sua totalidade, as

IES exigem, no mínimo, o curso de especialização, que então preparou aquele assistente

social para a docência. Mas será que todos os cursos de especialização contemplam algum

tipo de disciplina direcionada a tal objetivo? Não. Muitos cursos não oferecem e nem pensam

nisso, pensando sempre na qualificação do profissional para a intervenção, pois a profissão é

de natureza interventiva.

A pesquisa mostra que quando o assistente social tem o exercício da prática, de modo

coerente e competente, consegue exercer melhor a docência, pois aliada à teoria que já teve na

graduação, a prática lhe dá elementos para conseguir relacionar a teoria à prática.

Uma outra situação é que o assistente social tenha feito um curso de Metodologia, um

curso em educação, em licenciatura, ou que ele seja mestre ou doutor, pois aí se garante uma

docência de qualidade. Foram referidas situações de que há docentes que são doutores e que

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171 não exercem uma docencia de qualidade, pois não tem uma boa didática e não sabem como

ensinar.

Pode-se considerar então, que o ideal é que o assistente social docente reúna todos

esses quesitos para realizar uma boa prática docente: que tenha vocação, que exerça ou tenha

exercido uma prática profissional competente e ética, que tenha feito um curso específico para

metodologia do ensino superior, e que se valorize mais os docentes mestres e doutores, que

possuem uma bagagem teórica grande, mas que nem por isso, tenha tido uma disciplina ligada

à metodologia de ensino. A maioria dos cursos de mestrado e doutorado não oferecem essas

disciplinas, sendo, na sua grande maioria, os programas de educação quem oferecem.

Como todo curso superior tem que ter seu Projeto Pedagógico, mais uma vez fica

evidente a necessidade do docente de Serviço Social ter conhecimentos de caráter

pedagógicos educacionais, pois como pensar num currículo, que além de contemplar as

diretrizes curriculares, ainda alcance sucesso com os alunos, porque para ele também foram

pensadas práticas educativas.

Diante disso, vale destacar a importância da participação docente e discente na

elaboração deste projeto. Com o posicionamento da professora Olegna, sujeito da pesquisa,

ficou evidente a diferença na atuação docente e na organização de uma disciplina quando o

docente participa da elaboração, planejando sua disciplina, o caminho que vai traçar, e os

objetivos que quer alcançar. Algumas dificuldades são pontuadas quanto a participação

docente e discente, pois não são todos os que estão abertos a participar, e não são todos que

estão abertos a mudanças, preferindo ficar na sua zona de conforto, sem esforço em torno da

formação do aluno.

Como o curso de Serviço Social é uma profissão considera liberal, a mesma possui um

código de ética que foi pensado e elaborado com base num projeto ético político de profissão.

Verifica-se que é possível a formação de um aluno dentro de uma perspectiva crítica, sendo

destacada algumas dificuldades quanto à formação ética de acordo com os príncipios que

norteiam o código de ética do Serviço Social, uma vez que os princípios estão mais

direcionados a busca por uma sociedade justa e igualitária, e que é bastante desafiante dentro

de um país capitalista, com ideais neoliberais, onde não se critica a propriedade privada, e

onde a justiça que se prega dificilmente será alcançada. Então que justiça buscamos? Que

igualdade queremos?

Então quanto a essa formação ética baseada nos príncipios do Código de ética,

considera-se a possibilidade de um estudo mais aprofundado, uma vez que houve divergências

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172 de opinões. Quanto a uma formação aliada aos princípios éticos do Código destaca-se a fala

da profa. Eliane:

O grande problema que eles vem para fazer o curso e imaginam que uma coisa, no segundo ano eles entram em crise, porque eles acharam que ia ajudar e não vão poder ajudar, ele acha que entra fazer esse curso, tem uma criticidade e acha que não vão fazer nada, porque as políticas sociais, compensatórias ...Não vão conseguir mudar o mundo, e eu odeio o curso, se formam, fazem o primeiro concurso e entram e vão ser assistentes sociais. Então, né eu acho que isso não sei. A gente tem que buscar resgatar para que eles entendam, né, se vc tá fazendo um curso, e vc tem uma grande possibilidade de exercer a profissão que vc exerça com qualidade. Mas isso, na cabeça dos alunos é muito complexo. Porque eles acham, que eles, entram achando que as coisas vão mudar, veem que as coisas não são bem assim, se frustram, e também(...). Que não vai, né, tem que aprender a viver nesse capitalismo. (Eliane)

