o pagamento indiscriminado do adicional de insalubridade...

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ MOISÉS MACHADO DA SILVA O PAGAMENTO INDISCRIMINADO DO ADICIONAL DE INSALUBRIDADE E SUAS CONSEQUÊNCIAS CURITIBA 2013

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

MOISÉS MACHADO DA SILVA

O PAGAMENTO INDISCRIMINADO DO ADICIONAL DE INSALUBRIDADE E SUAS CONSEQUÊNCIAS

CURITIBA 2013

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MOISÉS MACHADO DA SILVA

O PAGAMENTO INDISCRIMINADO DO ADICIONAL DE INSALUBRIDADE E SUAS CONSEQUÊNCIAS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Direito, da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito a obtenção do grau de Bacharel em Direito. Orientador: Prof. Felipe Augusto da Silva Alcure

CURITIBA

2013

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TERMO DE APROVAÇÃO

MOISÉS MACHADO DA SILVA

O PAGAMENTO INDISCRIMINADO DO ADICIONAL DE INSALUBRIDADE E SUAS CONSEQUÊNCIAS

Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do título de Bacharel em Direito no Curso de Direito da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, de de 2013.

Orientador:

__________________________________________________ Professor Pós-Doutor Eduardo de Oliveira Leite Coordenador do Núcleo de Monografias do Curso de Direito Universidade Tuiuti do Paraná

Professor Felipe Augusto da Silva Alcure Universidade Tuiuti do Paraná

Prof. Universidade Tuiuti do Paraná

Prof. Universidade Tuiuti do Paraná

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AGRADECIMENTOS

A Deus, que nos momentos mais difíceis desta trajetória me deu saúde e

forças pra continuar.

A minha linda e querida esposa Christine Stahl Bonatti, parceira para todas

as horas, compreensiva e dedicada e que sempre me incentivou a continuar na

busca por todos os meus sonhos.

Ao meu lindo filho Rafael Otávio da Silva, que sempre está presente em

minha vida e que nem precisa dizer uma palavra para demonstrar seu carinho e

amizade.

Ao meu professor orientador Felipe Augusto da Silva Alcure, que dedicou

seu precioso tempo para me orientar em todas as fases deste trabalho, bem como, a

todos os professores da Universidade Tuiuti do Paraná pela dedicação, carinho e

paciência.

Enfim, a todos aqueles que sempre me fortaleceram com palavras de

esperança e incentivo, meu muito obrigado.

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“Aqueles que se sentem satisfeitos sentam-se

e nada fazem. Os insatisfeitos são os únicos

benfeitores do mundo.”

Walter S. Landor

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RESUMO

O objetivo deste trabalho consiste na análise do pagamento indiscriminado do adicional de insalubridade e suas consequências, isso porque, o que se observa atualmente, na grande maioria dos casos, é que o adicional de insalubridade é pago indevidamente, com a justificativa, por parte do empregador de que tal pagamento é realizado para se evitar problemas judiciais futuros e o trabalhador por sua vez, mesmo de forma inconsciente, prefere na maioria das vezes o adicional insalutífero do que as melhorias de suas condições de trabalho, ignorando suas consequências. Portanto, observa-se que o pagamento indevido do adicional de insalubridade gera consequências tanto para as empresas quanto para os empregados, e neste sentido, esse trabalho consiste em pontuar algumas destas consequências, notadamente a ausência de investimentos em saúde e segurança, a expectativa da aposentadoria especial e o aumento de custos na folha de pagamento do empregador com os recolhimentos majorados à Previdência Social. Para atingir o objetivo proposto, analisamos os dispositivos legais atinentes ao tema, bibliografias, doutrinas, artigos entre outros materiais relacionados. Com efeito, conclui-se que quando o adicional de insalubridade é pago em discordância com a legislação em vigência nenhuma das partes envolvidas têm qualquer tipo de benefício, contrariamente a isso, tanto o trabalhador quanto o empregador perdem adotando essa prática equivocada. Palavras-chave: Adicional de Insalubridade. Aposentadoria Especial. Agentes nocivos à Saúde do Trabalhador.

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LISTA DE SIGLAS

ACGIH American Conference Of Governmental Industrial Hygienists

CA Certificado de Aprovação

CIPA Comissão Interna de Prevenção de Acidentes

CNEN Comissão Nacional de Energia Nuclear

DB Decibel

EPC Equipamento de Proteção Coletiva

EPI Equipamento de Proteção Individual

FAP Fator Acidentário de Prevenção

GILRAT Grau de Incidência de Incapacidade Laborativa Decorrente dos Riscos

do Ambiente de Trabalho

IBUTG Índice de Bulbo Úmido – Termômetro de Globo

LTCAT Laudo Técnico das Condições Ambientais de Trabalho

NR Norma Regulamentadora

PCA Programa de Conservação Auditiva

PCMSO Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional

PPP Perfil Profissiográfico Previdenciário

PPR Programa de Prevenção Respiratória

PPRA Programa de Prevenção de Riscos Ambientais

RAT Riscos do Ambiente de Trabalho

SAT Seguro Acidente do Trabalho

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 9

2 QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO ................................................... 11

3 O ADICIONAL DE INSALUBRIDADE ....................................................... 13

3.1 CONCEITO ................................................................................................. 13

3.2 A INSALUBRIDADE NO BRASIL ............................................................... 13

3.3 LEGISLAÇÃO SOBRE INSALUBRIDADE .................................................. 15

3.3.1 Agentes Insalubres ..................................................................................... 16

3.3.1.1 Anexo 1 – Ruído Contínuo ou Intermitente................................................. 16

3.3.1.2 Anexo 2 – Ruído de Impacto ...................................................................... 18

3.3.1.3 Anexo 3 – Calor .......................................................................................... 18

3.3.1.4 Anexo 4 – Iluminação ................................................................................. 19

3.3.1.5 Anexo 5 – Radiações Ionizantes ................................................................ 19

3.3.1.6 Anexo 6 – Trabalho Sob Pressões Hiperbáricas ........................................ 20

3.3.1.7 Anexo 7 – Radiações não Ionizantes ......................................................... 21

3.3.1.8 Anexo 8 – Vibração .................................................................................... 21

3.3.1.9 Anexo 9 – Frio ............................................................................................ 22

3.3.1.10 Anexo 10 – Umidade .................................................................................. 23

3.3.1.11 Anexo 11 – Agentes Químicos cuja insalubridade é caracterizada por limite

de tolerância e inspeção no local de trabalho ............................................. 23

3.3.1.12 Anexo 12 – Poeiras Minerais ...................................................................... 24

3.3.1.13 Anexo 13 – Agentes Químicos ................................................................... 25

3.3.1.14 Anexo 13-A – Benzeno ............................................................................... 26

3.3.1.15 Anexo 14 – Agentes Biológicos .................................................................. 26

4 CRITÉRIOS PARA CARACTERIZAÇÃO DA INSALUBRIDADE ............. 28

5 BASE DE CÁLCULO DO ADICIONAL DE INSALUBRIDADE ................. 30

6 MEDIDAS DE CONTROLE ........................................................................ 32

6.1 MEDIDAS DE CONTROLE COLETIVAS ................................................... 32

6.2 MEDIDAS DE CONTROLE INDIVIDUAIS .................................................. 34

6.3 OUTRAS MEDIDAS PREVENTIVAS ......................................................... 35

6.3.1 PPRA – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais ............................ 35

6.3.2 PCMSO – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional .............. 36

6.3.3 CIPA – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes............................... 36

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6.3.4 PPR – Programa de Proteção Respiratória ................................................ 37

6.3.5 PCA – Programa de Conservação Auditiva ................................................ 37

7 AS CONSEQUÊNCIAS DO PAGAMENTO INDISCRIMINADO DO ADICIONAL DE INSALUBRIDADE ........................................................... 38

7.1 CONSEQUÊNCIAS PARA A EMPRESA.................................................... 39

7.2 CONSEQUÊNCIAS PARA O TRABALHADOR .......................................... 44

7.2.1 Ausência de investimentos em Segurança do Trabalho ............................. 44

7.2.2 Expectativa de Aposentadoria Especial...................................................... 45

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................... 50

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 53

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1 INTRODUÇÃO O adicional de insalubridade é um recurso utilizado largamente pelos

empresários brasileiros, sendo que na grande maioria dos casos, esse adicional é

pago aos trabalhadores de forma indiscriminada, gerando consequências muitas

vezes imperceptíveis tanto para o trabalhador quanto para o empregador.

A motivação em desenvolver o tema proposto advém do inconformismo em

observar que o adicional de insalubridade no Brasil não é utilizado como último

recurso, mas sim, como justificativa para a impossibilidade de manter um ambiente

de trabalho salubre.

O desinteresse em acabar com o referido adicional é verificado tanto por

parte do empresário, que acredita fielmente que pagar o referido adicional sai mais

barato, já que não pagando, o trabalhador poderá no futuro acioná-lo judicialmente

pleiteando o pagamento, ou ainda, significará a necessidade da realização de

investimentos em segurança do trabalho, o que em seu entendimento sairá mais

caro. Já no caso dos trabalhadores não há interesse em eliminar o adicional, uma

vez que enxergam equivocadamente que o adicional é uma forma de aumento de

sua renda, ignorando nestes casos os riscos à sua saúde.

Esse fenômeno é denominado por Sebastião Geraldo de Oliveira como a

“monetização do risco”, quando assevera que:

Pela análise do Direito do Trabalho comparado, observa-se que o legislador adotou três estratégias básicas diante dos agentes agressivos: a) aumentar a remuneração para compensar o maior desgaste do trabalhador (monetização do risco); b) proibir o trabalho; c) reduzir a duração da jornada. A primeira alternativa é a mais cômoda e a menos aceitável; a segunda é a hipótese ideal, mas nem sempre possível, e a terceira representa o ponto de equilíbrio cada vez mais adotado. Por um erro de perspectiva, o Brasil preferiu a primeira opção desde 1940 e, pior ainda, insiste em mantê-la, quando praticamente o mundo inteiro já mudou de estratégia. (OLIVEIRA, S., 2011, p. 154).

O que se percebe em vários casos, é que de fato nem existe um ambiente

potencialmente insalubre, ou seja, em grande parte das empresas que pagam desde

sempre o adicional de insalubridade a seus trabalhadores, nunca foi realizado uma

quantificação dos possíveis agentes insalubres, objetivando avaliar se os níveis

presentes no ambiente de trabalho estão acima dos limites de tolerância

estabelecidos na legislação brasileira.

Na lição de Raimundo Simão de Melo, o autor esclarece que:

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Atividades insalubres são aquelas que expõem os trabalhadores a agentes nocivos à saúde acima dos limites legais permitidos e que afetam e causam danos à sua saúde, provocando, com o passar do tempo, doenças e outros males, quase sempre irreversíveis. (MELO, 2013, p. 207).

Ou seja, o adicional de insalubridade somente deve ser pago quando todas

as medidas de controle coletivas e individuais demonstrarem ser ineficazes, para

tanto, são necessárias avaliações qualitativas e quantitativas dos agentes nocivos,

objetivando determinar se estão de fato acima dos limites legais permitidos, somente

após esse estudo, é que deve se adotar o pagamento do referido adicional, se for o

caso.

Diante dessa explanação inicial, o presente trabalho tem por objetivo

analisar pormenorizadamente os motivos que levam o empregador a adotar desde

logo o pagamento do adicional de insalubridade para seus trabalhadores, bem

como, os motivos que levam esses mesmos trabalhadores a não exigirem condições

de trabalho melhores, diante da percepção do adicional.

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2 QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO A qualidade de vida no trabalho está diretamente relacionada à qualidade de

produtos e serviços oferecidos pela empresa, em outras palavras, as empresas que

mantém um ambiente de trabalho saudável certamente são mais competitivas e

esse aspecto constitui-se num dos maiores desafios das organizações.

Conforme nos ensina Sebastião Geraldo de Oliveira (2011, p.71), o tema

vem ganhando espaço no Brasil, salientando que na Constituição da República de

1988, mais precisamente em seu artigo 225, está previsto o direito ao meio ambiente

ecologicamente equilibrado, com o destaque no artigo 200 inciso VIII a proteção do

meio ambiente, abarcando também o meio ambiente do trabalho.

Raimundo Simão de Melo define o meio ambiente de trabalho da seguinte

forma:

O meio ambiente de trabalho é “o local onde as pessoas desempenham suas atividades laborais, sejam remuneradas ou não, cujo equilíbrio está baseado na salubridade do meio e na ausência e na ausência de agentes que comprometam a incolumidade físico-psíquica dos trabalhadores, independentemente da condição que ostentem (homens ou mulheres, maiores ou menores de idade, celetistas, servidores públicos, autônomos etc.)” (MELO, 2013, p. 28).

Além disso, a busca por um ambiente de trabalho saudável não está apenas

relacionado à ausência de agentes que potencialmente possam causar danos à

saúde dos trabalhadores, haja vista que em determinadas atividades o contato com

tais agentes é imprescindível para a fabricação de determinados produtos, mas a

adequada manutenção de máquinas, equipamentos e ferramentas de trabalho, bem

como, a forma com que o empregador trata seus empregados, além de outras ações

que conjuntamente contribuem para a harmonização do ambiente de trabalho.

