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O PRINCÍPIO DA ISONOMIA DE VENCIMENTOS ENTRE DELEGADOS, PROCURADORES, MEMBROS DO MINISTÉRIO PÚBLICO E MAGISTRADOS - PARECER. IVES GANDRA DA SILVA MARTINS, Professor Emérito da Universidade Mackenzie, em cuja Faculdade de Direito foi Titular de Direito Econômico e de Direito Constitucional. CONSULTA A Consulente , em face de recente decisão do Supremo Tribunal Federal, que modificou jurisprudência da própria Corte assentada nas ADINs 27 e 29 do Paraná e Rio Grande do Sul, à luz da intenção dos constituintes manifestada na elaboração dos artigos 93 inciso III e 94 da Constituição Federal, consulta-me se a nova interpretação da Suprema Corte de rever suas próprias decisões em face da "mens legislatoris" possibilitaria a rediscussão da equiparação de vencimentos dos delegados a procuradores, -1-

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O PRINCÍPIO DA ISONOMIA DE VENCIMENTOS ENTRE DELEGADOS, PROCURADORES, MEMBROS DO MINISTÉRIO PÚBLICO E MAGISTRADOS - PARECER.

IVES GANDRA DA SILVA MARTINS,Professor Emérito da Universidade Mackenzie, em cuja

Faculdade de Direito foi Titular de Direito Econômico e de

Direito Constitucional.

CONSULTA

A Consulente, em face de recente decisão do Supremo Tribunal Federal, que modificou jurisprudência da própria Corte assentada nas ADINs 27 e 29 do Paraná e Rio Grande do Sul, à luz da intenção dos constituintes manifestada na elaboração dos artigos 93 inciso III e 94 da Constituição Federal, consulta-me se a nova interpretação da Suprema Corte de rever suas próprias decisões em face da "mens legislatoris" possibilitaria a rediscussão da equiparação de vencimentos dos delegados a procuradores,

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defensores públicos, membros do Ministério Público e Magistrados, em face dos debates que levaram, em Plenário, a redação dos artigos 241 e 135 da "lex maxima".

RESPOSTA

O Supremo Tribunal Federal, ao julgar as ADINs 171-0/MG, 138-8/RJ, 456-4/600-PB e 7611/600, houve por bem entender que o artigo 241 da Constituição Federal referia-se à equiparação de vencimentos dos delegados de polícia de carreira àqueles percebidos por procuradores e defensores públicos e não pelos membros do Ministério Público e magistrados.

Está, a ementa da última decisão, assim versada:

"EMENTA: - Ação Direta de Inconstitucionalidade. Lei nº 9.696, de 24/07/92, do Estado do Rio Grande do Sul, art. 1º, parágrafo único. Vinculação de aumentos e equiparação entre os vencimentos das carreiras de Delegado de Polícia e Oficial da Polícia Militar e os da carreira de Procurador do Estado.Constituição Federal, arts. 37, XIII, 39, § 1º, 135 e 241. O Supremo Tribunal Federal assentou, no julgamento das

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Ações Diretas de Inconstitucionalidade nºs. 171-0/MG, 138-8/RJ e 456-600/PB, que as carreiras jurídicas a que se refere o art. 135 da Constituição são as de Procurador de Estado e Defensor Público. Por força do art. 241 da Constituição Federal, aos Delegados de Polícia de carreira aplica-se o princípio do art. 39, § 1º, correspondente às carreiras disciplinadas no art. 135, da Lei Magna federal, ou seja, às carreiras de Procurador de Estado e de Defensor Público. Não é, em consequência, inconstitucional a lei estadual que ordena, precisamente, a aplicação do princípio da isonomia (CF, art. 39, § 1º), em favor dos Delegados de Polícia de carreira, relativamente aos vencimentos dos Procuradores do Estado. Diante da norma do art. 241 da Constituição Federal, que garantiu aos Delegados de Polícia de carreira a aplicação do princípio de isonomia, correspondente às carreiras disciplinadas no art. 135 da mesma Constituição, não cabe discutir se são iguais as atribuições dos cargos de Delegados de Polícia e Procurador do Estado, ou se se cogita de cargos assemelhados ou não. Ofende, entretanto, o art. 37, XIII, da Constituição Federal, a lei estadual que assegure equiparação de vencimentos ou de aumentos entre Oficiais da Polícia Militar e os Procuradores do Estado. Não

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há, referentemente aos Oficiais da Polícia Militar, na Constituição Federal, norma semelhante ao art. 241, quanto aos Delegados de Polícia de carreira. Não será possível, de outra parte, ver satisfeitos os pressupostos do art. 39, § 1º, da Lei Maior, em ordem a garantir, aos Oficiais da Polícia Militar, a aplicação do princípio isonômico com os Procuradores do Estado ou com os Defensores Públicos. Não obstante detenham os oficiais da Brigada Militar do Estado do Rio Grande do Sul formação de grau superior, não é possível, entretanto, reconhecer à carreira dos Oficiais de Polícia Militar atribuições sequer assemelhadas às da carreira jurídica de Procurador de Estado, pertencente cada uma ao respectivo domínio de atividade profissional. Procedência, em parte, da ação, declarando, sem redução do texto, a inconstitucionalidade parcial do parágrafo único do art. 1º, da Lei nº 9.696, de 24/07/1992, do Estado do Rio Grande do Sul, para excluir interpretação do dispositivo que considere abrangidos na regra de reajustes e de equiparação, nele prevista, os Oficiais da Polícia Militar. Constitucionalidade do parágrafo único do art. 1º da Lei nº 9.696/92, quando assegura aos Delegados de Polícia de carreira a isonomia dos respectivos vencimentos e seus reajustes, com os vencimentos dos

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Procuradores do Estado, a partir de 1º de outubro de 1992 (CF, arts. 241 e 135). Petição nº 785-9/170, da Associação dos Procuradores do Estado do Rio Grande do Sul, não conhecida" (Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 00007611/600),

com claras referências a julgamentos anteriores, em que a Suprema Corte interpretou os artigos 241 e 135 da Constituição Federal, não em face da intenção do constituinte, mas de sua inserção no texto constitucional e, principalmente, da equiparação às carreiras mencionadas na secção em que o artigo 135 está hospedado (1).

(1) O Ministro José Neri da Silveira, na ADIN-7611/600

escreveu: "Nessa assentada, mais uma vez, a Corte reacentuou

que, no âmbito do art. 135 da Lei Magna de 1988, se situam,

tóo-só, as carreiras dos Procuradores de Estado e dos

Defensores Públicos (CF, arts. 132 e 134). Embora nóo fosse,

nesse caso, objeto de específica decisóo, fêz-se, ainda,

referência ao art. 241 da Constituiçóo, quando estipula que

aos delegados de polícia de carreira se aplica o princípio

do art. 39, ¾ 1º, correspondente às carreiras disciplinadas

no art. 135 da Constituiçóo, ou seja, às carreiras dos

Procuradores de Estado e Defensores Públicos.

Quanto a este último ponto, é significativo ter presente que

nóo se estabeleceu dissidência na Corte, diante da regra

especial do art. 241 mencionado, pois aí, se determina a

aplicaçóo, em favor dos Delegados de polícia de carreira, do

princípio do art. 39, ¾ 1º, da Constituiçóo, isto é, do

princípio da isonomia, prevendo-se, de explícito, que essa

isonomia é correspondente às carreiras disciplinadas no art.

135 da Constituiçóo.

