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1 O PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO DO TOTORÓ E O TURISMO (Uma proposta de sustentabilidade e preservação) Everilson dos Santos

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1

O PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO DO

TOTORÓ E O TURISMO

(Uma proposta de sustentabilidade e preservação)

Everilson dos Santos

2

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ

DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA E GEOGRAFIA

CAMPUS CAICÓ

O PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO DO TOTORÓ E O TURISMO

(Uma proposta de sustentabilidade e preservação)

EVERILSON DOS SANTOS

CAICÓ/ RN

OUTUBRO/ 2007

3

EVERILSON DOS SANTOS

O PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO DO TOTORÓ E O TURISMO

(Uma proposta de sustentabilidade e preservação)

Monografia apresentada à Disciplina Pesquisa Histórica II, do Curso de Licenciatura e Bacharelado em História do Centro de Ensino Superior do Seridó, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, sob a orientação da Dr. Claudia Cristina do Lago Borges.

CAICÓ/ RN OUTUBRO/ 2007

4

EVERILSON DOS SANTOS

MONOGRAFIA APRESENTADA COMO REQUISITO PARCIAL PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE BACHAREL DO CURSO DE HISTÓRIA DO CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ, DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE, PELA SEGUINTE BANCA:

Claudia Cristina do Lago Borges Prof (a). Orientadora.

Paula Sonia de Brito Prof (a). Examinadora.

Vanessa Spinosa Prof (a). Examinadora.

CAICÓ/ RN

5

OUTUBRO/ 2007

Dedico este trabalho à pessoas

extraordinárias que ao longo da

trajetória acadêmica tiveram uma

importância muito grande em minha

vida, como meus irmãos e amigos,

além de toda a minha família, valeu...

6

AGRADECIMENTOS

A começar os agradecimentos, depois de tantas lutas no decorrer dos degraus

da jornada acadêmica, quero aqui citar o ser eterno e soberano único, que me

proporcionou capacidade para exercer este trabalho de conclusão de curso.

Agradeço também a meus irmãos por todas as ajudas possíveis que realizaram

ao meu favor, a minha namorada. Aos professores e professoras que dentre os quais

estão; Claudia Cristina do Lago Borges, minha orientadora que despertou em mim

vontade e entusiasmo de pesquisar, ajudando-me no que me era preciso para a

realização desta pesquisa, a Miurakytan e Vanessa Espinosa, ministrantes da disciplina

pesquisa histórica II, realizadas nas tardes quentes de Caicó, entretanto, bem

proveitosas e descontraídas.

Agradeço aos moradores da comunidade Totoró, que com grande atenção nos

acolheu nos momentos das pesquisas de campo em que passaram toda uma manhã

conosco desprendendo tempo para nos ajudar a localizar os sítios arqueológicos

citados aqui neste trabalho. Agradeço também a seu Dedé e a Wolmar, que foram

comigo de carro até ao local e realizaram os registros fotográficos das áreas

arqueológicas onde havia os registros rupestres, e com certeza pelos momentos de

descontração que ali tivemos.

E, como não poderia esquecer, a Residência Universitária Masculina, “um lugar

bom de se viver” onde passei juntamente com meus colegas de moradia (que no

decorrer foram muitos) grandes aflições numa eterna luta decorrentes da falta de

comida e às vezes de água, mais que apesar de tudo isso vou sentir bastante saudades

da bagunça e da resenha ali feitas, sem falar das festas.

De todos da nossa galera, terei muitas lembranças de Sidney, que também entre

outras coisas me ajudou na formatação da monografia, lembranças da galera; Magno,

Givanildo, Jonilson (vulgo Cacheado), Miller, Joseilson “o camarada”.

7

Quero agradecer também em especial a uma pessoa extraordinária que foi de

grande importância no decorrer da minha trajetória acadêmica, Maria Onilda, uma

pessoa de gentileza singular e de uma alegria de viver exemplar, agradeço pelos 2 anos

que passei sendo bolsista na biblioteca, nunca esquecerei esta experiência que para

mim foi tão agradável que teimo a não deixar de trabalhar (apesar de não ser mais

bolsista), devido ser agradável trabalhar com esta criatura de Deus.

Em suma, agradeço a Deus, e a todos que direta e indiretamente contribuíram

para a minha convivência na universidade, aos funcionários, e vigias da

universidade...Valeu a todos.

Everilson dos Santos

8

RESUMO

O presente trabalho analisa a situação do estado de preservação dos sítios arqueológicos do Totoró, encontrados no município de Currais Novos/ RN, região do Seridó, onde o patrimônio arqueológico necessita de uma política de preservação que seja amplamente emergencial, para isso foram discutidas alternativas que ancorassem e fossem determinantes para a conservação dos sítios arqueológicos lagoa do santo, pedra furada e pedra do letreiro, fazendo sobre os mesmos uma análise patrimonial educativo, pois se encontram em um aparente estado de abandono total, muitos deles estão depreciados pela a ação humana devido muitas vezes ao desconhecimento do valor desse patrimônio e outros sendo danificados por agentes da natureza, como insetos. Uma discussão foi lançada de como esse mesmo patrimônio poderia ter uma base auto-sustentável para sua valorização e preservação através do turismo cultural da região.

Palavras chaves: Patrimônio, preservação, turismo arqueológico.

9

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – Lagoa do Santo

FIGURA 2 – Pedra do Letreiro

FIGURA 3 – Pedra do Letreiro

FIGURA 4 – Pedra do Cajú

FIGURA 5 – Pico do Totoró

FIGURA 6 – Pedra do Sino

FIGURA 7 – Pedra do Sino quebrada

FIGURA 8 – Lagoa do Santo

FIGURA 9 – Lagoa do Santo

FIGURA 10 – Pedra do Letreiro

FIGURA 11 – Pedra do Letreiro

FIGURA 12 – Lagoa do Santo

FIGURA 13 – Pedra do Letreiro

FIGURA 14 – Pedra do Letreiro

FIGURA 15 – Açude Totoró

10

SUMÁRIO

DEDICATÓRIA

AGRADECIMENTOS

RESUMO

LISTA DE FIGURAS

INTRODUÇÃO______________________________________________________________________12

1. LAGOA DO SANTO, PADRA DO LETREIRO E PEDRA FURADA: REFEXO DO PATRIMÔNIO

ARQUEOLÓGICO DO TOTORÓ________________________________________________________16

1.1. ASPECTOS GEOLÓGICOS, ACESSIBILIDADE AO LOCAL, LOCALIZAÇÃO E BELEZA

NATURAL DO TOTORÓ__________________________________________________________19

1.1.1. Localização______________________________________________________________.21

1.2. CLASSIFICAÇÃO DAS PINTURAS RUPESTRES DOS SÍTIOS: LAGOA DO SANTO, PEDRA

DO LETREIRO E PEDRA FURADA EM UM APARATO TEÓRICO_________________________23

1.2.1. Classificação das pinturas rupestres dos sítios.________________________________23

1.2.2. Lagoa do Santo.___________________________________________________________26

1.2.3. Pedra do Letreiro__________________________________________________________27

1.2.4. Pedra Furada_____________________________________________________________.27

1.3. FATORES CLIMÁTICOS, A AÇÃO HUMANA, ESTADO DE CONSERVAÇÃO; DISCURSÃO

PARA PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO DO TOTORÓ_________________28

1.3.1. Fatores Climáticos_________________________________________________________28

1.3.2. Ação humana_____________________________________________________________29

1.3.3. Estado de Conservação____________________________________________________.29

1.3.4. Discursão para Preservação do Patrimônio Arqueológico do Totoró_______________30

2. ARQUEOLOGIA DO TOTORÓ SOB A ÓTICA PATRIMÔNIAL E O PATRIMÔNIO SOB A VISÃO

LEGISLATIVA.______________________________________________________________________32

2.1. O CONCEITO GERAL DE PATRIMÔNIO E SEUS VÁRIOS TIPOS.____________________33.

2.1.1. Valor conceitual__________________________________________________________.34

2.2. ARQUEOLOGIA DO TOTORÓ SOB A ÓTICA PATRIMÔNIAL________________________.36.

2.2.1. As leis estaduais._________________________________________________________.37

2.2.2. A constituição e as leis ao patrimônio.________________________________________.39

11

2.3. A PRESERVAÇÃO DO PATRIMONIO ARQUEOLÓGICO DO TOTORÓ ANCORADA NA

ALTERNATIVA TURÍSTICA._______________________________________________________40

2.3.1. Potencialidades Históricas._________________________________________________.41

2.3.2. Preservação arqueológica através da educação patrimonial._____________________.42

2.3.3. Preparando o terreno Turístico.______________________________________________44

3. UMA PROPOSTA DE SUSTENTABILIDADE DO PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO ATRAVÉS DO

TURÍSMO.__________________________________________________________________________47

3.1. SUSTENTABILIDADE DO PATRIMONIO ATRAVÉS DO TURÍSMO.____________________49

3.1.1. As políticas públicas de planejamento.________________________________________.51

3.1.2. Especificações necessárias ao turísmo arqueológico.____________________________52

3.1.3. Turísmo Arqueológico localizado._____________________________________________53

3.2. EDUCAÇÃO TURÍSTICA PATRIMONIAL.__________________________________________54

3.2.1. Dinâmica Cultural; a necessidade do passado.__________________________________55

3.3. COMO VIABILIZAR AS PROPOSTAS.____________________________________________57

3.3.1. Marketing Turístico uma alternativa.___________________________________________58

3.3.2. Exemplos de Turismos arqueológicos._________________________________________60

CONCLUSÃO ______________________________________________________________________.63

BIBLIOGRAFIAS.____________________________________________________________________65

12

INTRODUÇÃO

O homem diferentemente de outros animais, não nasce com as ferramentas

básicas de habilidades de sobrevivência para enfrenta as adversidades impostas pela

vida em seu dia-dia, este necessita de todo um processo de aprendizado cultural

adquirido através uma sociabilização em grupo, conseqüentemente acumulada de

várias gerações por milhares de anos afio, as pinturas rupestres são desenhos feitos e

encontrados em praticamente todo o mundo, e são a expressão viva e documentada

dessa acumulação cultural dos antepassados do homem. Tais pinturas são encontradas

na maioria das vezes em pedras junto a ribeirões ou riachos, sendo estes lugares

denominados pelos arqueólogos de sítios arqueológicos. Um sito arqueológico pode

conter várias pinturas rupestres que por sua vez faz parte de algo ainda maior chamado

de “áreas arqueológicas”, segundo Gabriela Martin, em seu livro: Pré-História do

Nordeste do Brasil (1999). As pinturas rupestres encontradas nos sítios arqueológicos

do Totoró constituem registros memoriais e culturais de um povo, que ainda é pouco

reconhecido como Patrimônio Cultural.

O presente trabalho trata da questão preservacionista dos sítios arqueológicos de

pinturas rupestres do Totoró, comunidade pertencente e distante da cidade de Currais

Novos 12km, os sítios arqueológicos escolhidos e encontrados neste local são; Lagoa

do Santo, Pedra do Letreiro e Pedra furada, segundo algumas pesquisas, as pinturas

arqueológicas encontrados nesta região apresentam grandes semelhanças com as da

tradição agreste (que foi chamado de “agrestóides”), entretanto, é comum aqui no

Seridó serem encontradas pinturas da tradição Seridó que já é uma sub-tradição da

Tradição Nordeste, sendo por isso importantíssimo o estudo e a preservação deste

patrimônio arqueológico.

A preocupação com a preservação dos sítios arqueológicos do Totoró foi a base

de discussões desta pesquisa, encontrar alternativas efetivas de preservação que

mobilize uma relativa parcela da população da comunidade e da cidade de Currais

13

Novos foram os desafios propostos nesta manografia, a preocupação do desgaste e do

descaso deste patrimônio arqueológico impulsionou a elaboração deste trabalho. A

principal discussão evidenciada aqui foi a elaboração de uma pequena economia de

sustentabilidade para assegurar um núcleo de fiscalização de preservação baseada na

reeducação patrimonial, e isso só seria alcançada com firmeza através do Turismo

arqueológico, entretanto para isso, os sítios arqueológicos teria que passar por uma

avaliação das condições de acessibilidades, estrutura, e impacto ambiental ou

patrimonial, e foi e que se discorreu a partir do primeiro capítulo.

No primeiro capítulo começa-se relatando o estado de conservação dos sítios

arqueológicos de pinturas rupestres denominados de Lagoa do Santo, Pedra do Letreiro

e Pedra Furada, todos encontrados na localidade Totoró, evidentemente se fez

necessária à análise da situação das pinturas rupestres encontradas na região que é

explicitado neste início do trabalho monográfico. Os resultados mostraram que o

patrimônio arqueológico do Totoró se encontra em um estado de abandono e de

degradação acelerada devido a fatores das mais variadas formas, entre tudo isso,

observou-se que os próprios moradores não sabem ou não dão a devida valorização ao

patrimônio arqueológico, e até muitos nem sabem que eles constitui um patrimônio que

é teoricamente protegido por lei constitucional, assim muitos dos moradores não se

sentem constrangidos de fazerem fogueiras perto dos locais onde se encontram as

pinturas rupestres, na intenção de plantar durante o inverno. Também é observado que

muitas pichações são praticadas perto e até nas mesmas pedras onde encontra-se as

pinturas, além dos danos efetuados pela natureza onde foram fotografados a ação dos

insetos e outros animais na degradação das pinturas arqueológicas. Dentre o mais, os

sítios tem boa visibilidades e uma ótima trilha.