Desta forma, compreendemos que a qualidade de vida no trabalho pode ser

entendida como a busca pelo equilíbrio entre os aspectos psíquico, físico e social,

portanto, relaciona-se diretamente com a necessidade da manutenção de um

ambiente de trabalho salubre, com efeito, a realização de investimentos nos

ambientes de trabalho objetivando mantê-los em condições minimamente saudáveis

aos seus trabalhadores deveria ser a prioridade, o que não se verifica comumente.

Nesse sentido, Sebastião Geraldo de Oliveira sabiamente observa que:

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Cresceu a preocupação louvável com o meio ambiente, com o salvamento de animais em extinção, com a preservação do ecossistema, mas não houve avanço, com a mesma intensidade, na melhoria do ambiente de trabalho. (OLIVEIRA, S., 2011, p. 73).

Conforme determina a Norma Regulamentadora nº 9 (NR-9), somente

depois de esgotadas todas as tentativas de eliminar ou neutralizar os agentes

nocivos à saúde dos trabalhadores através de medidas coletivas, ou seja, melhoria

do ambiente de trabalho, é que o empresário deve adotar subsidiariamente medidas

administrativas e utilização de Equipamentos de Proteção Individual (EPI´s),

entretanto, na grande maioria dos casos adota-se primeiramente o EPI, paga-se o

adicional de insalubridade e a melhoria do ambiente de trabalho ficam sempre em

segundo plano.

No entendimento de Raimundo Simão de Melo, (2013, p. 30), essa

despreocupação com a qualidade do meio ambiente de trabalho acaba onerando a

sociedade como um todo, afinal, sendo o meio ambiente de trabalho saudável e

adequado, um dos principais direitos fundamentais do trabalhador, o desrespeito a

esse preceito legal acabará gerando custos com benefícios previdenciários, e, uma

vez que a Previdência Social e custeada por toda a sociedade evidencia-se o

prejuízo.

Assim sendo, tentaremos demonstrar na sequência deste trabalho que um

dos principais fatores que contribui para a manutenção de um ambiente de trabalho

equilibrado, objetivando atender o preceito constitucional expressado no inciso VIII

do artigo 200, combinado com o artigo 225, ambos da Constituição Federal de 1988,

é o controle da insalubridade, já que esse controle remete ao tratamento do

ambiente de trabalho, que com toda certeza trará a satisfação dos trabalhadores

refletindo em sua qualidade de vida.

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3 O ADICIONAL DE INSALUBRIDADE

3.1 CONCEITO

Para Raimundo Simão de Melo, a definição de Insalubridade é:

Atividades insalubres são aquelas que expõem os trabalhadores a agentes nocivos à saúde acima dos limites legais permitidos e que afetam e causam danos à sua saúde, provocando, com o passar do tempo, doenças e outros males, quase sempre imperceptíveis. (MELO, 2013, p.207).

Tuffi Messias Saliba e Márcia Angelim Chaves Corrêa (2012, p.11),

esclarecem que “a palavra insalubre deriva do latim e significa tudo aquilo que

origina doença, e a insalubridade é a qualidade de insalubre”.

No mesmo sentido, Oliveira (2011, p.194), considera que a insalubridade,

dentre as agressões à saúde do trabalhador é a mais explícita, e assevera que:

O trabalho insalubre é aquele exposto a agentes que podem afetar ou causar danos à saúde, provocar doenças, ou seja, é o trabalho não salubre, não saudável. Muitas enfermidades estão diretamente relacionadas e outras são desencadeadas, antecipadas ou agravadas pela profissão do trabalhador ou as condições em que o serviço é prestado. (OLIVEIRA, S., 2011, p. 194).

3.2 A INSALUBRIDADE NO BRASIL

Conforme nos ensina Oliveira (2011, p.155), o Decreto-lei nº 2.162 datado

de 01 de maio de 1940 foi o primeiro diploma legal a instituir o pagamento do

adicional de insalubridade, já apresentando os percentuais de 10%, 20% e 40%

sobre o salário mínimo e em 1960, a Lei Orgânica da Previdência Social acabou por

reforçar o estabelecimento do referido adicional quando criou a relação entre a

percepção do adicional de insalubridade com a concessão da Aposentadoria

Especial.

A ideia original para a criação do referido adicional tinha em seu âmago

justificativas bastante razoáveis, ou seja, o adicional geraria um aumento da renda

dos trabalhadores, que com o acréscimo aos salários poderiam alimentar-se melhor,

para que pudessem resistir às agressões geradas pelo ambiente insalubre. Já para

as empresas o aumento no custo da folha de pagamentos com o adicional serviria

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de incentivo para que fossem feitos investimentos aos ambientes laborais tornando-

os salubres, dispensando o pagamento do adicional.

Infelizmente não foi o que ocorreu, na verdade, as empresas veem no

pagamento do adicional de insalubridade uma forma mais barata de atender a

legislação, já que, de forma equivocada, entendem que pagando o adicional estão

dispensados de realizar melhorias nos ambientes laborais.

Nesse sentido, Raimundo Simão de Melo assevera que:

[...] esses pressupostos restaram falsos, porque é mais barato pagar os adicionais do que adotar medidas preventivas, que num primeiro momento podem parecer caras, mas na verdade, no decorrer do tempo representam grande investimento empresarial, que levam à diminuição de custos com as responsabilidades pelos diversos danos causados aos trabalhadores. (MELO, 2013, p. 207).

A Constituição da República de 1988 por sua vez, em seu artigo 7º, inciso

XXIII, determina o pagamento do adicional para as atividades insalubres na forma da

lei. A CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), no capítulo V, seção XIII, a partir do

artigo 189, apresenta a definição do que vem a ser as atividades Insalubres, fixa os

critérios para sua caracterização, define os percentuais que devem ser pagos e

também as formas de eliminação ou neutralização dos agentes insalubres.

A Portaria 3.214, de 08 de junho de 1978, aprovou as Normas

Regulamentadoras do Ministério do Trabalho, e dentre elas, a NR-15 que trata

detalhadamente todas as questões relacionadas à Insalubridade, tais como, a

definição dos agentes nocivos que dependem de quantificação para caracterização

do adicional, bem como aqueles que bastam estar presentes no ambiente de

trabalho para gerar a percepção do adicional. Além disso, a NR-15 apresenta os

limites de tolerância para todos os agentes considerados insalubres.

Com efeito, podemos destacar que somente os agentes previstos na NR-15

podem ser considerados Insalubres, ou seja, mesmo que outros agentes sejam

igualmente agressivos à saúde, porém, não estejam previstos na norma em comento

não serão caracterizados para percepção do adicional.

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3.3 LEGISLAÇÃO SOBRE INSALUBRIDADE

Conforme já mencionamos no item anterior, o adicional de insalubridade

está previsto na Constituição da República de 1988, no artigo 7º, inciso XXIII, nos

seguintes termos:

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: [...] XXIII - adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei; (BRASIL, 1988)

A CLT no capítulo V apresenta a disposição legal sobre Segurança e

Medicina do Trabalho, e na seção XIII apresenta um rol de artigos que tratam das

Atividades Insalubres e Periculosas.

Apenas com a finalidade de esclarecimento, atividades insalubres, como já

mencionamos, são aquelas que têm potencial para gerar danos à saúde dos

trabalhadores, de acordo com o tempo de exposição e a concentração do agente já

a periculosidade é definida pela possibilidade de gerar acidentes de trabalho, sendo

consideradas atividades periculosas aquelas com exposição permanente a

inflamáveis e explosivos, conforme a Norma Relamentadora nº 16 e trabalhadores

expostos à energia elétrica em conformidade com a lei 12.740, de 8 de dezembro de

2012.

Dos artigos da CLT previstos na seção XIII do capítulo V, relacionados à

insalubridade, destacamos os seguintes:

Art. 189: apresenta a definição legal em relação às atividades ou

operações insalubres;

Art. 190: determina ao Ministério do Trabalho a atribuição de fixar os

critérios para a caracterização da insalubridade;

Art. 191: prevê a possibilidade de eliminação ou neutralização dos

agentes insalubres, priorizando as medidas coletivas, e, não sendo

possível, a adoção de medidas protetivas de uso individual (EPI´s);

Art. 192: define os percentuais do adicional de insalubridade em 40%,

20% e 10% sobre o salário mínimo, respectivamente quando a exposição

ocorrer em grau máximo, médio e mínimo;

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Art. 194: derruba a tese do direito adquirido do trabalhador quanto à

percepção do adicional, pois possibilita a cessação do pagamento

quando, comprovadamente, ocorrer a eliminação do agente insalubre;

Art. 195: define os profissionais habilitados (médico do trabalho ou

engenheiro de segurança do trabalho) para a classificação e

caracterização do adicional, através de perícia técnica no ambiente de

trabalho.

A NR-15, entretanto, é o dispositivo legal que apresenta o tema em todas as

suas nuances, atendendo a determinação do artigo 200 da CLT, definindo em seu

bojo as atividades e operações consideradas insalubres, os percentuais

determinados para cada uma dessas atividades, bem como, destacando as formas

de eliminação e neutralização do referido adicional.

3.3.1 Agentes Insalubres

Consoante determinação dos agentes considerados insalubres, a NR-15

(Norma Regulamentadora nº 15), elenca-os em seus 14 anexos, dispondo-os da

seguinte forma:

3.3.1.1 Anexo 1 – Ruído Contínuo ou Intermitente

Ruído contínuo ou intermitente é definido pela lei por exclusão, ou seja, é

aquele que não é ruído de impacto. Antonio Buono Neto e Elaine Arbex Buono,

(2004, p.176), definem o ruído como sendo o “fenômeno físico que indica uma

mistura de sons cujas freqüências não seguem nenhuma lei precisa”.

Sua caracterização ocorre através de avaliação com instrumentos de

medição de pressão sonora, ajustando o equipamento para leitura em circuito de

compensação “A” e resposta lenta (SLOW). Nos ensinamentos de Tuffi Messias

Saliba e Márcia Angelim Chaves Corrêa, compreendemos que:

O ouvido humano possui sensibilidade diferente para várias frequências. Assim, na tentativa de aproximar a resposta do aparelho ao ouvido humano, foram desenvolvidas e normatizadas internacionalmente as curvas de compensação “A, B, C e D”. Com base em estudos das respostas do ouvido ao som nas diversas frequências, as pesquisas sobre a matéria concluíram que a curva de compensação “A” é a que mais se aproxima à resposta do

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ouvido humano. Por esta razão, ela foi adotada, pela maioria das normas nacionais e internacionais, para medir níveis de exposição ao ruído contínuo ou intermitente. (SALIBA, 2012, p. 43).

Para fins de caracterização do adicional de insalubridade para ruído

contínuo ou intermitente, a norma apresenta uma tabela de decibéis e tempos

máximos de exposição, conforme segue:

ANEXO I

LIMITES DE TOLERÂNCIA PARA RUÍDO CONTÍNUO OU INTERMITENTE

NÍVEL DE RUÍDO DB (A)

MÁXIMA EXPOSIÇÃO DIÁRIA PERMISSÍVEL

85 8 horas 86 7 horas 87 6 horas 88 5 horas 89 4 horas e 30 minutos 90 4 horas 91 3 horas e 30 minutos 92 3 horas 93 2 horas e 40 minutos 94 2 horas e 15 minutos 95 2 horas 96 1 hora e 45 minutos 98 1 hora e 15 minutos 100 1 hora 102 45 minutos 104 35 minutos 105 30 minutos 106 25 minutos 108 20 minutos 110 15 minutos 112 10 minutos 114 8 minutos 115 7 minutos

Assim sendo, consideram-se insalubres as atividades e operações com

exposições superiores ao estabelecido acima, devendo nestes casos o empregador

adotar as medidas de proteção.

No mesmo sentido, Tuffi Messias Saliba e Márcia Angelim Chaves Corrêa,

esclarecem que:

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A insalubridade será caracterizada quando os tempos de exposição aos níveis de ruído superarem os limites estabelecidos no referido quadro e o trabalhador não fizer uso efetivo de protetor auricular ou quando a capacidade de atenuação do mesmo não for eficaz. (SALIBA, 2012, p. 43).

