o novo convertido[1]

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AGRADECIMENTOA Jesus, meu salvador e Rei; toda a honra e toda a glria. minha famlia: Lilian, Romer Jnior, Lucas e Raquel, vocs so a igreja que mais amo pastorear. Aos meus colegas que sempre me incentivaram a tornar este sonho uma realidade.

CONTRA-CAPAO cuidado com o novo convertido um tema pouco trabalhado pelas igrejas atuais. Costuma-se haver um forte trabalho para levar algum para a igreja, mas depois, ele acaba sendo deixado de lado. A presente obra visa equipar ministrios na igreja que trabalham com as reas de evangelismo, discipulado, integrao e outras, com uma viso dos conflitos que passam na mente de algum que resolveu deixar a cultura no-crist e se envolver com uma cultura eclesistica. Ao ler esta obra, voc tambm perceber os erros e os acertos que aconteceram durante o seu prprio tempo de adaptao. Que o Senhor Todo-Poderoso te abenoe e edifique com esta leitura.

CONTATO COM O AUTOR Romer Cardoso dos Santos Tel: (27) 3366-0861 E-mail: [email protected]

NDICE Introduo Captulo 1 Captulo 2 Captulo 3 Captulo 4 Captulo 5 Captulo 6 Captulo 7 Captulo 8 - Quem o novo convertido? - O relacionamento da igreja com o novo convertido. - O processo de insero do novo convertido. - As barreiras para o crescimento do novo convertido. - A importncia das amizades. - Superando as crises. - Uma nova viso da comunidade. - Rumo Liderana.

Consideraes Finais

INTRODUOO cuidado com o novo convertido um tema pouco trabalhado em grande parte das igrejas, independente da sua ideologia. Mesmo quando se percebe alguma preocupao com o mesmo, raramente o lado cultural deste momento recebe alguma considerao. exatamente com este pensamento em mente que buscaremos oferecer, atravs dessa pequena obra, um subsdio a mais para cuidar dos primeiros passos da pessoa que est chegando igreja. Algum poderia perguntar: - Mas qual a relevncia deste estudo para a igreja contempornea? A resposta poderia vir atravs de novas perguntas: - Voc acredita que a igreja crist contempornea sabe lidar com aqueles que esto entrando na igreja? - O que mais desejado na igreja contempornea: que a pessoa encontre um espao para desenvolver a sua f ou que ela demonstre em seus atos que uma nova criatura? certo que as respostas podem ser at mesmo animadoras, mas o fato que estamos diante de um grande dilema! Os tempos so novos; as necessidades so novas; mas o problema bem antigo! Somos geis para evangelizar, dedicados para doutrinar; mas no somos pacientes para esperar que o processo de santificao se desenvolva nos filhos espirituais! Quando Jesus fala sobre a parbola do semeador, Ele nos ensina a cuidar desde a semente at a colheita. Creio que a primeira etapa sempre a mais difcil, pois envolve um longo tempo e uma aparente improdutividade. preciso saber o terreno certo para o tipo de semente! preciso preparar o local que ser semeado. preciso plantar, regar, tirar os elementos daninhos, adubar, cuidar, cuidar, cuidar... Essa a palavra que caracteriza os primeiros passos de uma grande colheita: CUIDAR! H ainda alguma dvida sobre a relevncia deste tema? Se h, quero ainda apresentar a justificativa de que estou pelo menos tentando levantar uma reflexo sobre o nosso procedimento no que tange ao novo convertido. Minha tese de que a grande maioria dos que deixam a igreja aps um pequeno perodo de convivncia, o faz no pelo fato de acharem que o culto desagradvel, por discordarem das

doutrinas ou quaisquer aspectos secundrios. Eles deixam a igreja por atravessarem um choque cultural. Tenho como objetivo principal, despertar as igrejas a dedicarem uma maior ateno aos primeiros passos do novo convertido, entendendo este perodo como um tempo em que ele precisa ser bem amparado para adquirir estrutura saudvel para o crescimento na f. Serve como um manual de estudo para ministrios na rea de integrao, recepo e discipulado. Deve tambm ser utilizado para que toda a igreja entenda o seu papel para com o novo convertido.

CAPTULO 1 Quem o Novo Convertido?Quem o novo convertido? Ser que realmente sabemos defini-lo? Muitas vezes o imaginamos como aquele que acabou de entrar na igreja e s. No procuramos compreender seus conflitos, sua necessidade de adaptao, sua vida secular, familiar, profissional. Precisamos olh-lo de forma integral.

1) O Novo Convertido: um beb espiritual. Na grande maioria das vezes, olhamos para o novo convertido como um adulto. Entretanto, nos aspectos espiritual e cultural devemos ter a conscincia de que estamos nos relacionando com um beb. No somente por ter nascido novamente, mas tambm por estar sendo admitido em uma nova famlia. No se pode deixar de perceber algumas das dificuldades que sero enfrentadas em seu perodo de adaptao ao novo convvio. Poderiam ser listadas vrias reas em que o novo convertido precisa de ateno, como a doutrinao, o discipulado, a cura das emoes, etc. Entretanto, o objetivo primrio deste estudo atender necessidade de adaptao nova cultura em que o recm convertido est adentrando. importante frisar que, apesar do foco desse trabalho ser o novo convertido, grande parte do mesmo serve para qualquer processo de adaptao a uma nova igreja e que mesmo aqueles que possuem longa experincia eclesistica, precisam considerar as dificuldades de uma mudana de igreja.

1.1) Que nova cultura essa? Quanto maior o tempo que algum passa fora da igreja, maior a sua dificuldade de adaptao a um novo estilo de vida. Isso significa no somente dificuldade de alterar suas convices, mas tambm de modificar seus comportamentos. Por desconsiderarem este ponto, a maioria das igrejas acaba por exigir que o novo convertido demonstre uma completa aceitao da nova vida, sem trabalhar seus antigos valores.

Tanto aquele que nunca foi a uma igreja, quanto aquele que j passou por alguma experincia religiosa, esto includos nessa situao. O fato que grande parte das igrejas no consegue atender as necessidades especficas desse processo de adaptao.

1.2) Quais as conseqncias disso? Cristos convictos, porm imaturos. Converso sincera, porm sem sentido. Hbitos abandonados externamente, mas que ainda incomodam internamente. Pode-se resumir essas palavras afirmando que a maior conseqncia a vida de aparncia. O novo convertido recebe informaes que no pode beber, fumar, sair com os antigos amigos, viver a vida promscua de antigamente e que deve estar na igreja em todos os dias de culto, abrir sua vida para os irmos (sua nova famlia), etc... O grande problema, entretanto, aquela dvida que sempre paira na mente do novo convertido: por qu tenho que fazer isso? ou por qu no posso fazer aquilo?. Informa-se muito bem, mas argumenta-se muito pouco. Em boa parte, esta falha se d por falta de tempo para se investir em um discipulado relacional. Por outro lado, h pouco espao no mundo moderno para investir a longo prazo e, portanto, prefere-se colher frutos amadurecidos pelo artificial do que aguardar o devido tempo da colheita. Talvez fosse uma boa hora para voltar os olhos para o ministrio de Jesus e entender o porqu de uma espera de 30 anos para iniciar sua atividade messinica e o porqu dos 3 anos de treinamento dos discpulos. Na cronologia divina, o tempo importante, mas no o essencial para a atividade evangelstica. Na economia divina, o resultado desejado, mas no ocupa o destaque principal. O relacionamento precede ambos.

1.3) O que fazer, ento? Esta pergunta, apesar de ser profundamente sincera, no de resposta to fcil. Sabemos e identificamos claramente o problema, mas devido a fatores como a individualidade de cada ser humano, a pluralidade cultural observada no contexto

urbano, a falta de preparo e de tempo adequados para a concretizao de um bom trabalho de discipulado, sou levado a apresentar propostas ao invs de respostas. Entretanto, mesmo sendo propostas, e no respostas, isto torna a tarefa mais empolgante e mais participativa, pois todos precisam se envolver e todos devem participar. Este ser apenas um ponto de incio nesta jornada que, certamente, levar a igreja a ser mais criteriosa e atenciosa para cuidar daqueles que esto dando os seus primeiros passos na igreja.

2) O que preciso lembrar! Se for o desejo profundo do seu corao poder ajudar algum a dar os primeiros passos na igreja, lembre-se primeiramente que voc precisou de algum. No importa se voc nasceu na igreja ou se voc passou a freqent-la j adulto, voc certamente precisou de algum para auxili-lo. Isto inclui uma srie de circunstncias: * algum que te fez o convite; * algum que te ensinou o caminho at a igreja; * algum que te apresentou aos membros da igreja; * algum que te ajudou a ler a Bblia, pelo menos com o incentivo; * algum que te deu as primeiras oportunidades, quando at mesmo voc tremia de medo de dar errado; * etc... Se voc precisou de algum para te acompanhar, voc est sendo convocado agora para acompanhar outros nesta etapa de crescimento. impressionante ver como as pessoas se esforam para trazer outros para a igreja, mas parecem apticos quando estas tomam a deciso de se tornarem freqentadores da igreja. Penso que a tarefa de plantar e de colher a semente so muito mais promissoras do que a de cuidar e a de comercializar os gros. Temos excelentes semeadores (evangelismo) e segadores (batismo) nos nossos tempos, mas precisamos nos envolver mais com o crescimento (discipulado) e com a comercializao (misso).

