o plano de aÇÕes articuladas (par) na rede...

204
i MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS FACULDADE DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO MESTRADO EM EDUCAÇÃO MARIA ISABEL SOARES FEITOSA O PLANO DE AÇÕES ARTICULADAS (PAR) NA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE DOURADOS, MS: A QUALIDADE MATERIALIZADA NAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS DO ENSINO PÚBLICO FUNDAMENTAL DOURADOS MS 2016

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  • i

    MINISTRIO DA EDUCAO

    UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS

    FACULDADE DE EDUCAO

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM EDUCAO

    MESTRADO EM EDUCAO

    MARIA ISABEL SOARES FEITOSA

    O PLANO DE AES ARTICULADAS (PAR) NA REDE MUNICIPAL

    DE ENSINO DE DOURADOS, MS: A QUALIDADE MATERIALIZADA

    NAS PRTICAS PEDAGGICAS DO ENSINO PBLICO

    FUNDAMENTAL

    DOURADOS MS

    2016

  • i

    MARIA ISABEL SOARES FEITOSA

    O PLANO DE AES ARTICULADAS (PAR) NA REDE MUNICIPAL

    DE ENSINO DE DOURADOS, MS: A QUALIDADE MATERIALIZADA

    NAS PRTICAS PEDAGGICAS DO ENSINO PBLICO

    FUNDAMENTAL

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-

    Graduao em Educao da Faculdade de

    Educao da Universidade Federal da Grande

    Dourados (UFGD), como requisito parcial para

    obteno do ttulo de Mestre em Educao, na

    rea de concentrao Histria, Poltica e Gesto

    da Educao, linha de pesquisa Polticas e Gesto

    da Educao.

    Orientadora: Prof. Dr. Marlia Fonseca.

    DOURADOS - MS

    2016

  • ii

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP).

    F311p

    Feitosa, Maria Isabel Soares

    O Plano de Aes Articuladas (PAR) na rede municipal de ensino de

    Dourados, MS: a qualidade materializada nas prticas pedaggicas do ensino

    pblico fundamental. / Maria Isabel Soares Feitosa. Dourados: UFGD,

    2016.

    204f.

    Orientadora: Profa. Dra. Marlia Fonseca

    Dissertao (Mestrado em Educao) - Faculdade de Educao

    Universidade Federal da Grande Dourados.

    1. Poltica educacional. 2. Plano de Aes Articuladas (PAR). 3.

    Prticas pedaggicas. 4. Qualidade educacional. I. Ttulo.

    CDD. 23 ed. 379.81

    Ficha catalogrfica elaborada pela Biblioteca Central UFGD.

    Direitos reservados. Permitido a reproduo parcial desde que citada a fonte

  • iii

    FOLHA DE APROVAO

    Maria Isabel Soares Feitosa

    O Plano de Aes Articuladas (PAR) na Rede Municipal de Ensino de

    Dourados, MS: a qualidade materializada nas prticas pedaggicas do ensino

    pblico fundamental.

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-

    Graduao em Educao da Faculdade de

    Educao da Universidade Federal da Grande

    Dourados (UFGD), como requisito parcial para

    obteno do ttulo de Mestre em Educao, na

    rea de concentrao Histria, Poltica e Gesto

    da Educao, linha de pesquisa Polticas e Gesto

    da Educao.

    Orientadora: Prof Dr. Marlia Fonseca.

    Aprovada em: / /

    BANCA EXAMINADORA:

    Prof. Dr. Marlia Fonseca - Orientadora

    Universidade de Braslia

    (UnB / UFGD) Assinatura:_________________________

    Prof.Dr. Regina Tereza Cestari de Oliveira

    Universidade Catlica Dom Bosco Assinatura:_________________________

    (UCDB)

    Prof. Dr. Elisngela Alves da Silva Scaff

    Universidade Federal da Grande Dourados Assinatura:__________________________

    (UFGD)

    Prof. Dr Maria Alice de Miranda Aranda - Suplente

    Universidade Federal da Grande Dourados Assinatura:__________________________

    (UFGD)

    Dourados, MS, 11 de maio de 2016.

  • iv

    Laus Deo Grafia, (significado: demos graas a Deus,

    Por havermos concludo um trabalho escrito cansativo)

    Chidura Vinci, (significado: Quem persiste vence, ou,

    sobre duras vitrias)

  • v

    Ao Eterno,

    Tambm s mulheres que simultaneamente so

    mes, esposas, trabalhadoras e estudantes,

    quelas que acreditam que o aprendizado

    acadmico soma-se s suas mltiplas

    performances femininas. Dedico.

  • vi

    AGRADECIMENTOS

    Estas linhas comecei a escrever dois anos atrs quando ainda nem tinha o esboo da

    dissertao. Digo isto porque o trabalho empenhado aqui, conquistado dia-a-dia, por demais

    significativo para mim.

    No decorrer da minha prtica profissional como catalogadora sempre gostei de investir

    tempo na leitura dos agradecimentos dos trabalhos acadmicos, em especial s teses e

    dissertaes. Isto porque, por repetidas vezes, a leitura dessa seo me surpreendia, pois, ao

    l-la, ia percebendo que uma produo acadmica no se faz a duas mos, mas, a muitas

    mos, olhares, ouvidos e vozes de coautores invisveis que deixam suas marcas e

    impresses nas entrelinhas Hoje afirmo que realmente so muitos os que contriburam para a

    consumao do meu mestrado. Aos coautores invisveis que fazem parte desta produo,

    registro aqui meu sincero muito obrigada!

    Primeiramente ao Eterno, meu primeiro e principal mestre, meu paizinho querido que

    sempre me toma pela mo e me conforta com seu caloroso colo paterno e sussurra: Vai filha,

    Eu Sou contigo!

    Agradeo em especial minha orientadora Marlia Fonseca que em sua humildade

    aceitou me orientar e literalmente pegou na minha mo para traar os primeiros esboos deste

    e outros trabalhos. Que com sua experincia me guiou ao trilhar o caminho certo da

    investigao cientfica.

    Aos sujeitos desta pesquisa, diretores, coordenadores e professores das escolas

    pesquisadas e servidores da Semed que se empenharam em colaborar compartilhando seus

    desafios frente s escolas e instituies que trabalham.

    s professoras doutoras Regina Cestari e Elisngela Scaff por aceitarem o convite em

    fazer parte das bancas de qualificao e defesa pelas valiosas contribuies e incentivos.

    Professora doutora Maria Alice Aranda Miranda, grande incentivadora desde antes

    do processo seletivo, pela motivao, auxlio preciso e pelo exemplo de como ser professora.

    s professoras doutoras Alessandra Cristina Furtado, Gisele Cristina Martins Real que

    muito contriburam com meu aprendizado na realizao dos crditos desse curso.

    Aos professores doutores Andria Vicncia e Fbio Perboni na conduo dos trabalhos

    do Grupo de Estudos Estados, Polticas e Gesto da Educao (GEPGE).

  • vii

    Universidade Federal da Grande Dourados que concedeu afastamento necessrio

    para a realizao do mestrado.

    Fundect/MS agncia financiadora da pesquisa em rede qual esta investigao se

    vincula.

    secretria do PPGEdu, Fernanda Santos Lima, pela dedicao e pacincia.

    Aos autores que deram a base do meu referencial terico, que certamente nunca

    chegaro a ler estas linhas, mas que sem eles seria impossvel escrever qualquer pargrafo

    agradeo pelo conhecimento emprestado atravs dos registros de suas produes cientficas.

    Aos colegas de turma Aline, Espedito, Franciele, Jos Jr. e Mary Anne, parceiros

    insubstituveis.

    s colegas veteranas, Fabiana, Adriana Trentin e a dinda Adriana Valado.

    Ao compreensivo coordenador da Biblioteca Central da UFGD, Paulo Gonalves de

    Arajo e aos colegas de trabalho pela motivao, apoio e por terem trabalhado em dobro para

    que eu pudesse me ausentar do setor de catalogao.

    inestimvel colega de trabalho Maria do Carmo Caetano pelo auxlio nas revises,

    pela ajuda com seu conhecimento tcnico e intelectual, apoio e incentivo de amiga e irm.

    E s outras colegas de trabalho da UFGD e grandes incentivadoras: Kellcia Rezende,

    Rosa Dantas, Markley Florentino, Mariana Travassos pelas palavras de estmulo.

    Simone Sandri, que foi um grande ganho oportunizado pelo pr-mestrado, grande

    apoiadora, motivadora.

    amiga bibliotecria Geneviane pela suas preciosas contribuies na leitura do

    projeto da seleo, correes das referncias, emprstimos de livros e pelas palavras ternas de

    carinho e incentivo.

    professora doutora em biblioteconomia da UEL, Ana Esmeralda Carelli, uma

    apaixonada pela leitura, que me oportunizou l em 1994 experimentar a iniciao cientfica.

    Aos meus sogros.

    As minhas irms Lucinha e Tta que talvez no compreendam dimenso do que

    trilhar um mestrado, mas que de longe sempre me incentivaram e oraram por mim.

  • viii

    FEITOSA, Maria Isabel Soares. O Plano de Aes Articuladas (PAR) na Rede Municipal

    de Ensino de Dourados, MS: a qualidade materializada nas prticas pedaggicas do ensino

    pblico fundamental. 2016. 204f. Dissertao (Mestrado em Educao) Faculdade de

    Educao. Universidade Federal da Grande Dourados, Dourados, 2016.

    RESUMO

    A presente dissertao insere-se na Linha de Pesquisa: Poltica e Gesto da Educao, do

    Programa de Ps-Graduao em Educao da Universidade da Grande Dourados (UFGD).

    Integra a pesquisa em rede financiada pela Fundao para o Desenvolvimento da Cincia e

    Tecnologia (FUNDECT/MS): Gesto das polticas educacionais no Brasil e seus

    mecanismos de centralizao e descentralizao: o desafio do PAR em escolas de ensino

    fundamental. Examina a materializao da Dimenso 03 do Plano de Aes Articuladas,

    referente s prticas pedaggicas e analisa a sua contribuio para a melhoria da qualidade

    educacional na Rede Municipal de Ensino de Dourados, MS. A pesquisa insere-se na

    modalidade qualitativa, sendo realizada por meio de reviso bibliogrfica e documental e de

    entrevistas com membros da Equipe Local do PAR, vinculados Secretaria Municipal de

    Dourados e que tenham trabalhado na implantao e execuo do referido plano. Foram

    ouvidos, tambm, gestores e professores de duas escolas pblicas municipais de ensino

    fundamental de Dourados. Os resultados da pesquisa evidenciam que a assistncia tcnica da

    Unio ainda insuficiente para atender as expectativas dos mais de cinco mil municpios que

    aderiram ao PAR. A assistncia financeira ocorre normalmente, por meio de recursos que o

    MEC repassa diretamente aos municpios. Dentre as aes que mais contribuem para o

    trabalho pedaggico das escolas, foram citadas as orientaes do PAR, que ajudam a efetuar o

    diagnstico e o planejamento das aes. No entender dos gestores da Secretaria (SEMED),

    dentre as aes previstas na Dimenso 03 do PAR, as que mais contribuem para a melhoria da

    qualidade do ensino no municpio so aquelas voltadas para a formao de professores. Os

    sujeitos escolares entrevistados corroboram esta opinio, mas destacam o Programa Mais

    Educao como o que repercute com mais intensidade no trabalho pedaggico da escola, visto

    que prepara o aluno para obter um bom desempenho nas avaliaes em larga escala. Foi

    unnime o entendimento dos interlocutores de que a qualidade educacional deve levar em

    conta outras questes valorativas, socioeconmicas e culturais que vo alm dos ndices do

    Ideb. No entanto, h o reconhecimento da importncia desse indicador para nortear as

    polticas pblicas educacionais no ensino pblico brasileiro.

