o papel da consciência em face dos desafios atuais da educação

85
1 O Papel da Consciência... Maribel Barreto

Upload: maribel

Post on 06-Apr-2016

225 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

 

TRANSCRIPT

Page 1: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

11111

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

Page 2: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

MMMMMARIBELARIBELARIBELARIBELARIBEL O O O O OLIVEIRALIVEIRALIVEIRALIVEIRALIVEIRA B B B B BARRETOARRETOARRETOARRETOARRETO

O O O O O PPPPPAPELAPELAPELAPELAPEL DADADADADA CONSCIÊNCIACONSCIÊNCIACONSCIÊNCIACONSCIÊNCIACONSCIÊNCIA

EMEMEMEMEM FFFFFACEACEACEACEACE DOSDOSDOSDOSDOS DESAFIOSDESAFIOSDESAFIOSDESAFIOSDESAFIOS AAAAATUAISTUAISTUAISTUAISTUAIS DADADADADA EDUCAÇÃOEDUCAÇÃOEDUCAÇÃOEDUCAÇÃOEDUCAÇÃO

SSSSSALALALALALVVVVVADORADORADORADORADOR - B - B - B - B - BAHIAAHIAAHIAAHIAAHIA

2005 2005 2005 2005 2005

Page 3: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

068 Barreto, Maribel Oliveira /O papel da cosnciência em face dos desafios atuais da educação / Maribel Oliveira Barreto - 1. ed. Salvador: a autora, 2005.

83p.: il.; 15x21 cm.

1. Educação - Consciência. 2. Educação - Estudo. 3. Consciência. I. Título.

133.901CDD20. ed.

1ª Edição - Salvador/Bahia, 2005.Direitos desta edição reservados à autora,

que permite e estimula a reprodução de parte do livro,desde que seja citada a fonte.

Page 4: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

A educação integral é a demonstraçãofactual do avanço do sistema de

educação hoje tido como oficial. Ela, narealidade, representa o novo estágio da

humanidade, caracterizado pelo novoestado de consciência do Ser Humano.

(A Arca, II.13:3389)

Page 5: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação
Page 6: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

66666

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

AGRADECIMENTOS

A DEUS,A DEUS,A DEUS,A DEUS,A DEUS,Pela nossa gratidão de existir...

A Mãe, Mestra e Serva NAA Mãe, Mestra e Serva NAA Mãe, Mestra e Serva NAA Mãe, Mestra e Serva NAA Mãe, Mestra e Serva NATUREZA,TUREZA,TUREZA,TUREZA,TUREZA,Pela dedicação e zelo, pelas orientações claras,seguras e definitivas, bem como pela doação doselementos básicos, fundamentais, necessários àsnossas concepções, elaborações e realizações.

A todos os SERES HUMANOS,A todos os SERES HUMANOS,A todos os SERES HUMANOS,A todos os SERES HUMANOS,A todos os SERES HUMANOS,Por nos proporcionarem asexperiências do dia-a-dia que nosoportunizam alcançar o valor real dasrelações - porquanto ninguém viveisolado -, para que compreendamos “O“O“O“O“OREAL DA VIDA”REAL DA VIDA”REAL DA VIDA”REAL DA VIDA”REAL DA VIDA”.

Page 7: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação
Page 8: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

88888

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

PREFÁCIO

A reflexão sobre a construção e/ou o despertar da

consciência acompanha a trajetória da história da existência

do ser humano desde os seus primórdios. No ocidente, alguns

filósofos antes e depois de Sócrates deixaram registrados,

nos seus escritos, profundas abordagens a respeito da

importância e da necessidade do ser humano construir e

expandir um estado de consciência a serviço do cuidado com

a Vida. Heráclito, por exemplo, considerava que a todos oshomens é permitido o conhecimento de si mesmos.

Através da apropriação do direito à vivência do conhece-te a ti mesmo, Sócrates demonstrou, com a sua vida e a sua

morte, que o indivíduo tem a capacidade e o direito de construir

a potencialidade da consciência humana. Na sua obra

filosófica, Plotino consolidou a sua compreensão de que o

Page 9: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

99999

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

caminho que o indivíduo desvenda/inaugura/percorre em

direção ao seu próprio eu interior é o caminho da consciência,

que abre os portais por onde os deuses se manifestam na

autoconsciência humana. Foi o reconhecimento da

espacialidade da sua vida interior, juntamente com a ativação

do seu olho interior, vislumbrado por Plotino, que levou

Santo Agostinho a assumir a necessidade de entrar em si

mesmo para assumir a responsabilidade pela construção da

sua autoconsciência.

Nicolau de Cusa, educador-filósofo precursor das idéias

que fundamentaram a perspectiva de Copérnico sobre o

heliocentrismo, percebeu, no seu processo de autoconhecer-se,

a sua douta ignorância. A partir do mergulho no

reconhecimento da sua ignorância ontológica, além de confessar

a impotência da razão, ele evidenciou que todo ser humano

precisa compreender, no movimento de construção da

autoconsciência, os limites de sua capacidade de conhecimento

(ou os princípios da sua ignorância) e apropriar-se da liberdade

do reconhecimento socrático só sei que nada sei.

O filósofo educador Baruch de Espinosa também

reconheceu e anunciou a necessidade do despertar da

consciência do ser humano, pois verificou que quanto maiso espírito se conheça, melhor compreenderá suas própriasforças e a ordem da natureza, quanto mais compreendasuas forças ou poder, mais apto será para se dirigir a simesmo e para conhecer a existência humana.

Page 10: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

1 01 01 01010

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

Apesar de os estudos sobre a consciência humana não

serem recentes, a história evidencia que, no século XX, o

surgimento das várias abordagens da psicologia e da pedagogia

– juntamente com a perspectiva filosófica fenomenológico-

existencialista, os postulados científicos-ontológicos da física

quântica, da teoria da relatividade, da ordem implícita, das

neurociências, da biologia molecular – revelam a urgente

necessidade da construção de uma educação para o

desenvolvimento integral do ser humano, fundamentada no

estudo da consciência e direcionada para a descoberta-ativação

de diferentes possibilidades da consciência do educando e do

educador na vivência da arte de aprender ou da arte de

autoconhecer-se.

Em consonância com vários filósofos e educadores da

antiguidade, da modernidade, da pós-modernidade e da

atualidade, a educadora Maribel Barreto também compreende

que a consciência é um fenômeno que se processa nointerior do homem”. No seu livro “O Papel da Consciência

em Face dos Desafios Atuais da Educação”, ela apresenta

algumas reflexões sobre a temática da consciência na

educação. Na escrita dos seus capítulos, ela assume a sua

intenção de ouvir e atender a um apelo contemporâneopor uma educação integral, transcendendo a visão dualentre ciência e religião, a partir do estudo da consciência.

No seu diálogo com Aidda Pustilnik, Stanislav Grof e,

especialmente, com Ken Wilber, a autora, além de ressaltar

Page 11: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

1 11 11 11 11 1

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

que a consciência deve ser entendida como a totalidade da

experiência humana, evidencia a possibilidade da configuração

de uma concepção integral do ser humano alicerçada no estudo

da consciência. Fundamentada na sua compreensão de que a

consciência é uma das propriedades mais significativas damatéria em hominização e uma das mais importantesfaculdades inatas capitais do ser humano, ela sustenta que aeducação tem por finalidade auxiliar os educandos noprocesso de desenvolvimento dos estados de consciência,assim como das suas relações com a realidade e os valoresexistenciais. Na sua perspectiva, a educação deve ajudar no

direcionamento da auto-integração do ser humano, pois

compreende que todo projeto educativo responsável precisa

integrar e não afastar o ser humano de si mesmo.

Considero que a publicação deste livro, juntamente com

a ação educativa e as pesquisas desenvolvidas por Maribel

Barreto, representam uma valiosa contribuição para o

aprofundamento dos estudos e das práticas educativas

direcionadas para a construção de uma ação pedagógica a

serviço da ética do cuidado amoroso com a Vida Abundante,

também manifesta na existência dos seres humanos.

No seu conteúdo, a autora convida cada leitor a

mergulhar no porquê da sua compreensão do fato de que échegada a hora de tratarmos da consciência na práticapedagógica. Unindo a sua práxis educativa com o seu diálogo

com Ken Wilber e a construção discursiva da sua escrita a

Page 12: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

1 212121212

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

respeito da temática da consciência na educação, ela apresenta

profundas reflexões sobre a possibilidade da construção de

uma genuína ação educativa que contemple a integração das

dimensões do ser humano como um todo. Na sua

compreensão, a visão integral do ser humano deve sustentar

uma educação integral em que façam presentes tanto asignificação do subjetivo quanto do objetivo, do individuale do coletivo, do empírico externo, do interno e doespiritual unitivo. Para tanto, propõe não apenas o estudo

da consciência no ensino formal, através de diversas práticas

pedagógicas, como também a criação de um Núcleo deInvestigações avançadas da consciência em todas as

modalidades de ensino. Além disso, sugere o desenvolvimento

de uma educação integral alicerçada no estudo da consciência,

através da criação das disciplinas: Iniciação à Consciênciano âmbito da Educação infantil e do ensino fundamental,Consciência no âmbito do ensino médio e Conscienciologiano âmbito do Ensino Superior.

Noemi Salgado

Doutora em Educação

Page 13: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação
Page 14: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

1 41 41 41 41 4

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

DD

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

PARTE IPARTE IPARTE IPARTE IPARTE IA COMPREENSÃO DA CONSCIÊNCIA A PARTIR DOS FUNDAMENTOS

DA PSICOLOGIA TRANSPESSOAL

PARTE IIPARTE IIPARTE IIPARTE IIPARTE IIA CONSCIÊNCIA COMO UMA DAS MAIS IMPORTANTES FACULDADES

DO SER HUMANO

PARTE IIIPARTE IIIPARTE IIIPARTE IIIPARTE IIIO PAPEL DA EDUCAÇÃO NO DESPERTAR DA CONSCIÊNCIA

REFERÊNCIAS

Page 15: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação
Page 16: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

1 616161616

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

INTRODUÇÃO

A crise contemporânea da nossa sociedade, parece-

nos claro, está alicerçada, principalmente, no nosso descuido

ou mesmo descomprometimento com os valores morais,

éticos e estéticos elevados, demonstrados nas nossas ações

cotidianas, fazendo com que formemos, na maioria das vezes,

através, inclusive, da educação, profissionais e técnicos, mas

não seres humanos, ainda que estas pessoas possam se tornar

profissionais competentes.

Sustentamos, a minha experiência sugere, e a razão

não se recusa a aceitar, a teoria de que, para vivermos em

equilíbrio dinâmico, precisamos de moral, ética e estética

elevadas, pois, evitados os exageros, não é difícil verificar

que precisamos, sim, de moral elevada porque somos seres

humanos e, não raro, vivemos assolados pela decepção, dor

e sofrimento. Ora, se sofremos é porque estamos agindo, no

Page 17: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

1717171717

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

mínimo, incorretamente; se existe o incorreto, existe o

correto; e se existe o correto e o incorreto, então há a

necessidade de moral. Precisamos também de ética elevada,

porque nossos interesses nem sempre são,

concomitantemente, racionais, comuns e gerais; no entanto,

para que o todo viva em harmonia, os interesses individuais

devem ceder espaço para os interesses gerais. E precisamos

de estética elevada, porque, senão nada, pouco adianta ao

ser humano adquirir, cada vez mais, sabedoria e força, e não

ter beleza em suas ações.

