o papel do oficial de justiça - jose carlos quadros

88
1 UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI JOSÉ CARLOS QUADROS CITAÇÕES, INTIMAÇÕES E NOTIFICAÇÕES NA ESFERA DO PODER JUDICIÁRIO: o papel do Oficial de Justiça TIJUCAS (SC) 2007 – II

Upload: augustocesarjf

Post on 17-Sep-2015

219 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

O Papel Do Oficial de Justiça - Jose Carlos Quadros

TRANSCRIPT

  • 1

    UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJA UNIVALI

    JOS CARLOS QUADROS

    CITAES, INTIMAES E NOTIFICAES NA ESFERA DO PODER JUDICIRIO:

    o papel do Oficial de Justia

    TIJUCAS (SC) 2007 II

  • 2

    JOS CARLOS QUADROS

    CITAES, INTIMAES E NOTIFICAES NA ESFERA DO PODER JUDICIRIO:

    o papel do Oficial de Justia

    Monografia apresentada como requisito parcial para a obteno do ttulo de Bacharel em Direito, na Universidade do Vale do Itaja, Centro de Educao de Tijucas.

    Orientador: Prof. MSc. Marcos Alberto Carvalho de Freitas

    Tijucas - SC 2007 - II

  • 3

    JOS CARLOS QUADROS

    CITAES, INTIMAES E NOTIFICAES NA ESFERA DO PODER JUDICIRIO:

    o papel do Oficial de Justia

    Esta monografia foi julgada adequada para a obteno de ttulo de Bacharel em Direito e aprovada pelo Curso de Direito da Universidade do Vale de Itaja, Centro de Educao Tijucas.

    rea de Concentrao: Direito Privado.

    Tijucas, 16 de outubro de 2007.

    Prof. MSc. Marcos Alberto Carvalho de Freitas. UNIVALI CE Tijucas

    Orientador

    Prof. MSc. Fernando Lalio Coelho UNIVALI CE Tijucas

    Membro

    Prof. Dr. Jonas Modesto de Abreu UNIVALI CE Tijucas

    Membro

  • 4

    DECLARAO DE ISENO DE RESPONSABILIDADE

    Declaro, para quaisquer fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte ideolgico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do Itaja UNIVALI, a Coordenao do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

    Tijucas, 16 de outubro de 2007.

    Jos Carlos Quadros Acadmico de Direito

  • 5

    AGRADECIMENTOS

    Aos meus familiares e amigos, que me apoiaram e incentivaram para que eu pudesse prosseguir nesta caminhada do saber jurdico. Ao meu professor e orientador MSc. Marcos Alberto Carvalho de Freitas, pela sua incomensurvel orientao, a quem admiro sua fonte de saber. Doutora Vera Regina Bedin, juza de direito da Comarca de Itapema, que me apoiou e por quem possuo grande admirao e respeito. A todos os professores da Universidade, que de forma direta ou indireta, contriburam com seus ensinamentos para a realizao deste sonho. Aos meus colegas de faculdade que ao longo do tempo, alcanamos nossas metas e mantivemos as amizades. A todos os funcionrios desta instituio de ensino UNIVALI CE TIJUCAS, que sempre, com dedicao e carinho, atenderam a todos os acadmicos. Enfim, a todos aqueles que, de alguma forma, estiveram presentes durante esta caminhada.

    Muito Obrigado!

  • 6

    DEDICATRIA

    Dedico esta obra, principalmente, a Deus, que nos momentos de dificuldade deu-me foras para prosseguir na caminhada do saber. Aos meus queridos filhos e minha esposa Marlene, que sempre acreditaram em mim, sendo fonte de inspirao para a busca deste objetivo. A Lindolfo Quadros e Dorvalina Quadros (in memoriam), meus queridos pais, pessoas de bom corao, que partiram para o paraso eterno, antes de ver realizado o sonho, o de ver um de seus filhos se formando em uma faculdade de Direito.

  • 7

    LUTA. Teu dever lutar pelo Direito. Mas no dia em que encontrares o Direito em conflito com a Justia, luta pela Justia.

    Eduardo Couture

  • 8

    RESUMO

    O presente trabalho monogrfico tem como objeto discorrer sobre as citaes e intimaes na esfera do Poder Judicirio, enfatizando o papel do Oficial de Justia. O primeiro captulo tratou a respeito da ao, abordando seu conceito, suas teorias, seus elementos e suas condies. J o segundo captulo trata acerca das citaes, com uma abordagem na forma como so feitas, seus efeitos, etc. Trata, ainda, este captulo, acerca das intimaes, abordando suas formas e seus efeitos. Finalmente, no terceiro e ltimo captulo tratado a respeito do papel do Oficial de Justia na comunicao dos atos processuais, abordando acerca de suas incumbncias, da responsabilidade civil e penal do Oficial de Justia, da f pblica do Oficial de Justia, bem como da sua importncia como instrumento de agilizao do procedimento.

    Palavras-chave: Da ao Processo Civil Atos Processuais

  • 9

    ABSTRACT

    The present monographic work has as object to discourse on "citations and summons in the sphere of the Judiciary Power, emphasizing the paper of the Officer of Justice". The first chapter treated regarding the action, approaching its concept, its theories, its elements and its conditions. Already as the chapter treats concerning citations, with a boarding in the form as they are made, its effect, etc. It treats, still, this chapter, concerning the summons, approaching its forms and its effect. Finally, in the third and last chapter it is treated regarding the paper of the Officer of Justice in the communication of the procedural acts, approaching concerning its incumbencies, of the civil liability and criminal of the Officer of Justice, of the authority to attest documents of the Officer of Justice, as well as of its importance as instrument in the speed of the process.

    Word-key: The action - Civil Process Acts of the Procedural.

  • 10

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    Art. Artigo CCB Cdigo Civil Brasileiro CRFB/88 Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988 CPB Cdigo Penal Brasileiro CPC Cdigo de Processo Civil CPP Cdigo de Processo Penal Ed. Edio N Nmero P. Pgina UNIVALI Universidade do Vale do Itaja

  • 11

    ROL DE CATEGORIAS

    Ao: Invocao formal de uma pretenso, objetivamente tutelada pela lei, perante o Poder Judicirio. (ACQUAVIVA, 2000). Para Lima: o direito pblico subjetivo de qualquer pessoa (fsica ou jurdica) tem para formular sua pretenso ao Poder Judicirio, por via do rgo competente, deduzida pela forma regular prescrita em lei, com o fim de obter uma sentena de mrito, solvendo um conflito de interesses. (LIMA, 1996, p. 2). A ao possui por elementos: parte, pedido e causa de pedir, e por condies: a possibilidade jurdica do pedido, a legitimidade de parte e o interesse de agir.

    Ato processual: Ato processual o ato que tem relevncia jurdica para a relao processual, ou seja, aquele que atua na constituio (petio inicial, citao); conservao (repele a litispendncia, extino do processo), desenvolvimento (intimaes, designao de dia para audincia), modificao (citao de litisconsortes, habilitao de herdeiros por falecimento de uma das partes) ou cessao ou extino da relao processual (desistncia da ao, renncia ao direito, transao).

    Causa de pedir: A causa de pedir o fundamento, a base da pretenso. Quem vai a juzo postula alguma coisa (pedido), e deve indicar porque postula e com base em que fundamento.

    Citao: De acordo com o que o estabelece o art. 213 do Cdigo de Processo Civil, citao " o ato pelo qual se chama a juzo o ru ou o interessado, a fim de se defender", constituindo-se, na viso de Nbrega (1998) em elemento indispensvel validade do processo, ensejador da decretao de nulidade se acaso no concretizada nos moldes em lei estatudos. A citao pode se dar pela via postal, por Oficial de Justia, por edital, por meio eletrnico e por hora certa.

    Intimao: A intimao, por definio legal, "o ato pelo qual se d cincia a algum dos atos ou termos do processo, para que se faa ou deixe de fazer alguma

  • 12

    coisa" (art. 234, do CPC). A intimao pode se dar por meio do Escrivo ou Oficial de Justia, em audincia, por edital ou por hora certa.

    Notificao: Procedimento de carter preventivo, consistente na manifestao formal da vontade, com o objetivo de prevenir responsabilidades e eliminar a possibilidade de alegao futura e ignorncia.

    Oficial de Justia: Para Theodoro Jnior (2003) Oficial de Justia o antigo meirinho, o funcionrio do juzo que se encarrega de cumprir os mandados relativos a diligncia fora do cartrio, citaes, intimaes, notificaes, penhoras, seqestros, busca e apreenso, imisso de posse, conduo de testemunhas etc. Sua funo subalterna e consiste em cumprir ordens dos juzes, as quais ordinariamente, se expressam em documentos escritos que recebem a denominao de mandados.

    Parte: So os dois sujeitos, na ao, que so os mesmos da lide a que visa compor, um sujeito ativo, o autor, e outro sujeito passivo, o ru.

    Pedido: o objetivo final pretendido pelo autor. O objeto da ao (CPC, art. 282, IV), ou seja, o que ele solicita lhe seja assegurado pelo rgo jurisdicional. O pedido, como objeto da ao, equivale lide, isto , matria sobre a qual a sentena de mrito tem de atuar. o bem jurdico pretendido pelo autor perante o ru. tambm pedido, no aspecto processual, o tipo de prestao jurisdicional invocada (condenao, execuo, declarao, cautela etc.) (THEODORO JNIOR, 2003).

    Poder Judicirio: O Poder Judicirio do Brasil o conjunto dos rgos pblicos aos quais a Constituio Federal brasileira (a atual de 1988) atribui a funo jurisdicional. O Poder Judicirio regulado pela Constituio Federal nos seus artigos 92 a 126.

    Servidor Pblico: Como ensina Di Pietro (apud Mirabete, 2001, p. 355) so servidores pblicos, em sentido amplo, as pessoas fsicas que prestam servios aos

  • 13

    Estados e s entidades da Administrao indireta, com vnculo empregatcio e mediante remunerao pagas pelos cofres pblicos.