    Palavras-chave: Regime de colaborao; Plano de Aes Articuladas; Prticas pedaggicas e

    Qualidade do ensino.

  • ix

    FEITOSA, Maria Isabel Soares. The Plan for Linked Actions (PAR) in the Municipal

    Teaching Network from Dourados, MS: the materialized quality in the pedagogical

    practices in the elementary public teaching. 2016. 204f. Dissertao (Mestrado em Educao)

    Faculdade de Educao. Universidade Federal da Grande Dourados, Dourados, 2016.

    ABSTRACT

    This work is inserted in the Research Line: Education Policy and Management, from the

    Postgraduate Program in Education at the Federal University of Grande Dourados (UFGD). It

    integrates the research in a network funded by FUNDECT/MS - Fundao para o

    Desenvolvimento da Cincia e Tecnologia (Foundation for the Development of Science and

    Technology): "Management of educational policies in Brazil and their mechanisms for

    centralization and decentralization: the challenge in elementary schools faced by the Plan for

    Linked Actions (henceforth referred to as PAR)." It examines the materialization of the

    dimension 3 of PAR, referring to the pedagogical practices and it analyzes their contribution

    to the improvement of the educational quality in the Network for Municipal Teaching in

    Dourados, MS. The research is inserted in the qualitative mode, being held by a literature and

    document review and interviews with members of the PAR local team who are linked to the

    Municipal Secretary Office in Dourados and who have worked in the implantation and

    execution of the PAR. Managers and teachers from two local public elementary schools in

    Dourados were heard, too. The results of the survey show that the technical assistance of the

    Union is still insufficient to meet the expectations of more than five thousand municipalities

    that joined the PAR. The financial aid usually occurs by means of the resources that MEC

    passes directly to municipalities. Among the actions that contribute to the educational work in

    schools, the guidelines by PAR were cited and they helped to diagnose and plan the actions.

    According to the managers of the board named SEMED, among the actions planned in the

    dimension 3 of PAR, those related to teacher training are the ones which contribute the most

    to improving the quality of education in the municipality. The interviewed school subjects

    corroborate this view, but they highlight the Program More Education as the one that

    resonates with more intensity in the school pedagogical work, since it prepares the student to

    get a good performance in the large-scale assessments. It was unanimous the way in which

    there was an understanding among the interlocutors about the educational quality and the fact

    that it must take into account other evaluative, socioeconomic and cultural issues that go

    beyond Ideb indexes. However, the importance of this indicator is recognized since it guides

    the educational policies within the Brazilian public education.

    Key words: Collaboration arrangements; Plan for Linked Actions; Pedagogical practices and

    Teaching quality.

  • x

    LISTA DE ILUSTRAES

    Figura 1 - Localizao dos municpios em Mato Grosso do Sul..............................

    Figura 2 - Localizao do municpio de Dourados, MS...........................................

    77

    78

  • xi

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Quantitativo de Teses e Dissertaes nos Bancos de Dados CAPES e

    IBICT.......................................................................................................

    Tabela 2 - Mdia do Ideb nos Anos Iniciais e Finais das Escolas selecionadas em

    2007.........................................................................................................

    Tabela 3 - Ideb das escolas pblicas municipais de Dourados 5 ano do ensino

    fundamental.............................................................................................

    Tabela 4 Ideb das Escolas pblicas municipais de Dourados 9 ano do ensino

    fundamental.............................................................................................

    Tabela 5 Populao e evoluo do Ideb do municpio de Dourados, MS.............

    Tabela 6 - Nmero de escolas de Educao Bsica Dourados -MS 2009..........

    Tabela 7 - Nmeros de matrcula por etapa da Educao Bsica em Dourados,

    MS 2007-2012......................................................................................

    Tabela 8 - Populao por faixa etria de escolarizao Dourados MS -2010.......

    Tabela 9 - Resultados da Prova Brasil Rede Municipal de Ensino de Dourados,

    MS............................................................................................................

    Tabela 10 - IDEB Rede Municipal Dourados, MS - 4 Srie/ 5 Ano (Anos

    iniciais).....................................................................................................

    Tabela 11 - IDEB Rede Municipal Dourados, MS - 8 Srie/ 9 Ano (Anos

    Finais).....................................................................................................

    10

    32

    33

    35

    77

    81

    81

    82

    82

    83

    83

  • xii

    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 Temas presente nas Teses e Dissertaes........................................................

    Quadro 2 Dissertaes e Teses concludas - REPLAG (2011 2014)...........................

    Quadro 3 Estrutura da Dimenso 03 do PAR 2011-2014 Prticas pedaggicas e

    Avaliao do PAR...........................................................................................

    Quadro 4- Estratgias do PNE 2014-2024 que fazem aluso ao Regime de

    Colaborao.......................................................................................................

    Quadro 5 Alteraes observadas entre o primeiro e segundo ciclo do PAR .................

    Quadro 6 reas que compe a Dimenso 03 do PAR .................................................

    Quadro 7 Comparativo das mudanas ocorridas nos instrumentos de elaborao das

    aes do PAR referente aos dois primeiros ciclos..........................................

    Quadro 8 Aes geradas pelo diagnstico do PAR (2011-2014)...................................

    11

    14

    21

    53

    63

    71

    73

    102

  • xiii

    LISTA DE SIGLAS

    AEE Atendimento Educacional Especializado

    ANEB - Avaliao Nacional da Educao Bsica

    ANPAE Associao Nacional de Poltica e Administrao da Educao

    ANPED Associao Nacional de Ps-Graduao e Pesquisa em Educao

    APM Associao de Pais e Mestres

    CE Conselhos Escolares

    CEIM Centro de Educao Infantil Municipal

    CF Constituio Federal

    CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico

    CONAE Conferncia Nacional de Educao

    EC Emenda Constitucional

    EJA Educao de Jovens e Adultos

    FIES Fundo de Financiamento Estudantil

    FNDE Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educao

    FUNDEB - Fundo de Manuteno e Desenvolvimento da Educao Bsica e de Valorizao

    de Profissionais da Educao

    FUNDECT - Fundao de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico

    GEPGE Grupo de Estudos Estado, Poltica e Gesto da Educao.

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    IDEB ndice de Desenvolvimento da Educao Bsica

    IDHM - ndice de Desenvolvimento Humano Municipal

    IFET Institutos Federais de Educao Cincia e Tecnologia

    INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira

    LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional

    MEC Ministrio da Educao e Cultura

    MS Mato Grosso do Sul

    OCDE Organizao para Cooperao e Desenvolvimento Econmico

    PAC Programa de Acelerao do Crescimento

    PAR Plano de Aes Articuladas

    PDE Plano de Desenvolvimento da Educao

  • xiv

    PDE-Escola Plano de Desenvolvimento da Escola

    PISA Programa Internacional de Avaliao de Alunos

    PME Plano Municipal de Educao

    PNE Plano Nacional de Educao

    PNLD - Programa Nacional do Livro Didtico

    PPGEdu - Programa de Ps-Graduao em Educao

    PPP Projeto Poltico Pedaggico

    PROUNI Programa Universidade para Todos

    PT Partido dos Trabalhadores

    SAEB - Sistema de Avaliao da Educao Bsica

    SEB Secretaria de Educao Bsica (MEC)

    SEMED - Secretaria Municipal de Educao de Dourados

    SIMEC Sistema Integrado de Monitoramento, Execuo e Controle do Ministrio da

    Educao

    SME Sistema Municipal de Educao

    UCDB Universidade Catlica Dom Bosco

    UEMS - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

    UFBA Universidade Federal da Bahia

    UFES Universidade Federal do Esprito Santo

    UFGD Universidade Federal da Grande Dourados

    UFMS Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

    UFV Universidade Federal de Viosa

    UnB Universidade de Braslia

    UNDIME Unio Nacional dos Dirigentes Municipais de Educao

    UNESCO Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura.

    UNIMONTES Universidade Estadual de Montes Claros

  • xv

    SUMRIO

    INTRODUO.....................................................................................................................

    CAPTULO I - FEDERALISMO BRASILEIRO: O REGIME DE COLABORAO

    E SUA IMPLICAO PARA A GESTO DO ENSINO

    FUNDAMENTAL.................................................................................................................

    1.1 O Federalismo brasileiro e suas implicaes para o desenvolvimento das polticas pblicas ............................................................................................................................

    1.2 Como a LDB considera o regime de colaborao?.........................................................

    1.3 Como o regime de colaborao entre os entes federados anunciado na Carta

    Constitucional e nos Planos Nacionais de Educao (PNE 2001-2010 e PNE 2014-

    2024)..................................................................................................................................

    1.4 O PAR como estratgia para materializar o regime de colaborao entre o MEC e os

    entes municipais............................................................................................................

    CAPTULO II - O PDE COMO POLTICA PBLICA PARA IMPULSIONAR O

    REGIME DE COLABORAO E A QUALIDADE EDUCACIONAL E O PAR

    COMO INSTRUMENTO PARA A SUA MATERIALIZAO...................................

    2.1 O Plano de Desenvolvimento da Educao (PDE) como estratgia de governo para o

    desenvolvimento do ensino fundamental e o PAR como seu instrumento operacional....

    2.2 O PAR como meio para impulsionar a qualidade do ensino fundamental......................

    2.3 A qualidade delineada no PAR: o Ideb como referncia central e as apreciaes sobre a

    sua relevncia................................................................................................................

    2.4 Prticas pedaggicas conforme expressas na Dimenso 03 do PAR ................................

    CAPTULO III - OBSTCULOS E AVANOS NO PROCESSO DE EXECUO

    DA DIMENSO 03 DO PAR NO MUNICPIO DE DOURADOS, MS:

    IMPLICAES PARA A MELHORIA DA QUALIDADE DO ENSINO

    FUNDAMENTAL..................................................................................................................