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Desta forma, a decisão limitou a reconhecer a isonomia, entre carreiras constantes da Secção III do Capítulo IV do Título IV e não às demais contempladas no mesmo Título, como faz literal menção o artigo 135. Houve por bem, nos referidos julgamentos, o Pretório Excelso, distinguir as carreiras pelas secções do texto supremo e não pelo Título correspondente, restringindo, pois, a

Ora, se a Corte assentou, nos precedentes referidos,

especialmente, na ADIN nº 171-0/MG e na ADIN nº 138-8/RJ,

que as carreiras disciplinadas no art. 135 da Lei Maior sóo

as de Procuradores de Estado e de Defensores Públicos,

entendo que nóo há dar pela invalidade de norma estadual

que ordene, precisamente, a aplicaçóo do princípio da

isonomia, em favor dos delegados de polícia de carreira,

quanto aos vencimentos de procuradores do Estado. Nóo entro

no mérito da deliberaçóo constituinte posta no art. 241 da

Lei Magna, se devia ou nóo ter estipulado o tratamento

isonômico dos delegados de polícia de carreira, a quem

incumbe dirigir as polícias civis, a teor do art. 144, ¾ 4º,

da Constituiçóo, relativamente às carreiras jurídicas a que

se refere o art. 135 da Constituiçóo e que esta Corte

afirmou serem as carreiras dos procuradores de Estados e dos

defensores públicos.

Se nóo há similitude de atribuiçðes entre os delegados de

polícia de carreira, que também devem ser bacharéis em

direito e concursados, e as funçðes de procuradores de

Estado, qual se sustenta na representaçóo que fundamenta a

inicial, certo é que, no ponto, nóo cabe dita perquiriçóo,

porque regra maior (art. 241 da CF) manda se aplique aos

delegados de polícia o princípio do art. 39, ¾ 1º,

correspondente às carreiras disciplinadas no art. 135, ambos

da Lei Magna de 1988" (grifos meus).

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equiparação, às características próprias e peculiares de cada carreira, para efeitos de oferta de uma interpretação adequada do artigo 241 (2).

Naqueles julgamentos, agiu, a Suprema Corte, de forma semelhante à maneira como interpretou inicialmente os artigos 94 e 93 inciso III da Constituição Federal, assim redigidos:

"Art. 94. Um quinto dos lugares dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais dos Estados e do Distrito Federal e Territórios será composto de

(2) O Ministro Sydney Sanches, inclusive, em ADIN, na qual a

AMB pedia a decretaçóo de inconstitucionalidade de Emenda

Constitucional que introduzia açóo declaratória de

constitucionalidade, lembrou em seu voto que, em certas

matérias, a decisóo da Suprema Corte é política, ao dizer:

"Penso que essas indagaçðes levam à resposta de que há um

interesse político manifesto dos magistrados na propositura

da açóo como a da espécie.

E como a açóo direta de inconstitucionalidade nóo se rege

apenas pelos princípios estritamente jurídico-processuais,

mas por outros, mais altos, de notório conteúdo político,

dada sua própria natureza e finalidade, como tem acentuado

esta Corte, em vários precedentes, a legitimidade ativa e o

interesse de agir devem ser aferidos por critérios políticos

e nóo estritamente jurídicos e processuais.

Aliás, nóo se pode negar a relaçóo de pertinência, entre as

finalidades estatutárias da A.M.B. e os objetivos

perseguidos com a propositura da presente açóo" (grifos

meus) (ADIN 138-8/RJ).

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membros do Ministério Público, com mais de dez anos de carreira, e de advogados de notório saber jurídico e de reputação ilibada, com mais de dez anos de efetiva atividade profissional, indicados em lista sextupla pelos órgãos de representação das respectivas classes";

"Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios: ...III. o acesso aos tribunais de segundo grau far-se-á por antiguidade e merecimento, alternadamente, apurados na última entrância ou, onde houver, no Tribunal de Alçada, quando se tratar de promoção para o Tribunal de Justiça, de acordo com o inciso II e a classe de origem".

Consideraram, os magistrados da Suprema Corte, nas ADINs sobre a composição dos Tribunais do Paraná e do Rio Grande do Sul, que os dois artigos mencionados cuidavam de matérias distintas, ou seja, o 94 inciso IV, de ingresso na magistratura, e o 93, da promoção de magistrados. Entenderam, pois, que membros do Ministério Público e advogados poderiam ter acesso direto ao Tribunal de Justiça, nos Estados em que existissem

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Tribunais de Alçada, por força do artigo 94, inciso IV, que não vedaria tal ingresso (3).

Desta forma, o advogado ou membro do Ministério Público que ingressasse nos Tribunais de Alçada, pelo quinto constitucional, ao se tornar magistrado, perderia a condição de advogado e de

(3) O Ministro Moreira Alves sustentou a procedência da açóo,

ao dizer: "Se para nóo se chegar a nenhuma dessas duas

interpretaçðes absurdas, é preciso entender que as

expressðes "de acordo com o inciso II e a classe de origem"

dizem respeito à ascensóo ao Tribunal de Justiça tanto de

juiz de direito quanto de juiz de Tribunal de Alçada, com a

diferença apenas (expressa no texto constitucional) de que a

apuraçóo do merecimento e da antiguidade se fará, no

primeiro caso, na última entrância, e, no segundo, no

Tribunal de Alçada, o sentido a dar-se à expressóo "classe

de origem" será o de que, na primeira hipótese (a de

Tribunal de Justiça onde nóo há Tribunal de Alçada), a

classe em que se poderá fazer a escolha será a de juízes de

direito (só integrada pelos denominados juízes de carreira),

ao passo que, na segunda hipótese (a de Tribunal de Justiça

onde há Tribunal de Alçada, a classe em que se poderá fazer

a escolha será a de juízes do Tribunal de Alçada, tenham

eles chegado a esta Corte por promoçóo como juízes de

direito, tenham eles a ela chegado por via do quinto

constitucional, certo como é que juízes todos o sóo, nóo

tendo sentido se pretender que, até para o efeito de

preservar o princípio institucional do quinto, uns sejam

juízes-juízes, outros, juízes-advogados e finalmente outros

juízes-membros do Ministério Público.

O que a Constituiçóo Federal quer --e que ninguém o

contesta, tanto que o que se procura é uma fórmula para se

ter como observada a exigência constitucional-- é que, na

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membro do Ministério Público, passando a ser apenas magistrado, devendo-se respeitar, na sua promoção, as regras do artigo 93, inciso IV, sem prejuízo dos advogados e membros do Ministério Público que pudessem ingressar diretamente junto ao Tribunal de Justiça.

Desta forma, por não estar escrito no artigo 94:

composiçóo dos Tribunais a que alude, haja um quinto de

lugares preenchidos por advogados e por membros do

Ministério Público, nóo bastando, porém, apenas isso, mas,

sendo necessário também que eles preencham os demais

requisitos estabelecidos no art. 94 da Constituiçóo e sejam

escolhidos na forma ali prevista, que é a de nomeaçóo,

justamente para que tenha nesses Tribunais uma parcela de

juízes com formaçóo diversa da dos chamados juízes de

carreira. Nesse artigo 94, que é a sedes materiae do quinto

constitucional, nóo se estabelece restriçóo alguma que

permita chegar-se à restriçóo que se pretende fazer com a

interpretaçóo do inciso III do artigo 93 da mesma

Constituiçóo, o qual se adstringe a magistrados como tal, e

que, por isso mesmo, nóo atendem às qualificaçðes

específicas das sedes materiae do quinto constitucional.