  • 14

    SUMRIO

    RESUMO.....................................................................................................................8

    ABSTRACT.................................................................................................................9

    1 INTRODUO .......................................................................................................16

    2 DA AO...............................................................................................................18 2.1 CONCEITO E ASPECTOS GERAIS ...................................................................18 2.2 TEORIAS DA AO ...........................................................................................21 2.2.1 Teoria Concretista ............................................................................................21 2.2.2 Teoria do Direito Abstrato de Agir ....................................................................22 2.2.3 Teoria Ecltica..................................................................................................23 2.3 ELEMENTOS DA AO .....................................................................................25 2.3.1 Das Partes........................................................................................................26 2.3.3 Causa de Pedir.................................................................................................28 2.3.3 Do Pedido.........................................................................................................29 2.4 CONDIES DA AO......................................................................................30 2.4.1 Possibilidade Jurdica do Pedido......................................................................32 2.4.2 Legitimidade de Parte.......................................................................................35 2.4.3 Interesse de Agir ..............................................................................................37

    3 DAS COMUNICAES DOS ATOS PROCESSUAIS NO DIREITO PROCESSUAL CIVIL ...............................................................................................40 3.1 DAS CITAES..................................................................................................40 3.2 HISTRICO DA CITAO..................................................................................41 3.3 FORMAS DE CITAO ......................................................................................44 3.3.1 Citao postal...................................................................................................44 3.3.2 Citao por Oficial de Justia ...........................................................................46 3.3.2.1 Citao com hora certa .................................................................................47 3.3.3 Citao por edital .............................................................................................49 3.3.4 Citao por meio eletrnico..............................................................................51 3.4 EFEITOS DA CITAO ......................................................................................53

  • 15

    3.4.1 Preveno do juzo...........................................................................................53 3.4.2 Litispendncia ..................................................................................................54 3.4.3 Litigiosidade da coisa .......................................................................................55 3.4.4 Mora .................................................................................................................56 3.4.5 Interromper a prescrio ..................................................................................56 3.5 DAS INTIMAES..............................................................................................56 3.5.1 Formas de Intimaes......................................................................................58 3.5.1.1 Intimao pelo Escrivo ou Oficial de Justia ..............................................60 3.5.1.2 Intimao em audincia.................................................................................61 3.5.1.3 Intimao por edital ou com hora certa .........................................................62 3.5.2 Efeitos da intimao .........................................................................................62

    4 DO PAPEL DO OFICIAL DE JUSTIA NA COMUNICAO DOS ATOS PROCESSUAIS ........................................................................................................64 4.1 CONCEITO DE SERVIDOR PBLICO ...............................................................64 4.2 ASPECTOS HISTRICOS DO OFICIAL DE JUSTIA.......................................66 4.3 CONCEITO DE OFICIAL DE JUSTIA...............................................................68 4.4 DAS INCUMBNCIAS DO OFICIAL DE JUSTIA .............................................70 4.5 SUSPEIO E IMPEDIMENTOS DOS OFICIAIS DE JUSTIA.........................71 4.6 DA RESPONSABILIDADE CIVIL, PENAL E ADMINISTRATIVA DO OFICIAL DE JUSTIA ...................................................................................................................72 4.7 O OFICIAL DE JUSTIA COMO INSTRUMENTO DE AGILIZAO DO PROCEDIMENTO .....................................................................................................77

    CONSIDERAES FINAIS ......................................................................................81

    REFERNCIAS DAS FONTES CITADAS................................................................85

  • 16

    1 INTRODUO

    O presente trabalho monogrfico tem como objeto discorrer sobre as "citaes e intimaes na esfera do Poder Judicirio, enfatizando o papel do Oficial de Justia e, como objetivos: institucional, produzir uma monografia para obteno do grau de bacharel em Direito, pela Universidade do Vale do Itaja UNIVALI; geral, analisar os procedimentos citatrios introduzidos no ordenamento jurdico brasileiro, e em especial a responsabilidade do Oficial de Justia e sua f pblica quanto a citao vlida; e, especficos: a) Interpretar o que vem ser a citao, intimao e notificao, e quais os benefcios para o andamento das aes processuais junto ao Poder Judicirio; b) Pesquisar, utilizando-se de legislao, jurisprudncia e doutrina, quais so os meios legais para se efetuar uma citao; c) Investigar e abordar quanto importncia do papel do Oficial de Justia na comunicao dos atos processuais.

    O tema atual e relevante, pois, vem ao encontro das necessidades da sociedade em conhecer mais claramente a importncia do Oficial de Justia na comunicao dos atos processuais.

    Baseia-se, assim, a presente pesquisa, na necessidade de as pessoas terem conhecimento da importncia das Citaes, Intimaes e Notificaes e como elas ocorrem, mesmo estando o requerido ou ru em lugar incerto e no sabido. Os novos rumos que o Direito Civil Brasileiro est tomando com as novas modificaes do Cdigo Civil, o qual vem se adaptando e transformando os juzes em auxiliares das partes, mesmo para localizao e paradeiro dos rus ausentes, os quais muitas vezes, no so localizados ou se escondem para que no ocorra a devida citao legal.

    Ocorrendo a citao vlida e tendo incio o devido processo legal, o Judicirio deixa de acumular muitos processos, os quais se encontram aguardando a localizao do paradeiro do requerido/ru, para o devido chamamento ao processo.

    E justamente a que o oficial de Justia tem suma importncia, pois, ao cumprir seu papel com presteza, auxiliar no s ao Poder Judicirio, mas tambm prestao da justia s partes.

    Para encetar a investigao adotou-se o mtodo indutivo, que consiste em "pesquisar e identificar as partes de um fenmeno e colecion-las de modo a ter

  • 17

    uma percepo geral"1, operacionalizado com as tcnicas do referente, da categoria, dos conceitos operacionais e da pesquisa de fontes documentais e para relatar os resultados da pesquisa, empregou-se o mtodo dedutivo.

    A pesquisa foi desenvolvida tendo como base as seguintes hipteses: a) Na atualidade, qual a importncia das Citaes, Intimaes e Notificaes no sucesso dos procedimentos processuais junto ao Poder Judicirio. b) Por que a ocultao para que a Citao, Intimao ou Notificao no ocorra coloca o Poder Judicirio em dificuldade para atender os interesses das partes, acumulando processos junto aos Tribunais. c) Constata-se que, hoje nos Poderes Judicirios, especialmente no de Santa Catarina, encontra-se um grande acmulo de processos parados por falta de citao. Em que sentido poderia o Oficial de Justia auxiliar na acelerao e efetivao da prestao jurisdicional nesses casos.

    O trabalho foi dividido em trs captulos. O primeiro tratou a respeito da Ao, abordando seu conceito, suas teorias, seus elementos e suas condies.

    J o segundo captulo trata acerca das citaes, com uma abordagem na forma como estas so feitas, seus efeitos, etc.

    Trata, ainda, este captulo, acerca das Intimaes, abordando suas formas e seus efeitos.

    Finalmente, no terceiro e ltimo captulo tratado a respeito do papel do Oficial de Justia na comunicao dos Atos Processuais, abordando acerca de suas incumbncias, da responsabilidade civil e penal do Oficial de Justia, da F pblica do Oficial de Justia, bem como da sua importncia como instrumento de agilizao do procedimento.

    Nas consideraes finais apresentam-se breves snteses de cada captulo e se demonstra se as hipteses bsicas da pesquisa foram ou no confirmadas.

    1 PASOLD, Cesar Luiz. Prtica da pesquisa jurdica: idias e ferramentas teis para o pesquisador do

    direito. 6. ed. Florianpolis: OAB/SC Editora, 2002, p. 103.

  • 18

    2 DA AO

    2.1 CONCEITO E ASPECTOS GERAIS

    Ao vetar s pessoas fazerem justia pelas prprias mos e assumir a jurisdio, o Estado no s se encarregou da tutela jurdica dos direitos subjetivos privados, mas tambm se obrigou a prest-la sempre que regularmente invocada, estabelecendo, assim, a faculdade de requerer sua interveno sempre que se julgue lesado em seus direitos (THEODORO JNIOR, 2003).

    Destarte, do monoplio da justia decorreram duas importantes conseqncias: a) a obrigao do Estado de prestar a tutela jurdica aos cidados; b) um verdadeiro e distinto direito subjetivo o direito de ao oponvel ao Estado-Juiz, que se pode definir como o direito jurisdio (THEODORO JNIOR, 2003).

    Assim, ao o direito do particular de solicitar prestao jurisdicional do Estado.

    Nas palavras de Theodoro Jnior (2003, p. 45):

    A parte, frente ao Estado-Juiz, dispe de um poder jurdico, que consiste na faculdade de obter a tutela para os prprios direitos ou interesses, quando lesados ou ameaados, ou para obter a definio das situaes jurdicas controvertidas. o direito de ao, de natureza pblica, por referir-se a uma atividade pblica, oficial, do Estado.

    A ao , portanto, o direito subjetivo que consiste no poder de produzir o evento a que est condicionado o efetivo exerccio da funo jurisdicional (LIEBMAN, apud THEODORO JNIOR, 2003).

    Wambier, Almeida e Talamini (2003, p. 123) asseveram que este conceito atualmente existente a respeito da ao, ou seja, como direito pblico abstrato de requerer a tutela jurisdicional do Estado, sempre que dela precisar para a soluo de determinada lide ou para a declarao de uma afirmao de direito que se faz, percorreu um longo caminho, no curso da histria.

    Assim, explica este autor que, num primeiro momento, a ao era tida como fenmeno abrangido pelo prprio direito material reclamado em juzo. Segundo a teoria civilista ou imanentista (porque imanente ao direito material), a ao seria o

  • 19

    direito que o titular de determinado direito tinha de pedir em juzo exatamente aquilo que lhe era devido em funo de normas de direito material. Dizia-se, ento, que a ao seria uma qualidade agregada ao prprio direito material ou que seria este direito, de natureza substancial, em estado de reao a uma agresso que tivesse sofrido (WAMBIER, ALMEIDA e TALAMINI, 2003).

    Essa teoria, para Wambier, Almeida e Talamini (2003, p. 123), hoje absolutamente inaceitvel, pelo fato de que, fosse essa concepo correta e, em regra, s haveria aes julgadas procedentes, pois no se poderia falar em improcedncia da ao decorrente de um direito efetivamente existente.

    A teoria que prevalece no sistema processual brasileiro a da ao como direito abstrato de agir. Essa abstrao no , todavia, absoluta, pois, para que se possa exercer o direito de ao, isto , com possibilidade de se obter sentena de mrito (no processo de conhecimento), preciso observar as condies da ao, quais sejam, a possibilidade jurdica do pedido, o interesse de agir, e legitimidade ad causam (WAMBIER, ALMEIDA e TALAMINI, 2003).

    Silva e Gomes (2002, p. 94) ressaltam que a ao no apenas um direito, nem uma pretenso, mas sim o exerccio de um direito pr-existente.

    Assim, explicam Cintra, Grinover e Dinamarco (2006, p. 268) que:

    Segundo essa linha de pensamento, o direito de ao independe da existncia efetiva de direito material invocado: no deixa de haver ao quando uma sentena injusta a acolhe sem que a pretenso do autor, ou quando uma sentena injusta colhe sem que exista na realidade o direito subjetivo material. A demanda ajuizada pode ser at mesmo temerria, sendo suficiente, para caracterizar o direito de ao, que o autor mencione um interesse seu, protegido em abstrato pelo direito.

    Theodoro Jnior (2003, p. 46) assevera, no entanto, que no apenas o autor exerce o direito de ao, mas tambm o ru, ao se opor pretenso do primeiro e postular do Estado um provimento contrrio ao proposto pelo requerente, ou seja, a declarao de ausncia do direito subjetivo invocado por este.

    Destarte, tanto para o autor como para o ru, a ao o direito a um pronunciamento estatal que solucione o litgio, fazendo desaparecer a incerteza ou a insegurana gerada pelo conflito de interesses, pouco importando qual seja a soluo a ser dada pelo juiz (THEODORO JNIOR, 2003).