    1

    37

    38

    46

    49

    54

    57

    57

    61

    66

    71

    76

  • xvi

    3.1 A execuo do segundo ciclo do PAR (2011-2014) em Dourados, MS: limites e

    possibilidades para consolidar a colaborao entre os entes e para impulsionar a

    execuo das aes do PAR..............................................................................................

    3.1.1 A descontinuidade poltica do municpio afetando o fluxo das aes do PAR.............

    3.1.2 A centralizao da gesto: embarao ao processo de articulao da equipe local com

    as escolas.....................................................................................................................

    3.1.3 Como a Semed se articula com as escolas?..................................................................

    3.1.4 Se as dificuldades so muitas, h tambm os benefcios: O PAR garante a

    continuidade das aes, organiza o planejamento e a sistematizao das

    metas...........................................................................................................................

    3.2 Em que medida as prticas pedaggicas interferem na qualidade do ensino de

    Dourados? Em foco o Ideb e a Prova Brasil.................................................................

    3.3 A qualidade entendida pelos sujeitos entrevistados..........................................................

    3.3.1 As formaes como ao nuclear das prticas pedaggicas..........................................

    CONSIDERAES SOBRE OS DADOS EMPRICOS DA PESQUISA.....................

    REFERNCIAS......................................................................................................................

    APNDICES

    ANEXOS

    84

    87

    91

    95

    98

    101

    112

    116

    124

    130

  • INTRODUO

    Esta dissertao investiga o processo de planejamento e a execuo das aes

    conhecidas como Prticas Pedaggicas, propostas na terceira dimenso do Plano de Aes

    Articuladas (PAR), implantado em 2007 pelo Ministrio da Educao (MEC). Analisa a

    contribuio das Prticas Pedaggicas para a melhoria da qualidade das escolas de ensino

    fundamental no municpio de Dourados, MS. Vincula-se rea de concentrao Histria,

    Polticas e Gesto da Educao, do Programa de Ps-Graduao em Educao (PPGEdu) da

    Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), especificamente, na linha de pesquisa

    Polticas e Gesto da Educao.

    A dissertao parte integrante das pesquisas desenvolvidas pela Rede de Estudos e

    Pesquisas em Planejamento e Gesto da Educao (REPLAG) que, em 2009, deu incio aos

    estudos sobre o Plano de Aes Articuladas com a pesquisa denominada: Gesto das

    polticas educacionais no Brasil e seus mecanismos de centralizao e descentralizao: o

    desafio do PAR. A pesquisa foi desenvolvida no perodo de 2009 a 2011, por meio de uma

    rede que incluiu a participao de pesquisadores e acadmicos de graduao e ps-graduao

    das seguintes universidades brasileiras: Universidade de Braslia (UnB), Universidade Federal

    do Esprito Santo (UFES), Universidade Federal de Viosa (UFV), Universidade Federal da

    Bahia (UFBA), Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), Universidade Catlica

    Dom Bosco (UCDB), Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Universidade

    Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) e Universidade Estadual do Maranho (UEMA). Os

    trabalhos foram coordenados pelas professoras Marlia Fonseca, da Universidade de Braslia

    (UnB) e Eliza Bartolozzi Ferreira, da Universidade Federal do Esprito Santo (UFES). Nessa

    primeira fase, contou com o apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento

    Cientfico (CNPq).

    A continuidade a essa primeira investigao se d por meio de outra pesquisa, desta

    vez com foco nas escolas de ensino fundamental que, de igual modo, est sendo desenvolvida

  • 2

    em rede interinstitucional, denominada Gesto das polticas educacionais no Brasil e seus

    mecanismos de centralizao e descentralizao: o desafio do PAR em escolas de ensino

    fundamental. coordenada pelas professoras Marlia Fonseca, do Programa de Ps-

    Graduao em Educao da Universidade de Braslia (UnB) e Elisngela Alves da Silva Scaff

    da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD). O objetivo monitorar1 a execuo

    do PAR em quatro municpios sul-mato-grossenses (Apndice A), identificando o impacto do

    apoio tcnico e financeiro da Unio para o avano da capacidade de cada municpio no

    planejamento do seu sistema educacional e na melhoria da qualidade da educao escolar.

    Conta com o financiamento da Fundao de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico

    (FUNDECT/MS) e com a participao de docentes, mestrandos e doutorandos dos Programas

    de Ps-Graduao das seguintes universidades: Universidade de Braslia (UnB), Universidade

    Catlica Dom Bosco (UCDB), Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS),

    Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) e Universidade Federal da Grande

    Dourados (UFGD).

    A investigao a que se prope a presente dissertao d seguimento quelas pesquisas

    realizadas no mbito da REPLAG desde o ano de 2009, investigando em que medida as aes

    propostas na Dimenso 03 do PAR, referente s prticas pedaggicas, contribuem para a

    melhoria da qualidade educacional na rede municipal de ensino de Dourados/MS.

    Como eixo norteador desta proposta de estudo, partimos do pressuposto de que as

    Secretarias Municipais de Educao (SMEs) posicionam-se como agentes basilares no

    cumprimento do seu papel voltado para a elaborao e acompanhamento do processo de

    planejamento educacional do municpio e para prestarem auxlio s escolas que compem sua

    rede de ensino. Uma das aes positivas do PAR foi incentivar a elaborao de um

    diagnstico sobre a situao da educao nos municpios que serviu, tambm, como

    instrumento para que os mesmos repensassem seus planos e, at mesmo, iniciassem um

    processo permanente de planejamento municipal.

    Ianni (1995, p. 309) esclarece que o planejamento um processo que comea e

    termina no mbito das relaes e estruturas de poder. Entendemos que o planejamento

    educacional emerge das altas esferas governamentais, local onde so elaboradas as polticas

    1Monitoramento, para efeito da pesquisa, tem o sentido de acompanhar as aes de planejamento para conhecer

    e analisar o desdobramento do PAR, verificando quais as aes foram efetivamente realizadas pelas Secretarias

    Municipais de Educao, com intuito de compreender quais as dificuldades financeiras, administrativas e

    tcnicas que dificultam a sua execuo.

  • 3

    educacionais, e passando pelos rgos administrativos pertencentes ao sistema de ensino, nas

    redes estaduais e municipais de ensino at chegar s escolas, onde as polticas so

    materializadas por meio do planejamento municipal escolar local.

    Visto dessa perspectiva, o planejamento local de aes indutoras para a melhoria do

    ensino condio primordial para o bom funcionamento da escola com vistas a propiciar

    ambiente de aprendizagem que alcance um ensino de qualidade. O planejamento possibilita o

    ajustamento necessrio dessa estrutura, e, para tanto, traa estratgias para que o ensino-

    aprendizagem se consolide com alguma direo para a melhoria do sistema educacional.

    Portanto, a gesto da educao municipal tem o dever de desenvolver aes no sentido de

    garantir o suporte necessrio s escolas para que estas melhorem seu trabalho pedaggico e

    com isso melhorem os ndices de qualidade perseguidos pelas polticas educacionais em nvel

    nacional.

    Levando-se em conta que a orientao da Unio Nacional dos Dirigentes Municipais

    em Educao (UNDIME) dirigida s Secretarias Municipais de Educao referente ao

    planejamento educacional [...] sabendo das principais diretrizes estabelecidas nacionalmente

    para a superao dos baixos indicadores educacionais, cabe ao gestor municipal planejar as

    aes da sua Secretaria e se estruturar de maneira que o municpio possa atingir as metas

    (UNIO, 2013, p. 43). A principal meta a que o documento se refere a melhoria na

    qualidade da educao, com vistas a alcanar o Ideb 6,0 em 2021.

    Ao se observar a evoluo do ndice de Desenvolvimento da Educao (IDEB) do

    Brasil de 2007 a 2013, houve melhoria nesse indicador; no entanto, existe um caminho

    trabalhoso a ser percorrido para o alcance das metas estabelecidas pelo governo at o ano de

    2021. Almejando isso, o MEC, durante o governo Luiz Incio Lula da Silva (2003-2010),

    entendeu que precisaria lanar mo de ferramentas que iriam direcionar o planejamento de

    polticas para o campo do desenvolvimento da educao quando afirmou naquela poca que

    coloca disposio dos entes federativos, instrumentos eficazes de avaliao e de

    implementao de polticas de melhoria da qualidade da educao, sobretudo da educao

    bsica pblica (BRASIL, 2011b) referindo-se ao Plano de Metas Compromisso de Todos

    pela Educao como um programa estratgico do Plano de Desenvolvimento da Educao

    (PDE), em especial, destaca-se a ferramenta de planejamento denominada Plano de Aes

    Articuladas (PAR) implantado em 2007, como instrumento de apoio tcnico e financeiro para

  • 4

    promover a melhoria do Ideb dos entes federativos. (FERREIRA; FONSECA, 2011;

    FONSECA, 2014)

    Oficialmente, o PDE foi lanado em 24 de abril de 2007, simultaneamente

    promulgao do Plano de Metas Compromisso Todos pela Educao (BRASIL, 2007a) por

    meio do Decreto n. 6.094, de 24 de abril de 2007.

    A composio do PDE faz-se por meio de 41 aes, tido como um grande guarda-

    chuva que abriga praticamente todos os programas em desenvolvimento pelo MEC.

    (SAVIANI, 2009a, p. 5).

    De acordo com o documento oficial (BRASIL, 2008a), trata-se de um plano executivo,

    constitudo por programas divididos em quatro eixos norteadores: educao bsica, educao

    superior, educao profissional e alfabetizao.

    Ferreira e Fonseca (2011) apontam a essncia do PDE quando este se prope a garantir

    a organicidade das aes locais por meio de uma perspectiva sistmica da educao,

    [...] isto , v o ensino fundamental relacionado ao ensino superior, o

    incentivo pesquisa influindo no ensino mdio, o transporte escolar

    articulado com a remunerao dos professores. Assim formatado, o PDE se

    constitui como um plano estrutural de longo prazo e pressupe a superao

    da tradicional fragmentao das polticas educacionais e o dilogo entre os

    entes federativos. (FERREIRA; FONSECA, 2011, p.84)

    Segundo o excerto anterior, a proposta do PDE afirma a inteno de garantir a

    articulao entre aes educativas, programas, propostas e polticas, por meio de um esforo

    conjunto entre a Unio, estados, Distrito Federal e municpios para a garantia do direito

    educao no Pas. Portanto, a colaborao entre os entes federativos fundamental para a sua

    execuo. Segundo o documento oficial isso significa compartilhar competncias polticas,

    tcnicas e financeiras para executar os programas e aes. Dessa forma, a Unio passou, com

    o PDE, a assumir mais compromissos perante os estados, os municpios e o Distrito Federal,

    para, respeitando os princpios federativos, dar unidade ao desenvolvimento da educao e

    corrigir as distores que geram desigualdades (FERREIRA; FONSECA, 2013, p.287).