Essa fala sugere que os alunos, quando conhecem os princípios éticos, que pregam a

justiça, a igualdade, a busca por uma sociedade igualitária, distribuição da riqueza, se frustram

quando se enxergam dentro da dura realidade capitalista na qual estão inseridos, e da

dificuldade de se conseguir essa igualdade, vista por este prisma. Alguns professores

acreditam que a igualdade e exercício de cidadania estão ligados a garantia de direitos que o

profissional deverá buscar para seus usuários. Basta saber trabalhar essa contradição dentro do

próprio curso, pois na verdade os alunos deverão entender essa contradição e entender que é

de dificil solução e o que existe são as políticas sociais.

Quanto ao relacionamento com os alunos, foi destacado que no processo de ensino-

aprendizagem tanto o discente quanto o docente são essenciais e que só haverá esse processo

se ambos cumprirem com seus papéis e responsabilidades. O relacionamento deve ser de

respeito mútuo, de compreensão e de humildade, pois tanto professor quanto aluno aprendem

neste processo. Fica evidente que alguns alunos aprendem mais que outros, pois existe a

subjetividade de cada um e segundo CLAXTON, grande estudioso dessa matéria, os alunos

resilientes alcançam maior sucesso que os demais, pois não tem medo e nem preguiça de

enfrentar situações novas de aprendizagem. Outra questao é que, hoje, mesmo em uma

universidade pública, muitos alunos trabalham fora, tendo o professor que pensar estratégias

novas de aprendizado, pois são alunos sem tempo para buscarem por si só momentos que lhe

possibilitem maior aprendizagem, como é o caso de grupos de extensão, pesquisas, estágios

extra-curriculares.

Essa realidade do aluno trabalhador e do ensino noturno já acontece há muito tempo

nas instituições de ensino privadas. Então essa realidade para docentes destas IES não é

novidade, ao contrário, muito se discute sobre isso, pois os alunos só tem tempo para a sala de

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173 aula, e já temos encontrado alunos que necessitam faltar às aulas pois é dia de plantão no

trabalho, ou que trabalham no comércio, necessitam trabalhar à noite em datas comemorativas

e outras situações desa natureza. Então com essa dura realidade tanto o professor quanto o

aluno necessitam rever sua forma de vivenciarr a universidade, neste caso, tendo os alunos um

compromisso maior em organizar tempo possível para se dedicar aos estudos.

Por isso é que professores, principalmente aqueles mais acessíveis e humanos

repensam sua prática e se colocam também numa situação de aprendizagem, vejamos:

Jolinda: Eu acho que essa é uma outra questão que é bem polemica, e que demonstra que ensinando você também aprende. Então o que a Olegna está acabando de dizer é que ela está aprendendo esse relacionamento no processo de ensino e aprendizagem, então eu vejo que é uma relação entre sujeitos, embora exista o papel do professor e o papel do aluno, os dois são sujeitos, e tem que haver muito respeito. Então o que é o respeito, é o aluno cumprir com a sua responsabilidade e o professor também cumprir com a sua responsabilidade, não pode virar bagunça, não pode deixar tudo, mas eu não consigo ver a classe de uma forma massificada. Quando eu vejo que tem um aluno com mais dificuldade, a turma da manha é uma turma diferenciada, porque vem aqui, o pai paga pra estudar, a turma da noite é uma turma que trabalha o dia inteiro, dorme na sua frente, então eu acho que é o mínimo de exigência que você tem, e ai a gente aprende também com os estágios em docência. Eu tive a Bete que fez estágio em docência, ela estava fazendo mestrado, ela foi lá comigo participar da minha aula. Eu dou fundamentos, trabalho Marilda, trabalho Zé Paulo, e aí um dia ela falou pra mim: Jolinda metade da turma não entende o que você fala. Ai eu falei: como não entendem, eu falo mais claro.“Não, eles não estão conseguindo entender, você acha que está claro, mas aquilo que pra você é básico pra eles ainda não é”. Eu comecei a partir de então, por isso eu digo que é um aprendizado, a observar eles depois da primeira prova. Então, na primeira prova eu sou super exigente, eu dou questões bem complexas, aí eu vou ver o nível da turma, ai eu vou ter que voltar e rever. Ai o que eu aprendi a fazer também, eu levo esses critérios de avaliação para a sala de aula, eu exponho todos no quadro, e vou dizendo vocês tinham que ter respondido isso nessa questão para ter tirado dois pontos, porque ela vale dois pontos. Ai eles falam: “professora, você foi muito rigorosa, porque você não perguntou direito, isso que você perguntou aqui não da pra gente...” . Então eu estou aprendendo com eles a avaliar. Se a gente ficar com uma postura, eu vou ser muito rígida daí eu perco o parâmetro, porque quando eu começo a falar eu “destramelo”, e a Bete me fez ver isso, e a partir disso, eu tenho monitores, e o monitor ajuda muito, porque o monitor vai no aluno que está com problema e fala “olha fulano realmente não esta conseguindo acompanhar” e as vezes você acha que a pessoa não esta vindo porque ela é displicente, e não, ela está com um grande problema que ela não tem coragem de dizer. Então eu já fui pega por surpresas, dessa forma, eu testar falando de exemplos e a pessoa não vir mais na aula, e aí, professora o fulano falou que não veio mais na aula, ela falou que aquele exemplo que você deu era pra ela. Esquizofrênica. Mas eu teria que ter tido mais cuidado, mas eu tenho uma forma, justamente pra quem estou entrando com Fundamentos, eu quero impactar, a minha idéia é desconstruir esse modelo ideal que eles tem da mocinha boazinha que faz Serviço social que vem para ajudar todo mundo,

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com a questão da igreja, não vamos negar essa realidade, ela existe, mas eu quero desconstruir essa idéia, colocar a idéia de profissão, e com isso, às vezes eu agrido. Ai nessa agressão que eu achei que era pedagógica, mas muitas vezes não é. Então eu também estou me revendo, mas eu não consigo nivelar todo mundo da mesma forma, ai quando eu percebo que tem um aluno que foi pior, não vou dar o trabalho pra ele, mas já aconteceu de eu perdoar um aluno, eu não sou rigorosa, não veio na prova vai ter que entrar com processo, eu falo tem que entrar com processo, tem pagar a taxa, mas depois eu não peço pra pagar a taxa nada, é tem que fazer o papel. Ai na questão da presença tem que apresentar o atestado lá na CAI, traz o atestado aqui. Então assim, está conversando demais, eu falo por favor você quer sair, você já tem presença, sai, você está atrapalhando a aula. Então, eu acho assim é muito melhor você trabalhar com eles no sentido de eles estarem conscientes, eu prefiro uma turma que está ali consciente, que eu percebi que eles estão ali porque eles estão gostando e tal, se não eu tenho que me rever, se a maioria foi mal na prova problema é meu não é deles, e se eles não estão ficando na sala também, é porque a minha aula não está sendo interessante e eu não estou dando conta do recado, então eu acho que essa é uma questão que a gente tem que pensar muito, qual a relação adequada com os alunos é difícil você medir, eu acho que você tem que aprender muito com eles, e você tem que dar chance pra eles se colocarem também num processo de igual pra igual, com responsabilidade, nos seus limites, mas eles têm que ser sujeitos, a profissão exige que eles sejam sujeitos, que eles se responsabilizem também com os critérios de avaliação, o que vocês fariam nesse caso, tem hora que eu falo o que eu faço com vocês, está todo mundo abaixo da média, o que nós vamos fazer. É nesse sentido que havendo o comprometimento entre sujeito com responsabilidade a gente tenta achar o adequado, porque é complicado o adequado.

Considerando a fala da professora Jolinda, e as demais falas, mesmo os professores

considerados mais rigorosos conseguem agir com cautela em relação aos alunos que

demonstram ser responsáveis, pois levam em consideração aspectos da vida pessoal dos

alunos e os momentos difíceis pelos quais eles possam estar passando. Além disso, deixam

claro que estão aprendendo a ser professores a cada dia, como é o caso das professoras

Olegna, Andrea e Líria, que afirmam aprender com os alunos na relação docente/discente.