    Para que o autor possa exercer seu direito de ao, faz-se necessrio que o mesmo disponha da tutela jurisdicional, bem como da prestao jurisdicional. Esses

  • 20

    dois institutos possuem funes distintas. Sabe-se que todo titular de direito subjetivo lesado ou ameaado tem acesso

    Justia para obter, do estado, a tutela adequada (Constituio da Repblica Federativa do Brasil - CRFB, art. 5, XXXV2), a ser exercida pelo Poder Judicirio. Nisso consiste a denominada tutela jurisdicional, por meio da qual o Estado assegura a manuteno do imprio da ordem jurdica e da paz social nela fundada (THEODORO JNIOR, 2003).

    Como para usar o processo e chegar resposta jurisdicional no se exige da parte que seja sempre o titular do direito subjetivo litigioso (tanto que a sentena de mrito pode ser contrria ao interesse de quem provocou a atuao da jurisdio), o provimento da justia nem sempre corresponder a tutela jurisdicional a algum direito. Sempre, no entanto, haver uma prestao jurisdicional, porque, uma vez exercido regularmente o direito de ao, no poder o juiz recusar-se a exarar a sentena de mrito, seja favorvel ou no, quele que o exercitou (THEODORO JNIOR, 2003).

    Distingue-se, portanto, a prestao jurisdicional da tutela jurisdicional, visto que esta s ser prestada a quem realmente detenha o direito subjetivo invocado, e aquela independe da efetiva existncia de tal direito (THEODORO JNIOR, 2003).

    Schlichting (2002), neste sentido, afirma que a tutela jurisdicional pretendida caracteriza-se pelo amparo concedido pelo Estado, por intermdio do Poder Judicirio e por meio da Ao Judicial correspondente aos fatos, s situaes jurdicas relativas a Direitos Subjetivos ameaados, violados ou permitidos pelo Direito Material3 no sentido de garanti-los ou restabelec-los, nas tutelas de jurisdio contenciosa e de conced-los nos casos de jurisdio voluntria.

    Rocha (1996, p. 56) aponta para o fato de que a elevao do direito de ao a categoria de direito fundamental, prevista no art. 5, inciso XXXV, da CRFB/88,

    2 Art. 5 Todos so iguais perante a lei, sem distino de qualquer natureza, garantindo-se aos

    brasileiros e aos estrangeiros residentes no Pas a inviolabilidade do direito vida, liberdade, igualdade, segurana e propriedade, nos termos seguintes: [...] XXXV - a lei no excluir da apreciao do Poder Judicirio leso ou ameaa a direito; [...] 3 Direito material o corpo de normas que disciplinam as relaes jurdicas referentes a bens e

    utilidades da vida em seus respectivos ramos dogmticos (Civil, Penal, Constitucional, Tributrio etc). De tal sorte, as normas de direito material (ou substancial) so aquelas que disciplinam imediatamente a cooperao entre pessoas e os conflitos de interesses ocorrentes na sociedade, escolhendo qual dos interesses conflitantes, e em que medida, deve prevalecer e qual deve ser sacrificado (CINTRA, GRINOVER e DINAMARCO, 2006, p. 88).

  • 21

    significa uma espcie de revoluo no campo do Direito Processual. Conforme afirma Santos (2002), ao direito de ao corresponde o dever da

    prestao jurisdicional. Assim, o direito de ao de natureza coativa, correspondendo-lhe a obrigao do Estado prestao jurisdicional. um direito contra o Estado.

    Assevera Santos (2002) que funo jurisdicional atribuda ao Poder Judicirio; funo de poder. No exerccio da funo desse poder se contm a sujeio de quem o invoca e mais, porque visa manter a ordem jurdica, atuao da vontade da lei, tambm a sujeio daquele que a teria violado. Assim, de acordo com Santos (2002, p. 159):

    [...] se sujeitam ao poder jurisdicional as partes desavindas em seus interesses, pois de outra forma seria intil o pronunciamento que lhe solicitado, no qual o prprio Estado tambm interessado. E assim a ao, que se dirige contra o Estado, vai alcanar o demandado, sujeitando-o a comparecer para defender-se.

    A ao, em suma, um direito subjetivo pblico, distinto do direito subjetivo privado invocado, ao qual no pressupe necessariamente, e, pois, neste sentido, abstrato; genrico porque no varia, sempre o mesmo; tem por sujeito passivo o Estado, do qual visa a prestao jurisdicional num caso concreto. o direito de pedir ao Estado a prestao de sua atividade jurisdicional num caso concreto. Ou, simplesmente, o direito de invocar o exerccio da funo jurisdicional (SANTOS, 2002).

    2.2 TEORIAS DA AO

    2.2.1 Teoria Concretista

    A Teoria do Direito Concreto de Ao, tambm chamada de Teoria Concretista, foi desenvolvida por Adolf Wach, em 1885, na qual demonstra a independncia entre o direito de ao e o direito subjetivo material, deixando sem qualquer poder de reao os civilistas (SILVA, 2004).

  • 22

    Segundo esta corrente doutrinria, o direito de ao consistiria no direito a um provimento jurisdicional favorvel (NERY, 2006).

    Assim, somente a deciso que reconhecesse ser o autor detentor do direito material que alegou ter em sua demanda denunciaria o legtimo exerccio do direito de ao (NERY, 2006).

    Para Wach, apud Silva (2004), a ao no se confunde com o direito material, entretanto, dele dever decorrer sempre, com exceo da ao declaratria negativa. Embora autnoma, a ao depende da existncia do direito material, o que significa dizer que o exerccio do direito de ao s possvel quando resultasse uma sentena favorvel.

    Assim, distinguem-se os dois direitos, mas o segundo nascer depois do primeiro, quer da violao deste, ou da ameaa ao mesmo (SILVA e GOMES, 2002).

    Ao criticar a Teoria Abstrata, afirma Wach que o direito abstrato no seria mais do que mera faculdade, nunca exerccio de um direito a uma sentena de contedo determinado, j que no integraria o ordenamento jurdico concreto (SILVA e GOMES, 2002).

    2.2.2 Teoria do Direito Abstrato de Agir

    Para essa teoria, tambm chamada de Teoria Abstrata da Ao, o direito de ao seria o direito a um provimento jurisdicional, independente do seu resultado (NERY, 2006).

    Nesse diapaso, seus seguidores conceituam o direito de ao como o direito a um provimento jurisdicional, o direito de provocar a interveno do Poder Judicirio, implementando e efetivando a heterocomposio dos conflitos de interesses (NERY, 2006).

    Degenkolb e Plsz lanaram, quase simultaneamente, as bases desta teoria. Ambos procuraram um fundamento para a ao, desvinculado e independente de qualquer direito anterior (SILVA e GOMES, 2002).

    Explicam Silva e Gomes (2002) que o direito de ao, segundo a concepo de Degenkolb e Plsz, o direito subjetivo pblico que se exerce contra o Estado e em razo do qual sempre se pode obrigar o ru a comparecer em juzo. o direito

  • 23

    de agir, decorrente da prpria personalidade, nada tendo em comum com o direito privado argido pelo autor; pode ser concebido com abstrao de qualquer outro direito; pr-existe prpria demanda, constituindo-se esta, to-somente no meio atravs do qual pode ser exercido.

    Destarte, compete a qualquer cidado que puder invocar a proteo de uma norma legal em benefcio do interesse alegado. Conseqentemente, s seria titular do direito de ao quem postulasse acreditando (de boa-f) na existncia do direito a que se atribui (SILVA e GOMES, 2002).

    Em razo da manifesta inconvenincia do exerccio da chamada justia de mo prpria, expe Degenkolb, proibiu-a o Estado, assumindo ele esta grave tarefa, mediante a funo jurisdicional (SILVA e GOMES, 2002).

    2.2.3 Teoria Ecltica

    A Teoria Ecltica, predominante na doutrina brasileira, foi desenvolvida por Liebman e a adotada pelo Cdigo de Processo Civil (CPC) ptrio (NERY, 2006).

    Na mesma esteira de raciocnio da Teoria Abstrata, a Teoria Ecltica desvincula o direito de ao da existncia de um direito material ou da obteno de um provimento favorvel. No entanto, restringe o direito de ao a existncia de algumas condies, as chamadas condies da ao, cuja ausncia implicaria a extino do feito sem exame do meritum causae4. E justamente nesse aspecto que a Teoria Ecltica difere da Abstrata, no condicionamento do direito de ao (NERY, 2006).

    Para Liebman e seus seguidores, entre eles Moacyr Amaral Santos, trs so as condies a serem satisfeitas para que o autor no seja julgado carecedor de ao, quais sejam: possibilidade jurdica do pedido, interesse de agir e legitimidade.

    O primeiro deles, a possibilidade jurdica do pedido, consiste na previsibilidade, pelo direito objetivo, da pretenso exarada pelo autor, ou seja, o pedido formulado deve obter correspondncia, in abstracto, na lei (SANTOS, 2002).

    J o interesse de agir, implica a necessidade da tutela jurisdicional para que o

    4 Mrito da causa.

  • 24

    autor obtenha a satisfao do direito alegado, ou seja, h um conflito de interesses, pois sem a lide no haver lugar invocao da tutela jurisdicional (SANTOS, 2002).

    Finalmente, a legitimidade propugna que o autor, sujeito ativo da relao jurdica processual, para a Teoria Ecltica, deve tambm ser um dos titulares da relao substancial posta apreciao do Juiz. J o ru dever ser o outro sujeito da relao litigiosa. Implica a legitimidade ad causam, portanto, a correspondncia, ou identidade, entre os dois sujeitos da relao processual (autor e ru) e os sujeitos da relao de direito material discutida em determinado processo (SANTOS, 2002).

    Ao analisar as teses at ento desenvolvidas, observa referido autor que as divergncias doutrinrias em torno da ao distribuem-se em duas diretrizes fundamentais: uma que a estuda do ponto de vista do autor, qual seja, a Teoria do Direito Concreto, equivocada por s conced-la ao autor que tiver razo, alm de outros inconvenientes; j a outra, do direito abstrato, visualizada sob o prisma do Juiz e no identifica ainda a ao, mas a sua base, ou pressuposto de direito constitucional (SILVA e GOMES, 2002).

    Neste sentido, prope Liebman uma nova sntese, que consiste na tentativa de conciliar aquelas duas principais correntes, de forma que tal conciliao se ajustasse sua definio de atividade jurisdicional, segundo suas prprias palavras (SILVA e GOMES, 2002).

    A ao, como direito de provocar o exerccio da jurisdio, deve ser tida, consoante este autor, como direito de provocar o julgamento do pedido, ou seja, a deciso da lide, ou, em suma, a anlise do mrito (SILVA e GOMES, 2002).

    A lide nada mais do que a pretenso resistida, ou a pretenso insatisfeita. Porm, Liebman a conceitua como o conflito efetivo ou virtual de pedidos contraditrios. No aceita ele, por conseguinte, o conceito carnelutiano, afirmando que se o conflito de interesses no entrar para o processo tal como se verificou na vida real, descaber ao Juiz conhecer do que no constitui objeto do pedido (SILVA e GOMES, 2002).

    J o conceito de mrito, para este autor identifica-se com o de lide. Para ele, incluem-se no mrito todas as questes que, de qualquer forma, refiram-se controvrsia existente entre as partes e submetida ao conhecimento do Juiz, cuja soluo pode levar ao julgamento do pedido, quer pra acolh-lo, quer para rejeit-lo (SILVA e GOMES, 2002).

