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1 UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES FACULDADE INTEGRADA AVM PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU O PAPEL DO ORIENTADOR EDUCACIONAL FRENTE ÀS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA LEITURA E ESCRITA Por: Danielle Gonçalves de Medeiros Professora Orientadora: Geni Lima Rio de Janeiro 2012

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

FACULDADE INTEGRADA AVM

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

O PAPEL DO ORIENTADOR EDUCACIONAL

FRENTE ÀS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM

NA LEITURA E ESCRITA

Por: Danielle Gonçalves de Medeiros

Professora Orientadora: Geni Lima

Rio de Janeiro

2012

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

FACULDADE INTEGRADA AVM

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

O PAPEL DO ORIENTADOR EDUCACIONAL

FRENTE ÀS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM

NA LEITURA E ESCRITA

Apresentação de monografia à Universidade Cândido Mendes como requisito parcial para obtenção de grau de especialista em Orientação Educacional e Pedagógica.

Por: Danielle Gonçalves de Medeiros.

Rio de Janeiro

2012

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus em primeiro lugar por me capacitar, me dar força e saúde para poder realizar esse trabalho. Aos meus familiares e ao meu esposo por compreender o sentido da minha luta. Tantas foram às vezes que me distanciei de vocês para apegar-me aos livros... Quero que saibam que suas palavras e compreensão foram demonstração de amor profundo. Obrigado, a alegria desta conquista também é de vocês.

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DEDICATÓRIA

Aos meus pais e ao meu esposo que sempre apoiaram e incentivaram os meus estudos, me motivando para que não desistisse no meio da caminhada.

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RESUMO

O presente trabalho busca ampliar a concepção acerca dos múltiplos

fatores que interferem no processo de aprendizagem de leitura e escrita.

Usando uma linguagem clara e objetiva são apresentados os principais

aspectos que podem interferir no processo de aprendizagem fazendo uma

reflexão sobre a escola, a família e o sujeito e suas relações estruturais.

O tema inerente às dificuldades de aprendizagem busca demonstrar a

importância da escola na formação do indivíduo. É na escola que as crianças

passam a maior parte de sua vida. Partindo dessa premissa, podemos

constatar que é de lá que o indivíduo carrega a maior parte de suas

recordações. Ao encontrar algumas dificuldades de aprendizagem o aluno

pode sentir-se desmotivado e até frustrado. Percebemos que nas escolas,

quando os alunos possuem algum tipo de dificuldade, muitas vezes são

deixados de lado por seus professores e acabam perdendo a motivação para

estudar.

A família geralmente não compreende que o indivíduo necessita de

mais atenção e por vezes acaba dizendo que o aluno não aprende por preguiça

ou, como acontece muitas vezes, acaba culpando o professor.

Desse modo, percebemos que o aluno acaba ficando em meio ao ‘fogo

cruzado’, pois a escola culpa a família e a família culpa a escola.

A presente obra fará uma breve contextualização histórica de como a

aprendizagem vem sendo concebida ao longo dos séculos e também

demonstrando o papel da escola, da família e do sujeito no processo ensino-

aprendizagem.

Espera-se assim que a obra possa ajudar a dirimir as principais dúvidas

sobre as dificuldades de aprendizagem na leitura e escrita e demonstrar como

o Orientador Educacional pode contribuir para melhores resultados nas

dificuldades de aprendizagem no ambiente escolar.

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METODOLOGIA

No presente trabalho é utilizada como metodologia a leitura analítica,

fichamento, interpretação e pesquisas em diversas bibliografias.

Foi privilegiada a pesquisa teórico-bibliográfica, pois é preciso

conhecer com profundidade as questões referentes ao tema.

Dentre os autores pesquisados merece destaque a autora Simaia

Sampaio em função de suas análises sobre as dificuldades de aprendizagem.

A autora estabelece uma ponte entre a relação sujeito, família e escola. A

autora aborda algumas situações como possíveis causas das dificuldades de

aprendizagem originadas por déficits nos setores cognitivo, orgânico, afetivo,

social e/ou pedagógico.

Fazemos referência à obra de Lou de Olivier em função de a

mesma ensinar como diagnosticar, saber as causas e os possíveis tratamentos

dos distúrbios de aprendizagem.

A autora Grinspun também é mencionada diversas vezes, pois

discute e analisa a orientação educacional na sua origem, nos seus aspectos

legais, na sua história e nas relações que mantém dentro da escola.

A proposta deste trabalho é possibilitar uma nova dimensão do

trabalho do Orientador Educacional frente aos alunos com dificuldades de

aprendizagem. Através da mediação do trabalho do Orientador Educacional,

poderemos proporcionar soluções que possam contribuir positivamente para

melhorar o desenvolvimento do educando em seu cotidiano escolar, diminuindo

dessa maneira o número excessivo de alunos que possuam dificuldades de

aprendizagem na leitura e escrita.

No primeiro capítulo desta obra faremos uma contextualização

histórica de como a aprendizagem é concebida ao longo dos séculos. No

segundo capítulo falaremos sobre o papel da escola, da família e do sujeito e

também faremos uma breve análise sobre as principais dificuldades de

aprendizagem na leitura e na escrita. No terceiro capítulo analisaremos a

atuação do Orientador Educacional em relação às dificuldades de

aprendizagem.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

BREVE HISTÓRICO SOBRE AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM 10

CAPÍTULO II

O PAPEL DA ESCOLA, DA FAMÍLIA E DO SUJEITO EM RELAÇÃO ÀS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM 17

CAPÍTULO III

O PAPEL DO ORIENTADOR EDUCACIONAL EM RELAÇÃO ÀS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM 35

CONCLUSÃO 42

BIBLIOGRAFIA 44

ÍNDICE 46

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INTRODUÇÃO

O tema referente às dificuldades de aprendizagem não é um assunto

recente, mas tem sido uma grande preocupação de educadores e especialistas

ao longo dos anos.

Partindo da observação realizada durante o ano de 2011 ao lecionar

para crianças do primeiro segmento do Ensino Fundamental da rede pública do

município de Queimados, foi possível constatar o grande índice de alunos com

dificuldades de aprendizagem na leitura e na escrita. O índice de educandos

com esse tipo de dificuldade era tão elevado no município que a Secretaria

Municipal de Educação se viu obrigada a formar turmas especiais para atender

aos alunos com esse perfil. A SEMED ofereceu capacitação para os

professores através de uma parceria com a UFRJ, para sensibilizar os

profissionais para a necessidade de um trabalho mais específico com esses

indivíduos.

Através da observação realizada e da constatação de falta de

conhecimento sobre como atuar com crianças que possuem essas dificuldades

surgiu à proposta desta obra em esclarecer como o Orientador Educacional

pode colaborar para que haja um melhor desenvolvimento na leitura e na

escrita destes indivíduos.

O trabalho que aqui se apresenta traz algumas reflexões acerca das

dificuldades de aprendizagem na leitura e na escrita. O primeiro capítulo fará

uma abordagem histórica de como a aprendizagem vem sendo concebida ao

longo dos séculos e como eram vistos pela sociedade os indivíduos que

apresentavam algum tipo de dificuldade de aprendizagem.

O segundo capítulo irá falar de qual é o papel da escola, da família e

do indivíduo no processo ensino-aprendizagem, demonstrando que todos

possuem um papel importante no processo. Embora seja difícil falar

separadamente do sujeito, da família e da escola, pois todos se fundem em

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uma relação interdependente, tentaremos abordá-los em suas peculiaridades,

focalizando as causas das dificuldades de aprendizagem. Mostrando que

família e escola quanto mais se distanciam, mais necessitam um do outro.

O segundo capítulo também irá fazer uma reflexão baseada nas

contribuições de Lou de Olivier sobre: O que é normal? O que é problema? O

que pode ser um distúrbio de aprendizagem? Dessa maneira, poderemos

saber as causas e os possíveis tratamentos das dificuldades de aprendizagem.

O terceiro capítulo irá fazer uma análise do papel do Orientador

Educacional frente às dificuldades de aprendizagem na leitura e na escrita. O

trabalho possibilita uma nova dimensão do trabalho do Orientador Educacional,

através de soluções que podem contribuir positivamente para melhorar o

desenvolvimento do educando em seu cotidiano escolar, diminuindo dessa

maneira o número excessivo de alunos que possuem dificuldades de

aprendizagem.

Nesse capítulo iremos analisar como tem sido praticada a função do

Orientador Educacional nas últimas décadas, também vamos perceber que na

sociedade atual a tarefa do OE mudou e que necessita ser redimensionado

esse novo perfil profissional e assim sendo aplicar os novos conceitos

aprendidos em sua prática profissional.

A presente obra oferece grande contribuição para o campo

educacional, pois possibilita o questionamento dos papéis desenvolvidos pela

escola, pela família e pelo sujeito em relação às dificuldades de aprendizagem

e oferece uma proposta de intervenção do Orientador Educacional no processo

ensino-aprendizagem. A obra oferece uma reflexão das práticas atuais e

oferece subsídios para que os profissionais da educação reflitam em suas

práticas e apresentem aos indivíduos que possuem essas dificuldades de

aprendizagem a possibilidade de tratamento e até mesmo de superação das

mesmas. Seguindo a reflexão de Paulo Freire (2008, p.27), “É preciso que

quem sabe saiba sobretudo que ninguém sabe tudo e que ninguém ignora

tudo”.

Desta maneira o trabalho estará contribuindo para construção da

autoestima do educando e para a formação de um cidadão que compreende o

seu papel na sociedade em que vive e pode interferir sobre a mesma.