É verificável o fato de que seres humanos sem

princípios, no mínimo, racionais, profissionais sem caráter e

sociedades sem moral, ética e estética elevadas, não são

inúteis, porquanto toda atividade é contributiva, mas são tão

fúteis quanto perigosos. Isto porque, é provadamente

verdadeira a teoria de que quando o ser humano não usa

princípios racionais como base de suas ações do dia-a-dia de

relações, usa o banal; daí demonstra haver, em si mesmo, a

falta da manifestação da consciência, em grau significativo;

por conseguinte, na sociedade, ele não só ameaça as

construções enobrecedoras conhecidas, possíveis e/ou

disponíveis, mas também, fomenta as vis.

Em virtude desse contexto, decidimos pesquisar a

temática da Consciência na educação, porquanto o nosso

interesse e preocupação refere-se à busca de uma educação

que realmente favoreça o desenvolvimento integral do Ser

Page 18: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

1 81 81 81 81 8

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

Humano nos seus aspectos físico, intelectual, emocional e,

sobretudo, espiritual, até porque nem tudo é tangível.

A tônica das discussões acadêmicas está voltada para o

estado de degeneração do planeta, o que nos conduz a pensar

que o Ser Humano, principalmente através da educação,

deve ser o alvo central desta abordagem. Assim, urgem não

só reformas e mudanças, mas também transformações nas

ações humanas. Atualmente, elas estão caracterizadas, muitas

vezes, por um egocentrismo desumanizador, portanto, sem

uma cuidadosa atenção às conseqüências de tais ações, como,

por exemplo, a descoberta da energia nuclear e fóssil para,

de maneira irrefletida, usar esse poder em detrimento dos

seres humanos, do meio ambiente, de si mesmo e, por

conseguinte, da humanidade. O uso descuidado dessas

energias sem a Consciência para uma programação plausível

por parte daqueles que têm a técnica em seu poder, vem

trazendo para o planeta conseqüências inesperadas e

negativas, mostrando que o próprio Ser Humano tornou-se

o principal produtor singular desses efeitos.

Infelizmente, o que presenciamos é a circulação de

trilhões de dólares, passando de mão em mão pelo planeta,

produzindo uma bola de neve especulativa e mostrando que

o mercado globalizado move-se segundo suas próprias regras,

muitas vezes em prejuízo das necessidades humanas.

Nossa civilização está próxima àquela situação, em que

há uma tendência à padronização estúpida e à massificação

Page 19: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

1 91 91 91 91 9

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

obrigatória, o que impõe uma perspectiva mais do que

mecânica ao Ser Humano. Nesse contexto, ele,

vagarosamente, vai sendo administrado sutilmente como um

elemento da máquina. A vida de cada um de nós vem sendo

ajustada a um mesmo ritmo, predominante, de acordo com

as ditas necessidades imediatas do todo globalizado, reduzindo

as possibilidades da constituição de individualidades saudáveis,

que possam, diante de si e do outro, tomar decisões adequadas,

pautadas em princípios morais, éticos e estéticos elevados,

até porque, nós, a humanidade e o mundo somos um, e nós

os fazemos como são e estão.

À medida que o progresso segue o seu curso, somos,

na maior parte do tempo, alimentados pela propaganda que

massifica, vendendo ideologias, crenças, idéias e esperanças,

convencendo-nos de que só seremos felizes no contexto do

consumismo, acreditando que vive melhor quem mais

consome, sem sequer nos darmos conta de que o imediatismo

causa-nos lesões inevitáveis e prejuízos quase irreparáveis,

pois ele não só traz benefícios a curto prazo, mas também

malefícios a longo prazo.

Ora, toda propaganda é, não raro, enganosa. No

fundo, ela vende algo aos seres humanos inconscientes,

prometendo livrá-los do desconforto em que vivem, por não

saberem lidar bem com as questões da existência. Tais seres

humanos pensam que ser produto do meio, e não produtor,

os salva. Eles têm a nítida visão de que o que lhes pode

Page 20: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

2020202020

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

salvar é o que vem de fora, e não de dentro; e tentar mudá-

los é como quebrá-los por dentro.

Para tais seres humanos é melhor incorporar algo do

que produzir para a sociedade. E a sociedade, enquanto

fomenta isso, demonstra que não mais ignora, mas esquece

e/ou inobserva o que é indicado pela razão, para a evolução

equilibrada do gênero humano. Daí a importância da

construção e/ou despertamento da Consciência do Ser

Humano. Visto que somos e vivemos como seres abertos,

desde o nascimento até a morte, as questões da existência

exigem ser refletidas, a ponto de seus valores serem por nós

absorvidos em grau cada vez mais significativo, para que

vivamos em equilíbrio dinâmico, portanto, relativamente

integrados com o Universo, do qual somos parte integrante.

Por outro lado, temos o Estado, que, não raro, deixa

de ser uma entidade social e passa a atuar como uma entidade

financeira, com a mesma lógica que movimenta as empresas,

com a ética da lei do mais forte, fazendo com que entrem e

saiam governos sem que a atenção devida seja dada à

coletividade humana como um todo. Por mais que as

necessidades humanas sejam conhecidas e reconhecidas, se

não forem produzidas ações significativas para reduzir as

desigualdades sociais de alcance, porque não dizer,

planetárias, nem mesmo serão reparadas injustiças sociais

históricas, para com as minorias colonizadas em tempos

passados e/ou presentes.

Page 21: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

2 12 12 12 12 1

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

É verificável o aumento amedrontador do “fosso” que

separa os países, acirrando a dependência e subordinação dos

países mais pobres aos mais ricos, reafirmando o fortalecimento

das empresas transnacionais e, principalmente, financeiras.

Estamos vivenciando o individualismo institucionalizado,

considerado como liberdade individual, o que produz

consequências, não raro, nefastas em todos os âmbitos da

vida, tais como políticos, econômicos, sociais, religiosos...

A degradação ambiental, por exemplo, cada vez mais

abrangente e inquietante pelos riscos iminentes contra a vida,

vem constituindo um desafiante obstáculo à ação de cientistas,

políticos, administradores e governantes. O problema da

degradação ambiental caminha pari passu com o próprio

processo de uso e ocupação do solo, que se apresenta de

forma desorganizada e desequilibrada em diversas partes do

mundo. Isso prova que o Ser Humano, genericamente

falando, através de suas ações destituídas de moral, ética e

estética elevadas tem, muitas vezes, agido supostamente em

favor do bem-estar de todos; no entanto, o que tem se

verificado, cada vez mais, é o aumento da onda de destruição,

tanto para si mesmo quanto para os outros.

Essa configuração do presente traz em si, a nosso ver,

exigências que indicam que a eminente e razoável necessidade

de que a conduta e a ação humana sejam orientadas por

valores que, realmente, tenham por base a razão, em princípio

individualmente, e demonstrem, factualmente, primar pela

Page 22: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

2222222222

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

preservação da vida, tanto individual quanto coletiva. Esta

exigência, por sua vez, implica na necessidade da adoção de

novas perspectivas e novos modos de atuar, principalmente,

em educação. Isso porque, a educação tem por fim a

libertação, que é o único conhecimento que nos livra, inclusive,

do cárcere da propaganda, do imediatismo e/ou do

consumismo. Não é absurdo concluir que o caos geral é

produto do caos individual.

O predomínio da dita ética do lucro, por exemplo, age

em detrimento da vida e a favor do desmesurado descuido do

Ser Humano, tanto individual quanto coletivamente. Porém,

mesmo diante de tantos problemas, ainda não nos

convencemos da necessidade de tirar proveito da afirmação

de que o Ser Humano é, também, resultado de suas

experiências que deram errado.

Parecemos não acreditar que o Ser Humano é um ser

inacabado e em processo de construção e, por isso mesmo,

educável, o que significa dizer que pode e deve ser orientado

para assumir uma práxis cada vez mais saudável diante da

vida. Para tanto, propomos o estudo da Consciência na

educação formal. Sim, porque a Consciência é o primeiro e

último conhecimento que o Ser Humano pode e deve utilizar

para saber bem lidar com as questões da existência da vida,

pois esta mais do que cobra, aos desavisados, a vida que não

for vivida. Portanto, é inegável, principalmente no presente

em que vivemos, a necessidade de moral, ética e estética

Page 23: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

2323232323

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

elevadas, preocupadas com o Ser Humano em suas diferentes

dimensões e necessidades.

O caminho que a humanidade percorre nas suas distintas

etapas evolutivas, caracterizadas por transformações no modo

de sentir, pensar e agir conduz a progressos e avanços que

contribuem para a melhoria da qualidade de vida da população

mundial, demonstrados pela melhoria verificável de alguns

índices de desenvolvimento humano e social.

No entanto, atualmente, é nítido que, não raro, esses

índices são mais notados no aumento do número de casas

majestosas, na versão mais atualizada de um software ou na

quantidade de carros luxuosos que são comercializados e

consumidos. O que observamos, de fato, é que esses mesmos

progressos não equacionaram adequadamente o problema

do Ser Humano. Ao contrário, têm-no conduzido a um

desenvolvimento unilateral de suas potencialidades,

evidenciando que o mesmo remédio que cura, também pode

conduzir a limitações e, nas situações mais graves, à

destruição.

Este contexto de egocentrismo, de individualismo quase

institucionalizado, e de ascensão do Ter em detrimento do

Ser, tem, por sua vez, raízes firmadas em um longo processo

de dinamização dos papéis sociais que foram ocorrendo ao

longo da modernidade, a qual passou por momentos de

dignidade e desastre. A dignidade refere-se à diferenciação

das esferas de valor (arte, moral e ciência/religião, filosofia

Page 24: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

2424242424

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

e ciência), ocorrida no momento em que elas puderam seguir,

independentemente, seus caminhos (séculos XVI e XVII). Esta

emancipação foi de substancial importância para o

aprofundamento dos estudos científicos, na medida em que,

a partir desse momento, a ciência estaria livre para especular

e investigar tudo o que quisesse, desde os eventos da natureza

ao corpo humano. Assim, o mundo se expandiu com os

esforços físicos e intelectuais do Ser Humano, fazendo emergir,

a partir desse momento, teorias científicas verdadeiramente

comprováveis e reprodutíveis em qualquer lugar do planeta.

A diferenciação das esferas de valor do conhecimento

começou fazendo com que as idéias teológicas sobre o

Universo fossem gradualmente superadas pelo raciocínio

crítico, cálculos matemáticos e, fundamentalmente, pela

observação tecnicamente aperfeiçoada. E assim, com os

dogmas da Igreja postos em xeque, estava aberto o caminho

para a visualização e o estabelecimento de uma nova

sociedade, baseada em princípios claros de racionalidade e

liberdade individuais.

Foi nesse mesmo período que a Reforma e o

Protestantismo libertaram a Consciência individual das pessoas

em face das instituições religiosas da Igreja e a expuseram

diretamente aos olhos de Deus; que o Humanismo

Renascentista colocou o Homem no centro do universo; que

as revoluções científicas conferiram ao homem a faculdade e

as capacidades de inquirir, investigar e decifrar os mistérios

Page 25: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

2525252525

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

da Natureza; que o Iluminismo, centrado na imagem do

homem racional, científico, libertado do dogma e da

intolerância, tinha diante de si a totalidade da história humana

para ser compreendida e dominada.

A nobreza das idéias modernas propôs a “paz universal”

que, infelizmente, até hoje não tem vigorado; apontou-nos

o caminho para a auto-realização humana com a superação

do reino da necessidade, através das forças produtivas;

evidenciou que o seu ideal de ciência era o de um saber a

serviço do homem, e não o de um objeto de manipulação,

cego e seguidor de lógicas dissociadas de fins humanos.

Nessa época, enfatizou-se que a moral era livre e visava

também uma liberdade concreta, valorizando e pregando uma

ordem em que, por exemplo, o cidadão não fosse oprimido

pelo Estado e o fiel não fosse oprimido pela Religião. Inclusive,

gritou para todos os cantos do mundo, fazendo ecoar a

doutrina dos direitos humanos que, embora fosse abstrata,

transcendia os limites do tempo e do espaço e estava sempre

aberta a proposições inovadoras, gerando, continuamente,

novos objetivos políticos.