  • 25

    Entende Liebman por jurisdio a atividade do Poder Judicirio que viabiliza, na prtica, a realizao da ordem jurdica, mediante a aplicao do direito objetivo s relaes humanas intersubjetivas. E essa realizao s conseguida pela deciso de mrito (SILVA e GOMES, 2002).

    Para a Doutrina Ecltica, a atividade do Juiz, consistente no exame da presena ou ausncia das condies da ao, nada ter de jurisdicional; tratar-se- de joeiramento prvio5, conforme expresso de Liebman (SILVA e GOMES, 2002, p. 117).

    Silva e Gomes (2002) explicam, por fim, que a doutrina majoritria brasileira est comprometida com o pensamento de Liebman, sendo que este comprometimento decorre de trs causas fundamentais. A primeira consistiu no impacto e profunda impresso do fundador da Escola de So Paulo sobre os discpulos que o cercaram, sem dvida uma pliade de juristas que logo passaram a difundir as idias do mestre, tornando-se tambm eles mestres de escola. A segunda causa decorre diretamente da primeira: a liderana intelectual exercida plos discpulos de Liebman fez com que o espectro de suas idias atingisse mbito nacional; com isso, outros grandes processualistas mais jovens formaram-se sob esta influncia. Finalmente, o fato de haver o Cdigo ptrio vigente adotado orientao consentnea com o pensamento de Liebman certamente desestimulou uma dissenso maior.

    2.3 ELEMENTOS DA AO

    A ao identificada pelos elementos que a compem. Atravs dos mesmos, uma ao se diferencia das demais. Uma ao idntica outra quando, em ambas, esto presentes os mesmos elementos identificadores: identidade das partes (mesmo autor e mesmo ru), mesma causa de pedir e mesmo pedido (art. 301, 2, do CPC) (SCHLICHTING, 2002).

    5 Liebman chamou de joeiramento prvio a atividade de verificar a existncia das condies da ao,

    que o juiz deveria desempenhar sempre ao incio de um processo a fim de evitar a instaurao de processos que seriam inteis, ou seja, incapazes de atingir um julgamento de mrito. Ter-se-ia, ento, uma atividade estatal, mas que ainda no seria o exerccio da jurisdio, pois esta somente seria ativada com o preenchimento das condies da ao (ALBUQUERQUE, 2007).

  • 26

    Diferenciado um elemento em duas aes, estar-se- diante de aes distintas, ainda que possam estar ligadas pela conexo6 ou pela continncia7 (SCHLICHTING, 2002).

    sabido que uma ao no pode ter julgamentos distintos. Mas isso pode ocorrer quando as partes propem vrias vezes a mesma demanda, com o mesmo pedido e mesma causa de pedir. Pode parecer estranho, mas no raro isso ocorrer.

    Assim, para o bem da segurana jurdica das partes, importante identificar as causas para evitar que um novo processo possa vir a reproduzir outro j findo ou ainda pendente de julgamento final (THEODORO JNIOR, 2003).

    Assevera Theodoro Jnior (2003) que tratando da litispendncia, da qual ser tratada mais adiante, ou da coisa julgada, comum ver-se na doutrina a catalogao dos elementos da ao, ou seja, dos elementos ou dados que servem para individuar uma ao no cotejo com outra.

    Para que se possa identificar uma ao, aponta a doutrina trs elementos essenciais: as partes; o pedido; a causa de pedir.

    Destarte, no se consideram iguais as causas apenas porque envolvem uma mesma tese controvertida, ou os mesmos litigantes, ou ainda a mesma pretenso. preciso, para tanto, que ocorra trplice mesmeidade de partes (ativa e passiva), de pedido e de causa petendi8 (THEODORO JNIOR, 2003, p. 59).

    Para que se possa avaliar se possui litispendncia entre duas aes que faz-se necessrio identificar e conceituar quais so estes elementos.

    2.3.1 Das Partes

    As partes constituem os sujeitos principais parciais do processo legitimados como titulares da relao jurdica, seja no plo ativo (como o agente da pretensor),

    6 Conceitua-se conexo, no mais das vezes, como causa de modificao da competncia relativa,

    que enseja a reunio de processos, para processamento e julgamento simultneo, com o escopo de evitar decises contraditrias, tudo em conformidade com o princpio da economia processual. (THEODORO JNIOR, 2003). 7 Conforme previso do art. 104, do CPC: D-se a continncia entre duas ou mais aes sempre que

    h identidade quanto s partes e causa de pedir, mas o objeto de uma, por ser mais amplo, abrange o das outras. 8 Causa de pedir.

  • 27

    seja no plo passivo (como agente obrigado). So aqueles que, nos processos de jurisdio contenciosa, participam do

    contraditrio e, nos processos de jurisdio voluntria, atuam como interessados (SCHLICHTING, 2002).

    Nas palavras de Santos (2002), o direito de ao atribudo ao titular de um interesse em conflito com o interesse de outrem. Por meio da ao, aquele pretende a subordinao do interesse deste ao prprio, ao que este resiste. Nem por outra razo, a ao visa a uma providncia jurisdicional que componha a lide, isto , que atue a lei ao caso concreto. Assim, na ao h dois sujeitos, que so os mesmos da lide a que visa compor, um sujeito ativo, o autor, e outro sujeito passivo, o ru, os quais so abrangidos pela denominao jurdica de partes.

    O autor o agente pretensor, aquele que, formulando pedido, deduz em juzo uma pretenso tutela jurisdicional, seja ela de jurisdio voluntria ou contenciosa. quem pede. aquele que pretende o amparo de um direito. Neste contexto, encontra-se o autor, o Promotor de Justia (atuando como parte), o querelante, o requerente, o reclamante, etc (SCHLICHTING, 2002).

    O ru, por sua vez, o agente-obrigado, que se v envolvido nas aes de jurisdio contenciosa pela pretenso formulada pelo autor. contra quem se pede. Ao ser citado obrigado a comparecer ou responder no prezo legal, nas aes civis, sob pena de revelia. Em alguns casos, no comparecendo, lhe nomeado um defensor dativo. contra quem se pede. o querelado, o acusado, o requerido, o reclamado, etc (SCHLICHTING, 2002).

    A qualidade de parte implica sujeio autoridade do juiz e titularidade de todas as situaes que caracterizam a relao jurdica processual.

    Explica Santos (2002), que no caso mais simples, em que a ao abrange uma nica lide, com uma nica pretenso, cada uma das partes corresponder a uma pessoa. Mas bem que poder a ao abranger vrias aes, como quando nas obrigaes solidrias o credor formula uma pretenso contra vrios devedores solidrios, caso em que as partes na ao ainda so duas, autor e rus, conquanto estes sejam diversos, como sujeitos passivos das vrias lides.

    Para que as partes sejam as mesmas, impe-se que idntica ainda a qualidade jurdica de agir nos dois processos. Se num o litigante obrou em nome de outrem (como representante legal ou mandatrio) e noutro em nome prprio, claro que no ocorre a identidade de parte. Mas, a sucesso, universal ou singular, fato

  • 28

    inoponvel, para descaracterizar a identidade de causas, pois o sucessor passa a ocupar a mesma posio jurdica da parte sucedida (THEODORO JNIOR, 2003).

    2.3.2 Causa de Pedir

    Causa de pedir o fato, a situao jurdica que o autor traz ao processo e com o qual embasa seu pedido. o fato que, pretensamente, est amparado pelo Direito Objetivo. Est amparado por encontrar prescrio normativa correspondente no ordenamento jurdico ou por estar amparado pelos princpios gerais que regem o Direito e a Justia, e para o qual o autor requer a devida tutela jurisdicional. (SCHLICHTING, 2002).

    Ao pedido deve corresponder uma causa de pedir (causa petendi). A quem invoca uma providncia jurisdicional quanto a um bem pretendido, cumpre dizer no que se funda o seu pedido. Conforme reza o art. 282, III, do CPC, cabe ao autor expor na inicial os fatos e os fundamentos jurdicos do pedido, na fundamentao est a causa de pedir (SANTOS, 2002).

    Ressalta Theodoro Jnior (2003, p. 58) que a causa petendi, no a norma legal invocada pela parte, mas o fato jurdico que ampara a pretenso deduzida em juzo.

    Todo direito nasce do fato, ou seja, do fato a que a ordem jurdica atribui um determinado efeito. A causa de pedir, que identifica uma causa, situa-se no elemento flico e em sua qualificao jurdica. Ao fato em si mesmo d-se a denominao de "causa remota" do pedido; e sua repercusso jurdica, a de "causa prxima" do pedido (THEODORO JNIOR, 2003).

    Vale ressaltar que o CPC exige que o autor exponha na inicial o fato e os fundamentos jurdicos do pedido. Deste modo faz ver que na inicial se exponha no s a causa prxima, ou seja, os fundamentos jurdicos, a natureza do direito controvertido, mas tambm a causa remota, qual seja, o fato gerador do direito (SANTOS, 2002).

    Verifica-se, com isso, que o CPC adotou a teoria da substanciao9, como os

    9 A teoria da substanciao define Causa Petendi como o fato ou complexo de fatos aptos a

    suportarem a pretenso do autor, ou que assim sejam por ele considerados. Desta forma a mudana

  • 29

    cdigos alemo e austraco. Por esta teoria no basta a exposio da causa prxima, mas tambm se exige a da causa remota (SANTOS, 2002).

    2.3.3 Do Pedido

    o objetivo final pretendido pelo autor. O objeto da ao (CPC, art. 282, IV)10, ou seja, o que ele solicita lhe seja assegurado pelo rgo jurisdicional.

    O pedido, como objeto da ao, equivale lide, isto , matria sobre a qual a sentena de mrito tem de atuar. o bem jurdico pretendido pelo autor perante o ru. tambm pedido, no aspecto processual, o tipo de prestao jurisdicional invocada (condenao, execuo, declarao, cautela etc.) (THEODORO JNIOR, 2003).

    Ningum ingressa em juzo se no for para formular um pedido, sendo requisito essencial de qualquer petio inicial (CPC, art. 282), considerando-se inepta a petio inicial na qual falte pedido ou causa de pedir (CPC, art. 295, pargrafo nico, I11) (SCHLICHTING, 2002).