No segundo capítulo discuti-se a respeito dos sítios arqueológicos enquanto

patrimônio cultural, apresentando seus conceitos e políticas públicas adotadas para

assegurar sua preservação, descrevendo que o termo patrimônio remete-se a algo

particular ou propriedade deixada como herança, mais que também esta além desse

conceito, o patrimônio cultural é o resultado da história e dos costumes de um

determinado povo e, como tal, faz parte da memória coletiva, nas noções mais

modernas, conceito de patrimônio referi-se essencialmente ao conjunto de bens

14

materiais e imateriais representativos da cultura de um grupo ou de uma sociedade,

referindo-lhes identidade e distinguindo-a dos demais grupos culturais.

O patrimônio cultural de um povo lhe confere identidade e orientação,

pressupostos básicos para que se reconheça como comunidade, despertando valores

ligados a história da região, a Pátria, ética e a solidariedade e estimulando o exercício

da cidadania através do senso e lugar e de comunidade histórica, sendo a soma dos

bens culturais de um povo, é de grande importância sua preservação, seja ela de qual

espécie for, com isso a elaboração de pesquisas preservacionistas ou de alternativas

que salvaguarde esse patrimônio, mais para isso foi necessário uma revisão das leis

que favorece e protege os patrimônios culturais, para a procura de uma alternativa

lógica e eficiente para a preservação.

No terceiro capítulo fez-se uma discussão entre educação e turismo, na procura

de uma alternativa mais eficaz para a preservação do patrimônio arqueológico do

Totoró. Com a implantação de um turismo cultural de exploração arqueológica, seria

possível elaborar uma pequena economia de sustentabilidade para a região, entretanto,

para isso seria necessário trabalhar toda a formação educacional da localidade para o

recebimento dos turistas e exploradores das culturas pré-históricas, sendo assim, é

preciso que haja a figura de um planejador de turísmo para efetivação e para coordenar

todo o processo de implantação do turísmo arqueológico de pinturas rupestres.

O planejador do turismo tem que lembrar sempre que, o turísmo arqueológico é

apenas para amparar a sustentabilidade e preservação deste, e não a sustentabilidade

para amparar o turísmo, fazendo assim a alternativa turística poderia proporcionar não

só a preservação das pinturas rupestres, mas também uma pequena economia de

sustentabilidade dos mecanismos impusadores que fazem o turísmo.

15

CAPÍTULO I

LAGOA DO SANTO, PEDRA DO LETREIRO E PEDRA

FURADA: REFLEXO DO PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO

DO TOTORÓ.

16

CAPÍTULO I

LAGOA DO SANTO, PEDRA DO LETREIRO E PEDRA FURADA: REFLEXO DO

PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO DO TOTORÓ.

Este é o resultado dos dados coletados da situação e do estado de preservação

realizado na comunidade Totoró que se encontra dentro do município de Currais Novos,

distante 12 km da cidade, onde se encontra a área arqueológica do Totoró contendo

manifestações subjetivas gráficas dos povos pré-históricos explicitado através de

pinturas ou gravuras rupestres, tais manifestações artísticas culturais encontram-se nos

“sítios arqueológicos1” de pinturas rupestres denominados Lagoa do Santo, Pedra do

Letreiro e Pedra Furada, sendo estes os sítios arqueológicos mais visitados da

localidade, e por isso reflete pressupostamente a situação de preservação e de

depreciação do Patrimônio arqueológico encontrado, seja ela de natureza do tempo,

biológica ou de prática de vandalismo.

O homen pré-histórico a princípios viveu sob regras simples de caça e coleta na

tentativa de sobreviver, acredita-se que os primeiros homens pré-históricos, viviam uma

vida nômade ou seminômade, habitando lugares onde havia farta comida e outras

facilidades no que lhes correspondiam na luta diária da sobrevivência, entretanto, para

esse homem de uma cultura restrita a caça e coleta, a batalha pela vida era na maioria

das vezes árdua e sem muitas perspectivas. É verdade que um salto criativo está

direcionalmente ligado ao crescimento da capacidade craniana do último estágio

conhecido do ser humano moderno, ao qual os antropólogos deram o nome de “homo

Sapiens-sapiens2” .

Um maior domíneo sobre a natureza libertou o homen das regras instáveis de

sobrevivência da caça e coleta, onde não existia a manufatura de cultivo de comida

devido ao nomadismo. Na realidade, o sedentarismo do homen foi o fator decisivo na

1 Sítio Arqueológico, conforme PROUS, André. Arqueologia brasileira. Brasília: UnB, 1992. p. 27, é o

resultado de processos freqüentemente complexos, que atuam desde os tempos imediatamente anteriores à primeira presença humana no local. Esses processos evidenciam as características estruturais que o arqueólogo deve reconhecer e interpretar para classificá-lo como Sítio Arqueológico. 2 GUGLIELMO, A. Roberto. A Pré-História, uma abordagem ecológica. Ed. brasiliense. São Paulo. 1991.

p 33.

17

criação de uma cultura de grupos, e isso só foi alcançado devido ao aperfeiçoamento

das técnicas de caça e da fixação, na maioria das vezes temporárias, desses grupos

juntos a rios ou ribeirões.

Dos grupos pré-históricos que habitaram o Nordeste do Brasil nota-se que “os

homens seguiram trajetórias migratórias que acompanhavam os rios3”, como por

exemplo, a bacia do São Francisco foi centro de atração e caminho natural de grupos

pré-histórico desde os fins do pleistoceno, tracejando linhas aleatórias e imprecisas,

chegaram através de bacias hidrográficas percorrendo os principais rios brasileiros

fixando e prosseguindo em seu processo de povoamento, o homem pré-histórico foi

conquistando territórios além da grande bacia do São Francisco no Nordeste do Brasil,

até finalmente conquistar o interior e o litoral.

Nos trechos mais secos do litoral Nordestino, entre os atuais estados do “Ceará e

Rio Grande do Norte, a autora Gabriela Martin4” evidencia a importância dos rios

Jaguaribe, Apodi, Açu e Mossoró. E pertencentes à bacia do Açu, o rio Seridó e seus

afluentes que cortam uma densa área de ocupação pré-histórica conhecida como

microrregião do Seridó.

Basicamente o projeto arqueológico do Seridó trabalha em duas frentes a partir de duas hipóteses. A primeira , que deu inicio ao projeto, partia do pressuposto de que grupos étnicos da tradição Nordeste, originário do sul do Piauí, teriam chegado até à região do Seridó, percorrendo uma distância de 1.200 quilômetros; a extensão, influência, origem e evolução desses grupos, autores das pinturas da chamada sub-tradição Seridó, foram metas pretendidas na primeira etapa das pesquisas, apoiadas, naturalmente, na obtenção de dados através do registro arqueológico.5

O Rio Grande do Norte ocupa um lugar de destaque juntamente com o Piauí em

meio a tantas áreas arqueológicas existente no Nordeste do Brasil, nosso território

abriga uma vasta concentração de pinturas e achados pré-históricos de grande

3 MARTIN, Gabriela. Pré-Historia do Nordeste do Brasil. 3. ed. atual. Recife: Universitária, 1999. p 52.

4 Idem, 1999. p 52.

5 Idem, 1999. p 110.

18

relevância para a arqueologia brasileira, no interior Potiguar, ou seja, o Seridó6 e outras

áreas de nosso estado, são encontradas registros Pré-históricos da presença

incontestável do homen em território brasileiro antes da vinda dos europeus, e tais

registros, que são encontrados em sítios arqueológicos algumas cidades do Seridó, que

dentre elas esta em especial, onde elaborou-se essa presente pesquisa, a cidade de

Currais Novos.

Os sítios arqueológicos Lagoa do Santo, Pedra do Letreiro e Pedra Furada, já

foram analisados por vários pesquisadores que trabalharam no Seridó a procura de

vestígios da presença do homem pré-histórico, nos quais também foram encontraram

restos de esqueletos de animais da mega-fauna7 que hoje pertence a colecionadores

particulares, o que demonstra perfeitamente que a região necessita de um maior

cuidado das autoridades constituídas e presentes nos municípios do Seridó.

Segundo a tradição oral, é sabido que sempre existiu as pinturas rupestres

encontradas na região do seridó, no caso do Totoró, comunidade que fica no município

de Currais Novos, os mais velhos moradores falam da existência dessas pinturas, e

atribuem-nas aos índios ou caboclos. As senas retratadas são formas de comunicação

entre o passado desses homens com o nosso presente, e podemos saber graças as

contribuições dessas pinturas, dentre outros vestígios deixados, o que os povos pré-

históricos casavam, seus rituais e sua forma de entender o mundo ao seu redor.

O Totoró possui uma exuberante paisagem, abriga um grande patrimônio

arqueológico, com seus sítios de tradição “Agrestóides8”, o que o torna interessante

para muitos arqueólogos, pois, dentre outros motivos, está na região seridó, e sendo

assim dentro da tradição seridó. “Cada tradição é atribuída a um grupo característico, e

que habita locais específicos de acordo com unidades de análises que podem ser

técnicas, temáticas, os pigmentos utilizados 9”.

6 Zona fisiográfica situada na região semi-árida do interior do estado do RN, característico da formação

Pré-Cambriana, está formada principalmente de por quartzitos, gnaisses e granitos, tendo o relevo constituído por serras com altitude média de 500 metros, cortada pelo vale do rio Seridó, pertencente a bacia do Açu.(CLIO, Série Arqueologia, n°5,Recife: UFPE, 1989.p 19) 7 Animais de fauna plestocênica característico por serem de grande porte, como por exemplo, a preguiça-

gigante, tatu-gigante entre outros. PROUS, André. Arqueologia brasileira. Brasília: UnB, 1992. p.139. 8 Apesar de serem encontradas no Seridó, as pinturas rupestres do Totoró apresentam características

semelhantes as da tradição agreste, e isto são bons motivos de incentivos para novas pesquisas. 9 ANDRÉ, Prous. Arqueologia Brasileira. Ed: UNB. 1992. p. 510.

19

Hoje sabemos que as pinturas rupestres se não bem cuidadas não existiram por

muito tempo, pois a ação da natureza que juntamente com a crescente mudança

climática antecipada e acelerada pelo homem, os atos de vandalismos, estão acabando

com os sítios pré-históricos, e com políticas preservacionistas sem assistencialismos, o

patrimônio arqueológico do nosso estado está entregue a sua própria sorte, sendo

preciso a elaboração de projetos que faça um levante da situação e uma análise precisa

e atual desse patrimônio arqueológico para sensibilizar a sociedade em geral, pois é

dever do município de Currais Novos incentivar e conscientizar a comunidade do Totoró

da importância desse bem para as gerações futuras.

1.1. ASPECTOS GEOLÓGICOS, ACESSIBILIDADE AO LOCAL, LOCALIZAÇÃO E

BELEZA NATURAL DO TOTORÓ.

Na realidade são três os sítios analisados na região do Totoró, Lagoa do Santo,

Pedra do Letreiro e Pedra Furados, que são formados por grandes blocos de pedra de

granito, muitos dizem terem se desprendidos do topo da Serra das Queimadas e

rolaram até onde se encontram hoje, beleza das pedras é impressionante, e tem sua

maioria aqui no seridó formação Pré-Cambriana, sendo que sua zona fisiográfica10

apresenta litologia predominante de quartzitos, gnaisses quartzo-feldespatos, xistos

biotíticos e granito. Essas pinturas rupestres, no caso da Lagoa do Santo, as pinturas

estão localizadas em uma pequena abertura embaixo de uma “monstruosa” pedra, que

por sua vez esta sobre posta a outras, numa arquitetura natural que a torna peculiar,

além disso este lugar tem sua própria proteção, devido ao posicionamento desta pedra

e das pinturas de seu interior, entretanto a ação das chuvas e a ação dos ventos tem

dado sua contribuição para o desgaste da rocha de formação de granito, pois é visível

que esta grande rocha não apresenta mais quinas sendo ela de formato delineado, o

que caracteriza duas coisas, que ela pode ter rolado de serras próximas ou que este é o

resultado de anos a fio de desgastes. O mesmo acontece na Pedra do Letreiro, no

entanto com mais intensidade, desta feita a Pedra do Letreiro não é tão grande quanto a

10

MARTIN,op. cit. p 110.

20

Pedra do Letreiro, mais sua beleza não fica atrás, pois trata-se de uma grande pedra de

formato “ovular” sobreposta em outra de dimensões pequenas, lugar este escolhido

pelos homens pré-históricos para fazerem suas pinturas que retratavam suas vidas e

seus afazeres cotidianos, um lugar privilegiado pela beleza e proximidades dos rios e

poços existentes perto do local, observa-se também que existe uma proximidade entre

esses dois sítios, Lagoa do Santo e o da Pedra do Letreiro.