Enfim, a ciência mostrou que suas estratégias e princípios

poderiam ser úteis tanto para ela mesma quanto para a

sociedade. Todavia uma parte do tecido social se rompeu

com a radical dissociação ocorrida entre arte, moral e ciência,

promovendo o distanciamento e a negação das esferas de

conhecimento. Cada uma seguiu uma direção diferente no

Page 26: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

2626262626

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

percurso da vida, sendo que esses caminhos, até hoje, século

XXI, encontram dificuldades para se cruzarem.

Em outras palavras, era como se os domínios da ciência,

filosofia e religião estivessem compartimentalizados,

pessoais, subjetivos, especulativos e, fundamentalmente,

distintos do público conhecimento objetivo do mundo

empírico. A Fé e a Razão estavam agora definitivamentecindidas.

Assim, como a repressora Igreja foi colocada em xeque

pela ciência, sendo gradualmente substituída pela simplicidade

racionalista de investigação do Universo, era possível também

uma mudança nas estruturas da sociedade. Era possível,

portanto, que o poder monárquico absolutista que reinava, o

privilégio aristocrático que dominava em detrimento dos demais,

a censura inescrupulosa do clero, as leis arbitrárias e opressoras

e as economias ineficazes fossem substituídos por novas formas

de governo, baseadas em direitos individuais, racionalmente

definíveis e contratos sociais – não baseados em supostas

sanções divinas ou em pressupostos tradicionais herdados –

benéficos, tanto para o soberano quanto para seus súditos.

Desta forma, a ciência substituía a religião como

autoridade intelectual proeminente, sendo agora definidora,

juíza e guardiã da visão cultural e, além de tudo, científica do

mundo. A Razão e a observação empírica substituíam a

doutrina teológica e a Revelação da Escritura como principal

meio para a compreensão do Universo.

Page 27: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

2727272727

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

O grande aspecto positivo da modernidade, por sua

vez, acabou se transformando, pelo excesso de diferenciação,

em dissociação patológica, fragmentação, alienação, enfim,

em um desastre que abalou o final do século XVIII e início do

XIX. Deste modo, o mesmo remédio ofertado para curar as

mazelas da humanidade a asfixiou, no momento em que

ciência, filosofia e religião/arte, moral e ciência, passaram,

pouco a pouco, a não mais dialogar.

Isso montou o cenário para um forte domínio da ciência

empírica – razão instrumental – sobre as outras esferas. Com

isso, a ciência dominaria o discurso cognitivo no mundo ocidental.

A ciência passa, então, a ser monológica, ou seja, uma

ciência que não dialoga com as outras esferas de valores

(filosofia e religião ou arte e moral) em razão da convicção

de que não existe realidade a não ser aquela revelada pelos

instrumentos empíricos, que contribuem para a descrição

(monólogo) de comportamentos objetivos observáveis. É por

causa dessa ciência monológica que vivemos hoje, até que se

reprove, um grande desequilíbrio cultural, causado por uma

visão dualista da realidade, que separa, por exemplo, corpo

e espírito, pensamento e sentimento, ciência e religião,

objetividade e subjetividade, bem como dissemina um

comportamento individual e social voltados para a competição

ao invés da cooperação, ou mesmo da competência.

Sendo assim, podemos constatar que também o

cientificismo é o pano de fundo da nossa fragmentação.

Page 28: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

2828282828

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

Esta se traduz na separação de raças, credos, nações, classes

sociais e hemisférios – Oriente e Ocidente; em pessoas

separadas, auto-enclausuradas, fechadas, individualistas, em

busca unicamente de seus interesses pessoais, mesmo que

em prejuízo de terceiros; em grupos de pessoas agindo como

se não houvesse mais ninguém ao seu redor... comprometendo

a qualidade de vida das pessoas e do planeta.

Apesar de estarem separadas da filosofia, da ética, da

arte e da espiritualidade, é inegável que a ciência e a

tecnologia trouxeram muitos benefícios à humanidade. Tal

separação, entretanto, tem acentuado a visão dualista da

realidade e do Ser Humano, uma vez que tanto a ciência

quanto a tecnologia perderam o referencial do significado da

sua existência: o bem-estar da humanidade.

Dessa forma, a modernidade tem sido pautada pelo

predomínio de uma das dimensões do Ser Humano – a sua

dimensão externa – que, com certeza, traz suas necessidades.

Todavia esse olhar é reducionista, caso não se dê atenção às

outras dimensões do Ser Humano, especialmente às

dimensões internas, individuais e coletivas. A dimensão

externa é real e necessária, porém a exclusão da dimensão

interna produz as distorções que vivenciamos e que,

sinteticamente, apontamos previamente.

Assim, no amanhecer deste novo milênio, é constatável

que já passamos por diversas experiências individuais e

sociais, já abraçamos diversas teorias e, ainda assim, o

Page 29: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

2929292929

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

problema da integração do Ser Humano perdura,

instigando-nos a refletir sobre a insuficiência de uma

abordagem que zele somente pela dimensão exterior do

Ser Humano. Contudo, isto não quer dizer que devemos

abandonar a ciência e a tecnologia, mas sim buscar integrá-

las com o respaldo de princípios éticos, estéticos e morais.

Não podemos ser ingênuos em acreditar que uma

transformação desta natureza se originará de elites

dominantes ou será proveniente de instâncias superiores

figuradas como ordem divina, numa dimensão de fora para

dentro ou da sociedade para o indivíduo, mas ocorrerá,

sim, através de uma transformação que parta de dentro de

cada Ser Humano.

Nosso apelo pela transformação do Ser Humano não

está afeto a nenhuma abordagem religiosa ou mítica. É,

antes de tudo, um apelo por um equilíbrio de nossa alma,

para que possamos, pelo menos, iniciar uma jornada que

nos distancie da nossa rotineira preocupação com nossas

próprias pessoas. Esse egocentrismo nos faz esquecer de

que somos apenas uma peça dentro de um enorme quebra-

cabeça que precisa se integrar para que reflita uma imagem

sem distorções ou falhas.

Nesse contexto, evidencia-se, em todas as instâncias

sociais, a necessária reivindicação dos seres humanos de serem

tratados como organismos vivos, capazes de sentirem,

pensarem, organizarem-se e construírem valores.

Page 30: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

3030303030

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

O projeto educativo é, então, tentar integrar e não

afastar o Ser Humano de si mesmo. Isto implica ter presente

seus valores subjetivos, além dos objetivos, proporcionando

aos educandos condições de uma formação adequada, de tal

forma que possam descobrir, por si sós, suas tendências e

seus valores próprios, bem como suas finalidades de existir,

seus deveres naturais para com a vida, incluindo valores que

envolvam as pessoas, de um modo geral, e o equilíbrio

dinâmico nas relações cotidianas.

Entendemos, pois, que caberá ao educador saber

expressar, com suas ações, o valor das coisas materiais e/ou

espirituais. É evidente que o educador disposto a educar

necessitará, inicialmente, para tal, observar a si próprio e

verificar o que tem em si como valores, demonstrando-os

através da sua conduta. Afinal, é a conduta do Ser Humano

que denuncia o seu grau de Consciência.

O presente livro pretende, portanto, atender a um apelo

contemporâneo por uma educação integral, transcendendo

a visão dual entre ciência e religião, a partir do estudo da

Consciência.

As nossas inquietações são expressas também por outros

pensadores, tais como Theda Basso e Aidda Pustilnik (2000),

Ken Wilber (1990; 1994; 1998a; 1998b; 1999; 2001a; 2001b),

Dênis Brandão e Roberto Crema (1991), Jacques Delors et

al. (1999), entre outros. Esses autores compreendem que o

presente momento está carente de uma proposta e uma

Page 31: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

3 13 13 13 13 1

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

prática educativa que aborde, factualmente, o Ser Humano

de forma integral.

Na perspectiva de apresentar essa abordagem integral

da educação, direcionamos nossa atenção para o estudo da

Consciência, estruturando esse livro em três partes.

Na primeira parte, apresentamos a compreensão da

consciência a partir dos fundamentos da psicologia transpessoal,

destacando as contribuições de autores, reconhecidos

mundialmente, tais como Stanislav Grof (1987, 1994, 1998,

2000) e, principalmente, Ken Wilber (1990; 1994; 1998a; 1998b;

1999; 2001a; 2001b), além das contribuições das estudiosas da

consciência, na Bahia, Theda Basso e Aidda Pustilnik (2000).

Na segunda parte, evidenciamos a nossa concepção de

consciência como uma das mais importantes faculdades do

Ser Humano, possibilitando-lhe integrar os sentimentos,

pensamentos e atos, no dia-a-dia do viver, em prol de uma

educação verdadeira.

Na terceira parte, destacamos o importante papel da

educação no despertar da consciência, indicando caminhos

para a auto-integração, autoconhecimento e autotransformação

do Ser Humano, em busca da unidade de pensamento entre

os conhecimentos religioso, filosófico e científico, através do

sistema formal de ensino.

Por fim, desejamos a todos os leitores discernimento,

iniciativa e realizações !

Page 32: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

3232323232

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

PPPPPARARARARARTE ITE ITE ITE ITE I

A COMPREENSÃO DA CONSCIÊNCIA A PARTIR DOS

FUNDAMENTOS DA PSICOLOGIA TRANSPESSOAL

Page 33: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação
Page 34: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

3434343434

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

DDDDDesvelar o estudo da Consciência no âmbito

acadêmico representa um desafio aos tradicionais

modos de pensar e sugere um caminho inteiramente novo

para enfrentarmos a Realidade como ela é, a educação e,

porque não dizer, a nossa própria existência.

A Psicologia Transpessoal surge como base teórica para

o estudo da Consciência, na medida em que significa alémdo pessoal, além da personalidade, e porque não dizer

além do ego. É uma abordagem recente, que surgiu nos

Estados Unidos em 1966, a partir de um movimento que se

tornou conhecido como quarta força, depois doBehaviorismo e da Psicanálise, tendo sido consideradacomo um desdobramento da Psicologia Humanista.

O psiquiatra suíço Carl Gustav Jung, por exemplo,

precursor da discussão sobre a transcendência humana,

dedicou sua vida ao estudo da Consciência Humana, que é

exatamente o objeto de estudo da Psicologia Transpessoal.

Page 35: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

3535353535

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

De acordo com Theda Basso e Aidda Pustilnik (2000),

psicoterapeuta e psicóloga transpessoal, respectivamente,

fundadoras da Escola Dinâmica Energética do Psiquismo,

já estamos ultrapassando os modos de acessar o

conhecimento exclusivamente pelos sentidos e pela

intelecção. Em função disso, vem emergindo esse novo

paradigma de conhecimento nas ciências em geral, junto

com uma nova compreensão sobre o significado da própria

Consciência. Até porque, não é demais considerar que Ela

não é mais uma expressão em busca de conceito, mas de

concepção inequívoca.

A Consciência é vista por muitos cientistas ortodoxos

como sendo um produto de matéria altamente organizada –

o sistema nervoso central – e como um epifenômeno dos

processos fisiológicos do cérebro. Essa concepção de que a

Consciência é um produto do cérebro não deve ser

considerada totalmente arbitrária, porém, não é sequer

razoável limitarmo-nos a essa definição “materializada”,

considerando, inclusive, que a realidade exige mais do que

compreensão.

A Consciência, segundo Theda Basso e Aidda Pustilnik

(2000), deve ser entendida como a totalidade de nossa

experiência; mais apropriadamente, como o Ser na sua

integralidade. Consciência, para as autoras, é a totalidade

do nosso ser, que se expressa visivelmente em nosso corpo,

como um todo, porquanto vivemos nos revelando pela forma

Page 36: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

3636363636

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

de sentir, pensar e agir.