Portanto, havendo interpretaçóo --como há-- que

compatibilize os demais dispositivos constitucionais sem

excluir alguns, pela eventual circunstância de haver, ou

nóo, nos Estados Tribunais de Alçada, uma exigência

constitucional que nóo pode ficar à mercê de interesses

individuais, é evidente que essa interpretaçóo abrogante

prevalece a norma principal em detrimento da norma

secundária" (RTJ, 132/539).

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"um quinto dos ....... dos Estados, em que não houver Tribunais de Alçadas",

naquelas duas ADINs, firmou, a Suprema Corte, a inteligência de que, sendo duas regras distintas, as do artigo 94 e 93 inciso III, os Tribunais de Justiça dos Estados com Tribunais de Alçada, também seriam compostos de um quinto de advogados e membros do Ministério Público com acesso direto, visto que os juízes dos Tribunais de Alçada, oriundos do Ministério Público ou da Advocacia, deixariam de ser advogados ou promotores/procuradores, tornando-se magistrados (4).

(4) O Ministro Celso de Mello declarou: "Inteiramente

subvertida --em razóo de sua própria finalidade-- ficaria a

regra do quinto constitucional, se pudesse prevalecer o

conteúdo normativo dos atos ora impugnados. Ex-advogados e

ex-representantes do Ministério Público, após longos anos

com assento nos Tribunais de Alçada, desvestidos de sua

anterior condiçóo funcional ou profissional, alheios à

experiência que este --num passado distante já lhes

proporcionou--, transformados, agora, em magistrados e

imbuídos, por isso mesmo, de uma outra visóo da experiência

jurídica, nóo poderiam atender aos fins objetivados na regra

institutiva do quinto constitucional. Nóo me parece, de

outro lado, que a cláusula "classe de origem", inscrita no

art. 93, III, in fine, de novo texto constitucional, altere

ou excepcione a norma geral contida no art. 94 da Carta

Federal, cujo teor nenhuma restriçóo admite.

A norma positiva na parte final do inciso III do art. 93 da

Constituiçóo Federal nóo pode admitir interpretaçóo que

discrimine, na composiçóo dos Tribunais de Alçada, três

ordens corporativas, representadas pela classe dos

magistrados de carreira, pela classe do Ministério Público e

-11-

Na ADIN 813-99, proposta pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados contra a legislação paulista que vedava tal acesso, reformulou, todavia, a Suprema Corte, esse entendimento, fundamentada em elemento exegético novo, qual seja, a "mens legislatoris" (5).

pela classe dos Advogados. Esse trinômio, na realidade,

reduz-se, no sistema de nossa Constituiçóo, por efeito do

ato mesmo de investidura no cargo judiciário, a uma

expressóo unitária: a categoria de magistrados, "tout

court", ostentada, indiferentemente, por todos e cada um dos

membros que integram os Tribunais, inclusive os de Alçada.

A referência à classe, no preceito assinalado, objetiva

disciplinar o procedimento de progressóo vertical dos juízes

--quaisquer juízes-- dos Tribunais de Alçada para o Tribunal

de Justiça, explicitando que os critérios alternados, de

antiguidade e de merecimento, para efeito de promoçóo dos

magistrados, seróo apurados, onde houver Tribunal de Alçada,

nos próprios Tribunais de Alçada, observadas, quanto aos

magistrados de carreira, as regras fixadas no inciso II do

art. 93 da Carta Federal, e, quanto aos magistrados de

origem extra-institucional, oriundos do Ministério Público e

da Advocacia, a sua posiçóo na respectiva classe de origem,

para efeito de inclusóo na lista de antiguidade ou de

merecimento" (RTJ, 132/499).

(5) A ADIN 29-RS (RTJ 132/945) teve o acórdóo assim embasado:

"Tribunais de Justiça. Preenchimento do quinto

constitucional. Critério. Estados onde há Tribunal de

Alçada. Assento nº 5/89, do Tribunal de Justiça do Rio

Grande do Sul. Assento nº 4 do Tribunal de Justiça do

Paraná.

-12-

No voto do relator, Ministro Carlos Mário Velloso, foi realçado que os constituintes objetivaram, ao redigirem o artigo 93 inciso IV, excetuar, no artigo 94, o ingresso direto de advogados e membros do Ministério Público aos Tribunais de Justiça, fazendo-os passar necessariamente pelos Alçadas. Tendo sido esta a intenção do constituinte, não poderia, a Suprema Corte, desconhece-la em face de sua indiscutível densidade e deveria alterar a orientação anterior (6).

Resulta do art. 94 da Constituiçóo Federal que um quinto dos

lugares dos Tribunais dos Estados será preenchido com

membros do Ministério Público e de advogados, que atendam às

condiçðes ali estipuladas, mesmo naqueles Estados em que

houver Tribunais de Alçada.

O disposto na parte final do item III, do art. 93, da Carta

Política federal, nóo interfere no critério fixado no seu

art. 94, pois os juízes do Tribunal de Alçada ao nele

ingressarem, embora o tenham feito como membros do

Ministério Público ou advogados, passam a ser considerados

magistrados, em tal qualidade é que concorreróo às vagas dos

quatro quintos dos Tribunais de Justiça, destinados a tal

categoria. Nóo há, magistrados que passaram a ser, como

considerá-los ainda integrantes da classe dos advogados ou

membros do Ministério Público para os fins do art. 94 da

Constituiçóo Federal, que nenhuma ressalva estipula a

respeito.

Assento nº 5/89 do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul,

que, dispondo de modo diverso, é considerado

inconstitucional, por maioria, na mesma sessóo plenária do

Supremo Tribunal Federal".

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Fora este elemento, nenhum elemento novo foi apresentado, devendo-se lembrar que o eminente Ministro José Carlos Moreira Alves, ao votar contra a alteração das decisões anteriores, ressaltou que tal alteração não decorrera de uma "interpretação evolutiva", mas do exame dos mesmos aspectos que tinham constado das decisões anteriores, exceção feita à valorização, em todos os votos favoráveis à tese vencedora de alteração, da "mens legislatoris", isto é, da interpretação da "intentio legis" ou da vontade do legislador (7).

(6) Celso Bastos e eu escrevemos sobre a exegese de direito

constitucional o seguinte: "Conscientes de que a realidade

fenomênica constitucional difere, nas técnicas exegéticas,

das demais realidades dela decorrentes, entendemos fosse

necessária uma amplitude maior em seu exame, posto que sua

conformaçóo jurídica surge pela apreensóo de todos os

elementos sociais que pertinem às demais ciências

relacionadas ao homem vivendo em sociedade, sendo pois, o

perfil técnico o último estágio desta interaçóo de

realidades nóo-jurídicas e o primeiro estágio de toda a

realidade mandamental que dela decorrerá.

Nóo se pode estudar o direito constitucional sem que se

estude filosofia, política, economia, sociologia, história,

geografia, estudos antecipatórios, psicologia e outras

ciências correlatas, visto que todas elas esculpem seu

desenho final no texto que ordenará a vida de um determinado

povo, com território e poder soberano para conduzí-lo"

(Comentários à Constituiçóo do Brasil, 1º volume, ed.