Quanto a Jolinda e Sandra, professoras com 27 e 23 anos de docência, com uma experiência

grande, ambas demonstram maior segurança quanto ao relacionamento com os alunos,

sabendo o momento de ceder. Entendendo que o exercício docente é um eterno aprendizado,

aprendizado ao longo da vida docente, como diz CLAXTON(2005), as professoras com mais

tempo na docência tem maior tempo de aprendizado, maior aprendizado, e por isso já

adquiriram maior confiança naquilo que fazem.

Os professores tem, na sua maioria, trabalhado os conteúdos em sala de aula de

maneira expositiva. Alguns conseguem utilizar-se de estratégias diferentes de aula, com

filmes, poemas, contos, discussões e debates.

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175 Alguns tem se visto frustrado porque não conseguem utilizar-se de estratégias

diferentes de aulas expositivas, pois os alunos as recusam, acostumados à metodologia do

ensino médio.

Porém os alunos, confirmando o que se comprovou teoricamente, conseguem aprender

melhor com outras estratégias de aulas, mais que nas aulas expositivas, pois conseguem

assimilar melhor os conteúdos debatendo e expondo suas idéias em sala de aula, participando

de projetos de pesquisa e extensão e no campo de estágio. Reclamam que os professores ainda

permanecem nos métodos tradicionais de aula e avaliação. Apesar de acharem que

demonstram maior aprendizado quando expõe suas idéias em um debate, o professor leva em

consideração seu aprendizado pela nota da prova. A prova foi apontada pelos alunos como

algo penoso, pois para muitos é um momento de tortura, no qual não conseguem realmente

expressarem seus conhecimentos. Mas se são bons alunos muitos professores percebem a

dificuldade e proporcionam outro momento de avaliação. Neste caso, considera-se que os

docentes, mesmo os que não gostam de provas, necessitam aplicá-las por ser uma exigência

institucional, e por isso não há como fugir dela. E considera-se ainda que há como realizar

provas onde os alunos expressem realmente seus conhecimentos de forma tranquila e segura,

e que para isso o professor deve realizar um processo de avaliação participativo e dinâmico,

sem que o aluno se assuste com ele e o enfrente com medo e insegurança.

Ressalta-se que o campo de estágio foi muito citado pelos alunos e professores,

indicando como um momento especial na formação do assistente social. Foi levantada a

precupação de que nem sempre esses campos são de qualidade, dificultando assim a

efetivação dos objetivos que ao mesmo são elencados. Apesar do conjunto CFESS-CRESS já

se preocupar com esta questão, tudo leva a crer que muitos profissionais ainda não assumem a

supervisão com o devido compromisso, não entendendo que a ele cabe mostrar com sua

atuação os elementos que os alunos estão vendo na teoria e na academia. Talvez, parte deles,

nem se lembrem que o estágio é também um momento de formação do assistente social.

Diante de todas essas análises, ficam evidenciadas as premissas anteriormente

levantadas, de que é possível realizar uma avaliação formativa do aluno do curso de Serviço

Social, e que ainda, esta é a preferência dos alunos, e que os professores, mesmo fazendo o

contrário, sabem que a melhor maneira é esta avaliação formativa, que acontece durante o

processo de ensino aprendizagem. É possível o assistente social preparar-se para ser um

educador docente, e mais que possível é necessário. A formação do aluno de Serviço Social

contém particularidades específicas a serem trabalhadas no processo de aprendizagem, pois o

curso tem sua formação baseada nas diretrizes curriculares que são basedas na construção de

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176 um projeto de profissão e por sua vez num projeto societário, almejando uma sociedade justa

e igualitária. Essas particularidades tem a ver também com o perfil dos alunos que procuram

pelo curso de Serviço Social, pois a fala da professora Olegna ratifica o perfil dos alunos

pesquisados.