Stanislav Grof (1987, p. 15), renomado pesquisador norte-

americano da Consciência humana, assim se expressa:

Nos anos recentes, a física está se aproximandorapidamente do ponto em que terá de lidar, de modoexplícito, com a Consciência. Há físicos importantesque acreditam que uma futura teoria ampla damatéria incorporará a Consciência como umconstituinte integral e crucial.

Segundo o autor, os problemas que enfrentamos não

são, em última análise, apenas econômicos, políticos e

tecnológicos. Eles são reflexos do estado emocional, moral

e espiritual da humanidade contemporânea, da alienação da

humanidade moderna de si mesma, da vida e dos valores

espirituais.

Além das necessidades próprias à sobrevivência,

acreditamos que devem ser supridas as necessidades

“espirituais”, trabalhando-se, prioritariamente, com o “eu”1 ,

para que possa haver um funcionamento completo do Ser

Humano no ciclo geral da vida, levando-se em conta os

diversos níveis e fases de desenvolvimento da sua Consciência.

Ken Wilber (1999)2 demonstra, no seu livro Los TrêsOjos del Conocimiento, que qualquer paradigma transpessoal

verdadeiramente compreensivo deverá recorrer por igual ao

olho da carne, ao olho da razão e ao olho da contemplação,

de acordo com as contribuições de São Boaventura3 . Um

Page 37: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

3737373737

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

novo paradigma verdadeiramente transpessoal deveria utilizar

e integrar os três níveis de conhecimento: o conhecimento

do senso comum, também chamado de empírico, que nos

faz perceber o mundo por intermédio dos cinco sentidos; o

conhecimento racional, ao qual pertence a ciência e os

conhecimentos logicamente constituídos; e o conhecimento

sensitivo, que implica o uso de uma mente expandida e,

pois, intuitiva.

Ken Wilber inclui-se entre os mais importantes

pensadores a integrar a ciência ocidental com as tradições

da sabedoria oriental e ocidental. Tornou possível a integração

do objetivo com o subjetivo e formulou uma visão integral

sobre o Ser Humano. Ele é visto como um expoente da

Psicologia Transpessoal e tem seu olhar voltado para a

integralidade do Ser Humano.

A obra e a pessoa de Ken Wilber apresentam muitas

facetas. O núcleo da sua obra é um modelo teórico

evolucionário do Ser Humano, no seu aspecto ontogenético4 ,

assim como filogenético5 . Seu propósito é integrar diferentes

modelos teóricos, formulando uma abordagem integral do

Ser Humano a partir do diálogo com muitos campos do

saber humano, tais como da sociologia, psicologia do

desenvolvimento, antropologia biológica e cultural, psicologia

clínica, filosofia perene, história, epistemologia, entre outros.

O seu objetivo maior é formular uma Teoria do Todo,

que demonstre a integração de todos os campos da

Page 38: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

3838383838

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

experiência humana, posicionando as diferentes verdades

parciais num modelo amplo e integral. Nunca perde de vista

o panorama geral, atento às tentativas de transformar

verdades parciais, como, por exemplo, ecologia, feminismo,

física e holismo, em uma compreensão integral, que, para

ele, é a mais verdadeira e, portanto, adequada.

Através do nosso estudo, verificamos que as

contribuições do pensamento de Ken Wilber, em todas as

suas fases, oferecem-nos indicadores significativos para, no

mínimo, refletirmos sobre a formação integral do Ser

Humano, especialmente a partir da educação. Entretanto,

são suas últimas e atuais formulações acerca da visão

holônica6 da Consciência as mais significativas para a

configuração de uma concepção de educação integral,

superando o modo fragmentado de conhecimento da

Realidade, que, até prova em contrário, tem gerado conflitos,

seja nas práticas educativas, seja nos âmbitos familiar, político,

enfim, na sociedade como um todo.

Entender o Ser Humano integralmente, remete-nos,

portanto, ao modelo integral da Consciência, cujo foco é

constituído de “todos os níveis, todos os quadrantes”. No

atual estágio de desenvolvimento de suas pesquisas, o autor,

além de abordar a Consciência como uma holarquia7 ,

acrescenta-lhe o fato de que cada nível dessa holarquiamanifesta-se através de quatro dimensões ou quadrantes:

individual-subjetivo (intencional), individual-objetivo

Page 39: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

3939393939

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

(comportamental), coletivo-subjetivo (cultural) e coletivo-

objetivo (sistemas sociais).

Uma hierarquia natural é simplesmente uma ordemde totalidade crescente (como, por exemplo, a quevai das partículas até os átomos, as células e osorganismos, ou que vai das letras às palavras, as frasese os parágrafos), onde a totalidade de um determinadonível da hierarquia forma parte da totalidade própriado nível seguinte. (WILBER, 1998b, p. 51).

Compreender a realidade através da perspectiva de

“todos os níveis, todos os quadrantes” possibilita superar os

limites da visão tradicional da Grande Cadeia do Ser8 , que

centrava atenção no lado espiritual e estético do Ser Humano,

esquecendo-se do lado comunitário (ético) e do lado objetivo,

externo (tratado pela ciência).

Assim, na fase mais recente do seu pensamento, Wilber

diferencia os níveis básicos da Grande Cadeia, integrando os

níveis de Consciência – sensorial, mental e espiritual – com

os quatro quadrantes.

Uma vez que reconheçamos e respeitemos os níveise dimensões da Grande Corrente, reconheceremos,simultaneamente, todas as modalidadescorrespondentes de conhecimento – não apenas oolho da carne, que desvenda o mundo físico esensorial, nem só o olho da mente, que desvenda omundo linguístico e simbólico, mas também o olhoda contemplação, que desvenda a alma e o espírito.(WILBER, 1999, p.55).

Para Wilber, o Ser Humano integra, em si, os referidos

Page 40: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

4040404040

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

níveis, bem como tem sua manifestação em quatro quadrantes

– o exterior e o interior do individual e do coletivo – que

envolvem os aspectos intencionais, comportamentais, culturais

e sociais. Esses quadrantes também dizem respeito às esferas

culturais de valore: arte, moral e ciência; o Belo, o Bom e a

Verdade; estética, ética e verdade; o EU, o NÓS e o ELE.

Articulando as quatro dimensões ou esferas de valor

com a Grande Cadeia do Ser, temos, segundo Wilber (1999),

uma verdadeira e abrangente visão integral do Ser Humano,

como expressa a frase anteriormente citada: “todos os níveis

e todos os quadrantes”.

Segundo depoimento do próprio Wilber, a exaustiva

pesquisa das diversas visões de mundo – entre elas, a teoria

de sistemas, as ciências ecológicas, a cabala, a psicologia

desenvolvimentista, o budismo iogachara, o desenvolvimento

moral, a evolução biológica, o hinduísmo vedanta, o

neoconfucionismo, a evolução cósmica e estelar, e toda uma

gama de ninhos pré-modernos, modernos e pós-modernos

– tornou possível agrupá-las de diversas formas. Com isso,

ele percebeu que, sem exceção, elas se enquadravam em um

dos quatro quadrantes existentes, os quais lidam com o interiore o exterior, com o individual e com o coletivo. Deste modo,

ele vai além, tanto da hierarquia clássica da religião tradicional

como da hierarquia padrão da ciência moderna.

A expressão “todos os quadrantes”, por sua vez, conduz

ao reconhecimento de que, em cada um desses níveis

Page 41: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

4 14 14 14 14 1

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

(sensório, mente, espírito), há um interior individual e coletivo,

assim como um exterior individual e coletivo. Este

entendimento possibilita, em cada nível de ser e de conhecer,

uma experiência estética (EU), uma experiência ética (NÓS),

uma “ciência” sobre cada fenômeno individual, bem como

uma “ciência” sobre os sistemas de fenômenos coletivos (ELE).

Daí a compreensão de que uma abordagem integral do Ser

Humano deve levar em conta todos os níveis da Grande

Cadeia do Ser, bem como todas as suas dimensões.

Fonte: Adaptado de Wilber (2001a, p. 93).

Figura 1Figura 1Figura 1Figura 1Figura 1 – Os Quatro Quadrantes

Page 42: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

4242424242

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

Os teóricos e investigadores do quadrante superior

direito, por exemplo, centraram-se no exterior do indivíduo,

dando origem ao comportamentalismo, ao empirismo, à

biologia, às ciências cognitivas, à neurologia, à fisiologia

cerebral etc.

Inclui-se, nesse quadrante, a versão científica que aborda

os componentes individuais do universo (átomos, moléculas,

células simples, incluindo organismos mais complexos), que

se constituem em hólons sucessivos e progressivamente mais

complexos e elevados, mais profundos ou mais extensos,

transcendendo e incluindo os anteriores, na escala evolutiva.

Na visão de Wilber eles se desenvolvem por processos de

diferenciação-e-integração, os quais, uma vez

desarmonizados, causam patologias.

No quadrante inferior direito estão representadas as

abordagens objetivas dos sistemas coletivos. Refere-se ao

estudo externo das relações que constituem as configurações

sistêmicas da realidade: a sociedade, os sistemas naturais, os

ecossistemas, a rede ecológica da vida, a teoria sistêmica, as

teorias do caos e da complexidade, as estruturas tecno-

econômicas, a política, a sociedade.

Esses dois quadrantes analisados anteriormente, segundo

o autor, representam realidades objetivas ou exteriores, que

têm uma localização no mundo sensório-motor e empírico.

Por serem exteriores e objetivos são descritos na linguagem

do ELE, que se expressa pela ciência e tecnologia

Page 43: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

4343434343

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

contemporâneas. “Os quadrantes da mão direita são os

hólons vistos pelo lado de fora, num tipo de investigação

objetiva, empírica e científica.” (WILBER, 2001b, p. 62).

Com esta abordagem, Wilber torna bem claro que, ao

longo da história, os diferentes pesquisadores da ciência

preferiram centrar sua atenção nos quadrantes do lado direito,

ocupando-se dos aspectos objetivos, cujas características

podem ser percebidas pelos sentidos ou por suas extensões,

ou seja, empiricamente, excluindo os demais.

Tratando-se, especificamente, do quadrante superior

esquerdo, vale explicitar que o mesmo inclui, segundo o autor,

as experiências interiores estudadas pela psicologia, filosofia

e espiritualidade. Esse quadrante é descrito na linguagem do

EU, relativo à Consciência, subjetividade, auto-expressão,

verdade, sinceridade.

O autor ressalta a diferença entre o interior do indivíduo

(a mente) e o exterior do mesmo (o cérebro). A mente é

conhecida por conhecimento direto; o cérebro, por uma

descrição objetiva. Conhecemos a nossa mente direta,

imediata e intimamente: todos os pensamentos, sentimentos,

aspirações e desejos que percorrem a nossa Consciência o

tempo todo. O cérebro, por outro lado, embora se localize

“dentro” do organismo, não está no interior da nossa

Consciência, como a mente. O cérebro é percebido de uma

forma exterior e objetiva. Portanto, em última análise, a

mente e o cérebro são duas visões diferentes da nossa

Page 44: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

4444444444

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

Consciência individual, uma de dentro e outra de fora; uma

interior e outra exterior.

O quadrante inferior esquerdo, por sua vez, refere-se

às cognições individuais e subjetivas quando partilhadas com

outros indivíduos, o que resulta em uma visão ética da vida,

sendo descrita na linguagem do NÓS. Este quadrante envolve

a ética, a moral e a cultura e seu significado intersubjetivo

abrange compreensão mútua e justiça.

À medida que os hólons cognitivos individuais sedesenvolvem e evoluem; à medida que a Consciênciados indivíduos aumenta em profundidade, desdesimples sensações até imagens, conceitos e raciocínio(esquerdo superior); também a visão de mundocoletiva se torna mais profunda e mais complexa(esquerdo inferior) (WILBER, 2001b, p. 62).

