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EIXO TEMÁTICO: ( ) Acessibilidade e Mobilidade Urbana ( ) Bacias Hidrográficas, Planejamento e Gestão dos Recursos Hídricos ( ) Biodiversidade e Unidades de Conservação ( ) Campo, Agronegócio e as Práticas Sustentáveis ( ) Cidade, Arquitetura e Sustentabilidade ( ) Educação Ambiental ( ) Gestão dos Resíduos Sólidos ( ) Gestão e Preservação do Patrimônio Arquitetônico, Cultural e Paisagístico ( ) Novas Tecnologias Sustentáveis ( X ) Planejamento da Paisagem ( ) Saúde, Saneamento e Ambiente
O Planejamento da Paisagem como Exigência para o Desenvolvimento Sustentável do Território: o caso dos rios Ubatiba/Mumbuca, Maricá, RJ
Landscape Planning as a Requirement for the Sustainable Development of the Territory:
the case of the rivers Ubatiba / Mumbuca, Maricá, RJ
La Planificación del Paisaje como Exigencia para el Desarrollo Sostenible del Territorio: el caso de los ríos Ubatiba / Mumbuca, Maricá, RJ
Eloisa Carvalho de Araujo Professora Doutora, Universidade Federal Fluminense. EAU/UFF, Brasil.
Caroline de Oliveira Moura
Pesquisadora - Bolsista de Iniciação Cientifica. EAU/UFF, Brasil. [email protected]
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RESUMO O presente texto decorre de investigação sobre os Rios Ubatiba/Mumbuca, na cidade de Maricá, RJ, no âmbito de abordagens investigativa e perceptiva tendo como foco o planejamento da paisagem como exigência para o Desenvolvimento Sustentável do Território. Os objetivos traduzem-se, a partir da percepção, em avaliar como os rios Ubatiba/Mumbuca, se inserem na paisagem urbana da cidade de Maricá; como é a apreensão que o observador tem das características dos referidos territórios e em que medida, tal percepção se articula ao planejamento e ao desenvolvimento sustentável do território?. A metodologia foi construída utilizando-se, por meio de uma adaptação, do método unidade de paisagem, construindo-se um roteiro interpretativo, que privilegia o olhar do observador e de quem vivencia o espaço, assim como uma visão integrada associada às medidas de planejamento e gestão. Os resultados, ainda que parciais, buscam comprometer-se com pesquisas e estudos, que visem subsidiar com conhecimento apropriado as ações da população e que corroborem com projetos urbanos adequados. Espera-se que tais reflexões venham a contribuir para a discussão sobre o papel do planejamento da paisagem. PALAVRAS-CHAVE: Paisagem. Planejamento da Paisagem. Desenvolvimento Sustentável do Território
ABSTRACT
The present text is based on research on the Ubatiba / Mumbuca Rivers, in the city of Maricá, RJ, within the scope of
investigative and perceptive approaches focusing on landscape planning as a requirement for the Sustainable
Development of the Territory. The objectives are, based on the perception, to evaluate how the Ubatiba / Mumbuca
rivers are inserted in the urban landscape of the city of Maricá; How is the observer's apprehension of the
characteristics of those territories and to what extent, this perception is articulated to the planning and the
sustainable development of the territory?. The methodology was constructed using an adaptation of the landscape
unit method, constructing an interpretative script, which privileges the view of the observer and those who
experience the space, as well as an integrated vision associated to the planning measures and management. The
results, although partial, seek to commit themselves to research and studies that aim to adequately subsidize the
actions of the population and that corroborate with appropriate urban projects. It is hoped that such reflections will
contribute to the discussion on the role of landscape planning.
KEY WORDS: Landscape. Landscape Planning. Sustainable Development of the Territory
RESUMEN
El presente texto se deriva de la investigación sobre los Rios Ubatiba / Mumbuca, en la ciudad de Maricá, RJ, en el
marco de enfoques investigativos y perceptivos, teniendo como foco la planificación del paisaje como exigencia para
el Desarrollo Sostenible del Territorio. Los objetivos se traducen, a partir de la percepción, en evaluar cómo los ríos
Ubatiba / Mumbuca, se insertan en el paisaje urbano de la ciudad de Maricá; como es la aprehensión que el
observador tiene de las características de dichos territorios y en qué medida, tal percepción se articula a la
planificación y al desarrollo sostenible del territorio?. La metodología fue construida utilizando, por medio de una
adaptación, del método unidad de paisaje, construyendo un itinerario interpretativo, que privilegia la mirada del
observador y de quien vive el espacio, así como una visión integrada asociada a las medidas de planificación y gestión.