Saraiva, 1988).(

(7) Nas açðes anteriores já lembrara o Ministro Carlos Mário

Velloso que: "Esse modo de visualizar a questóo adquire

muito maior relevo no campo da hermenêutica constitucional,

-14-

O certo é que, pela valorização, em todos os votos vencedores, da intenção do constituinte em vedar o acesso direto, nada obstante a redação do artigo 94 não hospedar tal "discurso", a Suprema Corte alterou sua orientação pretérita. É de se lembrar que foi realçada, na sustentação oral, pelo patrono do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, ser a "segurança jurídica" o bem maior de uma Nação, sendo ofertada permanentemente pela interpretação final do direito, emanada da Suprema Corte, pondo termo às divergências surgidas, mormente quando outros Tribunais passam a seguir tal orientação, como já ocorrera, na hipótese em questão, com o Superior Tribunal de Justiça. A decisão do STF pode não ser a melhor, mas, por passar a ser a certa, é aquela que oferta a segurança jurídica, fundamental para que as

dado que a decisóo é do poder constituinte. No caso, a

decisóo, para o fim de solucionar o problema, se apresenta

induvidosa, e é ela do poder constituinte originário, poder

que se opðe acima dos poderes constituídos e de seus

membros. No caso, conforme já falamos diante de duas

correntes --uma, a considerar os juízes do quinto da Alçada

como classistas, outra, a considerá-los no posto maior da

magistratura de carreira-- o constituinte optou por uma

delas, adotando posiçóo política: os juízes do quinto, nos

Tribunais de Alçada, devem ser considerados para promoçóo ao

Tribunal de Justiça, como classistas, vale dizer, conservam

a classe advinda de origem. Essa decisóo do constituinte

originário restou inequívoca, induvidosa. Há que ser

respeitada e cumprida, pois".

-15-

instituições sejam estáveis, e o país tenha o perfil de um Estado de Direito (8).

Nada obstante todos os Ministros que não hospedaram a interpretação da OAB terem concordado com essa premissa, entenderam, todavia, que sempre que detectassem melhor orientação à luz de novos elementos, não poderiam estratificar o Direito, devendo buscar a interpretação mais coerente e que, no caso, não poderiam deixar de enfrentar o elemento relevante de ter sido, a intenção do constituinte, expressa nos trabalhos de elaboração da Carta Magna, a de não permitir o acesso direto de advogados e membros do Ministério Público aos Tribunais de Justiça, nos Estados onde houvesse Tribunais de Alçada (9).

(8) José Cretella Jr. leciona: "Comentamos, neste livro, o

ideal dos constituintes, expresso no Preâmbulo, de

"assegurar o exercício dos direitos, sociais e individuais,

como a segurança", repetindo-se, agora, no art. 6º, que "a

Constituiçóo assegura a inviolabilidade dos direitos

concernentes à segurança". Nos dois passos da Constituiçóo,

podemos observar os vocábulos "assegurar a segurança", o

que reflete a falta de cuidado com a linguagem e o estilo do

diploma mais importante e significativo da Naçóo Brasileira.

Garantir a segurança é, de fato, garantir o exercício das

demais liberdades, porque a vis inquietativa impede o homem

de agir" (grifos meus) (Comentários à Constituiçóo 1988,

volume I, ed. Forense Univer., 1989, p. 185).

(9) Hart em The concept of Law (Ed. Clarendon, 1961) ensina:

"A supreme tribunal has the last word in saying what the law

is and, when it has said it, the statement that the court

was wrong has no consequences within the system: no one's

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Ora, as decisões do S.T.F. sobre os delegados de Polícia Federal, anteriormente proferidas, não ofereceram relevo à "mens legislatoris", como, de resto, ocorrera em relação à questão dos Tribunais de Justiça e ao ingresso de profissionais pertencentes ao quinto constitucional na magistratura estadual superior.

Tendo sido posto em relevo o aspecto da intenção, no julgamento referido, há de se perscrutar se o dispositivo que gerou o artigo 241 seria também, pela mesma linha de raciocínio, oriundo da intenção de equiparar magistrados, membros do Ministério Público, procuradores e delegados de carreira (10).

rights or duties are thereby altered. The decision may, of

course, be deprived of legal effect by legislation, but the

very fact that resort to this is necessay demonstrates the

empty character, so far as the law is concerned, of the

statement that the court's decision was wrong. Consideration

of these facts makes it seem pedantic to distinguish, in the

case of a supreme tribunal's decisions, between their

finality and infallibility. This leads to another from of

the denial that courts in deciding are ever bound by rules:

"The law (or the constitution) is what the court say it is"

(grifos meus) (p. 138).(

(10) Carlos Maximiliano realça a necessidade de exegese

distinta do Direito Constitucional em relaçóo aos demais

ramos: "O Direito Constitucional apóia-se no elemento

político, essencialmente instável, a esta particularidade

atende, com especial e constante cuidado, o exegeta. Naquele

-17-

O exame da história do dispositivo não oferta a menor dúvida. Os constituintes pretenderam equiparar. Todas as lideranças, sem exceção, assim agiram. Estabeleceram critérios para que não houvesse distinção, nas carreiras públicas, entre profissionais de formação jurídica.

Com efeito, todas as lideranças encaminharam, ao Presidente da Assembléia Nacional Constituinte, o seguinte manifesto:

"AO EXCELENTÍSSIMO SENHOR PRESIDENTE DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE: Senhor Presidente. No primeiro turno de votação foi aprovado projeto do Centrão que equiparou expressamente os delegados de polícia aos membros do Ministério Público, no que toca a vencimentos.Havia emenda supressiva proposta pelo Dep. Antonio Perosa que, contudo, foi retirada.Era tranquilo, portanto, a prevalência da tese da equiparação salarial no aludido 1º turno, já que não havia

departamento da ciência de Papiniano preponderam os valores

jurídico-sociais. Devem as instituiçðes ser entendidas e

postas em funçóo de modo que correspondam às necessidades

políticas, às tendências gerais da nacionalidade, à

coordenaçóo dos anseios elevados e justas aspiraçðes do

povo" (grifos meus) (Hermenêutica e Aplicaçóo do Direito, 9ª

ed., ed. Forense, 1979, p. 305).

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emenda supressiva a discutir, em face da retirada mencionada.Entretanto, em razão de reiteradas ponderações feitas por alguns deputados e para não estabelecer nenhum confronto com os ilustres membros do Ministério Público, encontrou-se fórmula pela qual aos Delegados de Polícia se aplicaria o mesmo princípio estabelecido para as carreiras.Daí porque reuniram-se os deputados Roberto Cardoso Alves, Ibsen Pinheiro, Farabulini Jr., Michel Temer, Plínio de Arruda Sampaio, Paulo Ramos, Ubiratan Aguiar, João de Deus Antunes, representando as várias categorias profissionais e as lideranças, com o objetivo de encontrar uma solução.Esta veio pela seguinte forma: aplicou-se aos delegados de polícia o mesmo princípio que se aplicou às aludidas carreiras. Seja: estabeleceu-se uma remissão ao artigo que assegura aos servidores de atribuições iguais ou assemelhadas, isonomia de vencimentos, ressalvadas as vantagens de caráter individual e as relativas à natureza ou ao local de trabalho.Todos os deputados presentes redigiram e firmaram o documento que consubstanciou o novo preceito e assinalaram, ainda, que: "O fim deste acordo é estabelecer o princípio da isonomia dos vencimentos dos Delegados de Polícia de carreira, com a norma constitucional que estabelece a isonomia de vencimentos

