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O PAPEL DO GESTOR NA ESCOLA PÚBLICA Lwdyvilla Bezerra Farias* Resumo Este artigo científico tem como objetivo analisar as ações desenvolvidas pelos gestores de duas escolas públicas estaduais, considerando suas atitudes nas relações interpessoais vivenciadas no cotidiano escolar. Assim, busca-se relatar como este possui um papel determinante no sucesso ou insucesso do processo de ensino- aprendizagem, levando em consideração sua liderança e apoio à comunidade escolar. Logo, esse trabalho inicia-se com a abordagem do papel do gestor desde o Brasil Colônia até meados dos anos 90 e analisa-se o fato de como, mesmo em diferentes décadas, a questão econômica tem influenciado diretamente no processo educativo. Destaca-se, também, o início do processo de democratização das escolas públicas, analisando os principais problemas encontrados para que a participação dos segmentos se torne efetiva. Analisa-se ainda, a importância de cada integrante da comunidade escolar: pais, alunos, professores, funcionários, Núcleo Gestor e comunidade local, destacando suas principais funções e as estratégias oferecidas pelo gestor para que cada membro se sinta participante da vida de sua escola. È sabido que as relações interpessoais nem sempre se dão de forma cordial, pois alguns indivíduos algumas vezes não conseguem aceitar novas formas de pensar e agir. Assim, durante a pesquisa de campo, foram relatadas as principais dificuldades encontradas no convívio diário de uma instituição pública. Seja pela apatia ou empatia dos indivíduos de cada segmento, até as diversas formas de relacionamentos que encontramos no ambiente escolar. Logo, o presente estudo aprofunda-se, essencialmente, no trabalho do gestor, no modo como ele cria ações que possibilitem a participação, o questionamento, a iniciativa, o reconhecimento dos profissionais de sua escola, além de questionar a sua presença profissional e pessoal para gerir a instituição de forma equilibrada e consciente. * Especialista em Gestão Escolar e Ensino da Língua Portuguesa. Coordenadora Escolar da rede estadual, lotada na E.E.F.M. Estado de Alagoas Palavras Chaves Gestor, Educação, Democracia, Pesquisa, Funções.

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O PAPEL DO GESTOR NA ESCOLA PÚBLICA

Lwdyvilla Bezerra Farias*

Resumo

Este artigo científico tem como objetivo analisar as ações desenvolvidas pelos gestores

de duas escolas públicas estaduais, considerando suas atitudes nas relações

interpessoais vivenciadas no cotidiano escolar. Assim, busca-se relatar como este

possui um papel determinante no sucesso ou insucesso do processo de ensino-

aprendizagem, levando em consideração sua liderança e apoio à comunidade escolar.

Logo, esse trabalho inicia-se com a abordagem do papel do gestor desde o Brasil

Colônia até meados dos anos 90 e analisa-se o fato de como, mesmo em diferentes

décadas, a questão econômica tem influenciado diretamente no processo educativo.

Destaca-se, também, o início do processo de democratização das escolas públicas,

analisando os principais problemas encontrados para que a participação dos

segmentos se torne efetiva. Analisa-se ainda, a importância de cada integrante da

comunidade escolar: pais, alunos, professores, funcionários, Núcleo Gestor e

comunidade local, destacando suas principais funções e as estratégias oferecidas pelo

gestor para que cada membro se sinta participante da vida de sua escola. È sabido que

as relações interpessoais nem sempre se dão de forma cordial, pois alguns indivíduos

algumas vezes não conseguem aceitar novas formas de pensar e agir. Assim, durante a

pesquisa de campo, foram relatadas as principais dificuldades encontradas no convívio

diário de uma instituição pública. Seja pela apatia ou empatia dos indivíduos de cada

segmento, até as diversas formas de relacionamentos que encontramos no ambiente

escolar. Logo, o presente estudo aprofunda-se, essencialmente, no trabalho do gestor,

no modo como ele cria ações que possibilitem a participação, o questionamento, a

iniciativa, o reconhecimento dos profissionais de sua escola, além de questionar a sua

presença profissional e pessoal para gerir a instituição de forma equilibrada e

consciente.

* Especialista em Gestão Escolar e Ensino da Língua Portuguesa. Coordenadora Escolar

da rede estadual, lotada na E.E.F.M. Estado de Alagoas

Palavras Chaves

Gestor, Educação, Democracia, Pesquisa, Funções.

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1. Introdução

O gestor é sempre visto como a liderança máxima na escola. Cabe a ele,

juntamente com o corpo técnico-administrativo, coordenar e buscar soluções conjuntas,

envolvendo todos os outros segmentos da unidade escolar. Com isso, seu papel é de

fundamental importância dentro do processo de ensino – aprendizagem. Seu poder de

compartilhar decisões poderá determinar o sucesso ou insucesso desse processo. Como

o aluno não aprende somente dentro da sala de aula, faz-se necessário que a escola

possua um espaço favorável à aprendizagem. Neste sentido, procurei neste trabalho

expor as inúmeras funções que o gestor escolar precisa exercer, destacando

principalmente suas atitudes dentro das relações interpessoais.

A partir de um convívio diário, pude observar as diversas atribuições impostas

ao gestor de forma aleatória e centralizadora. Logo veio a necessidade de questioná-las.

Analisar se o mesmo estaria preparado para o trabalho e se teria condições e apoio

necessários para conseguir o êxito almejado. A escolha do tema deu-se exatamente por

tais questionamentos, juntamente com a inquietação particular de me aprofundar no

assunto, já que pretendo assumir futuramente a direção de uma escola.

Durante o desenrolar deste artigo científico, deparei-me com várias dúvidas e

questionamentos no que diz respeito ao trabalho diário de um gestor escolar. Quais

seriam as decisões mais acertadas, como o mesmo poderia trabalhar de forma igualitária

e participativa, como gerir uma escola de forma consciente, organizada e democrática.

Perguntei-me sobre quais seriam as ações mais eficazes do diretor para não se deixar

desmotivar frente a problemas burocráticos e financeiros e como o mesmo conseguiria

estimular um trabalho mais produtivo de professores e funcionários. E, sobretudo, quais

seriam as atitudes necessárias para incentivar a participação de toda a comunidade

escolar.

O presente trabalho está dividido em dois momentos, o primeiro resultou de um

estudo bibliográfico, onde me aprofundei sobre o tema proposto. Já o segundo momento

foi executado durante as visitas às Escolas Bem Viver e Santa Fé, na qual fiz um relato

sistemático de suas estruturas físicas e de funcionamento, além de aplicar questionários

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e entrevistas com alguns membros do Núcleo Gestor, professores e funcionários destas

unidades escolares, caracterizando-se, assim, como estudo de caso.

O estudo de caso foi escolhido pela sua flexibilidade, visto que, o papel do

gestor escolar é um tema muito complexo e variável, de acordo com a realidade de cada

escola pública. A partir do estudo específico feito nas escolas Bem Viver e Santa Fé

(nomes fictícios), busca-se um aprofundamento das atividades executadas pelo Núcleo

Gestor, professores e funcionários, além de relacioná-las às desenvolvidas pelos alunos.

Em suma, o artigo está dividido em três partes tituladas: 1ª - A Escola Pública

No Contexto Social, 2ª - A Democratização da Escola Pública e 3ª - A Pesquisa.

No primeiro momento, encontra-se um resumo dos principais acontecimentos

relacionados ao âmbito sócio-econômico, ocorridos no Brasil desde, a sua colonização

até os dias atuais. Destaca-se a influência da economia frente à educação, a

predominância constante da classe dominante, marginalizando os que não dispunham de

condições para financiar um estudo de qualidade.

Apresentam-se, também, algumas ações relevantes no que concerne às melhorias

do processo educativo. Dentre algumas, podemos destacar a Constituição de 1824, a

Reforma Francisco Campos a implementação da Lei de Diretrizes e Bases, entre outras

ocorridas durante a história.

Já o segundo momento, traz alguns conceitos de democracia, além de relacioná-

la ao trabalho desenvolvido nas escolas pesquisadas. Também destaca as principais

atitudes que visam a um processo educativo mais democrático e participativo

No terceiro momento, o estudo do caso é desenvolvido através da pesquisa de

campo. Há aqui, uma caracterização das escolas Bem Viver e Santa Fé. Busca-se relatar

as relações interpessoais, as normas de funcionamento, as estruturas físicas de cada

instituição, além das condições de trabalho existentes. Cada relação pessoal é destacada

e analisada, sobressaindo aquelas que poderão ser positivas ou negativas para o

ambiente escolar.

Dessa maneira, nesse momento há um resumo geral das atividades

desenvolvidas dentro das escolas visitadas, as formas de relacionamento, convivência e

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metodologias de trabalho. Analisam-se também, as dificuldades encontradas pelo

diretor na execução de suas funções.