Enquanto o quadrante superior esquerdo representa a

Consciência individual, interior e subjetiva, o esquerdo inferior

representa as formas coletivas ou intersubjetivas de

Consciência, os significados, valores e contextos culturais,

sem os quais a Consciência individual não se desenvolveria

nem funcionaria.

Os dois quadrantes do lado esquerdo (Figura 1)

representam realidades subjetivas ou interiores que não estão

localizadas no espaço físico, mas em espaços emocionais,

mentais e cognitivos. “Os quadrantes da mão esquerda são

os hólons vistos pelo lado de dentro, pelo interior, como

parte da consciência e experiência vividas diretamente.”

Page 45: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

4545454545

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

(WILBER, 2001b, p. 62). E, por serem interiores e subjetivos,

são descritos na linguagem do EU e NÓS.

Vale considerar, ainda, que cada um dos quatro

quadrantes possui contornos e tipos de dados muito diferentes,

assim como distintos “tipos de verdade” que precisam ser

reconhecido e respeitado, pois eles constituem a parte

“diversificada” da unidade-na-diversidade. Essa diversidade,

de acordo com Wilber, é tão importante quanto a unidade.

Assim considerado, parece-nos claro que cabe à

educação cumprir o seu papel, buscando a formação integral

dos educandos, a partir do reconhecimento, respeito e

despertamento das suas potencialidades, as quais envolvem

as quatro dimensões da experiência nos seus diferentes níveis.

O que Wilber, de fato, nos revela é que, dentro de uma

abordagem realmente integral, em cada um dos níveis da

Consciência (sensível, mental e espiritual), dão-se as dimensões

abordadas pelas três esferas de valor distinguidas na

modernidade (arte, moral e ciência). Dessa forma, existem

arte/estética, moral/ética e ciência/verdade no nível sensível,

no nível mental, bem como no nível espiritual. Portanto, na

busca de auxiliar o desenvolvimento integral do Ser Humano,

faz-se necessário primarmos por uma educação que envolva

os níveis sensorial, mental e espiritual.

No nível sensorial, devem ser incluídas as experiências

a partir do olho da carne, percebendo o mundo exterior do

espaço e do tempo, sem desconsiderar o desenvolvimento

Page 46: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

4646464646

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

da estética e da ética, ainda que de forma restrita. Já no

nível da mente, devem ser trabalhados os conhecimentos

racionais e/ou intelectivos, através do olho da razão, o qual

envolve o mundo das idéias e dos conceitos, possibilitando

uma estética focada no mental e uma ética baseada em

contratos, portanto, na justiça. Por fim, no nível do espírito,

deve ser trabalhado o conhecimento espiritual, incluindo o

olho da contemplação, que favorece experiências unitivas/

diretas da realidade, a partir da ampliação da percepção.

Configurar uma concepção de educação integral do Ser

Humano, a partir do estudo da Consciência, pressupõe,

portanto, a integração da noção da Grande Cadeia do Ser

com as esferas de valores culturais diferenciadas e dissociadas

pela modernidade.

Segundo Wilber (2001b, p. 11), uma verdadeira visão

integral

[...] deveria incluir a matéria, o corpo, a mente, aalma e o espírito tal como se apresentam em seudesdobramento através do eu, a cultura e a natureza.Deveria tratar-se de uma visão compreensiva,equilibrada e inclusiva, uma visão que abraçasse aciência, a arte e a moral, uma visão que englobassetodas as disciplinas (desde a física até aespiritualidade, a biologia, a estética, a sociologia ea oração contemplativa) e se expressasse atravésde uma política integral, uma medicina integral, umaespiritualidade integral.

Em síntese, a versão holônica ou dos quatro quadrantes

do Grande Ninho do Ser parece atender aos anseios do nosso

Page 47: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

4747474747

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

atual mundo moderno, por considerar que cada Ser Humano

possui um aspecto subjetivo ou a intencionalidade, um aspecto

objetivo ou o comportamento, um aspecto intersubjetivo ou o

significado culturalmente construído e um aspecto interobjetivo

ou o encaixe funcional e de sistemas sociais. As suas diferentes

formas de expressão de conhecimento estão fundamentadas

nessas dimensões reais correlatas.

Na concepção de Wilber, esta é a visão integral do ser e

do conhecer, confirmando a necessidade de alcançarmos níveis

cada vez mais sutis da Consciência rumo à educação integral.

Page 48: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

4848484848

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

PPPPPARARARARARTE IITE IITE IITE IITE II

A CONSCIÊNCIA COMO UMA DAS MAIS IMPORTANTES

FACULDADES DO SER HUMANO

Page 49: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação
Page 50: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

5050505050

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

NNNNNa perspectiva da abordagem transpessoal, surge

o espaço para tratarmos da Consciência na

dimensão para “além do ego” humano, envolvendo a sua

maneira de sentir, pensar e agir, através da sua conduta, que

denuncia o seu grau de Consciência.

A nossa experiência sugere, e a razão não se recusa a

aceitar, que não é demais concebermos a Consciência como

uma das propriedades mais significativas da matéria em

hominização. Ela é uma das mais importantes faculdades

inatas capitais do Ser Humano que lhe possibilita, além de

saber e sentir, suficientemente, acerca da realidade, segundo

não só conhece, mas também se aproxima daquilo que

estabelece aquela moralidade universal que a conduta dos

corpos celestes denuncia.

A Consciência, portanto, é o produto da ação do Ser

Humano, quando do uso da sua imaginação com inteligência,

cuja busca visa compreender a largura do seu Ser. Daí,

devemos buscar saber cada vez mais o que é ter Consciência

Page 51: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

5 15 15 15 15 1

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

clara, pois é com ela que o Ser Humano se eleva na senda

da Iluminação, da bem-aventurança e/ou algo que equivalha.

Eis que o homem de Consciência é aquele que vem

demonstrar à humanidade, pela força do seu bom exemplo,

que é o resultado daquele Ser Humano que, uma vez

construtor, buscou viver, conscientemente, cavando túmulos

à ignorância e erguendo templos à sabedoria. Ou melhor,

cavando túmulos aos vícios e erguendo templos às virtudes,

demonstrando: o quanto tem de profundidade, na medida

em que busca viver, volvendo-se para dentro de si mesmo;

o quanto tem de largura, na medida em que busca viver,

conscientemente, dedicando-se a ajudar o seu semelhante,

bem como o meio no qual se insere; e o quanto tem de

altura, na medida em que busca viver, conscientemente,

elevando-se a Deus, de forma cada vez mais bela, rica e

significativa.

Após leituras de diversos teóricos da Consciência e um

sem-número de discussões, começamos a romper o véu que

nos separava da solução que procurávamos para o dualismo

que tem pautado as discussões científicas dos últimos séculos.

Assim, em função desses estudos que vimos realizando ao

longo dos últimos quinze anos, constatamos que o maior

desafio do Ser Humano é compreender a vida a partir de si

mesmo. Para tanto, ele deve lançar mão da sua Consciência,

pois quanto maior for o seu grau, maior será a sua

compreensão acerca da vida.

Page 52: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

5252525252

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

Parece-nos claro que a Consciência, quando despertada

e/ou construída em grau significativo no Ser Humano, ajuda-

o a eleger valores éticos, estéticos e morais, no mínimo,

elevados. Também lhe possibilita identificar as faculdades e

qualidades formadoras do seu ser, bem como buscar saber

significativamente acerca do Princípio Criador, da Finalidade

da Vida, bem como da Razão de Nossa Existência, a partir da

compreensão do valor significativo real das relações que

estabelece no dia-a-dia, porquanto a vida exige ser mais do

que vivida, exige ser compreendida. Para tanto, o Ser Humano

deve começar pelo que está mais próximo: ele mesmo.

Assim considerado, vale destacarmos o valor das relações

humanas no contexto da vida. A atividade-fim do Ser Humano

é compreender a vida; portanto ele faz uso da atividade-meio

específica: o viver, que nada mais é do que ser e estar em

relação. Afinal, não é demais salientar que no Universo nada

vive no isolamento, e tudo são ações nas relações. Daí vale

lembrarmos que o valor significativo real de uma relação não

é só a busca de segurança, de satisfação e da dita felicidade,

mas também da auto-revelação, para que possa haver, no ser,

o conhecimento, o autoconhecimento e a auto-realização,

tomando como exemplo a Moralidade do Universo, cuja

conduta os corpos celestes denunciam, incontestavelmente.

Tratando desse processo de auto-revelação, conta-nos

a história “Ser ou não Ser. Eis a questão” (OCIDEMNTE,

2001 p. 85-87):

Page 53: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

5353535353

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

Maré de março rebentava na praia. O mestre imutabilista

O’Cavím estava com seus discípulos a contemplá-la em sua

incisiva investida contra os recifes, que deixavam clara a sua

intenção em resistir para não se transformarem de pedra

bruta naquilo que já era este pretenso amigo que, inclusive,

sua conduta denunciava ali e agora, era notório, como uma

coisa viva. Sabia, ela, que não seria evitada por muito tempo

pelos recifes, haja vista uma parte destes, já como areia,

denunciava o quanto não mais podia resistir à persistente

investida do mar, e chegava a ponto de ter que imitá-lo. Era

uma questão de tempo. Coisa que só a água e/ou algo que

equivalha sabe fazer, afinal, água mole em pedra dura, tantobate até que fura.

O mestre O’Cavím tinha uma verdadeira paixão pelos

benefícios incomuns da requintada combinação entre oscomplementares, e nunca se deixava impedir de acessar o

reservatório da Imutabilidade, ou seja, da Moralidade do

Universo que a conduta dos corpos celestes denuncia,

porquanto primava pela energia pura e a criatividade ilimitada.

A confiança, convicção e certeza, para com a verdadeira

essência, eram peculiaridades notáveis neste mestre.

Enfim, o mar continuava sua investida à praia e a

enamorava não só como devia, mas também como podia.

A mesma conduta tinham os shelas9 para com o seu

mestre, que os fazia experimentar direta, correta e

completamente a importância da contemplação e a sua

Page 54: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

5454545454

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

relação com a Consciência, uma das mais relevantes faculdades

inatas capitais do homem. Ensinava, este mestre, aos seus

discípulos: Quanto mais contemplativo mais próximo.

Nesta experimentação, por parte dos contempladores,

era notório o fato de que o mar, todo vaidoso, já fazia questão

de que fossem denunciadas a sua meiguice e doçura para

com a praia, porquanto ela já respondia a altura, tentando

retê-lo em suas entranhas, quando da investida do mesmo.

Eis que nesse tempo, no templo, quando do término

do exercício de aprimoramento espiritual, Greque, um dos

shelas do mestre O’Cavím, pediu-lhe que fizesse algumas

considerações acerca da relação mestre/discípulo. Que então

o fizera. Dizia ele:

- Meus caros, não existem mestres, mas discípulos.

- O fato de se dizer que se tem um mestre não significaque se é discípulo.

- Senão nada, pouco importa se ter um mestre e nãoser discípulo.

- O mestre dos mestres é o tolo.

- Quem faz um mestre é o discípulo.

- Só os que ainda não são discípulos, exigem mestres.

- Não depende de um mestre a nossa iluminação, anossa emancipação, a nossa bem-aventurança, enfim, anossa imutabilização, mas de nós mesmos.

Page 55: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

5555555555

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

- Ser discípulo implica a capacidade de aprender esentir, de autoperceber, bem como de saber lidar racionale equilibradamente com situações novas, enfim, de serum eterno aprendiz.

- Ser discípulo é uma necessidade essencial para todos

nós, principalmente para aqueles que já se puseram no

caminho e a caminhar.

