o primeiro drama é um auto de gil vicente
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7/31/2019 O primeiro drama é Um Auto de Gil Vicente
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Um Auto de Gil Vicente é um drama cuja intriga romântico-lacrimejante (a infeliz
paixão de Bernardim Ribeiro pela Infanta D. Beatriz) tenta recriar o ambiente fantástico
e opulento que se vivia na Corte Manuelina (e o primeiro título da obra é, com efeito, A
Corte de D. Manuel). No entanto aquilo se pretende sobretudo é pôr diante dos
esquecidos olhos portugueses a figura do fundador do Teatro Nacional; a sua opção é
emblemática: ao ressuscitar Gil Vicente, Garrett quer ressuscitar o Teatro e declarar
simultaneamente que, após aquele primeiro colosso, Portugal não teve mais nenhum
verdadeiro autor dramático.
O próprio texto significava deveras algo de novo na história teatral do País:
desrespeitada a lei dos cinco actos, varrido as três unidades aristotélicas, liberta a língua
da tirania do verso, eis que aparecem três actos em prosa sobre um tema nacional.
Gil Vicente e Bernardim, onde reside a originalidade e justificação do tema, são as
personagens chave.
Quanto à intriga, baseada em frágeis indícios históricos e no testemunho literário de
Menina e Moça, ela é da mais chã trivialidade romântica. Assim, o grande achado do
Auto de Gil Vicente é a personagem de Pero Çafio, que, prolongando a tradição vicente
e castelhana do bobo, rebate como um «gracioso» de Setecentos, as denguices
românticas dos protagonistas.
Pero Çafio, actorzeco da companhia de Meste Gil, gosta da filha deste, Paula, que gosta
de Bernardim Ribeiro, que gosta da Infanta D. Beatriz, a qual celebrará com o duque de
Sabóia umas núpcias mais ou menos conformes.