(...) quem escolhe Serviço social gosta de trabalhar com pessoas, gosta de gente, da forma como as pessoas se relacionam, do tipo de relação que as pessoas estabelecem, e quer ajudar de alguma forma nessa área de relações entre as pessoas. Então o Assistente Social é sempre aquele cara bem intencionado, isso é muito comum, o aluno entra no primeiro ano, ele entra com essa vontade de bem intencionar a sala, de colaborar com a sala, então é uma outra característica. Uma outra característica que é do Serviço Social brasileiro, e que eu acho que a gente conseguiu construir e eu tenho muito orgulho disso, é esse tom político, nossos alunos que vem hoje, vem já politizados, vem com uma proposta política, com uma perspectiva política. E outra característica que nós ainda não nos desvencilhamos da nossa origem é a religiosidade, os Assistentes Sociais entram, muitos ainda, vinculados a uma cultura religiosa, fazem parte de algum movimento da igreja, a gente tem uma colega no departamento, que pesquisa isso, essa são características que saltam aos olhos, no meu entendimento.(Olegna)

O processo de construção da pesquisa, a interpretação das teorias à luz da experiência,

tornou possível chegar a algumas considerações propositivas que serão elencadas a seguir:

- Sugere-se que o conjunto CFESS-CRESS e ABEPSS examine a possibilidade da exigência

legal da qualificação para os docentes de Serviço Social, uma vez que a lei de regulamentação

da profissão falha em relação à especificação de que para lecionar no curso de Serviço Social

basta ser assistente social. Esta pode ser vista como uma maneira de garantir uma formação

mais qualitativa dos profissionais e menos quantitativa, e pode ser vista também como uma

forma de coibir os cursos à distância, pois as pessoas devidamente qualificadas não aceitarão

trabalhar nesses cursos, pois o salário é irrisório e sabem que ele não forma adequadamente os

profissionais. Assim os cursos encontrarão dificuldades para encontrar tutores qualificados.

- Que a ABEPSS, como instância fiscalizadora das Instituições de Ensino e Pesquisa em

Serviço Social exija que os cursos de Especialização lato-sensu e stricto-sensu ofereçam

disciplinas obrigatórias de qualificação para a docência.

- Que os docentes de Serviço Social revejam sua atuação quanto à prática docente e se

comprometam para que esta seja exercida realmente como uma prática pedagógica. Para isso

há necessidade de ser abordado mais o assunto em períodicos e revistas inerentes à categoria

profissional, pois a formação do assistente social começa na universidade e está nas mãos

dos docentes, pois a eles cabe a tarefa de conduzir o processo de ensino-aprendizagem.

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177 Estas proposições significam repensar a formação profissional na sua base, ou seja,

dentro das universidades, pois é ali o início de tudo. É ali que os alunos, futuros assistentes

sociais aprenderão das teorias à execução da prática profissional.

(...)você não consegue ser um bom profissional se você não aproveitar de fato o espaço acadêmico, e quem vai ajudar nesse aproveitamento é o professor(...).(Sandra, sujeito da pesquisa)

Então formar é um desafio permanente, mais que simplesmente passar um conteúdo

aos alunos, é, acima de tudo, direcionar essa formação para a efetivação do Projeto Ético

Político de Profissão como um novo panorama de atuação, rompendo-se com o

conservadorismo, vinculando-se a luta por uma nova ordem societária, sem exploração,

dominação, à favor da equidade de da justiça social, consolidando a cidadania e garantindo os

direitos civis, políticos e sociais das classes trabalhadoras, bem como da socialização da

participação política e socialização da riqueza socialmente produzida.

Relembrando NETTO:

Do ponto de vista estritamente profissional, o projeto implica o compromisso com a competência, que só pode ter como base o aperfeiçoamento intelectual do assistente social. Daí a ênfase numa formação acadêmica qualificada, fundada em concepções teórico-metodológicas críticas e sólidas, capazes de viabilizar uma análise concreta da realidade social – formação que deve abrir a via à preocupação com a (auto)formação social permanente e estimular uma constante preocupação investigativa.(2007, p.155)

O caminho é a escolha pela formação profissional como um desafio permanente.

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191

APÊNDICES

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192 Apêndice 1 – Documento solicitando autorização para a realização da pesquisa

Palmital, junho de 2009. Cara professora Olegna

Eu sou Eliana A. Gonçalez Albnette Frois, assistente social judiciário do forum de

Palmital/SP há 19 anos, sou professora do curso de Serviço Social da Universidade de Marília

e estou finalizando minha pesquisa de doutorado, cuja tese terá como tema "O Processo de

formação do assistente social". Então minha intenção, junto com minha orientadora

Professora Dra. Maria Lúcia Martinelli, é conhecer como se dá esse processo na UEL.