    Para viabilizar polticas efetivas de interveno e transformao da realidade

    educacional, o MEC props que os entes federativos trabalhassem em regime de colaborao

    para a viabilizao do que prope o PDE com vistas melhoria da qualidade educacional.

    Segundo Ferreira e Fonseca (2011, p. 83) o PDE tem a finalidade de, complementarmente ao

    Fundeb, consolidar o regime de colaborao, proporcionar maior autonomia aos entes

  • 5

    federados, enfim contribuir para a equalizao da oferta educacional e para a sua melhor

    qualidade o que pressupe a participao da Unio, estados e municpios em prol do

    cumprimento das 28 diretrizes colocadas no PDE. Para conseguir atingir esse objetivo o

    elemento estratgico a elaborao, pelos entes federados, de planos de aes articuladas para

    o campo educacional, de modo a fortalecer o pacto federativo.

    O documento que explica as razes e princpios do PDE de autoria do ministro da

    educao Fernando Haddad (2008, p. 7), esclarece que os propsitos do PDE tornam o

    regime de colaborao um imperativo inexorvel ao mesmo tempo em que clarifica que o

    Regime de colaborao significa compartilhar competncias polticas, tcnicas e financeiras

    para a execuo de programas de manuteno e desenvolvimento da educao, de forma a

    concertar a atuao dos entes federados sem ferir-lhes a autonomia (idem, p. 8).

    Para dar concretude, ao referido regime colaborativo o instrumento jurdico o Plano

    de aes Articuladas (PAR). Este apresentado como uma proposta democrtica, porque

    pressupe a participao de gestores, educadores e comunidade na sua elaborao de modo a

    viabilizar polticas efetivas de interveno e transformao da realidade educacional, em

    regime de colaborao entre os entes federativos. Nesses moldes as prefeituras passaram a se

    relacionar diretamente com o MEC.

    O Plano tem carter plurianual, construdo com a participao dos gestores e

    educadores locais, baseado em diagnstico de carter participativo e elaborado a partir da

    utilizao do Instrumento de Campo (BRASIL, 2008a) que permite a anlise compartilhada

    do sistema educacional em quatro dimenses: gesto educacional, formao de professores e

    dos profissionais de servio e apoio escolar, prticas pedaggicas e avaliao, infraestrutura

    fsica e recursos pedaggicos. (ALBUQUERQUE, 2013b, p. 160).

    As pesquisadoras Ferreira e Fonseca (2013) consideram o PAR como ferramenta

    executiva do governo, portanto merecedora de monitoramento de suas aes,

    [...] compreendido como indutor de polticas pblicas que objetiva o

    fortalecimento dos sistemas locais, proporcionando maior autonomia na

    gesto da educao, assim como nas polticas de gesto democrtica [...] o

    PAR uma ferramenta de planejamento, de operacionalizao e de avaliao

    das polticas educacionais criadas dentro dos moldes de um governo

    federativo (FERREIRA; FONSECA, 2013, p. 288-289).

    Para o MEC, o PAR um instrumento de planejamento quadrienal da educao,

    podendo ser considerado um plano estratgico de carter plurianual e multidimensional que

    possibilita a converso dos esforos e das aes do MEC, das Secretarias de Estado e

  • 6

    Municpios, num Sistema Nacional de Educao. A elaborao do PAR pelos municpios

    requisito necessrio para o recebimento de assistncia tcnica e financeira do MEC por meio

    do Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educao (BRASIL, 2011a).

    O PAR toma como indicador de qualidade o ndice de Desenvolvimento da Educao

    Bsica (IDEB). A principal funo desse ndice avaliar o nvel de aprendizagem dos alunos.

    Toma por parmetro o rendimento de alunos de 4 e 8 sries do ensino fundamental e da 3

    srie do ensino mdio nas disciplinas de lngua portuguesa e matemtica, alm dos

    indicadores de fluxo (taxas de promoo, repetncia e evaso escolar) numa escala de 0 a 10.

    A meta do Ideb em chegar nota 6,0 progressivamente at 2021, equiparando-se ao ranking

    dos ndices obtidos pelos pases com maior desenvolvimento educacional, estabelecidos pela

    Organizao para Cooperao e Desenvolvimento Econmico (OCDE). A educao bsica

    brasileira tem uma mdia aproximada de quatro pontos em uma escala que vai de zero a dez.

    (COSTA e COSTA, 2013).

    Justificando a escolha do tema

    Antes de entrar na escolha do tema apresenta-se aqui a constituio da trajetria

    pessoal e formao inicial da pesquisadora enquanto principiante na arte da pesquisa

    acadmica.

    Com formao em biblioteconomia e especializao na mesma rea, e por ter sido

    iniciante na pesquisa cientfica por meio de projeto do CNPq/PIBIC em 1994, na rea de

    leitura recreativa infantil em bibliotecas pblicas, lcito afianar que, uma vez tendo

    experimentado do entusiasmo dos primeiros passos conduzidos pela iniciao cientfica, foi

    plantada uma sementinha que ficou amanhada num solo onde certamente, em algum tempo,

    iria germinar. Com esta mestranda no foi diferente, pois, passados 18 anos, eclodiu o desejo

    de retornar ao ambiente acadmico e pesquisa. Nesse nterim, mesmo diante das injunes

    da vida, ainda foi possvel a concluso de uma ps-graduao lato sensu em Gerncia de

    Unidades de Informao para anos mais tarde aventurar-se no mbito do stricto sensu na rea

    de Educao a quem atribuo ganhos incalculveis.

    Mesmo possuindo formao fora da rea pedaggica, as questes relativas rea da

    educao sempre estiveram presentes no mbito pessoal e na lide como profissional

  • 7

    bibliotecrio, primeiro em escola de ensino tcnico profissionalizante, depois no ensino

    superior. Em 2013, surgiu a oportunidade de cursar a disciplina Estudos em Gesto da

    Educao do Programa de Mestrado em Educao da FAED/UFGD, na qualidade de aluna

    especial. Essa experincia proporcionou-nos esclarecimentos na compreenso dos referenciais

    tericos da gesto educacional e organizao dos sistemas de educao bsica no Brasil.

    Naquela oportunidade, foi possvel compreender as relaes entre as polticas voltadas

    educao e a problematizao das questes relativas gesto democrtica, bem como, suas

    influncias diretas no ambiente escolar e para a sociedade. O contedo desta disciplina

    propiciou uma desconstruo do que se concebia por gesto escolar, apresentando-se como

    elemento indispensvel no desencadeamento da maturao da ideia de como tratar o objeto de

    pesquisa proposto aqui por meio de uma reflexo mais cuidadosa.

    Acredita-se que a reflexo mais acurada sobre as polticas pblicas educacionais e sua

    materializao no planejamento municipal trar tambm proveito profissional, no sentido de,

    futuramente, apresentar propostas de aproximao entre o ambiente da biblioteca universitria

    local de trabalho da mestranda e as escolas pblicas municipais por meio da articulao de

    projetos conjuntos com a rede pblica municipal de ensino pode auxiliar os educadores que

    trabalham nas bibliotecas escolares no sentido de utilizar tcnicas apropriadas para o

    desenvolvimento e melhores prticas de conservao dos acervos das escolas douradenses.

    Pessoalmente, o desafio em cursar o mestrado em Educao na FAED/UFGD

    apresentou-se como oportunidade mpar de aprofundamento aos estudos. Curs-lo dentro de

    uma linha de pesquisa que permita entender como so construdas as polticas pblicas e

    observar o desenvolvimento do planejamento educacional certamente ser oportuno para

    carreira profissional estando assim, melhor subsidiada para o enfrentamento de desafios

    profissionais no futuro, e tambm porque amplia a possibilidade de atuao profissional.

    Enquanto contribuio para a vida pessoal, a experincia a ser adquirida no

    desenvolvimento do mestrado, certamente, so enriquecedoras e contributivas para a soluo

    de problemas pessoais e profissionais, pois, como cogita Severino (2007, p. 44), ao falar dos

    ambientes acadmicos, na ps-graduao o ambiente propcio para uma imerso num

    universo terico onde acontece o incitamento da provocao de reflexo e de pesquisa, local

    onde ocorre a problematizao, por isso acredita-se que por meio do aprendizado na

    resoluo de desafios acadmicos corrobora tambm para o aprendizado da resoluo dos

    problemas nos outros aspectos da vida social, pessoal e profissional na medida em que no

  • 8

    decorrer da caminhada se aprende a contornar as diversas situaes fora do mbito acadmico

    que surgem nesse perodo.

    Cabe observar que a incluso no grupo de pesquisa interinstitucional Gesto das

    polticas educacionais no Brasil e seus mecanismos de centralizao e descentralizao: o

    desafio do PAR em escolas de ensino fundamental constituiu estmulo determinante para a

    proposta deste estudo. Por se tratar de uma investigao que reporta s polticas pblicas para

    a melhoria da educao bsica, o estudo certifica sua relevncia pela oportunidade em dar a

    conhecer ao ambiente acadmico a observao de certa faceta do instrumento atual de

    planejamento educacional e tambm s secretarias municipais algum conhecimento

    complementar para a reflexo sobre suas prticas.

    A propositura em continuar estudando a temtica desenvolvida na mencionada

    pesquisa apresenta-se como relevante enquanto contributo reflexo e ao debate acadmico

    na rea de polticas educacionais com vistas a demonstrar que o investimento no planejamento

    estatal da educao e acompanhamento do trabalho pedaggico de especial importncia para

    melhoria da qualidade do ensino fundamental.

    Por mais que o assunto qualidade na educao seja bastante discutido por estudiosos

    de renome no mbito das polticas pblicas, o fato do PAR se propor como estratgico para

    alcance de seu objetivo fim, a melhoria da qualidade, estudar esta categoria em especial ainda

    se faz pertinente, como validado por Azevedo (2011b) quando analisa aspectos relacionados a

    questes colocadas sobre a qualidade educacional. Alega a autora que:

    [...] de fato, no se trata de um tema novo ou inovador, capaz de despertar a

    busca de resposta a questes complexas e desafiadoras. Entretanto, por isto

    que pensar sobre ele, a partir das nossas experincias de pesquisa, ganha

    relevncia e importncia, no mbito do debate sobre as polticas pblicas

    para a educao (AZEVEDO, 2011b, p. 411).