2) Barnab: investindo em pessoas.

Para concluir esta palavra introdutria, quero fazer uma breve explanao sobre a vida de Barnab. Ele no uma figura que possui grande destaque na igreja primitiva. Ele no contado como um dos apstolos! No est em evidncia, nem mesmo quando o seu discpulo est sob os seus cuidados, tanto na igreja de Antioquia ou nas viagens missionrias. Alis, chegamos at mesmo a afirmar que ele discutiu com Paulo, como se Paulo fosse mais importante que ele. Mesmo diante dessas afirmaes, ningum pode subtrair dele a grande honra do seu ministrio! E que ministrio!? Pelo menos 2 grandes personalidades bblicas foram inseridas na Igreja pelo trabalho deste homem: Paulo, o apstolo, e Marcos (autor do 2 evangelho)! Pensando na experincia da converso de Paulo, devemos nos lembrar que ele no era bem visto e sua companhia era rejeitada pela igreja. Em Atos 9.26, lemos que ele tendo chegado a Jerusalm, procurou juntar-se com os discpulos; todos, porm, o temiam, no acreditando que ele fosse discpulo. Mesmo aps uma profunda experincia com o Senhor Jesus Cristo, Paulo precisou de algum que lhe fosse til para ser integrado na igreja. Ananias poderia ter sido este homem, mas a sua resposta mostrava muito bem quem era o Saulo de Tarso (futuro apstolo Paulo) e que Ananias no tinha muita disposio em trabalhar com ele. Ananias responde ao Senhor: - Senhor, tenho ouvido muita coisa a respeito desse homem e de todo o mal que ele tem feito aos teus santos em Jerusalm. Ele chegou aqui com autorizao dos chefes dos sacerdotes para prender todos os que invocam o teu nome! (Atos 9.13,14) Observe atentamente as palavras de Ananias: 1) ... tenho ouvido ... - Ananias no o conhecia, mas demonstrava resistncia ordem de Deus, devido aos rumores e fama de Saulo. Muitas vezes estamos como Ananias! Mais preocupados com o que os outros dizem do que com o que Deus ordena! 2) ... Ele chegou aqui... para prender - Ananias parece querer informar a Deus os propsitos da chegada de Saulo a Damasco. Parece que Deus no estava bem informado! Quantas vezes estamos mais prontos para explicar a Deus o que achamos que deve ser feito do que ouvir dEle o que devemos fazer. Estas atitudes de Ananias jamais encorajariam algum a fazer parte da famlia de Deus. Entretanto, algum poderia dizer: - Mas ele cumpriu a ordem de

Deus!. verdade; ele obedeceu! Mas isso no foi o suficiente para impedir a igreja de temer o jovem Saulo. O versculo 26 de Atos 9, informa que quando [Saulo] chegou a Jerusalm, tentou reunir com os discpulos, mas todos estavam com medo dele, no acreditando que fosse realmente um discpulo . a que entra Barnab! Ento Barnab, o levou aos apstolos e lhes contou como, no caminho, Saulo vira o Senhor, que lhe falara, e como em Damasco ele havia pregado corajosamente em nome do Senhor. Falava e discutia com o judeus de fala grega, mas estes tentavam mat-lo (Atos 9.2729). Agora sim, Paulo poderia entrar para o grupo dos seguidores de Cristo, pois algum que tinha pleno crdito estava l com ele! Paulo passa um longo tempo em preparo e, quando j estava pronto para exercer liderana na igreja, encontramos novamente a figura de Barnab. Ento Barnab foi a Tarso procurar Saulo e, quando o encontrou, levou-o para Antioquia (Atos 11.25-26). E, para finalizar esta parte, eles recebem juntos o chamado de Deus para a 1 Viagem Missionria em Atos 13.1-3. No tenho dvidas de que Barnab era o lder dessa primeira expedio. Aps uma longa caminhada juntos, os dois tm uma grande discusso (Atos 15.39). Muitos tentam dizer que Paulo caminhava na viso de Deus e que Barnab fugiu dessa viso. Isso uma tremenda injustia. O problema em questo no qual era a viso correta! O problema se chama Joo Marcos! Um jovem que havia desistido no meio da primeira viagem, possivelmente por medo! Paulo no achava que ele merecia uma segunda chance e Barnab, entendia que sim! Eles, ento, optaram por seguirem a mesma viso de Deus atravs de rotas diferentes. Paulo seguiu sua viagem com Silas e encontrou novos membros para inserir em sua equipe, entre os quais se encontrava um jovem chamado Timteo. Barnab, por sua vez, seguiu em frente com Joo Marcos e fez dele uma figura de grande destaque na igreja primitiva, reconhecido, inclusive, pelo prprio Paulo (2 Timteo 4.11). Creio que muito do que Paulo ensinou, ele aprendeu com Barnab! Ele foi um grande incentivador para que novas pessoas integrassem sua equipe, viso esta, que era totalmente pertinente a Barnab! De que adianta algum ser o melhor e no deixar ningum para continuar o que ele comeou. A histria est repleta de grandes nomes que morreram sem que ningum estivesse preparado para substitu-lo. Isso se d porque dar oportunidades

no uma tarefa agradvel. Entretanto, se desejamos que algum cresa e se torne uma grande personalidade na f, temos que ajud-lo a dar os seus primeiros passos!

CAPTULO 2 O relacionamento da igreja com o novo convertidoHoje dia de festa na igreja! Marcos estava h muito tempo fazendo uma investigao sobre a vida crist, mas jamais tomara uma deciso firme de se tornar um cristo. Entretanto, hoje, ele decidiu e assumiu diante da igreja o compromisso de se tornar um servo de Deus. Marcos agora um Novo Convertido! As pessoas o encontram e o sadam como se ele tivesse acabado de tomar a deciso mais importante da sua vida. Ele se comove, ri, chora, nem sabe o que falar, mas est convencido de que fez a coisa certa. Ele no quer voltar para a vida que acabou de abandonar e est muito feliz em encontrar uma nova famlia. Essa cena muito comum em nossas igrejas e traz-nos uma grande euforia saber que vidas esto sendo salvas atravs da pregao do evangelho. Marcos uma figura imaginria aqui, mas sua histria tem sido repetida diversas vezes em muitas igrejas. Isso nos faz concluir que o novo convertido algum que sempre est presente em nosso meio. Entretanto, algumas idias nocivas podem atrapalhar o crescimento do novo convertido. Vejamos algumas destas idias.

1) Idias equivocadas sobre o Novo Convertido * Um recm-nascido de outra famlia uma figura muito utilizada para identific-lo a de um recm-nascido. Tal fato se d porque ele est ingressando em uma nova famlia, conhecida como a famlia dos regenerados, e est pronto para iniciar o seu processo de crescimento nesse novo ambiente. Essa figura, apesar de ser muito prxima da idia de um beb espiritual, possui uma grande diferena: a nossa responsabilidade para com ele. Olhamos muitas vezes para o novo convertido da mesma forma como olhamos os filhos dos outros. So bonitinhos, mas no so nossa responsabilidade.

* Um ex-*** - algumas pessoas so identificadas no com os laos que esto sendo vinculados no ato da deciso, mas com os que foram rompidos neste momento e, por isso, acabam carregando o rtulo de ex-alguma-coisa. Ressalta-se

muito mais o passado nefasto do novo convertido do que o seu futuro desafiador na igreja.

* Um discpulo algum que passa a seguir o Senhor Jesus e deixa as coisas do mundo para isso. O novo convertido passa a ser instrudo segundo os princpios estabelecidos pela igreja, a fim de que, em breve tempo, ele possa se tornar algum apto a andar sozinho e refletir o pensamento desta. Neste caso, o termo discpulo significa reprodutor da viso dogmtica de sua igreja. Naturalmente, discipulado se torna um conjunto de regras e doutrinas a serem inculcadas no novo convertido.

claro que outras formas de conceituar o novo convertido podem ser descritas, mas os exemplos acima so suficientes para mostrar que a igreja olha para o novo convertido como algum que carrega as seguintes caractersticas:

1) Ele inferior algum importante, mas que est vrios passos atrs de ns na caminhada crist;

2) Ele vazio no conhece nada sobre a verdade, ento, est pronto para ser preenchido com o nosso ensino;

3) Ele precisa da nossa experincia o novo convertido precisa ouvir o que vamos falar e seguir nossos conselhos para poder se tornar um bom cristo;

4) Ele tem de crescer est comeando um processo que culminar em um longo exerccio de vida crist no meio social.

O grande problema que enfrentamos, entretanto, o fato de que no observamos que o foco central das nossas atividades para com o crescimento do novo convertido est muito mais direcionado para o que queremos dele do que para as necessidades dele. E isso pode ser aplicado tanto nos aspectos espirituais, quanto nos aspectos social e cultural.

Por isso, muitas vezes somos tentados a avaliar o que se passa externamente no novo convertido e no buscamos compreender o seu interior. Aprendemos a ensinar e, por isso, no ensinamos a aprender. Entendo que a boa compreenso desse processo habilitar a igreja a ver o novo convertido como uma pessoa; no apenas como um dado estatstico de autopromoo.