Los resultados, aunque parciales, buscan comprometerse con investigaciones y estudios, que visen subsidiar con
conocimiento apropiado las acciones de la población y que corroboren con proyectos urbanos adecuados. Se espera
que tales reflexiones contribuyan a la discusión sobre el papel de la planificación del paisaje.
PALABRAS CLAVE: Paisaje. Planificación del paisaje. Desarrollo Sostenible del Territorio
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INTRODUÇÃO
O presente texto é resultado de trabalho de campo desenvolvido no âmbito de pesquisa
institucional intitulada “Águas Urbanas na Cidade Contemporânea: Abordagens, exigências e
possibilidades nas cidades de Maricá e Niterói” vinculada à Escola de Arquitetura e Urbanismo
da Universidade Federal Fluminense. Esta investigação, revestindo-se de uma visão mais
ampliada do tratamento dado à temática ambiental urbana, visa conhecer de que forma a
tensão urbano-ambiental/ecológica na área se revela, com enfoque nas abordagens, exigências
e possibilidades de atuação, quanto à temática apresentada e sua repercussão nas atividades
de projeto urbano. Além da questão da disponibilidade hídrica e do abastecimento da
população, a água no meio urbano pode ser analisada sob outros aspectos. Diante da produção
de recentes formas urbanas, alavancadas pelas práticas de reprodução do capital, alguns fatores
revelam-se como condicionantes no desenvolvimento da região, como o crescimento urbano, o
tratamento dado às questões ambientais e as práticas de gestão do território. Reforça-se aqui a
investigação quanto ao planejamento e a gestão das cidades à luz do desenvolvimento
sustentável.
Figura 1: O município no território fluminense
Fonte: https://www.google.com.br/search?q=mapa+do+municipio+de+maricá+rj Wikipédia.
Acesso em 25 de maio de 2019.
https://www.google.com.br/search?q=mapa+do+municipio+de+maricá+rj
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Figura 2: Município de Maricá.
Fonte: Extraído do Mapa Geral do Estado do Rio de Janeiro.
https://www.achetudoeregiao.com.br/rj/marica/dados_gerais.htm. Acesso aos 20 de maio de 2019
O acesso à cidade de Maricá se dá pelas rodovias RJ-106 (Rodovia Amaral Peixoto), que propicia
a ligação do Município às cidades de Niterói e São Gonçalo, e também ao município de
Saquarema; também pode ser feito pela RJ-114, que liga esta cidade ao Município de Itaboraí e
às rodovias RJ-104 e BR-101. Tais conexões acentuam o espraiamento urbano na direção dos
territórios de fronteira, através de um movimento contínuo, em transformação. A região de
estudo, em um contexto metropolitano, vivencia um processo de periferização progressiva. Com
dinâmicas próprias, estrutura e formas urbanas evidenciam o acesso inadequado e desigual aos
serviços urbanos. Onde a parte mais desqualificada do território acaba por contribuir na
promoção de ameaças às áreas de preservação ambiental. O planejamento territorial tradicional
passa então a privilegiar o estabelecimento de padrões ideais ou adequados de urbanização,
sem vínculo com a realidade local, propiciando a legitimação das desigualdades existentes e a
separação entre planejamento e gestão.
Tabela 1: Dados Populacionais do Município de Maricá
Ano População (hab.)
2018 (estimativa) 157.789
2010 127.461
2000 85.000
1991 37.000
Fonte: IBGE
Maricá é um dos municípios de maior ritmo de crescimento populacional do Estado do Rio de
Janeiro, refletindo-se tal aspecto nos impactos sobre as estruturas verdes e hídricas do
município. Para Ojima (2007) fatores como o crescimento populacional e o processo de
expansão física das ocupações revelam-se determinantes na mudança do padrão de ocupação
urbana, exacerbando desigualdades entre o crescimento da população urbana e a expansão das
https://www.achetudoeregiao.com.br/rj/marica/dados_gerais.htm
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áreas urbanas. No caso do município de Maricá, pelas observações empíricas, podemos verificar
uma tendência à dispersão urbana movida, dentre outros aspectos, pela mobilidade introduzida
pelas rodovias corroborando para a adoção de medidas de planejamento que sejam sensíveis às
questões urbano ambientais1.