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CAPÍTULO I

BREVE HISTÓRICO SOBRE AS DIFICULDADES

DE APRENDIZAGEM

“Como poderemos perceber alterações concretas em todo o quadro educacional de nosso país, neste século XXI sem a devida compreensão histórica de como chegamos até aqui?” (PORTO, 2009, p.12)

A forma de como o ser humano aprende tem sido motivo de

pesquisa durante muitos anos.

Antes de começarmos a falar sobre as dificuldades de aprendizagem

faz-se necessário compreender como se dá o processo de aprendizagem e

quais são os fatores que podem intervir na mesma.

“A aprendizagem depende de fatores gerais e de fatores específicos. Dentre os fatores gerais incluímos as capacidades orgânicas, inatas e as características gerais do ambiente onde as pessoas aprendem. Os fatores específicos referem-se a condições concretas e estruturadas para promover a aprendizagem como a educação formal e escolar, por exemplo.” (OLIVEIRA, 2001, p. 77)

A análise do aspecto histórico da aprendizagem é importante, pois

nos mostram como a aprendizagem era concebida antigamente e quais as

mudanças nos dias atuais.

Entendemos como aprendizagem tudo que nos leva ao processo de

adquirir um novo conhecimento.

Nossa estrutura psíquica dá sentido aos processos perceptivos, enquanto a organização cognitiva sistematiza toda a informação recebida de uma forma muito pessoal de acordo

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com as experiências vivenciadas e as situações sociais onde elas se desenvolvem. Portanto os sujeitos da aprendizagem e seus modos de aprender são produtos das práticas culturais e sociais. (RISUEÑO, 2005)

A aprendizagem pode ser explicada pelas bases neuropsicológicas,

mas esse não é nosso interesse no presente momento, mas sim compreender

como a aprendizagem foi concebida ao longo dos séculos.

A aprendizagem é um processo integral que ocorre desde o princípio da vida. Exige de quem aprende o corpo, o psiquismo e os processos cognitivos que ocorrem dentro de um sistema social organizado, sistematizado em ideias, pensamento e linguagem. (RISUEÑO, 2005)

1.1 - Histórico

Desde o século XVIII, médicos, psiquiatras e filósofos do Iluminismo

já se reuniam a fim de tentar compreender a origem dos problemas de

aprendizagem, atribuindo-lhes uma visão organicista, ideia que permeou a

prática psicopedagógica até pouco tempo atrás. (BOSSA, 2005, p.9)

Segundo Bossa (2000, p. 36), a partir do século XIX, surge a teoria

Evolucionista de Charles Darwin, com a publicação do livro “A Origem das

Espécies”, que coloca o homem dentro de um esquema de evolução biológica,

unindo as ciências naturais, humanas e sociais.

O século XIX foi apontado por Janine Mery como aquele em que

vários educadores se interessaram em compreender e atender portadores de

deficiência mental, sensoriais e outros problemas que comprometiam a

aprendizagem. Dentre estes educadores, encontramos Pestalozzi, Itard,

Pereire e Seguin, todos eles pioneiros nos tratamentos dos problemas de

aprendizagem, preocupando-se, entretanto, mais com a debilidade mental e as

deficiências sensoriais do que com a desadaptação. (BOSSA, 2000, p.37)

Nos fins do século XIX, o educador Seguin e o médico-psiquiátrico

Esquirrol formaram uma equipe médico-pedagógica, abrindo espaço para a

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neuropsiquiatria infantil, que passou a se ocupar dos problemas de

aprendizagem. (Id. Ibid., p. 38)

Scoz (2004, p. 19) explica que, durante muitos anos, o enfoque

orgânico orientou médicos, educadores e terapeutas. Desde os séculos XVIII e

XIX, estudos da Neurologia, Neurofisiologia e Neuropsiquiatria eram

desenvolvidos em laboratórios anexos a hospícios, classificando os pacientes

como anormais. Este conceito passou dos centros psiquiátricos para as

escolas, e as crianças que não conseguiam aprender eram tidas como

anormais, pois havia a concepção de que a causa do fracasso se devia a uma

anormalidade orgânica.

Os primeiros centros psicopedagógicos foram fundados na Europa,

em 1946, por J. Boutonier e George Mauco, com direção médica e pedagógica.

Estes centros uniam conhecimentos da área de Psicologia, Psicanálise e

Pedagogia, onde tentavam readaptar crianças com comportamentos

socialmente inadequados na escola ou no lar, e atender crianças com

dificuldades de aprendizagem, apesar de serem inteligentes. (MERY apud

BOSSA, 2000, p. 39).

Neste período, inicia-se um novo olhar sobre a criança com

dificuldades de aprendizagem; e um plano de intervenção, antes focado

apenas no orgânico, passa a ser ampliado, de onde o sujeito é observado em

sua totalidade, mediante atividades espontâneas e do brincar. (SAMPAIO,

2011, p.22)

Scoz (2004, p.23), Johnson e Myklebust, ambos os pesquisadores

do “Institute for Language Disorders”, atribuíam à Disfunção Cerebral Mínima e

aos distúrbios de aprendizagem (dislexias, afasias, disgrafias, discalculias) as

causas do fracasso escolar.

Estas ideias, originadas em consultórios particulares, chegaram às

escolas, que passaram a atribuir, sem nenhum critério, diagnósticos de

hiperatividade, dislexia, dentre outros, para justificar a causa de tais

dificuldades. Estes alunos eram encaminhados a médicos, que confirmavam o

diagnóstico, iniciando um tratamento medicamentoso. (Id. Ibid., p.24)

Sampaio (2011, p.25), diz que para a Epistemologia Convergente

um bom equilíbrio e desenvolvimento das estruturas cognitiva, afetiva e social

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seriam ideais para que o processo de aprendizagem seguisse seu curso

normal. Porém, verificamos que, se existem dificuldades de aprendizagem, elas

estão ligadas, inevitavelmente, a um problema nestas estruturas, que podem

estar impedindo o bom desempenho da inteligência.

Segundo Visca, a inteligência vai se construindo a partir da interação

entre o sujeito e as circunstâncias do meio social (1991, p. 47). Um dos fatores

essenciais à construção do conhecimento é a vida em sociedade e, para

aprender a pensar socialmente são imprescindíveis à orientação do professor e

o contato com outras crianças.

Sampaio (2011, p.26), menciona que a Escola de Genebra liderada

por Jean Piaget, dividiu os níveis de inteligência em quatro estádios principais.

Para verificar em qual estádio ou nível cognitivo o sujeito se encontra, são

aplicadas, no diagnóstico psicopedagógico, as provas operatórias

desenvolvidas pela Epistemologia Genética (Piaget), pois, segundo Visca, “...

ninguém pode aprender acima do nível da estrutura cognitiva que possui”. (Id.

Ibid., p. 52)

Sampaio (2011, p.27) menciona que não é apenas o bom

desenvolvimento cognitivo que implica uma boa aprendizagem. Fatores de

ordem afetiva e social também influem de forma positiva ou negativa nesta

aprendizagem. Daí a Epistemologia Convergente ter integrado os aportes da

Escola de Genebra com os aportes da Psicanalítica e da Psicologia Social.

1.2 - Fatores que podem desencadear problemas ou

distúrbios de aprendizagem.

Conforme José & Coelho (2002, p. 23), existem inúmeros fatores

que podem desencadear problemas ou distúrbios de aprendizagem; vejamos:

• Fatores orgânicos – saúde física deficiente, falta de

integridade neurológica (sistema nervoso doentio),

alimentação inadequada etc.

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• Fatores psicológicos – inibição, fantasia, ansiedade, angústia,

inadequação à realidade, sentimento generalizado de rejeição

etc.

• Fatores ambientais – o tipo de educação familiar, o grau de

estimulação que a criança recebeu desde os primeiros dias

de vida, a influência dos meios de comunicação.

Em sala de aula é muito importante à sensibilidade do professor

para detectar alguns sintomas apresentados pelos educandos, pois muitas

vezes é a observação do professor em sala de aula que poderá colaborar para

uma detecção de possíveis problemas de aprendizagem. A percepção do

professor poderá facilitar o encaminhamento do educando aos especialistas

adequados.

Na prática do psicopedagogo, ainda hoje é comum receber no consultório crianças que já foram examinadas por um médico, por indicação da escola ou mesmo por iniciativa da família, devido aos problemas que estão apresentando na escola. (BOSSA, 2000, p. 50)

1.3 - Obstáculos da aprendizagem

Visca (1991, p. 52-54) divide os obstáculos da aprendizagem em

três tipos:

• Obstáculo epistêmico – ninguém pode aprender acima do

nível da estrutura cognitiva que possui. Refere-se a uma

estrutura cognitiva defasada em relação à idade cronológica.

• Obstáculo epistemofílico – falta de amor pelo conhecimento.

Adotam diferentes formas que podem ser agrupadas em três

grandes categorias: a) medo à confusão (o sentimento

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consiste em um temor à indiscriminação entre o sujeito e o

objeto do conhecimento); b) medo ao ataque (o sentimento

consiste em ser agredido pelo objeto); c) medo à perda (o

sentimento consiste em perder o que já foi adquirido).

Aparecem diante da nova aprendizagem.

• Obstáculo funcional – conjunto de obstáculos que, em alguns

momentos, correspondem a causas emocionais e, em outros,

a causas estruturais. Tratam - se de dificuldade para

antecipar, mesmo quando o nível intelectual geral seja ótimo;

dificuldade para organização voluntária de movimento, ou

para a discriminação visual, mesmo quando não há

problemas na visão, por exemplo.

