o presente dos magos
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Projeto gráfico de miolo a partir do conto "O Presente dos Magos" de O. Henry, desenvolvido no workshop de Design Editorial de Aline Haluch e 2AB EscolaTRANSCRIPT
O. HENRY
Tradução: Aline HaluchIlustração: Kamy Rodrigues
LabLab DesignCopyright © 2012
Este livro foi revisado segundo o Novo Acordo Ortográ� co da língua portuguesa.
DIREÇÃO EDITORIAL
Aline Haluch
PROJETO GRÁFICO E CAPA
Kamy Rodrigues
Henry, O. O presente dos magos. Tradução: Aline Haluch Rio de Janeiro: LabLab Design, 2012
ISBN: 85-7123-596-1
I. Conto II. Presente III. Henry, O.
LABLAB DESIGN EDITORIAL
Rua Maxwell, 169 casa 19 apto 201Rio de Janeiro RJ 2054110021 22782460 | 21 9490 5668www.lablab.com.br
Agradeço a todos que contribuíram para a minha formação como designer e a todos que de forma tão generosa compartilham seus co-nhecimentos comigo. Em especial à professo-ra Aline Haluch que tanto me ensinou nessas poucas aulas e à 2AB Escola por abrir esse espaço para difundir o conceitos de design.
O que a mente é capaz de conceber ela é capaz de realizar.CLEMENT STONE
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Um dólar e oitenta e sete centavos. Era tudo. E sessenta cen-tavos eram em moedas. Moedas economizadas uma a uma, pechinchando com o dono do armazém, o dono da quitanda, o açougueiro, até o rosto arder à muda acusação de par-cimônia que tais pechinchas implicavam. Três vezes Della contou o dinheiro. Um dólar e oitenta e sete centavos. E no dia seguinte seria Natal.
Não havia evidentemente mais nada a fazer senão atirar-se ao pequeno sofá puído e chorar. Foi o que Della fez. O que leva à re� exão moral de que a vida é feita de soluços, fungadelas e sorrisos, com predomínio das fungadelas.
Della terminou de chorar e cuidou do rosto com a esponja de pó. Postou-se junto à janela e � cou a contemplar melan-colicamente um gato cinzento caminhando sobre uma cerca cinzenta num quintal cinzento. Amanhã seria Dia de Natal e ela tinha apenas um dólar e oitenta e sete centavos para comprar o presente de Jim. Estivera a economizar tostão por tostão havia meses, e esse era o resultado. As despesas ti-nham sido maiores do que calculara. Sempre são. Apenas um dólar e oitenta e sete centavos para comprar o presente de Jim. O seu Jim. Muitas horas felizes passara ela plane-jando comprar-lhe alguma coisa bonita. Alguma coisa � na, rara, legítima – algo que estivesse bem perto de merecer a honra de ser possuída por Jim.
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Subitamente, afastou-se da janela e postou-se diante de um espelho. Seus olhos estavam brilhantes mas sua face per-deu a cor ao cabo de vinte segundos. Num gesto rápido, sol-tou o cabelo e deixou desdobrar-se em toda a sua extensão.
Ora, os James Dillingham Youngs tinham dois haveres de que muito se orgulhavam. Um era o relógio de ouro de Jim, que pertencera a seu pai e a seu avô. O outro era o cabelo de Della.
O cabelo de Della, pois, caiu-lhe pelas costas, ondulando e brilhando como uma cascata de águas castanhas. Chegava--lhe abaixo do joelho e quase lhe servia de manto. Ela então o prendeu de novo, célere e nervosamente. A certo momen-to, deteve-se e permaneceu imóvel, enquanto uma ou duas lágrimas caíam sobre o puído tapete vermelho.
Vestiu o velho casaco marron; pôs o velho chapéu marron. Desceu rapidamente a escada que levava à rua. Parou onde havia um letreiro anunciando: “Mme Sofronie, Artigos de Toda Espécie para Cabelos”. Della subiu a correr um lance de escada e se deteve no alto, arquejante para recompor-se. Madame, corpulenta, alva demais, fria.
- Quer comprar meu cabelo? – perguntou Della.- Eu compro cabelo – disse Madame. – Tire o chapéu e
vamos dar uma olhada no seu. Despenhou-se, ondulante, a cascata de águas castanhas.
- Vinte dólares – ofereceu Madame, erguendo a massa com mão prática.
- Dê-me o dinheiro depressa – pediu Della.Oh, as duas horas seguintes voaram com asas róseas.
Della se pôs a vasculhar as lojas à procura de um presente para Jim.
Encontrou-o por � m. Fora feito para ele e para ninguém mais. Nada havia que se lhe parecesse nas outras lojas, e ela as revirara de alto a baixo. Era uma corrente de plati-na, curta, simples e de modelo discreto, proclamando ade-quadamente seu valor por sua mesma substância e não por qualquer ornamentação espúria. Era digna até do relógio. Tão logo a viu, soube que tinha de ser de Jim. Era como ele. Serenidade e valor – a descrição se aplicava a ambos. Vinte
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e um dólares cobraram-lhe por ela, e Della correu para casa com os oitenta e sete centavos. Com aquela corrente no reló-gio, Jim poderia preocupar-se decentemente com o tempo na frente de qualquer pessoa. Grande como era o relógio, ele às vezes o consultava meio envergonhado devido à velha tira de couro que usava em lugar de corrente.