    Assim, o estudo vai permitir investigar como ocorre o movimento da poltica

    governamental da atualidade no instante em que se debrua na anlise da fase de

    monitoramento2 das aes propostas pela poltica implementada

    3, ao perceber que o Plano de

    Aes Articuladas possui em sua gnese caractersticas de poltica pblica que pode ser

    2Reitera-se que Monitoramento, para efeito desta pesquisa, tem o sentido de acompanhar as aes de

    planejamento para conhecer e analisar o desdobramento do PAR, verificando quais as aes foram efetivamente

    realizadas pelas Secretarias Municipais de Educao, com intuito de compreender quais as dificuldades

    financeiras, administrativas e tcnicas que dificultam a sua execuo. 3 Dennis Palumbo (1994, p. 50) defende que a elaborao de uma poltica feita de um processo sequencial ou

    cronolgico, ou seja, feita em ciclo com as seguintes fases: a organizao da agenda, a formulao, a

    implementao e a avaliao.

  • 9

    conceituada como um processo ou a uma srie histrica de intenes, aes e

    comportamentos de muitos participantes na consecuo de atividades prprias s funes

    legtimas do governo para solucionar problemas pblicos (PALUMBO, 1989, p. 38). No

    caso do presente estudo, ressaltam-se as aes que convergem para o planejamento

    educacional adotado pelo governo federal com vistas melhoria educacional.

    Nessa direo, esclarece-se que as polticas pblicas abordadas no decorrer desta

    investigao tomam por entendimento o Estado em ao conforme anunciado por Gobert e

    Muller (1987 citado por HOFLING, 2001, p. 31), ou seja, o Estado implantando um

    projeto de governo, atravs de programas, de aes voltadas para setores especficos da

    sociedade que tem implicaes diretas no cidado em formao que frequenta a escola

    pblica (HOFLING, 2001, p. 31).

    No caso do PAR, e, consequentemente do planejamento municipal da educao,a

    analise desta poltica tem que ser inferida a partir da srie de aes e comportamentos

    intencionais de muitas agncias e funcionrios governamentais envolvidos na execuo da

    poltica ao longo do tempo (PALUMBO, 1994, p. 31). Por isso, este estudo privilegiou a

    coleta de informaes de servidores envolvidos com o PAR da secretaria municipal de

    educao e tambm com o olhar de sujeitos escolares que possibilitam compreender como

    essa poltica vem se desenvolvendo no municpio de Dourados, MS.

    Problematizando o tema e o objeto de pesquisa

    O PAR se encontra em sua terceira fase de execuo e, por isso, j possvel perceber

    as dificuldades administrativas e financeiras que emperram o seu desenvolvimento bem como

    os avanos que o impelem rumo melhoria da qualidade do ensino.

    Pesquisa e estudos j realizados sobre o PAR indicam alguns resultados que permitem

    observar e debater o emprego dessa poltica na dinmica institucional do Estado (SCAFF e

    OLIVEIRA, 2014, p. 12). Entre outros achados revelam4que o PAR enfrenta algumas

    dificuldades estruturais e conceituais como o que foi constatado por Amorim (2011) quando

    afirmou que os municpios estudados por ela esto deixando de construir seu prprio conceito

    de qualidade e aderindo ao conceito nacional em troca de maior assistncia por parte do MEC.

    4resultados dos estudos no mbito da Rede de pesquisas a que essa dissertao se vincula - REPLAG

  • 10

    De modo a dar maior consistncia a esta investigao, foi realizado um levantamento

    dos estudos e pesquisas que tm o PAR como objeto de anlise. A inteno perceber como a

    sua implementao vem sem sendo avaliada em outros contextos.

    O que indicam os estudos e pesquisas sobre a efetividade do PAR?

    Para verificar as reas de abrangncia de estudos sobre PAR realizou-se um

    levantamento bibliogrfico da produo acadmica na ps-graduao de diferentes

    universidades brasileiras, mais especificamente em teses e dissertaes no perodo entre 2007

    e dezembro de 2015.

    O mecanismo empregado para realizao dessa atividade foi o levantamento

    bibliogrfico na Biblioteca Digital de Teses e Dissertaes (BDTD) disponvel no site do

    Instituto Brasileiro de Informao em Cincia e Tecnologia (IBICT) e tambm no site da

    Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES) por meio do Banco

    de Teses e dissertaes da Capes.

    Do levantamento nesses dois bancos de dados, resultou um total de 41 trabalhos.

    Destes, 09 estudos apareceram em concomitncia nos dois repositrios, restando 32 trabalhos

    para anlise, sendo que 23 estavam disponveis na Biblioteca Digital do Ibict e 18 no banco de

    teses da Capes.

    O levantamento revelou que o PAR, at aquele momento, tinha sido pesquisado em

    nove estados a saber, Bahia, Distrito Federal, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas

    Gerais, Par, Pernambuco, Rio Grande do Sul e So Paulo. Sendo mais pesquisados nos

    cursos de mestrado do que doutorado, conforme tabela1.

    Tabela 1 Quantitativo de Teses e Dissertaes nos Bancos de Dados CAPES e IBICT

    ANO DE DEFESA

    NVEL DO TRABALHOACADMICO TOTAL

    MESTRADO DOUTORADO

    2008 - - 0

    2009 1 1 2

    2010 2 1 3

    2011 4 - 4

    2012 9 4 13

    Continua...

  • 11

    continuao.

    2013 3 1 4

    2014 1 4 5

    2015 1 - 1

    TOTAL 21 11 32

    Fonte: elaborao prpria a partir de informaes coletadas nos bancos de teses e dissertaes BDTD/IBICT e

    CAPES dez.2015

    Quanto natureza dos trabalhos, foram localizadas 21 dissertaes de mestrado e 11

    teses de doutorado, provenientes das seguintes universidades: UCDB; UEMT; UFBA; UFGD;

    UFMG; UFMT; UFPA; UFRGS; UNESP; UNICAMP e UNISINOS. Apenas um estudo trata-

    se de produto de mestrado profissional em Administrao, os outros so mestrados

    acadmicos em Educao.

    Percebe-se um predomnio de 40,6% de defesas das pesquisas no ano de 2012, ou seja,

    um ano aps o primeiro quadrinio aps o lanamento do PAR.

    Cabe ressaltar que nos importantes espaos de comunicao cientfica como Anpae e

    Anped encontram-se diversas publicaes sobre o PAR. Para fins desta investigao, optou-se

    por dar destaque aos estudos empricos advindos somente de programas de ps-graduao.

    Observou-se da leitura dos objetivos das dissertaes que, no perodo pesquisado, no

    houve estudos analisando a Dimenso 03 do PAR especificamente. Pode-se perceber ainda

    que a maioria dos estudos cuidou em averiguar o PAR como instrumento de planejamento das

    aes dos municpios para se adequar ao Plano de Metas do governo federal.

    Quadro 1 Temas presente nas Teses e Dissertaes

    TEMAS AUTORES

    Anlise de poltica (monitoramento /

    Anlise de Programas educacionais)

    Rossi (2010); Borges (2012); Correa (2012); Lucena (2012);

    Ribeiro (2012); Siqueira (2012); Lyrio (2013); Miziara (2014);

    Nicoletti (2014)

    Filosofia aplicada educao Soares (2012)

    Formao docente Lazari (2012); Albuquerque (2013)

    Gesto democrtica Antonini (2012); Gallina (2013)

    Implementao / Adeso Mafassioli (2011); Alves (2012); Antunes (2012); Roos (2012);

    Diniz (2014); Schuch (2014);

    Continua...

  • 12

    continuao.

    Prticas pedaggicas Mendona (2010); Voss (2012)

    Qualidade educacional Oliveira (2010); Amorim (2011); Silva (2011); Oliveira (2015)

    Regime de colaborao (Autonomia,

    Descentralizao)

    Camini (2009); Santana (2011); Grinkraut (2012); Martins

    (2012); Marchand (2012); Arruda (2013);

    Fonte: elaborao prpria. Dados coletados nos bancos de teses e dissertaes BDTD e CAPES 2015

    O quadro 1 foi elaborado a partir da leitura dos resumos desses estudos e permite

    observar que os temas mais investigados referem-se ao acompanhamento das aes de

    programas especficos arrolados no PAR; da investigao sobre a adeso e implementao do

    PAR pelos municpios e as questes pertinentes ao Regime de colaborao que essa proposta

    de planejamento envolve.

    Pelo fato de o PAR constituir-se em modelo de planejamento recente, institudo pelo

    governo federal em 2007 compreensvel a inteno dos estudos em verificar como este foi

    recebido pelos municpios e evidenciar a pertinncia e relevncia desses estudos enquanto

    subsdios para tomada de decises, j que uma ferramenta, ao ser proposta pelo governo,

    imediatamente desperta interesse de estudos acadmicos. Isso revela quo importante so os

    estudos distribudos nos diferentes programas de ps-graduao dispersos pelo pas que

    podem contribuir com algum feedback ao MEC.

    Os estudos com que essa dissertao procura dialogar so os que levam em conta a

    cooperao entre os entes federativos, a qualidade educacional e as prticas pedaggicas.

    Desta forma, para compreender o regime de colaborao, elegeu-se as investigaes

    realizadas por Camini (2009) que analisa a poltica educacional do Plano de Desenvolvimento

    da Educao, apresentado pelo Ministrio da Educao, em 2007, tendo como eixo articulador

    de descentralizao da poltica, o Plano de Metas Compromisso e sua execuo atravs do

    Plano de Aes Articuladas nos estados e municpios. Essa pesquisa contribui no sentido de

    esclarecer como acontece a relao intergovernamental, a pactuao entre os entes federados

    esclarecendo como se deu a Poltica Compromisso de Todos pela Educao, onde o PAR est

    inserido e revelando a forma de gesto adotada na implantao do Plano, ao mesmo tempo em

    que oferta esclarecimentos sobre aspectos importantes inerentes ao federalismo brasileiro.

  • 13

    Amorim (2011) analisou a concepo de qualidade que vem se efetivando na poltica

    educacional recente (PAR), com vistas a compreender as implicaes dessa poltica na

    concepo de qualidade dos sistemas municipais de educao de Dourados e Ponta Por,

    Estado de Mato Grosso do Sul e quais as aes que esto sendo colocadas em prticas por

    esses sistemas atravs do PAR. Os resultados indicaram que o conceito de qualidade

    evidenciado nas polticas atuais est pautado no ndice de Desenvolvimento da Educao

    Bsica (IDEB) se resumindo, assim, aos quantitativos do fluxo escolar e da Prova Brasil.

    Mostra que os municpios estudados esto deixando de construir seu prprio conceito de

    qualidade e aderindo ao conceito nacional, em troca de maior assistncia tcnica por parte do

    MEC, mas principalmente, por maior financiamento.

    Oliveira (2010) investigou a relao entre as polticas pblicas educacionais e os

    indicadores de qualidade do Ensino Fundamental nos municpios do estado do Rio de Janeiro

    no perodo de 2005 a 2007. Os resultados indicam a sensvel e sistemtica melhoria dos

    indicadores educacionais analisados, bem como apontam que as polticas relacionadas

    aplicao dos recursos do Fundeb, formao continuada dos professores e s condies

    fsicas das instalaes e mobilirios tm efeito sobre o desempenho dos estudantes.