- Discípulo é aquele que está pronto. Pronto paradar seu sentimento, pensamentos, atos e obras, mas nãosó seus sentimentos, pensamentos, atos e obras, mastambém seu corpo, sua alma e seu espírito; e não só osseus sentimentos, pensamentos, atos e obras, bem comoseu corpo, sua alma e seu espírito, mas também seussentimentos, pensamentos, atos e obras, seu corpo, suaalma e seu espírito, bem como sua vida.

- Eis que, enquanto um homem tolo exige, senão ser,

ter mestre, um homem da ciência exige ser discípulo.

Finalizou o mestre, mas ainda ouviu:

- Sim mestre, mas o senhor é o nosso mestre, e lhesomos muito gratos, por tudo!

Reconsiderou Greque. E todos eram ouvidos, tempo

em que acenavam com a cabeça, como que numa ação de

confirmação.

- Meus queridos, ser mestre significa, no muito,encorajar a outros na busca da verdadeira morada, segundo

Page 56: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

5656565656

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

a força do seu exemplo, mas através da verdadeira tarefa,tal como fazemos agora. Ser mestre significa ter estadopreso quanto, como e onde outros estão, e ter achado achave para escapar, e então poder, não só dizer que épossível, mas também ensinar a outros de como devemproceder para tal; mas, como eu disse, pela força de seuexemplo, que a sua conduta deve denunciar.

Terminou o mestre, indicando com os olhos e acenando

com a cabeça que o mar já começava a se recolher, e deveria

ser, então, imitado por esses contempladores silenciosos, do

silêncio criador.

Ser Humano é buscar saberSer Humano é buscar saberSer Humano é buscar saberSer Humano é buscar saberSer Humano é buscar sabercomo ser um eterno aprendiz.como ser um eterno aprendiz.como ser um eterno aprendiz.como ser um eterno aprendiz.como ser um eterno aprendiz.

Cumpre-nos, pois, ousarmos experimentar,

conscientemente, o que é, tal qual é, a dinâmica da vida, ou

melhor, a realidade, de forma mais intensa possível. Afinal,

parece-nos claro que, à medida que experimentamos de

forma direta, correta e completa a dinâmica da vida, nossa

Consciência cresce e nosso conflito diminui. Isto porque,

um dos maiores desafios do gênero humano reside na sua

capacidade de usar a qualidade de pensar para agir, sem

problemas produzir, ou melhor, sem caos criar, manter e/

ou ampliar.

Vivemos, portanto, um momento decisivo na história

da humanidade. Se inconscientemente encaminhada, tal

Page 57: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

5757575757

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

situação pode levar o planeta, senão à destruição, a um futuro

mais do que sombrio e duvidoso; se orientada pela

Consciência, levará a humanidade a um crescimento

seguramente qualitativo.

A educação, principalmente, não pode, tampouco

deve, ficar alijada desse processo. É chegada a hora de

tratarmos da Consciência na prática pedagógica, buscando

contribuir, efetivamente, para o desenvolvimento humano,

como um todo.

Nesse contexto, importa-nos questionar acerca da

Consciência, em si. A palavra Consciência deriva do latim

Conscientia. (ABBAGNANO, 1999).

O significado que esse termo tem na filosofiamoderna e contemporânea [...] é o de uma relaçãoda alma consigo mesma, de uma relação intrínsecaao homem, “interior” ou “espiritual”, pela qual elepode conhecer-se de modo imediato e privilegiadoe por isso julgar-se de forma segura e infalível. Trata-se, portanto, de uma noção em que o aspecto moral– a possibilidade de autojulgar-se – vincula-seestreitamente ao aspecto teórico, a possibilidade deconhecer-se de modo direto e infalível.(ABBAGNANO, 1999, p.171, grifos do autor).

Segundo Cipriano Luckesi (1998), a Consciência não é

abstração ou algo intocável, mas sim aquilo que somos na

totalidade do nosso ser, o que inclui, simultaneamente, as

dimensões do corpo, da personalidade (no que se refere à

emoção) e da espiritualidade. Esse autor expressa que a

Consciência não é dada plenamente manifesta; ela nos é

Page 58: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

5858585858

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

dada como um dom, e para que se manifeste, necessita da

nossa capacidade para manifestá-la. Esta, por sua vez,

depende do nosso desenvolvimento.

Segundo Angela La Sala Batà (1976), a única finalidade

verdadeira da existência é o desenvolvimento da Consciência.

Antônio Damásio (2000), por sua vez, entende a

Consciência como a chave para que se coloque sob escrutínio

uma vida, seja isso bom ou mau; é o bilhete de ingresso,

nossa iniciação em saber tudo sobre fome, sede, sexo,

lágrimas, riso, prazer e intuição. Segundo o autor, em seu

nível mais complexo e elaborado, a Consciência ajuda-nos

a cultivar um interesse por outras pessoas e a aperfeiçoar a

arte de viver.

Na nossa concepção, a Consciência nos é

disponibilizada pela Natureza como uma faculdade latente

em nosso ser, mas para que se manifeste factualmente é

necessário despertá-la. Para tanto, precisamos desenvolver

as nossas qualidades, através das relações que estabelecemos

no dia-a-dia, seja com pessoas, seres, pensamentos e/ou

sentimentos, tais como: sentir, querer, pensar, reconhecer,

ousar e raciocinar, principalmente esta última.

Entendemos, pois, a Consciência como uma das

faculdades inatas, capitais do Ser Humano, que lhe favorece,

inclusive, absorver, se assim podemos dizer, o valor

significativo e real das relações, conforme o que estabelecem

as Leis Universais. Afinal, é fato inegável que no Universo

Page 59: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

5959595959

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

tudo são Leis. A Consciência refere-se, portanto, àquela força

interior do Ser Humano que o impele a exteriorizá-la sob

forma de ação, para os devidos fins, pois em tudo tem uma

razão de existir.

Mas, para fazermos isso, devemos buscar integrar o

nosso sentir, pensar e agir, quando das relações. Afinal, o

Ser Humano é também o produto do que sente, pensa e faz,

bem como do meio em que vive. Eis que os nossos

sentimentos, pensamentos e atos nada mais são senão

expressões de nossa Consciência.

Com isso, não nos cabe mais, por exemplo, buscar

fazer ciência sem Consciência, ou mesmo buscar promover

o desenvolvimento profissional, através da educação, sem a

preocupação com o despertamento, desenvolvimento e

socialização do potencial humano como um todo.

Assim, o que temos considerado, e até então sustentado,

é que devemos buscar integrar os princípios de moral, ética e

estética elevadas, os nossos coeficientes de inteligência,

emocional e espiritual, ao mesmo tempo. É preciso também

incluirmos o aprender a ser como o elemento basilar das

aprendizagens que perpassam o processo educativo,

conforme orienta o Relatório da UNESCO para a educação

do século XXI (DELORS et al., 1999). Portanto, muito importa

que tratemos urgentemente das nossas dimensões interior,

exterior, individual e coletiva, conforme expressamos na Parte

I, a partir dos fundamentos de Ken Wilber (1986, 1990, 1994,

Page 60: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

6060606060

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

1998a, 1998b, 1999, 2001a, 2001b).

Vale lembrar que o Ser Humano, ainda que pouco

consciente, vive, cada vez mais, adquirindo sabedoria e força,

mas, senão nada, pouco adianta adquirirmos sabedoria e

força e não termos beleza em nossas ações. No entanto,

não se adquire a sabedoria sem o sentir, a força sem o controle,

bem como a beleza das ações sem a razão, o bom senso e a

boa intenção. Não é demais lembrar que precisamos ter

sobrevivido às duas grandes guerras para entendermos a razão

de suas benesses.

Busquemos, pois, manter boas convivências,

racionalmente justificadas, como um meio de nos ensejar

um viver cada vez mais consciente e, no mínimo, com a

possibilidade de vivermos integrados conosco e com o todo

do qual fazemos parte, dando-nos a chance de sermos

exemplos significativos para nós mesmos e para o nosso

próximo. Afinal, é factualmente perceptível que medimos

o nosso grau de Consciência pela nossa conduta; que muito

mais educativo do que as palavras são os nossos atos; e que

toda conduta é um exemplo, e todo exemplo, enquanto

não educa, no mínimo, motiva.

Tratando-se de desenvolvimento humano, vale ressaltar

que a maior motivação do Ser Humano, até prova em

contrário, reside na busca de sentido da vida. Segundo Dana

Zohar e Ian Marshal (2000) diversas pesquisas realizadas pela

filósofa, física e consultora internacional na área de

Page 61: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

6 16 16 16 16 1

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

desenvolvimento humano, Dana Zohar, comprovam esta

afirmação.

Quanto a avaliarmos significativamente o nosso grau

de Consciência, basta observarmos e verificarmos o quanto

refletimos acerca de quem somos, de onde viemos e para

onde vamos, bem como acerca do Princípio Criador de todas

as coisas, da Finalidade da Vida, e da Razão da nossa

Existência. É tarefa, pois, do homem de Consciência, no

mínimo, sinalizar para a humanidade acerca da importância

do que indica a noção exata de alma, de Consciência e de

Lei Natural para a sua evolução abreviada, principalmente

consciente, bem como para a sua dignidade e função, tanto

individual quanto social.

A razão não se recusa a aceitar que a Consciência é

um fenômeno que se processa no interior do homem e é

justamente em nosso interior que devemos trabalhar mais –

com dedicação e urgência – para despertá-la, se assim

podemos dizer, do seu torpor.

A partir do exposto, vale reforçar que nosso caminho

natural é o despertamento da nossa Consciência, como tarefa

emergencial, inclusive e principalmente, através da Educação,

em especial a individual, ainda que tenhamos muitos limites

e/ou obstáculos para tal.

A Educação, portanto, tem por finalidade auxiliar os

educandos no processo de desenvolvimento dos estados de

Consciência, assim como das suas relações com a realidade

Page 62: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

6262626262

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

e com os valores existenciais. Ela deve ajudar no

direcionamento da auto-integração do gênero humano,

possibilitando-lhe conceber da vida a sua real beleza, a sua

real riqueza, bem como a sua real significação.

Precisamos, por conseguinte, de uma pedagogia que

esteja de acordo com as pesquisas contemporâneas acerca

da Consciência como um todo, pois qualquer coisa em

contrário, só aumenta o caos no qual vivemos. Para Stanislav

Grof (1987), os resultados mais ambiciosos são inconcebíveis

sem que se introduzam a espiritualidade e a perspectiva

transpessoal na educação. Desta forma: mãos à obra!

Segundo a abordagem transpessoal, os nossos

conceitos de educação e sua finalidade, a construção do

conhecimento, o papel do educador, a função do ensino e

o desenvolvimento do educando devem ser,

ininterruptamente, repensados.

Nesse contexto, vislumbramos a possibilidade de uma

educação verdadeira, que contemple a integração das diversas

dimensões do Ser Humano, assim como de seus níveis de

conhecer, fazer, viver juntos e ser, portanto, a unidade do

conhecimento, a partir do despertamento, cada vez mais

claro, da Consciência, isto é, da nossa capacidade de reflexo.

Afinal, a obra reflete o artista.

Page 63: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação
Page 64: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

6464646464

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

PPPPPARARARARARTE IIITE IIITE IIITE IIITE III

O PAPEL DA EDUCAÇÃO

NO DESPERTAR DA CONSCIÊNCIA

Page 65: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação
Page 66: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

6666666666

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

QQQQQuando falamos de educação, devemos lembrar

que ela pressupõe um movimento de dentro

para fora, mais precisamente no gênero humano. Daí a

necessidade de investirmos nas nossas potencialidades

internas. Para tanto, muito importa utilizarmos como

atividade meio o autoconhecimento, pois o Ser Humano

não vive sem o saber, enfim, sem o conhecimento. Mas o

único conhecimento que o Ser Humano não pode desprezar

é o conhecimento de si mesmo. Eis a senda da educação

verdadeira.