Maricá possui sistema lagunar Maricá-Guarapina, constituído de cinco lagunas que
compreendem 34,87km² de extensão distribuídos entre a lagoa de Maricá, Barra, Guarapina,
Padre e Brava. Essa região inclui três bacias principais: Rio Ubatiba, Camburi e Vigário que
drenam para as lagunas de Maricá e posteriormente para o mar através do Canal da Costa, a
oeste, e o Canal de Ponta Negra, a leste, abertos como parte de uma intervenção higienista. O
Rio Mumbuca em Maricá encontra-se degradado em seu trecho mais urbanizado, com recentes
intervenções nas áreas mais próximas as nascentes. Ocorreram processos de canalização,
invasão das margens, desvio dos cursos d’água para formação de açudes e descaracterização da
mata ciliar. Mumbuca é o nome dado ao trecho do Rio Ubatiba após o limite com a RJ-106. Com
a exceção dos distritos de Inoã e Itaipuaçu, abastecidos pelo sistema Imunana-Laranjal, o Rio
Ubatiba, segundo o Atlas do Abastecimento de Água da Agência Nacional de Águas – ANA, junto
aos poços de Maricá, configuram os mananciais de abastecimento do município.
O Rio Ubatiba se origina do Rio Silvado que nasce a 630m de altura atravessando o bairro do
Ubatiba, Caxito, Itapeba e Centro, tendo como foz a lagoa de Maricá. O Rio pertence à sub-bacia
do Ubatiba que inclui a Serra do Lagarto, Silvado, Retiro, Sapucaia, Camburi, Macaco e
Cachoeira. Segundo o Plano de Manejo Integrado das Áreas Naturais Protegidas de Maricá, a
sub-bacia do Ubatiba é a maior do município e vem sofrendo regularmente com o processo de
expansão urbana. Os trechos no entorno da RJ-114 passam progressivamente a serem ocupados
por grandes condomínios e zonas industriais no eixo viário que faz conexão com Itaboraí.
1 O que pode ser verificado nas contribuições de Holzer (2016) e Amaral (2016) sobre as recentes transformações urbano-ambientais vivenciadas pelo município de Maricá.
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Figura 3 : Evolução da expansão urbana de 2008 à 2018 próxima à APASEMAR e FMP do Rio Mumbuca
Fonte: Relatório de Pesquisa PIBIC/UFF “Águas Urbanas na Cidade Contemporânea: Abordagens, exigências e possibilidades nas cidades de Maricá e Niterói”, 2018; Plano Diretor, 2006; Lei de Uso do Solo, 2008; Plataforma Google Earth, 2018 e acréscimos. Elaboração dos Pesquisadores 2018.
A investigação sobre o funcionamento atual da bacia hidrográfica, em referência, deparou-se
com constantes transformações de áreas verdes em áreas urbanas o que evidencia, do ponto
de vista da avaliação hídrica, a diminuição de infiltração da água nos lençóis freáticos e com isso
a redução do volume dos corpos hídricos, tornando-se necessárias políticas de proteção e
preservação desses territórios frente ao seu caráter de vulnerabilidade ambiental.
O crescimento descontrolado da população na cidade de Maricá, provocou espraiamento da
malha urbana e a redução das áreas verdes, o que pode ser verificado também pelo fato de ter
seus principais rios poluídos. Apesar desses corpos hídricos e suas faixas marginais estarem
protegidos pela legislação ambiental, é notável o descumprimento das normas de proteção e a
consequente continuidade dessa política ineficiente.
Nesse sentido, a questão central, que orientou a pesquisa de campo foi em adotar, por meio de
uma adaptação, do método de unidade de paisagem, uma leitura com a finalidade de subsidiar
o planejamento da paisagem na Bacia dos rios Ubatiba/Mumbuca.
OBJETIVOS
Ao tentar provocar o diálogo entre as questões ambiental, urbana e territorial a pesquisa se
propôs a contribuir para a discussão de temas relacionados à análise ambiental urbana, gestão
ambiental urbana integrada e práticas de desenho ambiental ou desenho sustentável, tendo
como foco o planejamento da paisagem. E sobre a perspectiva do trabalho de campo, a
investigação, em referência, teve como objetivo avaliar, a partir da investigação e percepção,
como os rios Ubatiba/Mumbuca, se inserem na paisagem urbana da cidade de Maricá? Como é
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a apreensão que o observador tem das características dos referidos territórios e em que medida,
tal percepção se articula ao planejamento e ao desenvolvimento sustentável do território?