Em relação ao Sítio da Pedra Furada, a característica fundamental da pedra é

também o granito que teve sua formação resultante de da atuação de agentes e

processos intempéries11 e erosivos da natureza, o que gerou em seu meio um buraco,

sendo assim chamado de Pedra Furada por este motivo.

Fig. 1. Lagoa do Santo

. Fonte: Acervo do autor.

Foto: Wolmar Bastos

Fig. 2. Pedra do Letreiro Fig. 3. Pedra do Letreiro

.

F Fonte:Acervo do autor. Fonte: Acervo do autor.

Foto: Wolmar Bastos. Foto: Wolmar Bastos

11

[Do lat. Intempérie.] Substantivo Feminino...Os rigores das variações das condições atmosféricas (temperatura, velocidade dos ventos, ação das chuvas etc).Fonte: Dicionário Aurélio.

21

Quanto à acessibilidade, é traçada uma contagem de 12 km da cidade de Currais

Novos até o Totoró, onde se encontram os sítios arqueológicos sitados acima, a estrada

de acesso é de terra batida, não havendo, portanto asfalto nem calçamentos, mais com

boas condições de tráfego, com isso a visita a esse lugar se torna mais dificultosa e ao

mesmo tempo prazerosa, pois o visitante ou pesquisador sente-se em um ambiente

arqueológico.

1.1.1. Localização

O Totoró localiza-se em uma região de serras, situado em sua porção norte pelas

seguintes coordenadas, UTM 9.312,9N, 766,2E e 9.318,3N 771, 8E12, e os sítios

arqueológicos estão dentro dessas coordenadas.

O lugar é de extrema beleza natural, que na realidade, ao chegar na cidade de

Currais Novos, em determinados lugares da cidade, chama logo a atenção o pico do

Totoró, uma formação de rochas e sedimentos, que alguns informalmente falam ter sido

um dia um vulcão, em épocas remotas da formação e separação dos continentes do

planeta, além de tudo isso, o pico do Totoró (Fig: 5 ) é cercado por um grande açude,

onde esta uma formação rochosa de grande curiosidade, a chamada pedra do caju (Fig:

4), sendo esta o resultado de processos erosivos que nitidamente lhe deu a forma deste

fruto de grande abundância de algumas regiões e cidades do seridó, também encontra-

se em um determinado local próximo ao sítio arqueológico da Lagoa do Santo, uma

misteriosa pedra, que ao batê-la emite um som muito semelhante ao som de um sino de

igreja, e por isso chamada de “Pedra do Sino”, segundo moradores das proximidades

esta pedra é muito visitada por muitos estudiosos de vários lugares do mundo, que vem

ao local para fotografá-las e pesquisar as pinturas rupestres encontradas em outros

locais. “Esta mesma pedra mostra claramente que o patrimônio arqueológico do

Totoró13” não tem uma política séria de preservação, pois a mesma encontra-se

quebrada ao meio devido a fortes batida de muitos que não tem noção do valor deste

12

MEDEIROS, W. D de A. Sítios Geológicos e geomorfológicos dos municípios de Acari, Carnaúba dos Dantas e Currais Novos, Região Seridó do Rio Grande do Norte, RN: UFRN/PP Geo, 2003. p 46. 13

Na verdade, esse patrimônio arqueológico consiste em uma grande área arqueológica contendo vários sítios, onde já foram encontrados, (além de pinturas e artefatos arqueológicos), ossos de animais da mega-fauna, que hoje encontra-se em coleções particulares.

22

patrimônio para a região. Além destas coisas, a região do Totoró foi o berço da criação

da cidade de Currais Novos, e por essa causa é um lugar de grande orgulho para a

cidade, pois é responsável por uma gama de pesquisas universitárias e publicações a

nível nacional de estudos arqueológicos.

Fig. 4. Pedra do Caju Fig. 5. Pico do Totoró

Fonte: Acervo do autor Fonte: Acervo do autor

Foto: Wolmar Bastos Foto: Wolmar Bastos

Fig. 6. Pedra do Sino. Fig. 7. Pedra do Sino quebrada

Fonte: Acervo do autor. Fonte: Acervo do autor

Foto: Wolmar Bastos Foto: Wolmar Bastos

23

1.2. CLASSIFICAÇÃO DAS PINTURAS RUPESTRES DOS SÍTIOS: LAGOA DO

SANTO, PEDRA DO LETREIRO E PEDRA FURADA EM UM APARATO

TEÓRICO.

1.2.1. Classificação das pinturas rupestres dos sítios.

Muitos trabalhos acadêmicos descritivos e ensaios explicativos foram

desenvolvidos desde quando as pinturas rupestres pré-históricas vieram à tona com as

primeiras descobertas na Europa, sendo constantemente considerados fontes de

informação para a pesquisa arqueológica, curiosamente sua utilização ficou muito

restrita pela falta de operacionalidade dos procedimentos analíticos utilizados para seu

estudo, o que resultou em um vício especulativo de teorias explicativas que foi um dos

fatores desta situação.

Nos inícios das pesquisas, as análises dos registros rupestres pré-históricos foram, freqüentemente, realizadas utilizando-se procedimentos análogos aos aplicáveis ao estudo de obras pictóricas de sociedades históricas. Sobre esse período existem conhecimentos sobre os mais diversos aspectos da vida social, que fornecem um contexto cultural de referência. Este universo contextual é que permite propor explicações que tomam como base relações entre aspectos do fenômeno pictural e dados do contexto cultural, podendo-se considerara obra gráfica como um fenômeno social.14

Muitos pesquisadores e historiadores consideram os registros rupestres

unicamente como obras artísticas de épocas pré-históricas, e isso segundo Anne-Marie

Pessis, é uma abordagem que não é de grande utilidade para a pesquisa arqueológica,

e sua freqüente abordagem significa que o reflexo de uma mentalidade de uma época

marcada pelo etnocentrismo15 e de uma bitolação Eurocêntrica16, que foram

responsáveis também por numerosas distorções nos inícios do estudo destes registros,

ainda permanecem presentes em nossa sociedade cientifica. Sendo assim, as pinturas

14

PESSIS, Anne-Marie. Clio Arq. Recife v.1 n.8 35-68 1992. p. 37 15

Tendência do pensamento a considerar as categorias, normas e valores da própria sociedade, ou cultura como parâmetro aplicável a todas as demais.(Dicionário Aurélio) 16

Tendência de pensamento Europeu como padrão das outras linhas de pensamentos.

24

foram classificadas como obras artísticas de sua época, e com isso foram julgados

como dentro dos critérios simétricos e estéticos que são utilizados para obras históricas,

que é uma perigosa análise, pois usar o desenvolvimento artístico como um indicador do

grau de desenvolvimento cultural dos grupos envolvidos não cabe em um procedimento

arqueológico.

A tendência atual entre os arqueólogos é não interpretar as representações rupestres e sim apenas descrever o que há, o que se pode ver, procedendo-se a análise mais técnicas do que interpretativas, utilizando-se critérios técnicos que valorizam sabe-se como os grafismos foram realizados, quais os recursos materiais empregados e, principalmente, quais os grafismos que podem ser considerados como representativos de uma tradição rupestre determinada.17

O presente trabalho não pretende dar possíveis interpretações das pinturas

arqueológicas, até por que se trata de uma monografia de conclusão de curso,

entretanto, independentemente das interpretações possíveis dos autores aqui citados,

sobre a natureza das pinturas, os registros são fontes de dados antropológicos

portadores de uma informação insubstituível, evidências de uma forma particular de

comunicação social, pois, segundo Anne-Marie Pessis, são observáveis particularidades

tanto nas encenações gráficas como nas técnicas utilizáveis. Todavia apontaremos

certas particularidades encontradas em lugares onde não deveriam, pelo menos em

tese, aparecerem determinadas tradições.

Muitos especialistas em registros rupestres procuram através de suas pesquisas, e com recursos de diversas disciplinas, chegar a caracterizar grupos culturais. Mas essas abordagens ignoram sistematicamente o contexto arqueológico no qual os registros passam a ter alguma significação. Esse procedimento é prejudicial para a pesquisa, pois leva a conclusões diferentes ou até contraditórias segundo a disciplina de origem na qual os registros são estudados.18

17

MARTIN.op.cit,p.248. 17

PESSIS, Anne-Marie.Clio Arq. Recife v.1 n.8 35-68 1992. p 40.

25

Para sistematizar e dar uma linha de procedimentos científicos, os arqueólogos e

historiadores pré-históricos deram termos de classificações para os registros rupestres

do Brasil chamados assim de “tradições” 19 que depois vieram as sub-tradições e estilos.

Nas tradições elaboradas estão a “tradição Agreste e a Tradição Nordeste”, a Tradição

Nordeste é facilmente identificável, segundo Gabriela Martin, devido a variedade dos

temas representados nas cenas encontradas, e pela riqueza de enfeites e atributos que

vem juntamente com as figuras humanas, onde também apresentam indicadores de

hierarquias e diferentes tribos, sendo que as figuras são de pequeno tamanho,

apresentando uma agitação e caracterizadas pelos movimentos retratados, geralmente

são entre cinco e quinze centímetros de tamanho, e seus rostos expressão gritos ou

manifestações aleatórias. Já na Tradição Agreste é característico, principalmente, pelo

nome, devido a grande concentração de sítios com pinturas junto a pés de serras,

várzeas e brejos de algumas regiões, e em comparações com a Tradição Nordeste é de

inferior riqueza técnica e gráficas, tendo os grafismos de grande tamanho, sem formar

cenas, e quando estas existem, apresentam poucos indivíduos e animais.

Depois desse contexto explicativo das principais Tradições do Nordeste do Brasil,

volta-se a pesquisa para as análises elaboradas no Seridó do Rio Grande do Norte,

mais precisamente para a comunidade Totoró, localizada no município da cidade de

Currais Novos, onde encontra-se os sítios arqueológicos de pinturas rupestres de nome,

Lagoa do Santo, Pedra do Letreiro e Pedra Furada. Dentre as análises efetuadas nos

sítios observa-se que as pinturas apresentam, (como outros trabalhos confirmam), suas

pinturas semelhantes as da Tradição Agreste, entretanto, encontra-se em uma área da

sub-tradição chamada de Sub-Tradição Seridó, o que intriga os pesquisadores, pois

encontra-se isolada e longe da Tradição Agreste, sendo a única representação

conhecida do gênero aqui no seridó, sendo de grande importância seu estudo por não

haver um trabalho minucioso sobre elas. Sendo assim, esse Patrimônio arqueológico

detém uma gama de argumentos para futuras pesquisas.

19

(...) Compreende a representação visual de todo um universo simbólico primitivo que pode ter sido transmitido durante milênios sem que, necessariamente, as pinturas de uma tradição pertençam aos mesmos grupos étnicos, além do que poderiam estar separados por cronologias muito distantes.(MARTIN, Gabriela. Pré-História do Nordeste do Brasil. 3. ed. atual. Recife: Universitária, 1999. p. 240.)

26

Observa-se que as pinturas dos sítios arqueológicos do Totoró, necessitam de

uma política de preservação mais presente, se é que tem alguma, pois as mesmas

encontram-se em um estado deplorável de preservação, resultado dos agentes naturais

e da depreciação humana. Os sítios da Lagoa do Santo, Pedra do Letreiro e Pedra

Furada, já se encontra sinais do tempo e do desgaste da presença informal de pessoas

ao local, movidas de curiosidades, elas simplesmente tocam e ate rabiscam as pinturas,

o que esta desgastando consideravelmente a visibilidade das pinturas, como mostra a

foto abaixo.

Fig. 8. Lagoa do Santo Fig. 9. Lagoa do Santo

Fonte: Acervo do autor. . Fonte: Acervo do autor.

Foto: Wolmar Bastos. Foto: Wolmar Bastos.

1.2.2. Lagoa do Santo.

Apesar de algumas pinturas permanecerem em um bom estado de conservação,

a fig. 9 apresenta algumas danificações devido aos agentes biológicos, no caso ai

retratado, marimbondos, sendo elas do sitio Lagoa do Santo. É preciso um melhor

cuidado para não danificar um registro pré-histórico de valor cultural e patrimonial

inestimável.

27

1.2.3. Pedra do Letreiro

Já no sítio da Pedra do Letreiro só são encontrados sinais de desgastes devido a

fatores biológicos, por ser de difício alcance, as pinturas tem consigo uma proteção

natural com relação a ação humana, entretanto, necessita de cuidados pois o acesso a

ela é bem fácio.

Mas os fatores biológicos tem sido um determinante de degradação do sítio, pois

encontra-se sobre as pinturas enxus de abelhas, que por sinal é extremamente

agressivo para as pinturas.

Fig.10. Pedra do Letreiro. Fig. 11. Pedra do Letreiro.

Fonte: Acervo do autor Fonte: Acervo do autor

Foto: Wolmar Bastos Foto: Wolmar Bastos

1.2.4. Pedra Furada

O sítio Pedra Furada observa-se a atuação dos processos intempéricos e

erosivos, que foi na verdade a causa primordial que gerou um buraco no centro da

pedra onde estão as pinturas, sendo por isso chamado de Pedra Furada. Na realidade,

trata-se de um abrigo, com uma figura antropomorfa, que uma figura típica da tradição

agreste, o que faz pensar na possibilidade da convivência de várias populações

habitando o local.