Por fim, questiona-se a formação profissional de cada gestor e as ações

semelhantes ou distintas que são executadas dentro de cada uma das escolas

pesquisadas. Questionam-se as estratégicas usadas para que se favoreça a democracia e

a cidadania.

2. Desenvolvimento

2.1 A Escola Pública no Contexto Social

Para definir as funções pertinentes à escola pública, é necessário associá-la ao

contexto social em que a mesma se insere. É de grande importância analisar os

inúmeros papéis por ela exercidos ao longo do tempo, pois sua função social está

diretamente relacionada ao aprendiz, logo, apresenta diferentes focos centrais de acordo

com os tipos de sociedade, gerações e costumes.

Para cumprir seu papel de garantir a educação do aluno, é necessário que a

escola esteja ligada à forma de vida e ao tipo de condição dos membros que fazem parte

dela. Não deixar de acolher todos que procuram e ser um dos principais pontos de

orientação para os mesmos.

As ações efetivas no setor educacional estiveram intrinsecamente relacionadas

às condições financeiras do nosso país.

Os Jesuítas tinham a função de gerenciar o processo educativo. Assim,

fundaram, na cidade de Salvador, a primeira escola elementar, e trouxeram consigo os

moldes europeus vigentes na época.

Nessa concepção, o branco deveria distinguir-se da população nativa, negra e

mestiça. Somente os que detinham o poder político-econômico deveriam ser educados e

poderiam conhecer a cultura e a literatura européia, trazida pelos Jesuítas. Vejamos o

que afirma ROMANELLI, 1991, P.33, vejamos:

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A primeira condição consistia na predominância de uma minoria de donos

de terra e senhores de engenho, sobre uma massa de agregados e escravos.

Apenas àqueles cabia o direito à educação e, mesmo assim, em número

restrito, porquanto deveriam estar excluídos dessa minoria as mulheres e os

filhos primogênitos, aos quais se reservava a direção futura dos negócios

paternos.

Assim, era limitado o direito à educação, não somente para as camadas mais

pobres, negras e mestiças, mas também excluía alguns membros da classe dominante.

Isto porque, o filho primogênito tinha a obrigação de administrar futuramente as

atividades do pai, não tendo o direito de estudar assuntos que não se relacionassem ao

trabalho rural, e as mulheres e crianças que não eram considerados elementos ativos da

população.

O ensino ministrado pelos Jesuítas era totalmente distante da realidade dos

alunos da colônia. Seus gestores não tinham a intenção de instruir para buscar a

melhoria sócio-econômica do Brasil, e sim de cultivar a cultura básica européia, sem

associá-la aos costumes brasileiros da época.

Logo, a Educação Elementar era ministrada para a população de índio e brancos

(salvo as mulheres); a Educação Média para os homens da classe dominante e a

Educação Superior religiosa somente para esta última que seguia a carreira eclesiástica

ou completava seus estudos na Europa, para voltar como letrado.

Somente após 210 anos como “mentores” da educação no Brasil, em 1759, os

jesuítas foram expulsos pelo Marquês de Pombal, ministro de D. José I, paralisando 17

colégios, 36 missões, seminários menores e escolas elementares.

No entanto, mesmo não tendo mais os Jesuítas como gestores, os objetivos e

métodos pedagógicos não mudaram.

Com isso, o Brasil passou por um processo muito difícil em termos

educacionais, somente com a notícia da vinda da família real, foi possível uma ruptura

no caos.

D. João VI trouxe algumas mudanças no quadro das entidades educacionais.

Dentre elas, a criação dos primeiros cursos superiores, das academias militares, escolas

de direito e medicina, o Jardim Botânico, a Biblioteca Real, a Imprensa Régia, a Real

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Academia de Desenho, Pintura, Escultura e Arquitetura Civil. Iniciava-se o primeiro

contato da elite com os hábitos e pensamentos que vigoravam na Europa do século XIX.

Segundo LIMA, 1969, p.103, a vinda da família real teve importância primordial

para o Brasil. Vejamos:

a vinda da família real representou a verdadeira descoberta do

Brasil a ‘abertura dos portos’, além do significado comercial da

expressão, significou a permissão dada aos

‘brasileiros’(madereiros de pau-brasil) de tomar conhecimento

de que existia, no mundo, um fenômeno chamado civilização e

cultura.

Após a Proclamação da República em 1822, foi elaborada em 1824, a primeira

constituição brasileira, a educação destinada às massas foi garantida através do Art. 179

desta Lei Magna. Vejamos: instrução primária e gratuita para todos os cidadãos.

Logo, o processo educativo passou a ser coordenado pela Coroa, sendo

transferidos após quatro anos para as Câmaras Municipais. Estas foram responsáveis

pela inspeção e organização das escolas primárias. Portanto, o início da valorização da

escola, deu-se pela necessidade de qualificação da força de trabalho, pois a população

mais pobre precisava ser treinada e instruída para servir de base ao novo modelo

econômico.

Os gestores que administravam o processo educativo, titulados na época de

inspetores educacionais, eram bastante centralizadores e rígidos. Assim, um

determinado aluno era treinado e ensinava a um grupo de dez alunos sob uma acirrada

vigilância do gestor escolar.

Apesar de muito se afeiçoar pela tarefa educativa, D. Pedro II nada fez de

concreto pela educação brasileira.

Com o fim do Império e a proclamação da República, em 1890, a educação veio

à tona como um problema nacional, onde os índices de analfabetismo no país eram

superiores a 67%. Esse fato ocorreu pela pouca motivação que a escola oferecia ao

trabalhador da zona rural, maioria nesse período.

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Com a Constituição de 1891, a distância entre a educação da classe dominante e

a do povo ficou ainda maior. Enquanto a União foi encarregada da Instrução Superior e

do Ensino Secundário, aos estados cabia administrar o Ensino Primário e o Ensino

Profissional que, na época, eram voltados, principalmente, para a população de baixa

renda. Isso reflete a disparidade social brasileira. A camada pobre era preparada para

executar o trabalho braçal e a camada rica se dedicava ao conhecimento das letras, da

medicina e da advocacia.

Andando em paralelo com as mudanças políticas no Brasil, o início da década de

20 trouxe consigo várias reformas que fizeram com que a educação recebesse uma

atenção especial. Dentre tais movimentos, podemos destacar: Movimento dos 18 do

Forte (1922), Semana de Arte Moderna (1922), a fundação do Partido Comunista

(1922), a Revolta Tenentista (1924) e a Coluna Prestes (1924-1927). Além das

reformas nacionais, ocorreram também movimentos estaduais que se referem à

educação, como as reformas abaixo:

- Ceará, reforma de Lourenço Filho, em 1923; Bahia, reforma de Anísio

Teixeira, em 1925; Minas Gerais, reforma de Francisco Campos e Mario

Casassanta, em 1927; Distrito Federal (atual Rio de Janeiro), reforma de

Fernando de Azevedo, em 1928; Pernambuco, reforma de Carneiro Leão, em

1928.

Em 1924, um grupo de educadores brasileiros unia-se para criar a Associação

Brasileira de Educação. Tinham como objetivo expor novas idéias, no sentido de

desenvolver a educação no Brasil.

Almejavam solucionar os problemas no sistema educativo, através de reformas

nacionais. Sabe-se que esse grupo de educadores defendia uma ideologia voltada para a

igualdade social. O ponto culminante de suas atividades foi à publicação do “Manifesto

dos Pioneiros da Educação Nacional”, em 1932.

O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova defendia a idéia de uma educação

gratuita, pública e laica a todos os brasileiros. Rompendo com o que acontecia até então,

uma escola para poucos.

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Observamos que na primeira metade do século XX, já havia estudiosos que

percebiam como a vida escolar estava diretamente relacionada à vida social. Que o

aprendizado do aluno não dependia somente da escola, mas de todo um contexto em que

o mesmo estivesse inserido, pois ela seria uma das instituições responsáveis pela

formação do cidadão, devendo respeitá-lo como indivíduo pertencente a uma

determinada cultura.

Com a Constituição de 1934, os estados brasileiros e o Distrito Federal,

passaram a ter autonomia na organização de seu modelo educacional. Coube à União

elaborar o Plano Nacional de Educação, organizado de acordo com os níveis e áreas a

serem estudadas.

Pode-se destacar, ainda, com essa Constituição, a gratuidade do ensino primário,

inclusive para adultos, a manutenção e desenvolvimento do ensino através da

participação da educação na renda resultante dos impostos e, por fim, a obrigatoriedade

de auxiliar alunos carentes, pela distribuição de bolsas de estudo.