METODOLOGIA
A metodologia aplicada dedicou-se, inicialmente a entender melhor a dinâmica da área de
estudo, aproximando as escalas e sintetizando informações. A caracterização da área de estudo,
suas especificidades, em conformidade com a bacia hidrográfica dos Rios Ubatiba/Mumbuca,
Maricá, foi imprescindível para a aproximação do objeto de estudo.
A leitura e a compreensão de textos a respeito da área de estudo e do meio ambiente, sua
relação com os indivíduos e com o espaço urbano, o conhecimento dos conceitos e das formas
de revitalização de corpos hídricos foi fundamental para a criação da base teórica em que nos
apoiamos. A caracterização e análise das informações coletadas, os estudos através de mapas,
visitas de campo e registros fotográficos também foram suporte para o propósito da pesquisa
em compreender a relação do rio com o espaço urbano no qual está inserido e apontar caminhos
futuros a perseguir na pesquisa, em curso.
Em consonância com a abordagem investigativa, sobre a área de estudo e seu comportamento,
a abordagem teórica foi realizada com o propósito de entender e trabalhar o meio ambiente,
compreender a relação da cidade e seus rios, além de sugerir alternativas para os problemas
encontrados na análise. Nesse sentido a pesquisa apoiou-se nas contribuições de Harvey (2011),
Castells (1999), Moura et al (2006), Morsch e Mascaró (2016) Costa (2006) e Ribeiro (2017) entre
outros.
O diálogo, por exemplo, entre as contribuições teóricas de Harvey (2011) e Castells (1999)
salientam que o ambiente natural é fruto da transformação do espaço pela atividade humana,
onde todo o seu potencial natural é explorado para atrair mais capital, gerando um espaço que
muitas vezes cresce desordenado e é constantemente destruído e reconstruído. As estratégias
do Estado revelam-se configuradas por um viés nacionalista, com exercício do poder sobre as
áreas protegidas de forma a separar os indivíduos do que deveria ser de uso coletivo, quando
na realidade deveriam dedicar-se às praticas sociais de conscientização e preservação do meio
ambiente. A temática da revitalização urbana, abordada por Moura (2006, p.21) deve ser
entendida, ao mesmo tempo, como uma estratégia e um processo que deve se deter à
adaptação das realidades territoriais, buscando coordenar e adaptar recursos existentes em
sintonia com os setores público/privado e a população. Já os autores Morsch e Mascaró (2016
)nos revelam através do tema restauração, uma abordagem apoiada na sustentabilidade das
cidades e dos rios urbanos. Por outro, o desenvolvimento sustentável do território nos
apresenta um dilema frente ao próprio significado do tema, quando desenvolvimento se apoia
na ideia de utilização dos recursos da natureza tanto para o indivíduo quanto para o ser coletivo,
já o sentido do sustentável associa-se a ideia de preservação da mesma natureza. Como lidar
com essa ambiguidade? A pesquisa em curso, baseada em pressupostos apresentados por Sachs
(1995) apoia-se na necessidade de alinharmos desenvolvimento e sustentabilidade às demandas
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sociais. O conceito de paisagem adotado na presente pesquisa privilegia o viés holístico e
abordagem interdisciplinar da ecologia da paisagem (COSTA,L.2006;
FORMAN,R;GODRON,M.1986)
Nesse sentido, a investigação em curso, se propõe a desmistificar a ideia de natureza intocada2
e sim corroborar para a ideia da natureza, modificada pelo homem, capaz de salientar paisagens
em transformação.
A análise deteve-se na adoção do conceito de unidades paisagem3, que define como unidade
cada trecho homogêneo distinto pela semelhança na organização e dimensão dos elementos
que compõem a paisagem, podendo ser suporte físico, cobertura vegetal ou mancha urbana.
Após a divisão do perímetro da bacia em trechos, a escala antes regional, passa a ser local, do
ponto de vista do pedestre, a fim de identificar problemas nas margens dos rios.
Para a visualização da paisagem a divisão de unidades de paisagem da bacia hidrográfica, em
trechos, se fez necessária visando possibilitar a análise dos mesmos pelas visitas de campo e,
sobretudo, como apregoa RIBEIRO (2017), para a valorização da percepção da paisagem em
escala local, a partir de componentes ecológicos, culturais, socioeconômicos e sensoriais.