-19-

entre os magistrados, os membros do Ministério Público, os Procuradores do Estado e os Defensores Públicos. Brasília, 29.06.88. Resistir a modificações". (Seguem-se as assinaturas). Doc. 01. A declaração formal de voto do Deputado Farabulini Jr., despachada por V.Exa., para que constasse dos Anais, bem ilustra, também, o real espírito do dispositivo (doc. 02).Ocorre, entretanto, que o projeto de Constituição B, do eminente Sr. Relator, fez remissão que redundou exatamente no oposto: proibiu a vinculação, já que se referiu ao artigo 38, XIII, quando deveria referir-se ao artigo 40, § 1º.Compreende-se, Sr. Presidente, a posição do Sr. Relator. É que a referência no artigo fruto do acordo, foi feita ao artigo 44, § 8º, tendo em vista o Projeto de Sistematização, tal como noticiou, aliás, o Jornal da Constituinte (doc. 03) e não ao artigo 44, § 8º do Projeto do Centrão, como foi entendido.Assim, tendo em vista as evidências do acordo firmado, requerem a V. Exa., a fim de preservar a validade dos acordos feitos entre lideranças --como é da tradição desta Casa-- se digne mandar retificar o aludido texto do artigo 26 das Disposições Transitórias, para dele constar que: "Art. 26. Aos delegados de polícia de carreira aplica-se o princípio do art. 40, § 1º,

-20-

correspondente às carreiras disciplinadas no art. 140 da Constituição". Sala das Sessões, 6 de julho de 1988" (grifos meus).

Há de se realçar o trecho:

"O fim deste acordo é estabelecer o princípio de isonomia dos vencimentos dos Delegados de Polícia de carreira, com a norma constitucional que estabelece a isonomia de vencimentos entre os Magistrados, os membros do Ministério Público, os Procuradores de Estado e dos Defensores Públicos. Brasília, 29.06.88. Resistir a modificações" (11).

(11) A carta aos Governadores assinadas pelas lideranças foi

expressiva: "O artigo 241 da Constituiçóo Federal estabelece

que: "Aos delegados de polícia de carreira aplica-se o

princípio do artigo 39, ¾ 1º, correspondente às carreiras

disciplinadas no artigo 135 desta Constituiçóo".

O legislador constituinte ao elaborar e aprovar a norma em

questóo o fez com o objetivo claro de, corrigindo uma

disparidade de tratamento, reparar uma injustiça que se

impunha à categoria dos delegados de polícia, atribuindo-

lhes a mesma retribuiçóo pecuniária das demais carreiras

jurídicas.

Este dispositivo, resultante de amplo acordo de lideranças,

consagra aos delegados de polícia uma isonomia qualificada,

subordinada, unicamente, ao exercício da funçóo, embora

adequada à regra geral do ¾ 1º do artigo 39, no que diz

respeito ao princípio ali estabelecido, tratando-se, como

tal, de norma que encerra eficácia plena e tem aplicaçóo

-21-

Ora, as mais expressivas lideranças subscreveram tal manifesto, a saber: Liderança do Governo, Líder do PMDB, Líder do PDS, Líder do PFL, Líder do PDT, Líder do PTB, Líder do PT, Líder do PDC, Líder do PCB, Líder do PC do B, Líder do PL, Líder do PMB, Líder do PSDB, Michel Temer, Paulo Ramos, Ibsen Pinheiro e Miro Teixeira.

Dele resultou o artigo 241, cuja dicção é meridianamente límpida, estando assim expresso:

"Aos delegados de polícia de carreira aplica-se o princípio do art. 39, § 1º, correspondente às carreiras disciplinadas no art. 135 desta Constituição",

estando o artigo 135 redigido como se segue:

"Às carreiras disciplinadas neste Título, aplicam-se o princípio do artigo

imediata.

O propósito, a intençóo, a vontade do Constituinte,

expressamente registrada na declaraçóo de voto à página

11.796, do Diário da Assembléia Nacional Constituinte nº

273, de 30 de junho de 1988, foi de estabelecer,

definitivamente e de pronto, a isonomia de vencimentos, a

igualdade de vencimentos, entre esta categoria funcional e

as carreiras jurídicas disciplinadas no artigo 135 da nova

Carta Constitucional".

-22-

37, XII, e o artigo 39, § 1º" (grifos meus).

Ora, o discurso faz clara menção a que o artigo 39 § 1º (princípio da isonomia) é aplicável aos delegados em relação a todas às carreiras mencionadas no artigo 135, isto é, "expressamente"

"magistrados, membros do Ministério Público, Procuradores do Estado e Defensores Públicos" (12).

Como se percebe, o artigo 135 não oferta a menor dúvida de que se aplica não só às carreiras previstas na Secção III, mas ao Título, isto é, a

(12) A carta aos Governadores foi assinada pelos seguintes

líderes: Paulo Mincarone, Joóo de Deus Antunes, Marquito

Varela, Francisco Kuster, Felipe Mendes, Amaral Netto, Mello

Reis, Osvaldo Bender, Paulo Ramos, Valmir Campelo, Manoel

Castro, Milton Barbosa, Alceni Guerra, Carlos Cardinal,

Arnaldo Faria de Sá, Adyson Motta, Rita Camata, Jofran

Frejat, Antonio Carlos Konder, Jorge Arbage, Arnold

Fioyante, José Tavares, Santinho Furtado, Waldeck Ornelas,

Joóo Alves, Jairo Carneiro, Doreto Campanari, Wilson Campos,

Odacir Soares, Maurício Corrêa, Joóo Carlos Barcelar, Rubem

Medina, Âlvaro Valle, Helio Duque, Joóo Cunha, Fernando

Henrique Cardoso, Max Rosermann, Edne Tavares, Mário Covas,

Jayme Campos, José Maranhóo, Henrique Eduardo Alves,

Domingos Juvenil, Cid Carvalho, Sadie Haunche, Gandi Jamil,

Edivaldo Holanda, Maria Lúcia, Moisés Abróo, Nabor Junior,

Meira Filho, Cláudio Avila, Ulisses Guimaróes, Bernardo

Cabral, Mário Martins, Sérgio Carvalho.

-23-

todas as carreiras que, no Título da Organização dos Poderes, estejam vinculadas ao Poder Judiciário, ou seja, na intenção do legislador supremo, aos "magistrados, defensores do Ministério Público, Procuradores e Delegados de Polícia" (13).

Deve-se realçar que fez menção, o constituinte, com clareza, não à Secção III, mas ao Título dos Poderes, o que implica a todos os que, no Título IV, estejam vinculados ao Poder Judiciário, direta ou indiretamente.

(13) José Cretella Jr. esclarece: "No preceito constitucional,

estóo inscritas, entretanto, matrizes que nóo poderóo ser

esquecidas pelo futuro legislador fiscal.

Desse modo, a isonomia de vencimentos dependerá da

subseqüente norma regulamentadora, a ser elaborada e

promulgada pelo Poder Legislativo competente.

Embora o legislador seja autônomo ao conceituar as entidades

assemelhadas, deve, entretanto, observar a natureza das

coisas, para que o preceito regulamentador nóo seja argüido

de inconstitucional.

Os cargos em questóo devem ser do mesmo Poder ou devem ser

assemelhados, entre servidores dos três Poderes.

Nesse tratamento jurídico, o legislador nóo pode incluir as

vantagens de caráter individual e as concernentes à natureza

e ao local de trabalho.

Os arts. 37, XII e 39 ¾ 1º, 241, 135 devem ser interpretados

de modo sistemático, em conjunto, de tal modo que as

conexðes sejam incensuráveis, do ponto de vista formal,

material e legal" (Comentários à Constituiçóo Brasileira de

1988, vol. IX, ed. Forense Univr., 1993, p. 4644).