    Assim, fixa o pedido, a matria sobre a qual o juiz dever apreciar o fato, a situao jurdica trazida a juzo, devendo a sentena, se considerada procedente de forma plena e completa a pretenso formulada pelo autor, encontrar perfeita correspondncia com o pedido, de forma a atend-lo em sua plenitude

    destes fatos, ainda que permaneam inalterados o petitum e o direito alegado pelo autor, sempre importar em mudana da ao. A sentena que pronunciada tendo por fundamento dados fatos torna improponvel outra ao entre as mesmas partes e fundamentada nestes mesmos fatos. Isto ocorre independentemente de o autor visar com esta segunda ao obter outra conseqncia jurdica ou nova relao jurdica ou estado de direito. Desta forma, o nomem juris atribudo pelo autor demanda no tem importncia, pois vigem, ao extremo, os princpios jura novit curia e da mihi factum, dabo tibi jus (SILVA, 1998). 10

    Art. 282. A petio inicial indicar: I - o juiz ou tribunal, a que dirigida; II - os nomes, prenomes, estado civil, profisso, domiclio e residncia do autor e do ru; III - o fato e os fundamentos jurdicos do pedido; IV - o pedido, com as suas especificaes; V - o valor da causa; VI - as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados; VII - o requerimento para a citao do ru. 11

    Art. 295. [...] Pargrafo nico. Considera-se inepta a petio inicial quando: I - Ihe faltar pedido ou causa de pedir;

  • 30

    (SCHLICHTING, 2002). Neste sentido, o autor pede uma providncia jurisdicional que tutele um seu

    interesse, isto , uma providncia jurisdicional quanto a um bem pretendido, material ou imaterial. Assim, o objeto, isto , o pedido imediato ou mediato (SANTOS, 2002).

    O pedido imediato consiste na providncia jurisdicional solicitada: sentena condenatria, declaratria, constitutiva ou mesmo providncia executiva, cautelar ou preventiva (SANTOS, 2002).

    O pedido mediato a utilidade que se quer alcanar pela sentena, ou providncia jurisdicional, isto , o bem material ou imaterial pretendido pelo autor. Aqui ser o recebimento de um crdito; ali, a entrega de uma coisa, mvel ou imvel, ou o preo correspondente. Em tal ao ser a prestao de um servio ou a omisso de um ato; noutra, a dissoluo de um contrato (SANTOS, 2002).

    Nas chamadas aes meramente declaratrias (CPC, art. 4), o pedido mediato se confunde com o pedido imediato porque na simples declarao da existncia ou inexistncia da relao jurdica se esgotam a pretenso do autor e a finalidade da ao (SANTOS, 2002).

    Para que uma causa seja idntica outra, requer-se identidade da pretenso, tanto de direito material, como de direito processual. No h, assim, pedidos iguais, quando o credor, repelido na execuo de quantia certa renova o pleito sob a forma de cobrana ordinria. A pretenso material a mesma, mas a tutela processual pedida outra (THEODORO JNIOR, 2003).

    2.4 CONDIES DA AO

    A prestao jurisdicional no pode ser feita de pronto e sem a participao da outra parte interessada, tampouco sem a necessria instruo do julgador, impe-se uma atividade dos interessados perante o rgo judicial que compreende, do lado das partes, a alegao de fatos, sua prova e a demonstrao do direito; e, do lado do juiz, corresponde recepo das provas, sua apreciao e a determinao da norma abstrata que deve ser concretizada para solucionar a espcie controvertida, bem como sua efetiva aplicao ao caso dos autos (THEODORO JNIOR, 2003).

  • 31

    Explica Theodoro Jnior (2003) que essa srie de atos, praticados pela parte e pelo juiz, que se segue propositura da ao e vai at o provimento jurisdicional que satisfaa a tutela jurdica a que tem direito o titular da ao, forma, em seu conjunto e complexidade, o processo.

    Para Theodoro Jnior (2003), sendo a ao um mtodo ou sistema, o processo subordina-se a requisitos e condies indispensveis sua prpria existncia e eficcia.

    No se pode alcanar, assim, a prestao jurisdicional mediante qualquer manifestao de vontade perante o rgo judicante. Tem-se, primeiro, que observar os requisitos de estabelecimento e desenvolvimento vlidos da relao processual, como a capacidade da parte, a representao por advogado, a competncia do juzo e a forma adequada do procedimento (THEODORO JNIOR, 2003).

    Theodoro Jnior (2003) assevera, ainda, que no atendidos esses pressupostos, no h viabilidade de desenvolver-se regularmente o processo, que, assim, no funcionar como instrumento hbil composio do litgio ou ao julgamento do mrito da causa.

    Consoante Theodoro Jnior (2003), para que o processo seja eficaz para atingir o fim buscado pela parte, no basta, ainda, a simples validade jurdica da relao processual regularmente estabelecida entre os interessados e o juiz. Para atingir-se a prestao jurisdicional, ou seja, a soluo do mrito, necessrio que a lide seja deduzida em juzo com observncia de alguns requisitos bsicos, sem cuja presena o rgo jurisdicional no estar em situao de enfrentar o litgio e dar s partes uma soluo que componha definitivamente o conflito de interesses.

    Ocorre, neste caso, a carncia de ao, que quando na mesma no esto presentes as condies da ao.

    Tecnicamente, o juiz declara o autor carecedor da ao quando, na mesma, ou falta a legitimatio ad causam (ativa ou passiva), ou falta o interesse processual ou falta possibilidade (jurdica ou material) do pedido. Neste caso, a extino do processo sem julgamento do mrito, podendo a ao ser reintentada aps sanada a irregularidade formal (SCHLICHTING, 2002).

    A anlise sobre as condies da ao antecede deciso sobre o mrito; implicando que, em tese, se o julgador enfrentou o mrito, ele e as partes reconheceram a presena das condies de ao, ainda que assim no o seja (SCHLICHTING, 2002).

  • 32

    que, embora abstrata, a ao no genrica, de modo que, para obter a tutela jurdica, indispensvel que o autor demonstre uma pretenso idnea a ser objeto da atividade jurisdicional do Estado. Vale dizer: a existncia da ao depende de alguns requisitos constitutivos que se chamam condies da ao, cuja ausncia, de qualquer um deles, leva carncia de ao, e cujo exame deve ser feito, em cada caso concreto, preliminarmente apreciao do mrito, em carter prejudicial (THEODORO JNIOR, 2003).

    Fixados esses conceitos, importantes conseqncias prticas resultam para os julgamentos que ponham fim ao processo, enfrentando ou no o mrito da causa. Assim a sentena ser de natureza e efeitos diversos, conforme acolha matria ligada aos pressupostos processuais, s condies da ao, ou ao mrito. Com efeito:

    a) reconhecimento da ausncia de pressupostos processuais leva ao impedimento da instaurao da relao processual ou nulidade do processo; b) o da ausncia do direito material subjetivo conduz declarao judicial de improcedncia do pedido, e no da ao, como de praxe viciosa e corriqueira na linguagem forense. Isto porque, uma vez admitida a ao (ou seja, uma vez presentes as condies da ao), nunca poder ser ela considerada improcedente, posto que sua existncia independe do direito material disputado (THEODORO JNIOR, 2003, p. 50).

    Nas palavras de Theodoro Jnior (2003), para aqueles que, segundo as mais modernas concepes processuais, entendem que a ao no o direito concreto sentena favorvel, mas o poder jurdico de obter uma sentena de mrito, isto , sentena que componha definitivamente o conflito de interesses de pretenso resistida (lide), as condies da ao so trs: 1) possibilidade jurdica do pedido; 2) interesse de agir; 3) legitimidade de parte.

    2.4.1 Possibilidade Jurdica do Pedido

    Pela possibilidade jurdica, indica-se a exigncia de que deve existir, abstratamente, dentro do ordenamento jurdico, um tipo de providncia como a que se pede atravs da ao. Esse requisito, de tal sorte, consiste na prvia verificao que incumbe ao juiz fazer sobre a viabilidade jurdica da pretenso deduzida pela parte em face do direito positivo em vigor (THEODORO JNIOR, 2003).

  • 33

    Para Santos (2002), a possibilidade jurdica do pedido condio que diz respeito pretenso. H possibilidade jurdica do pedido quando a pretenso, em abstrato, se inclui entre aquelas que so reguladas pelo direito objetivo.

    Para Schlichting (2002), consiste na formulao de pretenso que, em tese, exista na ordem jurdica como possvel de ser atendida, e que, pretensamente, esteja amparada pelo direito material ou pelos princpios que orientam o Direito e a Justia.

    Por isso mesmo, no se verificando essa condio, e ilegtimo o exerccio do direito de ao (CPC, art. 267, VI12) se o pedido nesta formulado de uma providncia jurisdicional que condene o ru ao pagamento de dvida de jogo, porque tal pretenso no tutelada pelo direito ptrio (SANTOS, 2002).

    A doutrina costuma tratar a possibilidade jurdica do pedido como uma das nuances do interesse de agir. Neste sentido, Greco Filho (2003, p. 86-87), ao tratar da possibilidade jurdica do pedido, assevera que:

    [...] Com efeito, se a lei condiciona a atividade jurisdicional a certa exigncia prvia, est, tambm, declarando que o interesse processual somente ser adequado se o autor cumprir tais encargos. Alis, Liebman, na ltima edio do Manuale de diritto processuale civile, no mais enumera a possibilidade jurdica do pedido como condio da ao, ampliando, pois, o conceito de interesse processual, especialmente na forma de interesse adequao, considerando como falta de interesse aquelas hipteses em que a outra parte da doutrina classifica como de falta de possibilidade jurdica do pedido [...].

    No entanto, o melhor entendimento seria o de que no existe pedido juridicamente impossvel. Pode haver, sim, uma pretenso deduzida em juzo que no tenha guarida no ordenamento jurdico, o que equivale a dizer que o demandante no tem o direito material alegado (NERY, 2006).

    Neste diapaso, a "possibilidade jurdica do pedido" teria que ver diretamente com o meritum causae, razo pela qual no pode ser esta categoria tratada como condio da ao, mas sim como uma questo de mrito, pelo que o provimento que reconhece a "impossibilidade jurdica do pedido", uma vez que no existe pedido juridicamente impossvel, na verdade, reconhece que o autor no tem o direito material invocado, caracterizando-se, portanto, em uma deciso de mrito (NERY,

    12 Art. 267. Extingue-se o processo, sem resoluo de mrito:

    [...] VI - quando no concorrer qualquer das condies da ao, como a possibilidade jurdica, a legitimidade das partes e o interesse processual; [...]

  • 34

    2006). Posto isto, tem-se que a sentena que reconhece a "impossibilidade jurdica

    do pedido" sentena definitiva, analisando o mrito da demanda e formando coisa julgada material (NERY, 2006).

    Explica Santos (2004) que o direito de ao pressupe que o seu exerccio visa obteno de uma providncia jurisdicional sobre uma pretenso tutelada pelo direito objetivo. Desta forma, para o exerccio do direito de ao a pretenso formulada pelo autor dever ser de natureza a poder ser reconhecida em juzo. Ou, mais precisamente, o pedido dever consistir numa pretenso que, em abstrato, seja tutelada pelo direito objetivo, isto , admitida a providncia jurisdicional solicitada pelo autor.

    Schilichting (2002) cita como exemplo de impossibilidade jurdica a cobrana judicial de dvida decorrente de aposta no "jogo do bicho", ou ainda, no caso do autor vir a juzo requerer que o juiz declare, por sentena, estar o mesmo isento do pagamento de uma dvida, dvida esta reconhecida pelo prprio autor em sua prpria petio inicial, amparando seu pedido no fato de que atravessa uma situao difcil, no momento, e no tem condies de pagar.

    O pedido deve, no apenas ser juridicamente possvel, como tambm materialmente (SCHLICHTING, 2002).