28

No geral, nesses sítios as figuras e inscrições rupestres não representam uma

composição simétrica para quem a procura, pois são compostas de símbolos como:

quadrados, grades, círculos.

Fig. 12. Lagoa do Santo. Fig. 13. Pedra do Letreiro.

Fonte: Acervo do autor. Fonte: Acervo do autor

Foto: Wolmar Bastos. Foto: Wolmar Bastos.

1.3. FATORES CLIMÁTICOS, A AÇÃO HUMANA, ESTADO DE CONSERVAÇÃO;

DISCURSÃO PARA PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO DO

TOTORÓ.

1.3.1. Fatores Climáticos.

O Patrimônio Arqueológico do Totoró encontra-se no seridó do Rio grande do

norte, com isso, está dentro da faixa chamada de semi-árido, caracterizada pelo clima

seco e quente, o que aparentemente não prejudica muito as pinturas, entretanto, nos

últimos anos com as mudanças climáticas afetando o planeta, a região seridoense tem

enfrentado instabilidades climáticas, com falta de chuvas.

29

1.3.2. Ação humana.

A ação humana, que afeta e degrada os sítios arqueológicos, é visto claramente

na região, muitos são resultante da falta de informações dos moradores com relação a

importância do Patrimônio Arqueológico do Totoró, pois com a construção de cacimbas

e até com queimadas para o plantiu, as pinturas rupestres tem sido afetadas

grandemente, e além disso existe algumas pessoas mau intencionadas que escrevem

seus nomes nas rochas próximas as pinturas rupestres.

1.3.3. Estado de Conservação.

Apesar de tudo, o estado de conservação das pinturas rupestres do Totoró ainda

não é algo alarmante, contudo, observa-se que muitas delas estão apagando-se por

diversos fatores já citados, o que faz mais urgente a elaboração de uma política

preservacionista mais séria para a região do Totoró.

Fig. 14. Pedra do Letreiro.

Fonte: Acervo do autor.

Foto: Wolmar Bastos.

(Deteriorização causada pelo agente biológico)

30

1.3.4. Discursão para Preservação do Patrimônio Arqueológico do Totoró.

O Patrimônio arqueológico do Totoró tem uma importância fundamental para o

desenvolvimento turístico do lugar, sendo assim, sua preservação deve ser

acompanhada por políticas educacionais de conscientização da população do lugar.

Primeiramente, se trata de uma necessidade estabelecer uma educação patrimonial

sobre o bem cultural, que deve partir da participação ativa da população através da

acessibilidade aos conhecimentos provenientes das pesquisas arqueológicas já

produzidas.

Segundo a carta Internacional para Patrimônio Arqueológico, promulgada pelo Icomos em 1990 com bases na Carta de Veneza, vemos que o patrimônio arqueológico é tratado conforme princípios recomendações fundamentais de alcance global. Estas recomendações englobam várias etapas que vão desde as obrigações públicas e dos legisladores, as regras profissionais aplicáveis ao trabalho de inventário, prospecção, escavação, documentação, conservação, preservação e restauração do patrimônio arqueológico. 20

O Patrimônio Cultural seja ele Arqueológico ou Histórico sempre foi deixado em

segundo plano pelos governantes, e sua preservação é dada somente a população que

muitas vezes é totalmente leiga no assunto, ficando assim sem amparo, o Patrimônio

arqueológico do Totoró sobrevive por sua própria sorte.

Um patrimônio ameaçado só é restabelecido com discurssões aprofundadas de

sua importância e de sua potencialidade para o turismo da região, mas tem que haver

um amparo legislativo garantido pelo município onde se encontra.

20 COSTA, Diogo Meneses. IGPA/UCG

31

CAPÍTULO II

ARQUEOLOGIA DO TOTORÓ SOB A ÓTICA PATRIMÔNIAL E O

PATRIMÔNIO SOB A VISÃO LEGISLATIVA.

32

CAPÍTULO II:

ARQUEOLOGIA DO TOTORÓ SOB A ÓTICA PATRIMÔNIAL E O PATRIMÔNIO SOB

A VISÃO LEGISLATIVA.

O patrimônio arqueológico existente no Totoró é uma das muitas atratividades do

Turismo da cidade de Currais Novos, que, no entanto, nos últimos anos vem sendo alvo

de vários fatores de depreciação das mais variadas formas, que na verdade é apenas o

reflexo do intenso abandono e da falta de projetos de incentivos ao turismo educativo

por parte das políticas públicas do município. Um verdadeiro sentimento de alienação e

de falta de conhecimento toma conta da população do município de Currais Novos com

relação ao patrimônio arqueológico em questão, como se essa cultura não fosse, de

modo algum, relevante ou digna de atenção, ate mesmo os próprios moradores do

Totoró tratam o patrimônio arqueológico como “rabisco de tinta”, claro, pela falta de

conhecimento, que na realidade é responsável direta da falta de cuidados dos

moradores, resultado concreto do abandono da sociedade Currais-novense.

Os sitos arqueológicos estão em constantes e permanentes riscos de

degradação, tanto por fatores antrópicos como por vias naturais, entretanto esses

fatores vêm se agravando progressivamente devido a quebra do equilíbrio natural das

forças climáticas da Terra, que vem acelerando o processo de deteriorização das

pinturas rupestres do Totoró, que também tem a contribuição conseqüente da falta de

gestão.

Portanto, o pensar arqueologia e o pensar sobre o patrimônio, estão inseridos neste contexto de gestão sobre um patrimônio ameaçado, onde um dos pontos importantes no desenvolvimento e controle destas atividades de “salvamento” dos sítios arqueológicos é a relação direta com a legislação pertinente, que é representada principalmente pela resolução Conama 001/86, que ao incluir “os sítios e monumentos arqueológicos, históricos e culturais da comunidade” entre os fatores componentes do meio sócio-ecomômico, que devem ser resgatados de uma dada área impactada por uma alteração no meio ambiente natural que modifica o patrimônio cultural e natural, de tal forma que

33

impossibilitará qualquer pesquisa ou projeto de conservação e exploração posterior.21

Sendo deste modo, o trabalho da restauração e da conservação do patrimônio

arqueológico do Totoró são provavelmente desafiadores e gradativos, pois não há

identidade sem memória e não há memória sem preservação, tudo isso é um mero

reflexo da educação de preservação, além das ações antrópicas e naturais, sendo deste

modo uma situação precária e aquém dos interesses da sociedade Currais-Novense.

2.1. O CONCEITO GERAL DE PATRIMÔNIO E SEUS VÁRIOS TIPOS.

A idéia geral de patrimônio surgiu pela primeira vez como uma concepção de

passado que garantiria a continuidade da cultura, que depois foi assimilada como

materialidade e mantida pelo poder público com interesses no presente. Na verdade, o

patrimônio cultural no processo de sua formulação como algo definido e conceitual de

grande importância para o resgate da memória cultural e valores imateriais, envolveu

vários elementos que perpassaram desde interesses econômicos, políticos à atitudes

individuais. Antigamente o termo Patrimônio se referia a algo individual, privado,

segundo a concepção romana, sendo que, após o renascimento22 tomam-se outros

rumos conceituais, tornando-se um bem público, adquirindo assim valores simbólicos de

antiguidade e raridade. Agora o patrimônio passar a ser um artefato cultural construído

para representar o passado e não constituído para celebrar o presente.

Na tradição cristã, a Igreja Católica é uma grande incentivadora da guarda de

objetos e relíquias antigas de cultos religiosos, templos e outros, legitimados como

patrimônio, sendo que a preservação destes objetos era para a igreja algo de extrema

importância na conservação das suas ideologias, pois tais patrimônios serviam como

21

FORTUNA. C. A. Pozzi, Henrique A. Candido, Manuelina M.D. A Arqueologia na Ótica Patrimonial, In Canindé do Museu de Arqueologia de Xingo, UFS, 2001. (p. 144-143). 22

Movimento artístico e científico dos séculos XV e XVI, que defendia o retorno aos conceitos básicos da antiguidade clássica.

34

objetos de pregação da grandiosidade do poder divino, preservando-os para uma

coletividade futura e assegurando o poder da igreja.

Nos governos, o patrimônio era objeto de uso para engrandecer os valores

nacionais, incrementando ainda mais os sentidos de patriotismo e de identidade.

O sentido do patrimônio, ou seja, os bens fundamentais, inalienáveis, se estende pela primeira vez na França as obras de arte, ora em função dos valores tradicionais que se vinculam a esses bens e que os explicam, ora em nome desse sentimento novo de um elo comum, de um riqueza moral de toda a nação [...] A noção do patrimônio se inseriu, portanto, nos projetos mais amplos de construção de uma identidade nacional, e passou a servir a um processo de consolidação dos Estados-Nações modernos.23

Portanto esta modificação da noção de patrimônio para um conceito mais amplo,

de significados objetivos compromissados com a preservação do passado histórico e

cultural de um povo é a soma de agentes de vários processos de transformação da idéia

de patrimônio, onde um conflito é estabelecido sobre o que foi preservado e o que se

deve preservar. É também a compactação do universal para o regional, do antes privado

para o público.

Desta maneira, nas noções mais modernas, conceito de patrimônio referi-se

essencialmente ao conjunto de bens materiais e imateriais representativos da cultura de

um grupo ou de uma sociedade, atribuindo identidade e distinguindo-a dos demais

grupos culturais.

2.1.1. Valor Conceitual.

Na verdade o conceito de patrimônio é tão excessivo, ou seja, de uma

profundidade única que perpassa as esferas simbólicas e materiais, é algo quase

subjetivo em seu valor, pois o que é sagrado e valoroso em uma sociedade, grupo ou

para um indivíduo pode não ser sagrado e valoroso para certas culturas, e até mesmo

23 FONSECA, M. C. L. O patrimônio em processo. Rio de Janeiro: UFRJ/ Minc. IPHAN, 1991. p 59.

35

ser objeto profano. A relatividade aí presente nos dá uma noção geral da complexidade

do conceito geral de patrimônio, que independente das diferenças culturais, torna-se um

bem comum a todos.

No conceito amplo de patrimônio cultural estão presentes as esferas da natureza, o meio ambiente natural onde o homem habita e transforma para sobreviver e realizar suas necessidades materiais e simbólicas, o conhecimento, as habilidades, o saber fazer humano, necessário para a construção da existência em toda sua plenitude, e os chamados bens culturais propriamente ditos, que são os produtos resultantes da ação do homem na natureza.24

Na década de 30, com a onda “modernista” de conhecer e preservar as

manifestações culturais brasileiras, surgiu o órgão federal de preservação (SPHAN)

Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, e com ele o primeiro documento

oficial de preservação do patrimônio brasileiro, o documento n° 25 de 1937 que decretou

como patrimônio histórico e artístico nacional o conjunto de bens móveis e imóveis

existentes no país ao qual sua preservação fosse algo de grande interesse para a

nação, e que evidenciassem fatos memoráveis da história nacional ou que tenha valores

culturais mais amplos como arqueológicos, etnográficos, bibliográficos e artísticos.

Entretanto certos valores patrimoniais só foram alcançados efetivamente com o

advento do “tombamento” ou seja, pólos sob a guarda do Estado, para os conservar e

os proteger dos efeitos nocivos do tempo, da natureza e dos efeitos antrópicos.

Na verdade, o patrimônio cultural é algo bastante importante para a preservação

do legado memorial e de identidade de um povo ou de um indivíduo, e por esse motivo,

é fundamental da própria sociedade (não necessariamente dos grupos a quem

pertencem o legado cultural, mais de toda sociedade) ou da comunidade mais próxima,

a decisão de preservar o patrimônio cultural, que nesse sentido a preservação pode ser

tanto individual quanto coletiva, que só viria através da reeducação patrimonial.

Existem dois tipos de Patrimônio: o patrimônio cultural e o patrimônio natural. O

patrimônio cultural, apesar de sua ampla complexidade conceitual, resumidamente é um

24

MARTINS, Clerton (Org.). Turismo, cultura e identidade. São Paulo: Roca, 2003. p. 51.

36

conjunto de bens materiais e imateriais representativos da cultura de um grupo ou de

uma sociedade25. Já o patrimônio natural são as riquezas que estão no solo e no

subsolo, tanto as florestas quantos as jazidas26.

Patrimônio histórico é definido pelo seu conceito, vindo de uma subdivisão do

patrimônio cultural, que é essencialmente “o conjunto do legado humano material e

imaterial representativo da memória social27”. Já o Patrimônio arqueológico é um pouco

diferente, devido os sítios arqueológicos ser encontrados em áreas de paisagens

naturais, “podem ser os legítimos representantes dos dois tipos de patrimônio; o

patrimônio natural e o patrimônio cultural. 28”

2.2. ARQUEOLOGIA DO TOTORÓ SOB A ÓTICA PATRIMÔNIAL.

Diante deste contexto explicativo do que realmente significa um patrimônio e sua

importância, o patrimônio arqueológico do Totoró é um bem que tem seu valor histórico

e científico, e com isso detém uma gama de conhecimentos que revela ao homem

moderno, a vida e os modos culturais de seu antepassado pré-histórico.