3.3.1.2 Anexo 2 – Ruído de Impacto

Quanto ao ruído de impacto, o anexo em comento apresenta as seguintes

determinações:

1. Entende-se por ruído de impacto aquele que apresenta picos de energia acústica de duração inferior a 1 (um) segundo, a intervalos superiores a 1 (um) segundo. 2. Os níveis de impacto deverão ser avaliados em decibéis (dB), com medidor de nível de pressão sonora operando no circuito linear e circuito de resposta para impacto. As leituras devem ser feitas próximas ao ouvido do trabalhador. O limite de tolerância para ruído de impacto será de 130 dB (linear). Nos intervalos entre os picos, o ruído existente deverá ser avaliado como ruído contínuo. 3. Em caso de não se dispor de medidor do nível de pressão sonora com circuito de resposta para impacto, será válida a leitura feita no circuito de resposta rápida (FAST) e circuito de compensação "C". Neste caso, o limite de tolerância será de 120 dB(C). 4. As atividades ou operações que exponham os trabalhadores, sem proteção adequada, a níveis de ruído de impacto superiores a 140 dB(LINEAR), medidos no circuito de resposta para impacto, ou superiores a 130 dB(C), medidos no circuito de resposta rápida (FAST), oferecerão risco grave e iminente. (BRASIL, 1978)

Nos ensinamentos de Tuffi Messias Saliba e Márcia Angelim Chaves Corrêa,

(2012, p.46), verificamos que, “o anexo 2, NR-15, é omisso em não fixar o número

máximo de impactos diários permitidos e respectivos níveis de pressão sonora”.

Com efeito, nos casos em que os níveis de ruído de impacto forem

superiores a 120 dB, medidos com instrumento de medição de pressão sonora

linear, ou, acima de 130 dB(C) medidos com instrumento de medição pontual

(decibelímetro), em circuito de compensação “C” e resposta rápida (FAST), a

exposição será considerada insalubre.

3.3.1.3 Anexo 3 – Calor

O anexo três, por sua vez, determina os níveis de exposição ao calor que

geram o percentual de insalubridade, para tanto, são avaliados além da temperatura

medida no ambiente de trabalho, o tipo da atividade, enquadrando-se como leve,

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moderada ou pesada. As avaliações são realizadas com a utilização do “Índice de

Bulbo Úmido – Termômetro de Globo” (IBUTG).

Com clareza, Edwar Abreu Gonçalves assevera que:

O calor radiante, quando extrapolados os limites de tolerância, caracteriza-se como uma exposição insalubre de grau médio, sendo devido aos trabalhadores o adicional no correspondente a 20% (vinte por cento) incidente sobre o salário mínimo legal. (GONÇALVES, 1998, p. 234).

Assim sendo, o calor para ser caracterizado como agente insalubre

necessitará ser quantificado e os resultados obtidos nessa quantificação

comparados aos limites estabelecidos na norma em comento.

3.3.1.4 Anexo 4 – Iluminação

O anexo 4 da NR-15, trata do agente iluminação, entretanto, considerava

para fins de insalubridade apenas os níveis mínimos de iluminamento nos postos de

trabalho, não levando em conta os níveis máximos, que de igual forma produz

ofuscamento visual podendo gerar doenças visuais.

Tuffi Messias Saliba e Márcia Angelim Chaves Corrêa asseveram que:

O agente iluminação foi incluído nas atividades e operações insalubres a partir de junho de 1978, pela Portaria 3.214 do MTE, que na NR-15, anexo 4, fixou tabela de níveis mínimos de iluminamento por tipo de atividade. Assim, a insalubridade era caracterizada quando o posto de trabalho do empregado apresentava níveis de iluminamento abaixo dos mínimos fixados naquele quadro. Deve-se salientar que a norma fixava somente níveis mínimos; o excesso de iluminação que podia provocar ofuscamento, não era considerado para efeito de descaracterização da insalubridade. (SALIBA, 2012, p. 63).

Com a revogação, a iluminação deve ser considerada apenas como

condição de conforto, através da Portaria 3.751/90, devendo ser observada para a

aplicação da Norma Regulamentadora nº 17 (NR-17), mas não mais considerada

como agente para fins de insalubridade.

3.3.1.5 Anexo 5 – Radiações Ionizantes

O anexo 5 da NR-15, trata das Radiações Ionizantes, e para uma melhor

compreensão do que vem a ser esse agente, recorremos à lição de Edwar Abreu

Gonçalves, que a define da seguinte forma:

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[...] um agente físico sob a forma de energia que se transmite pelo espaço através de ondas eletromagnéticas, ou que apresenta comportamento corpuscular, e, ao atingir um átomo, tem a propriedade de subdividi-lo em duas partes eletricamente carregadas, chamadas par iônico. Possuem comprimentos de onda bastante pequenos, menores que 10nm (10 nanômetro), e freqüências altíssimas, superiores a 10PHz (dez Peta Hertz). (GONÇALVES, 1998, p. 238).

Assim, consoante disposição do anexo em comento, nas atividades ou

operações em que os trabalhadores fiquem expostos ao agente aqui considerado,

os limites de tolerância estão estabelecidos na Resolução 06/73 – CNEN (Comissão

Nacional de Energia Nuclear), no entanto, Tuffi Messias Saliba e Márcia Angelim

Chaves Corrêa, esclarecem que:

[...] a Resolução CNEN n. 06/73 foi revogada em 19.7.88, pela Resolução CNEN n. 12/88. Em 11.4.94, a Portaria n. 4 alterou o anexo 5 da NR-15, que passou a considerar que as atividades ou operações onde trabalhadores possam ser expostos a radiações ionizantes, os limites de tolerância, os princípios, as obrigações e os controles básicos para a proteção do homem e de seu meio ambiente, contra possíveis efeitos indevidos causados pela radiação ionizante, são os constantes da Norma CNEN – NE-3.01, de julho de 1988, aprovada, em caráter experimental, pela Resolução CNEN n. 12/88, ou daquela que venha substituí-la. (SALIBA, 2012, p. 64).

Observa-se ainda, no caso da Radiação Ionizante, que somente é possível

caracterizá-la através de avaliação quantitativa, com a utilização de dosímetros de

filmes, cuja finalidade é mensurar a dose equivalente que o trabalhador recebe

durante a jornada de trabalho e também através dos contadores de Geiger, que

objetivam avaliar a intensidade da radiação recebida de forma instantânea, com

efeito, somente após a medição da exposição e comparado os resultados obtidos

com os limites estabelecidos pela Norma CNEN, é possível caracterizar a

insalubridade por Radiação Ionizante.

3.3.1.6 Anexo 6 – Trabalho Sob Pressões Hiperbáricas

Pressões Hiperbáricas correspondem a trabalhos em ar comprimido e

trabalhos submersos, e, diferentemente do agente anteriormente analisado, o

Trabalho sob Pressões Hiperbáricas não depende de quantificação para sua

caracterização, ou seja, é caracterizado apenas pela atividade. Nas palavras de Tuffi

Messias Saliba e Márcia Angelim Chaves Corrêa (2012, p.66), “não obstante a

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empresa cumpra todos os itens constantes na norma, a insalubridade será devida

em grau máximo, portanto, inerente à atividade, não ocorrente neutralização ou

eliminação.”

3.3.1.7 Anexo 7 – Radiações não Ionizantes

O anexo 7 da NR-15 dispõe sobre as Radiações não Ionizantes, e nesse

sentido, caracteriza como tal as microondas a ultravioleta e a laser. O mesmo anexo

determina que quando o trabalhador estiver exposto ao agente em voga, sem a

proteção adequada, estará caracterizada a Insalubridade.

Nos ensinamentos de Tuffi Messias Saliba e Márcia Angelim Chaves Corrêa,

(2012, p.66), apesar da norma internacional ACGIH (American Conference of

Governmental Industrial Hygienists), apresentar definições claras para a

quantificação do agente aqui considerado, a norma estabelecida pelo MTE optou

pela simples avaliação qualitativa para caracterização do agente.

Apesar disso, o perito, quando da avaliação da exposição ao agente

Radiações não Ionizantes, deverá, para tal caracterização, avaliar o tempo de

exposição do trabalhador à radiação, a distância do mesmo à fonte geradora da

exposição, o tipo de proteção utilizada e ainda, caso o perito possua um instrumento

de medição, deverá avaliar a intensidade da radiação e nesse caso, como a norma

nacional não estabelece limites de tolerância, deverá comparar os resultados com a

norma internacional (ACGIH), que logicamente terá muito mais força do que uma

simples avaliação qualitativa.

3.3.1.8 Anexo 8 – Vibração

A vibração localizada e de corpo inteiro, desde que o trabalhador não esteja

devidamente protegido, também é considerada como agente insalubre, consoante

determinação do anexo 8 da NR-15. Nesse caso, o legislador determina que a

vibração seja quantificada e somente poderá ser caracterizada como insalubre se os

resultados estiverem acima dos limites de tolerância estabelecidos na legislação ISO

2631, para vibrações de corpo inteiro e na ISO/DIS 5349 para vibração localizada.

Pela leitura do anexo em comento, verificamos que o agente em análise não

possui limites de tolerância na legislação brasileira, devendo os profissionais

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recorrem à legislação internacional para caracterização da Insalubridade por

vibração, nesse sentido, Tuffi Messias Saliba e Márcia Angelim Chaves Corrêa

asseveram que:

[...] o artigo 190 da CLT delegou ao MTE a competência para regulamentar a matéria relativa à insalubridade e periculosidade. Desse modo, na exposição ocupacional à vibração, o órgão competente do MTE adotou o critério quantitativo, determinando que a perícia deve tomar como base as normas da ISO. Ora, a nosso ver, ao estabelecer essa regra, o primeiro passo seria o MTE, no mínimo, traduzir as referidas normas e torná-las acessíveis aos profissionais, pois a maioria as desconhece. (SALIBA, 2012, p.70).

Além disso, os limites de tolerância considerados nas normas ISO não

possuem limites de tolerância muito claros, com efeito, os profissionais por não

conseguirem compreender os limites para o agente vibração, acabam por

caracterizar equivocadamente a insalubridade para o agente a partir da avaliação

qualitativa.

3.3.1.9 Anexo 9 – Frio

A exposição a baixas temperaturas, no interior de câmaras frigoríficas ou

locais que apresentem condições similares também pode ser considerado insalubre,

de acordo com os critérios estabelecidos no anexo 9 da NR-15. Não existe limites de

tolerância preestabelecidos na norma em comento para tal caracterização, bastando

para tal a perícia no local de trabalho.

Tuffi Messias Saliba e Márcia Angelim Chaves Corrêa, (2012, p.78-79), ao

comentar sobre o tema, salientam a necessidade do perito, ao avaliar esse agente,

recorrer a outras normas para evitar a caracterização indevida, entre essas normas,

citam o artigo 253 da CLT, que prevê intervalos de repouso para tal categoria, e

ainda, reportam-se à NR-29, mais precisamente no subitem 29.3.16.2, que

apresenta uma tabela limitando o tempo de exposição ao agente aqui considerado,

dependendo da temperatura existente no local de trabalho.

Além da limitação do tempo de exposição, deve-se atentar também para os

EPI´s disponíveis para a realização de atividades com exposição ao frio, aprovados

pelo MTE, tais como, jaquetas e calças térmicas, meias térmicas, luvas térmicas,

toucas térmicas, que certamente propiciam ao trabalhador melhores condições de

trabalho.

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3.3.1.10 Anexo 10 – Umidade

De igual forma, a exposição contínua a trabalhos com exposição à umidade

também podem ser caracterizados como insalubres, entretanto, conforme determina

o anexo 10 da NR-15, somente podem ser caracterizados como insalubres as

atividades realizadas em locais encharcados, alagados, com umidade excessiva,

capazes de causar danos à saúde dos trabalhadores.

O excesso de subjetivismo do dispositivo em análise tem produzido grandes

distorções, já que cabe ao avaliador do ambiente laboral analisa-lo em alguns

parâmetros, ou seja, se o local de trabalho é encharcado ou alagado produzindo

assim umidade excessiva e com capacidade para causar danos à saúde do

trabalhador. Tuffi Messias Saliba e Márcia Angelim Chaves Corrêa afirmam que:

O segundo parâmetro é que a exposição seja capaz de produzir danos à saúde. Ora, essa interpretação é totalmente subjetiva, verificando-se, no caso, interpretação equivocada desse dispositivo, visto que alguns peritos chegam a caracterizar insalubridade até para quem passa pano molhado em piso de banheiros. (SALIBA, 2012, p.81).

Assim sendo, enquanto perdurar o subjetivismo verificado na norma quanto

à caracterização da insalubridade pela umidade, o avaliador deverá pautar-se pelo

bom senso, e o que é mais importante, não deve ser permitida a exposição do

trabalhador a tais condições sem a proteção adequada.

3.3.1.11 Anexo 11 – Agentes Químicos cuja insalubridade é caracterizada por limite

de tolerância e inspeção no local de trabalho

O anexo 11 da NR-15 trata da caracterização da insalubridade para

determinados agentes químicos através de quantificação, ou seja, para os agentes

químicos considerados neste anexo, a caracterização da insalubridade dependerá

da realização de avaliação quantitativa no ambiente de trabalho, comparando os

resultados com os limites de tolerância estabelecidos no dispositivo legal.

Para tanto, são necessárias medições pelo avaliador, com base nos critérios

apresentados no anexo em comento. Os resultados obtidos deverão ser analisados

com base no quadro 1 deste anexo, que apresenta o rol de agentes químicos

quantificáveis para fins de insalubridade, e no quadro 2 que apresenta o fator de

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desvio, configurando-se como o valor máximo permitido para uma jornada de

trabalho de até 48 horas semanais.