A UEL foi escolhida por ser uma universidade referência, por ser pública e por

apresentar uma qualidade exemplar.

Assim sendo, venho solicitar a autorização do Colegiado do Curso de Serviço Social

para que minha pesquisa possa ser realizada, necessitando entrevistar alguns professores que

compõe os 3 Núcleos de Fundamentos propostos pelas Diretrizes Curriculares da ABEPSS.

Além deles, pretendo entrevistar 6 alunos do último ano.

Contando com sua precisosa colaboração para comigo e com nossa categoria

profissional, aguardo.

Atenciosamente.

Eliana Albonette Frois

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193 Apêndice 2 – Convite para ser sujeito da pesquisa

Palmital, junho de 2009. Cara professora

Eu sou Eliana A. Gonçalez Albnette Frois, assistente social judiciário do forum de

Palmital/SP há 19 anos, sou professora do curso de Serviço Social da Universidade de Marília

e estou finalizando minha pesquisa de doutorado, cuja tese terá como tema "O Processo de

formação do assistente social". Então minha intenção, junto com minha orientadora

Professora Dra. Maria Lúcia Mrtinelli, é conhecer como se dá esse processo na UEL.

A UEL foi escolhida por ser uma universidade referência, por ser pública e por

apresentar uma qualidade exemplar.

Assim sendo, venho convidá-la a ser sujeito de minha pesquisa. A escolha por seu

nome se deu por lecionar uma das disciplinas que compõe os Núcleos de Fundamentação das

diretrizes curriculares, sendo que a mesma já foi devidamente autorizada pela coordenadora

do Colegiado de Curso e pela Chefe do Departamento do Curso de Serviço Social,

professoras Olegna e Sandra.

Contando com sua precisosa colaboração para comigo e com nossa categoria

profissional, aguardo uma resposta.

Atenciosamente.

Eliana Albonette Frois

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194 Apêndice 3 – Termo de consentimento livre e esclarecido

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO- PUC/SP

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Você está sendo convidado(a) para participar, como voluntário, em uma pesquisa. Após ser

esclarecido(a) sobre as informações a seguir, no caso de aceitar fazer parte do estudo, assine

ao final deste documento, que está em duas vias. Uma delas é sua e a outra é do pesquisador

responsável. Em caso de recusa você não será penalizado(a) de forma alguma. Em caso de

dúvida você pode procurar o Comitê de Ética em Pesquisa da Pontifícia Universidade

Católica de São Paulo – Campus Perdizes – telefone: 11 - 36704000.

INFORMAÇÕES SOBRE A PESQUISA:

Título do Projeto: O Processo de Formação do Assistente Social

Pesquisador Responsável : Eliana Aparecida Gonçalez Albonette Frois – CRESS 22037 – SP ,

RG 17 920 542, CPF 097 516 548-82.

Fone para contato: 18 – 33512219 (residência) , 18 – 81149922 (celular) - (inclusive ligações

a cobrar).

Dados da Pesquisa: 1) TEMA O processo de formação do assistente social. 2) PROBLEMA

Estudar o processo de formação do assistente social enquanto aluno do curso de graduação em

Serviço Social na UEL (Universidade Estadual - Londrina/PR), e a partir daí detectar os

fatores que interferem e que se relacionam com o processo de ensino e aprendizagem.

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195 3) OBJETO

O processo de ensino, aprendizagem e avaliação dos alunos do curso de graduação em

Serviço Social.

4) HIPÓTESE(S) OU PREMISSAS:

� É possível realizar uma avaliação formativa do aluno do curso de Serviço Social;

� É possível o assistente social preparar-se para ser um educador docente;

� A formação do aluno de Serviço Social contém particularidades específicas a serem

trabalhadas no processo de aprendizagem x processo de avaliação.

� O processo de avaliação só pode ser pensado a partir do processo de ensino

aprendizagem;

� O resultado de uma avaliação é também resultado do processo de ensino-

aprendizagem.