    Ribeiro (2012) investigou o impacto dos Programas de Reestruturao Fsica e Aquisio

    de Equipamentos para a Rede Escolar Pblica, a partir do PAR, na melhoria da qualidade da

    educao bsica, chama ateno nos achados desta ltima autora que mesmo estudando

    programas governamentais diretamente ligados escola, apresenta outro olhar, pois sua

    dissertao advm de mestrado profissional em Administrao. Nos achados dessa autora

    conclui que estes programas no impactaram a qualidade da educao bsica brasileira.

    Silva (2011) se props a analisar a emergncia de novos mecanismos de regulao no

    sistema de educao bsica brasileiro. Nessa perspectiva, foi estudado o repasse de recursos

    financeiros do Ministrio da Educao s escolas, em especial pelo programa governamental

    denominado Plano de Desenvolvimento da Escola. Aps 2007, essas transferncias acham-se

    atreladas ao ndice de Desenvolvimento da Educao Bsica. O destaque a esse estudo se faz

    em virtude dele apresentar uma discusso sobre o conceito de qualidade da/na educao e

    seus mltiplos significados.

    Para colaborar com entendimento sobre as prticas pedaggicas, as investigaes de

    Mendona (2010) e Voss (2012) ofertam olhar sobre o PAR e essa categoria quando a

    primeira apresenta um Estudo de Caso de carter qualitativo por meio de anlise da gesto da

  • 14

    Secretaria Municipal de Educao e Cultura (SMEC), em Teodoro Sampaio-BA, no que diz

    respeito ao planejamento, acompanhamento e execuo das aes pedaggicas em escolas de

    sua rede de ensino, tendo como base o Plano de Aes Articuladas (PAR). A outra

    investigao trata-se de uma tese que aborda os movimentos de recontextualizao da poltica

    Compromisso Todos pela Educao na gesto do Plano de Aes Articuladas (PAR) e seus

    efeitos no trabalho escolar e docente, atravs de um Estudo de Caso no municpio de Pinheiro

    Machado, Rio Grande do Sul.

    Estando ciente de que nem todas as teses e dissertaes produzidas sobre o PAR

    esto disponveis para consultas nas bases de dados consultadas (IBICT e CAPES) procurou-

    se conhecer as pesquisas realizadas especificamente no mbito da Rede de Estudos e Pesquisa

    em Planejamento e Gesto Educacional REPLAG, da qual a presente dissertao faz parte,

    servimo-nos ento do artigo: Planejamento e gesto educacional: avanos e desafios

    pesquisa em rede das autoras Scaff e Oliveira (2015) que apresentam uma sntese das teses e

    dissertaes concludas desde 2000 nos Programas de Ps-Graduao em Educao que

    integram pesquisadores da rede de investigao cientfica Replag, elencadas no quadro2. As

    pesquisas em comento monitoram o 1 ciclo do PAR (2007-2010).

    Quadro 2 Dissertaes e Teses concludas - REPLAG (2011 2014)

    Autor Ttulo Tipo de

    trabalho

    Ano

    defesa Programa

    Milene Dias

    Amorim.

    Do PNE ao PDE: uma anlise da qualidade da

    educao bsica nos anos 2000.

    Dissertao de

    Mestrado

    2011 PPGEDU/

    UFGD

    Vera de Ftima P.

    Antunes.

    A Utilizao dos Resultados da Avaliao

    Institucional Externa da Educao Bsica no

    mbito do Plano de Aes Articuladas (PAR)

    em Municpios Sul-mato-grossenses (2007-

    2010).

    Dissertao de

    Mestrado

    2012 PPGE/

    UCDB

    Carmen Ligia

    Caldas.

    Plano de Aes Articuladas na Rede

    Municipal de Ensino de Campo Grande, MS:

    O Processo de Implantao dos Conselhos

    Escolares (2007-2010).

    Dissertao de

    Mestrado

    2013 PPGE/

    UCDB

    Maria Edinalva do

    Nascimento.

    O Papel do Conselho Municipal de Educao

    de Campo Grande/MS no Processo de

    Elaborao e Implantao do Plano de Aes

    Articuladas (PAR) - 2007-2010.

    Dissertao de

    Mestrado

    2013 PPGE/

    UCDB

    Maria Elisa E.

    Bartholomei.

    Provimento do Cargo de Diretores Escolares

    no mbito do Plano de Aes Articuladas

    (PAR) na Rede Estadual de Ensino de Mato

    Grosso do Sul (2007-2010).

    Dissertao de

    Mestrado

    2013 PPGE/

    UCDB

    Continua...

  • 15

    continuao.

    Severino Vilar de

    Albuquerque.

    Formao continuada de professores no

    Maranho: do Plano de Desenvolvimento da

    Escola (PDE) ao Plano de Aes Articuladas

    (PAR)

    Tese de

    Doutorado

    2013 PPGE/

    UnB

    Elisangela dos S. de

    Oliveira.

    O Plano de Aes Articuladas (PAR) como

    instrumento de organizao do sistema

    nacional de educao: estudo de caso dos

    municpios de Cariacica e de Vitria/ES.

    Dissertao de

    Mestrado

    2014 PPGE/

    UFES

    Alessandra Martins

    C. Cypriano.

    Planejamento da educao de jovens e adultos

    no Brasil: entre a complexidade das novas

    formas de regulao no limiar do sculo XXI

    Dissertao de

    Mestrado

    2014 PPGE/

    UFES

    Ado Luiz de Jesus

    Almiron.

    O Plano de Desenvolvimento da Escola -

    PDE Escola na Rede Municipal de Ensino de

    Campo Grande - MS (2007-2010): a

    experincia em uma unidade escolar

    Dissertao de

    Mestrado

    2014 PPGE/

    UCDB

    Jassonia Lima

    Vasconcelos

    Paccini

    O Programa de Educao Inclusiva: Direito

    a Diversidade no contexto das polticas

    educacionais: implementao nos municpios-

    plo de Campo Grande e Paranaba/MS- 2003

    a 2010.

    Tese de

    Doutorado

    2014 PPGE/

    UCDB

    Fonte: Scaff e Oliveira (2015).

    A sntese das reflexes arroladas permite perceber que h ainda a necessidade de um

    maior dilogo entre as polticas pblicas educacionais e o cotidiano escolar no esforo de aliar

    essas polticas ao ideal de uma educao emancipatria, contribuindo para minimizar os

    efeitos da desigualdade escolar e possibilitar, assim, a equidade educacional.

    Antunes (2012) concluiu que o PAR motivou a implementao de aes que visavam

    informar a comunidade escolar e local sobre os resultados das avaliaes externas, porm,

    esses resultados no tm sido utilizados pelos municpios de Coxim, MS e Campo Grande,

    MS como aprimoramento para o planejamento de aes sistematizadas e permanentes, que

    incentivem a melhoria da qualidade de ensino de suas redes, para alm dos resultados de

    desempenho dos alunos.

    Os resultados da pesquisa de Nascimento (2013) mostraram que o Conselho

    Municipal de Educao (CME) integrou a equipe tcnica para elaborao do PAR do

    municpio de Campo Grande, MS, por intermdio de um representante, porm, no houve

    repasse de informaes, debates ou interlocuo com essa equipe e concluiu que o CME

    desempenhou um papel tcnico normativo, no articulando as atribuies de

    acompanhamento e de participao social desse processo.

    Bartholomei (2013) revelou que o PAR, na Rede Estadual de Ensino de Mato Grosso

    do Sul, atendeu as demandas para efetivao de aes concernentes forma de provimento

    do cargo de diretor escolar, uma vez que possibilitou a execuo dessas aes no mbito da

  • 16

    Dimenso 2 Formao de professores e dos Profissionais de Servio e Apoio Escolar,

    mediante assistncia financeira proveniente do MEC, porm, no propiciou as mudanas na

    dinmica da gesto escolar, notadamente no que se refere s prticas coletivas de

    participao.

    Albuquerque (2013a) em sua tese de doutoramento, concluiu que a elaborao do PAR

    no mbito dos sistemas pblicos de ensino contrariou importante princpio do Plano de

    Metas/PDE, que prev a participao da comunidade escolar na construo do diagnstico de

    atendimento escolar e na elaborao do PAR dos municpios. Revelou tambm que gestores

    escolares e professores, nos municpios maranhenses pesquisados, desconhecem o PAR,

    assim como a formulao das aes de formao continuada dificultou a participao dos

    docentes na elaborao das pautas e na escolha de suas prioridades, no levando em conta as

    demandas apresentadas pelo espao / tempo da escola e da sala de aula, sua cultura e seus

    saberes.

    As pesquisas documentais de Fonseca e Ferreira5 (2011) j faziam alguns

    questionamentos em torno dos impasses e desafios a que o PAR seria submetido, dentre eles o

    que se refere centralizao da receita na Unio, especificamente o FNDE, alertando que a

    centralizao dos recursos em um nico rgo poderia comprometer a poltica

    descentralizadora a que o PAR se propunha, promovendo um novo centralismo e alertavam

    para que a autonomia efetiva dos entes federativos com dificuldades oramentrias seria

    atingida quando h ausncia de suporte poltico de assistncia tcnica e financeira do poderia

    comprometer a execuo do PAR (FONSECA; FERREIRA, 2011, p. 373).

    Em outro artigo, essas autoras alertam que o PAR, desde seu lanamento, submetido

    a debates acadmicos em que se confrontam seus pontos frgeis e suas potencialidades,

    quanto aos objetivos proposto no seu bojo:

    [...] questiona-se, por exemplo, a dubiedade da concepo de sistema subjaz

    proposta de organicidade ente as aes pelo fato de que, ao lanar o PDE,

    em 2007, o governo no procurou harmoniz-lo com o PNE. Ao contrrio,

    este ltimo passou a ocupar lugar secundrio no planejamento de programas

    governamentais. Outra dvida se refere possibilidade de se consolidar o

    regime de colaborao, de proporcionar maior autonomia aos entes

    federados, enfim, de contribuir para a equalizao da oferta educacional e

    para a sua qualidade sem a concretizao de uma racionalidade

    administrativa democrtica e emancipatria (FERREIRA; FONSECA,

    2011a, p. 86).

    5Coordenadoras das pesquisas em Rede

  • 17

    Outros alertas feitos naquele artigo se referem reestruturao organizativa do MEC

    que apresenta pouca articulao entre os rgos (FNDE, INEP, CAPES) para acompanhar as

    aes do PAR, bem como questionam a questo da descentralizao exercida por meio do

    PAR (idem, p. 86). Mais adiante as autoras reportam-se ao distanciamento do MEC no

    sentido de assistir os sistemas com o apoio tcnico e financeiro (idem, p. 88).

