o processo de aprendizagem em promocao da saude

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A navegação consulta e descarregamento dos títulos inseridos nas Bibliotecas Digitais UC Digitalis, UC Pombalina e UC Impactum, pressupõem a aceitação plena e sem reservas dos Termos e Condições de Uso destas Bibliotecas Digitais, disponíveis em https://digitalis.uc.pt/pt-pt/termos. Conforme exposto nos referidos Termos e Condições de Uso, o descarregamento de títulos de acesso restrito requer uma licença válida de autorização devendo o utilizador aceder ao(s) documento(s) a partir de um endereço de IP da instituição detentora da supramencionada licença. Ao utilizador é apenas permitido o descarregamento para uso pessoal, pelo que o emprego do(s) título(s) descarregado(s) para outro fim, designadamente comercial, carece de autorização do respetivo autor ou editor da obra. Na medida em que todas as obras da UC Digitalis se encontram protegidas pelo Código do Direito de Autor e Direitos Conexos e demais legislação aplicável, toda a cópia, parcial ou total, deste documento, nos casos em que é legalmente admitida, deverá conter ou fazer-se acompanhar por este aviso. O processo de aprendizagem em promoção da Saúde Autor(es): Loureiro, Isabel Publicado por: Imprensa da Universidade Coimbra URL persistente: URI:http://hdl.handle.net/10316.2/4658 DOI: DOI:http://dx.doi.org/10.14195/1647-8614_42-1_4 Accessed : 30-Mar-2015 16:07:14 digitalis.uc.pt

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O Processo de Aprendizagem Em Promocao Da Saude

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  • A navegao consulta e descarregamento dos ttulos inseridos nas Bibliotecas Digitais UC Digitalis,UC Pombalina e UC Impactum, pressupem a aceitao plena e sem reservas dos Termos eCondies de Uso destas Bibliotecas Digitais, disponveis em https://digitalis.uc.pt/pt-pt/termos.

    Conforme exposto nos referidos Termos e Condies de Uso, o descarregamento de ttulos deacesso restrito requer uma licena vlida de autorizao devendo o utilizador aceder ao(s)documento(s) a partir de um endereo de IP da instituio detentora da supramencionada licena.

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    O processo de aprendizagem em promoo da SadeAutor(es): Loureiro, IsabelPublicado por: Imprensa da Universidade CoimbraURLpersistente: URI:http://hdl.handle.net/10316.2/4658

    DOI: DOI:http://dx.doi.org/10.14195/1647-8614_42-1_4

    Accessed : 30-Mar-2015 16:07:14

    digitalis.uc.pt

  • revista portuguesa de pedagogia

    O processo de aprendizagem em Promoo da Sade

    Isabel Loureiro1

    A. IntroduoAs definies de Promoo da Sade, de uma forma geral, incorporam as aces

    que devem ser levadas a cabo ao nvel educativo, organizacional, ambiental, econ-

    mico e poltico, destinadas a facilitar mudanas de comportamentos e do ambiente

    com o objectivo de melhorar a sade.

    A Carta de Otava (1986), na sequncia da conferncia da OMS, continua a ser uma

    fonte de inspirao e referncia. Para alm da definio de Promoo da Sade que

    a carta adopta em que aparece, com clarividncia, a importncia da capacidade de

    controlo, colectivo e individual dos determinantes da sade, nela so estabelecidos

    princpios e estratgias para a actuao. Pondo em causa o modelo biomdico da

    sade pblica, centrado na doena, apresenta a sade como um constructo social

    e um recurso para a vida. A participao dos cidados passa a ter uma importncia

    crucial. A ateno aos determinantes da sade, quer comportamentais, quer ps-

    quicos, quer ambientais, passa a justificar a necessidade de descentralizar e reo-

    rientar as polticas com impacto na sade.

    No constructo social, a questo das parcerias torna-se um eixo estratgico fun-

    damental, em que valores como a participao e a equidade se constituem como

    pilares irredutveis.

    Da evoluo de conceitos em Promoo da Sade, emergem necessidades de for-

    mao que vo, naturalmente, para alm das cincias biomdicas. Envolvem a aqui-

    sio de competncias de relacionamento humano, de negociao, de colaborao,

    de viso sistmica das organizaes e das pessoas, de advocacia de polticas com-

    provadamente eficazes na melhoria do bem-estar dos cidados, de avaliao da

    efectividade das intervenes e da sua mais-valia em termos individuais e sociais.

    Envolve a necessidade de compreenso do contexto cultural onde os processos de

    1 Escola Nacional de Sade Pblica, Av. Padre Cruz, 1600- 640 Lisboa. E-mail: [email protected]

    ano 42-1, 2008, 65-89

  • mudana so estimulados e implica o reconhecimento da importncia de dimen-

    ses como a empatia e a intuio.

    Pelo j exposto, torna-se evidente que os conhecimentos do domnio das Cincias

    Sociais e Humanas so to fundamentais em Promoo da Sade como os da rea

    das Cincias Biomdicas.

    A multidisciplinaridade, intersectorialidade e participao so inerentes prtica da

    Promoo da Sade. Promotores de sade, com profisso especfica, existem, desde

    h anos, na Austrlia, Holanda e Inglaterra, por exemplo. Em Portugal, como na

    Alemanha, a Promoo da Sade considerada como uma incumbncia de todos,

    no desempenho das suas funes profissionais, com integrao dos princpios nas

    suas estratgias de trabalho junto de pares, parcerias e restante comunidade.

    Qualquer que seja o ponto de vista, h unanimidade quanto necessidade de existir

    um corpo especfico de conhecimentos e de competncias que devem ser adquiri-

    dos por quem se dedica a investir, desta forma, em sade. Esta questo coloca-se,

    quer se trate de profissionais de Promoo da Sade, de profissionais de sade em

    que a Promoo da Sade faz parte das suas responsabilidades, ou de profissionais

    pertencentes a outros sectores que no o da sade mas que entendem a Promoo

    da Sade como uma co-responsabilidade social, construindo uma viso integra-

    dora e orientadora do seu desempenho profissional e pessoal.