Após as reformas de 1942, iniciada pelo então Ministro da Educação Gustavo

Capanema, o Brasil adentra no período que foi considerado por muitos historiadores e

educadores, como sendo uma das épocas mais férteis da educação, grande educadores

marcaram esse processo, contribuindo para uma nova visão sobre a educação, dos quais

podemos citar: Anísio Teixeira, Lourenço Filho, Paulo Freire, dentre outros.

O fim do Estado Novo trouxe consigo uma nova Constituição, de cunho mais

liberal e democrático, na área de Educação determinava a obrigatoriedade do

cumprimento do ensino primário e ainda dá competência à União de legislar sobre a Lei

de Diretrizes e Bases da Educação.

O início da década de 60 é marcado por avanços substanciais na área da

educação brasileira, dentre eles podemos citar, em 1962, a criação do Conselho

Nacional de Educação e dos Conselhos Estaduais de Educação.

Com o golpe militar de 1964, o Brasil sofre mudanças catastróficas, o regime

militar trouxe consigo o caráter anti-democrático para a educação, forçando a prática de

uma proposta ideológica do próprio governo.

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Depois de 21 anos no poder, a Ditadura Militar deixa de herança para o povo

brasileiro, 17 Atos Institucionais, 130 Atos Complementares, 11 Decretos Secretos e

2260 Decretos-Leis. O novo governo não propiciou uma discussão democrática em

relação à educação, frustrando vários educadores que tinham enorme anseio para que a

ditadura militar acabasse.

Em 1988 o novo projeto da LDB fruto de discussão e participação ampla da

sociedade, foi encaminhado à Câmara Federal pelo Deputado Octávio Elisio. Em 1992,

um novo projeto é elaborado pelo Senador Darcy Ribeiro e somente em 1996 após oito

anos do projeto inicial a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação é aprovada.

Neste mesmo período vários programas foram desenvolvidos, dentre eles

podemos destacar: Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental;

Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica-SAEB, Exame Nacional do Ensino

Médio-ENEM; entre outros.

Democratização da Escola Pública

A sociedade atual está inserida em um contexto social, onde a luta por um

espaço impõe um novo tipo de pensamento. O indivíduo assume cada dia mais seu

papel de cidadão, e não se conforma com as decisões tomadas “de cima pra baixo”.

Com isso, a sociedade começa a buscar informações sobre democracia, em como

esse novo processo de transformação poderá ser benéfico em todos os meios sociais. A

participação popular impõe um novo sentido no conceito de gestão.

Apesar de estar inserida na Constituição da República Brasileira, em seu artigo

206, a gestão democrática nas escolas só começou a ser divulgada e trabalhada com

maior eficácia a partir da promulgação da Lei de diretrizes e Bases da Educação

Nacional (Lei no. 9.394, de 20/12/1996) que expõe o assunto nos seus artigos:

“Art.14”. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do

ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os

seguintes princípios:

I – participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto

pedagógico da escola;

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II- participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou

equivalentes.

“Art. 15. Os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares públicas de

educação básica que os integram progressivos graus de autonomia pedagógica e

administrativa e de gestão financeira, observadas as normas gerais de direito financeiro

público”.

São inúmeras as vantagens de uma gestão democrática, dentre muitas pode-se

destacar : valorização e responsabilidade dos segmentos com as ações executadas na

escola; eliminação de qualquer forma de manipulação política ; criação de um ambiente

favorável às atividades e à aprendizagem; diminuição da centralização do poder , etc.

Neste sentido, o conceito de gestão é percebido como a organização dos esforços

individuais e coletivos com um intuito comum, objetivados por uma política de ação e

respeito.

Um primeiro passo para a democratização da escola pública no Estado do Ceará,

foi o processo de seleção de seus gestores, que teve início em 1995, fundamentado na

Lei no. 12.442, de 08/05/95. Em 1998, com a Lei no. 12.861 de 18/11/98, os demais

membros do Núcleo Gestor também passaram pelas provas técnicas e de títulos, e o

candidato que aspirava ao cargo na direção, além de passar por tais provas, novamente

foi escolhido pelo voto direto. A única diferença entre o processo seletivo de 1998 e

2001 foi à utilização das urnas eletrônicas no dia da votação. O processo de seleção do

Núcleo Gestor de 2004, além de cumprir com toda as normas estabelecidas em 1998, foi

marcado por mudanças respaldadas pela Lei no. 13.513, de 19/07/04, como o aumento

no tempo de gestão do diretor, que passou de três para quatro anos, além de

regulamentar a seleção específica de coordenadores e de secretários escolar, e, por fim,

a implementação do sistema anual de avaliação do Núcleo Gestor.

A escola precisa instituir um espaço de convivência democrática, neutralizando

preconceitos, discriminações e marginalização. Agir de modo que valorize cada

membro que integra a comunidade escolar, o auxiliando em sua formação como cidadão

pensante e consciente de sua realidade, segundo SILVA, 2002, p.78: “a escola tem

como tarefa sociopolítica auxiliar os indivíduos na formação e construção da

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consciência em relação ao lugar que possam ter no processo de fortalecimento da

democracia e da humanização da sociedade”.

Assim, caberá ao diretor gerir de forma com que os estudantes se sintam livres

para exercer seu papel como cidadão. Levando-se em conta que, a partir do convívio na

escola, o aluno aprenderá a viver em grupo, deverá respeitar as idéias diferentes das

suas, ouvir o que o outro tem a dizer, sem fazer intervenções pessoais, buscar integrar

tais idéias às suas. Enfim, o trabalho que se iniciará dentro da sala de aula, o fará

perceber a importância de cada segmento social, indiferente de raça, cor, religião ou

nível econômico. Mas, para isso, o ambiente escolar deverá passar ao estudante normas

de convivência que defendam a idéia de igualdade e respeito ao próximo.

Para que uma gestão se torne democrática, o primeiro passo é dar ao gestor

autonomia para administrar os poucos recursos que vêm do Estado. Não se poderá

estipular valores e produtos obrigatórios; o diretor juntamente com a comunidade

escolar, deveria eleger pontos de maior necessidade dentro do básico funcionamento da

escola, tendo com fiscalizadores seus próprios usuários, se reduzirá a distância entre os

dois pólos, gestores e alunos.

A Pesquisa

CARACTERIZAÇÃO DA ESCOLA BEM VIVER

* Características Gerais

A E.E.F.M. Bem Viver está localiza na Avenida Presidente Castelo Branco,

5244 no Bairro da Barra do Ceará.

Em 1964, aconteceu uma reunião com os moradores do bairro, juntamente com a

diretoria da Associação dos Moradores do Bairro Jardim Petrópolis, tinham como

objetivo discutir sobre a elaboração de um projeto para a construção de um Grupo

Escolar no bairro, tendo em vista a carência de escolas que atendessem o alunado na

referida região.

Fazia parte da direção: Sr. Cândido Bartolomeu Amorim, Francisco das Chagas

Pereira e Raimundo Gomes de Lima, que tomaram a decisão de formar uma comissão

para conseguir o terreno com o então Prefeito Coronel Murilo Borges.

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Após conseguirem a doação do espaço, dirigiram-se ao Secretário de Educação

do Ceará na época, Dr. Jader de Figueiredo Correia, o qual os atendeu com grande

entusiasmo e logo atendeu o pedido da comissão.

A obra, uma realização conjunta dos Governos do Brasil e Estados Unidos,

através do convênio intitulado MEC-USAID, foi construída pela SEDUC fazendo parte

do PLAMEG – Plano de Metas Governamentais, e foram gastos Cr$ 42.000,00 (

quarenta e dois milhões de cruzeiros).

A finalização da obra de construção da escola deu-se no governo do Coronel

Virgílio Távora e foi entregue à Secretaria de Educação do Ceará para que

providenciasse a instalação e posterior inauguração da unidade escolar.

A solenidade de inauguração, ao som da Banda da Polícia Militar, aconteceu no

dia 09 de agosto de 1966, às 10 horas, com a presença do Ilm.° Sr. Governador do

Estado do Ceará, Dr. Jader Figueiredo Correia e representantes das Secretarias de

Educação do Estado de Alagoas e do Maranhão e da USAID.

A convite do governador, a professora Maria Franca Bernardo foi designada para

ocupar o cargo de Diretora, função que exerceu até o ano de 1995.

EVOLUÇÃO

No início, sua estrutura física se resumia em apenas seis salas de aula. Uma sala

para diretoria, uma para secretaria, a cozinha e dois banheiros.

Na primeira administração de D. Maria Franca, foram realizados os seguintes

melhoramentos: a escola passou a ter 12 salas de aula; uma sala especializada para pré-

escolar; instalação de um gabinete dentário com unidade de aplicação de flúor e

escovódromo; implantação de atendimento médico pelo Dr. Luis Moura; construção de

uma sala de leitura, parque infantil com seis brinquedos; além da viabilização dos

serviços de assistência social, supervisão e orientação educacional.