Quando Della chegou em casa, seu embevecimento cedeu lugar a um pouco de prudência e razão. Pegou os ferros de frisar, acendeu o gás e pôs-se a reparar os estragos causados pela generosidade acrescida ao amor. O que sempre é uma tarefa muito árdua, queridos amigos – uma tarefa gigantesca.
Ao cabo de quarenta minutos, sua cabeça estava coberta de pequenos caracóis cerrados, que a faziam parecer, admi-ravelmente, um menino vadio.
Às sete horas, o café estava preparado e uma frigideira quente no fogão esperava o momento de fritar as costeletas. Jim nunca se atrasava. Della dobrou a corrente no côncavo da mão e sentou-se a um canto da mesa, perto da porta pela qual ele sempre entrava. Ouviu então seus passos no primei-ro lance da escada e empalideceu por um instante.
- Oh, Deus, fazei-o por favor achar-me ainda bonita!A porta se abriu, Jim entrou e a fechou. Parecia magro e
muito sério. Pobre sujeito, apenas vinte e dois anos e já res-ponsável por uma família! Precisava de um sobretudo novo e não tinha luvas.
Jim Avançou alguns passos. Seus olhos estavam � tos em Della e havia neles uma expressão que ela não conseguia ler e que a aterrorizava. Não era raiva, nem surpresa, nem de-saprovação, nem horror; não era nenhum dos sentimentos para os quais ela estava preparada.
Della esgueirou-se para fora da mesa e se encaminhou para ele.
- Jim, querido – gritou – não me olhe desse jeito! Mandei cortar o cabelo e o vendi porque não poderia passar o natal sem dar um presente a você. Ele crescerá de novo… não se aborreça, por favor. Meu cabelo cresce terrivelmente de-pressa. Diga “Feliz Natal!”, Jim, e � quemos felizes. Você não sabe que coisa bonita, que belo presente tenho para você.
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- Mandou cortar o cabelo? – perguntou Jim a custo, como se não tivesse ainda compenetrado desse fato patente após o mais árduo esforço mental.
- Cortei-o e vendi-o – disse Della. – Você não continua a gostar de mim do mesmo jeito, então? Não precisa procurar por meu cabelo, foi vendido, como lhe disse… vendido, não está mais aqui. É véspera de Natal, querido. Seja bonzinho comigo, � z isso por sua causa. Ninguém poderá jamais ava-liar o meu amor por você. Posso fritar as costeletas, Jim?
Emergindo do seu transe, Jim pareceu despertar rapida-mente. Abraçou a sua Della. Os magos trouxeram presentes valiosos, mas isso não estava entre eles. Esta asserção obscu-ra será esclarecida mais tarde.
Jim tirou um pacote do bolso e atirou-o sobre a mesa.- Não me interprete mal, Della – disse. – Não acho que
haja alguma coisa, corte de cabelo, raspagem ou xampu, ca-paz de fazer-me gostar menos da minha mulherzinha. Mas se você abrir este pacote, poderá ver por que � quei abalado no princípio.
Alvos dedos ligeiros des� zeram o atilho e o embrulho. Ou-viu-se então um grito extático de alegria, e depois, ai!, uma súbita mudança feminina para as lágrimas e os gemidos, que exigiram o imediato emprego de todos os poderes de conso-lação do senhor do apartamento.
Pois sobre a mesa jaziam Os Pentes – o jogo de pentes para cabelos que Della adorara havia muito numa vitrine. Belos pentes, de tartaruga legítima, orlados de pedraria – da cor exata para combinar com seu lindo cabelo. Eram pentes caros, ela o sabia, e seu coração se limitara a desejá-los e a suspirar por eles sem a menor esperança de vir um dia a possuí-los. E agora pertenciam-lhe, mas as tranças que os anelados enfeites deveriam adornar não mais existiam.
Ela, porém, os apertou contra o peito e, por � m, pode er-guer os olhos nublados, sorrir e dizer:
- Meu cabelo cresce tão depressa, Jim!Jim ainda não vira o seu belo presente. Ela lho estendeu an-
siosamente na palma da mão aberta. O fosco metal precioso parecia brilhar com o re� exo do seu jubilante e ardente espírito.
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– Não é uma beleza, Jim? Vasculhei a cidade toda para achá-lo. Doravante, você terá de ver as horas uma centena de vezes por dia. Dê-me o seu relógio. Quero ver como � ca nele.
Em lugar de obedecer, Jim deixou-se cair no sofá, pôs as mãos atrás da cabeça e sorriu:
– Della – disse -, vamos por os nossos presentes de Natal de lado e deixá-los por algum tempo. São lindos demais para poderem ser usados agora. Vendi o relógio para comprar os seus pentes. Que tal se você fritasse as costeletas agora?
O projeto deste livro foi parte integrante e conclusiva do Workshop de Design Editorial ministrado pela designer e professora Aline Haluch do estúdio Creamcrackers e organi-zado pela 2AB Escola.
Editora LabLab1ª edição em fevereiro de 2012.
Papel do miolo: Pólen Soft 80g/m²Papel da capa: Cartão supremo 250g/m²
Tipogra� as: Garth Graphic STD