    Pensar autonomamente no s essencial ao exerccio de uma cidadania plena em

    democracia, como constitui uma dimenso indispensvel de aprendizagem para

    adaptao mudana.

    Segundo o National Institute for Literacy dos Estados Unidos da Amrica (Stein,

    1995) os adultos encaram como um importante objectivo educacional ser capaz de

    pensar autonomamente e de forma responsvel, atravs de:

    - ganhar acesso informao

    - conseguir fazer ouvir as suas ideias

    - tomar decises e agir independentemente

    - construir uma ponte para o futuro, aprendendo a aprender

    Um dos resultados da Promoo da Sade dever ser o aumento dos nveis de lite-

    racia em sade. Da ser to importante a formao dos profissionais de sade, mas

    tambm os cidados e a responsabilizao do sistema educativo em preparar os

    jovens para lidarem com as questes relacionadas com a sua sade e a dos outros.

  • rpp, ano 42-1, 2008

    O Institute of Medicine (IOM, 2003) considera que a literacia em sade depende

    sobretudo do contexto cultural da sociedade, considerando as influncias culturais,

    sociais e familiares de extrema importncia na estruturao das atitudes e cren-

    as; depende, tambm, da interaco dos indivduos com os contextos de sade,

    do tipo de interveno educativa que os profissionais de sade tm com os seus

    utentes e da responsabilidade que o sistema educativo assume em criar condies

    para que os jovens adquiram conhecimentos, capacidades e valores promotores

    de comportamentos mais saudveis e solidrios. A associao entre educao e

    sade encontra-se bem estabelecida. Baixos nveis de literacia esto associados a

    baixos nveis de sade, com os consequentes custos para a sociedade, quer ao nvel

    de sofrimento humano, quer ao nvel econmico.

    Outra referncia que subjaz ao desenvolvimento da formao nesta rea, e que

    convm relembrar, o entendimento de que a Promoo da Sade no s no

    sinnimo de educao para a sade mas inclui, tambm, a aco poltica; que a

    Promoo da Sade no s evitar factores de risco, mas potenciar os factores pro-

    tectores, desenvolver e organizar as capacidades e os recursos existentes e criar

    novos, contribuindo para um melhor o nvel de bem-estar.

    No final da formao em Promoo da Sade espera-se que os formandos tenham

    adquirido:

    - a compreenso dos valores, teorias e modelos subjacentes s abordagens em

    Promoo da Sade e suas implicaes na prtica profissional;

    Pontos potenciais para interveno no quadro conceptual da literacia em sade

  • 8

    - a valorizao da Qualidade de Vida e determinantes salutognicas na constru-

    o da sade (recursos, capacidade de uso dos recursos, autonomia);

    - a interiorizao de uma atitude militante de promotor de sade capaz de pro-

    vocar mudana no seu local de exerccio profissional e influenciar e/ou participar

    crtica e activamente, em processos de deciso poltica capazes de influenciar os

    determinantes da sade;

    - a motivao para procurar a evidncia da efectividade das prticas e polticas em

    Promoo da sade e para a tomada de decises, tica e cientificamente funda-

    mentadas.

    B. Modelo conceptual da aprendizagem em Promoo da sade

    ...o conhecimento tem sido sempre, e ser uma aventura para o homem,

    um processo carregado de incerteza, de prova, de ensaio, de propostas e

    rectificaes partilhadas e, da mesma maneira, deve aproximar-se o aluno

    dele, se no quisermos destruir a riqueza motivadora da descoberta (...), j

    que o processo de procura permanente que garante o progresso indefi-

    nido da humanidade. (Perez Gmez 1993, p.43).

    Para a concepo de um curriculo fundamental entender como encarado o

    conhecimento, a sua gnese e a sua sustentabilidade.

    Assim, o conhecimento deve antes ser visto como uma forma de conhecer e pes-

    quisar, do que como um produto ou corpo esttico de conhecimentos desligados

    dos seus contextos e procedimentos de elaborao (Tanner; Tanner, 1980).

    A American Association of Public Health (USA.Institute of Medicine, 2003) refere

    que o que central para a formao dos profissionais de sade para o sculo XXI

    encontrar o conceito coerente de sade. O modelo salutognico parece responder

    a tal necessidade.

    So sete os princpios bsicos da Promoo da Sade, definidos por um grupo de

    peritos da Organizao Mundial da Sade (Rootman et al, 2001), sobre os quais se

    dever construir o conhecimento:

    1. empowering (capacitar indivduos e comunidades a assumir maior poder sobre os

    factores pessoais, socio-econmicos e ambientais que afectam a sade),

  • rpp, ano 42-1, 2008

    2. participativo (envolvendo todos aqueles a quem as iniciativas dizem respeito, em

    todos os estadios do processo),

    3. holstico (encorajando a sade fsica, mental, social e espiritual),

    4. intersectorial (envolvendo a colaborao de agncias de sectores relevantes),

    5. equitativo (orientado por uma preocupao de equidade e justia social),

    6. sustentvel (trazendo mudanas que indivduos e comunidades podem manter

    aps o final do financiamento)

    7. multiestratgico (usando uma variedade de abordagens incluindo desenvol-

    vimento de polticas, mudana organizacional, desenvolvimento comunitrio,

    legislao, advocacia, educao e comunicao em combinao).

    Reconhecendo como central Promoo da Sade o modelo da salutognese,

    torna-se fundamental rever algumas das suas caractersticas mais relevantes

    quando se pretende que o processo de ensino/aprendizagem seja coerente com

    os valores e fundamentos tericos da Promoo da Sade.

    A perspectiva da salutognese focaliza-se em trs aspectos (Antonovsky, 1979):

    - resoluo de problemas/encontrar solues

    - identificao de recursos de resistncia generalizados

    - sentido de coerncia que serve como o mecanismo ou capacidade global para

    este processo

    O sentido de coerncia consiste em trs componentes bsicas:

    - compreenso (componente cognitiva)

    - capacidade de gesto (componente comportamental)

    - significado (componente de motivao e de investimento pessoal)

    A salutognese foi considerada, por vrios estudos empricos, como til para o pro-

    cesso de aprendizagem. Demonstrou-se a sua relevncia no desenvolvimento de

    modelos de aprendizagem (Nilsson, Lindstrom, 1998), como o construtivismo.