Entretanto, excluindo os melhoramentos da parte física, os demais serviços

foram desativados a partir do primeiro governo de do Sr. Tasso Jereissati.

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Ao longo de sua história, a Escola Bem Viver, ampliou muito sua estrutura física

e conta hoje com vinte salas de aula, um laboratório de informática (desativado), um

laboratório de ciências, uma biblioteca/centro de multimeios, uma quadra poliesportiva,

uma sala para o banco de livros, uma sala para professores, uma secretaria, um depósito

destinado à merenda escolar, dois depósitos para armazenar o material pedagógico e

permanente, uma saleta para o jornal “Olho Público”, uma sala para o Grêmio

Estudantil chamado Força Jovem, uma sala para oficina de teclados, uma cantina, uma

cozinha, dois banheiros masculinos e dois femininos, quatro banheiros para professores

e funcionários.

Todas essas modificações físicas decorreram da necessidade de atender aos

anseios educacionais da população local, que ao longo destes trinta e nove anos, tem

acompanhado a evolução da oferta de cursos, iniciando com a educação pré-escolar e as

séries iniciais, passando pelo Tele-ensino até chegar ao Ensino Médio.

Cumpre destacar, que durante a vida escolar, o funcionamento foi ininterrupto.

No período de 1966 a 1995, a professora Maria Franca esteve como diretora da

escola, dedicando vinte e nove anos de sua vida como educadora ao crescimento moral

e intelectual dos estudante que fizeram parte desta unidade de ensino.

A história da educação no Ceará começa uma nova fase com a implantação da

Gestão Democrática. Após um processo direto de eleição, a professora Anita Bezerra

Silva assume o cargo de diretora, permanecendo de janeiro de 1996 até janeiro de 1998.

Neste período, foram implantados o Jornal Escolar “A CONQUISTA”, o Projeto Escola

Viva, além de ter reconhecido o Ensino Fundamental. Já de fevereiro de 1998 a

dezembro do mesmo ano, a Secretaria de Educação envia uma interventora para assumir

o cargo de direção, Sr. Maria de Lourdes Marques de Melo.

Um novo processo eleitoral conduz à direção a professora Maria Adelaide

Menezes de , desta vez trazendo consigo um Núcleo Gestor. A partir desta gestão

algumas decisões no sentido de incentivar a formação de um Grêmio Estudantil e um

Conselho Escolar são tomadas, como a construção do PPP ( Projeto Político

Pedagógico) e o Regimento da Escola, desta vez com a participação do colegiado.

Também neste período é implantado o Ensino Médio.

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Reeleita pela comunidade escolar, Maria Adelaide Menezes consegue a

construção da quadra poliesportiva, do laboratório de ciências. Além de melhorar o

espaço físico da escola.

Em 13 de dezembro de 2004, Ana Lúcia Borges, candidata única, é eleita com

97,07% (1.024 votos de um total de 1333 votos) e assume um mês depois (13 de janeiro

de 2005) a diretoria da escola Bem Viver.

Os alunos da escola estudada vêem além dos arredores da mesma, de alguns

bairros vizinhos, como Planalto das Goiabeiras, Monte Castelo, Pirambu, entre outros.

Sendo inseridos em meio a favelas, vilas, terrenos invadidos. Percebi que a clientela

apesar de morar em uma área de risco, não apresentou durante o tempo de observação

do presente trabalho, nenhum incidente relacionado á violência, consumo de drogas ou

alcoolismo. Os mesmos se mostraram educados, passivos, obedientes com professores,

coordenadores e com a gestora.

A unidade escolar funciona durante os três turnos, iniciando pela manhã às 7 h/

tarde 13 h/ noite 18:60, e encerrando respectivamente às 11h/17 h Ensino Fundamental,

11:30/17:30 Ensino Médio e no período noturno todos às 22:00. Também possui

atividades aos sábados, oferecendo oficinas, curso de dança, de inglês, aula de capoeira,

entre outras atividades. Além de socializar aos domingos, algumas salas para os

encontros do Grupo do Alcoólicos Anônimos (AA) e sua quadra poliesportiva para a

comunidade local.

A unidade escolar em questão atende um total de 2040 alunos, sendo distribuídos

da seguinte forma: 666 (seiscentos e sessenta e seis) alunos no Ensino Fundamental,

1.510 (mil quinhentos e dez) no Ensino Médio e 62 no EJA (Educação de Jovens e

Adultos).

O seu quadro de pessoal é bastante extenso, 58 professores em sala de aula, 26

funcionários e um Núcleo Gestor com: Diretora Ana Lúcia Borges , Coordenadora

Pedagógica Fátima Chaves, Coordenadora de Gestão Flávia Andrade, Coordenadora

Administrativo-financeira Antônia Gomes e a Secretária Virgínia Lima.

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Oferece para sua clientela o Ensino Fundamental de 6a, sete

a e (EJA) Educação

de Jovens e Adultos no turno da manhã, 8a. Séries e Ensino Médio no turno da tarde, e

no turno da noite Ensino Médio e (EJA) Educação de Jovens e Adultos.

A escola funciona de forma sistemática como um todo, não apresenta problemas

de cunho extraordinário como violência, uso de drogas e álcool, vandalismo, entre

outros que nos deparamos em algumas outras unidades de ensino.

No entanto, é óbvio que alguns problemas foram detectados, tais como

indisciplina em sala de aula, desrespeito a alguns professores, acesso à cantina no

horário de aula, uso inadequado dos banheiros e bebedouros, além do problema de

pichações nos banheiros masculinos.

Quantos aos resultados obtidos pela escola no período diurno durante os último

três anos, vale ressaltar o aumento significativo nos índices de aprovação, como

observa-se no quadro abaixo:

Ensino

Médio

Diurno

Aprovação Reprovação Abandono

ABS % ABS % ABS %

2010 729 55.5% 182 13.9% 403 30.7%

2011 797 53.1% 227 15.1% 477 31.8%

2012 909 70.4% 159 12.3% 224 17.3%

Outro ponto que merece destaque, é a diminuição do número de alunos que

abandonam a escola Bem Viver. Enquanto em 2010, o percentual era de 30.7%, no ano

de 2012 essa porcentagem baixou em 17.3%, indo contra a idéia de que os estudantes

estão deixando de estudar a cada ano que passa.

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Ensino

Médio

Noturno

Aprovação Reprovação Abandono

ABS % ABS % ABS %

2010 391 51.7%% 85% 11.2% 280 37.0%

2011 401 48.5% 84% 10.2% 342 41.4%

2012 442 69.2% 7% 1.1% 153 23.9%

Já nos resultados do Ensino Médio Noturno, percebe-se também que a escola

Bem Viver conseguiu diminuir o índice de abandono de forma considerável. Sabe-se

que esse no período noturno, os problemas com relação as faltas e evasão são bem

maiores. No entanto, comparando o ano de 2011, com o de 2012, constata-se que houve

um trabalho voltado para que o aluno chamado trabalhador, não abandonasse a escola.

Ensino

Fundamental

DIURNO

Aprovação Reprovação Abandono

ABS % ABS % ABS %

2010 666 76.1% 121 13.8% 88 10.1%

2011 485 65.6% 154 20.8% 100 13.5%

2012 437 69.7% 98 15.6% 92 14.7%

Ensino

Fundamental

NOTURNO

Aprovação Reprovação Abandono

ABS % ABS % ABS %

2010 - - - - - -

2011 25 32.5% 10 13.0% 42 54.5%

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2012 37 38.5% 7 7.3% 52 54.9%

Observando o quadro dos resultados do Ensino Fundamental diurno e noturno na

Escola Bem Viver, indaga-se quanto aos número obtidos. Enquanto no Ensino Médio

em geral, o índice de abandono cai a cada ano, no Ensino Fundamental ocorre o inverso.

De 2010 a 2012, o percentual de alunos que abandonaram a escola subiu, o que

demonstra uma contradição no trabalho executado entre os dois níveis de ensino.

3.1 CARACTERIZAÇÃO DA ESCOLA SANTA FÉ

* Características Gerais

Surgimento – Como surgiu a escola

Surgiu da necessidade que as pessoas desta comunidade sentiam em melhorar de

vida, dar uma educação para seus filhos, de ter onde deixá-los durante o dia para

poderem trabalhar. Uma necessidade sócio-econômica particular a esta comunidade.

Autorizada pelo Parecer 17546/85 e credenciada pelo parecer Nº 814/2005 do

Conselho de Educação do Ceará (CEC) , funcionando em prédio próprio, situado à rua

10, s/n, Conjunto João Paulo II, na cidade de Fortaleza, Ceará.

Evolução – Como era e como está atualmente a Escola.