Para a valorização desse patrimônio arqueológico do Totoró é preciso ações

individualistas que surtam efeitos além das políticas públicas efetuadas pelo governo

municipal que apresentam poucos resultados diante de tantos vândalos depreciadores

do patrimônio arqueológico. Entretanto as ações individuais têm dois lados, um positivo

e outro negativo, pois ações individualistas implicam em garantias explorativas

particulares e as peças como artefatos arqueológicos seriam analisadas isoladamente,

dando lugar a especulações teóricas sobre tais artefatos, sendo um ponto negativo, e o

outro ponto que é positivo, seria que através dessa iniciativa particular, as peças

estariam sendo com isso preservadas e cuidadas, o que provavelmente sem tais

cuidados as pinturas rupestres seriam desgastadas com o tempo devido ao abandono.

25

MARTINS, Clerton (Org.). Turismo, cultura e identidade. São Paulo: Roca, 2003. p. 49. 26

BARRETTO, Margarida; BURGOS, Raul; FRENKEL, David. Turismo, políticas públicas e relações internacionais. Campinas: Papirus, 2003. p. 9. 27

BARRETTO, Margarida. Turismo e legado cultural. 5. ed. Campinas: Papirus, 2004 p. 43. 28

DOSSIÊ ARQUEOLOGIAS BRASILEIRAS. p.2. 2005.

37

Sabe-se que a conservação de uma cultura está diretamente ligada a valorização

que tal grupo tem com a mesma, isso acontece também com o patrimônio arqueológico

cultural. Se a população do Totoró tratá-la com desdém e principalmente não houver

uma real preocupação da parte da população do município e do sistema educacional,

não haverá patrimônio preservado e consecutivamente não haverá conhecimentos

futuros e nem a guarda memorial de nossos antepassados pré-históricos. Podem

aparecer perguntas de por que preservar os vestígios culturais dos povos passados, e

as respostas seriam que não devemos destruir uma documentação única em que

podemos saber mediante estudos os modos de vida dos homens pré-históricos, e que

basicamente explica como foram manufaturados os instrumentos que serviu de modelos

para os utilizados hoje, como foram domesticados os animais que hoje convivem com o

homem, e também o que eles comiam, por isso esse documento único constitui um

patrimônio arqueológico de grande preciosidade.

Uma das primeiras providências para a preservação do patrimônio arqueológico

do Totoró, seria um levantamento minucioso da situação dos sítios em particular, sendo

estes os bens arqueológicos mais evidentes e mais expostos às vulnerabilidades do

tempo e da degradação humana. É claramente necessário a adoção de uma postura

mais severa com relação aos depredadores, pois a impunidade dá garantia do descaso

a esse patrimônio arqueológico do Seridó, sendo assim, não se tem o menor receio em

denegrir e destruir a memória dos povos primitivos.

O patrimônio cultural, e especificamente o arqueológico, pode ser uma ponte entre a tradição e a modernidade. Nesse sentido, o discurso passa a ser do desenvolvimento cultural, que se baseia em uma noção de inovação cultural e progresso social, feito por meio da preservação do passado mítico e das tradições locais e regionais29.

2.2.1. As leis estaduais.

A ótica patrimonial tem um aparato constitucional na preservação dos sitos

arqueológicos do Totoró, pois segundo a constituição do Rio Grande do Norte, no Art.

144. da Seção II, onde fala da cultura diz o seguinte:

29

SCATAMACCHIA, Maria Cristina Mineiro. Turismo e arqueologia. São Paulo: Aleph, 2005. . p.80.

38

Constituem patrimônio cultural estadual os bens de natureza material e imaterial, tombados, individualmente ou em conjunto portadores de referencia à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade norte-riograndense30 (...).

Os sítios arqueológicos do Totoró são catalogados e estudados na maioria das

vezes por grupos de estudos vindos de Recife, o que na verdade mostra que a

comunidade seridoense tem pouco estudo e interesse pelo patrimônio em questão, na

realidade, há pouquíssimos trabalhos. É uma espécie de crise de “identidade

patrimonial” pois o que deveria ser cuidado pelos norte-riograndenses é realmente

cuidado por comunidades acadêmicas de outros estados, não que isso seja uma coisa

ruim, mas, entretanto, nos revela a motivação e o interesse do estado e principalmente

dos municípios a quem os sítios arqueológicos pertencem e também a falta de trabalhos

acadêmicos das faculdades potiguares, haja vista que na constituição do estado mostra

no Art. 144. V. que a guarda do patrimônio está sob a responsabilidade do estado do

Rio Grande do Norte.

§ 1º - O poder público, com a colaboração da comunidade, promove e protege o patrimônio cultural estadual, por meio de inventário, registros, vigilância, tombamento, e desapropriação, e de outras formais de acautelamento e preservação. § 2º - Cabem à administração pública, na forma da lei, a gestão da documentação governamental e as providencias para franquear sua consulta a quantos dela necessitam. § 3º - A lei estabelece incentivos para a produção e o conhecimento de bens e valores culturais. § 4º - Os danos e ameaças ao patrimônio cultural são punidos, na forma da lei31.

30

CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE. p. 66. 2003. 31

Idem. p. 66. 2003

39

Além da legislação nacional específica, e de outros artifícios legais, como a

legislação ambiental, de arqueologia e de turismo cultural, a preservação de bens

culturais é orientada por Cartas, Declarações e tratados Nacionais e internacionais.

Destarte, para a criação de uma área de proteção ambiental não se exige a excepcionalidade dos valores a proteger, mas a consecução do “bem-estar das populações humanas” e a conservação ou melhoria das “condições ecológicas locais” (art. 8° da Lei 6.902). Não foram previstas expressamente áreas de proteção ambiental de âmbito municipal. Entretanto, a Lei de parcelamento do solo urbano( Lei 6.766/79) prevê “áreas de interesse especial” (art. 13,I ) tais como “as de proteção aos mananciais ou ao patrimônio cultural, histórico, paisagistico e arqueológico”, onde os estados exercerão fiscalização sobre os municípios32.

Acredita-se que um programa de incentivo a preservação só surtiria efeito se

houvesse uma divulgação efetiva e educativa nas escolas e na comunidade tanto do

Totoró como da cidade de Currais Novos, da importância e da riqueza arqueológica

localizada no município. No mais se espera a efetivação direta das políticas públicas de

preservação do patrimônio arqueológico do Totoró junto com a mobilização e

conscientização social.

2.2.2. A constituição e as leis ao patrimônio.

A constituição Federal de 1988 reza:

Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e

imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referencia à ação, à

memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se

incluem:

32

MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 4. ed. rev. e ampl. São Paulo: Malheiros, 1992. p 43.

40

I. As formas de expressão; II. Os modos de criar, fazer e viver. III. As criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV. As obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais. V. Os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e cientifico.

§ 1° O poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protejerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação. § 2º Cabem à administração pública, na forma da lei, a gestão da documentação governamental e as providencias para franquear sua consulta a quantos dela necessitem. § 3º A lei estabelecerá incentivos para a produção e o conhecimento de bens e valores culturais. § 4º Os danos e ameaças ao patrimônio cultural serão punidos, na forma da lei.33

As leis brasileiras asseguradas na constituição são bem claras com relação ao

patrimônio cultural, e os estados e municípios devem seguir e fazer cumprir o que diz,

ainda que muitas vezes fique somente no papel sua responsabilidade.

2.3 A PRESERVAÇÃO DO PATRIMONIO ARQUEOLÓGICO DO TOTORÓ

ANCORADA NA ALTERNATIVA TURÍSTICA.

Como incentivar efetivamente dentro de uma comunidade e de um município a

paixão pela preservação do patrimônio arqueológico? Essa talvez seja uma pergunta

crucialmente difícil de ser respondida, no entanto, dentre as muitas alternativas

preservacionistas propostas está a alternativa turística para a região do Totoró, sendo

esta potencialmente viável devida sua beleza natural.

O Totoró é um lugar de grandes e altos picos de pedras, detém também um

grande açude que abastece ao pessoal da comunidade. O turismo arqueológico seria

algo que se encaixaria bem para essa região, devido ao clima e a possibilidade de

crescimento que teria resultante das relativas e boas condições de acesso ao local,

33

CONSTITUIÇÃO FEDERAL. p 35. 1988.

41

fazendo com que o turista tenha além de uma experiência cultural, uma agradável

viagem.

Fig. 15. Açude Totoró

Fonte: acervo do autor.

Foto: Wolmar Bastos

2.3.1. Potencialidades Históricas.

Historicamente a região do Totoró já é por si mesma uma forma de atrair o

turismo regional, pois foi nas serras e encostas do Totoró, onde o município de Currais

Novos germinou.

Capitão Cipriano Lopes Galvão, nomeado primeiro Coronel do Regimento de

Cavalaria da Ribeira do Seridó norte-riograndense, adquiriu a sesmaria denominada de

Totoró em 1755, fixiando ali suas fazendas de gado34. São dessa época as linhagens

básicas das grandes famílias que ocuparam toda a região do Seridó, os Tomás de

Araújo Pereira, Caetano Dantas Correia, Rodrigo de Medeiros, e os Cipriano Lopes

Galvão.

A fixação de fazendas de gado nesta região deu início a uma verdadeira feira

agropecuária que atraiu compradores de todo o Rio Grande do Norte e partes de outros

Estados, fazendo do lugar um ponto de referencia e de pouso para viajantes que por

34

MEDEIROS, R.P . Guerras no Sertão. IN:___. O descobrimento dos outros: povos indígenas do Sertão Nordestino no período colonial. Tese (doutorado em história) Universidade Federal do Pernambuco Recife: 2000. p 95.

42

aqui passavam. Com a morte de Cipriano Lopes Galvão, o seu filho, o capitão Mor-

Galvão ficou na administração da fazenda de seu pai, juntamente com sua mãe D.

Adriana, com isso, ele mandou substituir na fazenda Bela Vista os velhos currais de

gado por currais novos, esses currais novos serviu de referencias nominativa para os

viajantes e para toda a região que dantes conheciam esse local por Fazenda Bela Vista.

O Decreto Estadual n° 59, de outubro de 1890 instituiu a criação da vila do

município de Currais Novos e o desmembramento do município de Acari, sendo isso

alcançado em 06 de fevereiro de 1891, mais tarde atingiu a categoria de Cidade em 27

de novembro de 1919, através da Lei n° 486, de 29 de novembro de 1920.

Estes aspectos históricos só contribuem decisivamente para o turismo da região

do Totoró, e dentre outras coisas é claramente perceptível o por quê da escolha de

Cipriano Lopes Galvão em se instalar nesta região denominada de Totoró, pois trata-se

de um lugar de bonitas montanhas e de uma bela vista, além de oferecer alguns

recursos hídricos e naturais para o plantiu, sendo por isso mesmo que o próprio

Coronel colocou o nome de sua fazenda a princípios de”Bela Vista”.

2.3.2. Preservação arqueológica através da educação patrimonial.

Para proteger o patrimônio arqueológico do Totoró é preciso que haja políticas

assistencialistas que tenham parcerias com a comunidade e com as empresas que

pregam a sustentabilidade como a Petrobrás. No patrimônio arqueológico, ao contrário

de outros tipos de patrimônio, não se pode restaurar, pois ao tentar restaurar uma

pintura ou gravura arqueológica os aspectos de originalidade da tinta empregada ou a

gravação nas pedras perdem seu sentido de expressão e delicadeza dos povos pré-

históricos, então ao patrimônio arqueológico só resta a alternativa de preservação,

sendo assim mais urgente a elaboração de políticas sérias antes que seja tarde demais

para elas.

No caso do Totoró, a depreciação já começou há tempos, e não irá parar até que

haja medidas de proteção do seu patrimônio, pois observa-se que muitos dos

moradores não sabem o quanto são valiosas as culturas registradas nas pedras, e

43

muitos não sabem nem que existem Leis de proteção a essas pinturas, que sendo

qualificada como patrimônio há punições severas a quem danificá-las, e é por isso que

muitos não temem em atear fogo junto aos sítios arqueológicos para “limpar” o lugar do

plantiu de milho e feijão.

Na discussão de como “conscientizar” os moradores do Totoró a preservar o

patrimônio arqueológico, existem duas alternativas que teriam mais resultados práticos,

(claro, além de uma boa reformulação nas políticas públicas de preservação do

patrimônio arqueológico), que seriam através do turismo e da educação patrimonial.

A educação patrimonial seria na verdade uma alternativa lógica para amenizar os

problemas de depreciação das pinturas dos sítios arqueológicos do Totoró, pois no

alcance da educação as pessoas teriam um maior respeito pela memória dos

antepassados primitivos.

O patrimônio arqueológico aqui tratado se refere, em especial, aos sítios indígenas e acervo decorrente das pesquisas feitas por instituições especializadas. Tais sítios são locais que contêm evidencias humanas que relembram fatos do cotidiano daquelas populações do passado. O grande número de sítios arqueológicos tem provocado representativa identidade em alguns municípios brasileiros(...)35

Para se realizar uma educação patrimonial na comunidade do Totoró e no

município de Currais Novos é preciso que haja uma experiência direta dos bens e

fenômenos culturais, para que se chegue a uma compreensão e valorização, em um

processo contínuo de descobertas.