    Segundo o construtivismo os indivduos constroem o seu prprio conhecimento

    atravs da interaco entre aquilo que j sabiam e em que acreditavam e as ideias,

  • 0

    acontecimentos e actividades com as quais entram em contacto (Cannelle & Reiff,

    1994; Richardson, 1997).

    Existem trs noes fundamentais para entender o construtivismo:

    - compreender as nossas interaces com o ambiente

    - o conflito cognitivo ou rudo o estmulo para a aprendizagem e determina a

    organizao e natureza do que aprendido

    - o conhecimento evolui atravs da negociao social e atravs da avaliao da

    viabilidade da compreenso individual (ibid., p.31)

    Apresentam-se sete valores do construtivismo:

    1. colaborao

    2. autonomia pessoal

    3. criatividade produtiva

    4. reflexividade

    5. envolvimento activo

    6. relevncia pessoal

    7. pluralismo

    Estes valores traduzem-se num conjunto de princpios de ensino:

    - ancorar todas as actividades de aprendizagem a uma tarefa ou problema mais

    vasto;

    - apoiar o aluno no desenvolvimento da apropriao completa da tarefa ou pro-

    blema;

    - desenhar uma tarefa autntica ( representando os mesmos desafios cognitivos

    que a vida real);

    - desenhar a tarefa e o ambiente de aprendizagem por forma a reflectir a complexi-

    dade do ambiente em que os alunos devero ser capazes de funcionar );

    - dar ao aluno a pertena do processo usado para encontrar uma soluo;

    - desenhar o ambiente de aprendizagem para apoiar e desafiar o pensamento do

    aluno;

  • 1rpp, ano 42-1, 2008

    - encorajar o testar ideias contra vises e contextos alternativos;

    - proporcionar a oportunidade para apoiar a reflexo quer no contedo aprendido

    quer no processo de aprendizagem.

    O modelo (Lindstrom, 2004) apresenta um processo lgico, da fase de pr-cogni-

    o, anterior s sesses de aprendizagem, at de avaliao no final.

    - Na fase de pr-cognio os alunos reflectem sobre o seu percurso, as compe-

    tncias profissionais, interesses e capacidades, tendo em conta os princpios da

    Promoo da Sade. H que contextualizar a evoluo pessoal no actual contexto,

    nacional e internacional, de Promoo da Sade/Sade Pblica nacional,

    - Na fase de cognio os alunos devero conhecer documentao ilustrativa das

    polticas em sade, nacionais e internacionais, e conseguir analis-las critica-

    mente luz dos princpios da Promoo da Sade. Nomeadamente, importante

    debater com outros at conseguir uma viso do actual estado de arte.

    Quer o conceito de salutognese quer o de construtivismo fundamentam-se na

    construo do conhecimento baseado no envolvimento activo, questionamento,

    resoluo de problemas e colaborao com os outros (Abdal-Haqq, 1998; Nilsson;

    Lindstrom, 1998).

    C. O processo de aprendizagemAssumindo que a base da formao a definio de competncias, o passo seguinte

    trabalhar o percurso para as atingir, sendo o currculo e o percurso sinnimos e

    o programa de formao mais um percurso pessoal do que uma listagem de con-

    tedos.

    Vrios mtodos podem ser usados como auto-reflexo, grupos focais, sesses ple-

    nrias para regressar a si prprio autopoiese das aquisies, entretanto, feitas.

    A motivao poder ser defendida atravs da possibilidade dos alunos escolherem

    as reas por que mais se interessam. O processo pode ser visto como um partir de

    si prprio, discutir com outros, alargar a discusso a outros ainda (directamente ou

    por e-learning) que, eventualmente pertencero a outras realidades, outros pases,

    para voltar, agora mais enriquecido, ao seu lugar e s suas prprias reflexes, com

    os novos dados e snteses.

    Este modelo de aprendizagem baseado na conjugao das necessidades e inte-

    resses dos alunos, das suas instituies e, naturalmente, nos problemas e prio-

  • 2

    ridades regionais, nacionais e internacionais, identificadas atravs de estudos de

    diagnstico epidemiolgico. baseado em alguns dos mais poderosos conceitos

    de construo de um processo de aprendizagem que apoia os alunos a criarem

    coerncia, a partir do seu nvel individual, at complexidade dos sistemas sociais

    multinacionais.

    No conceito de curriculo que integra perspectivas dos modelos ecolgico, constru-

    tivista e crtico (Alonso, 1995) o ensino centra-se na capacidade de pensar e agir,

    com compreenso de atitudes e valores necessrios para o bom exerccio da cida-

    dania (Perez Gomez, 1993) de que a Promoo da Sade faz parte integrante.

    De acordo com os valores subjacentes ao conceito de escola e de Promoo da

    Sade, o clima de aprendizagem exige alguns pr-requisitos. Assim, a escola enten-

    dida como uma comunidade educativa, funciona com professores investigadores,

    com uma postura reflexiva e de colaborao, com alunos a construirem a sua pr-

    pria aprendizagem, num curriculo que gira em torno deles, que aberto, integrado

    e flexvel (Alonso, 2000) e que se destina a desenvolver competncias necessrias

    neste domnio.

    Parece fundamental uma clarificao, entre todos, sobre a necessidade de uma

    articulao de decises e prticas curriculares, exigindo uma consistente articu-

    lao pedaggica bem como uma partilha da viso da escola como um local onde

    se constri para conseguir melhorar o mundo que a circunda. No fundo, o entendi-

    mento da escola como agente de transformao social.

    O professor deve agir essencialmente como facilitador cuja principal funo aju-

    dar os alunos a tornarem-se participantes activos da sua aprendizagem e fazer ligaes

    significativas entre o conhecimento prvio, o novo conhecimento e o processo envolvido

    na aprendizagem (Copley, 1992, p.681).