Visca nos diz que “o sintoma de aprendizagem é uma conduta

desviada que se expressa somente quando o meio exige” (1987, p.53). Quando

o meio pressiona, o sintoma pode manifestar-se por meio de notas baixas, de

indisciplina ou agressividade com colegas, professores ou com a própria

família.

Quando os professores em sua prática cotidiana percebem algum

tipo de conduta diferenciada é necessário investigar quais são as causas desse

comportamento para que possa tomar uma atitude para ajudar esse educando.

Costumo dizer que não adianta combater a febre, que é o sintoma, sem identificar e combater a infecção, a causadora do sintoma. É assim com o problema de aprendizagem escolar. É preciso identificar a causa, combatê-la e tratar o sintoma. (BOSSA, 2000, p. 11-12)

Todo sintoma apresentado pelo educando necessita de uma análise

aprofundada e para isso é importante que o educador faça o encaminhamento

para que o sujeito possa ter um atendimento médico especializado.

O sujeito, no caso, é “toda a pessoa que apresenta dificuldades de

aprendizagem: criança, adolescente ou adulto” (VISCA, 1987, p. 51), ou seja,

está dirigida a toda pessoa que aprende, independentemente de sua idade, e

não apenas para crianças.

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Weiss (2003, p.23-24) cita os aspectos orgânicos, cognitivos,

emocionais, sociais e pedagógicos como aqueles que ajudam a construir uma

visão global do sujeito. Os aspectos orgânicos estariam ligados à construção

biofisiológica do sujeito, cujas alterações sensoriais impedirão ou dificultarão o

conhecimento. Problemas como afasias e disfasias poderão ou não causar

problemas na leitura. Os aspectos cognoscitivos estariam relacionados ao

desenvolvimento das estruturas que incluem também memória, atenção,

antecipação etc. Os aspectos emocionais estariam vinculados ao

desenvolvimento afetivo e a sua relação com a construção do conhecimento.

Os aspectos sociais estariam ligados às perspectivas que estão inseridas a

família e a escola. E os aspectos pedagógicos seriam fatores que podem

interferir na aprendizagem, como tipo de avaliação, metodologia de ensino,

estrutura de turmas, organização geral etc.

Percebemos desta maneira que tanto os aspectos orgânicos,

cognitivos, emocionais, sociais e pedagógicos interferem na aprendizagem do

indivíduo. Podendo colaborar ou mesmo influenciar negativamente quando

existe algum déficit em alguma destas áreas.

Quando os alunos possuem alguma dificuldade de aprendizagem é

possível perceber o bloqueio que os mesmos criam para superar essa

dificuldade, pois ao longo de sua trajetória são confrontados diversas vezes

com situações que os intimidam e que só fazem aumentar suas dificuldades.

“Os alunos devem sentir-se livres para errar e aprender com seus erros. O sentir-se livres se traduz aqui por ausência de medo, de angústia... Aprender com os próprios erros é importante para o crescimento pessoal, seja emocional, social, ou cognitivo.” (MORALES, 1999, p.56)

É fundamental que os professores permitam aos alunos errarem,

pois através do erro eles podem construir um novo conhecimento e que quando

os alunos constroem esse caminho eles sentem-se livres e capazes de buscar

novas aprendizagens.

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CAPÍTULO II

O PAPEL DA ESCOLA, DA FAMÍLIA E DO

SUJEITO EM RELAÇÃO ÀS DIFICULDADES DE

APRENDIZAGEM

2.1- A escola

O presente estudo irá procurar fazer uma breve análise sobre o

papel da escola, da família e do sujeito em relação às dificuldades de

aprendizagem.

Sampaio (2011, p.33) menciona que cada criança é única em sua

forma de ser, de aprender, bem como de não aprender. Perguntamo-nos,

enquanto docentes, por que alguns conseguem aprender e outros não, se a

forma de ensinar é a mesma.

É importante ressaltar que o que difere um sujeito do outro é o

vínculo que ele constrói com o objeto a ser trabalhado. Nem todos os alunos

possuem o mesmo grau de vínculo com o professor. Cada educando se

identifica com um professor diferente, isso se dá porque cada indivíduo possui

uma personalidade, um ritmo e um interesse. Todos possuem famílias e

culturas distintas e muitas vezes em sala de aula o professor quer trabalhar

como se a turma fosse homogênea e muitas vezes se frustra, pois está lidando

com seres totalmente diferentes. Quando o professor percebe que o aluno não

está prestando atenção no conteúdo trabalhado muitas vezes chama a atenção

do aluno, grita, põe de castigo e expõem o aluno diante da turma o que acaba

acarretando muita frustração e desinteresse para o indivíduo que se sente

envergonhado. Porém, percebemos que não é só o aluno que sai prejudicado

nessa relação conturbada o professor também demonstra sintomas que

interferem em seu equilíbrio.

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De acordo com pesquisas do Instituto Academia de Inteligência, no Brasil, 92% dos professores estão com três ou mais sintomas de estresse e 41% com dez ou mais. É um número altíssimo, indicando que quase a metade dos professores não deveria estar em sala de aula, mas internada em uma clínica antiestresse. (CURY, 2003, p.62)

Sampaio (2011, p.34) diz que refletir sobre os sintomas

apresentados pelo professor e pelo aluno é uma grande oportunidade para

repensar a prática pedagógica. Situações de desgaste experimentadas pelo

professor, chamando a atenção do aluno a todo o momento, podem evidenciar

um conjunto de fatores inadequados, que poderão ser consequência de erros

da prática pedagógica, tais como: má organização do espaço em sala de aula,

má distribuição do tempo para realização das atividades e das avaliações

incoerentes. Não deixando de considerar, é claro, que muitas vezes, o estresse

docente advém de longas jornadas de trabalho, desgaste com a coordenação e

com os alunos, condições de trabalho inapropriadas (falta de material,

utilização ainda do giz, agravando problemas na voz).

Segundo Sampaio (2011, p.35) não é só o comportamento agitado

da criança que influencia nesta escalada negativa. O aluno quieto, calado,

pode estar entre aqueles que não aprendem bem. Por serem tímidos, quase

nunca se manifestam, permanecendo com suas dúvidas acumuladas, tendo

como consequência um baixo rendimento. Quando estes alunos são notados,

geralmente por suas notas baixas, alguns chegam a ser encaminhados para

um atendimento psicopedagógico clínico, e, no diagnóstico o que a maioria

apresenta é outro comportamento: gostam de ler, interagem, participam, bem

diferente da queixa apresentada, no entanto não rendem na escola. Em muitos

casos, não há nada de errado com seu cognitivo, mas sim com um sistema de

ensino fechado.

As dificuldades de aprendizagem podem ser causadas por problemas passageiros, como, por exemplo, um conteúdo escolar, que nem sempre oferece à criança condições adequadas para o sucesso. Nessa categoria, incluem-se as dificuldades que a criança pode apresentar em algum momento da vida, como a separação dos pais ou a perda de alguém, trazendo então problemas psicológicos/comportamental, falta de motivação e baixa autoestima. As dificuldades de aprendizagem podem ser secundárias para outros quadros

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avaliados, tais como: alterações das funções sensoriais, doenças crônicas, transtornos psiquiátricos, deficiência mental e doenças neurológicas. As doenças neurológicas mais frequentes que causam dificuldades de aprendizagem são a paralisia cerebral e o transtorno de déficit de atenção/hiperatividade. ”(RELVAS, 2008, p.52 e 53)

Para entendermos como se estrutura essa relação da escola em

relação às dificuldades de aprendizagem é preciso analisar o que está inserido

dentro da cultura escolar, como comenta Sampaio:

O sonho de consumo de vários professores, muitos deles despreparados ou cansados, seria ter em sua classe alunos que participassem ativamente, fizessem as tarefas com autonomia, ficassem atentos à aula, diminuindo assim o desgaste de ficar chamando-lhes a atenção, o que, em contrapartida, daria a entender que estão dando uma boa aula. Mas, quando isso não acontece, a quem culpam? Frequentemente não a si mesmos. Esperar ter em sua classe alunos que se enquadram neste perfil “ideal” é iniciar um processo de exclusão daquelas crianças que têm dificuldades reais de aprendizagem. Muitas deixam de aprender porque não podem. Aprendem menos ainda quando não encontram na figura do professor um verdadeiro mediador. (2011, p. 36)

Podemos dizer que muitos alunos que possuem dificuldades de

aprendizagem aprendem menos ainda quando se deparam com professores

sem interesse e sem amor pelo que fazem. Alguns possuem uma boa

formação acadêmica, mas falta um pouco de sensibilidade para trabalhar com

esse tipo de aluno.

Bons professores têm uma boa cultura acadêmica e transmitem com segurança e eloquência as informações em sala de aula. Os professores fascinantes ultrapassam essa meta. Eles procuram conhecer o funcionamento da mente dos alunos para educar melhor. Para eles, cada aluno não é mais um número na sala de aula, mas um ser humano complexo, com necessidades peculiares. (CURY, 2003, p.57)

Segundo Weiss (2003, p. 18) professores em escolas

desestruturadas, sem apoio material e pedagógico, desqualificados pela

sociedade, pelas famílias, pelos alunos não podem ocupar bem o lugar de

quem ensina tornando o conhecimento desejável pelo aluno. É preciso que o

professor competente e valorizado encontre o prazer de ensinar para que

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possibilite o nascimento do prazer de aprender. A má qualidade do ensino

provoca desestímulo na busca do conhecimento.