    Assim, de posse de dados empricos e documentais do grupo em que participa,

    Fonseca (2014) exps resultados das pesquisas acadmicas realizadas em rede6no IV

    Congresso Ibero-americano de poltica e administrao da educao na cidade de Porto em

    Portugal, no ano de 2014, lembrou que o objetivo de se consolidar uma poltica com a

    amplitude do PAR em mais de cinco mil municpios brasileiros no tarefa das mais fceis,

    na oportunidade reiterou que a poltica de planejamento expressa no PAR apresenta aspectos

    positivos para o planejamento da educao municipal, como por exemplo, que os tcnicos das

    secretarias municipais de educao consideram o PAR como um importante instrumento de

    planejamento, que pode contribuir para o alcance das metas propostas pelo MEC para elevar

    os indicadores da educao (FONSECA, 2014, p. 9), alm de que a disponibilidade das

    diretrizes, instrumentos e metodologias via sistema online (SIMEC7) oportuniza que os

    municpios reprogramem suas aes. Outra constatao foi de que a a proposta do PAR foi

    acolhida como uma inovadora forma de planejar (idem, p. 10). A aproximao do MEC com

    as secretarias municipais foi apontada tambm como fator positivo.

    A pesquisa tambm identificou algumas dificuldades como o aporte no significativo

    de novos recursos financeiros para provimento da educao pblica municipal; outra

    dificuldade reside no fato das secretarias municipais no apresentarem condies fsicas e de

    pessoal, para, no seu isolamento, realizar os diagnsticos satisfatrios para incluir no

    planejamento (idem p. 10); tambm constatou as falhas mais comentadas referem-se ao

    formato de gesto do PAR: a centralizao das decises no FNDE traz risco de enfraquecer o

    carter poltico do PAR e de transmut-lo em simples atividade de repasse de recursos (idem,

    p. 10-11)

    Os estudos mencionados revelam que ainda no se instalou uma cultura de

    planejamento nos municpios, o que constitui um dos objetivos mais ressaltados no PAR. A

    6REPLAG -Rede de Estudos e Pesquisas em Planejamento e Gesto da Educao, envolve pesquisadores (UnB,

    UCDB, UFMS, UEMS, UFGD) 7SIMEC Sistema Integrado de Planejamento, Oramento e Finanas do Ministrio da Educao

  • 18

    ttulo de exemplificao, Damasceno, Santos e Costa (s/d, p. 8) expem que no estado do Par

    em pesquisa realizada sobre o monitoramento das aes do PAR em 139 municpios no

    havia clareza por parte das equipes locais, gestores e tcnicos municipais, acerca do real

    significado do PAR para consolidao do planejamento municipal de forma articulada, isso

    foi apresentado como dificuldade, levando a crer que a elaborao do PAR fosse entendida

    ou como uma ao burocrtica, de mera insero de dados para posterior fiscalizao do

    MEC, ou como mais um programa desarticulado, dentre tantos existentes (DAMASCENO,

    SANTOS e COSTA, s/d, p. 8-9) levando os dirigentes municipais a tratarem o processo com

    descaso, ao passo que tambm observado que pessoas que conheciam os mecanismos

    tcnicos e polticos do PAR destacavam sua importncia para a poltica educacional dos

    municpios paraenses (idem, p. 9) o que foi constado a partir da percepo de uma grande

    expectativa das equipes locais em relao ao xito dos planos articulados (idem, p. 13-14).

    Azevedo e Santos (2012, p. 570) ao pesquisar a ao do PAR na Rede Metropolitana

    de Recife, lembram que o PAR embora reflita uma modalidade de cooperao, em certa

    medida, imposta, aparenta ser ele imprescindvel para a que as aes educacionais tenham

    curso. No que concerne ao regime de colaborao entre os entes federados as autoras

    chamam a ateno para a pouca expressividade de suas aes de cooperao com os

    municpios na educao, do mesmo modo como [...] em relao ausncia de colaborao

    entre as municipalidades investigadas (AZEVEDO e SANTOS, 2012, p.570).

    Essas dificuldades mencionadas no impedem que o PAR possa lograr a concretizao

    dos seus propsitos nos municpios brasileiros. Outros estudos revelam aspectos positivos,

    como os dados apresentados por Caldas (2013), comprovando que a criao dos Conselhos

    Escolares nas escolas da Rede Municipal de Ensino de Campo Grande-MS constituiu-se em

    atendimento a um dos Indicadores do Plano de Aes Articuladas (PAR). Assim, evidencia a

    induo do governo central, por meio do MEC, implantao dos conselhos escolares, um

    dos instrumentos de gesto democrtica, nas escolas pblicas brasileiras. Recentemente,

    Paccini (2014) mostrou que, em 2007, a instalao desses conselhos inseriu-se no PAR como

    instrumento de poltica de educao inclusiva para a educao bsica.

    Oliveira (2014) mostrou que a implementao de uma poltica de educao como o

    PAR, envolve a capacidade tcnica, organizacional e aspectos institucionais dos municpios.

    Conclui que, para a consolidao do Sistema Nacional de Educao, necessrio que o PAR

  • 19

    no seja considerado, apenas, como um instrumento de captao de recursos, mas que os

    municpios o tenham como um plano norteador como catalisador de uma poltica de Estado.

    Os trabalhos empricos de Cypriano (2014) e Almiron (2014) no contexto da

    REPLAG, respectivamente, trazem contribuies sobre as polticas da EJA e apresentam a

    viso dos segmentos escolares em relao ao PAR enquanto contributo para o fortalecimento

    da autonomia da gesto escolar.

    Outras fragilidades encontradas no primeiro ciclo do PAR foram relatadas por Ferreira

    e Fonseca (2013, p. 290-294), emperram o andamento das aes constantes do plano, tais

    como: burocracia rgida; falta de avaliao eficaz dos gestores; inflexibilidade do plano

    quanto correo ou adaptao das aes durante sua execuo; suporte tcnico do MEC

    ineficaz porque ocorre em forma de cartilhas com orientaes para execuo de ao

    planejada; rgos gestores com precariedade administrativa e financeira para implantao do

    PAR; insuficincia e despreparo de pessoas para as secretarias e outras funes, carncia de

    infraestrutura fsica para prover satisfatoriamente o aparato administrativo; pouca interlocuo

    das escolas com as prefeituras e vice e versa; as secretarias municipais de educao

    constitudas de profissionais no qualificados; descontinuidade poltico-administrativa;

    mudanas nos quadros dos governos locais, impedindo o planejamento da equipe anterior seja

    considerado pela equipe sucessora; dificuldades de participao coletiva na discusso da

    elaborao do diagnstico; entre outras.

    Mediante o exposto, reitera-se a importncia das investigaes realizadas pela Rede de

    Estudos e Pesquisas em Planejamento e Gesto da Educao (REPLAG) e a expectativa que a

    presente dissertao venha somar-se aos achados sobre o PAR em Mato Grosso do Sul. As

    pesquisas realizadas no mbito dessa citada rede trazem uma caracterstica inovadora com

    respeito s anteriores, por adentrar as escolas e realizar entrevistas diretas com diretores e

    coordenadores pedaggicos, alm de focalizar a Dimenso 03 do PAR, que, at o momento,

    no fora contemplada na pesquisa maior qual a presente dissertao se vincula.

    Questes problematizadoras e Objetivos

    Com base nos resultados de estudos e pesquisas anteriores, foram definidas como

    questes norteadoras da presente investigao: a Secretaria Municipal de Educao de

  • 20

    Dourados (Semed) est garantindo as condies necessrias s escolas para o andamento das

    aes pedaggicas propostas na Dimenso 03 do PAR? Como esto sendo desenvolvidas

    essas aes? A Semed tem acompanhado a execuo das aes? Quais as principais

    dificuldades encontradas para a efetivao das aes propostas? Como o regime de

    colaborao entre o MEC e a Semed vem impactando o desenvolvimento da educao em

    Dourados?Como se d a articulao entre a Semed e as escolas? Os professores conhecem o

    PAR do municpio? As aes propostas na Dimenso 03 do PAR/Dourados referentes s

    prticas pedaggicas so realizadas pelos professores? Na tentativa de buscar respostas,

    foram definidos os seguintes objetivos:

    Objetivo Geral

    Analisar como a materializao dos indicadores/subaes definidas na Dimenso 03

    do PAR, referente s prticas pedaggicas e avaliao, contribui para a melhoria da qualidade

    educacional na Rede Municipal de Ensino de Dourados, MS.

    Objetivos Especficos

    a) Identificar, junto Semed/Dourados, quais as subaes propostas na Dimenso 03 do

    PAR esto sendo efetivamente executadas e quais mais contribuem para melhoria do ensino

    pblico fundamental do municpio.

    b) Conhecer e analisar, a partir do entendimento dos gestores e/ou tcnicos da Semed

    /Dourados, em que medida assistncia tcnica e financeira do MEC impacta a execuo das

    subaes contempladas na Dimenso 03 do PAR.

    c) Conhecer e analisar como se efetiva a interlocuo entre o MEC/FNDE e a

    Semed/Dourados e desta com as escolas de ensino pblico fundamental, para o cumprimento

    das subaes da Dimenso 03 do PAR/Dourados;

    d) Identificar, com diretores, coordenadores pedaggicos e professores de escolas

    pblicas de ensino fundamental de Dourados quais subaes da Dimenso 03 do

  • 21

    PAR/Dourados esto sendo efetivamente executadas no mbito das escolas e como

    contribuem para gerar a melhoria da qualidade do trabalho escolar e dos ndices do Ideb;

    e) Conhecer e analisar, a partir do entendimento de diretores, coordenadores

    pedaggicos e professores de escolas pblicas de ensino fundamental de Dourados que outras

    aes, alm daquelas definidas no PAR, as escolas executam para a melhoria da qualidade do

    ensino.

    Foram definidas como categorias de anlise: o regime de colaborao e articulao

    entre os entes federados; a qualidade educacional e as prticas pedaggicas na escola.

    A Dimenso 03 do PAR como foco da anlise

    A estrutura do PAR estabelecida a partir de quatro dimenses, a saber: 1 - Gesto

    educacional, 2 - Formao de professores e profissionais de servios e apoio escolar; 3 -

    Prticas pedaggicas e Avaliao, e 4 Infraestrutura fsica e recursos pedaggicos. Cada

    dimenso composta por reas de atuao e cada rea apresenta indicadores especficos.

    Para esta pesquisa, optou-se por analisar especificamente os aspectos inerentes

    terceira dimenso no que se refere ao trabalho pedaggico, a qual incorpora reas de atuao e

    indicadores especficos como descritos no quadro 3.