Somente depois de quantificado o agente nocivo, consoante o anexo em

voga, é que será possível a caracterização ou não da insalubridade na atividade

realizada. Quanto à possibilidade de neutralização, Tuffi Messias Saliba e Márcia

Angelim Chaves Corrêa, (2012, p.94), entendem que é possível, desde que se

comprove a eficácia dos EPI´s, através da utilização efetiva e da determinação do

EPI adequado à concentração do agente.

3.3.1.12 Anexo 12 – Poeiras Minerais

As poeiras minerais e outros particulados também são considerados como

agentes nocivos à saúde dos trabalhadores, portanto, tratados no anexo 12 da NR-

15, caracterizado pela exposição ao Asbesto, ao Manganês e seus compostos e a

Sílica Livre Cristalizada.

No caso das poeiras minerais também é necessário à quantificação, ou seja,

o anexo define os limites de tolerância para cada particulado, devendo o avaliador

quantificá-lo, através de coleta do ar do ambiente de trabalho com a utilização de

bomba gravimétrica, comparando os resultados com os limites estabelecidos. Faz-se

necessário ainda a verificação dos equipamentos de proteção utilizados pelo

trabalhador, ou seja, de acordo com os níveis de concentração mensurados, avaliar

a eficácia dos equipamentos de proteção existentes.

Em relação à eliminação e neutralização da insalubridade pelos agentes

aqui considerados, Tuffi Messias Saliba e Márcia Angelim Chaves Corrêa

esclarecem que:

As medidas de controle da exposição à poeira podem ser aplicados ao ambiente e ao homem. No ambiente, dentre outras, destacam-se a umidificação, a ventilação local exaustora e a alteração do processo. Saliente-se entretanto, que a adoção dessas medidas implica nova medição no sentido de verificar se a concentração foi reduzida a níveis abaixo do limite de tolerância. Caso isso ocorra, a insalubridade fica eliminada. (SALIBA, 2012, p.109).

Quanto à neutralização do agente insalubre pela implementação da proteção

individualizada, os mesmos autores asseveram:

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Outra medida de controle é aquela aplicada ao homem, consistindo no uso de máscara de filtro mecânico capaz de diminuir a concentração de poeira a nível abaixo do limite de tolerância (art. 191, II, da CLT). É importante salientar que a proteção oferecida pela máscara depende de seu tipo e uso efetivo, da concentração de poeira e da troca periódica dos filtros. (SALIBA, 2012, p.109).

Com efeito, verifica-se que a legislação pertinente oferece ao empregador

diversas formas de evitar o pagamento do adicional de insalubridade, quer seja pela

proteção coletiva ou individual, bastando para tanto que se comprove a eficácia da

proteção.

3.3.1.13 Anexo 13 – Agentes Químicos

O anexo 13 da NR-15 apresenta o rol de agentes químicos considerados

insalubres por avaliação qualitativa, são eles: Arsênico, Carvão, Chumbo, Cromo,

Fósforo, Hidrocarbonetos e outros compostos de carbono, Mercúrio, Silicatos,

Substâncias Cancerígenas e Operações diversas com a utilização de cádmio e seus

compostos.

Diferentemente dos agentes analisados no anexo 11 supra, os agentes

químicos pertencentes ao anexo 13 não preveem a caracterização pela avaliação

quantitativa, bastando para tanto a comprovação da utilização dos devidos agentes

através da avaliação qualitativa, para a caracterização da insalubridade, entretanto,

com os recursos tecnológicos existentes na atualidade com a finalidade de medição

da concentração, bem como a definição dos limites de tolerância definidos na norma

internacional (ACGIH), a manutenção da maioria dos agentes verificados nesse

anexo como qualitativos é um grave equívoco. Tuffi Messias Saliba e Márcia

Angelim Chaves Corrêa, asseveram que:

[...] praticamente todos os agentes constantes no anexo 13 possuem limites de tolerância bem definidos pela ACGIH; sendo assim, não há qualquer justificativa técnica pela qual o MTE não os adotou, para a grande maioria dos agentes constantes no referido anexo. (SALIBA, 2012, p.111).

Ora, é evidente que a legislação brasileira no tocante ao fenômeno da

insalubridade carece de uma atualização, afinal, a caracterização da insalubridade

apenas por avaliação qualitativa, acaba por desmotivar o empregador às melhorias

necessárias às condições de trabalho.

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3.3.1.14 Anexo 13-A – Benzeno

A Portaria SSST nº 14, de 20 de dezembro de 1995, incluiu o anexo 13-A a

NR-15, caracterizando o Benzeno no grupo dos agentes químicos insalubres. No

caso do Benzeno, Tuffi Messias Saliba e Márcia Angelim Chaves Corrêa esclarecem

que: Com relação ao benzeno, embora constante no anexo 13, possui limites de tolerância de 1,0 (um) ppm para as empresas abrangidas por esse Anexo (com exceção das empresas siderúrgicas, as produtoras de álcool anidro e aquelas que deverão substituir o benzeno a partir de 1º.1.97) e de 2,5 ppm para as empresas siderúrgicas. (SALIBA, 2012, p.111).

Ou seja, apesar de aparentemente constar no rol dos agentes com

caracterização da insalubridade pelo método qualitativo, o Benzeno possui limite de

tolerância estabelecido, portanto, deverá ser avaliado quantitativamente.

3.3.1.15 Anexo 14 – Agentes Biológicos

Por derradeiro, no anexo 14 a NR-15 trata dos agentes biológicos, agentes

esses que não necessitam de quantificação para sua caracterização, ou seja, basta

que o trabalhador esteja exposto ao risco no desenvolvimento das atividades

previstas no anexo em comento para que tenha direito à percepção do adicional de

insalubridade em grau médio ou máximo.

As atividades que correspondem à percepção do adicional de insalubridade

em grau máximo, constantes no anexo 14, são aquelas desenvolvidas em contato

permanente com pacientes ou objetos de pacientes em isolamento por doenças

infectocontagiosas, contato com carnes, glândulas, vísceras, sangue, ossos, couros,

pelos e dejeções de animais portadores de doenças infectocontagiosas

(carbunculose, brucelose, tuberculose), além daquelas atividades desenvolvidas em

esgotos e na coleta e industrialização de lixo urbano.

Quanto às atividades caracterizadas com adicional de insalubridade em grau

médio, o anexo 14 da NR-15 relaciona aquelas desenvolvidas em contato

permanente com pacientes, animais ou com material infectocontagiante, em

hospitais, serviços de emergência, enfermarias, ambulatórios, postos de vacinação e

outros estabelecimentos destinados aos cuidados da saúde humana, entretanto, a

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lei deixa claro que o adicional é destinado somente para quem tem o contato direto

com o paciente ou com os objetos do seu uso sem prévia esterilização.

Ainda no rol de atividades insalubres em grau médio, o anexo 14 destaca

aquelas realizadas em hospitais, ambulatórios, postos de vacinação e outros

estabelecimentos destinados ao atendimento e tratamento de animais, também

restringindo ao pessoal que tenha contato direto com os animais, atividades em

laboratórios de pesquisa, com animais destinados ao preparo de soro, vacinas e

outros produtos, laboratórios de análises clínicas e histopatolgia, neste último caso

somente ao pessoal técnico.

Ao final, incluem-se no rol de atividades insalubres em grau médio, as

atividades realizadas em gabinetes de autópsias, de anatomia e

histoanatomopatologia, também restrito ao pessoal técnico, às atividades de

exumação de corpos em cemitérios, atividades realizadas em estábulos e

cavalariças e naquelas em contatos com resíduos de animais deteriorados.

No caso das atividades mencionadas acima, descritas no anexo 14 da NR-

15, não existe a previsão de neutralização ou eliminação do agente insalubre, Tuffi

Messias Saliba e Márcia Angelim Chaves Corrêa lecionam que:

Conforme comentado anteriormente (Capítulo I), a insalubridade por agentes biológicos é inerente à atividade, isto é, não há eliminação com medidas aplicadas ao ambiente nem neutralização com o uso de EPIs. A adoção de sistema de ventilação e o uso de luvas, máscara e outros equipamentos que evitem o contato com agentes biológicos podem apenas minimizar o risco. (SALIBA, 2012, p.138).

Com efeito, podemos compreender que no caso da exposição aos agentes

biológicos mencionados no anexo 14, não existe de fato formas de quantificação dos

agentes, sendo perfeitamente razoável o pagamento do adicional de insalubridade,

notadamente nas atividades mencionadas no anexo, até porque, a única forma de

resolver o problema da insalubridade nestas atividades seria a proibição do trabalho,

o que não é possível.

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4 CRITÉRIOS PARA CARACTERIZAÇÃO DA INSALUBRIDADE

Conforme verificamos na explanação dos agentes insalubres acima,

constantes na NR-15, percebemos que a legislação brasileira classificou-os em 03

(três) grupos, a saber, os agentes caracterizados mediante quantificação, sendo os

respectivos resultados comparados com os limites de tolerância definidos pela

norma, os agentes caracterizados mediante avaliação qualitativa, ou seja, a partir da

avaliação do local de trabalho e os agentes caracterizados pelo exercício de

determinadas atividades.

Oportunamente vale ressaltar, que somente as atividades e os agentes

previstos nos anexos da norma regulamentadora nº 15 é que poderão, mediante o

critério estabelecido, caracterizarem-se como insalubres, com efeito, mesmo que

determinadas atividades ou agentes tenham potencial para gerar danos à saúde do

trabalhador, caso não estejam devidamente inscritos no rol da norma em comento

não serão passíveis de percepção do adicional insalutífero. Na análise da situação

aqui considerada, Raimundo Simão de Melo assevera que:

[...] para configurar o direito ao adicional de insalubridade no caso concreto, é necessário, além da perícia que constate a existência do agente agressivo à saúde do trabalhador, que o órgão ministerial haja feito o enquadramento da atividade ou da operação como insalubre. E, nos termos do que dispõe a CLT, tanto pode o Ministério do Trabalho e Emprego caracterizar, como descaracterizar determinada atividade ou operação como insalubre. (MELO, 2013, p.209-210).

De acordo com a referida classificação, são definidos no grupo dos agentes

caracterizados mediante quantificação aqueles constantes nos anexos 1, 2, 3, 5, 8,

11 e 12, ou seja, para os agentes constantes nestes anexos a insalubridade

somente poderá ser caracterizada se as avaliações quantitativas realizadas no

ambiente de trabalho estiverem acima dos limites de tolerância estabelecidos nos

respectivos anexos.

Nesse sentido, Tuffi Messias Saliba e Márcia Angelim Chaves Corrêa

afirmam:

Nos anexos 1, 2, 3 5, 8, 11 e 12, estão definidos os limites de tolerância para os agentes agressivos fixados em razão da natureza, da intensidade e do tempo de exposição. Neste caso, o perito terá de medir a intensidade ou concentração do agente e compará-lo com os respectivos limites de tolerância; a insalubridade será caracterizada somente quando o limite for ultrapassado. (SALIBA, 2012, p.13).

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Em relação aos agentes caracterizados mediante avaliação qualitativa,

mediante avaliação do agente no ambiente de trabalho, estes estão definidos nos

anexos 7, 8, 9, 10 e 13 e nestes casos a legislação não definiu limites de tolerância,

devendo o avaliador analisar criteriosamente o posto de trabalho, a atividade

desenvolvida e o tipo de exposição ao agente agressivo, avaliando ainda os fatores

de proteção efetivos presentes no ambiente de trabalho.

Neste caso é importante ressaltar que, embora a legislação não tenha

definido limites de tolerância para tais agentes, a grande maioria deles poderia ser

quantificada, o que certamente daria maior segurança para o trabalhador. No item

destinado ao tema em análise, Tuffi Messias Saliba e Márcia Angelim Chaves

Corrêa (2012, p.13), salientam que, “nesses anexos, o MTE não fixou limites de

tolerância para os agentes agressivos, embora as normas internacionais – incluindo

a ACGIH – os tenham estabelecido para praticamente todos os agentes.”

No último grupo definido pela NR-15 a insalubridade do ambiente de

trabalho é caracterizada mediante o desenvolvimento de determinadas atividades,

consoante se verificam nos anexos 6, 13 e 14. Importante destaque neste grupo, é

que no anexo 13, existem agentes cuja caracterização se dá pela avaliação

qualitativa e outros caracterizados pela atividade, por esse motivo o anexo 13 é

inserido nos dois últimos grupos.

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5 BASE DE CÁLCULO DO ADICIONAL DE INSALUBRIDADE

Consoante mencionado em item anterior, o adicional de insalubridade é

dividido em três grupos, insalubridade em grau mínimo, o qual se estabelece o

percentual de 10%, insalubridade em grau médio cujo percentual é de 20% e

insalubridade em grau máximo, em que o adicional é de 40%.

A definição do percentual referente a cada agente nocivo está previsto na

própria NR-15 e anexos, ou será indicado pelo avaliador de acordo com a

intensidade e concentração do agente nocivo. Nesse sentido, a base de cálculo do

adicional de insalubridade, consoante previsão contida no artigo 192 da CLT será o

salário mínimo.