Mas como aplicar a metodologia da educação patrimonial? Talvez trabalhando a

importância dos artefatos e pinturas observados nos sítios arqueológicos encontrados

na comunidade, buscando descobrir sua contribuição para as ferramentas do homem

atual, e sua importância para a vida dos povos que a criaram, aguçar a curiosidade de

como, e por que os povos pré-históricos pintavam essas figuras nas Rochas. Claro que

existe um nível de subjetividade impregnada nas pinturas que talvez ninguém jamais

35

FUNARI, Pedro Paulo; PINSKY, Jaime (Org.). Turismo e patrimônio cultural. 4. ed. São Paulo: Contexto, 2005. p 98.

44

consiga decifrar, mas, entretanto, o que se quer atingir com isso é interece das pessoas

envolvidas no trabalho de preservação do patrimônio arqueológico do Totoró.

É difícil compatibilizar o valor de um bem memorial, assim fica resguardado com

as exigências tradicionais do patrimônio, e esse é o sentido do patrimônio, torna

valoroso o que não é valorizado na prática.

Muitos trabalhos sobre educação patrimonial foram inspirados em materiais

bibliográficos de teses e dissertações que registram e analisam essas experiências,

contribuindo para o aprofundamento de conceitos e do embasamento teórico de sua

prática, pois trata-se de um processo gradativo e permanente quando atingido sua meta,

e só trará benefícios para a comunidade do Totoró e do município de Currais Novos.

2.3.3. Preparando o terreno Turístico.

Só se efetuaria uma sustentabilidade turística se a própria população do lugar

valorizasse o patrimônio que a detém, e para isso era preciso que houvesse um árduo

trabalho de conscientização e de divulgação do patrimônio arqueológico, entretanto, o

turismo se não bem estabelecido e organizado poderá trazer problemas mais

devastadores do que qualquer outra coisa, pois o turismo é na verdade uma “faca de

dois cumes” que beneficia e valoriza a região, mas denigre o ambiente se não bem

estabelecido e planejado, sendo assim, um verdadeiro problema e um paradoxo a

sustentabilidade e notoriedade do lugar para a preservação dos sítios ali existentes.

A noção de arqueologia como uma aventura de caça ao tesouro, de busca de objetos exóticos, é uma noção equivocada. A aventura continua. Mas trata-se da aventura da descoberta cientifica, dos processos sociais passados que podem ser inferidos por intermédio do seu contexto de atuação e deposição. A maioria das pesquisas arqueológicas atualmente é feita em equipe congregando muitos campos da ciência e da tecnologia. A arqueologia estuda a cultura material que engloba artefatos e marcas físicas que os homens deixaram no ambiente para facilitar a sua sobrevivência. A partir da analise de pequenos detalhes começa a emocionante aventura de descobrir quem fabricou, com que intenção e em que época (...)

45

Do ponto de vista turístico, significa desenvolver roteiros tendo como base a descoberta dos processos culturais anteriores, algo que, na verdade, interessa a todos nós. A maioria dos seres humanos se interessa pelo passado, e esse conhecimento está relacionado a todos, porque se refere ao processo de humanização e de aprendizagem do ser humano. 36

O Totoró como um todo, é potencialmente turístico, sendo praticado esportes de

resistência e de alpinismo em suas serras e pedras gigantes. O pico do Totoró como é

conhecido, é um ponto de constantes visitas turísticas, além do açude que proporciona

uma verdadeira diversão, na verdade é isso que preocupa o turismo arqueológico, essa

entrada de visitantes sem compromissos científicos ou educativos. O turismo

arqueológico não comporta essa ação desenfreada, isso foge da proposta de um

turismo que sustente a preservação arqueológica. Embora seja considerado como a

indústria sem chaminé, seus impactos não são menos relevantes do que a da indústria

convencional, a exploração e a falta de controle. É preciso que antes de tudo, e de toda

a proposta de turismo arqueológico, saber esclarecer aos moradores e aos donos dos

territórios onde os sítios arqueológicos estão, essa proposta turística que fará com que

pessoas estranhas a ele entrem em suas terras, mas, entretanto trará prosperidade e

renda para eles e a comunidade.

36

SCATAMACCHIA, Maria C. Mineiro. Turismo e arqueologia. São Paulo: Aleph, 2005. . p. 19-20.

46

CAPÍTULO III

UMA PROPOSTA DE SUSTENTABILIDADE DO

PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO ATRAVÉS DO

TURÍSMO.

47

CAPÍTULO III:

UMA PROPOSTA DE SUSTENTABILIDADE DO PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO

ATRAVÉS DO TURISMO.

O turismo sempre foi alvo de grandes debates e polêmicas devido ao seu lado

destrutivo, entretanto esse mesmo turismo que causa devastação e desgastes também

é responsável por movimentações econômicas de sustentabilidade do patrimônio

explorado, além disso, o turísmo é uma arma muito importante para a educação e o

conhecimento dos valores patrimoniais de uma região, valores esses que servem na

contribuição para a preservação do lugar. O turismo, principalmente o cultural, quando

bem elaborado só tráz para a região prosperidade, além de aproximar as pessoas de

suas identidades históricas, sendo com isso uma necessidade e um dever do município

incentivar o turismo cultural em sua região, e é uma dívida à educação desse lugar, pois

as novas gerações têm o direito ao conhecimento de suas raízes regionais ou

ancestrais, ainda mais para pequenas comunidades.

O turismo arqueológico de fins lucrativos é algo relativamente perigoso, até

mesmo mais que qualquer outro turismo cultural, devido os utensílios e ossos, pinturas e

gravuras serem insubstituíveis e alguns não poderem ser restaurados, como por

exemplo, as pinturas e gravuras rupestres, esses não podem ser restaurados, pois se

feito isso, perderão a originalidade que esta na tinta utilizada e nas “pinceladas” usadas

pelo autor original, por tudo isso, o turismo arqueológico, como qualquer outro, necessita

de uma grande estratégia de planejamento de execução para não danificá-lo.

Na realidade, ao trabalhar turismo arqueológico, o planejador do turismo, a priori,

tem que avaliar as condições de acessibilidades do local a ser explorado, as condições

das estradas e principalmente a opinião e o consenso dos donos das propriedades onde

os sítios arqueológicos estão, além de falar para comunidade para que ela saiba da

existência do projeto afim de que ela prepare-se para a recepção dos visitantes,

elaborando também artesanato para a comercialização.

48

Tudo isso e seria um levantamento a princípios da comunidade, seria ainda

necessário o levantamento do estado das estradas, dos sítios e das trilhas, que foram

feitas nos capítulos anteriores, mas que seria feito com mais detalhes de informações,

seria também necessário ver se há hospedagens suficientes para atender aos turistas

na cidade de Currais Novos, e também na comunidade do Totoró. O lugar a ser

explorado culturalmente, para ser um bom expoente turístico tem que apresentar além

de tudo, uma beleza visual para o turista, pois trata-se de um comércio e não só uma

viagem de estudos. Em regra geral quanto mais atrativos houver, melhor e mais viável

será a implantação turística na região, criando alternativas para diversificar o turismo.

Por isso se o lugar houver atrativos históricos (atrativos esses que seriam como anexos

de apoio dos atrativos arqueológicos) terá grandes potencialidades de sucesso. O

planejador do turismo cultural teria que limitar a quantidade de visitantes por vez ao sítio

arqueológico, elaborar uma administração para o local incluindo guias que poderiam ser

pessoas da comunidade devidamente habilitadas para o trabalho.

Ao se tratar de patrimônio, o turísmo arqueológico dever ter o máximo de

cuidados possíveis. No caso do patrimônio arqueológico do Totoró, esses cuidados

perpassariam por uma série de avaliações do planejador do turismo, além de obter

autorização da secretaria de cultura e turísmo da cidade de Currais Novos, que também

avaliariam as potencialidades econômicas e de auto-sustentação do lugar.

Parte do sucesso do turísmo em sítios arqueológicos, como o implantado em

Raimundo Nonato no Piauí, se deve curiosamente ao fator distância, pois estando

distante da cidade, só são visitados por pessoas realmente interessadas, sendo

necessário deslocar-se, planejar uma pequena viagem e estar disposto a passar várias

horas no local. O público que o visita, portanto, é composto por pessoas

compromissadas com as informações, não sendo lugares de passagens, nos quais se

vai porque não se tem o que fazer, nem para levar crianças em dias de recreações, por

falta de opções, entre outras coisas, mesmo se acontecer de vir pessoas

descompromissadas, irão com guias que terão todo o cuidado.

Na pós-modernidade, assiste-se a um processo de fragmentação. O sujeito pós-moderno possuí múltiplas identidades, que coexistem e se

49

manifestam em razão de fatores diversos, externos ou internos a ela; é parte integrante de uma sociedade, em grande medida determinado e moldado por sua história e por seu inconsciente; não tem um comportamento nem uma postura sempre iguais ao longo da vida e em todas as circunstâncias.37

O turista ou até mesmo um visitante comum tem sede de conhecimento ou de

curiosidade, e buscas outras identidades culturais, pelo o diferente, exótico, por isso que

o turismo tem todo um potencial econômico.

O planejador do turismo tem que deixar bem claro que, turismo arqueológico é

para a sustentabilidade e preservação através da educação Patrimonial, o resultante

dela é apenas lucro ocasional decorrente da própria comunidade em aproveitar os

visitantes.

3.1. SUSTENTABILIDADE DO PATRIMONIO ATRAVÉS DO TURÍSMO.

Discutir sustentabilidade dentro de um contexto turistico arqueológico não é fácil

devido a fatores diversos que perpassam por leis patrimoniais de proteção ao mesmo,

de certa forma limita as opções viáveis para a formulação e efetivação do turísmo

arqueológico. E discutir esse patrimônio dentro de uma comunidade relativamente leiga

como o município de Currais Novos é ainda mais complicado, requer do planejador de

turismo uma versatilidade grande e um “jogo de cintura” que contorne os problemas

estruturais e financeiros de início. A comunidade Totoró é uma comunidade humilde, de

renda basicamente sustentada por agricultura de subsistência e aposentadorias, dentre

outros pequenos negócios, com uma escola para atender a todos e um pequeno posto

de saúde, as demais necessidades são supridas na cidade de Currais Novos, distante

mais ou menos 12 km do local. A necessidade da implantação de um turismo

arqueológico que além de tudo traga movimentação financeira ao local é emergente

para o desenvolvimento do lugar que historicamente foi berço da criação da cidade de

Currais Novos, tendo assim um valor histórico por ter sido o início da criação da cidade,

e patrimonial devido aos sítios arqueológicos aí encontrados.

37

. BARRETTO, Margarida. Turismo e legado cultural. 5. ed. Campinas: Papirus, 2004 p 47.

50

Como propor uma sustentabilidade econômica no Totoró sem destronar as

propostas preservacionistas de primeiro plano? É preciso que o planejador de turismo

nunca perca a objetividade do projeto, pois se esse for deixado passar ou se as outras

sobressaírem e sufocarem o projeto de sustentabilidade do patrimônio arqueológico,

tudo se reduzirá a degradação avançada, e o turismo cultural será o maior culpado de

tudo. Então, para o planejador do turismo todos os meios devem orbitar sobre o objetivo

de preservação dos sítios arqueológicos, caso isso não seja possível, é bem melhor que

não haja turismo algum.

O patrimônio arqueológico do Totoró é algo de extrema importância científica, e

uma vez danificada, as características originais subjetivas aos povos pré-históricos

jamais serão compostas ou restauradas, sendo estes inrestauráveis, devido a singular

expressão da mentalidade e vivência dos povos antigos.

Para os moradores do Totoró e da cidade de Currais Novos, as pinturas e

gravuras rupestres ainda são algo desconhecido em termos de valor e riqueza histórica,

e na realidade, muitos dos moradores da cidade nem sabem de sua existência e até

desprezam sua própria região como algo que não tem valor ou futuro como forma de

desenvolvimento sustentável, e nem acreditam que a agricultura serviria de salvação

para a região, pois as secas têm castigado muito a região, apesar de haver meses do

ano em que a localidade desfruta de um inverno relativamente bom, nos últimos anos as

chuvas tem sido escassas. Com isso, a falta de expectativas de vida para a região fez

com que a localidade estagnasse no tempo, não se desenvolvendo, permanecendo em

um tempo rural do início do século passado.

A descoberta da localidade como área potencialmente turística, proporcionaria

para os moradores uma outra visão do lugar em que vivem, uma visão empreendedora

de um turismo restrito e regular, que não afetaria suas vidas de uma forma drástica a

ponto de incomodá-los em seu cotidiano. Mas para que isso ocorra de uma forma

organizada, teria que haver a figura do planejador do turismo, que faria a comunidade

ter a plena consciência das vantagens e desvantagens do turísmo arqueológico em

suas terras.

51

3.1.1. As políticas públicas de planejamento.

O turismo cultural, no entendimento de alternativa de desenvolvimento social e

econômico de uma comunidade como a do Totoró, só poderá acontecer sob a

autorização e planejamento das políticas públicas regulamentadoras e redigidas pela

União, pelos Estados e pelos municípios, pois se trata do uso do patrimônio

arqueológico, um segmento irreparável se depreciado para fins turísticos. O planejador

do turismo terá que, além de montar uma equipe, se debruçar em planejamentos

minuciosos para efetivação deste, tendo que consultar as expectativas da comunidade

com relação ao transitar de pessoas em suas terras e em sua comunidade, fazer uma

verdadeira pesquisa elaborada, pois o patrimônio arqueológico está em posses de todas

as pessoas da comunidade do Totoró.