    O ambiente de aprendizagem construtivista caracteriza-se por (Chung, 1991):

    - partilha do saber entre alunos e professores;

    - partilha de autoridade e responsabilidade entre alunos e professores;

    - o papel do professor como um orientador na aprendizagem;

    - grupos pequenos e heterogneos de alunos.

  • 3rpp, ano 42-1, 2008

    Valores como a equidade, a autonomia e a participao, valores consignados em

    Promoo da Sade, transparecem facilmente nas abordagens pedaggicas, ve-

    culo de comunicao entre a cultura da escola e a do aluno.

    Segundo Habermas (Habermas, 1984) a aprendizagem pode ser instrumental e

    comunicativa. Na aprendizagem instrumental, aprende-se a lidar com o mundo

    exterior, envolve o desempenho de aptides orientadas para a aco, podendo

    envolver a resoluo de reflectida de problemas e, por vezes, a colocao de novos

    problemas; na aprendizagem comunicativa aprende-se a negociar os seus prprios

    valores e significados, a compreender o significado do que est a ser comunicado, o

    significado de uma interpretao ou a justificao de uma crena. Na aprendizagem

    comunicativa pode-se ganhar mais competncias ao tornar-se mais criticamente

    reflexivo (a), contando com os contributos dos outros, e ser capaz de ultrapassar

    constrangimentos para tomar decises reflectidas. A aquisio de competncias

    na rea da comunicao, da negociao, da construo de parcerias, e de dilogo

    com o poder poltico, s se conseguir se os mtodos de ensino forem imbudos de

    situaes similares s da vida real, em que o aluno incentivado a construir as suas

    prprias solues.

    Sendo duas formas de aprendizagem complementares, na cultura vigente corre-se

    o risco da hegemonia da racionalidade instrumental; deixando de existir a aprendi-

    zagem dialgica, desprovida da componente comunicativa, que enfatiza os valores

    interpessoais, a intersubjectividade, a solidariedade e o processo crtico de refle-

    xo, a hegemonia da aprendizagem instrumental tende a despersonalizar, objecti-

    var, envolver o controlo e manipulao tcnicos e conduzir cultura acomodativa

    (Habermas, 1987).

    Vrios trabalhos de investigao (Alonso, 2000) tm demonstrado que, se por

    um lado, a inovao das prticas curriculares s possvel com a experimentao,

    reflexo e o investimento genuno daqueles que as vo usar, nos prprios contextos,

    e se apropriam dessa nova forma de ensinar, por outro, a concepo instrumen-

    tal do curriculo no serve para mudar prticas (Keiny, 1994). Assim sendo, tam-

    bm a formao dos profissionais promotores de sade requer a sua apropriao

    por mtodos que estimulam a capacidade crtica perante pressupostos e arte de

    negociao das suas intenes, valores, significados, para alm de simplesmente,

    compreender os dos outros. Promoo da Sade tem implcito um conceito de pr-

    actividade e de mudana.

  • 4

    D. Programa de formao em Promoo da SadeNo modelo de Promoo da Sade de Tannahill (Downie et al, 2003), so apresen-

    tadas trs componentes tradicionalmente reconhecidas como traduzindo o mbito

    da Promoo da Sade e a sua relao entre si: educao para a sade, preveno

    e proteco da sade. A interseco da educao para a sade com a preveno

    proporciona os fundamentos para dar a conhecer os factores de risco e os facto-

    res protectores de uma determinada situao e as vantagens e desvantagens das

    medidas preventivas que se propem; a interseco da educao para a sade com

    a proteco da sade refere-se a aces que visam facilitar o entendimento sobre

    as medidas legislativas necessrias, ou outros normativos, face ao contexto global

    dos problemas existentes e dos valores ticos da sociedade. A interseco da pre-

    veno com a proteco da sade refere-se s medidas legislativas ou normativas

    impostas, com fundamento na evidncia do nvel de risco e/ou no nvel de benefcio

    dessas medidas perante a uma determinada questo de sade.

    Figura 1 - Representao do mbito de interveno da Promoo da Sade(Adaptado do modelo de Promoo da Sade de Tannahill (In:Downie et al., 2003, p.59)

  • 5rpp, ano 42-1, 2008

    Os objectivos gerais do programa de formao em Promoo da Sade consistem

    em apetrechar os alunos com:

    - formao terica sobre os conceitos e princpios da Promoo da Sade;

    - capacidades para conduzir uma prtica consistente com os conceitos tericos;

    - conhecimentos sobre os determinantes da sade;

    - conhecimentos sobre os factores-chave capazes de influenciar positivamente os

    determinantes da sade;

    - domnio de uma gama de abordagens estratgicas em Promoo da Sade com

    vrios grupos populacionais, temas e contextos especficos;

    - conhecimentos e discernimento capaz de compreender a complexidade e a natu-

    reza dinmica dos processos de Promoo da Sade, a nvel local, nacional e

    internacional, particularmente europeu, e relacionar com os temas subjacentes s

    desigualdades sociais e de sade, os seus prprios valores e prticas;

    - capacidade de estimular e manter processos de melhoria da qualidade dos servi-

    os e estruturas em que trabalham e que esto, ou deveriam estar, envolvidos em

    actividades de Promoo da Sade, quer ao nvel do Servio Nacional de Sade,

    quer ao nvel dos sectores da Educao, Segurana Social, Ambiente, quer ao

    nvel do poder Autrquico ou Organizaes No Governamentais;

    - competncias para mediar entre estruturas de carcter diverso no sentido de

    potenciar os benefcios que podem advir para a populao;

    - competncias para a construo de parcerias;

    - capacidade de interveno cvica na defesa de polticas que melhorem a quali-

    dade de vida das populaes;

    - competncias para conduzir investigao no campo da Promoo da Sade;

    - capacidade para procurar os dados relevantes que possibilitem a tomada de deci-

    ses tica e cientificamente fundamentadas.