Nesse sentido encontra-se o posicionamento de Raimundo Simão de Melo,

que assevera:

De acordo com o art. 192 da CLT, o adicional de insalubridade é devido ao empregado que trabalha em contato com agentes insalubres, à base de 10%, 20% e 40% (graus mínimo, médio e máximo, respectivamente), sobre o salário mínimo. (MELO, 2013, p.213).

A questão polêmica encontra-se no fato de o referido adicional ter sua base

de cálculo vinculada ao salário mínimo, afinal, o inciso IV da Constituição Federal de

1988, veda a vinculação do salário mínimo para qualquer fim. Entretanto, em

10/07/2008 ocorreu a alteração na redação da Súmula nº 228 do Tribunal Superior

do Trabalho, em razão da publicação da Súmula Vinculante nº 4 do Supremo

Tribunal Federal que se deu na data de 09/05/2008, e que promoveu a alteração na

base de cálculo do adicional de insalubridade, determinando que o adicional deveria

ser calculado sobre o salário base do trabalhador.

Ora, estaria resolvida a polêmica, não fosse à concessão de liminar pelo

Supremo Tribunal Federal na Reclamação nº 6.266, que suspendeu a aplicação da

Súmula 228 do TST. Analisando esse fato, Luciano Martinez leciona que:

O TST já vinha modificando seu entendimento no sentido de considerar que, do mesmo modo ocorrente com o adicional de periculosidade, a base de cálculo do adicional de insalubridade seria o salário básico. A mudança na redação da Súmula 228 do TST visou, em verdade, dar cumprimento ao preceito contido na Súmula Vinculante 4 do STF, mas, ao contrário daquilo que se previa, acabou por atingi-la diretamente. (MARTINEZ, 2013, p.304).

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E continua:

É que a mencionada súmula vinculante do STF sustenta que “o salário mínimo não pode ser usado como indexador de base de cálculo de vantagem de servidor público ou de empregado, nem ser substituído por decisão judicial” (destaques não constantes do original). Por conta da parte final do texto, a Confederação Nacional da Indústria – CNI aforou perante a Corte Constitucional a Medida Cautelar em Reclamação n. 6.266 -0, Distrito Federal. Por meio dela, com base no art. 7º da Lei n. 11.417, de 19 de dezembro de 2006, a CNI postulou fosse negada aplicabilidade à Súmula 228 do TST (decisão judicial), porque esta seria contrária ao texto do enunciado da supracitada Súmula Vinculante 4 do STF. (MARTINEZ, 2013, p.305). [grifo do autor]

No mesmo sentido, Tuffi Messias Saliba e Márcia Angelim Chaves Corrêa,

(2012, p.19), reafirmam o entendimento da suspensão da aplicabilidade da Súmula

228 do TST, por força da decisão do STF, porém, esclarecem que: “Do ponto de

vista doutrinário, a matéria não é pacífica, pois há interpretações no sentido de a

base de cálculo ser o salário de contraprestação ou até mesmo a remuneração”.

Esse é exatamente o entendimento de Sebastião Geraldo de Oliveira, (2011,

p.429), que argumenta que, sendo o valor do adicional calculado sobre o salário

mínimo, torna-o bastante reduzido se comparado aos investimentos em segurança,

com efeito, acaba sendo mais interessante pagar o adicional do que realizar

melhorias no ambiente de trabalho, e acrescenta que assim como no caso do

adicional de periculosidade o adicional de insalubridade deveria ser considerado

sobre o salário contratual e não sobre o salário mínimo.

Assim sendo, conforme se extrai da conclusão de Raimundo Simão de Melo,

(2013, p.213-214), apesar de haverem algumas decisões favoráveis no sentido de

considerar como base de cálculo para o adicional de insalubridade o salário real do

trabalhador, o posicionamento atual do Supremo Tribunal Federal é que o adicional

em análise deverá ser calculado sobre o salário mínimo.

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6 MEDIDAS DE CONTROLE

A grande maioria dos agentes nocivos previstos na legislação e que podem

gerar o pagamento do adicional de insalubridade, são possíveis de serem

neutralizados a partir da adoção de medidas que os mantenha abaixo dos limites de

tolerância estabelecidos na legislação, com efeito, podem certamente evitar o

desencadeamento ou agravamento de doenças ocupacionais, e com isso, eliminam

a necessidade de pagar o referido adicional, conforme veremos a seguir.

6.1 MEDIDAS DE CONTROLE COLETIVAS

Tais medidas são separadas em dois grupos, sendo, as coletivas e as

individuais. Analisaremos inicialmente as medidas coletivas, e para tanto,

recorremos à lição de Tuffi Messias Saliba e Márcia Angelim Chaves Corrêa que a

definem da seguinte forma:

As medidas relativas ao ambiente compreendem aquelas destinadas a eliminar o agente em sua fonte e trajetória, como, por exemplo, a instalação de um sistema de exaustão sobre uma bancada de polimento, onde há grande geração de poeira. Com a adoção dessa medida, a comprovação de sua eficácia será tida através da avaliação quantitativa da concentração de poeira, ou seja, verificando-se se está abaixo dos limites de tolerância (SALIBA, 2012, p.20).

Paulo Roberto de Oliveira destaca outras medidas coletivas, são elas:

substituição do produto tóxico ou nocivo, por outro sem ou com menor grau de toxicidade; substituição ou alteração do processo ou operação, de modo a se empregar tecnologias mais limpas; encerramento ou enclausuramento da operação, de modo a não contaminar o ambiente de trabalho como um todo; segregação da operação ou processo, de modo a restringir ao máximo a população exposta ao agente agressivo; ventilação geral diluidora, quando se tem pequena concentração ambiental do agente agressivo; ventilação local exaustora, para concentrações expressivas; manutenção de máquinas e equipamentos; projetos adequados, nos quais já esteja contemplada a análise da melhor alternativa dentre as acima apontadas (OLIVEIRA, P., 2009, p.43-44).

Observe-se que as medidas coletivas são destacadas na legislação como

prioridade de adoção, vejamos o que diz o artigo 191 da CLT:

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Art. 191. A eliminação ou a neutralização da insalubridade ocorrerá: I - com a adoção de medidas que conservem o ambiente de trabalho dentro dos limites de tolerância; II - com a utilização de equipamentos de proteção individual ao trabalhador, que diminuam a intensidade do agente agressivo a limites de tolerância. (BRASIL, 1943)

No mesmo sentido, o item 9.3.5.2 da Norma Regulamentadora nº 9 (NR-9),

determina que:

9.3.5.2 O estudo, desenvolvimento e implantação de medidas de proteção coletiva deverá obedecer à seguinte hierarquia: a) medidas que eliminam ou reduzam a utilização ou a formação de agentes prejudiciais à saúde; b) medidas que previnam a liberação ou disseminação desses agentes no ambiente de trabalho; a) medidas que reduzam os níveis ou a concentração desses agentes no ambiente de trabalho. (BRASIL, 1978)

O que podemos concluir diante dos dispositivos legais supra, é que o

legislador determina que somente depois de esgotadas as tentativas de adoção das

medidas coletivas no ambiente de trabalho é que se deve adotas as medidas

individuais, nesse sentido, Sebastião Geraldo de Oliveira assevera que:

[...] todo o enfoque da legislação aponta a prioridade para eliminação do risco. A neutralização só deveria ocorrer quando esgotadas todas as possibilidades técnicas para afastar o agente agressor, como determina a legislação (OLIVEIRA, P., 2011, p.164).

Não é a regra que se adota na maioria das empresas no Brasil,

contrariamente a isso, verifica-se que a medida que se adota primeiro é a proteção

individual, sem qualquer melhoria do ambiente de trabalho, sendo que esse

procedimento deveria ser a exceção. Consoante esse entendimento, Sebastião

Geraldo de Oliveira, esclarece que:

No entanto, a exceção tornou-se a regra no Brasil. Em vez de eliminar a insalubridade na fonte ou de adotar medidas coletivas de neutralização, o empresário prefere a solução mais cômoda, mais barata porém a menos eficiente: fornecer o equipamento de proteção individual – EPI. Para o trabalhador, muitas vezes, o EPI é sinônimo de desconforto, incômodo que limita as percepções, causando, algumas vezes, até mesmo a sensação de insegurança (OLIVEIRA, S., 2011, p.164).

É exatamente por esse equívoco do empresariado brasileiro, que

continuamos a perceber que o adicional de insalubridade é largamente utilizado nas

empresas no país, afinal, na grande maioria dos casos, adota-se o uso dos EPI´s,

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ignorando a implantação de medidas de eliminação dos riscos, e com isso, opta-se

pelo pagamento do adicional, já que nem mesmo o empresário tem a certeza de que

o risco foi de fato neutralizado com a adoção do EPI.

6.2 MEDIDAS DE CONTROLE INDIVIDUAIS

As medidas de controle individuais, conforme mencionado acima, somente

devem ser adotadas quando esgotadas as tentativas de eliminação dos riscos

através das medidas coletivas, é o que se extrai do texto legislativo do item 9.3.5.4

da NR-9, quando determina:

9.3.5.4 Quando comprovado pelo empregador ou instituição a inviabilidade técnica da adoção de medidas de proteção coletiva ou quando estas não forem suficientes ou encontrarem-se em fase de estudo, planejamento ou implantação, ou ainda em caráter complementar ou emergencial, deverão ser adotadas outras medidas, obedecendo-se à seguinte hierarquia: a) medidas de caráter administrativo ou de organização do trabalho; b) utilização de equipamento de proteção individual – EPI. (BRASIL, 1978)

Pela leitura acima, verificamos que até mesmo dentre as medidas

individuais, o EPI vem em segundo plano, sendo inicialmente priorizadas as medidas

administrativas, que consiste basicamente na redução do tempo de exposição ao

agente agressivo. Paulo Roberto de Oliveira, de forma brilhante, leciona:

As medidas individuais ou relativas ao trabalhador constituem as mais simples e baratas a serem adotadas, razão pela qual são tidas como as medidas mínimas de proteção à saúde do trabalhador ou as medidas de controle necessárias e suficientes. (OLIVEIRA, P., 2009, p.44).

O mesmo autor destaca algumas medidas de controle individuais, são elas:

limitação do tempo da exposição, mediante da adequação de sua jornada ou regime de trabalho; uso de EPI – Equipamento de Proteção Individual adequado ao trabalhador, cujo conceito de adequado pressupõe seja ele tecnicamente dimensionado e confortável ao seu juízo; educação e treinamento do trabalhador, como sustentação do uso de EPI; controle médico individual de cada trabalhador acerca da eficácia das medidas de controle acima citadas (OLIVEIRA, P., 2009, p.43-44).

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6.3 OUTRAS MEDIDAS PREVENTIVAS

Além das medidas de controle coletivas e individuais apresentadas acima,

podemos analisar de forma exemplificativa outras ações, que contribuem para a

manutenção do ambiente de trabalho saudável, em conformidade com as exigências

legais, são elas:

6.3.1 PPRA – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais

O PPRA é instituído pela Norma Regulamentadora nº 9 (NR-9) do Ministério

do Trabalho e Emprego, e tem como objetivo preservar a saúde e a integridade dos

trabalhadores, através da antecipação e reconhecimento dos riscos existentes no

ambiente de trabalho, propondo medidas de correção e controle dos mesmos.

Em síntese, o PPRA deverá ser elaborado de forma que apresente ao

empregador uma visão pormenorizada dos riscos existentes no local de trabalho e

por consequência, demonstrar se as medidas de controle existentes são suficientes

para controle dos riscos, caso não sejam, propor outras medidas necessárias.

Nesse sentido, Sebastião Geraldo de Oliveira, ao analisar a proteção jurídica

à saúde do trabalhador, argumenta:

O PPRA tem por finalidade antecipar, reconhecer, avaliar e, consequentemente, controlar a ocorrência de riscos ambientais existentes ou que venham a existir no ambiente de trabalho, quais sejam, os agentes físicos, químicos e biológicos que, em função de sua natureza, concentração ou intensidade e tempo de exposição, sejam capazes de causar dano à saúde do trabalho. Os riscos identificados devem ser avaliados e controlados, obedecendo a seguinte hierarquia: a) medidas que eliminem ou reduzam a utilização ou a formação de agentes prejudiciais à saúde; b) medidas que previnam a liberação ou disseminação desses agentes no ambiente de trabalho; c) medidas que reduzam os níveis ou a concentração desses agentes no ambiente de trabalho (OLIVEIRA, S., 2011, p.446-447).

O PPRA deverá conter, além do acima exposto, o planejamento anual das

ações necessárias para o cumprimento de seu objetivo, devendo ser revisado

anualmente ou a qualquer tempo, desde que ocorram alterações nos postos de

trabalho, tais como, mudanças de layout, implantação de novas máquinas,

alterações nos processos de trabalho, substituição de produtos químicos utilizados

nos processos, entre outras alterações.