No seu primeiro ano de funcionamento (1986) contava com 4 (quatro) salas de

aula e 481 (quatrocentos e oitenta e um) alunos. Tendo como sua primeira diretora a

Profª Maria da Conceição Sampaio de Oliveira e vice-diretora, a Profª Ana Valcíria

Bezerra Cavalcante Uchoa.

Em 1990 assumiu a direção da escola, a jovem Profª Maria das Graças dos

Santos, nomeada pelo então Gov. Tasso Jereissati, contando coma parceria da Profª

Maria Margarida de Morais como vice-diretora e Susana de Paula Dantas como

secretária; esta, no exercício desde o início de funcionamento da escola.

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Em 1996, com o processo de democratização da gestão na escola pública, a

Profª Maria das Graças dos Santos, foi escolhida por toda a comunidade escolar, eleita

por votação direta e unânime, onde passou a dirigir a referida escola, assessorada pelas

adjuntas: Maria Zuleica Brasil Silva e Rose Mary Xavier Moreira e a secretária Maria

Marlene dos Santos Muniz que juntas iniciaram uma árdua batalha.

A escola crescia gradativamente em número de matrículas, na qualidade de

ensino e conseqüentemente na diminuição da evasão.

Foram muitos os pontos positivos na evolução do crescimento da escola. A

relação aberta entre a comunidade e a escola, demonstrava a preocupação em trazer a

família para dentro da escola, proporcionando um relacionamento muito próximo com a

participação dos pais.

Visando maior integração das comunidades internas e externas da escola, foi

criado um conselho escolar, que vem apoiando a gestão democrática na realização de

seu projeto político-pedagógico. Atuando com a presidente Maria Luciene Barbosa

Lelis.

Em 1998, reeleita pela comunidade escolar, continuou a frente da direção, a

competente e respeitável Profª Maria das Graças dos Santos, desta vez com um novo

grupo gestor selecionado por critérios estabelecidos pela SEDUC, como : prova de

títulos,prova escrita e entrevista.

Fazendo parte do núcleo gestor como Coordenadora Pedagógica Maria Josecira

Peixoto Uchoa , como Coord. Financeira Lúcia de Fátima Camboim Mendes e como

secretária Maria de Fátima Bezerra Farias. Todas comprometidas com uma educação de

qualidade.

O estabelecimento de ensino, já pode se prevalecer de um quadro demonstrativo

e progressivo de 13 (treze) salas de aula, 1.430 alunos, matriculados no ensino

fundamental de 5ª a 8ª séries, III e IV ciclos e 1ª, 2ª e 3ª do ensino médio, Educação de

Jovens e Adultos – EJA – 1º e 2º Segmentos e também TAM (Tempo de Avançar

Médio)

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Os professores estão organizados por estas modalidades de ensino como

também coletivamente por projetos juntos com os alunos, pais e direção no sentido de

melhorar o processo ensino-aprendizagem.

No que se refere ao relacionamento, pode-se dizer que a escola procura

promover um trabalho diversificado e condizente com o contexto em que a mesma se

insere. Ficando então, a relação professor x aluno x direção de forma respeitosa e

amigável buscando sempre educar para a cidadania.

Registramos avanços bastantes significativos no início do ano 2000 como a

Criação do Centro de Multimeios, onde funciona,sala de vídeo, sala de leitura e

biblioteca.

Em 2004, ocorreu nova seleção para o grupo gestor, onde a professora Maria

Paula Lisboa foi aprovada e eleita pela comunidade para assumir a direção da escola.

Em janeiro de 2005 assumiu juntamente coma Secretária Amélia Freitas do

Carmo e o Coordenador pedagógico Manuel Nóbrega Pereira, estando a escola ainda

com a Coordenadora Financeira Expedita Batista Santos.

No início da nova gestão, a escola foi contemplada com uma reforma geral, o

que tomar seu espaço mais atrativo e confortável para todos que fazem a Escola Santa

Fé.

Segundo Expedita Santos, atualmente a escola apresenta uma equipe de 54

funcionários conscientes dos seus direitos e deveres e o senso ético profissional, dentre

eles, professores graduados, especialistas, treinados e comprometidos coma educação.

De acordo com o Regimento Interno da escola, a principal meta trabalhada nesta

gestão tem sido no sentido de resgatar um ensino público de boa qualidade para todos,

formando cidadãos conscientes dos seus direitos e deveres, mas principalmente no

sentido de resgatar a sensibilidade ao dever cívico e moral com a nação, contribuindo

para uma sociedade brasileira digna e respeitada.

A escola Santa Fé, funciona de forma bastante tranqüila e organizada. Se

ambiente interno está sempre limpo e muito bem cuidado. Claro que, a reforma em

2005, contribuiu para que sua estrutura física ficasse impecável. No entanto, há um

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trabalho constante para a manutenção do patrimônio escolar. Segundo a auxiliar de

serviço Maria das Graças Ribeiro, o Núcleo Gestor promove atividades que valorizam a

limpeza, como a Gincana 5S. A mesma afirma que : “nosso trabalho é facilitado por

conta do controle que há na limpeza geral da escola, além de ter aqui, uma

administração voltada para o bem estar de todos ”

Durante o período de observação, nenhum incidente grave ocorreu na instituição

de ensino. Somente eventos normais em qualquer escolar, como atrasos de alunos,

discussões entre os mesmos, etc.

Percebe-se que a disciplina é um ponto forte da escola, visto que os

componentes do Núcleo Gestor, estão sempre transitando entre as salas de aula.

Analisando os resultados disponibilizados pelo Coordenador Pedagógico

Manuel Nóbrega Pereira, nos quadros abaixo :

Ensino

Fundamental

Aprovação Reprovação Abandono

ABS % ABS % ABS %

2010 770 69% 215 19% 132 12%

2011 725 70% 143 14% 172 16%

2012 556 78% 124 18% 26 4%

Ensino

Médio

Aprovação Reprovação Abandono

ABS % ABS % ABS %

2010 77 54%% 4 3 61 43%

2011 127 82% 10 7 17 11%

2012 153 83.6% 3 1.63 27 14.75%

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Constata-se que no Ensino Fundamental o índice reprovação aumentou de 14%

em 2010, para 18% em 2011, o que reflete de maneira negativa no trabalho realizado

pela escola. Já os índices de abandono diminuíram consideravelmente, demonstrando

assim o aumento do número de alunos que iniciaram e concluíam o ano letivo.

Já no Ensino Médio, houve um aumento considerável no percentual de

abandono, de 2011 para 2012. O que demonstra uma disparidade de resultados frente

aos dois níveis, dentro da mesma instituição.

3.2 AS RELAÇÕES INTERPESSOAIS DA ESCOLA “BEM VIVER’’

É de grande importância para a escola que todos os segmentos consigam se

relacionar de forma amigável e tranqüila. O sucesso de qualquer trabalho realizado

depende do modo como as pessoas que o fazem se relacionam, pois dentro de qualquer

ambiente percebem-se as diferenças de opinião, atitude e interesse.

É possível observar que a questão do poder pode afetar diretamente as relações

entre os membros que compõem a escola, visto que a figura do gestor está relacionada à

obediência, ao autoritarismo e à fiscalização, o que, muitas vezes, pode interferir na

aproximação do mesmo com os demais participantes da comunidade escolar.

Sabe-se que a sociedade está moldada pela hierarquia, seja na família com a

figura do pai, ou no meio profissional com o chefe que comanda e dá as ordens e até

mesmo no grupo de amigos que tende a ter uma pessoa que coordene as atividades que

serão realizadas. Como afirma REZENDE,1995,p.37: “Ter poder e submeter-se a ele

cobrem as preocupações e obsessões dos seres do nascimento à morte, pois todo grupo

social pode ser considerado como um feixe de relações de poder”

Logo, a submissão ocorre em diferentes meios e os indivíduos estão

acostumados a aceitar uma centralização do poder na mão de uma só pessoa, que toma

as decisões e define o rumo de todos os envolvidos.

Dentro da maioria das escolas, o gestor ainda é a figura que detêm o poder, cabe

a ele determinar qual será o caminho a ser traçado e quais estratégias serão viabilizadas.

A participação de professores, alunos, funcionários, pais e comunidade é restrita e

conduzida de acordo com a necessidade imposta pela direção.

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Entretanto, percebe-se que algumas entidades escolares começam a sentir a

necessidade da participação mais ativa dos demais segmentos. Aos poucos a direção

inicia o processo de envolvimentos de alunos, pais e professores na tomada de decisão,

visto que os problemas detectados dentro da escola estão relacionados diretamente ao

convívio em sociedade.

É fundamental se pensar no bem-estar dos alunos, não se deve organizar o

processo de ensino-aprendizagem visando apenas o que for conveniente para a direção.