É comum vermos em nossas escolas professores que se desdobram

em uma jornada dupla ou até tripla de trabalho para poder ter um salário um

pouco melhor. Com esse desgaste emocional é comum encontrarmos

profissionais que por conta de uma longa jornada de trabalho não conseguem

planejar suas aula, ou quando planejam utilizam uma postura muito tradicional

que acaba não estimulando o interesse do educando. Quando o aluno não

possui nenhum déficit cognitivo isso às vezes não interfere muito em seu

desempenho, mas quando o aluno já possui uma dificuldade de aprendizagem

isso agrava seu problema, pois é deixado de lado e suas dúvidas vão só

aumentando. Geralmente alunos com dificuldades necessitam de tarefas

diferenciadas e uma atenção mais individualizada. Quando as turmas estão

superlotadas fica difícil que o professor consiga realizar alguma tarefa

diferenciada com esse indivíduo.

Seber (1995, p. 230) cita algumas atitudes pedagógicas que se

fundamentam na hipótese de que o conhecimento parte de fora para dentro, e

que o continuam sendo empregadas em sala de aula: fornecimento de modelos

a serem copiados; utilização de reforçamento, tanto no que se refere à

confecção de cartazes como ao emprego de recompensas e punições;

manutenção do que é transmitido a fim de ampliar a possibilidade de

“respostas instantâneas”. Os professores se baseiam em suas próprias

opiniões particulares, como critério para a eleição do tema a ser discutido na

pré-escola.

Segundo Portella (2008, p.102) cada pessoa desenvolve um estilo

próprio de aprender, isto é, de buscar, receber e transformar informações em

conhecimentos que poderão (ou não) ser utilizados em ocasiões apropriadas.

Como diz Piaget (apud SARAIVA, p.70), não se pode aprender a

nadar simplesmente olhando os banhistas, sentado comodamente no banco do

cais.

Podemos afirmar que quando os alunos são colocados diante de

algo novo eles devem entrar em contato com o objeto a ser estudado, pois isso

irá proporcionar um novo conhecimento. Porém, em diversas vezes em nossa

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prática percebemos que muitos educadores ficam presos aos conteúdos

escolares e não abrem espaço para aulas mais interessantes em que os alunos

possam elaborar suas hipóteses acerca do conhecimento, ficando assim

enclausurados em sistema de ensino rígido e sem criatividade.

Os conteúdos escolares são necessários, mas para que possam promover a aprendizagem, o professor precisa saber distinguir por quais meios esses conteúdos são acessíveis às crianças. Tudo depende da etapa do desenvolvimento. Sem conhecer as características que definem tais etapas, torna-se mais difícil ensinar a criança de modo que ela aprenda. (SEBER, 1995, p. 231)

2 .2 –Importância do reconhecimento das etapas do

desenvolvimento cognitivo em sala de aula

De acordo com Piaget, as etapas do desenvolvimento cognitivo

estão classificadas da seguinte forma: período sensório-motor (do nascimento

até os 2 anos aproximadamente), período da inteligência simbólica ou pré –

operatória (de 2 aos 7- 8 anos), período da inteligência operatória concreta ( de

7 – 8 a 11 -12 anos), período da inteligência operatória formal (a partir de 12

anos, com equilíbrio entre 14 – 15 anos). (DOLLE, 2002, p.104)

2.2.1 – Período sensório motor

Segundo Piaget (1973) no período sensório motor a criança até os

oito meses, a criança apresenta adualismo inicial, sendo incapaz de se

diferenciar do mundo. Não há consciência da diferenciação do eu e do outro. A

afetividade está centrada no próprio corpo e na sua ação. A criança alterna

momentos de tensão e relaxação em busca de momentos agradáveis e fugindo

dos desagradáveis.

2.2.2 – Período pré – operatório

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Visca (1991, p.48) explica que, no nível da inteligência pré-

operatória, já existe uma representação ou simbolização. A mera ação motriz

própria da etapa anterior interioriza-se e se transforma em pensamento. Há

neste estágio uma distinção entre significante (imitação, desenho, imagem

mental, jogo, palavra) e significado (situação evocada, objeto representado).

Este pensamento ainda carece da organização dos objetos em categorias

lógicas gerais. Por exemplo: o termo flor representa o elemento da classe que

é familiar à criança (flor do jardim da escola), e não a classe a que pertence à

flor; não há reversibilidade.

Até os dois anos, o desenvolvimento é centrado na própria criança,

mas, a partir dos dois anos, a criança se volta para a realidade exterior,

tentando descobri-la e, por isso é chamado de estádio objetivo. É também

chamado de período simbólico, pois instala-se a representação mental.

Neste período, a criança ainda não se coloca segundo o ponto de

vista do outro, existindo o egocentrismo infantil. Para a criança, só existe seu

ponto de vista, não considerando que outras pessoas também possuem seus

próprios pontos de vista.

A criança pré-operatória é incapaz de descentrar o pensamento, ou

seja, centra a atenção em apenas um traço. Não é capaz de acompanhar as

transformações, sendo seu pensamento dito estático.

Na prova operatória de conservação de matéria, quando inicialmente

a criança faz duas bolas e verifica que possui a mesma quantidade de massa

e, quando uma delas é transformada em salsicha, ela não é capaz de

responder que a salsicha tem a mesma quantidade que a outra bola porque

não percebe que apenas mudou a forma. Em seu pensamento, não existe

ainda a reversibilidade, não consegue ainda entender como esta salsicha

poderá ser transformada novamente em bola e não existe a conservação, não

entende que independentemente da forma a quantidade não se altera.

Entre cinco anos e meio e sete anos, a criança já começa a dar

respostas intermediárias, algumas conservativas outras não. Se tudo correr

bem, aos sete anos ela já estará no período operatório concreto.

Se a criança possui uma defasagem cognitiva encontrando-se neste

período quando já deveria estar em uma etapa posterior, será difícil resolver

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problemas matemáticos, interpretação de texto, entender o conteúdo próprio da

idade. SAMPAIO (2011, p.45)

2.2.3 – Período operatório concreto

No terceiro nível, da inteligência operatória concreta, o pensamento

se torna reversível e conservador. A criança é capaz de realizar a

reversibilidade de pensamento diante da transformação do objeto de um

formato a outro, concluindo que não houve modificação em relação à

quantidade, apenas no formato. Quando aplicamos a prova de conservação de

líquido, por exemplo, a criança é capaz de afirmar que independentemente do

formato do copo, a quantidade de líquido continua a mesma, não se altera.

Esta criança terá, portanto, conservado a quantidade de líquido.

Uma criança que ainda não está neste estádio, mas, em um anterior,

o pré-operatório, poderá dizer que, no copo comprido e fino, tem mais

quantidade que o copo experimental porque é mais alto. SAMPAIO (2011,

p.46)

2.2.4 – Período operatório formal

No último e quarto estádio, o da inteligência hipotético-dedutiva ou

formal, o pensamento se torna independente do concreto, partindo de

premissas cuja verdade é admitida a título hipotético, podendo operar de

acordo com uma lógica que implica todas as combinações possíveis. Conforme

Dolle (1987, p. 168), enquanto o pensamento concreto permanece preso ao

real, o pensamento formal, ao contrário, é hipotético-dedutivo, isto é, ele opera

uma inversão entre o real e o possível, onde o real chega a se subordinar ao

possível. A dedução lógica, agora, não se efetua mais sobre o real percebido,

mas sobre hipóteses. Desde o início, ele efetua a síntese entre o possível e o

necessário.

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Existe uma ordem de sucessão nestes estádios, ou seja, uma

característica não aparecerá antes de outra em um conjunto de sujeitos e

depois em outro conjunto. Os referidos estádios possuem, também, caráter

integrativo, o que quer dizer que as estruturas construídas em um estádio são

integradas nas estruturas no estádio seguinte, vale dizer que as estruturas

sensório-motoras são parte integrante das estruturas operatórias concretas e

estas das formais. (DOLLE, 1987, p.52)

Quando o professor conhece as etapas do desenvolvimento da

criança, pode logo perceber se a criança não está com a estrutura cognitiva

condizente com o que está sendo ensinado, e este se não for observado

poderá acarretar desestímulo, falta de interesse e rejeição por parte do aluno.

Percebemos que quando a criança possui alguma defasagem cognitiva, a

criança poderá desviar seu olhar para outros interesses que não os da sala de

aula.

Segundo Sampaio (2011, p.60) além da compreensão, do respeito

ao ritmo da criança e da paciência, a metodologia aplicada em sala de aula

deve ser criativa, porque as crianças com problemas em casa são realmente

propensas a se desconcentrarem mais, bem como crianças com déficit de

atenção; porém, uma aula dinâmica já é um grande passo para conseguir

segurar a atenção dessas crianças.

Percebemos que na prática pedagógica em nossas escolas

atualmente as aulas não tem sido planejadas com atividades diversificadas e o

conteúdo acaba não sendo passado para os alunos de forma atrativa. Isso de

certa maneira contribui para aumentar as dificuldades dos alunos que possuem

algum déficit cognitivo.