2) Mostrando interesse pela pessoa Ao observar o ministrio de Jesus, percebemos o quanto ele se importava com as pessoas ao seu redor. Certa vez um jovem rico buscou dilogo com ele e o autor do evangelho afirmou que Jesus olhou para aquele jovem e o amou (Marcos 10.21)! D para sentir nessas palavras que aquele jovem no era apenas um objeto ou um objetivo para Jesus; ele era algum. O relacionamento de Jesus com os doze tambm mostrava o quanto o mestre se interessava pelos seus discpulos. Ele no somente ensinava, mas tambm ouvia, perguntava, incentivava, distribua tarefas e estava sempre disposto a repetir tudo at que eles aprendessem e estivessem prontos. Aps trs anos de um relacionamento intenso, podemos ver a influncia de Jesus sobre a vida deles e o quanto eles foram transformados; mas cada um continuava sendo a mesma pessoa que fora alvo do amor do mestre. E foram estes que Deus usou para transtornar o mundo (Atos 17.6). Paulo outro personagem que deixa claro o seu interesse pelas pessoas que ele acompanhava. Ele deixa extravasar em suas cartas o quanto ele se preocupava com aqueles que andavam ao seu redor. Desde os primeiros passos, at o momento em que eles se tornaram vigorosos mestres, Paulo sofreu ansiando por ver neles a concluso do processo de discipulado. O que acontece com boa parte das igrejas de hoje? s vezes fico pensando na cena final do filme Procurando Nemo e imaginando a vida do novo convertido na igreja. A cena mais ou menos a seguinte. O dentista (dono do aqurio) tira os peixes e os coloca em sacos plsticos, a fim de limpar o aqurio. Os peixes conseguem fazer com que estes sacos rolem pela janela, desam pelo teto, atravessem a rua e caiam no mar. A cena comea com o grupo incentivando o ltimo peixe a cumprir a ltima etapa e ficam eufricos quando este consegue.

Passada a empolgao, ocorre um breve silncio e, ento, um deles, pergunta aos demais: E agora? Este o ponto em que a realidade comea a mostrar uma falha neste plano, pois eles conseguiram se libertar da priso chamada aqurio e, agora, esto presos em sacos plsticos, boiando no oceano, isolados um do outro e sem nenhuma expectativa de ver a situao melhorar. A liberdade to sonhada parece, agora, uma priso eterna. Esta cena me faz pensar em como se sente aquela pessoa que acabou de deixar uma vida fora da igreja e entrar para essa nova sociedade. Fico imaginando os planos de uma vida para se libertar de suas prises interiores e vendo, na igreja, uma esperana de que tudo ser melhor. Percebe at mesmo o incentivo de seus amigos mas, passada a euforia, ela contempla uma realidade que, muitas vezes, se torna uma priso maior do que a anterior. A igreja se preocupa pouco com este perodo da vida do novo convertido e, quando h alguma preocupao, pouco ou nada feito para tratar o choque-cultural entre a vida segundo o mundo e a vida segundo a igreja. Precisamos entender que uma pessoa, ao decidir fazer parte de uma igreja, no precisa apenas de uma classe de boas novas, mas de um acompanhamento para vencer os conflitos da nova cultura. Ela precisa de algum para desatar o n do saco plstico e ensin-la a viver no oceano. O grande problema que temos enfrentado que algumas prioridades tm ocupado o lugar das pessoas na igreja contempornea. Poderamos citar algumas a ttulo de exemplo.

1) A necessidade de encher igrejas no devemos confundir a necessidade de encher igrejas com a necessidade de crescimento. Igreja que no cresce semelhante a menino que no ganha peso e altura; todos dizem que est doente! A igreja precisa crescer! Muitos tentam justificar a falta de crescimento com a afirmao: minha igreja cresce espiritualmente. Uma resposta clara a esta situao : ento, ela deve, naturalmente, crescer numericamente! Atos 2.42-47 mostra que o estilo de vida da igreja fazia com que O PRPRIO DEUS acrescentasse pessoas igreja.

O problema, entretanto, o que foi chamado de numerolatria.1 No importa quem, mas quantos freqentam a igreja. Esta busca desenfreada pelo crescimento numrico tem feito com que os investimentos em marketing e eventos seja muito maior do que o investimento nas pessoas. Por que deveria eu gastar duas horas com um amigo no shopping tomando sorvete, se eu posso, nesse mesmo tempo, marcar um discipulado2 e convidar pelo menos dez pessoas para me ouvirem falar em que eles devem crer. O lucro, nesse segundo caso, muito maior! So concluses como essa que tm feito a igreja se tornar um grupo social cada vez mais definido como aqueles que se escondem num culto, mas no so capazes de se abrir na vida. Dupla personalidade, hipocrisia, falsidade; esse o resultado de se perder o interesse pelas pessoas e voltar-se para o nmero de freqentadores da igreja.

2) O conformismo com a filosofia secular algumas marcas que podem ser vistas na filosofia secular contempornea esto ligadas ao individualismo. Cada pessoa pensa o que quer, faz o que quer, vai onde quer, no tendo nenhum limite para satisfazer sua vontade. Este fato, alm de ser um grande inibidor de iniciativas, tambm oferece uma grande base para resistncia. Por esse motivo, muitas vezes somos levados a no nos interessarmos pela pessoa, acreditando que ela, por si s, deve encontrar o que procura. Um fato que sempre me chamou a ateno, entretanto, que esse argumento, que fortemente usado no aspecto religioso, no parece ser respeitado em todos os setores. Um dos pontos que eu poderia citar a questo da discriminao. Se um heterossexual defender a sua bandeira ele imediatamente acusado de estar promovendo discriminao, entretanto, um homossexual pode, abertamente, defender suas idias, ofender os heterossexuais, lanar predies ofensivas e convidar pessoas aNumerolatria o termo utilizado para descrever o sentimento de que a igreja s est sendo abenoada por Deus quando ocorre o crescimento numrico. Nestes casos, a quantidade de membros que freqentam a igreja passa a ser o principal referencial da bno divina. Outro termo bastante usado o numerofobia, que reflete o sentimento oposto numerolatria. Neste caso o no crescimento justificado como uma bno, pois a igreja est sendo fiel. 2 Normalmente se idealiza o discipulado como um estudo dos principais dogmas sagrados de uma sagrada denominao. Uso o tom irnico pois, apesar de reconhecer que todos ns somos levados a amar as nossas doutrinas e buscar compreender a sua biblicidade, acabamos entendendo que o discipulado termina quando algum capaz de responder as principais doutrinas da nossa f. Entendo que o verdadeiro discipulado ocorre quando o carter de Cristo passa a ser evidenciado na vida dos discpulos. O conhecimento teolgico uma conseqncia natural disso.1

se converterem aos seus princpios sem, jamais, serem chamados de discriminadores. Um amigo me falou certa vez de um rapaz que estava com uma camisa com os seguintes dizeres: 100% negro. Ficamos, ento, imaginando a reao que aconteceria se aparecesse uma pessoa branca com uma camisa com os dizeres: 100% branco. Conclumos que neste caso, tal atitude seria considerada discriminao, enquanto no outro, valorizao pessoal. Estes e outros diversos exemplos mostram um desrespeito filosofia que eles mesmos defendem e acabam se tornando fortes investidores em pessoas; mais at do que em seus ideais. Enquanto a igreja do Senhor Jesus no se dispuser a investir em pessoas com o propsito de transform-las, no ver nada mais do que um futuro desrtico e assustador. No somente as pessoas deixaro de freqentar as igrejas, como nossos prprios filhos abandonaro a f e, os que ficarem, sero to fracos, que a presena de Deus ser apenas um mito a ser lembrado! A igreja do Senhor Jesus relacional e relacionamento exige envolvimento pessoal. Pessoas so importantes quando estamos interessados nelas. Enquanto houver pessoas entrando na igreja e encontrando um ambiente numerlatra ou medroso de se relacionar pessoalmente, veremos multiplicao de zorros e de zumbis, ao invs de discpulos de Jesus Cristo.

CAPTULO 3 O Processo de Insero do Novo ConvertidoA entrada de qualquer pessoa em uma nova cultura precisa ser bem trabalhada. Com o novo convertido no deve ser diferente. Ele precisa ser inserido na igreja e, para isso, alguns passos sero tomados. Vejamos, ento, como ocorre o processo de insero do novo convertido na igreja.