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6.3.2 PCMSO – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional

O PCMSO é o documento técnico instituído pela Norma Regulamentadora nº

7 (NR-7) do Ministério do Trabalho e Emprego, e objetiva manter o controle dos

riscos ocupacionais identificados no PPRA, através da realização de exames

clínicos e complementares. Sebastião Geraldo de Oliveira esclarece que:

Afinado com o que prevê o art. 198, II, da Constituição da República, o PCMSO deverá ter caráter preventivo, mediante rastreamento e diagnóstico precoces dos agravos à saúde relacionados com o trabalho, inclusive de natureza subclínica, além da constatação da existência de casos de doenças profissionais ou danos irreversíveis à saúde dos trabalhadores (OLIVEIRA, S., 2011, p.448).

Diante disso, verificamos que o PCMSO tem como função, indicar, de

acordo com os riscos identificados, os exames necessários para monitoramento da

saúde dos trabalhadores, com a periodicidade mínima determinada pela legislação

ou em intervalos menores de acordo com o médico responsável.

Os exames médicos mencionados no parágrafo anterior serão indicados por

ocasião da admissão do trabalhador, periodicamente a partir da realização do

exame admissional, em caso de mudança de função, no retorno ao trabalho para

afastamento por período igual ou superior a 30 dias e por ocasião da demissão do

trabalhador.

Assim como o PPRA, o PCMSO deve ser revisado anualmente e deverá

conter o planejamento de ações para o ano de vigência, cujo resultado deverá ser

apresentado no Relatório Anual do PCMSO, consoante previsão do item 7.4.6 da

NR-7.

6.3.3 CIPA – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes

A CIPA deriva da determinação legal contida na Norma Regulamentadora nº

5 (NR-5), e tem como objetivo principal a prevenção de acidentes e doenças

relacionadas ao trabalho. A CIPA deve ser formada em igual número, por

componentes eleitos pelos empregados e por pessoas indicadas pelo empregador.

A gestão da CIPA terá duração de um ano, ou seja, a cada 12 (doze) meses,

deverá ocorrer novo processo de eleição e indicação de componentes da CIPA.

Nesse período de gestão da CIPA, os componentes terão a atribuição de analisar e

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propor medidas que eliminem os possíveis riscos de desencadeamento ou

agravamento de doenças decorrentes do trabalho e de acidentes de trabalho, para

tanto, deverão ser treinados e também ter acesso aos documentos técnicos (PPRA,

PCMSO e outros) elaborados na empresa.

6.3.4 PPR – Programa de Proteção Respiratória

O Programa de Proteção Respiratória é um grande aliado no controle dos

agentes agressivos em suspensão nos ambientes de trabalho e foi instituído pela

Instrução Normativa SSST/MTB nº 1, de 11 de Abril de 1994, que define:

Art. 1º - O empregador deverá adotar um conjunto de medidas com a finalidade de adequar a utilização dos equipamentos de proteção respiratória-EPR, quando necessário para complementar as medidas de proteção coletiva implementadas, ou enquanto as mesmas estiverem sendo implantadas, com a finalidade de garantir uma completa proteção ao trabalhador contra os riscos existentes nos ambientes de trabalho. (BRASIL, 1994)

Assim sendo, sempre que forem identificados no ambiente de trabalho

agentes em suspensão, tais como, poeiras, névoas, fumos, neblinas, vapores,

gases, entre outros, o empregador deverá elaborar o PPR, com o objetivo de se

certificar a eficácia das medidas de controle implantadas.

6.3.5 PCA – Programa de Conservação Auditiva

O PCA também tem fundamental importância no campo prevencionista,

afinal, tem por objetivo a implantação de medidas de controle dos níveis de pressão

sonora nos ambientes de trabalho, principalmente no que tange as orientações

quanto ao uso de proteção auditiva, bem como, no monitoramento da audição dos

trabalhadores. A fundamentação para a implantação do PCA encontra guarida na

norma regulamentadora nº 7 (NR- 7), notadamente em seu Anexo I, incluído pela

Portaria 19, de 09 de Abril de 1998.

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7 AS CONSEQUÊNCIAS DO PAGAMENTO INDISCRIMINADO DO ADICIONAL DE INSALUBRIDADE

Até esse ponto, debruçamo-nos em analisar o que é a insalubridade, o que

pode gerá-la e as medidas de controle possíveis para a eliminação e neutralização

dos agentes insalubres, porém, conforme já mencionado anteriormente, na grande

maioria das empresas o que se percebe é que o adicional de insalubridade é tido

como um requisito quase que obrigatório quando o trabalhador estiver exposto a

riscos.

Ou seja, ou o empresário paga o adicional apoiado na premissa de que, não

o pagando, o trabalhador poderá acioná-lo judicialmente para requerer, e assim,

pagando o adicional evita esse transtorno, ou, o que é pior, adota a prática do

pagamento do adicional porque entende que é mais barato pagar o adicional do que

realizar investimentos para tornar o ambiente de trabalho salubre.

Sebastião Geraldo de Oliveira, (2011, p.153), analisando o tema denomina

esse fenômeno como “o equívoco da monetização do risco”, e assevera ainda que:

O ambiente de trabalho expõe o empregado a riscos, tanto aqueles mais visíveis que afetam sua integridade física (agentes periculosos) quanto aqueles mais insidiosos que atuam a longo prazo, minando, paulatinamente, sua saúde (agentes insalubres). Os primeiros provocam os acidentes do trabalho, enquanto que estes últimos acarretam as doenças profissionais ou do trabalho (OLIVEIRA, S., 2011, p.153).

Paulo Roberto de Oliveira, no livro dedicado a analisar o controle da

insalubridade, denota que:

Deste modo, ainda para um grande número de empresários, profissionais de recursos humanos, advogados, contadores, e outros tantos, o pagamento de insalubridade é considerado, de modo errôneo, como uma obrigação compulsória diante da existência de um ambiente com potencial insalubre. E isso não é necessariamente uma verdade, pois o dever de pagar adicional de insalubridade está relacionado à existência de um ambiente insalubre associada à inexistência de medidas de controle que protejam a saúde do trabalhador. Logo, o adicional só se aplica às empresas que não preservam a saúde do seu trabalhador, seja mediante medidas coletivas ou individuais (OLIVEIRA, P., 2009, p.19).

Entendemos como pagamento indiscriminado, aqueles casos em que o

empregador, sem qualquer certeza em relação à real necessidade, opta desde logo

pelo pagamento do adicional de insalubridade e diante dessa análise inicial,

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verificaremos a partir deste ponto as consequências dessa atitude para a empresa e

também para os trabalhadores.

7.1 CONSEQUÊNCIAS PARA A EMPRESA

São várias as consequências para a empresa que opta pelo pagamento do

adicional de insalubridade sem qualquer certeza de sua real necessidade, dentre

elas, e acreditamos ser a principal, consiste na não realização dos investimentos

para melhoria do ambiente de trabalho, com efeito, mantendo seus trabalhadores

sem qualquer tipo de proteção, expostos à grande possibilidade de adquirirem

doenças relacionadas com o trabalho.

Nesse sentido, recorremos ao posicionamento de Sebastião Geraldo de

Oliveira que afirma:

A opção de instituir recompensa monetária pela exposição aos riscos desvia a preocupação com o problema central, que é a saúde do trabalhador. Foram criados mecanismos para conviver com o mal e não para cortá-lo pela raiz, como aconteceu no Canadá em 1979 (OLIVEIRA, S., 2011, p.155).

O resultado desse equívoco por parte das empresas resulta no passivo

trabalhista que acaba formando, ou seja, mesmo pagando o adicional de

insalubridade, se não atuar diretamente na melhoria do ambiente de trabalho com a

adoção das medidas de controle necessárias, acabará por gerar doenças

ocupacionais em seus trabalhadores, que fatalmente resultarão em ações judiciais

de indenização.

Além disso, é certo que um ambiente de trabalho insalubre contribuirá para o

aumento de afastamentos do trabalho por motivo de doença e consequentemente

com a necessidade de afastar o trabalhador pelo INSS (Instituto Nacional do Seguro

Social) quando esse afastamento for superior a 15 dias.

Nesta seara, devemos analisar os custos adicionais da empresa quando

expõe seus trabalhadores a agentes nocivos e assim, focaremos nossa análise

nesse ponto sobre as contribuições previdenciárias, notadamente, o SAT (Seguro

Acidente de Trabalho), o RAT (Risco Ambiental do Trabalho) e por fim o FAP (Fator

Acidentário de Proteção).

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O Seguro de Acidente de Trabalho (SAT) foi previsto pela Constituição da

República de 1988, mais precisamente no inciso XXVIII do artigo 7º, quando

determinou:

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: [...]; XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa; (BRASIL, 1988)

Antonio Carlos Vendrame complementa essa afirmativa esclarecendo que:

O SAT tem sua base constitucional estampada no inciso XXVIII do art. 7º, no inciso I do art. 195 e no inciso I do art, 201, todos da Constituição de 1988, garantindo ao empregado um seguro contra acidente do trabalho, às expensas do empregador, mediante pagamento de um adicional sobre a folha de salários, com administração atribuída à Previdência Social. (VENDRAME, 2005, p.26).

Diante dessa determinação, a lei 8.212 de 24 de julho de 1991, apresentou o

seguinte dispositivo:

Art. 22. A contribuição a cargo da empresa, destinada à Seguridade Social, além do disposto no art. 23, é de: [...]; II - para o financiamento do benefício previsto nos arts. 57 e 58 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, e daqueles concedidos em razão do grau de incidência de incapacidade laborativa decorrente dos riscos ambientais do trabalho, sobre o total das remunerações pagas ou creditadas, no decorrer do mês, aos segurados empregados e trabalhadores avulsos: (Redação dada pela Lei nº 9.732, de 1998). a) 1% (um por cento) para as empresas em cuja atividade preponderante o risco de acidentes do trabalho seja considerado leve; b) 2% (dois por cento) para as empresas em cuja atividade preponderante esse risco seja considerado médio; c) 3% (três por cento) para as empresas em cuja atividade preponderante esse risco seja considerado grave. (BRASIL, 1991)

Os artigos 57 e 58 da lei 8.213 de 24 de julho de 1991, citados no artigo

supra apresentam a seguinte redação:

Art. 57. A aposentadoria especial será devida, uma vez cumprida a carência exigida nesta Lei, ao segurado que tiver trabalhado sujeito a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física, durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos, conforme dispuser a lei. (Redação dada pela Lei nº 9.032, de 1995) [...] Art. 58. A relação dos agentes nocivos químicos, físicos e biológicos ou associação de agentes prejudiciais à saúde ou à integridade física

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considerados para fins de concessão da aposentadoria especial de que trata o artigo anterior será definida pelo Poder Executivo. (Redação dada pela Lei nº 9.528, de 1997). (BRASIL, 1991)

Com efeito, extrai-se a partir dos dispositivos legais apresentados acima,

que as empresas em geral estão obrigadas ao pagamento do percentual de 1%, 2%

e 3%, conforme as características de sua atividade, decorrente do enquadramento

no CNAE (Classificação de Atividade Econômica).

Alexandre da Costa Araujo, menciona em seu livro que:

Com a nova redação dada pela Lei n. 9.528/97 ao inciso II do artigo 22 da Lei 8.212/91, o termo SAT deixou de existir, passando a ser chamado de GILRAT (Grau de Incidência da Incapacidade Laborativa Decorrente dos Riscos Ambientais do Trabalho) (ARAÚJO, 2007, p.110).

Diante desta alteração, o SAT passou a ser chamado de GILRAT ou apenas

RAT, como é mais comum, que em síntese, estabelece que a contribuição das

empresas passam também a custear a Aposentadoria Especial em face da

exposição dos trabalhadores a condições especiais de trabalho.