“Quando surgem as dificuldades de aprendizagem, raramente em um primeiro momento, a escola assume algum tipo de responsabilidade. Em geral, não considera a possibilidade de uma inadequação no currículo, no sistema de avaliação, na metodologia, falha no vínculo entre professor e aluno, ou uma falha na comunicação entre os membros da escola. É imprescindível que o educador seja alguém capaz de não apenas transmitir conhecimento, transmitindo valores e emoções, para que a criança não permaneça enrijecida com os sentimentos provocados pelas dificuldades por que passa e seja capaz de descobrir que existem outras formas de lidar com seus sentimentos, seja por meio da música, do contar e

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ouvir estórias, do teatro ou das artes plásticas.”(SAMPAIO, 2011, p.61)

A escola e os profissionais nela inseridos devem preocupar-se em

envolver o educando no processo de aprendizagem para que o aluno possa

sentir o interesse em aprender. Pois, é o interesse do aluno que fará uma

grande diferença no processo de superação da dificuldade. Sampaio comenta:

“... para aprender, é necessário que o sujeito se autorize a aprender; do contrário, poderá existir um bloqueio de qualquer ordem, funcionando como uma sombra negativa sobre o sujeito, e a aprendizagem ficará impossibilitada.” (SAMPAIO, 2011, p.62)

O professor possui um papel muito importante na superação das

dificuldades de aprendizagem. Sampaio (2011, p.62) diz que se o professor

atuar na sua zona de desenvolvimento proximal, mediando e orientando, o

sujeito que ontem não conseguia sozinho, e hoje consegue com ajuda, amanhã

conseguirá sem nenhuma intervenção. Mas, para que isso ocorra, é preciso

dedicação, paciência e um olhar atencioso do mediador.

Um professor que possua um olhar atencioso é capaz de detectar

alguns sinais que demonstram que algo está indo errado com o aluno.

Crianças com baixa autoestima, em geral, são cabisbaixas, com letras e desenhos muito pequenos. Crianças com princípio de depressão, ou que estejam passando por problemas emocionais, costumam sentir dores na barriga, nas pernas ou na cabeça. O corpo fala e traduz algo que não vai bem. Não é um sintoma apenas orgânico, mas também psíquico, emocional. (SAMPAIO 2001, p.66)

Quando o professor conhece esses sintomas pode fazer o

encaminhamento do aluno para um profissional especializado, para que o

aluno tenha o tratamento adequado antes que o problema do aluno se agrave.

É importante mencionar que o professor não é capaz de fazer o

diagnóstico da dificuldade, mas pode fazer o encaminhamento para que a

mesma possa ser tratada e até superada.

“É preciso enxergar aluno e suas variadas formas de aprender, não como algo isolado de suas interações, mas perceber a

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família e a escola como corresponsáveis pela ampliação deste mundo em formação.” (PORTELLA, 2008)

2.3 – A Família

O papel da família

A estrutura familiar é um conjunto invisível de exigências funcionais que organiza as maneiras pelas quais os membros da família interagem. Uma família é um sistema que opera através de padrões transacionais. Transações repetidas estabelecem os padrões de como, quando e com quem se relacionar e estes padrões reforçam o sistema. (MINUCHIN, p.57)

Quando encontramos algumas crianças com dificuldades de

aprendizagem devemos em primeiro lugar conhecer a família na qual este

indivíduo está inserido, pois é de lá que o indivíduo carrega a maior parte de

suas apreensões da realidade. Percebemos que em muitos casos a família não

está muito preocupada em assumir seu papel de educar e coloca essa

responsabilidade para outros indivíduos, mas é importante saber que essa

função cabe primeiramente à família.

A LDB discorre a respeito em seu Título II,

Art. 2° - A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (BRASIL, 1996) Art. 6° - É dever dos pais ou responsáveis efetuar a matrícula dos menores, a partir dos seis anos de idade, no ensino fundamental. (BRASIL, 1996)

Segundo a LDB percebemos que a educação do indivíduo é primeiramente

dever da família e que cabe a mesma realizar a matrícula e fazer o acompanhamento

do educando ao longo do processo educativo.

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Notamos que os pais devem estar preocupados em participar do processo

educativo, sempre acompanhando o desenvolvimento do aluno e saber qual é a

proposta educativa da instituição na qual seu filho está matriculado.

O ECA traz em seu capítulo IV

Art. 53 – Parágrafo único – É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo pedagógico, bem como participar da definição das propostas educacionais. (BRASIL, 1990) Art. 55 – Os pais ou responsáveis têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino. (BRASIL, 1990)

Não podemos deixar de perceber o papel fundamental que a família ocupa

na aprendizagem do indivíduo.

Sampaio (2011, p.69) relata que é no âmbito familiar que o sujeito inicia

suas primeiras aprendizagens. Aprende a sugar o seio da mãe, a rolar no berço, a

levantar a cabecinha, o tronco, a sentar, a comer de colherinha, a engatinhar, a dizer

as primeiras palavras, a andar, a cantar, a dançar. Todas essas conquistas são

presenciadas primeiramente pela família que passa a dar-lhe estímulos, almejando

que a criança conquiste cada vez mais novas habilidades.

Sampaio (2011, p.74) diz que antes de entrar na escola, a criança deveria

receber seus primeiros estímulos em casa, tendo contato com livros compatíveis com

sua idade (com páginas de plástico ou capa dura, que impossibilitam rasgar e, mais

tarde, livros com páginas normais, sendo-lhe ensinado o cuidado com os livros), lego e

outros brinquedos de encaixe, massa de modelar, tintas (com supervisão) músicas e

poesias com rimas (visando ao desenvolvimento da consciência fonológica). A criança

deveria estar continuamente, neste contato com objetos que pudessem ajudá-la no

desenvolvimento de habilidades motoras, linguísticas, musicais, lógicas. Estar inserida

em um lar, cujos familiares tenham contato constante com a leitura propicia o

desenvolvimento do gosto pela leitura, do colocar-se desde cedo com o objeto do

conhecimento.

A vida familiar é uma das primeiras experiências significativas da vida do indivíduo. “Portanto, o vínculo entre ensinante (pais)

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e aprendente (filho) é, fundamental para a aprendizagem, dentro de um espaço onde haja confiança, respeito e estima.” (PORTELLA, 2008, p.83)

Durante anos, a escola e a família foram as duas instituições responsáveis pela educação e formação de novas gerações. Hoje isso não é possível. A família está passando por grandes transformações e, muitas vezes, delega sua função educativa tradicional a outros agentes como a televisão ou a própria escola. (PORTELLA, 2008, p.91)

Observamos, pois, que a base se dá na família. É por meio dela que o

sujeito se estrutura, cria vínculos afetivos, inicia seu desenvolvimento cognitivo e

emocional. Não é na escola que o desenvolvimento começa, como pensam,

erroneamente, muitos pais, e grande parte dos problemas e conflitos entre escola e

família reside aí, quando alguns pais querem atribuir somente à escola o dever de

ensinar e educar, sem participar dessa educação. (SAMPAIO, p.76)

Convivemos, diariamente com nossa família e ela passa a fazer parte dos móveis e dos utensílios da casa. Torna-se assim, invisível e aparece em momentos significativos: nascimento, batizado, aniversário, casamento, divórcio (com todos os seus corolários) e morte. Nessa convivência tão próxima, seja aquela na qual nascemos, seja com as famílias das quais nossos pais vieram ou com os ditos agregados (empregados, parentes por afinidades), os hábitos, costumes, gestos, leis e comportamentos, enfim, a cultura daquela família. Tememos descobrir o quanto dependemos e somos influenciados neste movimento relacional entre nós e ela, num vaivém contínuo, que permanece objetivamente ou subjetivamente, nas marcas que ficam em nosso corpo e que guiarão nossa conduta pelo resto da vida. (GROISMAN, 2000, p.11)

Recebemos de nossas famílias valores que nos são transmitidos

consciente ou inconscientemente e que nos acompanharão por toda a nossa

caminhada. Se o que recebemos for bom ou ruim isso sempre estará conosco

nos influenciando positiva ou negativamente.

A identidade do sujeito é um produto das relações com os outros. Neste sentido todo indivíduo está povoado de outros grupos interno na sua história. (GROSSI, 1992, p.60)

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Percebemos que as famílias no século em que vivemos estão

passando muitas transformações e isso tem influenciado na aprendizagem dos

indivíduos que estão inseridos nesses contextos.

Recebemos, assim como outros numerosos colegas psicólogos - psicanalistas e psiquiatras, cada vez mais crianças que vivem em famílias compostas, decompostas e depois recompostas. E as “novas famílias” são constituídas por pais padrastos, filhos, enteados e formam conjunto com mais ou menos harmonia e que parecem um mosaico. Por isso as chamamos “famílias mosaico”. A vida familiar evoluiu durante o século XX. O número de divórcios aumentou consideravelmente e, em consequência, o número de pais ou mães que vivem sozinhos com um ou vários filhos- as “famílias monoparentais”-também aumentou. Antigamente, quando havia um segundo casamento, isso se dava, sobretudo entre viúvos e viúvas: hoje é principalmente entre divorciados. (GARBAR, 2000, p.21)

Essas mudanças nas estruturas familiares é uma das causas que podem

estar interferindo na aprendizagem dos indivíduos. Crianças que presenciam pais

brigando diariamente, pais/mães alcóolatras, mães que tentaram aborto, separação

dos pais, novos relacionamentos dos pais, abusos sexuais, agressões. Enfim, uma

série de fatores que podem influenciar psicologicamente para que esse indivíduo

venha apresentar alguma dificuldade de aprendizagem. É importante mencionar que

muitas vezes esses acontecimentos que ocorrem em seio familiar ficam ocultos e que

somente após ser detectada alguma dificuldade por parte do aluno e que é feita uma

investigação e é constatado algum problema familiar. Ou seja, no primeiro momento o

indivíduo sofre sozinho e como não consegue expressar seu sofrimento o problema

muitas vezes se agrava para uma dificuldade de aprendizagem que é notada por

todos. É como se fosse uma forma de colocar para fora seu sofrimento interior.