Para definir os trechos de análise cruzaram-se dados da imagem de satélite da região de estudo
e as observações de campo, buscando a apreensão dos aspectos da paisagem, e culminando em
uma abordagem mais flexível.
RESULTADOS
O Rio Ubatiba em Maricá apresenta um quadro diferente, pois seu percurso não está totalmente
inserido em solo urbanizado e suas águas são utilizadas para abastecimento da população.
A nascente está localizada no bairro do Silvado, inserido na macrozona rural de Maricá, o rio
atravessa o bairro de Ubatiba, antes de cruzar a RJ-106 e se tornar Rio Mumbuca. Entre a
nascente no Silvado e o início das ocupações urbanas adensadas, classificamos uma unidade de
paisagem. Esta caracteriza o trecho mais preservado do rio, onde se encontra em seu estado
mais próximo ao natural, sem muitas intervenções, mata ciliar razoavelmente preservada e
menor presença de detritos humanos.
A segunda unidade de paisagem identificada corresponde à faixa de transição entre o trecho
mais preservado do rio e o limite com a RJ-106. Destacamos esse trecho como uma unidade de
paisagem por conta da forma e tipologia de ocupação dessa área que difere das demais, pela
presença de grandes condomínios e fazendas entre as ocupações e devido o espaço ainda não
ser tão modificado quanto o do centro de Maricá.
2 Ver DIEGUES, A.C.S. O mito moderno da natureza intocada. 6ª.ed. São Paulo: Hucitec _ NUPAUB,2008. 3 Estudos nesse campo se apoiam em uma abordagem interdisciplinar e holística da ecologia da paisagem. Podemos citar estudos de Pinto-Correia et all (2001). Disponível em: file:///C:/Users/Eloisa/Downloads/1634-Texto%20do%20Trabalho-3798-1-10-20130102.pdf. Acesso em 04 de dezembro de 2018. Assim como, Queiroz e Queiroga (2012) Disponível em: http://quapa.fau.usp.br/wordpress/wp-content/uploads/2016/03/Unidades-de-paisagem-materiais-e-metodologia-para-uma-avalia%C3%A7%C3%A3o-paisag%C3%ADstica-e-ambiental-Limeira.pdf. Acesso em 14 de janeiro de 2019.
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A terceira unidade corresponde ao trecho urbanizado do rio, tem início no cruzamento com a
RJ-106 e término no aeroporto de Maricá. Esse trecho é canalizado em quase toda extensão e
recebe o nome de Rio Mumbuca. Apresenta violações diversas às margens, descaracterização
da mata ciliar, excesso de esgoto in natura e consequentemente possui odor fétido e cor escura.
Durante anos ocasionou problemas com enchentes em época de chuva e causava alagamentos,
que posteriormente foram reduzidos com a abertura da ponte da Barra para escoamento das
águas da lagoa para o mar e a canalização do trecho em Araçatiba, conhecido como valão.
Entretanto esse trecho do rio se encontra em estado muito deteriorado, pois recebe grande
parte do esgoto da cidade, que não conta com sistema de tratamento.
A quarta e última unidade de paisagem compreende a área do aeroporto até a foz na Lagoa de
Maricá. Este pequeno trecho não possui canalização ou invasão marginal, entretanto é de
grande importância, pois recebe em seu trecho natural, a água já contaminada e faz a conexão
com a lagoa.
Ressalta-se aqui que tais subdivisões não se constituem como unidades estáticas, nem como as
únicas possíveis. Trata-se de um ensaio a partir do trabalho de campo.
Figura 04: Ilustração das Unidades de Paisagem do Rio Ubatiba
Fonte: Plataforma Google Earth, elaboração pesquisadoras, 2018
O estudo em escala aproximada privilegiou a perspectiva do pedestre, a visualização e a
identificação dos problemas e potencialidades às margens do rio. Foram realizadas visitas de
campo e levantamento fotográfico através da plataforma Google Earth. Devido à extensão dos
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corpos hídricos, as visitas prestigiaram o curso principal, inicialmente desconsiderando seus
afluentes.
As análises não se ativeram a caracterizar a fauna ou a flora do local ou os índices de qualidade
da água, mas sim em concentrar-se na identificação visual e perceptiva da descaracterização das
margens do curso dos rios e sua relação com as áreas de amortecimento.
