o outro exílio nas literaturas proibidas - textos

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II CONFRARIA LITERÁRIA O OUTRO EXÍLIO NAS LITERATURAS PROIBIDAS PROF. MIGUEL LINHARES Assaig de càntic en el temple Oh, que cansat estic de la meva covarda, vella, tan salvatge terra, i com m’agradaria d’allunyar -me’n, nord enllà, on diuen que la gent és neta i noble, culta, rica, lliure, desvetllada i feliç! Aleshores, a la congregació, els germans dirien desaprovant: “Com l’ocell que deixa el niu, així l’home que se’n va del seu indret”, mentre jo, ja ben lluny, em riuria de la llei i de l’antiga saviesa d’aquest meu àrid poble. Però no he de seguir mai el meu somni i em quedaré aquí fins a la mort. Car sóc també molt covard i salvatge i estimo, a més, amb un desesperat dolor aquesta meva pobra, bruta, trista, dissortada pàtria. Salvador Espriu, El caminant i el mur (1954) Ensaio de cântico no templo Ó, como estou cansado da minha / covarde, velha, tão selvagem terra, / e como gostaria de me afastar dela, / lá para o norte, / onde dizem que as pessoas são limpas / e nobres, cultas, ricas, livres, / espertas e felizes! / Então, na congregação, os irmãos diriam / desaprovando: “Como o pássaro que deixa o ninho, / assim o homem que vai embora do seu lugar”, / enquanto eu, já bem longe, riria / da lei e da antiga sabedoria / deste meu árido povo. / Mas não hei de seguir nunca o meu sonho / e ficarei aqui até a morte. / Pois sou também muito covarde e selvagem / e amo, além disso, com uma / desesperada dor / esta minha terra, / suja, triste, desaventurada pátria. ( O caminhante e o muro (1954)) Longa noite de pedra No meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra. Carlos Drummond de Andrade O teito é de pedra. De pedra son os muros e as tebras 1 . De pedra o chan e as reixas 2 . As portas, as cadeas, o aire, as fenestras 3 , as olladas, son de pedra. Os corazós dos homes que ao lonxe espreitan feitos están tamén de pedra. E eu, morrendo nesta longa noite de pedra. Celso Emilio Ferreiro, Longa noite de pedra (1962) 1 trevas 2 grades 3 janelas

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Textos dos poetas Salvador Espriu e Celso Emilio Ferreiro.

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  • II CONFRARIA LITERRIA O OUTRO EXLIO NAS LITERATURAS PROIBIDAS PROF. MIGUEL LINHARES

    Assaig de cntic en el temple

    Oh, que cansat estic de la meva

    covarda, vella, tan salvatge terra,

    i com magradaria dallunyar-men, nord enll,

    on diuen que la gent s neta

    i noble, culta, rica, lliure,

    desvetllada i feli!

    Aleshores, a la congregaci, els germans dirien

    desaprovant: Com locell que deixa el niu, aix lhome que sen va del seu indret, mentre jo, ja ben lluny, em riuria

    de la llei i de lantiga saviesa daquest meu rid poble. Per no he de seguir mai el meu somni

    i em quedar aqu fins a la mort.

    Car sc tamb molt covard i salvatge

    i estimo, a ms, amb un

    desesperat dolor

    aquesta meva pobra,

    bruta, trista, dissortada ptria.

    Salvador Espriu, El caminant i el mur (1954)

    Ensaio de cntico no templo

    , como estou cansado da minha / covarde, velha, to selvagem terra, / e como gostaria de me afastar dela, / l para o norte, / onde dizem que as pessoas so limpas / e nobres, cultas, ricas, livres, / espertas e felizes! / Ento, na congregao, os irmos

    diriam / desaprovando: Como o pssaro que deixa o ninho, / assim o homem que vai embora do seu lugar, / enquanto eu, j bem longe, riria / da lei e da antiga sabedoria / deste meu rido povo. / Mas no hei de seguir nunca o meu sonho / e ficarei aqui at a morte. / Pois sou tambm muito covarde e selvagem / e amo, alm disso, com uma / desesperada dor / esta minha terra, / suja, triste, desaventurada ptria. (O caminhante e o muro (1954))

    Longa noite de pedra

    No meio do caminho tinha uma pedra

    tinha uma pedra no meio do caminho

    tinha uma pedra

    no meio do caminho tinha uma pedra.

    Carlos Drummond de Andrade

    O teito de pedra.

    De pedra son os muros

    e as tebras1.

    De pedra o chan

    e as reixas2. As portas,

    as cadeas,

    o aire,

    as fenestras3,

    as olladas,

    son de pedra.

    Os corazs dos homes

    que ao lonxe espreitan

    feitos estn

    tamn

    de pedra. E eu, morrendo

    nesta longa noite

    de pedra.

    Celso Emilio Ferreiro, Longa noite de pedra (1962)

    1 trevas 2 grades 3 janelas