O diagnóstico tradicional favorece a localização dos pais em um falso lugar de saber. Eles vêm falar do filho, geralmente com queixas e explicações do tipo: “não tem memória”, teve uma base má com a professora, tudo começou desde que nasceu a irmã, “tem algo podre na cabeça” etc. A origem do problema de aprendizagem não se encontra na estrutura individual. O sintoma se ancora em uma rede particular de vínculos familiares, que se entrecruzam com uma também particular estrutura individual. (FERNANDES, 1991, p. 30 e 31)

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Quando é detectado algum problema e a família é chamada na escola para

conversar sobre o que pode estar acontecendo com aquela criança, muitas vezes a

família nega o problema e diz: não aprende por que é preguiçoso, ou não aprende por

que não quer, pois brincar ele sabe muito bem. Essas e outras afirmativas são muito

comuns serem escutadas nas escolas por educadores, só que o que realmente está

por traz dessa reação é um forte sentimento de negação do problema, porque muitas

vezes os pais não estão dispostos a assumir a responsabilidade que possuem com

esse problema. Muitas vezes os pais não contribuem com a aprendizagem de seus

filhos, não estimulam a busca do saber por parte de seus filhos e é fundamental a

participação de todos nesse processo.

Sampaio (2011, p.77) diz que a família deve fazer todo um esforço para

que a criança consiga superar suas dificuldades. Algumas dizem que não podem

pagar o tratamento, entretanto há instituições que oferecem gratuitamente o serviço,

ou mesmo com o psicopedagogo pode-se chegar a um acordo. Outros expressam

dificuldades em relação à distância, afirmando que não tem como levar; contudo

alguns transportes escolares disponibilizam horários extras. Em muitos casos,

observamos a resistência dos pais em dar continuidade ao tratamento, porque tratar a

criança significa mexer na estrutura familiar.

As famílias devem contribuir de todas as formas possíveis para a

superação das dificuldades mesmo que seja necessário fazer um tratamento com um

profissional especializado, a família deve empenhar-se e não abrir mão de alcançar

seu objetivo.

É preciso conhecer os pais, onde e como vivem e identificar os saberes que vêm de casa, mas a escola não pode abdicar do seu papel: o trabalho formal e sistemático com o conhecimento. “Pais não são professores. O conteúdo escolar é uma tarefa docente.”, enfatiza Ana Polônia. (NOVA ESCOLA, setembro, 2009, p.104)

Podemos nesse sentido mencionar que é fundamental conhecer a

família e procurar detectar as dificuldades desse indivíduo, mas que ao mesmo

tempo não podemos colocar sobre a família toda a culpa das dificuldades de

aprendizagem do indivíduo, porque a escola também pode contribuir para que

ocorram essas dificuldades como já mencionamos anteriormente.

Nesse sentido podemos perceber uma relação de dependência entre

família e escola, pois uma não pode caminhar sem a outra.

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É fundamental perceber a parceria entre família e escola, pois

andando juntas essas instituições colaborarão para o progresso do educando.

Quando existe essa parceria o aluno não se sente desamparado e

sente mais confiança para buscar solucionar suas dificuldades.

2.4 – O Sujeito

Com o passar dos anos e a evolução nas pesquisas percebemos que o

que antes era tido como apenas um problema orgânico que provocava alguma

dificuldade de aprendizagem, atualmente existe um olhar mais abrangente e não se

culpa apenas o sujeito pelo fracasso escolar.

Sampaio (2011, p.89) menciona que fatores orgânicos permaneceram por

muito tempo, como a principal causa dos problemas de aprendizagem. Este conceito

mudou a partir de diversos estudos na área da saúde mental. Existem sem dúvida,

fatores orgânicos que poderão interferir na aprendizagem, mas outras causas deverão

ser investigadas concomitantemente, para que o sujeito não seja visto, nesta situação

ou em qualquer outra, como o único responsável por seu fracasso escolar. Do

contrário se esta investigação não for feita, ou for mascarada, dificilmente o sujeito

poderá prosseguir bem. A ajuda dos familiares e da escola é fundamental para a

superação ou amenização de tais dificuldades.

Para entendermos melhor o que é uma dificuldade de aprendizagem

é importante saber a definição que é dada ao mesmo.

Taya (2003) define o transtorno de aprendizagem “como uma

disfunção neuropsicológica – problemas que impedem o funcionamento

integrado do cérebro em desenvolvimento”. Trata – se, pois, de um problema

de maturação, e no desenvolvimento neuropsicológico.

Transtorno de aprendizagem ou dificuldade de aprendizagem

específica (learning disabilities) se define como “um transtorno em um ou mais

dos processos psicológicos básicos implicados na compreensão ou no uso da

linguagem falada ou escrita, que pode se manifestar em uma habilidade

imperfeita para escutar, falar, ler, escrever, soletrar ou fazer cálculos

matemáticos”, de acordo com a oitava definição, criada em 1977, nos Estados

Unidos e registrada oficialmente em 1986 (Id. Ibid.)

Segundo Sampaio (2011, p.90) os problemas de aprendizagem

podem se apresentar em razão de uma metodologia inadequada, método de

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alfabetização inadequado, privação cultural e econômica, má – formação

docente, falta de planejamento das atividades, desconhecimento da realidade

cognitiva dos alunos.

Para traçar um perfil dos sujeitos com problemas e aprendizagem,

Sisto cita uma pesquisa do Departamento de Saúde Mental do Texas, que

demonstra as seguintes características: falhas na escola, certa desorientação e

deficiências com leitura e linguagem, maior imaturidade do que sujeitos com

desempenhos normais, desenvolvimento social e intelectual inferior ao

esperado para a idade. Expõe, ainda, que “estas crianças vivem ambientes

com regras rígidas e inflexíveis e que geralmente são desajeitadas,

desastradas e têm dificuldade de entender o conceito de tempo e referências

de espaço”. (SISTO, 2004, p. 107)

É importante além de traçar o perfil dos sujeitos com dificuldades de

aprendizagem entender o que é normal e o que é problema.

2.4.1 – O que é normal? O que é problema? O que é

distúrbio?

Segundo Lou de Olivier (2010, p.33) no recém – nascido e até os

seis meses de vida, o normal é que ele tenha domínio sobre os reflexos, chore

ao sentir algum desconforto, reaja aos estímulos, como som, luz, carinho etc.

Consiga sugar durante a amamentação, tenha boa digestão, bom

funcionamento intestinal e durma de forma tranquila. Estas são as principais

características do bebê considerado normal.

A autora menciona que torna-se problemático quando o bebê

apresenta dificuldades para alimentar-se e/ ou apresenta constantes vômitos

e/ou diarreias. Quando tem dificuldade no sono, excesso de sucção, choro e

irritabilidade excessivos e sem motivo aparente. O problemático torna-se em

distúrbio quando o bebê mostra-se apático ou indiferente, chora muito e de

forma monótona, grita sem motivo, não suga nem reage a qualquer estímulo.

É importante observar esses aspectos desde o início da vida do

indivíduo para que o problema possa ser diagnosticado precocemente.

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Segundo Lou de Olivier (2010, p.34) dos seis aos 24 meses, o

desenvolvimento normal inclui maior estabilidade fisiológica, mais paciência e

tolerância e certo controle dos instintos e da atividade motora, o que faz com

que a criança consiga brincar bastante, distraindo-se com os brinquedos por

períodos longos sem tornar-se irritadiça ou chorona. Nesta fase, demonstra

uma forte ligação com a mãe, distinguindo-a dos demais parentes e sabendo

separar quem é conhecido e quem é desconhecido, inicia sua fase de imitação

e desenvolvimento da linguagem que, aos 18 meses, já tem um bom número

de palavras utilizadas, ainda que simples ou até monossilábicas.

A autora relata que o problemático começa quando a criança

demonstra irritação, raiva ou chora em excesso e continuamente, torna-se

totalmente intolerante por qualquer motivo, tem dificuldades no controle de

evacuações, alimentação e sono. Tem tiques e/ou balança-se muito quando

contrariada, chupa constantemente o dedo e/ou objetos diversos. O distúrbio é

considerado quando a criança apresenta crises temperamentais frequentes,

perde o fôlego com facilidade, apresenta convulsões, demonstra isolamento/e

ou apatia, inclusive sem grandes ligações com a mãe. Passa a maior parte do

tempo chupando o dedo e/ou os objetos e balançando-se e/ou batendo a

cabeça em algum objeto (berço, paredes etc.).

Quando os pais estão atentos a esses sintomas a criança pode ser

diagnosticada e tratada antes que o problema se agrave. Na escola, quando os

pais são questionados sobre o comportamento do aluno é importante que a

família não omita esse tipo de comportamento apresentado pela criança na

primeira infância.

Lou de Olivier (2010, p.35) menciona que no período entre os dois e

cinco anos, a criança desenvolve bem a fala, conseguindo expressar-se com

frases completas. Consegue autonomias nas funções corporais (comer, beber,

evacuar) e identifica-se com pais, irmãos, amigos, colegas. Demonstra

coordenação em exercícios que envolvem pulos, corridas etc. Já consegue

fazer pinturas, desenhos, recortes e pequenos trabalhos manuais. Ainda

demonstra dependência materna e medo de separar-se da mãe, mas também

presta atenção às outras pessoas que a rodeiam. Torna-se mais sociável,

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curiosa, inclusive quanto à sexualidade e pergunto muito para satisfazer sua

extrema curiosidade.