As políticas públicas de planejamento turístico existente na cidade de Currais

Novos não objetivam sustentabilidades dos pontos turísticos da cidade, o projeto de

turismo elaborados pelo município não objetiva sustentabilidade para este, mas apenas

movimentações econômicas e lucros nos comércios da cidade, sendo assim os

benefícios deste turismo praticado atualmente em Currais Novos não é um turismo de

auto-sustentação dos monumentos e pontos atrativos da mesma. Aí vem a necessidade

da elaboração de um projeto independente para a exploração auto-sustentável do

patrimônio arqueológico do Totoró, que realmente sirva de amparo para a conservação

e fiscalização das pinturas rupestres do Totoró. O planejador do turismo tem que

lembrar sempre que, o turismo arqueológico é apenas para amparar a sustentabilidade

e preservação deste, e não a sustentabilidade para amparar o turísmo.

A sensibilidade da comunidade, desde os primeiros passos na formulação do planejamento e das políticas públicas voltadas para o turismo, determinará seu sucesso ou fracasso. De fato, o habitante local deverá estar suficientemente preparado para não se sentir “invadido” por pessoas de fora, alheias aos seus hábitos. À comunidade, convencida e suficientemente envolvida, caberá a realidade do cotidiano na convivência com o turista. O pleno comprometimento de seus diversos segmentos

52

estimulará posturas de preservação, valorização e divulgação do patrimônio arqueológico como fator de atração turística.38

O planejador do turismo terá que preparar a comunidade do Totoró para o

recebimento dos turistas e terá que tornar claro que, esse interesse é deles, para seus

próprios benefícios, pois podem consolidar as ânsias econômicas, sendo opções legais

e locais de desenvolvimento de sua comunidade, um desenvolvimento social. O

planejador tem que fazer com que a comunidade identifique com patrimônio

arqueológico, e com a cultura ali expressa, passando assim por um resgate da cultura

pré-histórica do outro a tomando como herança. Ao tornar claro também o interesse

social por esse patrimônio, a comunidade é estimulada ao engajamento coletivo nos

movimentos preservacionistas.

3.1.2. Especificações necessárias ao turísmo arqueológico.

É preciso que o planejador do turismo formule um roteiro agradável para os

visitantes, isso ajuda a especificar os locais autorizados pelos donos das terras onde

estão as pinturas rupestres, limitando a quantidade de pessoas e evitar passeios

aleatórios que só servirão de transtornos para o turismo, entretanto, a criação desse

roteiro dependerá de uma pesquisa minuciosa, com fontes idôneas, artigos científicos e

livros sobre a época pré-histórica dos povos que fizeram as pinturas rupestres, da

datação delas e os possíveis locais onde foram encontradas ossadas de amimais da

mega-fauna, como preguiças-gigantes e tatus-gigantes, todos encontrados nas

mediações do Totoró e, finalmente, elaborar um roteiro de informações que mantenha

uma seqüência espaço-temporal lógica dentro das várias épocas pré-históricas

gradativas, explicando cada achado arqueológico e as idades aproximadas das pinturas

rupestres.

Entretanto, a inclusão do patrimônio arqueológico do Totoró como uma das

potencialidades turísticas da cidade de Currais Novos para uso turístico pelo município

38 FUNARI, P. Paulo; PINSKY, Jaime (Org.). Turismo e patrimônio cultural. 4. ed. São Paulo: Contexto,

2005. . p 98.

53

deverá ser precedida de uma legislação específica que garanta especialmente à sua

proteção e preservação, para que, fixando o turismo arqueológico patrimonial não haja

conseqüências inesperadas, resultantes de um planejamento “clandestino” de turismo

sem leis.

3.1.3. Turísmo Arqueológico localizado.

Na tentativa de reunir e localizar o turísmo arqueológico de sustentabilidade no

Totoró, o planejador de turísmo tem que criar mais de que um roteiro de exploração, tem

que ir além na tentativa de atrair visitantes para o local, pois a intenção do projeto

turístico é justamente de atrair turistas que ajudem dentre outras coisas na

movimentação econômica para a sustentabilidade e preservação do patrimônio

arqueológico ameaçado, sendo assim, o planejador tem uma tarefa árdua de procurar

meios atrativos na dinamização e diversificação do turísmo arqueológico do Totoró, e

um desses meios seria a criação de um museu que abrigasse o acervo de artefatos pré-

históricos, como ossos de animais da mega-fauna ( que já foram encontrados na região,

entretanto por falta de interesses ou locais adequados para guardá-los estão em posse

de colecionadores particulares) e outros objetos deixados pelos homens pré-históricos,

certamente a criação de um museu proporcionaria para a região uma atratividade a

mais, e não dispersaria o turísmo local, uma vez que tanto o museu e as pinturas

rupestres estariam em uma mesma localidade.

Há projetos de criação de um museu no Totoró, entretanto, esses projetos não

têm um sentido economicamente compensável para prefeitura da cidade de Currais

Novos( pois não há um projeto mais elaborado que abranja uma grande quantidade de

alternativas turísticas), e pela justa causa de já haver uma casa de cultura na cidade. A

criação de um museu no Totoró iria e muito acelerar o turísmo naquele local, pois isso

faria com que a divulgação dos materiais encontrados na região se fizesse conhecidos

de toda uma população, tanto do Totoró como da cidade de Currais Novos e visitantes.

Os sítios arqueológicos, para serem passíveis de visitação, devem abrigar um projeto de musealização, a fim de que os vestígios possam

54

ser observados e as informações apreendidas por meio da elaboração de uma sinalização adequada39.

Além de abrigar os artefatos arqueológicos, com a criação do Museu do Totoró

resgataríamos o valor histórico da localidade para a cidade de Currais Novos, pois foi ali

que se teve início a cidade através do Coronel Cipriano Lopes Galvão, uma figura

importantíssima para a cidade.

Seria unicamente para incentivar o turísmo arqueológico no Totoró, pois o

determinante seria o turismo arqueológico, que objetivasse a sustentabilidade e a

preservação das pinturas rupestres. E dentre outras coisa o Museu exerceria um papel

justificador para o lugar, o de educar histórico e patrimonialmente a comunidade através

do conhecimento cultural, além de proporcionar um contato direto com o passado pré-

histórico dos povos extintos.

Para o turísmo consumidor de cultura, assim como para a população local, esse processo de integração do Museu no cotidiano e seu aggiornamento nas formas de exposição só têm trazido ganhos, já que, nos museus, pode-se ter acesso a informações de cunho científico baseado em pesquisas, que podem se contrapor às informações veiculadas pela mídia ou pela propaganda (...)40.

3.2. EDUCAÇÃO TURÍSTICA PATRIMONIAL.

A educação patrimonial é uma grave lacuna que permeia a comunidade do

Totoró, e isso se deve à deficiência do ensino do valor patrimonial nas escolas, talvez

por se tratar de algo esquecido pela própria cidade a quem pertence à comunidade

detentora dos sítios arqueológicos, sendo o pensamento do povo o reflexo da

administração do município, ou seja, de ignorância do valor do patrimônio arqueológico.

Na realidade, Preservação e Educação tendem a andar lado a lado na realização de um

empreendimento turístico cultural qualquer, sendo dever do município assegurar tais

níveis de educação diante de um projeto para efetivações turísticas de pontos da cidade

e demais locais protegidos por lei.

39

SCATAMACCHIA, Maria Cristina Mineiro. Turismo e arqueologia. São Paulo: Aleph, 2005.p 30. 40

BARRETTO, Margarida. Turismo e legado cultural. 5. ed. Campinas: Papirus, 2004. p 55.

55

Um dos caminhos para a esclarecer a população do Totoró a respeito do valor

patrimonial dos sítios arqueológicos de pinturas rupestres encontrados em sua

localidade é o esclarecimento histórico-cientifico dessa riqueza cultural deixada pelos

povos passados, através do contato direto com a história e com a educação. Para isso,

é preciso trazer a cultura para perto da comunidade, o que poderia ser feito com a

criação de um museu para a região, atendendo tanto aos turistas como também a

comunidade, dando-lhes conhecimento para valorizar o patrimônio arqueológico do

Totoró, e ainda serviria de incentivos para professores do ensino fundamental e médio

trazerem seus alunos para conhecer os sítios arqueológicos e conhecerem a história do

povoamento do Totoró, realizando um contato direto com o lugar exato onde começou a

história da Cidade, disseminando o conhecimento e a valorização patrimonial através da

educação. Claro que essas ações independem do museu, mais serviriam para contribuir

para uma boa receptividade e conscientização preservacionista de qualquer patrimônio,

pois nada substitui o objeto real como fonte de informação e ainda inserido em seu

contexto espacial onde foram produzidas há muitos anos.

O planejador do turismo terá que elaborar um projeto e encaminhar, juntamente

com a secretaria de turismo da cidade, à câmara dos vereadores para a aprovação e

adoção de uma disciplina de Patrimonial Cultural que possa abranger também sobre a

legislação específica, preservação e conservação, e a própria importância que o

patrimônio tem como identificador cultural, para pelo menos, ser aplicada ao ensino

fundamental ainda que de caráter opcional, convencendo que a educação popular

patrimonial é o único caminho racional de assegurar a defesa da cultura e história da

região, através da valorização de seu patrimônio.

Trata-se de um processo permanente e continuo de trabalho educacional para a

obtenção de um resultado eficiente, pois a implantação de um turismo arqueológico não

seria possível sem essa preparação da população da comunidade.

3.2.1. Dinâmica Cultural: a necessidade do passado.

O homem necessita das experiências históricas e culturais, e vem buscando

conhecimentos na tentativa de superar suas próprias necessidades diárias e até

56

supérflua. Com isso, todo o conhecimento existente na natureza ou deixados pôr seus

antepassados são de grande relevância para sua auto-análise.

Para a comunidade do Totoró, soluções lógicas para o seu desenvolvimento

enquanto área turística está na base educacional. É verdade que o trabalho com o

patrimônio histórico e arqueológico nesta região é mais facilmente compreendido no

âmbito das áreas ou disciplinas que mais comumente abordam o tema, como História ou

Estudos Sociais, mas também podem ser trabalhados em outras áreas disciplinares

como Geografia (com o relevo), Português (revendo as palavras em latim de alguns

objetos e amimais de mega-fauna encontrados na região, além de analisar documentos

antigos dos velhos moradores do Totoró e rever o português da época), física( com a

questão da datação das pinturas e artefatos arqueológicos, que são feitos com

substancias químicas) e demais disciplinas, claro que isso depende muito da

criatividade do professor. Entretanto, cada vez mais é exigido do professor essa nova

postura interdisciplinar em seu ensino, além de tudo, proporciona ao aluno uma outra

visão, a do contato direto com o saber, e esse saber resulta em valorização do

patrimônio pelas múltiplas formas de ensino.

Além de ambiente de lazer, ele informa corretamente buscando atingir, com linguagem adequada, todos os segmentos da população. Se presente, o acervo arqueológico é explorado em toda a sua extensão. A composição de cenários, a realidade virtual e outras mídias transmitem ao turista a informação necessária para a compreensão dos mais variados aspectos da sociedade extinta, representada em local específico41.

Ao fazer isso, trabalha-se a consciência da comunidade do Totoró para um

despertar de valorização desse patrimônio arqueológico e histórico, permitindo a

ultrapassagem dos limites do tempo que só são alcançados fora da sala de aula. Não há

nada mais importante para a sociedade humana do que a transmissão de valores

educacionais, sem essa transmissão não haveria história nem conhecimentos seja ela

de qualquer disciplina.

41

FUNARI, Pedro Paulo; PINSKY, Jaime (Org.). Turismo e patrimônio cultural. 4. ed. São Paulo: Contexto, 2005. p 102.

57

Às vezes o conhecimento da cultura e da existência de um patrimônio de extrema

importância para a história da humanidade, e bem perto da comunidade e da cidade de

Currais Novos, fica restrito a pessoas de condições financeiras mais favoráveis e,

muitas vezes as dificuldades não são financeiras, mas culturais.

Por sua vez a história, que no Brasil começou a ser escrita no século XIX, sob auspícios do próprio imperador, reforçaria a exclusão e as diferenças sociais existentes, de fato, na sociedade. Retratando o “passado da nação”, especialmente pelo ensino escolar, ela comporia a imagem que cada um fazia de si próprio e do lugar que lhe era dado na sociedade. Negros e brancos pobres eram vistos nos livros escolares como trabalhadores, mas não construtores de cultura, distinção que cabia a poucos, brancos e proprietários, com acesso aos bancos das

faculdades e à cultura européia, tida como modelo42.

Mas a intenção do contato com a cultura patrimonial arqueológica é a de levar

para todos os níveis sociais o conhecimento, a intenção não é restringir mas informar e

conscientizar sobre sua importância de preservação para toda a comunidade, ainda que

seja necessário o uso de mecanismos como o turismo.