-24-

Se foi intenção do constituinte assemelhar todas as 4 carreiras, para efeitos de isonomia de vencimentos, se utilizou a dicção "correta", isto é, "neste Título" e não "nesta Secção", as decisões anteriores do STF não se lastrearam na "mens legislatoris", mas na exegese de que, porque estaria, o artigo 135, na Secção III, que cuida da advocacia e da Defensoria Pública, apenas a equiparação se poderia fazer em relação a estas carreiras da Secção III e não a todas as carreiras do Título IV, vinculadas ao Poder Judiciário (14).

(14) Caio Mário da Silva Pereira lembra que: "O legislador

exprime-se por palavras, e é no entendimento real destas que

o intérprete investiga a sua vontade. Os órgóos encarregados

da execuçóo ou da aplicaçóo da norma jurídica penetram,

através da sua letra, no seu verdadeiro sentido. Toda lei

está sujeita a interpretaçóo. Toda norma jurídica tem que

ser interpretada, porque o direito objetivo, qualquer que

seja a sua roupagem exterior, exige seja entendido para ser

aplicado, e neste entendimento vem consignada a sua

interpretaçóo. Inexato é, portanto, sustentar que somente os

preceitos obscuros, ambíguos ou confusos, exigem

interpretaçóo, e que a clareza do dispositivo a dispensa,

como se repete na velha parêmia "in claris cessat

interpretatio". Inexato o brocardo (ver CUNHA GONÇALVES,

VICENTE RÂO), como outros muitos que amiúde se repetem com o

propósito de orientar o intérprete (RUGGIERO), mas que na

verdade muito comumente lhe falseiam o trabalho. Poder-se-á

dizer, e isto é correto, que o esforço hermenêutico é mais

simples ou mais complexo, conforme a disposiçóo seja de

entendimento mais ou menos fácil, pois que sustentar a

clareza do preceito, é já tê-lo entendido e interpretado,

tanto mais quanto a própria clareza é em si muito relativa,

dependendo do grau de acuidade de quem o lê ou aplica, de

-25-

À evidência, seria de indiscutível impertinência provocar novamente a Suprema Corte para reexaminar a referida questão, visto que as interpretações da Suprema Corte tendem a ser definitivas e, mesmo quando não são as mais aceitas pela doutrina, são aquelas que valem.

Hart, com muita propriedade, dizia que:

"On the one hand courts deciding a later case may reach an opposite decision to that in a precedent by narrowing the rule extracted form the precedent, and admitting some exception to it not before considered, or, if considered, left open. This process of "distinguishing" the earlier case involves finding some legally relevant difference between it and the present case, and the class of such differences can never be exhaustively determined" (15),

para concluir (p. 138):

seus conhecimentos técnicos, de sua experiência. Há sempre

necessidade de investigar a essência da vontade legislativa,

nóo apenas na exteriorizaçóo verbal, mas naquilo que é a sua

força interior e o poder de seu comando" (Instituiçðes de

Direito Civil, volume I, 12ª ed., ed. Forense, 1990, p.

135/136).

(15) The concept of Law, Ed. Clarendon Law Series, Oxford

University Press, New York, 1961, London, p. 131.

-26-

"The law is what the court say it is",

mostrando, assim, que a "segurança jurídica" representa a interpretação absoluta da lei, dada pela Corte máxima, qualquer que ela seja.

Não aconselharia, portanto, nunca, a consulente, a reabrir a questão junto à Suprema Corte, apesar de minha convicção da assemelhação das carreiras enunciadas, em respeito aos eminentes magistrados que a compõem e à certeza de que agiram no pleno exercício de suas convicções jurídicas (16).

(

(16) Tenho no curso de minha vida diferenciado o Poder

Judiciário dos demais, sendo contrário ao controle externo e

defensor de suas prerrogativas com a isençóo de quem nunca

almejou dele participar, por ser exclusivamente advogado. Já

disse tóo logo promulgada a Constituiçóo que: "E eu estou

convencido, que nóo temos outra soluçóo, senào conviver com

este texto. A partir de agora todavia, mais importante que

os constituintes somos nós, os bacharéis em Direito, aqueles

que teróo que interpretá-la e aplicá-la. E, exatamente,

porque a responsabilidade passou para nós é que eu estou

convencido que se tivermos bom-senso, se tivermos a

moderaçóo necessária para saber como pleitear em Juízo, o

Poder Judiciário burilará a Constituiçóo, porque é, de

longe, o mais preparado dos três Poderes, em qualquer esfera

de Governo. O ingresso no Poder Judiciário, é precedido de

concurso e a idoneidade é elemento fundamental, requisitos

nem sempre fundamentais na escolha, muitas vezes política ou

demagógica, para os outros dois Poderes. Se o Poder

Judiciário, com o auxílio dos Advogados --hoje, com funçóo

definida, constitucionalmente-- e do Ministério Público,

-27-

Se não tivesse havido o julgamento a que aludi no início deste parecer, em que o próprio Supremo Tribunal Federal mudou orientação recente, à luz exclusiva da intenção do constituinte, que não poderia ser desconsiderada, não aceitaria ofertar o parecer que preparo, sem ônus pecuniário para a entidade.

Ora, se naquela decisão, que tornou, no dizer do eminente Ministro Carlos Mário Velloso, juízes "classistas", --sem demérito, como realçou, na expressão adotada-- todos aqueles integrantes dos Tribunais de Alçada que vinham das carreiras mencionadas pelo denominado "Quinto Constitucional", decidiu o Pretório Excelso a favor dos magistrados concursados, vedando o ingresso direto, nos Tribunais de Justiça, de advogados e membros do Ministério Público, apenas porque essa era intenção dos constituintes, não há porque não provocar a Suprema Corte para que reexamine a questão, na medida em que também a intenção do constituinte, ao decidir a isonomia de vencimentos nas carreiras jurídicas, não foi apenas a de equiparar delegados a procuradores ou defensores, mas, como está, na proposta de todas as lideranças, a de equipará-los a magistrados, membros do Ministério Público e procuradores. A intenção do legislador supremo foi colocar,

passarem a exercer um trabalho criativo para limar as

arestas e adaptar a Constituiçóo, nós poderemos viabilizá-la

..." (grifos meus) (O Poder Judiciário e a nova

Constituiçóo, Lex Editora, 1990, p. 37/38).

-28-

efetivamente, no discurso do artigo 135, o vocábulo "neste Título" e não "nesta Secção" (17).

Ora, a dicção do artigo 39 § 1º da Constituição Federal não oferece qualquer possibilidade de exegese restritiva da intenção do constituinte, estando assim veiculada:

(

(17) O Ministro José Celso de Mello, na ADIN 171, esclarece:

"Ao pronunciar-se, agora, sobre o mérito da causa, sustento,

Sr. Presidente, que as normas inscritas nos arts. 135 e 241

da Constituiçóo Federal efetivamente consagraram, de modo

concreto, a isonomia de tratamento remuneratório entre os

membros integrantes das categorias funcionais a que tais

preceitos se referem.

Trata-se de isonomia especial --inscrita no texto da Carta

Política por consciente opçóo do legislador constituinte--,

que assegura aos magistrados, membros do Ministério Público

e da Advocacia do Estado, Defensores Públicos e Delegados de

Polícia de carreira o direito a vencimentos iguais.