1. Os primeiros contatos com a igreja. Para que haja uma boa compreenso do que pretendo abordar, chamemos a cultura em que o indivduo se encontra, antes da deciso de freqentar uma igreja, de cultura secular e, aps a deciso, de cultura evanglica. Entendo que h uma enorme diversidade dentro da cultura evanglica, mas tentemos trabalhar apenas com o que comum maioria. Os primeiros passos de uma pessoa na igreja so, normalmente, como visitantes. Para esta etapa a igreja cria uma srie de atividades e treinamentos que fazem com que esta pessoa se sinta bem e vontade entre os irmos. s vezes, o trabalho to bem feito, que muitos saem com a impresso de que tal igreja o lugar mais agradvel do mundo e chegam a acreditar que ali no h problemas. Encontram sorrisos em todos os rostos, apertos de mos, cumprimentos calorosos e um convite quase irrecusvel: volte mais vezes!!! Comea ento a sesso dos mltiplos incentivos. Folhetos sobre como a igreja; cartas manifestando a alegria pela visita; telefonemas, visitas para oraes, etc... Parece ser uma igreja que verdadeiramente se importa com a pessoa. Diante de tais situaes a pessoa levada a crer que a igreja pode ser, realmente, um timo local para se conviver. Passa, ento, a visitar outras vezes e perceber mais de perto, ainda que com os olhos de turista, as atividades da igreja. Fica encantada com a qualidade do louvor, e at aprende a cantar alguns cnticos! Ouve atentamente as pregaes e v como a Bblia um livro maravilhoso. Decide ento receber um culto em sua casa e assim vai... Todos esto eufricos, como os peixes beira-mar do filme Procurando Nemo, incentivando e esperando apenas que esta pessoa diga a palavra que todos querem ouvir: eu aceito... Aceito fazer parte dessa comunidade que parece ser to

agradvel. Aceito refazer meus princpios, mudar meus hbitos, ser caracterizado socialmente de uma forma diferente da que estou acostumado. Aceito enfrentar este desafio! Pode-se ento ouvir a alarido de festa! Oh! Que belos hinos cantam l nos cus!; Recebi um novo corao do Pai; Seu nome agora est sendo escrito no livro da vida!; Bem vindo famlia da f. Uma nova data de aniversrio comea a ser contada. Que momento especial! A alegria parece contagiante, pois um novo nome ser acrescido ao ROL DE MEMBROS da igreja. Mas, e agora?!

2. O encontro com a realidade. O tempo (e bem pouco tempo!!!) passa e os sons festivos comeam a ser substitudos pelos choros intermitentes do recm nascido. Os olhares to afetuosos que pareciam no se importar com os defeitos, agora parecem ser fiscais de todos os atos do novo membro. As mos que ofereciam cumprimentos to afveis parecem, agora, prontas para disciplinar. As visitas que pareciam ser to amistosas, agora se tornam questionadoras e acusativas. Os hbitos que tal pessoa cultivou por anos precisam ser renegados da noite para o dia, caso contrrio, no houve converso. O que fazer, ento? S h duas opes: 1) abandonar esta nova vida e voltar anterior ou; 2) viver de aparncias. interessante pensar nessas duas opes, pois qualquer pessoa afirmaria uma terceira: seja voc mesmo! Mas, parece no haver lugar para esta opo nos dias de hoje. Talvez por isso, grande parte dos novos convertidos acabam se desviando antes mesmo de completarem trs meses na igreja. Ou, pior ainda, nota-se que cada vez mais cresce o nmero de grandes igrejas, com muita gente, mas com pouco compromisso com uma vida centrada no evangelho de Jesus Cristo. O discipulado, que fora usado por Jesus como instrumento de expanso do Reino de Deus, tornou-se apenas um grupinho de estudo das doutrinas denominacionais. Sem nenhuma preocupao com a vida que est sendo gerada. Esta a fase em que a maioria dos conflitos afeta a vida do novo convertido. Ele pode se ferir profundamente neste perodo, que s termina quando ele toma uma firme deciso: ou fica na igreja! Ou sai da igreja!

3. Superao e Insistncia Muitos resolvem, simplesmente, voltar para a cultura secular, pois, mesmo sendo nociva aos seus olhos, l ainda um ambiente mais fcil para se viver. Para aqueles que pretendem ir em frente, porm, torna-se necessrio lutar contra si mesmo e superar as dificuldades com perseverana. Eles tm de insistir e ir sempre em frente! Esta etapa exige muito mais do novo convertido do que da prpria igreja. Ele precisa estar convicto de que as lutas valero a pena. O problema existe se deixarmos que eles lutem sozinhos! A igreja precisa ser motivadora. Palavras de desnimo podem levar o novo convertido a um nocaute em sua luta para continuar na igreja. Imagine se voc tivesse saindo de uma consulta mdica, onde foi detectado que voc est com um tumor em seu corpo. Apesar da doena, voc sai resolvido a lutar contra a mesma e pensa em se tratar da melhor forma possvel. Dois dias depois, voc encontra um grande amigo e conta para ele a sua histria, afirmando que voc est pronto a lutar pela sua vida. Ele, ento, lhe responde: - Se eu fosse voc, eu desistiria disso, pois jamais vi algum ser curado desta enfermidade! melhor voc ir se acostumando com a idia de que vai morrer! Qual seria, na sua opinio, o impacto destas palavras, na sua vida? Precisamos, neste momento da vida do novo convertido, ser amigos verdadeiros e ajud-lo a passar pelas provaes, olhando sempre para Jesus Cristo, o alvo da nossa vitria.

4. A Adaptao Superada a etapa anterior, o novo convertido chega fase de adaptao. Ele pode se considerar um membro da igreja. O tempo transcorrido at aqui pode variar de pessoa para pessoa, mas a expresso de liberdade , certamente, igual para todos. Entende-se que ele est adaptado quando comea a se sentir livre para opinar, participar e, claro, sente-se apoiado pelo grupo. Ele j conseguiu o seu lugar.

Poderamos dizer aqui, que o discipulado foi, de certa forma, concludo e que o novo convertido j est integrado igreja. Entretanto, este o momento em que ele mais precisa de apoio, pois agora ele est caminhando para se tornar um lder na igreja. Nos prximos captulos retornaremos a este assunto, tratando de forma mais pormenorizada cada uma destas etapas.

CAPTULO 4 As barreiras para o crescimento do novo convertidoMarcos agora j est mais vontade na igreja. A euforia da deciso tomada j passou e parece que a nova rotina comea a ser estruturada em sua vida. Tudo parece ser, ainda, uma tremenda baguna, mas o que ele quer para si. Ele se esmera para ler a Bblia, orar e no faltar igreja. Passadas algumas semanas, Marcos at mesmo se j uniu a um grupo da igreja e se apresentou como candidato na Ao Social. As pessoas esto vendo a sua empolgao e crem que o melhor para ele aproveitar o momento e fazer o mximo possvel. Um grande problema, entretanto, comea a aparecer! Durante um desses programas, Marcos, empolgado com o clima alegre e descontrado, conta uma anedota que lhe fora ensinada h alguns dias e risos sem graa so esboados por alguns, enquanto outros fingem no ter entendido e outros, ainda, fecham a cara! Marcos tenta continuar no grupo, mas percebe que cometeu uma falha. - ser que eu no devo contar anedota?, ele pensa preocupado! A falta de algum que mostre interesse pela sua pessoa acaba fazendo com que ele se feche ainda mais e procure ver o comportamento dos outros, a fim de imit-los e no voltar a cometer falhas. O problema que mal acaba a semana e ele j falhou de novo. A igreja, ento, comea a v-lo como m influncia para os santos e Marcos se v como que pisando em ovos, necessitando urgentemente, ainda que seja de forma hipcrita, aprender a viver corretamente ou calar-se. claro que essa histria ter um fim trgico ao novo convertido. Ou ele entender que o convvio dentro da igreja impossvel e sair dela, ou ficar mudo e esttico diante de todos os momentos de dvida, ou vestir uma capa para poder conviver com os irmos! Ser que possvel mudar essa situao? Creio que sim, mas fundamental que estejamos prontos para tomar algumas atitudes.

1. Precisamos compreender as falhas do novo convertido 1) Observar as nossas dificuldades de adaptao dizem que a melhor forma de corrigir os defeitos dos filhos mudando o comportamento dos pais. Quero usar este exemplo para afirmar que somente compreendemos o corao do novo convertido quando compreendermos o nosso prprio corao. Lembro-me quando comecei a aprender a dirigir. Meu pai me mostrou como se faz, me fez sentar no banco do motorista e disse: - muito simples! - Verdadeiramente simples, pensei, s pisar na embreagem, engatar a 1 marcha, acelerar e soltar a embreagem, controlando o volante! Muito fcil! O problema maior que eu estava num campo aberto de futebol e na minha frente tinha uma descida bem ngreme. Eu segui o protocolo, mas acelerei at o fim, soltando de vez a embreagem. O carro deu um pulo e seguiu em direo queda, enquanto meu pai gritava: - freia, freia, freia! Mas isso no estava no protocolo e levei um tempo (graas a Deus, suficiente) para entender o que significava aquilo e para achar aquele pedal chamado freio. O meu primeiro dia poderia ter sido o ltimo se a minha falha no tivesse sido perdoada! Aps um longo discurso, em que eu quase desisti, meu pai me fez repetir o procedimento, com uma nova orientao: - acelere devagar e v soltando aos poucos a embreagem! O carro comeou a andar, eu adquiri confiana, dei vrias voltas no campo, usando somente a 1 marcha e fui aperfeioando. O uso da 2 marcha foi um outro processo de aprendizagem! Todos ns falhamos quando estamos aprendendo alguma coisa nova. O novo convertido est aprendendo a ser cristo. Ele, mais que qualquer um, tem o direito de falhar e de ter algum ao seu lado para dizer: - vamos tentar novamente!

2) Compreender que somos pecadores quanto mais tempo de convertido ns temos, mais achamos que a perfeio est ao nosso alcance. Por isso, olhamos para os outros com desdm e lanamos um olhar acusativo sempre que falham. Quem dera tivssemos a mente de Paulo! Passados muitos anos de sua converso e j com um ministrio maduro, ele escreve que se via como o principal dos pecadores (1 Timteo 1.15).