    Explica Schlichting (2002) que deve ser verificado se existe possibilidade de atendimento do pedido em sua materialidade, pois, concedida a tutela pleiteada, a mesma deve ser eficaz no sentido da concesso exata do requerido, uma vez que o juiz no pode ir alm, nem julgar diferentemente do pedido.

    Exemplifica, ainda, Schlichting (2002) a impossibilidade material do pedido quando algum, irregularmente, cortar um nmero considervel de rvores centenrias que no eram de sua propriedade, e o verdadeiro dono da plantao vir a juzo requerer que o juiz condene o infrator a fazer tudo voltar ao estado exatamente da forma anterior, ou seja, quer que as rvores sejam replantadas exa-tamente como estavam no instante imediato antes de serem cortadas. Neste caso, a resoluo atravs de "perdas e danos"13.

    13 O conceito de perdas e danos dinmico, j no se contendo mais preso concepo que lhe

    dera o Cdigo Civil. Abrange os danos emergentes, os lucros cessantes, a correo monetria, os juros de mora, os honorrios de advogado e de perito, o fundo de comrcio, perdas e danos na ecologia, etc. (MARMITT, 2005).

  • 35

    2.4.2 Legitimidade de Parte

    A legitimidade de parte ou legitimidade para a causa (ad causam) se refere ao aspecto subjetivo da relao jurdica processual.

    Por outras palavras, o autor dever ser titular do interesse que se contm na sua pretenso com relao ao ru. Assim, legitimao para agir em relao ao ru dever corresponder a legitimao para contradizer deste em relao quele. Ali, legitimao ativa; aqui, legitimao passiva (SANTOS, 2002).

    a titularidade ativa e passiva da ao, na linguagem de Liebman. a pertinncia subjetiva da ao (THEODORO JNIOR, 2003).

    Nas palavras de Schlichting (2002), a legitimao a regularidade do poder, de determinada pessoa, de demandar sobre determinado objeto e, para ser regular, deve verificar-se tanto no plo ativo quanto no plo passivo da relao jurdica.

    Forma-se a relao jurdica processual entre autor e Juiz, de forma angular, com a propositura da demanda. No entanto, esta somente se completa quando o ru integra a lide, aps ser citado, formando, assim, a figura triangular da relao jurdica processual, j que entre autor e ru existe o dever de boa-f e lealdade processual (NERY, 2006).

    A relao jurdica processual deve ser composta pelas mesmas partes que compem a relao jurdica de direito material que originou a lide. Sendo assim, autor e ru devem ter uma relao jurdica de direito material que os una para que sejam partes legtimas para integrarem a relao jurdica processual. Outrossim, como exceo a esta regra tem-se os casos de legitimao extraordinria previstos em lei, nos quais uma parte pleiteia, em nome prprio, direito alheio, a exemplo dos casos de substituio processual, na forma do art. 8, III, da CRFB/88 (NERY, 2006).

    Explica Theodoro Jnior (2003) que parte, em sentido processual, um dos sujeitos da relao processual contrapostos diante do rgo judicial, isto , aquele que pede a tutela jurisdicional (autor) e aquele em face de quem se pretende fazer atuar dita tutela (ru). Mas, para que o provimento de mrito seja alcanado, para que a lide seja efetivamente solucionada, no basta existir um sujeito ativo e um sujeito passivo. preciso que os sujeitos sejam, de acordo com a lei, partes legtimas, pois se tal no ocorrer o processo se extinguir sem julgamento do mrito

  • 36

    (art. 267, VI, do CPC)14. A legitimidade de parte se refere ao plo ativo e ao passivo da ao15. Afirmar

    que algum no parte legtima, significa dizer que ou o autor no tem a pretenso de direito material que deduz em juzo ou que o ru no integra a relao jurdica de direito material invocada pelo autor como supedneo da sua pretenso (NERY, 2006).

    So legitimados para agir, ativa e passivamente, os titulares dos interesses em conflito; legitimao ativa ter o titular do interesse afirmado na pretenso; passiva ter o titular do interesse que se ope ao afirmado na pretenso. Fala-se ento em legitimao ordinria, porque a reclamada para a generalidade dos casos (SANTOS, 2002).

    s vezes, entretanto, a lei concede direito de ao a quem no seja titular do interesse substancial, mas a quem se prope a defender interesse de outrem. Assim, no caso do gestor de negcio, em defesa do interesse do gerido; no do marido, em defesa dos bens dotais da mulher. Nesses casos, de legitimao dita extraordinria, surge a figura do substituto processual, sobre a qual teremos oportunidade de falar mais desenvolvidamente (SANTOS, 2002).

    Na legitimao ordinria, demanda quem for o titular da relao jurdica, ou seja, o titular do direito contra o titular direto da obrigao (SCHLICHTING, 2002).

    J a legitimao extraordinria pode verificar-se pela substituio processual, pela representao processual ou pela sucesso processual (SCHLICHTING, 2002).

    Explica Schlichting (2002) que ocorre a substituio processual quando algum, em virtude de texto legal expresso, tem qualidade para litigar, em nome prprio, sobre direito alheio.

    Quem litiga como autor ou ru o substituto processual, que, em nome prprio, exerce toda a atividade jurisdicional, cabendo ao substitudo suportar a demanda (SCHLICHTING, 2002).

    A representao processual, por sua vez, ocorre quando algum (repre-sentante) demanda por intermdio de outrem (representado). O representante

    14 Art. 267. Extingue-se o processo, sem resoluo de mrito:

    [...] VI - quando no concorrer qualquer das condies da ao, como a possibilidade jurdica, a legitimidade das partes e o interesse processual; [...] 15

    O plo ativo da ao diz respeito parte que move a ao, enquanto que o plo passivo diz respeito parte que sofre a demanda.

  • 37

    demanda em nome alheio, sobre direito alheio (SCHLICHTING, 2002). Finalmente, a sucesso processual ocorre quando a parte desaparece

    (atravs de sua morte) e outra vem ao processo para que o mesmo tenha prosseguimento (SCHLICHTING, 2002).

    2.4.3 Interesse de Agir

    Diz-se que est presente o interesse de agir quando o autor tem a necessidade de se valer da via processual para alcanar o bem da vida pretendido, interesse esse que est sendo resistido pela parte adversa, bem como quando a via processual lhe traga utilidade real, ou seja, a possibilidade de que a obteno da tutela pretendida melhore na sua condio jurdica (NERY, 2006).

    Alguns doutrinadores ainda falam em adequao da via processual eleita com a pretenso deduzida em juzo, o chamado interesse adequao. No entanto, mais adequado entendimento da corrente doutrinria que exclui a adequao das classes de interesse de agir, considerando apenas o interesse necessidade e o interesse utilidade. Assim, o chamado "interesse-adequao", na verdade, seria requisito processual de validade objetivo intrnseco, sendo aqui tratado como um dos aspectos do respeito ao formalismo processual (NERY, 2006).

    Nesse sentido, Carvalho (2005, p. 27), que, ao discorrer sobre o tema, ensina que:

    Sustentamos, portanto, que o uso de um meio inadequado nunca pode significar falta de interesse. O interesse, pois, no pode ser confundido com o mero aspecto formal da adequao da providncia requerida, at porque aquele que utilizou um provimento inadequado, por vezes, demonstra muito mais interesse tanto substancial como processual -, do que aquele que fez uso do procedimento adequado.

    O interesse de agir, segundo Theodoro Jnior (2003) no se confunde com o interesse substancial, ou primrio, para cuja proteo se intenta a mesma ao. O interesse de agir, que instrumental e secundrio, surge da necessidade de obter atravs do processo a proteo ao interesse substancial. Entende-se, dessa maneira, que h interesse processual se a parte sofre um prejuzo, no propondo a demanda, e da resulta que, para evitar esse prejuzo, necessita exatamente da

  • 38

    interveno dos rgos jurisdicionais. O interesse processual, a um s tempo, haver de traduzir-se numa relao

    de necessidade e tambm numa relao de adequao do provimento postulado, diante do conflito de direito material trazido soluo judicial (THEODORO JNIOR, 2003).

    preciso sempre que o pedido apresentado ao juiz traduza formulao adequada satisfao do interesse contrariado, no atendido, ou tornado incerto (MARQUES, 1990, p. 176).

    Falta interesse, em tal situao, porque intil a provocao da tutela jurisdicional se ela, em tese, no for apta a produzir a correo argida na inicial. Haver, pois, falta de interesse processual se, descrita determinada situao jurdica, a providncia pleiteada no for adequada a essa situao (GRECO FILHO, 1995, p. 81).

    O direito de agir, direito de ao, conforme ensina Santos (2004), distinto do direito material a que visa tutelar. A ao se prope a obter uma providncia jurisdicional quanto a uma pretenso e, pois, quanto a um bem jurdico pretendido pelo autor. H, assim, na ao, como seu objeto, um interesse de direito substancial consistente no bem jurdico, material ou incorpreo, pretendido pelo autor.

    Mas h um interesse outro, que move a ao. o interesse em obter uma providncia jurisdicional quanto quele interesse. Por outras palavras, h o interesse de agir, de reclamar a atividade jurisdicional do Estado, para que este tutele o interesse primrio, que de outra forma no seria protegido. Por isso mesmo o interesse de agir se confunde, de ordinrio, com a necessidade de se obter o interesse primrio ou direito material plos rgos jurisdicionais (SANTOS, 2002).

    Diz-se, pois, que o interesse de agir um interesse secundrio, instrumental, subsidirio, de natureza processual, consistente no interesse ou necessidade de obter uma providncia jurisdicional quanto ao interesse substancial contido na pretenso (SANTOS, 2002).

    Basta considerar que o exerccio do direito de ao, para ser legtimo, pressupe um conflito de interesses, uma lide, cuja composio se solicita do Estado. Sem que ocorra a lide, o que importa numa pretenso resistida, no h lugar invocao da atividade jurisdicional. O que move a ao o interesse na composio da lide (interesse de agir), no o interesse em lide (interesse substancial) (SANTOS, 2002).

  • 39

    O interesse, em regra, uma relao desnecessidade, pois decorre da necessidade de se recorrer ao judicirio para a obteno do resultado pretendido, uma vez que esse o nico modo que resta ao agente pretensor para obter o "direito" reclamado (SCHLICHTING, 2002).

    tambm uma relao de adequao, uma vez que intil provocar a tutela jurisdicional se ela no for apta a produzir a correo da leso argida na inicial (SCHLICHTING, 2002).

    Assim, no existe interesse no caso do autor requerer que o juiz declare que o credor de uma obrigao contida em um ttulo de crditos tem o direito de exigir a cobrana deste, uma vez que tal direito j est implcito no comando emanado do ttulo (SCHLICHTING, 2002).

    Da mesma forma, pode no existir interesse processual no caso de, em uma ao de reintegrao de posse, uma das partes pedir que o juiz declare, por sentena, que o detentor do domnio, uma vez que o discutido a posse, e no a propriedade, que pode ser at de um terceiro (SCHLICHTING, 2002).

    O interesse, em algumas situaes, pode ser de ordem material, como ocorre naquelas aes cautelares em que a finalidade a obteno de medidas urgentes que garantam a eficcia da materialidade da sentena que advir de um processo de conhecimento ou de execuo (SCHLICHTING, 2002).