A esse direito corresponde a indeclinável obrigaçóo jurídica

do Poder Público de implementar --sem que se lhe ofereça a

possibilidade de questionar o juízo de assemelhaçóo

formulado pelo constituinte-- a garantia concernente à

isonomia de vencimentos. As regras constitucionais em

questóo refletem, na concreçóo do seu alcance e do seu

próprio conteúdo, clara derrogaçóo ao postulado inscrito na

Carta da República que veda, de modo geral, a equiparaçóo e

a vinculaçóo de vencimentos, para o efeito de remuneraçóo do

pessoal do serviço público (CF, art. 37, XIII).

Os preceitos consubstanciais nos arts. 135 e 241 da Carta

Federal positivaram, de maneira extremamente significativa,

para fins de isonomia remuneratória, a direta e recíproca

assemelhaçóo dos cargos públicos a que se referem.

-29-

"A lei assegurará, aos servidores da administração direta, isonomia de vencimentos para cargos de atribuições iguais ou assemelhadas do mesmo Poder ou entre servidores dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, ressalvadas as vantagens de caráter individual e as

Cuida-se, pois, de assemelhaçóo constitucional, com que a

Assembléia Nacional Constituinte --em caráter impositivo e

cogente-- fixou parâmetros subordinantes e diretrizes

condicionantes da própria atuaçóo normativa do Estado no

plano legislativo.

Dentro desse contexto normativo, torna-se irrecusável o

reconhecimento de que sóo assemelhados, por vontade do

próprio legislador constituinte, as carreiras jurídicas

mencionadas nos arts. 135 e 241 da Lei Básica. Como efeito

consequencial dessa realidade jurídico-normativa, emerge,

nítido, o dever estatal de ministrar a tais carreiras

tratamento isonômico em sede remuneratória.

Em suma: os preceitos inscritos nos arts. 135 e 241 da Carta

Federal, por igualarem determinadas categorias funcionais em

razóo de certos fatores de assemelhaçóo que a elas se

revelam comuns (essencialidade dessas funçðes à

administraçóo da Justiça e exigência de formaçóo jurídica

como requisito de ingresso nessas carreiras, p. exemplo),

submeteram-nas à cláusula isonômica e outorgaram-lhes --

enquanto destinatárias constitucionais da norma de

equiparaçóo-- direito à igualdade de vencimentos,

observados, unicamente, no que concerne ao trato legislativo

da matéria, os princípios da limitaçóo remuneratória pelo

teto (CF, art. 37, XII) e da reserva de lei na estruturaçóo

dessas carreiras e na definiçóo dos seus níveis salariais

(CF, art. 39, ¾ 1º).

-30-

relativas à natureza ou ao local de trabalho" (18).

Há clara menção aos servidores do Poder Judiciário, Legislativo e Executivo, lembrando-se que o artigo 241 coloca, para efeitos de vencimentos, os delegados entre aqueles das

O texto da Lei Fundamental da República, ao formalmente

reconhecer a existência de similitude entre os cargos que

integram a estrutura das carreiras jurídicas mencionadas no

art. 135 --com os quais guardam relaçóo de correspondência,

ope constitutionis, os cargos de Delegado de Polícia (art.

241)-- tornou possível a outorga, por via legislativa, de

tratamento isonômico, em tema de remuneraçóo, em favor dos

Magistrados, membros do Ministério Público, integrantes da

Advocacia de Estado, Defensores Públicos e Delegados de

Polícia de carreira".

(18) Do voto do Ministro Celso de Mello consta opiniðes de

renomados juristas na mesma linha: "Posto sua enunciaçóo

seja algo tortuosa, os dois questionados preceitos

constitucionais hóo de ter significado útil e irradiar

eficácia, e seu entendimento nóo pode ser outro que o de

haverem estabelecido, desde logo e por seu próprio vigor, a

assemelhaçóo, para os efeitos da isonomia de vencimentos,

das chamadas carreiras jurídicas.

"Nóo fora assim" --adverte procedentemente JOSÉ AFONSO DA

SILVA-- nóo teria sentido o art. 135. Bastaria o art. 39 que

já as compreenderia também, se nóo houvesse um dispositivo

especial para elas. Antes, sentenciara o publicista na mesma

passagem: "A Constituiçóo as tem como preenchendo os

requisitos do art. 39, para o fim de determinar a aplicaçóo

da isonomia ali estabelecida a seus integrantes,

equiparadas, assim, para tal, suas atribuiçðes sem qualquer

-31-

funções essenciais à Justiça, isto é, membros do Ministério Público, Advocacia Geral da União, procuradores e Defensorias Públicas, sobre estar no Título "dos Poderes", o que vale dizer, vinculado aos vencimentos das carreiras de formação jurídica, disciplinadas no Título vinculado ao Poder Judiciário.

outra cogitaçóo. Vale dizer: para essas carreiras, a

Constituiçóo (art. 135) assegura, por si e diretamente, a

isonomia".

........

No mesmo diapasóo, discorre o constitucionalista RAUL

MACHADO HORTA: "A redaçóo dos artigos 135 e 241 revela

elemento informador da aplicaçóo da isonomia de vencimentos:

as carreiras jurídicas sóo carreiras assemelhadas, como

assemelhadas sóo as atribuiçðes dos cargos que a integram. A

Constituiçóo encarregou-se de fazer a assemelhaçóo entre as

carreiras e os cargos (...)". A assemelhaçóo decorre,

diretamente, da Constituiçóo da República, dispensando a

demonstraçóo, caso a caso, entre as atribuiçðes dos cargos

assemelhados.

Concorda MANOEL GONÇALVES FERREIRA FILHO: "Um exame mais

aprofundado da nova Constituiçóo mostra que ela já se

adiantou no reconhecimento da semelhança de atribuiçðes

entre as carreiras jurídicas. É o que se tem de entender a

propósito do artigo 135 da Constituiçóo em vigor".

......

A essa linha dogmática parece filiar-se, e com razóo, o

registro de MÂRIO BERNARDO SESTA no sentido de que "o

legislador constituinte, a teor do art. 135, diz

inequivocamente, no exercício de uma opçóo política que se

dessume coerentemente do espírito da nova constituiçóo, que

as atribuiçðes das carreiras jurídicas sóo semelhantes

quanto ao papel que desempenham no contexto da tessitura

-32-

Como se percebe, não só a intenção do Constituinte foi clara na equiparação, como o discurso do artigo 241 hospedou esta intenção e aquele do artigo 135 faz cristalina menção às carreiras de formação jurídica do Título IV, e não às da Secção III do Capítulo IV do referido Título. E o artigo 39 § 1º apenas refere-se à isonomia entre os 3

constitucional adotada".

Sob essa perspectiva de maior magnitude --que transcende e

suplanta o cotejo milimétrico de tarefas próprias a dois ou

mais cargos públicos, com vistas a perquirir entre eles

identidade ou similitude de atribuiçðes--, podem ser

facilmente intuídos os fatores de assemelhaçóo que teróo

levado o constituinte a aproximar entre si, para lhes

conferir isonomia de vencimentos, as chamadas carreiras

jurídicas.

Desponta nesse rol, com evidente primazia, a essencialidade

dessas carreiras para a administraçóo da Justiça, valor

fundamental que a Constituiçóo dotou de relevo especial.

......

Integra-o, também, a formaçóo jurídica que, em todas as

carreiras assemelhadas, constitui, a um tempo, pré-requisito

de investidura e instrumento imprescindível de atuaçóo

funcional.