A autora menciona que torna-se problemático quando a criança

demonstra pouca ou nenhuma coordenação motora, problemas na linguagem,

gagueira, troca excessiva de letras. Demonstra dificuldades para dormir, fazer

sua higiene pessoal, insiste em usar chupeta e/ou recusa-se a largar a

mamadeira, preferindo-a a outros alimentos. Está sempre irritada, tem

frequentes crises temperamentais, mostra-se, impossibilitada de separar-se da

mãe e, se o faz, entra em pânico, mostra medo excessivo de estranhos e

desinteresse por crianças da mesma idade. O distúrbio ocorre quando a

criança demonstra hiperatividade ou passividade extrema, muita sonolência,

fala pouco ou não fala, não se expressa, não reage às pessoas, nem responde

às perguntas, não controla fezes e urina, masturba-se com muita frequência ou

nunca se masturba, demonstra comportamento destrutivo, como cortar, rasgar,

queimar brinquedos e objetos diversos, age de forma cruel com animais ou

irmãos mais novos, parecendo sentir prazer nisso. Nestes casos, o distúrbio

passa a ser considerado e deve ser diagnosticado por um psicólogo que,

dependendo do caso, encaminhará a criança a um neurologista, fonoaudiólogo,

otorrino e/ou a um psicomotricista e/ou a um arteterapeuta.

É muito importante ficar claro que ninguém pode dar um

diagnóstico de distúrbio sem ser um especialista no assunto. Só o médico

possui a capacidade de diagnosticar um distúrbio.

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CAPÍTULO III

O PAPEL DO ORIENTADOR EDUCACIONAL

FRENTE ÀS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM

NA LEITURA E ESCRITA

Durante anos temos percebido que as escolas estão mudando seu

olhar em relação aos alunos com dificuldades de aprendizagem e muitas até

hoje ainda encontram-se despreparadas para resolver algumas questões com

esse tipo de aluno. Muitas vezes ficam querendo procurar algum culpado que

justifique o fracasso escolar.

Grinspun (2011, p.77) menciona que a trajetória histórica do

fracasso escolar na realidade brasileira pode ser identificada a partir de alguns

pontos básicos: explicações para o fracasso escolar, baseadas na teoria do

déficit e da diferença cultural; explicações advindas das crises do sistema

social, que estariam sendo reproduzidas no sistema escolar; o momento do

fracasso analisado à luz do próprio sistema educacional congenitamente

gerador de obstáculos à realização de seus objetivos e o fracasso escolar

como depositário das dificuldades dos protagonistas que atuam no processo

educacional.

Percebemos que nessa busca de saber qual a culpa para o fracasso

escolar, muitos se eximiram de suas responsabilidades colocando a

responsabilidade do fracasso em fatores externos as escolas.

Grinspun (2011, p.78) declara que os primeiros especialistas a se

ocuparem de casos de dificuldades de aprendizagem foram os médicos. O final

do século XVIII e o início do XIX foram de grande desenvolvimento nas

ciências médicas e biológicas, especialmente na psiquiatria. Com os estudos

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da neurologia, da neurofisiologia e da neuropsiquiatria, os distúrbios de

aprendizagem tinham um tratamento diferenciado, sendo os portadores de tais

distúrbios designados como anormais escolares; as causas de seu fracasso,

procuradas em alguma anormalidade orgânica. Em 1914, eles são

apresentados, em um Congresso de Assistência em Montepellier, como

anormais infantis.

Toda a participação de psicólogos e pedagogos, em especial nas

primeiras décadas do século XX, influenciou a abordagem da análise das

dificuldades de aprendizagem sob a luz do conhecimento das aptidões dos

indivíduos. Os testes psicológicos ingressaram nas escolas, fazendo parte da

vida cotidiana nos países capitalistas centrais. Dois pontos são importantes

nesse momento: a psicometria e a pedagogia nova, que estava sendo

introduzida, principalmente nos meios educacionais da Europa e da América do

Norte. Os testes de QI adquiriram um grande peso nas decisões dos

educadores a respeito do destino escolar dos alunos que tinham acesso à

escola. (Id. Ibid. p, 79)

Nesse momento histórico é possível perceber que o Orientador

Educacional possuía um papel de apenas medir o conhecimento do aluno e

não de auxiliar na aquisição desse conhecimento.

Outro ponto que convém ressaltar é a influência das teorias

psicanalíticas nas concepções sobre as causas das dificuldades de

aprendizagem. Inicialmente tida como anormal escolar, à criança que

apresentava problemas de ajustamento ou de aprendizagem escolar passou a

ser vista como “criança-problema”. Se antes as dificuldades eram identificadas

por instrumentos da medicina e da psicologia, que falavam em anormalidades

genéticas e orgânicas, agora o são por instrumentos da psicologia clínica de

inspiração psicanalítica, que buscam no ambiente sociofamiliar as causas dos

desajustes infantis. As causas do fracasso escolar vão desde as físicas até as

emocionais e de personalidade, passando pelas intelectuais. (Id. Ibid. p, 79)

Ao analisarmos como foi construída a concepção de fracasso

escolar historicamente sempre ficou claro que a escola buscava apontar fatores

extraescolares como causa do fracasso escolar ou de foram psicológica,

orgânica ou familiar.

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Grinspun (2011, p.80) declara que essas concepções tiveram um

peso significativo na análise do fracasso escolar. Convém lembrar, que, apesar

da análise dos distúrbios biológicos representarem uma fase de identificação

do fracasso escolar nas primeiras décadas do século XX, ela retornou na

década de setenta, quando médicos e psicólogos introduziram no Brasil a

abordagem psiconeurológica ao desenvolvimento humano, trazendo com ela

noções de disfunção cerebral mínima e de dislexia, objetos privilegiados pela

atenção dos médicos, psicólogos e fonoaudiólogos. Inicialmente destinada a

atender alunos de melhor nível socioeconômico, toda “uma equipe” de apoio

analisava as dificuldades de aprendizagem que poderiam gerar fracasso

escolar e procurava suprir as deficiências apresentadas.

A autora Mírian P. S. Z. Grinspun (2011, p. 83, 84, 85, 86 e 87)

apresenta as seguintes teorias para analisar o fracasso escolar:

• Teoria psicológica

Cada aluno possui características individuais, sendo elas as

responsáveis pelo sucesso ou fracasso escolar. As diferenças individuais,

legitimadas pela Psicologia, eram identificadas através da mensuração de

aptidões intelectuais, prontidão para aprendizagem, inteligência ou coeficiente

intelectual, a partir de testes, escalas, questionários etc. Essas desigualdades e

diferenças individuais é que explicariam as diferenças do rendimento escolar. A

função da escola seria adaptar os alunos à sociedade, segundo suas aptidões

e características individuais. O fracasso do aluno explica-se por sua

incapacidade de adaptar-se, ajustar-se ao que lhe é oferecido. (Id. Ibid. p, 83)

• Teoria da carência cultural

Explicação engendrada pela psicologia educacional norte-americana

nos anos 60 e 70 para o problema as desigualdades sociais da escolarização.

Nos estudos que se desenvolveram a partir dessa teoria, o fracasso escolar era

devido a influências de fatores extraescolares no rendimento escolar dos

alunos.

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Quanto às características psicológicas das crianças pobres, os estudos

conduzidos nos anos 1970 oscilavam entre a tese do déficit e a da diferença. A

causa principal do fracasso encontrava-se no aluno, cabendo à escola uma

parcela de responsabilidade por não se adequar a esse aluno de baixa renda.

Do ponto de vista das ciências sociais e antropológicas, as noções de

deficiência cultural, carência cultural e privação cultural são inaceitáveis; não

há culturas superiores e inferiores, há culturas diferentes.

Na teoria da carência cultural, a análise do fracasso escolar das

camadas populares e a busca de soluções devem ser tratadas pela escola,

cuja função seria compensar as deficiências do aluno, resultantes de sua

carência ou privações culturais. (Id. Ibid. p, 83 e 84)

• Teoria das diferenças culturais

Ela parte do princípio de que todo grupo social tem uma cultura. Não

é adequado falar em grupos sociais culturalmente deficientes, privados de

cultura ou carentes de cultura. O que se deve reconhecer é que há uma

diversidade de culturas, mas todas são igualmente estruturadas, coerentes e

complexas. O aluno proveniente das classes dominadas não encontra, na

escola, padrões culturais que sejam os seus. Seu comportamento é avaliado

em relação a um modelo-o comportamento da classe dominante. Ele sofre

marginalização cultural e fracassa, não por deficiências intelectuais ou

culturais, mas porque é diferente, como afirma a ideologia das diferenças

culturais. Nesse caso, a responsabilidade pelo fracasso escolar cabe à escola,

que trata de forma discriminativa a diversidade cultural, transformando

diferenças em deficiências. (Id. Ibid. p, 84)

• As teorias crítico reprodutivistas e a pesquisa do

fracasso escolar

As ideias de Althusser (1974), Bourdieu (1974), Bourdieu e Passeron

(1975), Establet e Baudelot (1971) influenciaram os pesquisadores brasileiros,

que introduziram a possibilidade de se pensar o papel da escola no âmbito de

uma concepção crítica da sociedade. Viram a Escola como o lugar no qual se

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exerce a dominação cultural, a “ideologização” a serviço da reprodução das

relações de produção. O conceito de dominação nem sempre pôde ser

apreendido sua essência e passou a ser usado com o mesmo sentido histórico

que era usado na literatura americana, isto é, como uma imposição da cultura

da maioria a grupos minoritários. A leitura da tese de Bourdieu e Passeron, que

vigorou na pesquisa do fracasso escolar até meados dos anos setenta,

desempenhou alguns papéis importantes: primeiro, chamou a atenção para a

relação professor/aluno, que não era tão destacada na dimensão tecnicista;

segundo, chamou a atenção para a dominação e a discriminação social

presentes no ensino; terceiro, tornou mais próxima a possibilidade da

educação ser pensada a partir de seus condicionantes sociais, contribuindo

para a superação do mito da neutralidade do processo educativo e abrindo

caminho para uma concepção dialética da totalidade.(Id. Ibid. p, 84 e 85)

• Fatores intraescolares e a análise do fracasso

escolar

No decorrer dos anos 1970, uma das características distintivas da

pesquisa do fracasso escolar foi a crescente investigação da participação do

próprio sistema escolar na produção de tal fracasso, através da atenção ao que

se convencionou chamar de fatores intraescolares e de sua relação com a

seletividade social operada na escola.