Entendemos que é necessário nos relacionarmos, através

da educação, não só com o mundo objetivo e empírico do

conhecimento moderno, mas também com o mundo subjetivo

e espiritual da sabedoria.

É um ledo engano a idéia de que, acumulando

ensinamentos e adquirindo técnicas, estamos nos educando.

Isso só nos trouxe separatividade e guerra. Basta olhar ao

nosso redor e verificar o estado em que nos encontramos,

Page 67: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

6767676767

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

com a corrupção, violência e volúpia como que globalizados.

Enquanto houver no Ser Humano uma distância

significativa entre a sua ação, o seu pensamento e o seu

sentimento, ou seja, entre o sentir, o pensar e o agir, é

evidente que não haverá auto-integração; portanto não

haverá autoconhecimento e tampouco autotransformação,

mas sim fragmentação. E o que pode produzir um

fragmentado, se toda ação produz uma reação igual e em

sentido contrário? Assim, não haverá ação criativa, mas sim

ação condicionada, esta que nos colocou hoje como estamos:

em caos generalizado.

Considerando nossa intenção em contribuir para a

realização de um processo educativo que prime pela unidade

de pensamento entre os conhecimentos religioso, filosófico

e científico, a partir da compreensão da necessidade de

integração de todos os níveis e de todas as dimensões do Ser

Humano, volvemos nossa atenção para o estudo da

Consciência, essa amiga que é, para todos nós, tanto bússola

quanto mapa, nessa jornada rumo à totalidade.

Estamos mais do que confiantes. Estamos convictos e

certos de que a educação integral, fundamentada no estudo

da Consciência, responde aos anseios da educação para o

século XXI, tal como expressa o Relatório Internacional da

educação para o século XXI, da UNESCO, intitulado

“Educação – um tesouro a descobrir” (DELORS et al., 1999).

Este documento expõe, claramente, os quatro pilares da

Page 68: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

6868686868

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

educação para esse período: aprender a conhecer, aprendera fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser.

O aprender a conhecer significa a aprendizagem doconhecimento científico e cultural que nos ajuda a distin-guir o que é real e o que é ilusório, e a ter um acessointeligente aos saberes de nossa época. Afinal, o SerHumano não vive sem o saber. Nesse contexto, o espíritocientífico, como uma aquisição fundamental da aventurahumana, é indispensável. Aprender a conhecer tambémsignifica ser capaz de estabelecer pontes entre os diferentessaberes; entre estes saberes e seus significados para nossavida cotidiana; entre estes saberes e significados e nossascapacidades interiores.

Já o aprender a fazer significa a aquisição de umaprofissão e dos conhecimentos e práticas que lhe sãopeculiares. Toda profissão, no futuro, deveria ser umaverdadeira profissão a ser tecida; uma profissão que es-taria ligada, no interior do Ser Humano, aos fios que aligam a outras profissões. No fim das contas, aprender a

fazer é um aprendizado da criatividade. Fazer também sig-nifica fazer o novo, criar, trazer suas potencialidadescriativas à luz.

Quando tratamos do respeito às normas que regem as

relações entre os seres que compõem uma coletividade, estamos

nos referindo à aprendizagem do viver juntos, segundo expressa

o Relatório da UNESCO. Todavia, estas normas devem ser

Page 69: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

6969696969

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

realmente compreendidas, admitidas interiormente por cada

sujeito, e não sentidas como pressões externas. Envolve,

diretamente, reconhecer-se na face do Outro. Trata-se de um

aprendizado permanente, que deve começar na mais tenra

infância e continuar ao longo da vida. Afinal, em boas condições

vive, quem boa condução tem.

Por fim, o aprender a ser significa formar-se

integralmente. A construção de uma pessoa passa,

inevitavelmente, pelas tensões entre o interior e o exterior,

entre o empírico, o mental e o espiritual. Aprender a ser

também é aprender a conhecer e respeitar aquilo que liga o

Sujeito e o Objeto.

O Relatório da UNESCO afirma que os três primeiros

objetivos ou pilares da educação assentam-se sobre o quarto;

ou seja, o aprender a conhecer, o aprender a fazer, o

aprender a viver juntos só fazem sentido se estiverem

assentados no aprender a Ser. É o Ser que integra, em si, as

diversas dimensões da vida, que nele se assentam. Afinal,

Ser se pratica (DELORS et al., 1999).

Conforme podemos observar, há uma inter-relação

bastante evidente entre os quatro pilares propostos para a

educação do século XXI e a visão do desenvolvimento integral

do Ser Humano, como foi configurado anteriormente.

Situamos o aprender a conhecer e o aprender a fazernos quadrantes superior e inferior direito, ambos relacionados

às nossas realidades objetiva e interobjetiva; o aprender a

Page 70: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

7070707070

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

viver juntos, no quadrante inferior esquerdo, e o aprendera ser, no quadrante superior esquerdo, referindo-os às nossas

realidades intersubjetiva e subjetiva. Nem tudo é tangível.

Pensamos, portanto, em uma educação que se dirija à

totalidade do Ser Humano, e não apenas a uma ou outra de

suas dimensões; ou a um outro dos seus níveis. Uma educação

que não privilegie, prioritariamente, nem a espiritualidade,

nem a materialidade, nem a individualidade, nem a coletividade,

mas sim que integre todas essas dimensões e níveis.

A educação integral, a partir desses referenciais,

esclarece, de uma maneira sempre nova, a necessidade que

cada vez mais se faz sentir atualmente: a de uma educação

permanente para o viver bem, isto é, em equilíbrio dinâmico,

factual. Com efeito, essa proposta de educação, por sua

própria natureza, necessita ser exercida não apenas nas

instituições de ensino, da educação infantil à universidade,

mas em todas as experiências da vida, individuais e coletivas,

espontâneas e institucionais. Eis que é uma obra de todos

nós, porquanto está mais do que na hora de provarmos a

nós mesmos que nada vive no isolamento. Conta-nos a história

“Tudo é relativo, porque nada é composto de um só elemento

indivisível” (OCIDEMNTE, 2001, p. 138), acerca do valor

significativo das relações:

Era um inverno rigoroso, não pelas chuvas, mas pelo

frio intenso. E o sol, ainda que à disposição, não se arriscava

em apresentar-se de maneira veemente, pois quase nunca

Page 71: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

717 17 17 17 1

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

era convidado para ser contributivo como sabia e queria,

mas sim, só como podia. E as nuvens densas, atentas,

preocupavam-se em manter tal estado, encarregando-se de

assegurar a conduta desse amigo que, embora tenha a

intenção de contribuir com os planetas ao seu redor, quase

sempre o faz de maneira desordenada.

Pois bem, nesse tempo, a terra descansava seu solo,

refrescando-o, sem preocupar-se com os possíveis exageros,

porquanto agora era a hora de preparar-se para as águas

que viriam e deveriam ser saudadas como bem-vindas. Era

o momento de entender-se que a fauna e flora seriam

transformadas radicalmente. Eis que novas adequações

seriam exigidas.

No templo do mestre Poquí, um dos imutabilistas mais

estudiosos acerca da Imutabilidade, principalmente voltada

às Leis Invioláveis da Natureza, todos estavam reféns do frio.

Era um momento de reflexão e, neste tempo, sempre o

mestre usava da palavra para falar e dizer algo significativo

para os seus discípulos, que o acompanhavam na senda da

imutabilização, ou seja, na prática do conhecimento,

autoconhecimento e auto-realização, por conseguinte, na

prática da evolução abreviada consciente. O assunto do dia

era as relações.

– Mestre - dizia Borné, um dos seus discípulos mais

estudiosos - já aprendemos consigo que a vida se provapelo movimento e exige ser compreendida por todos nós,

Page 72: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

7272727272

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

mas só nos oferece o viver, que é ser e estar em relaçãocom o todo do qual somos parte integrante, tãoimportante quanto todas as outras. Já aprendemostambém que ser e estar cada vez mais conscientes distoimplica em, cada vez mais, saber absorver o valorsignificativo real das relações. E quanto mais assim,menos problemas somos, temos ou criamos.

– Pois bem, para ser e estar em condições mínimas

indubitáveis para isso realizar, tão consciente quanto a sua

importância exige, buscamos aqui, consigo, através das

indicações da Imutabilidade, comprovar isto, se assim podemos

dizer, o experimentando direta, correta e completamente,

em nós mesmos, através, inclusive, do trabalho de

despertamento de nossas faculdades, tais como: necessidade,

vontade, imaginação, inteligência, verdade, Consciência e

ciência; pelo desenvolvimento de nossas qualidades, a saber:

sentir, querer, pensar, reconhecer, ousar, raciocinar e realizar;

segundo o uso de nossas forças em domínio, tais como:

reflexão, concentração, meditação, vibração, percepção,

contemplação e exaltação, respectivamente. Daí mestre, me

surgiu uma questão: afinal, qual a finalidade da vida, que só a

alcançamos através das relações?

– Meu querido Borné - continuou Poquí - o mestreverdadeiro é aquele que prima pelo método de ensino quefacilita o aprendizado; é aquele que prima pelos que estãoprontos a aprender, mas que não gostam, não necessitam,

Page 73: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

7373737373

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

não exigem facilidades, tão pouco dependem de serensinados, mas sim de ser bem conduzidos.

– Portanto lhes digo, aquilo que nos dizes agora

demonstra que estás em condições mínimas indubitáveis de

conseguires o que desejas. Assim, o que esse seu prezado

amigo pode agora lhe dizer é que os persistentes vencem,

mas só os inteligentes encontram a fonte.

– Eis meu caro, que a finalidade da vida eu não a posso

dar. Afinal, a vida não é algo que se possa narrar, descrever,

tampouco explicar, embora se possa favorecer alcançar o

seu valor significativo real, mas só absorvendo-o, em si

mesmo; portanto só aquele que já chegou neste grau de

Consciência pode realizar tal façanha e contentar-se em não

poder dá-la aos demais.

Terminou o mestre com um movimento estático, e o

seu corpo físico denunciava a sua alegria de haver no templo,

não só entendimento, mas também compreensão, que é,

para com os seus discípulos, a sua maior função. Porquanto

a compreensão vem com a percepção direta do que é, talqual é, e é isso o que possibilita a imutabilização.

E Borné? Ah! Borné relaxou e espalhou-se no chão

como se já não se preocupasse mais, porquanto, mais uma

vez, via demonstrado pelo seu mestre que, da vida, tudo já

foi dito e ouvido, embora nada tenha sido falado. Tratava-se,

agora, de ver quem deseja tornar-se testemunha e

testemunhar.

Page 74: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

7474747474

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

Ser Humano é buscar saber usar o que indica,Ser Humano é buscar saber usar o que indica,Ser Humano é buscar saber usar o que indica,Ser Humano é buscar saber usar o que indica,Ser Humano é buscar saber usar o que indica,tanto a relatividade quanto a Imutabilidade, paratanto a relatividade quanto a Imutabilidade, paratanto a relatividade quanto a Imutabilidade, paratanto a relatividade quanto a Imutabilidade, paratanto a relatividade quanto a Imutabilidade, para

alcançaralcançaralcançaralcançaralcançar, em si mesmo, o valor significativo real das, em si mesmo, o valor significativo real das, em si mesmo, o valor significativo real das, em si mesmo, o valor significativo real das, em si mesmo, o valor significativo real dasrelações, portanto, a verdade, e se libertarrelações, portanto, a verdade, e se libertarrelações, portanto, a verdade, e se libertarrelações, portanto, a verdade, e se libertarrelações, portanto, a verdade, e se libertar.....