"Todas elas sóo de carreiras jurídicas" --

preleciona JOSÉ AFONSO DA SILVA-- "primeiro porque exigem

formaçóo jurídica como requisito essencial para que nelas

alguém possa ingressar; segundo porque todas têm o mesmo

objeto, qual seja: a aplicaçóo da norma jurídica; terceiro

porque, por isso mesmo, sua atividade é essencialmente

idêntica, qual seja, a do exame de situaçðes fáticas

específicas, emergentes, que requeiram soluçóo concreta em

face da norma jurídica, na busca de seu enquadramento nesta,

o que significa subsunçóo das situaçðes de fato na descriçóo

-33-

Poderes, de acordo com as regras próprias destes Poderes e de suas carreiras, nos termos, inclusive, impostos pela Constituição, entre os quais os artigos 241 e 135 não ofertam dúvida sobre quais as carreiras que devem ter tratamento isonômico (19).

normativa, operaçóo que envolve interpretaçóo e aplicaçóo

jurídica, campo essencial e comum que dá o conceito dessas

carreiras".

Esses dois fatores de assemelhaçóo --

essencialidade das carreiras para a administraçóo da Justiça

e formaçóo igualmente exigida para ingresso em todas elas e

subsequente exercício das respectivas funçðes-- guardam

visível afinidade com aqueles fatores de valorizaçóo a que

alude a precitada Lei nº 5.645, de 10/12/70 (...), a saber,

respectivamente, a importância da atividade para o

desenvolvimento nacional e as qualificaçðes requeridas para

o seu desempenho.

......

Nóo menor influência teróo tido, finalmente, na gênese da

regra isonômica em debate, a unióo histórica de algumas das

carreiras hoje cindidas e a comunhóo de que eram marcadas.

......

Tudo está, pois, a evidenciar que a Constituiçóo assemelhou,

ela própria e desde logo, para efeito de lhes conferir

isonomia de vencimentos, as carreiras jurídicas do Estado,

compreendendo as versadas no seu Título IV e mais a de

Delegado de Polícia. Poderia, é certo, tê-lo feito com maior

clareza; se nóo o fez, ao que se pode supor, é porque cedeu

à contingência de circunlóquios impostos por conhecidas

injunçðes políticas que marcaram os trabalhos constituintes.

Nóo pode ser outra, todavia, a interpretaçóo dos seus arts.

135 e 241, ambos remetidos, em verdadeira operaçóo de

-34-

Estou convencido de que, no julgamento a que me referi, a alteração jurisprudencial do S.T.F. não decorreu, como chegou inclusive um dos mais ilustres magistrados daquela Corte a mencionar, de mero resquício do espírito corporativista, ou seja, para beneficiar os magistrados de carreira. Estou convencido de que decidiram, não por espírito de corpo, mas porque o novo elemento, trazido pelo presidente da Associação Nacional dos

concretizaçóo, ao princípio insculpido no seu art. 39, ¾

1º".

(19) Pinto Ferreira ensina: "A Constituiçóo Federal (art. 39,

¾ 1º) determina aos servidores da administraçóo direta o

princípio da igualdade ou isonomia dos vencimentos para

cargos de atribuiçðes iguais ou assemelhados do mesmo Poder

ou entre servidores dos três Poderes (Executivo,

Legislativo, Judiciário). Sóo ressalvadas, entretanto, as

vantagens de caráter individual e aquelas relativas à

natureza ou local de trabalho (como, por exemplo, adicional

de periculosidade ou do regime celetista que agora se

estendeu, por força da lei maior, aos estatutários - CF,

art. 39, ¾ 2º).

A paridade deve ser dada àquelas que tenham atribuiçðes

iguais ou assemelhadas em seus cargos. Quando as funçðes nóo

sóo absolutamente idênticas, a semelhança tanto quanto a

identidade os equipara.

Esta norma constitucional é nova, inexistente nas Cartas

anteriores. O direito constitucional anterior (art. 98)

previa norma parecida, limitando-se, entretanto, a

determinar que os vencimentos dos cargos do Poder

Legislativo e do Poder Judiciário nóo poderiam superar

aqueles pagos pelo Poder Executivo, para cargos de

atribuiçðes iguais ou assemelhados, dizendo respeito só ao

pessoal estatutário.

-35-

Magistrados, ou seja, o parecer do Professor Galeno de Lacerda, alicerçava toda a força de sua argumentação na intenção do constituinte, que foi aquela que terminou por modificar a orientação do S.T.F. (20).

Ora, se naquele recente caso este único novo argumento foi suficiente para alterar a orientação da Máxima Corte, não há porque não provocar novo exame, através de Ação Direta de Inconstitucionalidade a ser proposta pela Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal, objetivando receber o mesmo tratamento, ou seja, aquele expresso na intenção do Constituinte e veiculada, a meu ver, de forma correta, pelos artigos 241 e 135 da Constituição Federal.

Assim sendo, pela Constituiçóo Federal vigente (art. 39, ¾

1º), os três Poderes devem ter a remuneraçóo igual a cargos

e empregos iguais ou assemelhados" (Comentários à

Constituiçóo Brasileira, 2º volume, ed. Saraiva, 1990, p.

409/410).

(20) As liçðes de TUCHER (The Constitution of the United

States, 1899, volume I, ¾ 179); STORY (Commentaries on the

Constitution of the United States, 5ª ed., volume I, ¾ 419)

e de COOLEY (Constitutional Limitation, 1903, p. 91) ainda e

sempre seróo inolvidáveis em tema de interpretaçóo

constitucional: "Aplica-se à exegese constitucional o

processo sistemático de Hermenêutica, e também o

teleológico, assegurada ao último a preponderância" (grifos

meus).

-36-

São, os delegados de polícia, servidores tão necessários para a administração da Justiça quanto os procuradores, defensores, membros do Ministério Público e magistrados, não havendo porque diferenciá-los quanto a seus vencimentos (21).

Respondo, pois, à questão aventada pela consulente, que entendo deva o tratamento isonômico ser idêntico àquele ofertado pela lei maior e legislação infraconstitucional aos membros da magistratura, Ministério Público, procuradores e defensores, sugerindo, por força da recente decisão do S.T.F. no caso do quinto constitucional (ADIN 813-SP), que seja proposta ação direta de

(21) Alípio Silveira, com base em Story, leciona: "O fim para

que foi inserto o artigo na lei, sobreleva a tudo. Nóo se

admite interpretaçóo estrita que entrave a realizaçóo do

escopo visado pelo texto. Quando as palavras forem

suscetíveis de duas interpretaçðes, uma estrita, outra

ampla, adotar-se-á aquela que for mais consentânea com o fim

transparente da norma positiva" (grifos meus) (Hermenêutica

no Direito Brasileiro, volume II, RT., p. 17/18).

E completa esse autor: "Por outro lado, o conteúdo

teleológico da norma constitucional há de exercer sempre

decisiva influência na interpretaçóo, que invariavelmente

deverá inclinar-se a favor da proteçóo e do amparo da

liberdade do indivíduo, assim como da efetividade de valores

éticos que operam dominantemente no direito constitucional,

como a justiça, a igualdade, o bem estar geral, etc."

(grifos meus) (ob. cit., p. 23).

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inconstitucionalidade contra a legislação federal, que não os equipara, a fim de assegurar idêntico tratamento consagrado às demais carreiras.

S.M.J.

São Paulo, 5 de Julho de 1994.

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