3.3. COMO VIABILIZAR AS PROPOSTAS.

É muito proveitável para a comunidade do Totoró a elaboração de um turismo

arqueológico para incentivar a sustentabilidade de preservação da cultura pré-histórica

dos antepassados da humanidade, pois além da comunidade ganhar com isso (com a

movimentação econômica), o patrimônio arqueológico ganha na preservação através da

conscientização educacional desses lugares pintados pelo homen primitivo.

Para o planejador do turismo, o desafio encontrado para a implantação efetiva da

exploração arqueológica é sistematizar e organizar detalhadamente dentro dos padrões

42

FUNARI, Pedro Paulo; PINSKY, Jaime (Org.). Turismo e patrimônio cultural. 4. ed. São Paulo: Contexto, 2005. p 17.

58

municipais e regionais a alternativa turística, e ainda manter um fiel compromisso com a

comunidade para a integração e mudanças necessárias para a implantação do turísmo.

Mostrar exemplos de sucessos para a comunidade é de grande relevância para a

confiabilidade do projeto, entretanto, como o planejador do turismo poderia mostrar

esses exemplos para a comunidade do Totoró? Uma alternativa básica de exemplificar

seria através de palestras e de apoio de órgãos regulamentados de empreendimentos

turísticos, ou seja, empresas de turismos, que mostraria a toda a comunidade como

levar o turísmo a diante em uma comunidade como a do Totoró.

Buscar apoios de empresas estatais como a Petrobrás é uma alternativa de

grande importância para efetivação do projeto turístico do Totoró, pois vários projetos já

foram apoiados pela Petrobrás para o incentivo e a implantação de um turismo de

sustentabilidade, o exemplo disto é o Lajedo de Soledade em Apodi.

Além de tudo isso, a cidade de Currais Novos tem em seu Campus Universitário

o curso de turismo que certamente daria apoio assistencial ao projeto turístico do

Totoró, e discurssões acadêmicas acerca do patrimônio arqueológico, resultariam em

um bom e elaborado uso de seus recursos atrativos. Além da docência e da pesquisa

que essa localidade proporcionaria ao curso de turísmo do Campus Currais Novos.

Portanto, se envolvida, a universidade tem uma tarefa comunitária importante: ao apresentar sugestões de devolução social dos bens estudados, por meio da organização de lugares de memória, por exemplo, estará criando as bases organizacionais para o uso do patrimônio arqueológico para fins turísticos. Arqueólogos, como profissionais liberais ou acadêmicos, são essenciais na formulação das políticas públicas e na elaboração do planejamento que inclua o patrimônio arqueológico para fins turísticos43.

3.3.1. Marketing Turístico: uma alternativa.

O marketing turístico é algo paradoxalmente perigoso e bom para o local visitado,

perigoso por que a exposição exacerbada de um complexo arqueológico de caráter

43

FUNARI, Pedro Paulo; PINSKY, Jaime (Org.). Turismo e patrimônio cultural. 4. ed. São Paulo:

Contexto, 2005. p 101.

59

patrimonial é algo danoso para ele e para o turísmo de sustentabilidade, se o turísmo de

sustentabilidade fugir do controle e transformar-se em um turismo de massa que

acarretaria em danos nas pinturas por causa de fatores resultante da grande quantidade

de gás carbono emitido pelos visitantes, destruição da trilha pela passagem exagerada

de pessoas, e com uma grande quantidade de visitantes fica difício ao guia o controle

das pessoas para não tocarem nas pinturas rupestres, tudo isso resultaria da

superexposição, toda uma boa intenção se transformaria em uma acelerada ânsia de

degradação patrimonial, sendo assim o fim das pinturas rupestres, levando a

intencionalidade de preservação para uma alternativa econômica de negócios e

dinheiro, sem a preocupação com o patrimônio ameaçado. Com isso, o planejador de

turísmo perderia todo um trabalho realizado para a conscientização preservacionista do

lugar, e os sítios arqueológicos deixariam de ser prioridade e passariam a ser

coadjuvante na história. E certamente, pela beleza do lugar, onde tem penhascos para a

prática de esportes radicais, como o rapel e outras atratividades, não demoraria muito

para a construção de parques de lazer e pousadas em lugares inadequados e próximos

aos pontos onde estão as áreas arqueológicas.

Mas, efetivamente bom seria um marketing turístico preocupado inteira e

exclusivamente com a sustentabilidade e preservação dos locais culturalmente

produzidos, uma vez que degradados essas pinturas rupestres não poderão mais ser

restauradas. Então como propagandiar o local de uma forma que atinja um público

restrito, compromissado com as informações cientificas? Isso consiste em um dos

maiores desafios do planejador de turísmo, e com certeza terá que descobrir com o

decorrer da efetivação do projeto, ou nem precise se preocupar, pois o interece por esse

tipo de turismo geralmente é de crescimento cultural ou de pesquisas cientificas,

dificilmente sendo por mero entretenimento, entretanto, para se atingir esse público teria

que propagandiar somente em estabelecimentos de ensino, como faculdades e escolas,

e isso através de panfletos explicativos.

As pessoas podem até ir a lugares onde não são convidadas, mais certamente estão indo mais onde o são. O convite está implícito e explicito nas diversas tentativas para atrair turistas: propagandas diversas, folders, participação em feiras, reportagens de jornal, televisão, etc. o convite pode ser da prefeitura, de um hoteleiro, de um

60

dono de restaurante, bar, parque, ou clube, não importa. Ninguém vai lembrar deste detalhe. Se se sentir bem acolhido no lugar, vai dizer a parentes e amigos que a cidade é hospedeira. Caso contrário, vai dizer a todo mundo que o povo do lugar não é acolhedor, que não vale a pena ir lá, e a cidade pode ganhar ou perder, consciente ou inconscientemente, com a atitude de seus moradores44.

É evidente que para os demais visitantes não precisa de propagandas, pois ao

se estabelecer esse complexo turístico do Totoró, a propaganda informal cuidará de dar

as novas, e a curiosidade impulsionará o visitante descompromissado.

3.3.2. Exemplos de Turismos arqueológicos.

A implantação de turismos arqueológicos é algo relativamente novo no Brasil, e

na qualidade de patrimônio cultural é alvo de críticas de muitos arqueólogos e

historiadores, contudo, às vezes para salvar determinado patrimônio é preciso expô-lo

ao risco de um projeto turístico. Na realidade, as experiências elaboradas com áreas

arqueológicas têm mostrado que esse tipo de turísmo tem dado certo em várias partes

do Brasil, e muitos são unicamente para a sustentabilidade econômica do lugar, para

sua preservação e cuidados quanto aos mecanismos degradativos naturais ou

antrópicos, conscientizando a população da localidade ou da região onde se encontram.

O turísmo realizado no meio rural também pode se valer do expressivo potencial de visitação que o patrimônio arqueológico apresenta na forma de sítios. Em vários pontos do Brasil, como em Piraju – SP, algumas escavações arqueológicas são temporariamente abertas ao público. Registros rupestres em grutas ou abrigos rochosos são inseridos em trilhas de exploração do meio ambiente. É o caso do Parque Nacional da Serra da Capivara, no sertão semi-árido do Piauí, que apresenta uma rede de trilhas pontuadas por mais de 300 sítios com pinturas rupestres. Os sambaquis do litoral de Santa Catarina são importantes marcos turísticos45.

44

MARTINS, Clerton (Org.). Turismo, cultura e identidade. São Paulo: Roca, 2003, p 102. 45

Idem. p 102.

61

O Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí exemplificado na citação é

um grande incentivo de que o turísmo arqueológico é uma alternativa certa de

preservação através do conhecimento e da valorização desse patrimônio, e ao

evidenciar o uso exposicional da cultura pré-histórica, o turísmo cultural expõe o contato

direto com o passado, com a cultura e com o inconsciente de cada ser humano.

Conhecer implica valorizar, e valorizar recai em consciência preservacionista, que por

sua vez, se bem usado, pode trazer ótimos benefícios para a comunidade e para sua

economia, ajudando no desenvolvimento da região.

Ainda se podem exemplificar os sítios arqueológicos e paleontológicos das

cidades de Souza na Paraíba e a comunidade de Soledade no município de Apodi no

RN , onde se encontram vestígios de vidas pré-históricas, de tempos diferentes, com

visitações turísticas. Todos são exemplos de sucessos de como o turísmo arqueológico

poderia salvaguardar o patrimônio cultural de uma região.

No município do Apodi/RN, a 420 km de Natal, a Petrobrás preserva um importante marco histórico: o Lajedo de Soledade. São fendas e grutas onde encontra-se pinturas e gravuras rupestres com idade estimada de 3.000 a 10.000 anos, sendo anteriores às pirâmides do Egito46.

Órgãos de pesquisas seguros foram criados para regulamentar e congregar os

diversos descobrimentos arqueológicos legitimando-os como algo de veracidade e

registrando-o as descobertas, e ajudando a proteger esse patrimônio.

Seguindo o exemplo da FUMDHAM e contando com a colaboração de alguns dos seus membros, um grupo de pesquisadores, professores universitários e autoridades locais, criaram, em 1996, a fundação Seridó, com sede em Carnaúba dos Dantas, no Rio grande do Norte. Essa instituição trabalha e pesquisa na região do Seridó potiguar e paraibano, com o fim primordial de proteger e divulgar o patrimônio arqueológico da região47.

Sendo assim, a boa sucessão de um turísmo arqueológico depende única e

exclusivamente de uma boa formulação e um bom planejamento quanto ao impacto que

esse turísmo causará a comunidade e ser implantada, no caso do Totoró, a comunidade

46

ENQUANTO A PETROBRÁS PRESERVA, O LAGEDO DE SOLIDADE CONTA A HISTÓRIA, p 1. 47

MARTIN, op. cit p 44.

62

teria que passar por uma avaliação detalhada que coletasse antes de tudo a opinião dos

moradores quanto a esse empreendimento cultural econômico, deixando bem claro o

objetivo primordial do projeto; a preservação das pinturas rupestres dos sítios

arqueológicos da Pedra do Letreiro, lagoa do Santo e Pedra Furada.

63

CONCLUSÃO

A comunidade do Totoró pertencente a cidade de Currais Novos detêm uma

riqueza arqueológica sem par. Esta riqueza se encontra em territórios privativos de

moradores da localidade, a exuberante paisagem transporta o visitante para uma época

extinta, onde os homens viviam em plena harmonia com os recursos da natureza,

entretanto, esse equilíbrio natural foi quebrado pelo homem moderno e “civilizado”, que

contraditoriamente ao conceito de “civilizado” vem destruindo culturas antigas como as

inscrições rupestres (que estão em um estado deplorável constatado pela presente

pesquisa), deixadas por seus próprios antepassados a milênios, tal prática destrutiva

vem causando preocupações aos órgãos responsáveis por cuidar do patrimônio

arqueológico. A destruição destas culturas pré-históricas implica na fragmentação do

passado ainda relativamente encoberto dos princípios culturais dos homens, a não

preservação deste importante patrimônio resultará no esquecimento das origens iniciais

do homem em um futuro não muito distante. Ao contrário de outros patrimônios

culturais, as pinturas rupestres do Totoró (como qualquer outra pintura rupestre), não

podem ser restauradas, a restauração não é permitida, pois ao ser praticada esse ato,

as pinturas rupestres perderiam todas as características subjetivas e únicas feitas pelos

homens pré-histórico, como composição da tinta, e as “pinceladas” únicas, além de

descaracterizar toda a intenção e o pensamento dos autores originais.

Diante disto, este presente trabalho procurou alternativas preservacionistas que

realmente surtisse efeito prático e chamasse a atenção tanto das autoridades como dos

próprios moradores do Totoró, propondo uma alternativa turística de sustentabilidade

deste patrimônio arqueológico, diante das discurssões elaboradas e expostas, é

perfeitamente viável a criação de um turísmo arqueológico de sustentabilidade

econômica do lugar, cabendo aos órgãos competentes o primeiro passo para isso ser

efetivado.

Elaborado sob as devidas diretrizes da constituição e das leis ambientais, o

turísmo arqueológico é uma alternativa indiscutível para conscientizar os moradores do

64

valor cultural e econômico desse patrimônio ameaçado, sendo usado assim para

educação.

Na verdade, todas as demais discussões apresentadas neste trabalho acerca da

história e da educação da comunidade do Totoró ou da história da cidade foram meros

coadjuvantes na tentativa de incentivar a valorização do patrimônio arqueológico e

preservá-lo, sendo com isso proposto alternativas que vão desde a criação de um

turísmo cultural arqueológico a reeducação patrimonial dos moradores do Totoró.

Entre outras coisas, o turísmo arqueológico que se efetivaria-se no Totoró não

poderia ser aquele caracterizado como turísmo de massa, e nem poderia ser, pois seria

prejudicial as pinturas e a região, sendo possível devido a distancia da cidade e ao

interesse restrito por esse tipo de turísmo cultural. Sendo assim regulamentável sua cota

de visitantes.

A exploração arqueológica através do turísmo é algo que não chama muita

atenção empreendedora, e isso é paradoxalmente bom, pois se assim fosse a região

seria literalmente invadida e danificada por um turísmo descontrolável e com certeza

não seria bom para o patrimônio arqueológico da região,

65

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