5) OBJETIVO GERAL Conhecer a prática profissional docente do professor do curso de graduação em Serviço Social

da UEL/PR, mediante as requisições postas para estes profissionais, compreendendo os

determinantes e as particularidades deste tipo de atuação, detectando como tem ocorrido o

processo de ensino-aprendizagem dos alunos do curso de Serviço Social.

6) OBJETIVOS ESPECÍFICOS

� Conhecer e analisar os elementos que constituem o processo de formação dos alunos

do curso de Serviço Social da UEL;

� Identificar como se dá a participação docente no processo de ensino-aprendizagem no

curso de Serviço Social da UEL.

� Identificar como se dá a participação discente no processo de ensino-aprendizagem no

curso de Serviço Social da UEL.

� Conhecer a metodologia de avaliação utilizada pelos docentes no processo de ensino-

aprendizagem no curso de serviço-social da UEL.

8) SUJEITOS DA PESQUISA

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196

� Seis professores do curso de Serviço Social da UEL – Universidade de Londrina que

lecionam disciplina relacionadas aos 3 núcleos de fundamentação propostos pelas

diretrizes curriculares;

� Seis alunos desta mesma universidade e curso que estejam cursando o último período

do curso.

_________________________________________

Eliana A.G.Albonette Frois

CRESS 22037

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197

♦ CONSENTIMENTO DA PARTICIPAÇÃO DA PESSOA COMO SUJEITO

Eu, ________________________________________________________________,

RG/____________________________ CPF/__________________________________,

abaixo assinado, concordo em participar do estudo _____________________________ como

sujeito. Fui devidamente informado e esclarecido pelo pesquisador

______________________________ sobre a pesquisa, os procedimentos nela envolvidos,

assim como a importância de minha participação. Foi-me garantido que posso retirar meu

consentimento a qualquer momento, sem que isto leve a qualquer penalidade.

Local e data __________________________________________________________

Nome: ________________________________________________

Assinatura: _____________________________________________

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198 Apêndice 4 – Roteiro para o Grupo Focal

QUESTÕES NORTEADORAS

Assistente Social x Docente

A importância do curso específico para ingresso na docência

A importância da participação docente e discente na elaboração do PPP

Possibilidade de uma formação de acordo com o PEP e o CE

Que tipo de relação entende como adequada com os alunos.

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199 Apêndice 5 - Caracterização dos Professores

1)Nome: 2) Faixa tária - 21 aos 30 ( ) 31 aos 40 ( ) 41 aos 50 ( ) 51 aos 60 ( ) 61 aos 80 ( ) 3) Ano de Formação: 4) Instituição onde se graduou 5) Disciplina lecionada 6) Tempo de exercício docente 7) Titulaçao 8) Instituição onde se graduou

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200 Apêndice 6 – Caracterização dos alunos

1) Nome - 2) Faixa etária - 18 aos 25 ( ) 26 aos 33 ( ) 34 aos 41 ( ) 42 aos 49 ( ) 50 aos 57 ( ) 3) De onde você é 4) Concluiu o 2º grau em escola pública ou particular 5) Que ano você cursa 6) Porque escolheu o curso de Serviço Social 7) Gosta do curso – por quê? 8) O curso tem instigado seu nível de consciência crítica e política? 9) Conhece o Projeto Ético Político Profissional do Serviço Social? 10) Participa de algum movimento estudantil, conselho de classe, conselho de curso, etc?

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201 Apêndice 7 – Roteiro de entrevista com os alunos

Questões para análise 1 - Como seu professor ensina? 2 - Você consegue aprender? Como? 3 - Quando ou como você conclui que aprendeu? 4 - Como você considera que o professor consegue saber que você aprendeu?

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202 Apêndice 8 – Roteiro de entrevista com os professores

Questões para análise 1 - Como você percebe o processo de ensino aprendizagem em sua disciplina? 2 - Como costuma trabalhar os conteúdos? 3 - Você considera que o aluno aprende o que você ensinou? 4 - Como você percebe ou detecta que o aluno aprendeu ou não o que você ensinou? 5 - Dá para perceber ainda se ele será um profissional crítico e ético? Como? 6 - Como você se vê neste processo?