    Apresentam-se os assuntos que devem integrar um Programa de Formao em

    Promoo da Sade, sendo os respectivos objectivos a nvel de ganhos em conhe-

    cimentos, atitudes e competncias, apresentados em anexo.

  • Quadro I Contedos na formao em Promoo da Sade

    E. Estratgias de ensino/aprendizagemTendo em ateno a valorizao atribuda aos processos em Promoo da Sade,

    o ensino deve ter impregnado, na sua metodologia, mtodos de ensino/aprendiza-

    gem que sejam o testemunho e modelo das implicaes prticas dos princpios e

    valores da Promoo da Sade.

  • rpp, ano 42-1, 2008

    A definio do que importante saber tem de resultar de um acordo entre ambas

    as partes alunos e professores em que aqueles sabem o que precisam para o

    seu desempenho profissional e estes detm o poder para determinar at que ponto

    passam prtica uma escola democrtica e idnea. Ou seja, uma escola capaz de

    ser flexvel, no perdendo de vista o essencial da sua misso: despertar e apetre-

    char os alunos para o saber e a prtica da Promoo da Sade e para visionarem

    novos desempenhos que se vo tornando necessrios medida que a sociedade se

    vai modificando. A escola pode ser um local de produo cultural.

    Nos trabalhos consultados sobre a definio das competncias em Promoo da

    Sade (Comer et al, 2006; Kosa, et al, 2006) encontra-se a mesma percepo que

    Grundy (1991) e Stenhouse (1984) tm do curriculo, onde sugerem a ultrapassa-

    gem de perspectivas tecnicistas para um processo de transformaes, carregado

    de valor e sentido.

    Como seres humanos temos de entender o significado da nossa experincia. Uma

    aprendizagem transformadora desenvolve um pensamento autnomo. Segundo

    Mezirow (1997) o processo de efectuar mudana num quadro de referncias,

    podendo mov-lo para um mais inclusivo, discriminativo, auto-reflexivo e integra-

    dor da experincia. A auto-reflexo pode conduzir a transformaes pessoais sig-

    nificativas.

    O cerne de um modelo de desenvolvimento de competncias em Promoo da Sade

    ter processos educativos sistematizados e intencionais, integrados num processo

    de trabalho em que contedos, mtodos de ensino/aprendizagem, filosofia do curso

    e materiais de suporte integram um plano de trabalho elaborado de forma constru-

    tivista. Sendo o aluno o centro do processo de aprendizagem, a colaborao entre

    alunos estimula a construo de um contexto social no qual a colaborao cria um

    sentido de comunidade em que os alunos e professores so participantes activos

    desse mesmo processo. Os problemas fornecem aos alunos o contexto para estes

    aplicarem os seus conhecimentos e se apropriarem das suas aquisies de saber.

    F. Mtodos Pedaggicos Segundo a teoria da aprendizagem construtivista, os mtodos de ensino/apren-

    dizagem baseiam-se num processo consciente de construo do conhecimento,

    atravs de mtodos que estimulam uma reflexo ao nvel individual, de grupo,

    nacional e internacional, seguida de um processo de integrao de novo para cada

    um destes nveis. A teoria impe diferentes papeis aos participantes e tutores e ao

  • 8

    seu interrelacionamento. Para alm disso, a abordagem tem de ser coerente com

    os valores e os princpios da Promoo da Sade.

    Os mtodos mais comuns de ensino em Promoo da Sade, como o mtodo expo-

    sitivo de aula, a utilizao do estudo-de-caso, a aprendizagem atravs do desen-

    volvimento de um projecto, a aprendizagem por resoluo de problemas, oficina

    ou a aprendizagem distncia, requerem, para que o conhecimento acontea, que

    sejam salvaguardadas algumas condies. Apresentam-se alguns exemplos.

    A aprendizagem atravs do mtodo expositivo

    No caso de uma exposio, em condies ptimas de aprendizagem, os participan-

    tes, devero ter as seguintes condies (Mezirow, 1997):

    - informao completa e rigorosa;

    - estarem livres de coero e desvirtuamento das suas decepes;

    - sejam capazes de ponderar a evidncia e ter acesso a argumentos to objectivos

    quanto possvel;

    - estarem abertos a perspectivas alternativas;

    - serem capazes de reflectir sobre os pressupostos e as suas consequncias;

    - terem igual oportunidade em participar (incluindo a oportunidade de desafiar,

    questionar, refutar e reflectir e ouvir outros fazer o mesmo);

    - serem capazes de aceitar um consenso informado, objectivo e racional como um

    teste legtimo de validao.

    A educao de adultos suposta criar espao livre para reflexo e uma reduo

    do poder diferencial entre educador e aprendiz. O educador visto mais como um

    aprendiz, colaborando com a sua experincia, para chegar ao melhor consenso.

    A aprendizagem baseada em problemas

    Iniciado originalmente na educao mdica, este mtodo de aprendizagem (Bar-

    rows, 1985) baseia-se no paradigma construtivista (Savery; Duffy, 1995).

    A resoluo de problemas na aprendizagem instrumental, bem como na comuni-

    cativa, est embebida num conjunto de pressupostos estabelecidos atravs de um

  • rpp, ano 42-1, 2008

    consenso entre os que esto envolvidos (Mezirow, 1996, p.166). Quando existirem

    novos dados eles obrigam a uma reflexo crtica aquando da tentativa de os inte-

    grar nos pressupostos assumidos. A resoluo de problemas envolve mais do que

    a cognio. Motivaes, vontade, intuio, auto-conceito, consideraes interpes-

    soais, e emoes so alguns dos ingredientes da aco orientada para a resoluo

    de problemas.

    Traduo prtica:

    Na aprendizagem baseada em problemas, em geral, os alunos organizam-se em

    grupos de 5 a 8, com um tutor. As funes deste tutor so essencialmente de faci-

    litar o funcionamento do grupo, no sendo, por isso, exigido que tenha mais conhe-

    cimentos sobre o assunto do que os alunos. No entanto, frequente que seja um

    perito ao qual os alunos recorrem, podendo, no entanto, esta funo ser exercida

    por um de entre eles.