Essa visão integral pode e deve sustentar uma educação

integral, em que se façam presentes, tanto a significação do

subjetivo quanto do objetivo; tanto do individual quanto do

coletivo; tanto do empírico quanto da mente e do espiritual.

Nessa configuração, caberá oferecer ao educando

aprendizagens que lhe possibilite formar-se em sua capacidade

de conhecer, tanto com o olho da carne (mundo empírico)

quanto com o olho da mente (experiência interna), bem

como com o olho do espírito (experiência espiritual e unitiva).

É nesse contexto que cabe a proposição urgente do

estudo da Consciência no ensino formal, através das diversas

práticas pedagógicas. Essa visão contempla, pois, o objetivo

e o subjetivo, como veremos, e atende à abordagem integral

do desenvolvimento humano, que o mundo de hoje demanda.

Com o objetivo de contribuir com o desenvolvimento

integral do Ser Humano, através da educação, propomos a

criação de um Núcleo de Investigações Avançadas da

Consciência em todas as modalidades de ensino de todas as

áreas do conhecimento, em instituições educacionais de

âmbito nacional e internacional, concomitante com a

implantação de disciplinas curriculares diretamente voltadas

para o estudo da Consciência.

Page 75: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

7575757575

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

Nossa experiência confirma que essas disciplinas

precisam se adaptar a cada nível de ensino, acompanhar os

estágios do desenvolvimento humano e funcionar como um

processo de transcendência e inclusão da disciplina

predecessora, no intuito de integrar todos os níveis e

modalidades de ensino. Sugerimos, assim, uma educação

integral alicerçada no estudo da consciência e indicamos a

criação das seguintes disciplinas:

- Iniciação à Consciência, no âmbito da Educação

Infantil e do Ensino Fundamental;

- Consciência, no âmbito do Ensino Médio;

- Conscienciologia, no âmbito do Ensino Superior.

Até o presente momento, o estudo da Consciência

enquanto disciplina curricular já faz parte da matriz curricular

de uma escola privada, na cidade do Salvador-Bahia, que

oferece educação infantil e ensino fundamental. No ensino

superior, já implantamos a disciplina Conscienciologia nos

cursos de graduação Normal Superior, licenciatura em

educação infantil e ensino fundamental, e Ciências

Biológicas, em faculdades e universidades privadas e públicas

do estado da Bahia, nas modalidades presencial e à distância.

Foi consolidada também em cursos de pós-graduação latoe stricto sensu nas áreas de ciências humanas e ciências

sociais aplicadas.

Em função da repercussão de tal proposta, bem como

Page 76: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

7676767676

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

pela percepção da real necessidade de favorecer o estudo da

Consciência em prol da formação humana, além da formação

profissional dos educandos, a disciplina Conscienciologia já

faz parte da matriz curricular de cursos de Master BusinnessAdministration (MBA), da Universidade Federal do Mato

Grosso, e vem se expandindo não só na área das ciências

humanas como também nas outras áreas do conhecimento,

em diferentes instituições de ensino superior.

O estudo da Consciência, nesse contexto, vem

apresentando os seguintes objetivos principais relativos ao

desenvolvimento humano: auxiliar o Ser Humano a observar

a relação entre a sua constituição física/psíquica/moral e a

sua maneira de sentir, pensar e agir, enfim, de realizar,

segundo as exigências de suas necessidades básicas individuais

e sociais; favorecer ao Ser Humano o estudo da relação das

raças/corpos e suas maneiras de ser e estar em relação a si e

ao meio no qual se insere, conforme suas realizações,

estudando a sua conduta psicossocial, portanto, buscando

verificar o grau de sua Consciência individual e social; além

de oportunizar ao Ser Humano o despertamento e/ou

construção do seu caráter, segundo aquilo que indica a noção

de moral, ética e estética elevadas.

Nesta perspectiva, a finalidade última da Consciência é

a de facultar aptidões ao Ser Humano, tais como o

discernimento, que o possibilitem compreender, absorvendo,

em si mesmo, a natureza real que reside em todas as coisas,

Page 77: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

7777777777

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

inclusive, e principalmente, o valor significativo real das

relações, conforme já citado anteriormente.

Assim, estamos sendo não só convidados, mas também

convocados, no presente livro, a refletir acerca de uma

educação que favoreça, de fato, o desenvolvimento integral

dos educandos, destacando o papel da Consciência.

A educação integral, fundamentada no estudo da

Consciência, por sua vez, inspira outra maneira de ver as

coisas em ciência, filosofia e religião, na medida em que

ela lida, ao mesmo tempo, com os diversos níveis e as

diversas dimensões do gênero humano. Precisamos,

portanto, cada vez mais, aprender a conhecer, aprender afazer, aprender a viver juntos, bem como aprender a ser.Enfim, temos que assumir o dever moral de sempre estar

relembrando que não somos somente o resultado do que

sabemos ou aparentamos ser.

Que a Consciência nos ilumine!

Page 78: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

7878787878

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

REFERÊNCIAS

ABBAGNANO, N. Dicionário de filosofia. São Paulo:

Martins Fontes, 1999.

BASSO, Theda; PUSTILNIK, Aidda. Corporificando aConsciência: teoria e prática da dinâmica energética do

psiquismo. São Paulo: Instituto Cultural Dinâmica

Energética do Psiquismo, 2000.

BRANDÃO, Denis; CREMA, Roberto. Visão holística empsicologia e educação. São Paulo: Summus, 1991.

DAMÁSIO, Antônio. O mistério da Consciência..... São

Paulo: Cia das Letras, 2000.

DELORS, Jacques et al. Educação: um tesouro a

descobrir. Relatório para a UNESCO da Comissão

Internacional sobre a Educação para o século XXI. São

Paulo: Cortez; Brasília, DF: MEC/UNESCO, 1999.

GROF, Stanislav. Além do cérebro – nascimento, morte e

transcendência em psicoterapia..... Rio de Janeiro: Rocco,

1987.

______. A mente holotrópica – novos conhecimentos

sobre psicologia e pesquisa da Consciência. Rio de Janeiro:

Rocco, 1994.

______. O jogo cósmico – explorações das fronteiras da

Consciência humana. São Paulo: Atheneu, 1998.

Page 79: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

7979797979

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

______. Psicologia do futuro: lições das pesquisas

modernas de Consciência. São Paulo: Heresis

Transpessoal, 2000.

LA SALA BATÀ, Angela Maria. O desenvolvimento daConsciência. São Paulo: Pensamento, 1976.

______. Os sete temperamentos. São Paulo: Pensamento,

1999.

LUCKESI, Cipriano C. Desenvolvimento dos estados de

consciência e ludicidade. In: Cadernos de Pesquisa doNúcleo de Filosofia e História da Educação da FACED-UFBA, Salvador, v.2, n.1, p.9-25, 1998 .

OCIDEMNTE - ORGANIZAÇÃO CIENTÍFICA DE

ESTUDOS MATERIAIS, NATURAIS E ESPIRITUAIS.

Histórias imutabilistas. Salvador: Ocidemnte, 2001.

______. A Arca. Salvador: Ocidemnte, 2002.

WILBER, Ken O espectro da Consciência. São Paulo:

Cultrix, 1990.

______. (Org.). O paradigma holográfico e outrosparadoxos: uma investigação nas fronteiras da ciência. São

Paulo: Cultrix, 1994.

______. Después del éden: uma vision transpersonal del

desarollo humano. Barcelona, Espanha: Kairós, 1995.

______. A Consciência sem fronteiras: pontos de vista do

Oriente e do Ocidente sobre o crescimento pessoal. São

Page 80: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

8080808080

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

Paulo: Cultrix, 1998a.

______. The marriage of sense and soul. Nova York:

Random house Inc. 1998b.

______. Los tres ojos del conocimiento: la búsqueda de un

nuevo paradigma. Barcelona, Espanha: Kairós, 1999.

______. Uma breve história do universo: de Buda a

Freud: religião e psicologia unidas pela primeira vez. Rio

de Janeiro: Nova Era, 2001a.

_______. Una teoría de todo: una visión de la ciencia, la

política, la empresa y la espiritualidad. Barcelona,

Espanha: Kairós, 2001b.

ZOHAR, Danah; MARSHALL, Ian. QS: inteligênciaespiritual. Rio de Janeiro: Record, 2000.

Page 81: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

8 18 18 18 18 1

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

NOTAS

1 Vamos utilizar, aqui, o termo “eu” para designar uma personalidade

suficientemente sadia, capaz de suportar a manifestação de estados

expandidos e não-lineares de Consciência; reservamos o termo “ego”

para designar os padrões de conduta solidificados, lineares, que dificultam

a manifestação de estados de Consciência não lineares.

2 Ken Wilber é o estudioso norte-americano que pesquisa sobre a Consciência

e seus estados de desenvolvimento. Bioquímico de formação, ele se dedicou

aos estudos da psicologia e da filosofia, os quais têm nos proporcionado

uma visão consistente que integra verdades de campos como a física e a

biologia, as ecociências, a teoria do caos e as ciências de sistemas, a

medicina, a neurofisiologia, a bioquímica, a arte, a poesia e a estética em

geral, a psicologia do desenvolvimento e um espectro de esforços

psicoterapêuticos ocidentais e orientais, respeitando o espectro inteiro da

Consciência, não apenas na esfera individual, mas também na coletiva.

3 Sobre São Boaventura, diz Wilber (1999, p. 13, tradução nossa): “[...] o

grande Doutor Seráfico da Igreja e um dos filósofos referidos pelos

místicos ocidentais.”

“[...] el gran doctor Seraphicus de la Iglesia y uno de los filósofos referidos

por los místicos occidentales.”

4 A abordagem sobre a ontogenia humana pode ser melhor explicada em

sua obra Projeto Atman, a qual oferece subsídios para a compreensão

do ciclo completo da vida, atravessando as fases pré-pessoal e

transpessoal (WILBER, 1999).

5 A abordagem sobre a filogenia humana pode ser melhor explicada em

sua obra Después del Éden, a qual trata da história do desenvolvimento

da raça humana, com suas respectivas unidades taxonômicas (WILBER,

1995).

Page 82: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

8282828282

O Papel da Consciência... Maribel Barreto

6 O termo holônico deriva de hólon. Foi criado por Arthur Koestler, para

designar que a realidade é um “todo” que, por sua vez, também é

constituída de “[...] todos. Ou seja, um hólon é uma totalidade em si

mesma, que se relaciona horizontalmente com outros hólons, formando

uma totalidade mais complexa, que inclui e ultrapassa a menos

complexa.” (WILBER, 1999, p. 58).

7 Holarquia é uma hierarquia natural composta de totalidades ou hólons,

que se desenvolve em três níveis distintos, como uma série de círculos

concêntricos, dando a aparência de um ninho, em que cada hólon mais

complexo envolve ou engloba os menos complexos. (WILBER, 1999).

8 “A Grande Cadeia é também uma holarquia composta de hólons: o

Espírito transcende a alma que, por sua vez, transcende – ao mesmo

tempo em que inclui – a mente que, por sua vez, transcende – ao

mesmo tempo em que inclui – o corpo etc. Neste sentido, cada hólon

superior engloba e, neste sentido, inclui seus predecessores. Esta é a

verdadeira natureza das totalidades/parte, dos hólons e das holarquias,

ninhos cada vez mais globais e envolventes.” (WILBER, 2000, p.98). Nessa

fase, Wilber passa a chamar a Grande Cadeia de Grande Ninho do Ser.

9 Shela significa discípulo.

Page 83: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação
Page 84: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação

MMMMMARIBELARIBELARIBELARIBELARIBEL O O O O OLIVEIRALIVEIRALIVEIRALIVEIRALIVEIRA B B B B BARRETOARRETOARRETOARRETOARRETO

[email protected]

Page 85: O papel da Consciência em face dos desafios atuais da educação