    Feitas estas consideraes acerca do conceito de ao, bem como suas teorias, elementos e condies, passa-se agora, no segundo captulo, para o estudo das intimaes, citaes e notificaes, de modo a introduzir uma melhor compreenso acerca do assunto principal do presente trabalho.

  • 40

    3 DAS COMUNICAES DOS ATOS PROCESSUAIS NO DIREITO PROCESSUAL CIVIL

    3.1 DAS CITAES

    Citao, , de modo geral, o chamamento do ru ao processo, para que dele tome conhecimento e possa defender-se.

    De acordo com o que estabelece o art. 213 do CPC, citao " o ato pelo qual se chama a juzo o ru ou o interessado, a fim de se defender", constituindo-se, na viso de Nbrega (1998) em elemento indispensvel validade do processo, ensejador da decretao de nulidade se acaso no concretizada nos moldes em lei estatudos.

    Assim, procede-se citao no apenas quando se chama o ru para que este conteste ao que lhe move o autor, mas tambm quando se convocam pessoas que ocupam outra posio processual, como os litisconsortes ativos ou para chamar pessoas para que assim defendam interesses seus em juzo, como nos processos de inventrio (LIMA, 1996).

    Conforme entendimento de Amato (2004, p. 1), a citao o ato processual pelo qual se informa ao ru de que contra si foi proposta uma ao, concedendo-lhe oportunidade para manifestar-se e exercer seu direito de defesa e a partir do ingresso do ru no processo que a relao jurdica processual se completa (autor-juiz-ru).

    Santos (2002, p. 326-327) assevera que:

    Feita a citao do ru, considerar-se- constitudo o processo, formada a relao processual, qualquer que seja o tipo de procedimento, asseverando, outrossim, que em suma, qualquer que seja a ao, haver-se- por completada a formao da relao processual com a citao do ru. Tomando o ru conhecimento da ao, completa-se a relao processual.

    Assim, atravs da citao que se oportuna ao ru a possibilidade de se defender, iniciando o contraditrio no processo.

    Conforme Parizzato (1992, p. 13), a citao do ru obrigatria, sendo elemento essencial de toda demanda em juzo.

  • 41

    Conforme assevera Almeida Filho (2006) no havendo a citao, no se pode falar em desenvolvimento vlido e regular do processo, ainda que sua formao tenha ocorrido, depois de deflagrado, porque o autor, ao requerer a tutela estatal, rompe a inrcia ento existente, pois, a citao requisito de validade de qualquer processo, seja de conhecimento, de execuo ou cautelar, sendo o procedimento comum ou especial (MOREIRA, 1991).

    Trata-se, por esta razo, de ato solene e de enorme importncia para a sistemtica processual (ALMEIDA FILHO, 2006).

    A citao tambm deve ser vlida, ou seja, realizada respeitando-se a forma legal prevista, pois a citao invlida acarreta a prpria invalidade do processo. Assim, tanto a falta da citao quanto a sua realizao sem a observncia dos requisitos legais traz ao processo nulidade insanvel, que torna a sentena proferida nele sem efeito, conforme prev o art. 24716, do CPC.

    A nulidade da citao pode ser argida a qualquer tempo pelo ru. No entanto, poder o ru oferecer sua defesa mesmo no havendo a citao

    vlida, pois, conforme explica Parizatto (1992, p. 17), o seu comparecimento, para contestar a ao aforada pelo autor, supre a falta de citao, porquanto tal comparecimento demonstra o conhecimento do ru aos termos da ao contra si movida.

    3.2 HISTRICO DA CITAO

    Alguns autores buscam o fundamento da citao no direito divino, e dizem que a primeira citao teria sido realizada por Deus quando quis castigar o pecado de Ado, previamente o interpelando: Vocactique Dominus Deo Adam et dixit ei: dixit: Ubi est?17 (LEITE, 2007, p. 1).

    A fonte legal mais antiga de que tem notcia quanto a existncia da citao a primeira das XII Tbuas do direito romano (LEITE, 2007).

    16 Art. 247. As citaes e as intimaes sero nulas, quando feitas sem observncia das prescries

    legais. 17

    E chamou o Senhor Deus a Ado, e disse-lhe: Onde ests? (Gnesis 3:9).

  • 42

    At a poca clssica do direito romano, as diligncias citatrias eram de carter puramente privado, e incumbia ao autor promover a in jus vocatio18, trazendo presena do juiz, o seu adversrio (LEITE, 2007).

    Uma vez citado, o autor se certificava da recusa do comparecimento por meio de testemunhas e, depois disso, podia pondo a mo no pescoo do citado (ad torto collo), arrasta-lo at a presena do juiz, numa espcie de conduo coercitiva privada (LEITE, 2007).

    Mais tarde, os dispositivos da Lei das XII Tbuas foram modificados e se passou a exigir o consentimento do pretor para serem chamadas a juzo, pessoas como o patrono, a patrona, os filhos, os pais do patrono e da patrona, os incapazes, os magistrados de categoria superior e os tribunos da plebe (LEITE, 2007).

    O chamamento ao juzo para comparecer ante ao magistrado, o sistema de obtorto collo caiu em desuso pelas aes da lei por causa dos prejuzos econmicos que produziam ao demandado.

    Mais tarde, a autoridade judiciria passou a intervir por meio da litis denuntiatio que veio a substituir as regras da in jus vocatio e do vandimonium (que deixava rbita privada o chamamento do ru juzo) (LEITE, 2007).

    No imprio de Justiniano, tudo mudou novamente, e a citao s passou a ser feita mediante a autorizao do magistrado bem prximo ao que hoje se verifica atravs do mandado de citao (LEITE, 2007).

    Aps o reinado de Carlos Magno, sob o domnio dos Capitulares, a citao passou a denominar-se bannition e a derivar de uma ordem judiciria. Passou a citao a ser feita por um enviado especial, o missus (LEITE, 2007).

    At o comeo do sculo XVI a citao foi verbal, quando no ano de 1540 sob o reinado de Frederico I passou a ser autenticada por atos escritos, ou seja, foi determinado aos oficiais ou meirinhos que deveriam fazer por escrito seus relatrios da citao, assina-los e dar uma cpia ao ru que havia sido efetivamente citado (LEITE, 2007).

    No direito cannico era patente a completa indispensabilidade da citao, a Igreja jamais deixou a citao em mos do particular. No direito justinianeu a citao sofreu variaes de substncia e isso terminou com o Decreto Graciano, sob a marcante influncia do direito cannico (LEITE, 2007).

    18 Chamamento a juzo.

  • 43

    No Sculo XIII as citaes para quaisquer atos judiciais deviam ser precedidas de uma carta ou sello do juiz. Os juzes que sabiam escrever, empregavam o uso de uma cruz ou sinal ou grifo arbitrrio que eram reconhecidos ou impressos como sinete. Diante do sello, o porteiro ou saio iam sigillar, sito , citar ou penhorar (LEITE, 2007).

    J nos primrdios da monarquia portuguesa j havia a regra para os que no atendessem o chamamento ato juzo, o juiz deveria imitir o demandante na coisa sobre se demandava, de imediato o que bem similar aos efeitos da revelia (LEITE, 2007).

    De acordo com as trs ordenaes portuguesas, o juiz no podia mandar citar em todos os casos da terra, por porteiro ou fora do seu territrio, podia mandar citar por precatria (Ordenao Afonsina, Livro III, t.1; Ordenao Manuelina, L.III, t.2; Ordenao Filipina, Livro III, t. 1,2) (LEITE, 2007).

    Atualmente vigora no direito lusitano o sistema de mediao, onde a citao depende de prvio despacho do juiz, ordenando a sua realizao (art. 229 CPC Portugus) (LEITE, 2007).

    Considera-se citao vlida quando ordenada por juiz competente feita por oficial competente, por meio adequado, logrando xito em sua finalidade primacial, e sem a preterio de nenhuma das formalidades, e, sendo acusada na audincia apropriada, produzindo assim todos os efeitos legais cabveis (LEITE, 2007).

    Na poca do Cdigo de Processo Civil Paulista19 a jurisprudncia dominante era pacfica em s considerar pendente a ao, para induzir litispendncia quando a citao fosse acusada em audincia (LEITE, 2007).

    A citao na sistemtica processual de 1939, pelo Decreto-Lei n 1.608 de 18/09/1939 j era realizada pelo sistema da mediao. A citao j era como ainda o atualmente, prevista pelo vigente CPC, um ato de juiz (LEITE, 2007).

    S se considerava devidamente constituda a relao jurdica processual com a citao vlida e regular do demandado, com expressa ateno ao princpio do contraditrio e da ampla defesa (LEITE, 2007).

    19 Anteriormente Constituio Federal de 1934, algumas unidades da federao tiveram cdigos

    processuais prprios, como o Cdigo de Processo Civil paulista, o baiano e o de outras unidades da federao, impulsionados pela primeira constituio republicana, que instituiu a dualidade da Justia, a Estadual e a Federal, outorgando aos Estados a prerrogativa de legislarem sobre a matria processual.

  • 44

    Tal papel fundamental da citao j era realado pelo art. 165 do CPC de 1939, que in litteris: ser necessria a citao sob pena de nulidade, no comeo da causa e da execuo (LEITE, 2007, p. 1).

    3.3 FORMAS DE CITAO

    A citao, conforme previso do art. 221, do CPC, poder ser operacionalizada de quatro modos distintos:

    Art. 221. A citao far-se-: I - pelo correio; II - por oficial de justia; III - por edital. IV - por meio eletrnico, conforme regulado em lei prpria.

    Abaixo se faz uma breve explicao e cada uma destas modalidades.

    3.3.1 Citao postal

    O art. 221, inciso I, CPC, prev a possibilidade de citao pelo correio. Esta uma inovao trazida pelo CPC de 1973, inspirada na notificao postal expressa no art. 841, 1, da CLT20. Tambm prevista a citao postal no art. 8, incisos I a III, da Lei n 6.830/80 (Lei das Execues Fiscais21), e no art. 5, 2, da Lei n 5.478/68 (que dispe sobre a ao de alimentos)22.

    20 O 1, do art. 841, da CLT, prev:

    A notificao ser feita em registro postal com franquia. Se o reclamado criar embaraos ao seu recebimento ou no for encontrado, far-se- a notificao por edital, inserto no jornal oficial ou no que publicar o expediente forense, ou, na falta, afixado na sede da junta ou juzo. 21

    Os incisos I a III, do art. 8, da Lei n. 6.830, de 1980, estabelecem: I a citao ser feita pelo correio, com aviso de recepo, se a Fazenda Pblicas no a requerer por outra forma; II a citao pelo correio considera-se feita na data da entrega da carta no endereo do executado; ou, se a data for omitida, no aviso de recepo, dez dias aps a entrega da carta agencia postal; III se o aviso de recepo no retornar no prazo de quinze dias da entrega da carta agencia postal, a citao ser feita por oficial de justia ou por edital. 22

    Lei n. 5.478/68, art. 5:

  • 45

    Explica Nbrega (1998) que, no entanto, a redao dada pelo CPC de 1973, estabelecia que "a citao pelo correio s admissvel quando o ru for comerciante ou industrial, domiciliado no Brasil" (art. 222). Possibilitava-se, assim, o uso dessa modalidade simplificada de citao apenas nos casos especificados, no se permitindo o seu uso generalizado como instrumento de agilizao do processo civil.