    Apresenta-se um esquema desta metodologia de Problem Based Learning adaptada

    ao contexto da formao em Promoo da Sade.

    Fonte: Fosse, Elisabeth (2007)

    A aprendizagem distncia

    A aprendizagem distncia permite ver como os princpios do construtivismo

    podem ser postos em aco num contexto nico em que esperado que os alunos

    actuem como participantes auto-motivados, auto-dirigidos, interactivos e colabo-

    rantes.

  • 80

    A aprendizagem distncia pode ser usada para enaltecer a construo subjectiva

    do conhecimento e o significado individual a partir de experincias pessoais (Tam,

    2000). Ao mesmo tempo, possvel sentir que se faz parte de uma comunidade

    de aprendizagem.

    A integrao da aprendizagem distncia na aprendizagem por problemas impul-

    sionar tambm a criao de grupos ou a mobilizao dos grupos j formados que

    se podero juntar num blackboard e criar fora de discusso, sem necessidade de

    se deslocarem dos seus locais prprios.

    G. Avaliao do ensino/aprendizagemOs valores educativos devem orientar no s o que se escolhe para avaliar, mas

    tambm, como essa avaliao feita. A forma como encarada e levada a cabo a

    avaliao traduz a seriedade com que assumido o modelo pedaggico.

    Num modelo pedaggico como o que se acabou de apresentar faz sentido que a ava-

    liao tenha lugar desde o incio do processo educativo e o acompanhe at ao final.

    Os resultados dificilmente podero ser entendidos sem que se compreendam as

    etapas/elaboraes que foram tendo lugar ao longo do processo de aprendizagem.

    Bloom classificava a avaliao em trs grandes modalidades: a diagnstica, a for-

    mativa e a somativa.

    Usando esta classificao, a avaliao diagnstica, permite perceber em que nvel

    o aluno est e quais algumas das suas caractersticas que iro determinar o modo

    como vai evoluir. Uma ponderao do contexto em que a aprendizagem vai ter

    lugar pode tambm estar contida nesta modalidade.

    A segunda, a avaliao formativa, emana, naturalmente dos paradigmas orienta-

    dores da formao: a salutognese e o construtivismo.

    Por um lado, ao proporcionar orientao para a construo do conhecimento,

    possvel observar a capacidade do aluno em encontrar os recursos de que neces-

    sita, interpret-los, sintetiz-los, us-los e ser capaz de transmitir os resultados da

    sua experincia. Por outro, segundo Hoffmann (2000), avaliar dinamizar oportu-

    nidades de aco/reflexo, num acompanhamento do professor que deve propor-

    cionar ao aluno, no seu processo de aprendizagem, reflexes acerca do mundo e

    seu significado, formando seres crticos e participativos na construo de verdades

    formuladas e reformuladas.

  • 81rpp, ano 42-1, 2008

    No h educador to sbio que nada possa aprender, nem educando to ignorante

    que nada possa ensinar (Becker, 1997, p.147).

    O mapa conceptual fundamentado na aprendizagem significativa que explica a

    construo do conhecimento. Ele aplica-se ao ensino, aprendizagem e avalia-

    o. No ensino utiliza-se com apresentao da informao; apresentao que per-

    mite a memorizao visual, oferece uma viso de conjunto at se notarem as ideias

    importantes, proporciona uma sequncia dos contedos, e pode usar-se como

    organizador prvio. Na aprendizagem suposto um processo de elaborao; ela-

    borao que possibilita o tabalho de equipa, exige um esforo intelectual, desperta

    o envolvimento afectivo, promove a responsabilidade, favorece a organizao de

    ideias e estimula a criatividade. Na avaliao utiliza-se para a valorizao do conhe-

    cimento, o grau de conhecimento inicial e o grau de aprendizagem, revela a com-

    preenso e concepes equivocadas e permite tomar conscincia dos significados.

    Tudo isto favorece encontrar sentido e significado para os contedos, necessrio

    aprendizagem significativa e para aprender a aprender (Sez,2005, p.3).

    essencial definir critrios de avaliao, cabendo ao professor listar os itens real-

    mente importantes e deles informar os alunos, numa perspectiva de dilogo, como

    eixo norteador e significativo para a aco pedaggica.

    Para operacionalizar a teoria avaliativa em aula necessrio:

    - realizar correctamente as actividades

    - cuidar e rentabilizar os recursos

    - cumprir as tarefas e obrigaes nos tempos estabelecidos

    - manter o bom funcionamento das equipas

    - alcanar os objectivos

    A avaliao da aprendizagem inscreve-se num processo de formao integral que

    dever permitir avaliar no s o conhecimento adquirido, como os processos de

    construo do conhecimento, as aprendizagens significativas; o desenvolvimento

    das potencialidades e dimenses humanas; desenvolvimento de atitudes, compor-

    tamentos, valores e princpios; o desenvolvimento das dimenses espiritual, cog-

    nitiva. socio-afectiva, comunicativa; a maturao no processo de desenvolvimento

    evolutivo da personalidade, carcter, vontade, vocao, expectativas, interesses,

    motivao e participao; a formao em relao com o compromisso com a comu-

    nidade e com a transformao scio-cultural; a forma de implementar processos

  • 82

    de auto-aprendizagem a partir de modelos pedaggicos e didcticos pertinentes

    em relao com as reas de saber; a maneira como se expressa e comunica o que

    se aprendeu, etc. (Ibid).

    A auto-avaliao deve estar presente em todos os momentos, quer do educando

    quer do educador, permitindo avaliar o seu prprio desempenho e, eventualmente,

    corrigi-lo, solicitando, ou no, apoio para o fazer. O acompanhamento das condi-

    es de aprendizagem permitem, ao mesmo tempo, reformular o ensino.