As normas estabelecidas devem ser traçadas no coletivo, buscando envolver todos os

que fazem a educação dentro da escola. Desta forma, as regras não serão impostas e sim

discutidas, analisadas e votadas.

Apresenta-se a seguir o resultado das visitas feitas nas escolas Bem Viver e

Santa Fé. Expõem-se as considerações feitas após entrevista com alunos, pais,

funcionários, professores, Núcleo Gestor e comunidade local. Além de expor às

respostas das gestoras frente a uma série de perguntas aplicadas através de um

questionário (em anexo) .

Assim, as observações foram divididas de acordo com as relações interpessoais

existentes nas escolas.

Diretora e Funcionários

A relação entre a gestora e os funcionários da escola, parece dar-se de forma

muito harmoniosa. Nota-se uma cumplicidade e uma amizade bastante profunda. Há um

grande respeito pela pessoa da diretora na escola Bem Viver. Entretanto, a mesma

considera que alguns funcionários fazem “corpo mole”, mas segundo ela isso se dá por

conta da quantidade de serviço a ser executado e a carência de pessoal para fazê-lo.

Durante o período de observação, foi constatada algumas vezes a insatisfação da

diretora quanto à limpeza da escola. Segundo ela, alguns funcionários sabem que

precisam fazer algo, mas esperam que ela ou a coordenadora financeira dê a ordem, o

que a deixa muito triste, já que não quer ser vista como autoritária.

A funcionária Consuelo declara que : “a diretora é muito boa, entende a gente,

trata todo mundo com muito carinho”. Já o funcionário Luiz Felipe afirma que “apesar

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de às vezes ela ser meio ansiosa, nunca maltratou ninguém, é como se fosse de uma

mãe de família, de uma dona de casa”.

Segundo a funcionária Mara “os funcionários dispõem de materiais adequados

que permitem realizar suas atividades e a gestora orienta e presta assistência quando

necessário.” Porém, a mesma reclama da falta de cursos de capacitação, mas deixa

evidente que não depende da direção e sim da Secretaria de Educação.

De acordo com o relato de alguns funcionários, a participação nas ações se dá de

forma regular, pois na tomada de decisões administrativas e pedagógicas eles nem

sempre são consultados. O que se constata na afirmação da merendeira Irene “ sinto

falta de reuniões periódicas, de consultas antes de executarem algumas ações, as

“coisas” já chegam pra gente resolvidas, sem pedir nossa opinião”

Diretora e Alunos

A relação entre a diretora e os alunos não se dá de forma muito tranqüila, há uma

certa distância entre os mesmos. Segundo a gestora, isso acontece porque é ela que pune

os que não seguem as regras da escola, seja aplicando expulsões, solicitando a presença

dos pais, ou até mesmo assinando a transferência do aluno.

Segundo alguns discentes, a direção não procura abrir um diálogo para discutir

sobre os problemas da escola. Simplesmente impõe regras e pune quem não as cumpre.

O aluno Pedro Antônio pensa que o relacionamento da diretora com os alunos deveria

ser mais cordial:

Acho que a Ana Lúcia devia falar mais com a gente, ela

também deveria procurar mais gente, muitos colegas meus

acham que ela grita demais com eles, pior do que as próprias

mães.

Mas também há alunos, como Paula, que defendem a postura da gestora :

Creio que ela só reclama daquilo que está errado, briga com

aqueles que querem bagunçar na sala ou quebrar alguma coisa

na escola.

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De acordo com a posição de alguns professores, a diretora muitas vezes perde a

paciência com os estudantes indisciplinados, usa a transferência como forma de ameaça

e punição. Entretanto, outros professores acreditam que os próprios docentes usam a

imagem da direção para ameaçar os alunos e os fazerem se comportar na aula.

De forma geral, percebe-se que os alunos ainda não estão satisfeitos com sua

participação na tomada de decisão da escola, pois, segundo os mesmos, a direção não os

consulta para executar nenhuma atividade.

A gestora se defende afirmando que no Conselho Escolar o aluno tem sua

representação e, através desta, vota e participa ativamente das decisões tomadas. No

entanto, segundo a aluna Aline Silva:

Faltam atividades que aproximem os alunos do Núcleo Gestor,

só temos contato com alguém de lá quando fazemos algo

errado ou quando precisamos ir pra casa mais cedo.

Diretora e Pais/Comunidade

A convivência da diretora e os pais de aluno é bastante cordial, porém, há pouco

contato entre eles. Há somente uma reunião bimestral e esta serve basicamente para a

entrega de notas. No entanto, a gestora se mostra sempre disponível para recebê-los em

qualquer situação pertinente.

Quando o aluno é indisciplinado na sala de aula, o pai ou mãe é chamado para se

inteirar do acontecido e ser avisado da possibilidade de transferência caso o problema se

repita. Todavia, durante a conversa com alguns pais, ficou claro que os mesmos

concordam com a forma disciplinar que a direção trabalha, apóiam a gestora no controle

da ordem e da disciplina.

De acordo com a mãe Lucinda Paiva: “o ponto forte da escola é a disciplina,

pois o estudante deve ter responsabilidades e cumprir regras desde cedo”. Já o pai

Manoel Alves acredita que, “ somente com uma postura firme, a diretora conseguirá

manter o controle sobre os alunos”

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Em relação à comunidade do bairro, Ana Lúcia está sempre disponível em ceder

a escola para qualquer tipo de evento: com atividades esportivas, festas, velórios,

casamentos, a única exigência feita por ela é que seja tudo organizado com antecedência

para que possa se inteirar de toda a programação e do público que irá visitar a escola, já

que a mesma responde pela estrutura física e organização da instituição.

Há também encontros da comunidade com integrantes do AA (Alcoólicos

Anônimos), que se reúnem uma vez por semana e utilizam algumas salas ou o pátio

central.

Outra forma de contato com a comunidade local e com os pais, é através de

algumas festas temáticas, como São João, Pais, Mães, Natal, pois, a escola convida

todos a participarem de atividades voltadas para estimular um contato mais direto e

tranqüilo entre ambos.

Diretora e Professores

A diretora Ana Lúcia afirma que não há conflitos entre ela e os professores. As

decisões são tomadas em grupo, a opinião dos mesmos é considerada fundamental para

o gestor, que afirma não conduzir a escola de maneira arbitrária ou individualista.

Nota-se, entretanto, que embora a relação com a maioria dos professores seja

ótima, alguns consideram que a direção se preocupa em atender primeiro às exigências

da Secretaria de Educação, deixando em segundo plano a preferência dos demais

segmentos.

A partir de depoimentos de alguns docentes, percebe-se que a atual gestão se

baseia muito no trabalho da gestão anterior, tida como muito eficiente no que se refere à

disciplina e ao controle tanto dos alunos quanto dos professores.

A professora Maria Luzia afirma:

a diretora trata a todos com muito respeito e atenção, está

sempre disposta a ajudar, preocupa-se com o bem-estar dos

professores e se mostra aberta ao diálogo.

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Já o professor Lúcio Mauro declara que, muitas vezes, se sente inferior aos

demais, pois não cumpre de forma rigorosa o horário e, algumas vezes, tem necessidade

de faltar às aulas. Segundo ele, o gestor “bajula” e é mais disponível para aqueles que

não faltam e não chegam atrasados.

A diretora revela-se uma pessoa cumpridora dos deveres e, algumas vezes,

rigorosa para que os outros também os cumpram. No seu discurso, afirma que é muito

pontual nas prestações de contas e não deixa de entregar nenhum relatório em dia. Até

mesmo quando tem reuniões ou precisa se ausentar da escola para trabalhar em outro

setor do Estado, se sente na obrigação de informar aos professores e funcionários o

motivo de sua ausência. O que para muitos é totalmente dispensável, já que todos sabem

que o trabalho do gestor não é exclusivamente dentro da escola.

A professora Maria Luzia, refere-se ao rigor da diretora como um aspecto

positivo:

A disciplina de Ana Lúcia reflete de forma positiva nos demais

segmentos, pois pra mim um lugar organizado trabalha de

forma mais eficiente e correta.

Foi constatado que o ponto de maior destaque da gestora foi no que se refere ao

acompanhamento da disciplina dentro da sala de aula, pois, todos os professores se

sentem apoiados na execução da ordem e da organização em classe. Visto que a direção

não admite desrespeito aos professores e pune severamente os alunos que não seguem

às normas da escola.

Além da conversa com alguns professores, foi aplicado um questionário para

analisar o contato deles com a direção. Na maioria das respostas, ficou claro que o

trabalho da gestora é tido como apoiador e organizador. Que a mesma promove

atividades em equipes e auxilia o processo pedagógico sempre que é requisitada.

No que concerne ao relacionamento da diretora com os professores, percebeu-se

que alguns não se sentem à vontade para se aproximar da mesma: mesmo esta se

mostrando aberta ao diálogo, para eles há uma barreira entre os mesmos.