Davi, o homem segundo o corao de Deus, no cansa de olhar para si mesmo como algum carente de Deus: - eu nasci na iniqidade (Salmo 51.5), sou pobre e necessitado (Salmo 70.5), enquanto calei os meus pecados, envelheceram os meus ossos pelo meu constante gemido (Salmo 32.3). Isaas, quando contempla a majestade divina, clama: - ai de mim, estou perdido, porque sou homem de lbios impuros (Isaas 6.5). Seu sentimento de indignidade diante da glria excelsa o faz prostrar-se humildemente e se oferecer para a tarefa a qual Deus est lhe convocando. Quando reconhecemos a nossa pecaminosidade, somos mais sensveis para com os mais novos na f. Entendemos que eles esto no incio de uma caminhada em que ns, aps trilhar longos quilmetros, ainda no aprendemos os perigos e as armadilhas. Ainda estamos vulnerveis e medrosos. Podemos at mesmo ajudar os que esto vindo atrs de ns a no cometer os mesmos erros, mas, certamente, cometeremos novas falhas.

3) Entender que quando aceitamos algum, somos reciprocamente aceitos quando um filho nasce, ns no esperamos o seu crescimento para aceit-lo como membro da nossa famlia. Damos o sobrenome, o alimento, o afeto e o auxilio em todas as suas necessidades. medida em que ele cresce, aos poucos comea a compreender o mundo ao seu redor, os costumes, a linguagem e, ento, comea a balbuciar papai, mame, etc. Mesmo antes de dizer papai e mame, porm, ele j mostra aceitao, pois percebe que foi aceito por aqueles que gastam a maior parte do seu tempo em dedicao a ele. Na igreja temos a tendncia de abraar, beijar, dizer palavras abenoadoras, profetizar o bem para o irmo, mas sermos fortemente rejeitadores no mbito do relacionamento. Nada daquilo tem valor se no existe um clima de aceitao. E, para existir esse clima, preciso reconhecer que haver pedras no meio do caminho. No poucas sero as vezes em que seremos obrigados a parar a nossa caminhada e ajudar os que caram a se levantarem; mas quanto mais ele perceber que estamos prontos para aceitar suas falhas, mais ele ter liberdade em procurar fazer de forma correta e, assim, ver sua vida sendo transformada at a estatura de Cristo (Efsios 4.13).

2. Precisamos ajudar o novo convertido a superar as barreiras existentes no grupo O tempo passa! Ainda que seja devagar, mas o tempo passa! A segurana que deveria vir com o passar do tempo, acaba sendo atropelada por barreiras encontradas no meio do caminho. Entrar em uma comunidade com seus hbitos particulares, linguagem prpria e outras caractersticas exclusivas pode ser uma tarefa rdua! Vejamos algumas barreiras que um novo convertido encontra para se firmar na igreja?

a. A barreira do preconceito Apesar da igreja constantemente explicar que o novo convertido est experimentando uma nova vida em Cristo, o trato para com a sua velha vida uma grande dificuldade! Quanto piores tenham sido os seus pecados, mais difcil o tratamento para com ele. Algumas igrejas colocam estes pecados passados em tal evidncia, que a velha vida passa a ser parte integrante da nova vida. Ele, ento se torna o extraficante, o ex-cantor secular, a ex-prostituta, etc. Nesse caso, a nova vida em Cristo acaba, de fato, no se desenvolvendo, pois ele precisa se manter atado vida anterior. Um texto bblico que me chama muito a ateno Efsios 1.3-5, que diz: Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abenoou com todas as bnos espirituais nas regies celestiais em Cristo. Porque Deus nos escolheu nele antes da criao do mundo, para sermos santos e irrepreensveis em sua presena. Em amor nos predestinou para sermos adotados como filhos, por meio de Jesus Cristo conforme o bom propsito da sua vontade, para o louvor da sua gloriosa graa, a qual nos deu gratuitamente no amado. (grifo meu) Todos ns, sem exceo, somos adotados como filhos na famlia de Deus. Imaginemos o processo de adoo de uma criana. H uma famlia antiga que jamais deixar de ser percebida em ns: o sangue, os traos genticos de uma forma geral, a filiao natural. Sermos adotados significa, num primeiro momento, sermos aceitos em uma nova famlia, que nos dar amor acima de tudo. Entretanto, quanto mais tarde somos inseridos nessa famlia, mais parecidos com a famlia antiga seremos. Por isso, dever haver um esforo muito maior para

que haja plena aceitao de ambas as partes e, lgico, um desejo intenso de ser moldado a essa nova realidade. Se compararmos o que Deus fez para nos adotar, veremos um exemplo perfeito. Primeiramente, ele se fez carne, como todos ns! Ele deixou sua prpria casa para conhecer a nossa situao. Conviveu entre ns, sem ser um pecador. Mesmo podendo, simplesmente exigir que ns nos amoldssemos sua vontade, ele andou entre ns, nos mostrou como ser um membro da famlia de Deus e, depois, nos chamou para sermos seus irmos! Se Jesus fosse olhar para as pessoas que estavam entrando em sua famlia, ele poderia fazer uma longa lista daqueles que no deveriam chegar perto dele. Ele conviveu com ricos e pobres, pescadores e cobradores de impostos, gente simples e gente da alta elite intelectual. Em seu caminho ele encontrou mendigos, prostitutas, ladres e muita gente com diversas carncias em sua vida. Jesus no considerava ningum melhor ou pior que o outro. Em um jantar, ele aceita as homenagens de uma mulher que, aparentemente, tinha uma vida dissoluta na sociedade, mas que estava quebrantada aos seus ps. Enquanto os outros a criticavam (e ao prprio Jesus), Ele mostra amor perdoando os pecados daquela mulher (Lucas 7.36-50). Muitas pessoas no conseguem se sentir adotadas em nossa famlia, porque acreditamos que o nosso nome no pode ser manchado pelo nome da famlia anterior a qual o novo convertido pertencia. Estamos prontos para que ele nos sirva quando estivermos mesa. Entretanto, somos desafiados a chamar o novo convertido a sentar conosco mesa e partilhar da nossa refeio. Se voc tem dvidas com respeito a isso, lembre-se que Jesus morreu ao lado de dois ladres e quem o colocou na cruz, foi a religio da poca! E naquele momento, um dos ladres se converteu e teve a garantia da vida eterna.

b. A barreira da intolerncia Outra difcil barreira que temos que ajudar o novo convertido a superar a da intolerncia. Temos muita dificuldade de conviver com aqueles que no fazem as coisas do jeito que queremos. No caso da igreja, temos uma srie de regras que so impostas a todos e se algum no segue o script, torna-se excludo, pelo menos de uma forma social.

Uma destas intolerncias est relacionada com os nossos usos e costumes e, com certeza, as roupas ocupam lugar de destaque neste item. O novo convertido no algum que da noite para o dia muda todo o seu guarda-roupa ou tem um ataque repentino de gosto por roupas evanglicas. claro que isso no justifica a imoralidade na igreja ou a aceitao de qualquer coisa. O que eu penso, entretanto, quanto estamos dispostos a tolerar para o bem do novo convertido? Ser que estamos prontos e dispostos a ajud-lo a resolver este problema? Andar com o novo convertido como andar com uma criana. Ela pode no ficar em p simplesmente porque ainda no a hora de ficar em p! Tudo tem o seu tempo. Precisamos aprender a sermos mais dependentes de Deus e aguardar o seu tempo para resolver as coisas! Deus o nosso maior exemplo de tolerncia! Ele tolerou a resistncia de Moiss ao seu chamado; Ele tolerou os inmeros questionamentos do seu povo no Egito; Ele tolerou as queixas e os murmrios do seu povo no deserto. Ele chegou a agir de forma severa e at mesmo pensou em aniquilar o seu povo! Mas ele os tolerou at o fim e lhes deu a terra prometida. Se queremos ver a vitria de Deus em nossa vida, comecemos a praticar a tolerncia para com aqueles que so novos na f!

CAPTULO 5 A Importncia das AmizadesAlgum pode tentar se vangloriar em diversos setores da igreja, dizendo: minha igreja cresce porque sou um excelente pregador!; ou - o que de fato segura as pessoas na igreja o louvor!; ou ainda - nada mais eficaz para o crescimento da igreja do que a orao!. claro que esses elementos so de grande importncia para o crescimento da igreja. Mas, quando se trata do novo convertido, esta uma viso um pouco distorcida. Posso afirmar que so as amizades que ele cultivar nesse perodo que o sustentaro em seus primeiros passos. Pensemos, primeiramente, em algumas das possibilidades que tenham trazido essa pessoa igreja. 1) Necessidades Pessoais no so poucas as pessoas que buscam a igreja porque carecem de algo que est difcil de ser conseguido. Uns almejam emprego, outros cura, outros alguma espcie de prosperidade, status, etc. Normalmente, essas pessoas so convidadas por algum tempo, mas s decidem visitar uma igreja quando a carncia se torna impossvel aos seus olhos. Essas pessoas j entram na igreja com certa sensibilidade para o impossvel e caso algo acontea, ser logo visto como sobrenatural. Uma palavra direcionada, um louvor tocante e oraes fervorosas podem at mesmo fazer com que essa pessoa volte igreja, mas quando a bno chegar, se no houver nenhum outro motivo, ela sai da igreja e retorna vida anterior.