    Um mtodo que contribui para o processo de auto-aprendizagem a elaborao

    de um portoflio individual durante o processo de aprendizagem em que sejam

    visveis:

    - um sumrio peridico das actividades e progressos

    - notas internas e relatrios ao grupo a que pertence

    - uma lista da literatura e informao processada

    - outra informao relevante

    Por ltimo, mas nunca isoladamente, a avaliao somativa requer comparar os

    resultados conseguidos pelo aluno aos objectivos previamente definidos, deseja-

    velmente com a sua prpria participao. Ao analisar as experincias que condu-

    ziram aos resultados, e numa perspectiva de se querer melhorar estes, ou seja,

    implicitamente a qualidade do ensino, o educador necessita conhecer a experincia

    do educando ao longo do percurso educativo no que respeita ao curriculo, meto-

    dologia e tipo de esforo do aluno que conduziu queles resultados.

    H. Formao em Promoo da Sade na Universidade

    A Universidade desempenha um papel cultural insubstituvel. Para alm da sua fun-

    o utilitria, um local que deve ser de construo de valores, de promoo do

    debate, do desenvolvimento do esprito crtico e participativo. Por isso, a Univer-

    sidade o local privilegiado para uma formao concertada que fortalea os prin-

    cpios ticos e estratgicos da Promoo da Sade, como a co-responsabilizao

    social pela sade e desenvolvimento humano. Essa formao dever-se-ia iniciar no

    ensino pr-graduado e continuar o seu desenvolvimento, em nveis mais aprofun-

    dados, nos cursos universitrios e de ps-graduao.

  • 83rpp, ano 42-1, 2008

    ConclusoA capacidade e gosto de aprender ao longo da vida podem ser o garante da flexibi-

    lidade sustentada necessria aos profissionais e s suas instituies, da captao

    dos meios necessrios para fazer face complexidade e mudana social, tecnol-

    gica, do ambiente, conciliando tecnologias com a dimenso humana.

    Para alm de estimular os grupos a fazerem a sua histria, atravs da reflexo indi-

    vidual e conjunta, da partilha de saberes e afectos, pretende-se, tambm, partilhar

    o conhecimento entre instituies, a nvel nacional e internacional, mobilizando

    alunos e docentes, num projecto conjunto, de crescimento profissional, pessoal e

    global.

    A construo do conhecimento torna-se numa aventura colectiva onde cada um

    constri os seus prprios saberes, mas onde contribui, tambm, para a constru-

    o dos saberes dos outros (Wenger, 1998). Se houvesse uma conscincia mais

    divulgada do quanto o curriculo corporifica relaes sociais (Silva, 1995, p. 141) tal-

    vez existisse mais pudor em tomar certas decises, utilizando o poder, apoiado no

    estatuto socialmente reconhecido, mas contraditrio com os conceitos e princpios

    da rea da Promoo da Sade e do modelo conceptual de aprendizagem do cons-

    trutivismo, por quem se assume como os senhores da escola.

    A formao que valoriza a comunidade, a interaco, os contextos, os processos

    orgnicos, a geometria varivel, a complexidade, o fluxo, a mudana (Figueiredo,

    2001, p.41) e no apenas os contedos, desprovidos de contexto, cria condies

    para se formarem profissionais e cidados capazes de lidar com uma realidade

    complexa e em permanente mutao, mas onde possvel criar o sonho e marcar o

    destino de uma humanidade mais saudvel e mais solidria.

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  • 8rpp, ano 42-1, 2008

    Competncias / AtitudesSer capaz de:

    Contedos Conhecimentos/AtitudesEstar familiarizado com:

    - Interpretar dados epidemio-lgicos de sade/doena da vrios pases do mundo.

    - Analisar criticamente documentos orientadores de sade, nacionais (ex: PNS) e internacionais (ex: Agenda de Sade 21, Programa de aco comunitria SP na Europa).

    - Identificar nveis de solida-riedade, reconhecer actos de empatia e mobilizao participao

    Sade e doena: conceitos e determinantesSade: Epistemologia, cin-cia, histria- A Carta de Otava- Valores em Promoo de

    Sade- Paradigma da Promoo da

    Sade- Modelos de Promoo da

    Sade e EdSade- Questes ticas na tomada

    de deciso em sade- Dimenso Europeia- Implicaes prticas (teste-

    munhos)

    - Definio e geografia da pobreza e desigualdades em sade

    - Direitos Humanos.- Valores: autonomia, partici-

    pao, intersectorialidade, equidade.

    - Polticas e posies nacio-nais e internacionais sobre ambiente sustentvel.

    - Empowerment e conflitos de poder

    - Salutognese: um paradigma a integrar

    - Capacidade de organizao civil, redes internacionais e nacionais.

    - Perspectivas europeias da PromSade, incluindo a histrica, cultural, econmica e poltica

    - Diagnosticar a linguagem- Saber ouvir, uso da comuni-

    cao formal oral, escrita e audio-visual

    - Ter linguagem acessvel a leigos.

    - Negociar, construir parcerias.- Trabalhar em equipa.- Marketing de boas prticas

    - Modelos em EdS e Promo-o da Sade

    - Diagnstico prvio em EdSade

    - O processo de aprendiza-gem e os comportamentos ligados sade

    - Contedos, mtodos e meios educativos em Pro-moo de Sade

    - Avaliao da efectividade da comunicao

    - A linguagem atravs da expresso corporal.

    - Estratgias de dinmica de grupos.

    - Atitude estimulante para ouvir.- Domnio de outras linguagens.- Reconhecimento de conceitos

    diferentes na mesma lngua.

    - Fazer diagnstico das neces-sidades.

    - Estimular debate em todas as fases.

    - Objectivos relevantes e avaliveis.

    - Discutir a escolha de estratgias - Propr e debater avaliao da

    efectividade.- Construir um projecto parti-

    cipado

    - Estratgias e planeamento*- Polticas em Sade e seu

    impacto

    - As etapas do planeamento e a integrao dos princpios da Promoo da Sade.

    - Indicadores relevantes para monitorizar e avaliar a efecti-vidade.