A grande mudança veio com a publicação do Decreto 6.042 de 12 de

fevereiro de 2007 que alterou o Decreto 3.048/99, incluindo entre outros o artigo

202-A, possibilitando a majoração ou diminuição da alíquota de contribuição,

conforme segue:

Art. 202-A. As alíquotas constantes nos incisos I a III do art. 202 serão reduzidas em até cinqüenta por cento ou aumentadas em até cem por cento, em razão do desempenho da empresa em relação à sua respectiva atividade, aferido pelo Fator Acidentário de Prevenção - FAP. § 1o O FAP consiste num multiplicador variável num intervalo contínuo de cinqüenta centésimos (0,50) a dois inteiros (2,00), desprezando-se as demais casas decimais, a ser aplicado à respectiva alíquota. § 2o Para fins da redução ou majoração a que se refere o § 1o, proceder-se-á à discriminação do desempenho da empresa, dentro da respectiva atividade, por distanciamento de coordenadas tridimensionais padronizadas (índices de freqüência, gravidade e custo), atribuindo-se o fator máximo dois inteiros (2,00) àquelas empresas cuja soma das coordenadas for igual ou superior a seis inteiros positivos (+6) e o fator mínimo cinqüenta centésimos (0,50) àquelas cuja soma resultar inferior ou igual a seis inteiros negativos (-6). § 3o O FAP variará em escala contínua por intermédio de procedimento de interpolação linear simples e será aplicado às empresas cuja soma das coordenadas tridimensionais padronizadas esteja compreendida no intervalo disposto no § 2o, considerando-se como referência o ponto de coordenadas nulas (0; 0; 0), que corresponde ao FAP igual a um inteiro (1,00). § 4o Os índices de freqüência, gravidade e custo serão calculados segundo metodologia aprovada pelo Conselho Nacional de Previdência Social, levando-se em conta:

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I - para o índice de freqüência, a quantidade de benefícios incapacitantes cujos agravos causadores da incapacidade tenham gerado benefício com significância estatística capaz de estabelecer nexo epidemiológico entre a atividade da empresa e a entidade mórbida, acrescentada da quantidade de benefícios de pensão por morte acidentária; II - para o índice de gravidade, a somatória, expressa em dias, da duração do benefício incapacitante considerado nos termos do inciso I, tomada a expectativa de vida como parâmetro para a definição da data de cessação de auxílio-acidente e pensão por morte acidentária; e III - para o índice de custo, a somatória do valor correspondente ao salário-de-benefício diário de cada um dos benefícios considerados no inciso I, multiplicado pela respectiva gravidade. § 5o O Ministério da Previdência Social publicará anualmente, no Diário Oficial da União, sempre no mesmo mês, os índices de freqüência, gravidade e custo, por atividade econômica, e disponibilizará, na Internet, o FAP por empresa, com as informações que possibilitem a esta verificar a correção dos dados utilizados na apuração do seu desempenho. § 6o O FAP produzirá efeitos tributários a partir do primeiro dia do quarto mês subseqüente ao de sua divulgação. § 7o Para o cálculo anual do FAP, serão utilizados os dados de janeiro a dezembro de cada ano, a contar do ano de 2004, até completar o período de cinco anos, a partir do qual os dados do ano inicial serão substituídos pelos novos dados anuais incorporados. § 8o Para as empresas constituídas após maio de 2004, o FAP será calculado a partir de 1o de janeiro do ano seguinte ao que completar dois anos de constituição, com base nos dados anuais existentes a contar do primeiro ano de sua constituição. § 9o Excepcionalmente, e para fins do disposto no §§ 7o e 8o, em relação ao ano de 2004 serão considerados os dados acumulados a partir de maio daquele ano.” (NR) (BRASIL, 2007)

Diante disso, concluímos que as empresas, de acordo com sua classificação

econômica, recolhem à Previdência Social os percentuais de 1%, 2% ou 3%,

entretanto, com o advento do FAP, a diminuição ou majoração da alíquota será

avaliada no âmbito individual de cada empresa, em função da ocorrência de

doenças ocupacionais ou acidentes de trabalho, ou seja, o fato objetivo é que

aquelas empresas que investirem em segurança e saúde ocupacional aos seus

colaboradores, evitando assim acidentes e doenças poderão ter suas alíquotas

diminuídas em até 50%, enquanto que aquelas que não o fizerem, terão certamente

seus percentuais de contribuição aumentados, podendo esse aumento chegar em

até 100%.

Ademais, as empresas que não priorizam investimentos em saúde e

segurança do trabalho, mantendo seus trabalhadores expostos a agentes nocivos

com potencial de geração de doenças decorrentes do trabalho, estarão obrigadas a

indenizar possíveis danos materiais e morais a eles causados, e nesse sentido

caminha o entendimento de nossos tribunais, senão vejamos:

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RECURSO ORDINÁRIO. AÇAO DE INDENIZAÇAO POR DANO MORAL DECORRENTE DE DOENÇA PROFISSIONAL. NEXO CAUSAL. CULPA DA EMPREGADORA.HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. I- A indenização por doença ocupacional garantida ao trabalhador no inciso XXVIII do art. 7º da CF só é devida pelo empregador no caso de haver concomitantemente nexo causal entre a atividade profissional do trabalhador e a doença,a incapacidade para o trabalho decorrente da doença ou do acidente, além de culpa ou dolo do empregador. Ao concorrer com culpa ou dolo para o acidente de trabalho, seja por ação no descumprimento de regras de segurança ou omissão em adotar medidas direcionadas à prevenção de acidentes, o empregador comete ato ilícito, o qual gera à vítima do infortúnio o direito à indenização. (TRT-2 - RECORD: 2580200505402003 SP 02580-2005-054-02-00-3, Relator: MARCELO FREIRE GONÇALVES, Data de Julgamento: 08/04/2010, 12ª TURMA, Data de Publicação: 16/04/2010)

Em outras duas decisões recentes no Tribunal paranaense o entendimento

foi o mesmo:

TRT-PR-21-06-2013 INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. DOENÇA OCUPACIONAL. CONCAUSA. Comprovado que as condições de trabalho contribuíram para o agravamento do quadro patológico, certa é a responsabilidade da reclamada. Em matéria de saúde e segurança do trabalho, a conduta que se exige do empregador não é tão só orientar e alertar, mas sim, continuamente, adotar todas as providências possíveis para tornar o ambiente de trabalho seguro e saudável, com a adoção de medidas preventivas efetivas para afastar os riscos inerentes ao mister, o que não aconteceu. Presentes os requisitos ensejadores da reparação, quais sejam a ação ou omissão, a ocorrência do dano, e a atuação do trabalho atuando como concausa para o agravamento do quadro clínico apresentado pelo reclamante, não há como afastar a responsabilidade civil do empregador, nos termos do que dispõe o artigo 5º, X, da Constituição Federal c/c os artigos 186 e 927, do Código Civil. Recurso da reclamada a que se nega provimento.(grifos nossos) TRT-PR-01487-2012-014-09-00-3-ACO-23970-2013 - 2A. TURMA Relator: CÁSSIO COLOMBO FILHO Publicado no DEJT em 21-06-2013

TRT-PR-05-02-2013 INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. DOENÇA OCUPACIONAL. Comprovado que a patologia é proveniente das condições de trabalho, certa é a responsabilidade da reclamada. Em matéria de saúde e segurança do trabalho, é obrigação da empregadora proporcionar um ambiente de trabalho seguro e saudável, com a adoção de medidas preventivas efetivas para afastar os riscos inerentes ao ofício, o que não aconteceu. Assim, a realização de determinada atividade sem condições ergonômicas, quando possível a melhora de sua execução, evidencia a desconsideração da empregadora para com aquele que lhe presta serviços. Portanto, presentes os requisitos ensejadores da reparação, quais sejam a ação ou omissão do agente, a ocorrência do dano e o nexo causal, bem como a atuação do trabalho executado como causa para o surgimento do quadro clínico apresentado pelo reclamante, não há como afastar a responsabilidade civil do empregador, nos termos do que dispõe o artigo 5º, X, da Constituição Federal c/c os artigos 186 e 927, do Código Civil. TRT-PR-02247-2009-965-09-00-7-ACO-02943-2013 - 1A. TURMA Relator: CÁSSIO COLOMBO FILHO Publicado no DEJT em 05-02-2013

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Diante do exposto, ficam evidentes as consequências jurídicas para as

empresas que não investem em segurança e saúde de seus colaboradores,

notadamente, na melhoria de seus ambientes de trabalho tornando-os salubres, com

efeito, abandonando a prática equivocada em optar sumariamente pelo pagamento

do adicional de insalubridade.

7.2 CONSEQUÊNCIAS PARA O TRABALHADOR

Não são diferentes as consequências para os trabalhadores expostos a

agentes nocivos, que, apesar de receberem mensalmente o adicional de

insalubridade, continuam trabalhando em ambientes que propiciam à ocorrência de

acidentes e doenças relacionadas ao trabalho.

Infelizmente o trabalhador, na maioria dos casos, também enxerga o

adicional de insalubridade apenas como um acréscimo em sua renda, não se

importando muitas vezes, com a falta de investimentos para melhoria do ambiente

de trabalho, nesse sentido, focaremos nossa análise em algumas destas

consequências.

7.2.1 Ausência de investimentos em Segurança do Trabalho

Conforme já mencionamos em tópicos anteriores, alguns empresários, de

forma equivocada, acreditam que sai mais barato pagar o adicional de insalubridade

do que realizar investimentos na melhoria dos ambientes de trabalho, e por sua vez,

os trabalhadores, estão na grande maioria dos casos mais preocupados com

acréscimo em sua renda do que com sua saúde. Raimundo Simão de Melo

analisando esse fenômeno assevera:

O pagamento dos adicionais salariais, pela ignorância dos trabalhadores em relação aos riscos à saúde, leva estes muitas vezes a preferirem o pagamento, que é irrisório, mas, considerando que no caso de uma ação judicial recebem cinco anos atrasados e mais alguns, pelo tempo de demora no processo, no final das contas propiciam o pagamento de valores que nunca conseguiriam juntar de outra forma. Ou seja, de forma inconsciente os trabalhadores preferem vender a sua saúde por preço vil a lutar por melhores condições de trabalho. (MELO, 2013, p.208).

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No mesmo sentido, Sebastião Geraldo de Oliveira (2011, p.156) afirma que

em alguns casos, o trabalhador se recusa a ser transferido para outro posto de

trabalho onde não há a incidência do agente agressivo, isso porque para o

trabalhador, na maioria dos casos, significa a perda do acréscimo em sua renda.

O grande problema que enfrentamos é o da conscientização, tanto por parte

dos empresários quanto por parte dos trabalhadores, ou seja, nenhuma das partes,

na grande maioria dos casos, está interessada na melhoria dos ambientes de

trabalho, o empresário porque isso significaria a disponibilização de recursos e o

trabalhador porque sabe que se as condições melhorarem poderá ocorrer

eliminação do pagamento do adicional de insalubridade. Sebastião Geraldo de

Oliveira ao analisar o tema da conscientização assevera que:

Se há deficiência na formação de profissionais para atuar na área de saúde do trabalhador, observa-se como subproduto a falta de conscientização dos trabalhadores e empresários a respeito do tema. O desconhecimento acarreta a inércia dos trabalhadores e movimento sindical que prosseguem dando pouca atenção ao assunto, até que são surpreendidos por um acidente ou problema de saúde decorrente de más condições do ambiente de trabalho (OLIVEIRA, S., 2011, p.162-163).

Diante do exposto, evidencia-se a necessidade de atacar ferozmente a falta

de conscientização e eliminar, onde houver possibilidade é claro, os agentes nocivos

à saúde do trabalhador ou, onde não for possível a eliminação adotar a efetiva

neutralização do agente insalubre eliminando com isso o pagamento do adicional.

7.2.2 Expectativa de Aposentadoria Especial

Outra consequência grave aos trabalhadores é a expectativa de se

aposentarem de forma especial e nesse sentido, Sebastião Geraldo de Oliveira,

(2011, p.155-156), destaca que: “Além do ilusório incentivo salarial pra o trabalho

insalubre, o empregado aspira aposentar-se precocemente e, por isso, não reclama

das condições adversas”.

Ocorre que essa modalidade de aposentadoria está relacionada ao trabalho

realizado em condições especiais, consoante previsão da legislação previdenciária

contida na lei 8.213 de 24 de julho de 1991, mais precisamente nos artigos 57 e 58

que determinam:

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Art. 57. A aposentadoria especial será devida, uma vez cumprida a carência exigida nesta Lei, ao segurado que tiver trabalhado sujeito a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física, durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos, conforme dispuser a lei. (Redação dada pela Lei nº 9.032, de 1995) [...] Art. 58. A relação dos agentes nocivos químicos, físicos e biológicos ou associação de agentes prejudiciais à saúde ou à integridade física considerados para fins de concessão da aposentadoria especial de que trata o artigo anterior será definida pelo Poder Executivo. (Redação dada pela Lei nº 9.528, de 1997). (BRASIL, 1991)

Para Leandro Ferreira Bernardo e William Fracalossi, (2011, p.151), a

“aposentadoria especial é uma verdadeira espécie do gênero aposentadoria por

tempo de serviço, possuindo caráter especial, porque requer, para sua cofiguração,

além do tempo de serviço, a exposição ao risco”.

Alem disso, os mesmos autores, ao analisarem os requisitos necessários

para a concessão da aposentadoria especial asseveram que:

A aposentadoria especial requer o preenchimento de algumas imposições legais: para haver sua concessão deverá ser comprovado pelo segurado/autor o tempo de trabalho permanente, não ocasional nem intermitente, em condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física, durante o período mínimo fixado (§ 3.º do art. 57 da Lei n.º 8.213/91). Verifica-se que a carência é idêntica à das aposentadorias por idade e por tempo de serviço; todavia, o tempo de 15, 20 ou 25 anos, conforme a atividade, é um requisito peculiar e específico deste tipo de benefício (BERNARDO, 2010, p.151).

Analisando a jurisprudência direcionada ao tema em análise, Leandro

Ferreira Bernardo e William Fracalossi, (2010, p.151), esclarecem que: “A

aposentadoria especial é um benefício previdenciário diretamente relacionado aos

conceitos de atividades insalubres, perigosas e penosas”.

Diante desta análise inicial, temos que a percepção do adicional de

insalubridade enseja de fato que o trabalhador aposente-se de forma diferenciada, já

que ao receber o referido adicional pressupõe-se o trabalho em condições especiais,

o que nem sempre é a realidade ou mesmo que o trabalho seja de fato realizado em

locais com potencial de prejuízo a saúde dos trabalhadores, a Previdência Social

exigirá a comprovação, o quem nem sempre é tarefa fácil de atender.