A visita foi um instrumento importante na análise ao proporcionar uma aproximação aos
problemas pontuais da área de estudo, pois cada trecho analisado apresenta diferentes tipos de
demanda e diferentes relações com o local no qual está inserido.
Vale ressaltar que em Maricá são consideradas Áreas de Proteção Integral os manguezais, as
áreas com exemplares raros da fauna e da flora, as unidades de proteção das nascentes dos rios,
as faixas marginais de proteção, as ilhas marítimas e as áreas acima da cota de 100 metros. A
Faixa Marginal de Proteção também é área não edificante e precisa ter no mínimo 10 metros de
largura de acordo com o Plano Diretor. Já na Lei de Uso e Ocupação a FMP específica para o Rio
Mumbuca é de 50m passando a que passa a ter um zoneamento igual a uma Zona de
Conservação de Vida Silvestre - ZCVS.
O Rio Ubatiba, que após cruzar a RJ-106 torna-se Rio Mumbuca, não faz parte de nenhuma área
de proteção do município com exceção da nascente da Serra do Silvado, inserida na Zona de
Preservação da Vida Silvestre e da Foz inserida na Zona Especial.
O reconhecimento dos trechos divididos em unidades de paisagem no Rio Ubatiba
proporcionaram a identificação de 4 unidades de paisagem. A análise com o apoio dos pontos
estratégicos identificados na visita de campo começa do ponto mais próximo a nascente e segue
pelo curso principal até a foz na Lagoa de Maricá. Os pontos estratégicos, também foram
definidos com o objetivo de expor os problemas causados pela ocupação e urbanização já
presente. O Rio Ubatiba apresenta um percurso heterogêneo o que possibilita diferentes olhares
e possibilidades de intervenção para cada unidade de paisagem específica. Os pontos escolhidos
na unidade de paisagem 1 fazem referência a uma intervenção mais pontual e voltada à
conscientização e preservação do ambiente existente. No trecho 2 a abordagem varia pois o rio
se encontra em uma área urbana ainda não consolidada, tendo a possibilidade de tratamento e
integração urbana com mais facilidade. Na unidade de paisagem 3, a escolha dos pontos
estratégicos privilegiou a exposição das intervenções urbanas passadas e a relação de um tecido
urbano mais consolidado com o corpo hídrico que corta o centro da cidade. O trecho 4
corresponde a foz do rio e o ponto escolhido demonstra a situação do curso d'água após passar
o centro da cidade, chegando na área de proteção próxima ao aeroporto.
Os trechos do Rio Mumbuca, apresentados nas figuras 05 e 06 explicitam os conflitos da sua
travessia na cidade.
Figura 05: Trecho junto à ponte à Av. Beira Rio Figura 06: Rio Mumbuca cortando a cidade
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Fonte: autoria das pesquisadoras, 2019 Fonte: autoria das pesquisadoras, 2019
Os resultados, até o presente momento, nos permitiram concluir que os rios Ubatiba/Mumbuca
vêm passando por um processo antrópico acelerado, reduzindo sua capacidade ecossistêmica
no tocante à disponibilidade hídrica e como elementos da paisagem urbana.
CONCLUSÃO
Através do processo de análise acima referenciado, com base em abordagens perceptiva e
investigativa foi possível traçar um comparativo entre as unidades de paisagem, considerando,
sobretudo a expansão urbana. É sentida a ausência de programas de recuperação e conservação
dos ecossistemas em um contexto do bom desempenho do planejamento municipal.
Ao considerar a temática do desenvolvimento sustentável do território, é fundamental a
harmonização entre os diferentes instrumentos normativos produzidos, de forma que os
mesmos possam se adaptar às novas realidades da cidade, assim como a exigência de maior
mobilização da população frente às transformações em curso.
Neste sentido, soluções práticas e factíveis perpassam uma trama temática altamente complexa
e ampla, que envolve política, economia, meio ambiente, urbanização e sustentabilidade entre
outros.
A situação de vulnerabilidade ambiental é extremamente preocupante, demonstrado em razão
da deficiência do abastecimento de água à população, mas, sobretudo à descaracterização das
unidades de paisagem refletindo na necessidade de esforços a serem voltados ao planejamento
da paisagem como exigência para o desenvolvimento sustentável do território. A reflexão aqui
apresentada não esgota outras possibilidades de investigação mas busca a compreensão e o
conhecimento da área de estudo.
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http://atlas.ana.gov.br/Atlas/forms/Home.aspx
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Trabalho Inscrito na Categoria de Artigo Completo
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