2) Busca do preenchimento do vazio do corao vivemos na era da solido! O mundo de hoje distante, frio, individualista e mal. Pessoas vivem srios conflitos emocionais que acabam fazendo-os optar por um isolamento social. Este isolamento, entretanto, traz seus efeitos colaterais, como, depresso, stress, insnia, angstia e uma vida de dedicao excessiva ao trabalho ou diverso. Um dia essa pessoa percebe que sua vida no tem paz e busca o local que proclama a mensagem a minha paz vos dou. Essa pessoa entra na igreja e aprecia uma bela mensagem, preparada por um santo homem de Deus, um louvor maravilhoso e uma igreja onde todos expressam a felicidade e a paz to sonhada!

lgico que ela vai querer uma nova chance de vida, a menos que j tenha assinado o seu bito! Com o passar do tempo, essa pessoa comea a perceber que ali tambm tem problemas, como em qualquer outro lugar. Se laos fortes de amizade no tiverem sido formados, a decepo com a igreja poder se tornar maior que a decepo com o mundo em que ela vivia.

3) Atendimento a algum convite de um conhecido h aqueles que parecem estar fazendo um grande favor para algum quando visita uma igreja. Eles parecem no se importar com o que est acontecendo, mas com quem est vendo a sua presena. muito difcil imaginar algum desse tipo entregando sua vida a Jesus e buscando o crescimento espiritual. Mas um fato muito importante deve ressaltado! Para algum romper a barreira de ir igreja pela primeira vez, ela precisa de uma energia muito maior do que para continuar freqentando. Nesse caso, pode-se notar claramente que existe um vnculo de amizade que fez com que a casca mais dura fosse rompida. Ora, podemos entender, ento, que o investimento que for feito na vida dessas pessoas deve ser em termos de relacionamento, ainda que jamais eles voltem a pisar numa igreja! O tempo sempre controlado pela soberania de Deus.

4) Chamado divino claro que no podemos esquecer que h aquelas pessoas que buscam a igreja por terem sentido o chamado divino. O nosso grande problema que achamos que esse o status de todos os freqentadores da igreja. Por isso, acabamos tratando todos como se j tivessem tido uma profunda experincia com Deus. Essas pessoas, mesmo que estejam claramente decididas a viver na igreja com o povo de Deus, esto procura de uma comunidade em que possam crescer e fortalecer a sua f. Novamente, ento, nota-se a necessidade de encontrar amigos dispostos a um relacionamento que exige envolvimento.

Qualquer caso que estudarmos mostrar que o primeiro anseio de quem est chegando igreja a busca de uma comunidade que atenda s suas expectativas. A palavra pode ser boa, o louvor agradvel, a estrutura empresarial, os eventos

maravilhosos, mas o convvio que marca profundamente os primeiros meses da vida do novo convertido. Nesse perodo ele est em uma transio que o auxiliar a tomar decises de extrema importncia para o resto de sua vida: - qual ser o meu grupo de convivncia? a partir dessa resposta que se pode esperar mudanas de atitudes e comportamentos.

- CUIDADO!!!

preciso fazer uma ressalva antes de concluir esse captulo! Muitas igrejas no compreendem bem esse processo e criam ministrios de tapeao para induzir o novo convertido a ser parte da mesma. Precisamos lembrar que sorrisos, cumprimentos, abraos e perguntas do tipo como voc est?, no so capazes de criar um ambiente satisfatrio para quem est entrando na igreja. O que ele procura sinceridade e isso vem com a transparncia de nossas vidas. Ningum espera que os membros de uma igreja sejam perfeitos, mas simples seres humanos que tm uma vontade enorme de se tornarem bons modelos de Cristo na sociedade. Quando falsificamos o nosso comportamento para agradar as pessoas, elas falsificam as suas reaes para nos agradar. O resultado uma troca de mscaras, envolvida num ambiente artificial. Para que a igreja seja um lugar agradvel e receptivo, ela precisa desenvolver a santidade na vida de seus membros e, ento, espelhar a luz de Cristo ao mundo. O sal precisa ter as suas propriedade ativas para poder salgar; a luz precisa ter as suas propriedades ativas para poder brilhar. No podemos ser acar com propriedades salinas e, muito menos, ser sal sem sabor. Disse Jesus: Assim (dessa forma) brilhe (ilumine, clareie) a vossa luz (sua vida, seu testemunho) diante dos homens (aqueles que esto ao seu redor) para que vejam (percebam, mostrem interesse) as suas obras (atitudes, comportamentos) e glorifiquem (reconheam, valorizem, exaltem) a vosso Pai (Deus) que est nos cus (local de sua habitao)!

CAPTULO 6 Superando as CrisesEntramos agora em um ponto muito melindroso da vida do novo convertido: as crises! De fato esse tpico se torna melindroso, pois exige cuidados especiais e ateno dedicada para tratar os conflitos, compreendendo que no se trata apenas de dificuldade de adaptao ou de desinteresse teolgico, mas de um verdadeiro processo de adaptao nova cultura. Compreendamos como ocorre esse processo, para termos melhores condies de avaliar as crises pelas quais o novo convertido passa.

1) O perodo de encanto Ao entrar em uma nova cultura, qualquer pessoa passa por um perodo de encanto, em que ela v as coisas ao seu redor como um turista. Isso significa que as coisas boas e agradveis se tornam muito mais visveis do que as coisas desagradveis.

Esse um perodo em que somos desafiados a encarar as dificuldades que surgem com uma grande disposio. Por isso, mudanas bruscas de direo podem ser tomadas. Uma palestra, por exemplo, que fale sobre a necessidade de se fazer

uma oferta extra de 10% do valor total do salrio, pode fazer com o que novo convertido tome uma atitude imediata em resposta ao apelo. O mesmo pode acontecer em diversas reas da vida do novo convertido, como no seu relacionamento familiar, levando inclusive a quebrar vnculos e a reatar com pessoas do seu nvel de relacionamento social. O grande problema, entretanto, a exterioridade das atitudes. Apesar de o novo convertido estar pronto para tomar atitudes, estas lhes trazem, no poucas vezes, um enorme peso ao corao. Assim, podemos concluir que a primeira crise a ser enfrentada a crise da conscincia!

1.1) O que essa crise?

A conscincia o estado mental que trabalha com os sentimentos acessveis ao ser humano. Tudo que est no consciente faz parte da vida ativa de uma pessoa. Muitas vezes, as atitudes de algum no refletem o contedo da sua conscincia em termos de aprovao ou de reprovao. Uma pessoa recm chegada igreja, independente do motivo que a trouxe mesma, algum que est buscando aceitao no grupo e, por isso, negar sua prpria conscincia em benefcio do grupo maior a sua opo mais vivel. Isso, entretanto, no tira da sua mente o sentimento de que est ferindo a si mesmo, tomando uma atitude que fere a sua cosmoviso.3 Seus conceitos, trabalhados minuciosamente durante todos os anos de sua vida esto sendo feridos e atacados por si mesmo. Tente imaginar a dificuldade que seria se voc tivesse de tomar uma atitude que, aos seus olhos, fosse imoral, a fim de que fosse aceito pelo grupo. Em se tratando de ns, cristo, somos enfticos em dizer: - no vou me contaminar com as finas iguarias do rei (Daniel 1.8)! Porm, imagine se o novo convertido tomar a mesma atitude? Sua radicalidade o impedir de crescer e chegar mesma concluso de que s Jesus Cristo salva. No quero me aprofundar nesse tema, mas quero meditar sobre essa situao. Temos uma pessoa generosa, feliz e cheia de disposio que, em seu

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Entende-se por cosmoviso aqueles princpios culturais que foram implantados na criao de um indivduo e que moldam a sua forma de ver o mundo. Em outras palavras, so os culos usados por um indivduo para ver o mundo ao seu redor.

interior est vivendo de aparncias para ser aceita pelo grupo. Ser que seria isso que Jesus desejaria aos seus discpulos?

1.2) O que fazer para ajudar?

Sei que cada temperamento exige uma atitude especfica, mas alguns absolutos podem ser levantados:

a) Pregue o evangelho da graa nos dias atuais assistimos a igreja retornando ao perodo medieval, onde a salvao era adquirida mediante favores prestados aos seus santos. Para algum adquirir a salvao (ou manter a santificao) preciso fazer uma verdadeira via-crucis e, ento, poder completar o que foi feito completamente por Jesus. Precisamos resgatar a mensagem da soberania divina e a nossa suficincia em Cristo. Compreender o nosso papel na converso e na santificao e anunciar que graa significa favor no merecido e, por isso, jamais conseguiremos pagar o que Cristo fez por ns! b) Compreender que a transformao parte de um processo todas as pessoas passam por um processo de transformao em vrias reas da vida. No ambiente eclesistico no diferente. Paulo usa o leite espiritual e o alimento slido como exemplos do processo de amadurecimento na vida de suas ovelhas. O novo convertido algum que est nos primeiros dias do seu novo nascimento (pelo menos o que se espera). Isso significa que ele um aprendiz e, logo, no deve ser cobrado alm da sua capacidade. No deve ainda ser desafiado a buscar alvos difceis, para no correr o risco de jamais chegar l. Acima de tudo, ele no deve ficar sozinho, pois a transformao ocorre mediante o discipulado.

c) No critique; apie o novo convertido no algum que sabe tudo! Na verdade, ele no sabe quase nada sobre vida eclesistica. Por isso, no incomum desapontar-se com os comportamentos dele. aquela roupinha extremamente sensual que foi posta pensando em arrepiar e que acabou causando escndalo; aquela piadinha que foi totalmente sem graa ou inapropriada; aquela palavrinha (para no dizer outra coisa) que me escapuliu!!!.