    No entanto, a Lei n 8.710, de 1993, entre outros artigos que tratam da citao, alterou o art. 222, CPC, tornando a citao pelo correio a regra geral no processo civil, no sendo feita desta forma apenas nos casos expressos nos incisos deste artigo.

    Com esse contedo, este dispositivo passou a dar como certo que a citao postal, alm de no sofrer os entraves decorrentes das limitaes territoriais impostas aos juzes em geral, dispensando, assim, o uso de cartas precatrias, transformou-se em modalidade bsica e de utilizao corrente (NOBREGA, 1998, p. 1).

    Assim, o art. 222, do CPC, agora dispe:

    Art. 222. A citao ser feita pelo correio, para qualquer comarca do pas, exceto: a) nas aes de estado; b) quando for r pessoa incapaz; c) quando for r pessoa de direito pblico; d) nos processos de execuo; e) quando o ru residir em local no atendido pela entrega domiciliar de correspondncia; f) quando o autor a requerer de outra forma.

    Verificando-se uma dessas hipteses, a citao ser efetuada, por Oficial de Justia, conforme o art. 22423, CPC, no sendo necessrio requerimento do autor para tanto, porm este ter a faculdade que de pedir que a citao se faa por Oficial de Justia, quando assim for do seu interesse.

    O escrivo, dentro de quarenta e oito horas, remeter ao devedor a segunda via da petio ou do termo, juntamente com a cpia do despacho do juiz, e a comunicao do dia e hora da realizao da audincia de conciliao e julgamento. [...] 2 A comunicao, que ser feita mediante registro postal isento de taxas e com aviso de recebimento, importa em citao, para todos os efeitos legais. 23

    Art. 224. Far-se- a citao por meio de oficial de justia nos casos ressalvados no art. 222, ou quando frustrada a citao pelo correio.

  • 46

    3.3.2 Citao por Oficial de Justia

    aquela que se efetua atravs de diligncia realizada por Oficial de Justia, conforme possibilita o art. 221, II, CPC. Era a forma de citao comum e usual, segundo o sistema vigente no Cdigo de Processo Civil de 1973, porm, com o advento da Lei n 8.710/93, a regra geral passou a ser a citao postal.

    A citao por meio de Oficial de Justia ser feita nas aes de estado, quando o ru for pessoa incapaz ou pessoa jurdica de direito pblico, nos processos de execuo, quando o ru residir em local no atendido pela entrega domiciliar de correspondncia, ou, ainda, quando se frustrar a citao pelo correio (CPC, art. 224) (NBREGA, 1998).

    A citao por Oficial de Justia realiza-se atravs de mandado, sendo uma forma mais eficiente de citao. Conforme expe Theodoro Jnior (1997), para que seja possvel a realizao desta espcie de citao, o Oficial de Justia deve portar o competente mandado, documento que o legitima a praticar a citao, que, por sua vez, depende sempre de prvio despacho do juiz. , portanto, o mandado o documento que habilita o oficial a atuar em nome do juiz na convocao do ru para integrar o plo passivo da relao processual instada pelo autor.

    Conforme dispe o art. 22524, do CPC, o autor, na inicial, deve indicar qual pessoa deve ser citada em nome da pessoa jurdica, pois no cabe ao Oficial de Justia pesquisar quem o representante legal da empresa, para que assim a citao seja vlida, ou exigir do citando, a prova de sua representao legal.

    Pode-se considerar, ainda, que no dever nem incumbncia do Oficial de Justia, ao efetuar a citao da pessoa jurdica, ter de pesquisar para saber se a pessoa que se apresenta como representante da sociedade, de fato o . Compete a

    24 Art. 225. O mandado, que o oficial de justia tiver de cumprir, dever conter:

    I - os nomes do autor e do ru, bem como os respectivos domiclios ou residncias; II - o fim da citao, com todas as especificaes constantes da petio inicial, bem como a advertncia a que se refere o art. 285, segunda parte, se o litgio versar sobre direitos disponveis; III - a cominao, se houver; IV - o dia, hora e lugar do comparecimento; V - a cpia do despacho; VI - o prazo para defesa; VII - a assinatura do escrivo e a declarao de que o subscreve por ordem do juiz. Pargrafo nico. O mandado poder ser em breve relatrio, quando o autor entregar em cartrio, com a petio inicial, tantas cpias desta quantos forem os rus; caso em que as cpias, depois de conferidas com o original, faro parte integrante do mandado.

  • 47

    quem requerer por essa forma facultativa de citao, esclarecer quem a pessoa que validamente representa a pessoa jurdica e pode receber em seu nome a citao (PARIZATTO, 1992).

    O art. 225, I, do CPC dispe que do mandado deve constar o endereo do domiclio ou residncia do ru. Porm, o caput do art. 226 do mesmo diploma processual estabelece que o Oficial de Justia deve procurar o ru e, onde o encontrar, cit-lo. Assim, pode o ru ser citado tanto em sua residncia ou domiclio quanto em seu local de trabalho ou outro lugar em que esteja.

    Ao realizar a citao, o oficial deve, conforme os incisos I a III, do art. 226, ler o mandado e entregar a contraf ao ru25; certificar que este recebeu ou recusou a contraf e obter a nota de ciente ou certificar que o ru deixou de faz-lo.

    Theodoro Jnior (1997, p. 260) expe que o Oficial de Justia exerce seu ofcio dentro dos limites territoriais da comarca em que se acha lotado, porm, o art. 23026, do CPC, prev que, nas comarcas contguas, de fcil comunicao, e nas que se situam na mesma regio metropolitana, o oficial pode realizar citaes em qualquer delas.

    3.3.2.1 Citao com hora certa

    O CPC privilegia o Oficial de Justia a realizar a citao por hora certa, nos casos em que houver suspeita de ocultao da pessoa a ser citada, conforme reza o art. 227 do CPC:

    Art 227. Quando, por trs vezes, o oficial de justia houver procurado o ru em seu domiclio ou residncia, sem o encontrar, dever, havendo suspeita de ocultao, intimar a qualquer pessoa da famlia, ou em sua falta a qualquer vizinho, que no dia imediato voltar, a fim de efetuar a citao, na hora que designar.

    A citao com hora certa considerada citao ficta, pois no h certeza de que o ru tomou conhecimento de que contra ele foi ajuizada ao. realizada quando, aps procurar o ru por trs vezes, em horrios distintos, o oficial suspeite

    25 Cpia do inteiro teor do mandado de citao ou de outros atos processuais (notificao, intimao),

    que o Oficial de Justia entrega parte, para cincia desta (CPC 226, I, II e 228, 2). 26

    Art. 230. Nas comarcas contguas, de fcil comunicao, e nas que se situem na mesma regio metropolitana, o oficial de justia poder efetuar citaes ou intimaes em qualquer delas.

  • 48

    que o ru esteja se ocultando maliciosamente, para evitar a citao pessoal (LIMA, 1996).

    Assim, preciso que o oficial tenha procurado o ru em sua residncia ou domiclio, no sendo possvel a citao com hora certa se a procura pelo citando se deu em seu local de trabalho ou em outro lugar qualquer. Deve tambm haver a suspeita de que o ru esteja se ocultando, para no ser citado. No necessria a certeza da ocultao, bastando que haja a suspeita.

    Conforme expe Lima (1996, p. 127): Se, porm, no houver suspeita de ocultao, mas afastamento normal do domiclio (doena, viagem ou mudana), o oficial dever aguardar que se estabelea o citando, passando o estado grave (...), podendo faz-lo em casa ou no hospital; ou aguardar seu regresso ou informar-se onde se encontra, fora da comarca, quer em viagem ou quer por mudana, para ser procedida a citao por carta precatria ou, at, rogatria.

    A citao deve ser feita a pessoa capaz, no sendo vlida aquela feita a criana, interdito27, pois no h certeza, nestes casos, que o ru ter conhecimento da realizao da citao com hora certa.

    No dia seguinte e na hora designada, deve o oficial retornar a residncia ou domiclio do ru, a fim de efetuar a citao com hora certa. Esta diligncia independente de novo despacho do juiz autorizando-a, sendo suficiente o despacho que ordenou a citao por mandado, para que o oficial cumpra a diligncia. Encontrando o ru, o Oficial realizar a citao pessoal, como prev o art. 226, CPC. No encontrando o citando, o oficial deve informar-se das razes da ausncia do ru, dando por feita a citao, ainda que o citando se tenha ocultado em outra comarca (art. 228, 1, CPC).

    No encontrando motivos para a ocultao do ru, e dando por realizada a citao, o oficial deixar contraf28 da certido da ocorrncia com pessoa da famlia ou vizinho do ru, declarando-lhe o nome (art. 228, 2, CPC).

    Desta certido, conforme Theodoro Jnior (1997, p. 261), dever constar: a) dias e horas em que procurou o citando; b) local em que se deu a procura; c) motivos que o levaram suspeita de ocultao intencional; d) nome da pessoa com quem deixou o aviso de dia e hora para a citao;

    27 H que se mencionar, ainda, os relativamente e os absolutamente incapazes de exercer

    pessoalmente os atos da vida civil, previstos nos artigos 3 e 4, do CCB, pois estes, por sua condio, tambm no podem receber citao. 28

    Contraf: Cpia de inteiro teor do mandado de citao ou de outros atos processuais (notificao, intimao) que o oficial de justia entrega parte, para cincia desta. CPC: arts. 226, I e II, e 228, 2.

  • 49

    e) retorno ao local para a citao, no momento aprazado, e motivos que o convenceram da ocultao maliciosa do ru, por ocasio da nova visita; f) resoluo de dar por feita a citao; g) nome da pessoa a quem se fez a entrega da contraf.

    Depois de cumprida a diligncia, retornando o mandado ao cartrio e juntado aos autos, o escrivo deve enviar ao ru carta, telegrama ou radiograma, informando-lhe da realizao da citao com hora certa (art. 229, CPC).

    Esta providncia obrigatria, mesmo no sendo ato integrante da citao, porm esta ser nula se a comunicao no for feita. O prazo para apresentao da defesa, no entanto, conta-se a partir do dia da juntada do mandado aos autos. Permanecendo o ru revel, ser-lhe- nomeado curador especial, conforme o art. 929, II, CPC.

    3.3.3 Citao por edital

    A citao por edital, conforme previso contida no art. 231 do CPC, ser processada quando desconhecido ou incerto o ru, quando ignorado, incerto ou inacessvel o lugar em que se encontrar ou, ainda, em outros casos expressos em lei como, por exemplo, na ao popular em que se permite ao autor popular requerer a citao dos beneficirios do ato lesivo por edital (Lei n 4.717/65: art. 7, II) (NBREGA, 1998).

    Quanto ao caso de ser desconhecido ou incerto o ru, Theodoro Jnior (1997, p. 263) expe:

    [...] a