Já alguns professores, acreditam que a direção deveria promover atividades que

integrassem os pais à vida escolar dos filhos, pois apenas uma reunião para entregar

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notas não estimula a participação dos mesmos. Como relata o professor Carlos Alberto,

" as normas impostas pela SEDUC são cumpridas com muito rigor e orientação, no

entanto, percebemos a necessidade de incrementar no nosso dia-a-dia momentos de

discussão e debates entre todos os segmentos, principalmente, trazendo os pais mais

para dentro da escola"(Ver questionários em anexo).

Em muitas escolas, há uma divisão entre os que são a favor da direção e os que

são contra, porém, na escola Bem Viver não se constata tal problema, lógico que alguns

professores não estão totalmente de acordo com algumas decisões tomadas, mas

procuram através de discussões com o Núcleo Gestor chegar a um consenso.

Na opinião do Núcleo Gestor, os professores têm domínio do conteúdo que

lecionam, possuem uma boa metodologia de ensino e são considerados muito

competentes.Com isso, observa-se que, em geral, o gestor consegue se relacionar de

forma amigável e tranqüila com quase todos os docentes da escola, procurando trabalhar

de forma democrática e integrada.

Diretora e Demais membros do Núcleo Gestor

O relacionamento entre todo o Núcleo Gestor é harmônico e integrado. O

trabalho desenvolvido por Ana Lúcia é amplamente apoiado pelas demais

coordenadoras Flávia Andrade, Antônia Gomes e pela secretária Virgínia Lima .

Segunda a diretora, cada membro do grupo tem autonomia para desempenhar

sua função, não necessitando envolvê-la diretamente em qualquer decisão que julgar

tomar. As pessoas que a auxiliam no comando da escola são altamente responsáveis e

comprometidas com o sucesso do trabalho escolar.

De acordo com a Coordenadora de Gestão Flávia, as decisões tomadas nunca

partem somente da gestora, mas é acompanhada por todas as integrantes do grupo

gestor, e posteriormente, á comunidade escolar. Ratificando o que disse Flávia, a

Coordenadora Financeira declara que :

Ana Lúcia não centraliza o poder em sua mãos, se reúne

sistematicamente com outros segmentos para chegar a uma

solução coerente.

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Já a Coordenadora Pedagógica comenta que:

No início do meu convívio com Ana Lúcia tivemos alguns

pontos divergentes, agora no entanto, sentamos e discutimos a

melhor forma de se solucionar determinados problemas, apesar

de nem sempre termos a mesma visão do assunto.

O que fica nítido no relacionamento do Núcleo Gestor, é a preocupação de

executar as incumbências que lhes são dadas. Cada integrante conhece seu trabalho e

procura exercê-lo da forma mais competente e correta. Fica evidente, porém, a questão

da hierarquia, pois todas sentem a necessidade do aval da gestora na finalização suas

atividades.

AS RELAÇOES INTERPESSOAIS DA ESCOLA “SANTA FÉ”

Diretora e Funcionários

O relacionamento entre a direção e os funcionários da escola Santa Fé se dá sem

atritos ou problemas. Segundo a diretora Maria Paula, normalmente, o trabalho deles é

executado de forma adequada, muito raramente ela precisa intervir. Somente quando

sente que alguns se “escoram” em outros é que intervém para não gerar conflitos entre

eles.

Como os funcionários pertencem a uma prestadora de serviços, a diretora deixa

clara a necessidade de um bom desempenho por parte deles, já que são avaliados de

acordo com a execução de seu trabalho. No entanto, Maria Paula afirma que, em

nenhum momento, os ameaça usando esse argumento, apenas ressalta a importância do

reconhecimento deles por parte dos usuários da escola.

A funcionária Joelma Sales relata que:

A gestão atual melhorou as condições de trabalho, nunca tinha

visto tantos benefícios, desde que cheguei aqui, a gestão

passada deixava muito a desejar

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Já o zelador Luis Eduardo diz que Maria Paula os trata com grande respeito e

atenção, valorizando cada dia mais o esforço de todos os funcionários na execução de

suas tarefas.

Diretora e Alunos

É muito tranqüila a relação entre a diretora e os alunos da escola Santa Fé.

Observa-se uma facilidade de diálogo e um espaço adequado para atendê-los quando

necessário.

Maria Paula mostra-se disponível para receber os estudantes em sua sala, seja

para ouvir reclamações, atender a pedidos ou até mesmo para ouvi-los simplesmente.

Claro que em certas ocasiões, a gestora precisa impor sua autoridade, como em casos de

desrespeito a professores ou degradação do ambiente escolar. Todos os problemas de

disciplina dentro da escola são informados não só à direção, mas também aos membros

do Núcleo Gestor, pois segundo a diretora :“os demais membros do Núcleo Gestor têm

autonomia para repelir qualquer tipo de atividade que esteja fora do padrão da

escola”. No entanto, somente ela tem o poder de transferir um estudante caso o mesmo

seja reincidente em algum desvio de conduta.

Segundo a secretária, a escola em geral somente tem problemas com aqueles que

não respeitam professores ou fogem dos padrões necessários para uma boa convivência.

No mais, a diretora consegue lidar sem discussões ou atritos com os alunos.

De acordo com o relato da aluna Cássia Tavares :

Maria Paula transformou a escola Santa Fé, tanto na estrutura

física quanto na disciplina, hoje me sinto muito bem quando

entro aqui, diferente de antes que era tudo muito

desorganizado e nunca a gente se encontrava com a diretora.

Já o aluno Carlos André declara:

Sempre que sinto vontade vou lá na sala dela e falo o que está

me incomodando, não tenho mais aquela visão de que a

diretora é um bicho papão.

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Na opinião do estudante Bruno Silva:

A merenda nunca foi tão boa, agora temos uma comida de boa

qualidade e muito variada, além de ser tudo muito limpo e

organizado.

Maria Paula enfatiza que o trabalho dos professores ajuda muito no convívio

geral da escola, pois a disciplina que é trabalhada em sala de aula reflete diretamente no

relacionamento deles com o Núcleo Gestor e com os próprios colegas.

Diretora e Professores

O convívio diário de Maria Paula com a congregação de professores é bastante

tranqüilo, nota-se a preocupação da mesma com o bem-estar de seus subordinados.

Ficou evidente o esforço da gestora em atender a todas as solicitações que lhe foram

passadas, além de uma constante participação dos profissionais na preparação das

atividades escolares.

Após uma conversa com um determinado grupo de discentes, compreende-se que

a interação com o Núcleo Gestor se faz desde a elaboração de um documento como o

Projeto Político Pedagógico até no que concerne a compra de material de expediente.

De acordo com Maria Paula :

Os professores, cada um em sua área, são possuidores de

conhecimentos específicos, o trabalho coletivo dessas

diferentes especialidades na escola, é que provocará

mudanças.

Após uma análise do questionário aplicado a alguns professores, ficou constatado

que o processo de tomada de decisões é feito com o envolvimento de todos os

segmentos da escola Santa Fé. Não só através do Conselho Escolar, mas também com

reuniões periódicas para saber a opinião dos demais integrantes da unidade escolar.

Outro ponto positivo identificado, foi o acompanhamento feito pela gestora nos

resultados obtidos pelos docentes em sala de aula, não como fiscalizadora mas como

apoiadora de trabalho.

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A professora Cândida Passos fala :

Nunca trabalhei em uma escola onde houvesse uma

preocupação com o desenvolvimento da atividades em sala,

acho que o apoio dado pela gestão atual, nos estimula e nos dá

mais força para conseguir vencer as dificuldades da profissão.

Não foi constatada nenhuma divisão de opiniões sobre Maria Paula, todos os

entrevistados foram unânimes em relatar o bom trabalho desenvolvido por ela, não só

na parte física da escola, mas no relacionamento entres os diversos participantes do

processo de ensino.

Um dos professores relata que:

Acho que Santa Fé só tem essa boa estrutura graça ao enforco

permanente de Maria Paula, pois ela passa dias atrás de

melhoria para nossa escola. Claro que não está totalmente

perfeito, pois a disponibilidade de recursos não está nas mãos

da gestão e sim da SEDUC, que muitas vezes deixa as

entidades sofrerem um verdadeiro caos.

Já a secretária, afirma que:

Hoje não falta material necessário para se trabalhar aqui, os

recursos estão sendo bem administrados, não passamos mais

pelo sufoco de antes, quando não tínhamos nem papel para

expedir algum documento. Agora os gastos são feitos de acordo

com a necessidade real da escola.

A gestora acredita que o bom relacionamento com os professores se dá pelo fato

de ter sido a Coordenadora Pedagógica na gestão passada.