    Quadro 3 Estrutura da Dimenso 03 do PAR 2011-2014 Prticas pedaggicas e Avaliao

    do PAR

    DIMENSO 03 DO PAR- 2 ciclo (2011-2014)

    REAS INDICADORES

    rea 1 - Organizao da rede de

    ensino

    1. Implantao e organizao do ensino fundamental de 09 anos

    2. Implantao e organizao do ensino obrigatrio dos 04 aos 17 anos

    3. Existncia de poltica de educao em tempo integral: atividades

    que ampliam a jornada escolar do estudante para, no mnimo, sete

    horas dirias dos cinco dias por semana

    4. Poltica de correo de fluxo

    5. Existncia de aes para a superao do abandono e da evaso

    escolar

    6. Atendimento demanda de educao de jovens e adultos (EJA)

    7. Oferta de atendimento educacional especializado (AEE),

    complementar ou suplementar escolarizao

    Continua...

  • 22

    continuao.

    rea 2 Elaborao e organizao

    das prticas pedaggicas

    1. Existncia de proposta curricular para a rede de ensino

    2. Processo de escolha do livro didtico

    3. Existncia/adoo de metodologias especficas para a alfabetizao

    4. Existncia de programas de incentivo leitura, para o professor e o

    aluno, incluindo a educao de jovens e adultos (EJA)

    5. Estmulo s prticas pedaggicas fora do espao escolar com

    ampliao das oportunidades de aprendizagem

    6. Reunies pedaggicas e horrios de trabalhos pedaggicos para

    discusso dos contedos e metodologias de ensino

    rea 3 - Avaliao da aprendizagem

    dos alunos e tempo para assistncia

    individual /coletiva aos alunos que

    apresentam dificuldade de

    aprendizagem

    1. Formas de avaliao da aprendizagem dos alunos

    2. Utilizao do tempo para assistncia individual/coletiva aos alunos

    que apresentam dificuldade de aprendizagem

    Fonte: (BRASIL, 2011c)

    Cabe esclarecer que para cada indicador do PAR se desdobra em uma srie de

    subaes que devero ser executadas pelo municpio conforme a pontuao recebida no

    diagnstico inicial.

    Para pontuao dos indicadores so seguidos critrios correspondentes a quatro nveis,

    com notas que variam de 1 a 4 ou no se aplica com a finalidade de gerar o plano de aes

    articuladas. Logo, os critrios pr-estabelecidos correspondem a:

    Critrio de pontuao 4 a descrio aponta para uma situao positiva, ou

    seja, para aquele indicador no sero necessrias aes imediatas.

    Critrio de pontuao 3 a descrio aponta para uma situao satisfatria,

    com mais aspectos positivos que negativos, ou seja, o Municpio desenvolve,

    parcialmente, aes que favorecem o desempenho do indicador.

    Critrio de pontuao 2 a descrio aponta para uma situao

    insuficiente, com mais aspectos negativos do que positivos; sero

    necessrias aes imediatas e estas, podero contar com o apoio tcnico e/ou

    financeiro do MEC.

    Critrio de pontuao 1 a descrio aponta para uma situao crtica, de

    forma que no existem aspectos positivos, apenas negativos ou inexistentes.

    Sero necessrias aes imediatas e estas, podero contar com o apoio

    tcnico e/ou financeiro do MEC.(BRASIL, 2008b, p. 9, grifos do prprio

    documento)

    Justifica-se a deciso em centrar a anlise nos indicadores da Dimenso 03, tomando

    por suposto que estes incidem diretamente sobre o trabalho escolar e a qualidade do ensino e

    que os indicadores so os responsveis por instrumentar as aes arroladas no PAR

    direcionado a atingir os objetivos dessa poltica.

    No exame dos documentos afetos ao PAR, percebe-se que as prticas pedaggicas so

    entendidas como um conjunto de aes voltadas para a organizao de meios que as equipes

  • 23

    pedaggicas das Secretarias Municipais de Educao devem incluir no planejamento do

    sistema de ensino municipal para ofertar apoio s escolas.

    Com a finalidade de esclarecer a terminologia utilizada nos documentos do PAR,

    apresenta-se a seguir o significado dos termos utilizados acima (dimenso, rea, indicador)

    extrados do documento Instrumento de Campo. (BRASIL, 2008b, p. 9).

    Dimenses: so agrupamentos de grandes traos ou caractersticas referentes

    aos aspectos de uma instituio ou de um sistema, sobre os quais se emite

    juzo de valor e que, em seu conjunto, expressam a totalidade da realidade

    local.

    reas: o conjunto de caractersticas comuns usadas para agrupar, com

    coerncia lgica, os indicadores. Entretanto, no so objetos de avaliao e

    pontuao.

    Indicadores: representam algum aspecto ou caracterstica da realidade que

    se pretende avaliar. Expressam algum aspecto da realidade a ser observada,

    medida, qualificada e analisada. Neste Instrumento, os indicadores foram

    construdos a partir das diretrizes estabelecidas no Decreto 6.094 de 24 de

    abril de 2007

    Indicadores aos quais atribuda a condio NSA (no se aplica):

    representam os indicadores em que no h possibilidade de registro ou pela

    falta de informao ou pelo entendimento conjunto de que a descrio dos

    critrios do indicador no reflete a realidade local.

    Critrios: so os padres que servem de base para comparao, julgamento

    ou apreciao de um indicador. (BRASIL, 2008b, p. 9, grifos do prprio

    documento).

    O PAR foi reformulado no seu segundo ciclo (que compreende o perodo entre 2011 a

    2014), em relao ao instrumento diagnstico anterior (PAR 2007 2011), recebendo 30

    novos indicadores nas diversas reas que o compe com a finalidade de contemplar alguns

    aspectos que no foram evidenciados na primeira edio.

    Na dimenso que se discute aqui, houve alteraes significativas em sua estrutura

    como exposto nos quadros 5 e 7 (pginas 63 e 71, respectivamente) desta dissertao.

    Delineando o caminho metodolgico da Pesquisa

    Adotou-se como aplicao metodolgica a pesquisa qualitativa. Para tanto, foram

    examinados alguns autores que elucidam as bases dessa modalidade de investigao como:

    Tozoni-Reis (2010), Sandn Esteban (2007), Chizzotti (2003) e Trivios (1987).

  • 24

    Sobre esse tipo de pesquisa, diferentes tericos8 mencionados por Tozoni-Reis (2010)

    reafirmam que as pesquisas em educao, assim como as pesquisas nas reas das cincias

    humanas e sociais, so essencialmente qualitativas, isto quer dizer que, este tipo de pesquisa

    defende a ideia de que, na produo de conhecimentos sobre os fenmenos humanos e sociais,

    nos interessa mais compreender e interpretar seus contedos do que descrev-los, explic-los

    (TOZONI-REIS, 2010).

    A reflexibilidade a caracterstica indispensvel nas pesquisas desse calibre, uma vez

    que a pesquisa qualitativa abrange basicamente aqueles estudos que desenvolvem os

    objetivos de compreenso dos fenmenos socioeducativos e a transformao da realidade

    (RICHARDSON, 2007, p. 130-131).

    O ordenamento proposto por Sandn Esteban converge para a adoo do conceito de

    pesquisa qualitativa, como

    [...] uma atividade sistemtica orientada compreenso em profundidade de

    fenmenos educativos e sociais, transformao de prticas e cenrios

    socioeducativos, tomada de decises e tambm ao descobrimento e

    desenvolvimento de um corpo organizado de conhecimentos. (SANDIN

    ESTEBAN, 2010, p. 127).

    A perspectiva de compreender os fenmenos em profundidade comunga com o

    entendimento de Bogdan e Biklen (1994). As questes a investigar so elaboradas

    objetivando a investigao dos fenmenos em toda sua complexidade e em contexto natural e

    no estabelecidas mediante a operacionalizao de variveis, notadamente por meio das

    entrevistas no estruturadas. Os dados so recolhidos atravs do contato direto e o

    entendimento que se tem deles passa a ser o ponto fulcral da anlise. Alm disso, o

    significado passa a ter importncia vital na anlise qualitativa. O investigador busca

    identificar e compreender os sentidos que os investigados atribuem s experincias que

    vivenciam cotidianamente. Por essa razo, o tempo dedicado s entrevistas constitui fator

    primordial para o alcance dos resultados da pesquisa.

    Para atingir o efeito desejado do enfoque qualitativo no mbito desta investigao, foi

    necessrio, no raras vezes, mais de um contato com os entrevistados. Foi elaborado um

    roteiro semiestruturado (APNDICE F) a partir de questes fundamentais levantadas na fase

    de elaborao do projeto de pesquisa, mas a anlise transcendeu as reflexes preliminares

    sobre o assunto, por meio da percepo compartilhada entre pesquisadores e interlocutores.

    8Autores tericos como Berman (1986); Kuhn (1987); Capra (1993); Prigogine e Stengers (1997); Santos, (1989,

    1995, 1997); Morin (1996), entre outros.

  • 25

    Procuramos preservar alguns aspectos qualitativos utilizados por Veiga, Resende e

    Fonseca em pesquisa realizada na UnB:

    [...] buscamos ultrapassar a limitao analtica centrada apenas nos

    resultados da experincia. Investigamos a sua riqueza processual e

    avaliamos o conhecimento adquirido pelos pesquisadores no

    desenvolvimento da experincia em si. Enfocamos as esperanas

    iniciais e decepes dos interlocutores; as suas vises mais utpicas ou

    a busca de caminhos mais realistas para a continuidade do processo.

    Enfim, procuramos levar em conta a espontaneidade dos discursos, sem

    limit-los estritamente aos itens constitutivos do roteiro inicial. Assim,

    o objeto de estudo foi enriquecido pela incorporao de questes no

    previstas pela proposta inicial (2002, p. 213).

    A presente investigao, buscando coadunar-se com as bases da pesquisa qualitativa,

    utilizou-se de levantamentos bibliogrficos, pesquisa documental e entrevistas.

    O levantamento bibliogrfico efetuou-se, primeiramente, mediante a seleo de

    estudos que permitem o embasamento conceitual para a compreenso da concepo basilar da

    poltica maior que preside o PAR, ou seja, os fundamentos da questo do regime de

    colaborao institudo pela Constituio de 1988, que prope a interlocuo entre os entes

    federados. Para tanto so examinados os autores mais atuais e representativos sobre o tema

    em pauta. Entre eles: Abrucio (2010); Bobbio, Matteucci e Pasquino (1989); Martins (2009),

    Sena (2013); Bercovici (2003); Maluf (2010); Cury (2010) e outros que possam contribuir

    para esse entendimento.

    Buscou-se ainda conhecer a proposta oficial do PAR como estmulo ao planejamento

    para o municpio e para as escolas, visto que o ato de planejar faz parte central dessa poltica

    governamental, especialmente pela aprovao do novo PNE 2014-2024. A chamada para que

    os municpios