Ademais, quando optam pelo pagamento do referido adicional às empresas

não se preocupam em munir-se de documentações que comprovem que o trabalho

verdadeiramente era realizado em condições insalubres, até porque, na grande

maioria dos casos, conseguiriam controlar os riscos e o pagamento do adicional

seria desnecessário.

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Nesse sentido, Giovanni Moraes ao analisar o tema acentua que: A Aposentadoria Especial é um benefício concedido ao segurando que tenha trabalhador em condições prejudiciais à saúde ou a integridade física. Para ter direito à aposentadoria especial, o trabalhador deverá comprovar, além do tempo de trabalho, efetiva exposição aos agentes físicos, biológicos ou associação de agentes prejudiciais pelo período exigido para a concessão do benefício (15, 20 ou 25 anos) (MORAES, 2011, p.20).

Salienta-se ainda, conforme nos esclarece Ivan Kertzman, (2007, p.302),

que até o advento da lei 9.032/95, não havia necessidade que o segurado

comprovasse a exposição permanente a agentes nocivos para ter o direito a

aposentar-se de forma especial, porém, essa lei promoveu a alteração no artigo 57 e

parágrafos da lei 8.213/91, com efeito, a Previdência Social alterou as regras,

estipulando o seguinte:

Art. 57. A aposentadoria especial será devida, uma vez cumprida a carência exigida nesta lei, ao segurado que tiver trabalhado sujeito a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física, durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos, conforme dispuser a lei. [...] § 3º A concessão da aposentadoria especial dependerá de comprovação pelo segurado, perante o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), do tempo de trabalho permanente, não ocasional nem intermitente, em condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física, durante o período mínimo fixado. § 4º O segurado deverá comprovar, além do tempo de trabalho, exposição aos agentes nocivos químicos, físicos, biológicos ou associação de agentes prejudiciais à saúde ou à integridade física, pelo período equivalente ao exigido para a concessão do benefício. (BRASIL, 1995)

Baseado nessa alteração, conseguir o benefício da aposentadoria especial

tornou-se tarefa das mais complicadas, isso porque, além da comprovação do tempo

de serviço que é um dos requisitos para concessão, consoante o artigo 57

mencionado acima, o trabalhador deverá comprovar através de documentação

fornecida pela empresa, que de fato esteve exposto a agentes nocivos à sua saúde,

acima dos limites de tolerância estabelecidos em lei.

Tal comprovação deverá feita através do documento instituído pela

Previdência Social denominado PPP (Perfil Profissiográfico Previdenciário),

conforme nos esclarece Giovanni Moraes que assim observa: O segurado deverá comprovar a efetiva exposição aos agentes nocivos químicos, físicos e biológicos ou a associação de agentes prejudiciais à saúde ou à integridade física, pelo período equivalente ao exigido para a concessão do benefício. Essa comprovação será feita por meio da elaboração do Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP), a ser elaborado pela empresa baseado na existência de um Laudo Técnico de Condições

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Ambientais de Trabalho (LTCAT) elaborado e assinado por médico do trabalho ou engenheiro de segurança do trabalho (MORAES, 2011, p.27).

Antonio Carlos Vendrame também doutrina sobre o assunto e posiciona-se

no mesmo sentido, quando assevera que:

[...] o PPP é o documento histórico-laboral, individual, do trabalhador que presta serviço à empresa, destinado a prestar informações ao Instituto Nacional do Seguro Social – INSS relativas à efetiva exposição a agentes nocivos e que, entre outras informações, registra dados administrativos, atividades desenvolvidas, registros ambientais com base no LTCAT e resultados de monitorização biológica com base no PCMSO (NR-7) e PPRA (NR-9). (VENDRAME, 2005, p.29).

Com efeito, o PPP deverá descrever os dados da empresa, do trabalhador,

se o trabalhador em questão sofreu algum acidente de trabalho na vigência de seu

contrato, deverá informar no PPP o número da Comunicação de Acidente de

Trabalho (CAT) correspondente, deverá descrever ainda os setores e funções que

desempenhou na empresa, a descrição detalhada destas atividades, os agentes

nocivos a que o trabalhador esteve exposto, devendo informar a concentração do

agente agressivo, a técnica de avaliação deste agente, se o EPC e o EPI eram ou

não eficazes e o número do CA (Certificado de Aprovação) do EPI. Além disso, o

PPP deverá trazer o nome e número do conselho de classe dos profissionais

responsáveis pelos registros ambientais e biológicos e deverá ser assinado pelo

representante legal da empresa.

Como podemos perceber, o PPP consiste em um relatório que extrai as

informações dos documentos técnicos elaborados pela empresa, nesse sentido,

Giovanni Moraes esclarece que: As condições de trabalho que possam resultar na concessão do benefício da aposentadoria especial, deverão ser comprovadas pelas demonstrações ambientais, que fazem parte das obrigações acessórias dispostas na legislação previdenciária e trabalhista. As demonstrações ambientais constituem-se, entre outros, nos seguintes documentos: Documentos Principais a. Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA); b. Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR); c. Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da

Construção (PCMAT); d. Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO); e. Laudo Técnico das Condições Ambientais de Trabalho (LTCAT); f. Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP); Outros Documentos de Comprovação a. Relatório Anual de Exames Alterados; b. Guia de Recolhimento do FGTS e informações ao INSS (GFIP); c. Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT). (MORAES, 2011, p.27)

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Conclui-se pela análise até este ponto que a Previdência Social, consoante

legislação em vigência, somente concede o benefício da Aposentadoria Especial ao

segurado que comprovar através dos documentos técnicos acima referenciados que,

independentemente do fato de receber o adicional de insalubridade pelo período

exigido na legislação previdenciária, esteve efetivamente exposto a agentes nocivos

à sua saúde acima dos limites de tolerância estabelecidos em lei, quando o agente

for quantitativo, ou comprovar a exposição permanente quando o agente for

qualitativo.

Assim sendo, podemos afirmar que as empresas que optam por pagar o

adicional de insalubridade sem que tenham realizado estudos para comprovar se de

fato seus ambientes de trabalho eram insalubres, geram em seus trabalhadores uma

expectativa de se aposentarem com menor tempo de trabalho, na condição especial,

fato esse que na maioria dos casos não ocorrerá, afinal, o trabalhador não

conseguirá comprovar a efetiva exposição.

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8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Assim sendo, evidencia-se pelo estudo aqui demonstrado que o pagamento

indiscriminado do adicional de insalubridade não traz benefício para nenhuma das

partes envolvidas no problema, por um lado, na maioria dos casos o empregador

paga o adicional de forma equivocada, portanto, arcará com as consequências

desse ato e por outro lado, o trabalhador também perde, pois continuará trabalhando

num ambiente ruim e não obterá os benefícios que almeja, tais como, a

Aposentadoria Especial.

Diante desta constatação, faz-se necessária uma mudança de rumo com

maior agilidade, pois se percebe que a legislação previdenciária e trabalhista em

vigência tende a beneficiar aqueles que investem em saúde e segurança e penalizar

aqueles que não o fazem, entretanto, a mudança tem sido muito lenta e ainda nos

deparamos com ambientes de trabalho hostis, impregnados de agentes nocivos à

saúde dos trabalhadores e pouca ou nenhuma conscientização no sentido da

prevenção.

Nesse sentido, Raimundo Simão de Melo assevera que:

O Brasil, desde muito tempo, infelizmente adotou essa equivocada estratégia do pagamento de adicionais, que não tem servido para outra coisa senão para desmotivar as empresas a adotarem medidas preventivas, pois realmente pagar adicional de insalubridade sobre o salário mínimo é cômodo e barato e melhor do que adotar outras medidas (MELO, 2013, p.208).

Infelizmente, o que constantemente verificamos são os sindicatos ou os

trabalhadores exigindo dos empregadores o pagamento dos adicionais de

insalubridade ou periculosidade, porém, pouca ou nenhuma exigência de melhorias

nos ambientes de trabalho para a eliminação ou neutralização dos agentes

agressivos.

A partir dos estudos realizados para o desenvolvimento deste trabalho, fica

ainda mais evidente a impossibilidade de eliminar de vez da legislação brasileira os

adicionais de insalubridade e periculosidade com a consequente proibição do

trabalho nestas condições, pois de fato em alguns casos a permanência em locais

com potencial de causar danos à saúde é inevitável, como no caso dos agentes

biológicos em ambientes hospitalares, porém, na grande maioria dos casos é

possível eliminar ou neutralizar a exposição com ações efetivas.

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Ao analisar esse assunto, Sebastião Geraldo de Oliveira assevera que:

A opção de proibir o trabalho insalubre ou perigoso beira o radicalismo, a utopia. Algumas atividades, mesmo perigosas ou prejudiciais, são imprescindíveis. É impossível, por exemplo, não atender ao paciente portador de doenças contagiosas ou deixar de recolher o lixo em razão da insalubridade. Na realidade, a proibição vem se restringindo a casos especiais, como, por exemplo, a vedação do trabalho insalubre ou periculoso para o menor (OLIVEIRA, S., 2011, p.156).

Não é diferente o posicionamento de Raimundo Simão de Melo, que

analisando o assunto da proibição salienta:

Quanto à estratégia de proibição do trabalho em atividades insalubres, pouco se tem a fazer, porque em algumas delas não é mesmo possível, como, por exemplo, no caso hospitalar, no tratamento de pacientes portadores de doenças contagiosas. Igualmente ocorre em relação à atividade dos coletores de lixo. Quer dizer, são atividade que, embora prejudiciais a quem as exerce, são necessárias para a preservação da saúde humana e, assim, alguém terá de exercê-las. O que se deve fazer nesses casos, é adotar todos os cuidados com relação às medidas coletivas e individuais para proteger os trabalhadores e diminuir os riscos para a saúde deles (MELO, 2013, p.208).

Há autores que defendem a ideia de majorar o valor do adicional de

insalubridade, alterando sua base de cálculo que atualmente é sobre o salário

mínimo para o salário base do trabalhador, objetivando motivar os empregadores a

investirem em saúde e segurança, como é o caso de Raimundo Simão de Melo que

assim se posiciona:

É evidente que 10%, 20% ou 40% sobre o salário mínimo não são suficientes para reparar os males causados ao trabalhador em razão do trabalho em ambientes insalubres, pelo que é mais do que razoável a fixação desses adicionais sobre o salário percebido pelo obreiro, cuja finalidade não é só indenizá-lo pelo trabalho em condições prejudiciais à sua saúde, mas, também, punir o empregador que não adota medidas destinadas à neutralização dos agentes nocivos à saúde do trabalhador (MELO, 2013, p.216).

Outros, porém, defendem a ideia de diminuir a jornada de trabalho, com a

consequente diminuição do tempo de exposição, como no caso de Sebastião

Geraldo de Oliveira que assim escreve:

A redução da jornada é a saída ética para enfrentar a questão. Em vez de reparar com dinheiro a perda da saúde, deve-se compensar o desgaste com maior período de descanso, transformando o adicional monetário em repouso adicional. A menor exposição diária, combinada com um período de repouso mais dilatado, permite ao organismo humano recompor-se da

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agressão, mantendo-se a higidez. Essa alternativa harmoniza as disposições constitucionais de valorização do trabalho, colocando o trabalhador em prioridade com relação ao interesse econômico (OLIVEIRA, 2011, S., p.157).

A redução da jornada de trabalho resolveria algumas das consequências

apresentadas neste trabalho, consoante o entendimento de Sebastião Geraldo de

Oliveira, vejamos:

Por outro enfoque, haverá reações benéficas por parte dos trabalhadores. O adicional insalutífero tem servido para atenuar a luta por melhores condições de trabalho, atuando como anestésico para embaçar a percepção dos malefícios. O trabalhador, adotando o pensamento imediatista, até mesmo inconscientemente, tem receio de que o agente agressivo seja eliminado, trazendo a perda da vantagem financeira e a possibilidade de aposentar-se com menor tempo de serviço. Proibindo-se a monetização do risco, os empregados terão mais ânimo de lutar por melhores condições de trabalho, sem o fascínio enganoso dos adicionais (OLIVEIRA, S., 2011, p.157).

Quanto à conscientização dos empregadores, o mesmo autor pontua que:

Também o empregador será estimulado a investir na melhoria do ambiente, porquanto o pagamento do salário integral para a jornada reduzida terá peso considerável no custo operacional. Perceberá que vale a pena afastar o agente agressivo e voltar para a jornada normal de oito horas, pagando o mesmo salário (OLIVEIRA, S., 2011, p.157).

Concluindo, independentemente da ação a ser tomada pelos nossos

legisladores em relação a esse tema, fica claro que existem diversas alternativas

para a solução do problema aqui apresentado, que certamente proporcionará

ganhos para todas as partes envolvidas, quer para o trabalhador que terá melhores

condições de trabalho com ambientes saudáveis, quer para o empregador que

verificará que os investimentos realizados reverterão em trabalhadores motivados e

ganhos de produtividade e para o Estado com a economia em benefícios

previdenciários.

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REFERÊNCIAS

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