Acho que pude ter um contato direto com a maioria deles, desta

forma conheço suas maiores dificuldades e tento ajuda-los da

maneira mais direta possível. Estando como gestora dou o

espaço necessário para que os docentes cheguem até mim e

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possam discutir uma melhor solução para os problemas

encontrados na sala de aula.

Diretora e Pais/Comunidade

O relacionamento entre a gestora e os pais da Escola Santa Fé é bastante sereno,

sobretudo nas reuniões para entrega de notas e nas visitas durante o período letivo.

Para manter a disciplina e o controle, a diretora convoca os pais do aluno, quando

detecta algum problema de indisciplina ou degradação do ambiente físico. Ela costuma

dizer que somente com ajuda da família poderá abrir um canal de diálogo e

compreensão.

A Sra. Maria Socorro, mãe de aluno, parabeniza o trabalho de Maria Paula,

dizendo:

Todas as vezes que meu filho chega cedo em casa, procuro a

escola para saber o motivo e sou muito bem recebida por ela,

que me explica o que aconteceu com muita paciência e calma.

O Sr. Marcos Paulo, pai de aluno, aponta a melhoria da estrutura física da escola

como uma das conquistas da gestão :

Acho que com uma escola mais bonita e organizada, os alunos

estudam com mais vontade, a diretora soube mostrar que

apesar de ser pública tem uma estrutura parecida com

qualquer particular .

Por ser a única do bairro, a escola Santa Fé é bastante requisitada pela

comunidade, seja para torneios esportivos, festas ,feiras, casamentos ou até mesmo

velórios. Segundo Maria Paula, todas as atividades podem ser realizadas caso haja uma

programação antecipada e que uma pessoa adulta seja responsável pela segurança e

limpeza da escola.

Além dos eventos esporádicos, na entidade escolar funciona o atendimento do

AA ( Alcoólicos Anônimos) para a comunidade local. As reuniões são realizadas uma

vez por semana e utilizam as salas de aulas para executarem seus trabalhos.

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Outro forma de contato com a comunidade local e com os pais, é através de

algumas festas temáticas, como São João, Pais, Mães, Natal. Pois a Escola Santa Fé,

convida a todos a participarem de atividades voltadas para estimular um contato mais

direto e tranqüilo entre ambos.

Diretora e Demais membros do Núcleo Gestor

A Escola Santa Fé, além de Maria Paula na direção, conta com Expedita Batista

Coordenadora Financeira, Manuel Nóbrega Coordenador Pedagógico e Amélia Freitas

como Secretária.

A diretora afirma que seu grupo de trabalho é bastante unido e eficiente. Segundo

ela, seu trabalho na direção não seria o mesmo se não tivesse o apoio dos colegas do

Núcleo Gestor, “ consigo resolver todos os problemas administrativos fora da escola,

sem me preocupar com o andamento das aulas, porque sei que conto com pessoas

altamente profissionais e experientes no Grupo Gestor”

Pelos depoimentos dos integrantes da escola, observa-se que há uma grande

parceria entre a gestora e o Núcleo Gestor. Todas as decisões que precisam ser tomadas

têm a participação do grupo. Através de reuniões semanais, os problemas da escola são

discutidos e solucionados, com muito diálogo e união.

O Coordenador Pedagógico aponta uma das principais qualidades de Maria

Paula:

Ela nos deixa trabalhar com autonomia, não nos sentimos

sozinhos na tomada de decisões, entretanto, não há abuso de

poder quando decidimos algo. Claro que temos um respeito por

sua opinião, mas através de uma boa conversa sempre

conseguimos chegar a um acordo em conjunto.

Expedita Batista, Coordenadora Financeira expõe que todos os recursos que

chegam a escola são declarados nas reuniões do Conselho Escolar e a partir do que ficar

acertado, posteriormente será prestado contas. A mesma acrescenta que :

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Nossa prestação de contas é em dias, nunca atrasamos a

entrega no CREDE, pois além de ser bloqueado nosso credor,

corremos o risco de não receber mais verbas para a escola.

Amélia Freitas diz que Maria Paula, sempre se trabalhou de forma correta como

Coordenadora Pedagógica e foi através de seu trabalho na gestão que a motivou a apóia-

la durante o período de eleições para gestor. A mesma acrescenta que os problemas

pontuais são levados aos membros do Núcleo Gestor, que se reúnem e tomam uma

decisão em comum. Já os que podem ser mais bem analisados são levados às reuniões

do Conselho Escolar, que na Escola Santa Fé, se mostra muito atuante.

O que se percebe é um grande empenho de todos os integrantes do Núcleo Gestor

na execução de suas atividades, além de demonstrarem um grande prazer de trabalhar na

escola Santa Fé.

Assim, ao analisar-se o convívio diário em cada instituição pesquisada, percebe-

se que na escola Santa Fé o relacionamento entre a gestora e os demais segmentos é

bastante passivo e positivo. E a participação se dá de forma mais visível e produtiva.

Já na escola Bem Viver, as relações nem sempre se dão tranqüilamente, em

alguns momentos há atritos e divergências. E a interação dos integrantes é ainda muito

tímida, pois não há atividades que incentivem um contato mais direto entre os alunos e

os demais membros da comunidade escolar.

Diante disso, percebe-se que as formas de relacionamento em cada instituição

estão relacionadas à execução das atividades. Na escola onde as relações se dão sem

atritos os objetivos que são traçados são mais facilmente alcançados, visto que o grupo

se sente mais próximo da gestora e consegue expor suas idéias e críticas abertamente.

Ao contrário do que ocorre na escola onde as relações são mais difíceis, compreende-se

que ao encontrar resistência, o aluno não se sente à vontade para participar das

atividades escolares, sejam estas dentro ou fora da sala de aula e conseqüentemente não

vê dentro da instituição o caminho para buscar seu desenvolvimento pessoal e

profissional.

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ANÁLISE DOS RESULTADOS

Após a pesquisa de campo realizada nas escolas Santa Fé e Bem Viver, fica

evidente a importância do gestor na mediação das relações interpessoais da comunidade

escolar. Suas ações são determinantes para o desenvolvimento do trabalho de cada

membro da comunidade escolar.

Percebe-se que na escola Santa Fé as relações se dão de forma mais harmônicas

e serenas, o que favorece o trabalho do Núcleo Gestor. Visto que há um melhor

envolvimento durante as tomadas de decisões, possibilitando uma identificação maior

do grupo com as atividades desenvolvidas.

Entretanto, na escola Bem Viver o cenário muda consideravelmente, pois como

alguns membros não se sentem acolhidos pela direção, não facilitam seu trabalho no que

tange a tomada de decisões.

Neste sentido, é evidente que o gestor precisa criar meios de integração na

comunidade escolar. Viabilizando espaços, atividades e debates em torno do trabalho

em grupo, buscando aprimorar sua liderança através de atitudes democrática e coletivas.

Assim, é notório que na escola Santa Fé, onde há autonomia, respeito e

integração dos segmentos o processo de ensino-aprendizagem se dá com mais

entusiasmo e motivação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho analisou as relações interpessoais em duas escolas públicas

estaduais, enfatizando o papel do gestor como mediador dos demais segmentos da

comunidade escolar.

Apresentou ainda um breve histórico do trabalho deste profissional, durante a

história da educação no Brasil.

Destacou-se ainda, algumas ações relacionadas ao avanço educacional: as

reformas, as constituições que trouxeram mudanças positivas, os primeiros sinais de

participação popular, como o Manifesto dos Pioneiros da Educação, além da

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promulgação da LDB – que enfatizou a importância dos professores dentro do contexto

escolar.

Logo, durante a pesquisa, constatou-se que os gestores encontram muitas

dificuldades para exercerem suas funções, tais como: escassez de recursos financeiros,

falta de pessoal qualificado, deficiência na estrutura física e material, falta de autonomia

frente às normas impostas pelo Governo, além do excesso de trabalho burocrático que

diminui o tempo para uma maior dedicação no processo pedagógico.

No entanto, pode-se afirmar que mesmo com muitos empecilhos, os gestores que

mantêm parcerias com os demais segmentos, conseguem administrar com mais

eficiência e objetividade o processo de ensino-aprendizagem.

É evidente que, não cabe somente ao gestor encontrar soluções que possibilitem

o êxito do educando. A comunidade escolar deve fazer parte de todas as ações

executadas na escola. Entretanto, é função do diretor criar meios para que os segmentos

participem ativamente da vida escolar. Ele deverá aliar-se principalmente ao corpo

docente para que os professores conscientizem os estudantes de seu papel do estudante

no contexto escolar.

Desta forma, a partir da interação entre alunos, pais, funcionários, professores,

comunidade e Núcleo Gestor, a escola poderá iniciar o processo de democratização e

conseguir ter autonomia e espaço na sociedade atual.

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