Sobressai, em 1977, um conjunto de subprojetos da Fundação

Carlos Chagas, voltados para a investigação da participação do sistema

escolar, onde a escola é tratada como um espaço próprio, o que lhe permite

autonomia na determinação do sentido de sua ação na sociedade global.

Nesse resgate da importância da escola, se destacam as ideias de

George Snyders. Para o autor, a escola é um local de luta, o palco em que se

defrontam forças contraditórias, o terreno em que se chocam forças

progressistas e conservadoras. Ele introduziu as ideias de Gramsci na reflexão

sobre o problema da deficiência e do papel social da Escola para o povo.

Em 1981, Beisegel, em resultados de pesquisa, dizia que antes a

exclusão atingia os alunos que não chegavam às escolas e hoje atinge os que

nela chegam de forma menos transparente, com os altos índices de evasão.

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Em 1983, um grupo de pesquisadora que analisavam investigações

sobre o fracasso escolar-fatores intraescolares haviam se tornado o alvo mais

frequente das investigações-, concluíram que a maioria delas apontava a

inadequação da escola à realidade da clientela.

A análise sobre o fracasso escolar mostra que, se nos últimos

tempos a questão da escola constituiu fator de reflexão sobre a situação

existente, na verdade continuam sendo as mesmas as afirmações sobre as

características da clientela, deixando com ela a responsabilidade maior pelo

fracasso da Escola. (Id. Ibid. p, 85 e 86)

• Teorias estruturais

Acredito que uma das questões do fracasso escolar está na

estrutura como o mesmo é organizado, se é que assim podemos dizer. O

fracasso, especificamente, é do aluno que não é aprovado, que é excluído da

escola, que fracassa etc., mas os professores, a escola o sistema, todos são

responsáveis por esse fracasso, na medida em que as ações que são tomadas

para diminuir ou eliminar essa situação são fragmentadas e setorizadas. O

governo, através de políticas públicas, determina as ações a serem tomadas

(de preferência, alardeando suas benesses); a Academia aprofunda as

questões teóricas sobre o fracasso, pesquisando-o, mas com dificuldades para

operacionaliza-lo, por não deter os componentes políticos/práticos para sua

efetivação; o professor avalia esse fracasso, a partir da visão do aluno, sem um

envolvimento maior dele no processo (aqui incorporando as decisões do

próprio sistema). Então, a questão do fracasso é um problema de concepção,

de estrutura, que pode chegar a um bom termo se todos estiverem

comprometidos – no mesmo sentido – em superá-lo. (Id. Ibid. p, 86)

O papel do Orientador Educacional nas escolas

Segundo a autora Grinspun (2011, p.90) faz parte do trabalho do

Orientador Educacional realizar:

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1. Discussão sobre o fracasso escolar à luz da realidade

existente (dimensão social) e da regulação das normas dentro

do sistema e da escola (dimensão pedagógica);

2. Viabilização de meios para que haja uma complementação

das lacunas existentes, a fim de que não se efetive e cristalize

o fracasso escolar (trabalhos independentes, grupos de apoio,

monitorias etc.);

3. Discussão dos mecanismos que temos para que a superação

do fracasso ocorra pela via da própria escola, não só dos

sistemas, mudando nomes e determinações para camuflar o

próprio fracasso, em termo de repetência, por exemplo;

4. União com os alunos, desmistificando o fracasso como sendo

responsabilidade unicamente deles; trabalhar a autoestima e

as fontes viáveis de eliminação do fracasso (há alunos que

repetiram várias vezes a mesma série do ensino fundamental,

por exemplo, e já internalizaram o discurso de incompetentes

e incapazes);

5. Disponibilização de espaços para que os alunos enriqueçam

e aprofundem seu conhecimento, como forma de apostar na

autoestima e indiretamente ter melhores condições de

desafiar o próprio fracasso (verificar e estimular aquilo em que

o aluno tem melhores resultados: arte, esporte, música,

linguagem etc.).

A análise dos textos nos faz refletir que nos dias atuais o trabalho do

Orientador Educacional mudou e que esses novos conceitos devem ser

colocados em prática em nossas escolas. Esses profissionais devem estar

engajados na busca de ajudar os alunos que possuem dificuldades de

aprendizagem a superarem suas limitações e reconquistarem a autoestima,

buscando fazer com que consigam realizar atividades na sua vida diária de

forma independente.

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CONCLUSÃO

O presente estudo nos proporciona uma nova dimensão do trabalho

do Orientador Educacional no cenário pedagógico atual.

A obra que aqui se apresenta faz uma análise de como a

aprendizagem tem sido concebida ao longo da história, também menciona

como o Orientador Educacional pode analisar as dificuldades de aprendizagem

sejam elas através da reflexão sobre o papel da família, da escola e do sujeito

no processo ensino-aprendizagem. Podemos refletir também sobre o que é

normal no desenvolvimento da criança e o que pode ser um distúrbio no seu

desenvolvimento orgânico. E por fim, fazemos uma análise de como o

Orientador Educacional pode colaborar para que sejam amenizados os

problemas de aprendizagem.

O trabalho possibilita um novo olhar sobre a prática pedagógica do

Orientador Educacional frente aos alunos com dificuldades de aprendizagem.

Através da mediação do trabalho do Orientador Educacional poderemos

proporcionar soluções que possam contribuir positivamente para melhorar o

desenvolvimento do educando em seu cotidiano escolar, diminuindo dessa

maneira o número excessivo de alunos que possuem dificuldades de

aprendizagem na leitura e escrita.

O Orientador Educacional deve no seu trabalho procurar fazer junto

com os professores um levantamento de quem são os alunos que apresentam

dificuldades de aprendizagem e após isso ter sido realizado procurar conhecer

a família do aluno e investigar quais são as possíveis causas dessas

dificuldades. O Orientador Educacional deve promover centros de estudos e

palestras para que os professores conheçam melhor as dificuldades de

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aprendizagem de seus alunos para que a partir disso reformulem suas

metodologias de aula. O Orientador deve no seu exercício aproximar a família

da escola e esclarecer aos responsáveis sobre a importância de um trabalho

diferenciado com esse aluno. Quando isso for realizado esse profissional

deverá após uma sondagem realizada na escola fazer o encaminhamento

desse sujeito para um profissional da área da saúde que possa ajudar a

criança superar suas limitações. Dessa maneira o Orientador Educacional

estará contribuindo de forma significativa para diminuir o número excessivo de

alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem na leitura e escrita.

Enfim, o trabalho do Orientador Educacional em relação aos alunos

com dificuldades de aprendizagem oferece grande contribuição para o campo

educacional, pois possibilita o questionamento das práticas educacionais atuais

e demonstra que um trabalho diferenciado com esses alunos pode ajudar a

recuperar sua autoestima e superar suas dificuldades. O Orientador

Educacional pode favorecer o processo de ensino-aprendizagem à medida que

pode fazer um elo entre família, sujeito e escola e fazer um trabalho de

sensibilização dos atores envolvidos no processo para que todos busquem a

superação do problema da aprendizagem.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

Breve histórico sobre as dificuldades de aprendizagem 10

1.1-Histórico 11

1.2 – Fatores que podem desencadear problemas ou distúrbios de aprendizagem 13

1.3 – Obstáculos da aprendizagem 14

CAPÍTULO II

O papel da escola, da família e do sujeito em relação às dificuldades de aprendizagem 17

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2.1-A Escola 17

2.2–Importância do reconhecimento das etapas do desenvolvimento cognitivo em sala de aula 21

2.2.1 – Período sensório motor 21

2.2.2 – Período pré – operatório 21

2.2.3 – Período operatório concreto 23

2.2.4 – Período operatório formal 23

2.3 – A família 26

2.4 – O Sujeito 31

2.4.1 – O que é normal? O que é problema? O que é

distúrbio? 32

CAPÍTULO III

O papel do Orientador Educacional em relação às dificuldades de aprendizagem 35

3.1 – O papel do Orientador Educacional nas escolas 40

CONCLUSÃ0 42

BIBLIOGRAFIA 44

ÍNDICE 46

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

NOME DA INSTITUIÇÃO: Universidade Cândido Mendes

Faculdade Integrada AVM

TÍTULO DA MONOGRAFIA: O papel do Orientador Educacional em relação às dificuldades de aprendizagem na leitura e escrita

AUTOR: Danielle Gonçalves de Medeiros.

DATA DE ENTREGA: 04 de fevereiro de 2012.

AVALIADO POR: Geni Lima.

CONCEITO:

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