Nosso alto grau de vida crist4 nos leva imediatamente a censurar tais atitudes, mas o que realmente transforma vidas a disposio em suportar (servir de suporte) nessas ocasies. No devemos investir em duras crticas, mas na companhia que seja capaz de influenciar e levar a uma mudana comportamental. No so poucas as pessoas encontradas fora da igreja por causa das crticas que receberam em situaes como as citadas acima. E muitos que continuam freqentando a igreja, carregam profundas mgoas por no terem sido compreendidos nestes momentos.

d) Mostre a Bblia; no suas convices pessoais jamais devemos tentar formatar o novo convertido ao nosso estilo pessoal. Sou uma pessoa brincalhona, apesar do alto grau de introverso, e, isso, muitas vezes, leva algumas pessoas a demonstrarem um sentimento de rejeio a certas brincadeiras que eu fao. Por muito tempo pensei que minhas brincadeiras que, de fato, eram inconvenientes. Mas um dia percebi que a rejeio que era inconveniente. Muitas pessoas entendem que ser um cristo viver num mundo de severidade absoluta e qualquer brincadeira vista como de mau gosto. A pergunta que deveria ser ressaltada, entretanto, : - o que a Bblia diz a respeito disso? Se a resposta fosse a minha eu diria: a Bblia no condena a alegria, as brincadeiras!; mas os meus crticos responderiam: no creio que isso seja digno ao cristo! Mas a Bblia pode oferecer respostas para todas essas situaes! A alegria de ser cristo est acessvel a todos, mesmo que sejam diferentes formas de ver a vida! Quando tentamos formatar o novo convertido dentro do nosso estilo pessoal, alm de oferecermos um discipulado falso, estamos nos tornando adversrios do Esprito Santo, que quem convence do pecado, do juzo e da justia (Joo 16.812). O padro de Deus no a uniformidade, mas a unidade. Somos um em Cristo, mas diversos em nosso meio social.

Uso, aqui, o tom irnico para mostrar que muitas vezes consideramos nossas atitudes externas como sendo a maior expresso do cristianismo puro. Entendemos o que fazemos ou o que deixamos de fazer como sendo provas da nossa converso. Deus no est interessado em nosso exterior! Deus v o nosso interior. Nosso alto grau de vida crist s pode ser visto atravs da nossa intimidade com Cristo e esta intimidade que deve ser refletida ao mundo.

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2) O perodo de desencanto Aps um perodo de encanto, o novo convertido passa a sentir uma repulsa por todas as coisas. Chega o desencanto! hora de tomar uma deciso: - ou eu entro para a igreja de corpo e alma, ou eu desisto de vez!

Essa deciso precisa ser tomada, mas no algo fcil de concretizar. Imagine o que passa na cabea de algum que est envolvido com dois diferentes grupos e chega concluso de que no consegue se manter em ambos! Os pontos positivos e negativos comeam a ser analisados e, ento, passa-se difcil tarefa de tomar uma atitude. Mas, o que fazer? Como fazer? Quais so as opes? Quando algum chega a essa etapa, ele se encontra diante de trs opes. A primeira deixar a igreja, a segunda deixar o grupo antigo e a terceira tentar permanecer nos dois. Consideremos melhor cada opo.

*) Deixar a igreja essa a opo, teoricamente, mais fcil, pois a comunidade nova, cujas dificuldades ainda no foram trabalhadas. Mas para algum que j caminhou alguns passos e sabe ser esse o seu ideal, essa deciso pode ser uma tarefa bastante difcil.

*) Deixar o grupo antigo isso significa, na maioria das vezes, ter de romper com relacionamentos antigos, criar um ambiente instvel, abandonar velhos hbitos, enfrentar crticas e se preparar para uma mudana radical em sua vida. Esse peso se torna to forte que muitos preferem adotar primeira opo.

*) Permanecer nos dois essa deciso parece simples, mas em boa parte das vezes leva a pessoa a assumir uma dupla personalidade.

Ele precisa se decidir e ir faz-lo o mais rpido possvel. E qualquer que seja a deciso tomada mostrar que ele entrou em uma nova fase, a da resoluo. Se ele decide deixar a igreja, ser muito difcil dissuadi-lo desta idia. O melhor a fazer tentar deixar a porta aberta para outras oportunidades. Mas, se ele segue firme o propsito de continuar na igreja, precisamos ter convico que esta nova etapa pode ser uma grande tormenta para o novo convertido e um grande desastre para a igreja.

CAPTULO 7 Uma Nova Viso da ComunidadePassadas as crises, uma nova fase comea a aparecer! o perodo de adaptao! O grupo, que j foi perfeito e, tambm j foi a causa de todos os problemas, passa a ser visto como de fato ele . Esse o perodo em que o novo convertido assume um papel verdadeiramente, de aluno.

Poderamos at mesmo afirmar que, no primeiro momento, ele o expectador extasiado com a qualidade da pea teatral que ele assiste. No segundo momento, ele o severo crtico que s consegue ver as falhas dos atores e do roteiro. Agora, porm, ele entra no palco e assume um papel. Quando o novo convertido chega a esse ponto, ele precisa tomar alguns cuidados muito importantes. Ser humilde, entendendo que at aquele momento ele criava imagens das pessoas envolvidas pela sua emoo. Isso pode fazer com que ele rejeite alguns e aceite em demasia outros. O novo convertido precisa ver a igreja como uma comunidade e reconhecer que precisa aprender com todos. Ser honesto. Muitas pessoas confundem honestidade com arrogncia. H, entretanto, uma grande diferena entre ambas. Arrogncia uma atitude prepotente

e manipuladora. Honestidade uma atitude respeitosa, sincera e transparente. Significa que o novo convertido no precisa esconder quem ele ou o que ele faz e que deve questionar tudo o que deseja. Ser perseverante, insistindo em ocupar o seu lugar, mesmo diante de possveis oposies. Muitos grupos acabam se fechando a novos relacionamentos em determinados momentos da igreja. O novo convertido precisa conquistar o seu lugar, mesmo que seja a longo prazo.

Nesse perodo de renovao da viso da comunidade, torna-se fundamental que a igreja, por sua vez, esteja preparada para receber o novo convertido. Isso exige algumas atitudes.

1. Desenvolver a incluso. A incluso, tema to abordado na sociedade contempornea, , muitas vezes, temida dentro da igreja. Ser diferente, pensar diferente, agir diferente so motivos para isolar uma pessoa. O maior exemplo de incluso que pode ser encontrado a comunidade apostlica, onde 12 diferentes indivduos se tornaram uma equipe vencedora. Podemos afirmar que h lugar para o cobrador de impostos (Marcos 2.14) ao lado de pescadores (Marcos 1.16) e, inclusive tendo uma outra pessoa como tesoureiro do grupo (Joo 12.4-6). O zeloso estudioso da lei (Joo 1.45) pode conviver com o zelote (Lucas 6.15). Todos so servos, mesmo que dois deles queiram ocupar lugares de destaque, estando um direita e outro esquerda do Senhor (Mateus 10.20-24). Sempre que buscamos ser seletivos na comunho, nos tornamos hipcritas e insensveis para com o prximo.

2. Dar abertura para iniciativas. Esse o grande problema que o homem atravessa! Sempre esperamos ocupar um lugar e, depois de faz-lo, no o deixar jamais. Muitos procuram criar um grupo de convivncia e o lidera com a mo-deferro, dominando todos os seus pensamentos. Uma regra clara do discipulado poderia ser escrita da seguinte forma: crie discpulos para te servir e eles rebelaro contra voc; crie discpulos para voc servir e eles sempre reconhecero que voc o Mestre! A explicao simples! Quem tenta dominar um grupo para se manter no poder, um dia ver um dos seus discpulos tomando o seu lugar (ou pelo menos buscando isso). Por outro lado,

quem abre espao para o crescimento dos seus discpulos, sempre ter o reconhecimento destes, mesmo quando ele no for mais o mestre. Ns precisamos inculcar a certeza de que no somos vitalcios em nenhuma funo na igreja e, o novo convertido ser o meu provvel substituto, por isso, precisamos investir nele.

3. Ensinar no caminho. Uma terceira atitude da igreja retirada do provrbio de Salomo (Provrbios 22.6). Ensinar no caminho ir alem do simples ato de dizer o que se deve fazer e fazer junto. andar com o novo convertido e ensinar na medida em que o convvio se desenvolve. O verdadeiro cristianismo no se manifesta no plpito, nos bancos da igreja ou no gabinete pastoral. O verdadeiro cristianismo se manifesta no dia-a-dia da igreja. nos shoppings, na escola, no escritrio, na sala em frente televiso, no campo com os amigos, no trnsito que se manifesta o nosso verdadeiro compromisso com o Evangelho. A igreja precisa sair dos portes e ensinar na rua o que o evangelho de Jesus Cristo. O novo convertido, nesta fase, aquele filho que chega da escola e diz ao pai: - preciso fazer uma pesquisa sobre o efeito estufa! Muitos pais responderiam: - pesquise na Internet, Mas o filho espera que ele diga: - O que voc quer saber? VAMOS pesquisar juntos!!! Estamos vivendo tempos em que nenhum dos cenrios acima tm sido observados. Cansados de esperar alguma resposta, nossos novos convertidos j no nos procuram mais. Preferem ouvir os conselhos dos amigos de Roboo (2 Crnicas 10.6-8) no pelo fato de encontrar o conselho dos ancios equivocados, mas por no ouvirem a voz dos mesmos.