    Inst

    rum

    ento

    s de

    ac

    oEs

    trat

    gia

    sC

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    ica

    o

    Anexo

    Contedos, conhecimentos, atitudes e competncias a adquirir na formao em Promoo da Sade

    Fundamentos

    S Sade PromS Promoo da Sade EdS Educao para a Sade I Investigao * Encontra-se mais desenvolvido nesta parte do Relatrio Pedaggico

  • 88

    Questes de sade: Estratgias Integradas

    e medidas de Proteco da Sade

    Competncias / AtitudesSer capaz de:

    Contedos Conhecimentos/AtitudesEstar familiarizado com:

    - Diagnosticar problemas.- Identificar necessidades e

    recursos.- Encontrar objectivos e estrat-

    gias comuns.- Confrontar as pessoas com

    a sua situao e apoi-las na tomada de deciso consciente, fundamentada e livre.

    - Identificar elementos-chave das mudanas necessrias e advog-las. Monitorizar pro-gramas e ajustar objectivos.

    - Fazer propostas concretas e cientficas, fundamentadas de legislao adequada de Proteco da Sade.

    - Colmatar o fosso entre a no-percepo da vulnerabilidade e o risco.

    Alimentao/actividade fsicaSegurana ambientalSexualidadeDependnciasS. MentalS.Oral

    Grupos etrios,tnicos, imigrantes,

    institucionais, outros

    - Fundamentos fisiolgicos e estudos recentes que permi-tem defender uma proposta de mudana de comportamento.

    - Caractersticas dos vrios ciclos de vida, de instituies e suas repercusses sobre as pessoas que a elas pertencem, de grupos especficos.

    - Alternativas ao risco da exposio.

    - Factores pessoais e ambien-tais facilitadores de mudanas positivas.

    - Sistemas de vigilncia epide-miolgica, legislao nacional e internacional no domnio da Proteco da Sade.

    - Recurso a outros profissionais que possam complementar os conhecimentos.

    Estilos de Vida

    - Avaliao e gesto do risco em sade

    - Noo de risco sob pers-pectiva epidemiolgica e subjectiva

    - Meios de preveno e controlo do risco

    - Aplicar dinmica de grupo para debates e consensos.

    - Negociar novas polticas com os elementos decisores

    - Mobilizar competncias necessrias para operacionali-zar a mudana decidida.

    - Diagnosticar a percepo das pessoas sobre o seu bem-estar e funcionamento da organizao /sistema

    - Catalisar a reflexo sobre o que e como mudar

    - Gerir projectos com eficincia

    Settings

    - Modelos organizacionais

    - Comunicao interpessoal- O grupo como espao de A- Dinmica relacional em

    grupos.- Gesto do poder e conflitos

    em grupos- Liderana em Promoo da

    Sade- Sistemas e polticas institu-

    cionais- Programao integrada- Construo de parcerias:

    multidisciplinaridade e intersectorialidade

    - Capital social: definio, construo.

    - Sistemas em que se integra o setting, fluxograma, legislao, normas e objectivos.

    - Psicossociologia das organi-zaes

    - Como funcionam outras semelhantes, a nvel nacional e internacional.

    - Propostas de mudana funda-mentadas na evidncia do que melhor funciona.

    Contedos, conhecimentos, atitudes e competncias a adquirir na formao em Promoo da Sade (cont.)

    Polt

    icas

    e s

    iste

    mas

    org

    aniz

    acio

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    : Ac

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    cal

    S Sade PromS Promoo da Sade EdS Educao para a Sade I Investigao C Comunicao S Sade EdS - Educao para a Sade PromS Promoo da Sade A - Aprendizagem I Investigao SP Sade Pblica * Encontra-se mais desenvolvido nesta parte do Relatrio Pedaggico

  • 8rpp, ano 42-1, 2008

    Competncias / AtitudesSer capaz de:

    Contedos Conhecimentos/AtitudesEstar familiarizado com:

    - Identificar situaes tpicas da utilizao das diferentes tcni-cas de recolha da informao

    - Identificar problemas, poss-veis solues e consequncias associadas utilizao das diferentes metodologias.

    - Seleccionar instrumentos de avaliao.

    - Identificar situaes concretas de realizao de estudos de caso.

    - Identificar situaes concretas de desenvolvimento de inves-tigao-aco.

    - Enquadrar a estatstica num projecto de investigao.

    - Identificar o tipo de testes estatsticos adequados s hipteses de investigao.

    - Analisar e interpretar resulta-dos em SPSS.

    - Analisar projectos de investi-gao quantitativa e qualita-tiva.

    - Apresentao de protocolo de investigao.

    - Desenvolvimento de um pro-jecto de investigao num ano.

    - O processo de investigao em sade

    - Tipos principais de recursos metodolgicos

    - Metodologias quantitativas vs qualitativas. Enquadra-mento epistemolgico do problema

    - Tcnicas de recolha de informao em investiga-o.

    - Anlise e elaborao de projectos de investigao

    - Estruturao e desenvol-vimento de projectos de investigao qualitativa.

    - Tcnica de construo de um protocolo de investi-gao.

    - Efectividade em Promoo da Sade e suas implicaes para a interveno.

    - Valores e tica na investiga-o em sade

    - Os fundamentos epistemo-lgicos das metodologias qualitativas.

    - Os fundamentos epistemo-lgicos das metodologias quantitativas.

    - Regras bsicas da construo de instrumentos de recolha de informao (observao, entrevista, questionrio, focus group)

    - Situaes tpicas da utilizao de tcnicas especficas de recolha de informao.

    - Caractersticas do estudo de caso.

    - Diferentes tipos de estudo de caso.

    - Situaes tpicas do desenvol-vimento de um estudo de caso.

    - Componentes de um projecto de investigao qualitativa.

    - A triangulao e sua impor-tncia no mbito da investiga-o qualitativa.

    Contedos, conhecimentos, atitudes e competncias a adquirir na formao em Promoo da Sade (cont.)

    Investigao em Prom

    oo da Sade

    Revista Portuguesa de Pedagogia 42-1 (2008) - Capa.pdf7 - O processo de aprendizagem em Promo++o da Sa+de