Se h um momento em que a igreja pode e precisa ser edificada atravs do discipulado, esse tempo agora! O novo convertido est pronto para ouvir e cheio de assuntos para falar. Se ele se sente confortvel em nosso meio, ele pode ser uma ferramenta de grande utilidade para corrigir nossas falhas e ampliar os acertos dando, assim, uma viso ainda melhor da comunidade chamada IGREJA!

CAPTULO 8 Rumo LideranaMarcos agora j est plenamente adaptado igreja e superou todas as suas lutas culturais. Ele at mesmo j carrega algumas das marcas da nova vida e age dentro dos parmetros da comunidade. Podemos dizer, ento, que o nosso trabalho chegou ao fim, correto? No! Ainda falta muito! Observe o esquema abaixo e vejamos o alvo para um bom discipulado cristo.

Vamos entender melhor este processo.

Multido Num primeiro momento, Marcos era apenas mais um dentre a multido que vive neste mundo. Ele sequer se importava com religio, muito menos com Jesus. Ele vivia a sua prpria vida e, assim, desenvolveu uma srie de costumes que lhe acompanham at o presente. Como parte da multido, ele no tinha nenhum interesse em mudar de vida e, para comear a trilhar uma nova jornada e passar a ser um seguidor de Jesus, foi necessrio que algo o levasse a romper seu desinteresse por religio e o fizesse caminhar em direo a Jesus.

Seguidor Marcos, ento, se torna um seguidor de Jesus. Mas o que isto muda em sua vida? Muda a forma de ver o mundo, a igreja, mas, acima de tudo,

muda a sua postura para com Jesus. Ele passa a observar, mas ainda no se tornou um discpulo. Como seguidor, ele ainda crtico para com a sua prpria f e sofre intensamente quando desafiado a agir como um cristo ou como o velho homem. Apesar de estar em crise, ele precisou, outra vez, de desenvolver um grande interesse em mudar de atitude e se tornar um discpulo de Jesus.

Discpulo Agora sim, ele superou as adversidades e est pronto para deixar o mundo o conhecer como um servo de Jesus. Ele at mesmo est disposto a sofrer pelo nome de Cristo e se dispe a defender a sua igreja e a trabalhar em seus ministrios. um freqentador assduo da igreja e cumpre todos os seus compromissos como cristo. Como discpulo, ele evidencia claramente a sua converso e no tem dvidas que est no caminho certo para viver a sua f. nesta hora que muitos acabam parando de crescer. Entendem que o fervor de ser um discpulo de Jesus j o fez alcanar o mximo de seu potencial para Jesus. Mas, este um grande equvoco, pois Jesus no nos enviou para sermos seus discpulos, mas para fazermos discpulos (Mt 28.18-20)! Sendo assim, precisamos desenvolver em sua vida o interesse por ser um lder na casa de Deus.

Lder Ser um lder no significa que a pessoa deixou de ser um discpulo, pois de fato, sempre seremos discpulos em nossa vida. Mas quando temos o privilgio de ajudar outros a caminhar na f, ento podemos dizer que realmente estamos cumprindo o propsito de Jesus. Entretanto, uma pergunta vem nossa mente: - como ajudar algum a se interessar por assumir a liderana na igreja? Quero apresentar apenas 4 idias para resolver este problema, mas sei que muitas outras podero ser acrescentadas aqui, dependendo do seu contexto.

1. Delegue responsabilidades; no as assuma sozinho! Nada pode ser pior para a formao de um lder do que no receber responsabilidades. Muitos lderes acreditam que por tomarem todas as decises e ser responsvel por todas as coisas, eles esto no pleno controle da equipe. O problema, neste caso, que no existe uma equipe! Existe um poder autocrtico,

que distribui algumas tarefas, mas torna os seus executores incapazes de pensar. Eles at reproduzem o pensamento do lder, mas no so capazes de liderar sozinhos. Muitas igrejas tm afundado por causa de lderes que detiveram todo o poder nas mos e, ao sarem da igreja, ningum sabia o que fazer! Quando compartilhamos as responsabilidades, podemos at mesmo achar que estamos sendo enfraquecidos mas, se de fato temos exercido o discipulado cristo, estamos crescendo e gerando crescimento. Quando todos so capazes de pensar e de discutir entre si, podemos afirmar que h uma equipe.

2. Confie no discpulo. Mesmo quando ele fizer algo diferente da forma que voc est acostumado a fazer, acredite que possvel dar certo! Idias novas so sempre assustadoras, mas atravs delas que o desenvolvimento acontece! As grandes invenes no passaram de idias novas, na qual algum acreditou, investiu e viu acontecer. Talvez nada seja mais difcil para um pai do que reconhecer que o seu filho atingiu a maioridade e tem capacidade de se virar sozinho. Mas exatamente quando o pai confia em seu filho e permite que ele tome as suas prprias decises que ele mais colabora para o amadurecimento do filho. Precisamos aprender a agir assim para com os discpulos na igreja. Mas, e se ele errar? Qual o problema? Quem nunca errou? Todos cometemos erros, principalmente quando estamos comeando! Mesmo assim, confie que a pessoa que recebeu uma delegao ser capaz de consertar o erro e acertar!

3. Invista no discpulo. Elogios, participao, cursos so formas maravilhosas de se investir em algum. Como terrvel ouvir uma pessoa que s sabe reclamar do que fazemos! Acertamos 99%, mas ele fala que h um 1% de erro. mais fcil uma pessoa que recebeu um elogio aps uma reprovao, superar o fracasso e, depois, ser aprovado com louvor, do que uma pessoa que foi duramente criticada por no ter alcanado 100%, se recuperar do sentimento de inferioridade e de incompetncia. por isso que muitos que passam com excelentes notas em alguns concursos, no conseguem se tornar bons profissionais. Muitas vezes foram cobrados alm do que devia.

Investir no discpulo criar oportunidades para o seu crescimento e faz-lo acreditar que pode ser um vencedor. saber que ele pode crescer muito mais do que voc mesmo e, mesmo assim, abrir espao e incentiv-lo a percorrer o seu caminho at o fim. Quando mais honestos somos com os nossos discpulos, maior ser a gratido em seu corao.

4. Saia de cena. J.I.Packer, em seu livro Na Dinmica do Esprito chama o ministrio do Esprito Santo de Ministrio do Holofote. O holofote aquela luz colocada perto de out-doors para iluminar durante a noite o que est escrito ali. O fato que o brilho do out-door s visto por causa daquela luz que o ilumina, porm, ningum admira o holofote! Se quisermos desenvolver o interesse pela liderana em nossos discpulos, precisamos aprender a sair de cena, para que ele possa aparecer. claro que se fizermos bem este papel, veremos que mais frente, os nossos discpulos tambm faro o mesmo! O problema para ns que di o fato de saber que aqueles que comearam depois de ns podem nos passar e at mesmo nos superar. O consolo para ns saber que esta foi a forma como Jesus desenvolveu o seu prprio discipulado. Aps trs anos de ministrio, ele deixou seus discpulos continuarem o que Ele comeou. E eles no falharam! Anunciaram ao mundo o Evangelho do Senhor Jesus e formaram um processo de discipulado que permanece at o dia de hoje.

H, com certeza, muitas outras idias a serem descritas. Tente relacionar algumas e veja quantas oportunidades voc tem de desenvolver em seus discpulos o interesse de serem lderes na igreja. H excelentes livros que nos ajudam a trabalhar com os lderes em potencial de nossas igrejas. O mais importante saber que estamos investindo numa vida! Jesus investiu em seu doze discpulos e deixou como parte mais importante da grande comisso, a ordem: - FAZEI DISCPULOS!

CONSIDERAES FINAISO Novo Convertido! Quem ele ? Algum que espera que a igreja mostre interesse em t-lo presente! Algum que espera que a igreja mostre compreenso em sua caminhada inicial! Algum que espera que a igreja lhe seja uma comunidade onde ele possa se sentir bem e amado!

Como a igreja pode ser uma bno para o novo convertido? Aceitando-o como ele ! Ajudando-o a superar as lutas da integrao na igreja! Mostrando amizade, apoio, apreo! Estando ao seu lado nas horas de crises! Gerando oportunidades para que ele possa ser inserido no grupo e chegue a ser um lder!

A igreja precisa entender que o discipulado a sua tarefa mais importante. Em Mateus 28.19-20 encontramos o texto conhecido com a Grande Comisso. Neste texto, Jesus nos convocar a FAZERMOS DISCPULOS DE TODAS AS NAES. O discipulado o primeiro passo para que todas as demais aconteam. tambm atravs do discipulado que o novo convertido poder encontrar o seu espao na igreja.

No devemos esquecer jamais que o objetivo desta obra mostrar o processo de integrao do novo convertido sob uma viso da sua adaptao cultural. Muitos outros fatores podero contribuir para que a insero do novo convertido se torne mais fcil ou mais difcil. Entretanto, este no o objetivo deste livro.

Quero deixar apenas este conselho final: no tente transformar as pessoas; seja apenas um instrumento usado por Deus!

Que o Poderoso Deus te abenoe!