o north esquecido: um teórico sufocado pelo cepalismo vulgar

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O North esquecido: um teórico sufocado pelo cepalismo vulgar Carlos Águedo Paiva Em seus dois trabalhos mais importantes sobre desenvolvimento regional (North, 1954, 1959) North propõe ue (malgrado raras e honrosas e!"e#ões) o ponto de partida ne "ess$rio do dese nvo lv im ent o end%geno de te rr it%ri os pe ri &'ri "os e o u subdesenvo lvidos ' a produ#o e e!porta#o de mat'rias*primas+ Cepal * e toda a esuerda da m'ri"a -atina. * leu esta assertiva "omo se North dissesse/ especializem-se em matérias-primas.  E sta ser ia a "o ndi #o pa ra o take-off (para a de"olagem, a la 0osto)+ Cara"teri2aria a primeira etapa do desenvolvimento  peri&'ri"o+  3sto era intoler$vel para a esuerda+  o me smo te mpo, Nort h di 2/ a "ondi# o sine qua non para ue a peri&eria se desenvolva ' ue os n"leos urbanos (na"ionais) garantam no apenas a demanda atual, mas uma amplia#o "ontinuada da demanda para a produ#o agrope"u$ria+ ++++ Neste momento North di2/ a produ#o agrope"u$ria sempre se austa 6 demanda (ela ' um setor de livre entrada/ ualuer re"'m*assentado, e!*sem*terra, pode produ2ir "a&'7 mas 998 dos empres$rios ind ust riais do pa s no so "a pa2 es de pro du2ir um ni"o autom%vel+)+ : grande gargalo para o dese nvolvimento dos territ%rios peri&'ri"os ' a demanda para a produ#o agr"ola+ gora ' a direita ue no tolera esta "on"luso+ &irmar ue basta haver demanda ue haver$ aumento de produ#o signi&i"a pretender ue o sistema ' in"apa2 de o"upar  plenamente sua "apa"idad e produtiva a partir de impulsões privadas+ : Estado deve apoiar o "res"imento, alavan"ando a demanda+ 3sto ' ;e<nes+ = ;ale">i+ = polti"a ativa de desenvolvime nto+ : mais grave * e o mais intoler$vel para a direita (e ue passou desper"ebido pela es uerda) ' ue North a"res "en tava 6 "on"l us o an ter ior , out ras tr? s igualment e @in"AmodasB/  1) a "a pa" ida de de multiplicação da me r"a nti li2a# o da agri"ultura ' tan to ma ior uanto mais bem distribuda &or a propriedade e a posse da terra+   Nauilo ue nos interessa/ Para North (e para n%s.) os "amponese s "onsomem na lo"alidade, promovendo a diversi&i"a#o da produ#6o de bens e servi#os em $reas sub* urbanas no entorno do rur al7 os lat i&u ndi $rios impor tam seu bens e ate nde m suas demandas de servi#os so&isti"ados nos mer"ados em ue os mesmos en"ontram*se mais desenvolvidos e espe"iali2 ados+

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7/17/2019 O North esquecido: um teórico sufocado pelo cepalismo vulgar

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O North esquecido: um teórico sufocado pelo cepalismo vulgar

Carlos Águedo Paiva

Em seus dois trabalhos mais importantes sobre desenvolvimento regional (North, 1954,1959) North propõe ue (malgrado raras e honrosas e!"e#ões) o ponto de partidane"ess$rio do desenvolvimento end%geno de territ%rios peri&'ri"os eousubdesenvolvidos ' a produ#o e e!porta#o de mat'rias*primas+

Cepal * e toda a esuerda da m'ri"a -atina. * leu esta assertiva "omo se North

dissesse/ especializem-se em matérias-primas. Esta seria a "ondi#o para o take-off (para a de"olagem, a la 0osto)+ Cara"teri2aria a primeira etapa do desenvolvimento

 peri&'ri"o+ 3sto era intoler$vel para a esuerda+ o mesmo tempo, North di2/ a "ondi#o sine qua non para ue a peri&eria sedesenvolva ' ue os n"leos urbanos (na"ionais) garantam no apenas a demanda atual,mas uma amplia#o "ontinuada da demanda para a produ#o agrope"u$ria+ ++++ Nestemomento North di2/ a produ#o agrope"u$ria sempre se austa 6 demanda (ela ' umsetor de livre entrada/ ualuer re"'m*assentado, e!*sem*terra, pode produ2ir "a&'7 mas998 dos empres$rios industriais do pas no so "apa2es de produ2ir um ni"oautom%vel+)+ : grande gargalo para o desenvolvimento dos territ%rios peri&'ri"os ' ademanda para a produ#o agr"ola+

gora ' a direita ue no tolera esta "on"luso+ &irmar ue basta haver demandaue haver$ aumento de produ#o signi&i"a pretender ue o sistema ' in"apa2 de o"upar 

 plenamente sua "apa"idade produtiva a partir de impulsões privadas+ : Estado deveapoiar o "res"imento, alavan"ando a demanda+ 3sto ' ;e<nes+ = ;ale">i+ = polti"a ativade desenvolvimento+

: mais grave * e o mais intoler$vel para a direita (e ue passou desper"ebido pelaesuerda) ' ue North a"res"entava 6 "on"luso anterior, outras tr?s igualmente@in"AmodasB/ 1) a "apa"idade de multiplicação da mer"antili2a#o da agri"ultura ' tanto maior uanto mais bem distribuda &or a propriedade e a posse da terra+ 

 Nauilo ue nos interessa/ Para North (e para n%s.) os "amponeses "onsomem nalo"alidade, promovendo a diversi&i"a#o da produ#6o de bens e servi#os em $reas sub*urbanas no entorno do rural7 os lati&undi$rios importam seu bens e atendem suasdemandas de servi#os so&isti"ados nos mer"ados em ue os mesmos en"ontram*se mais

desenvolvidos e espe"iali2ados+

7/17/2019 O North esquecido: um teórico sufocado pelo cepalismo vulgar

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 Neste aspe"to, anta Cru2 e Ca!ias esto no mesmo patamar+ mbas "ontam "om peuena propriedade+ +++: ue se e!pressa na demanda e o&erta de servi#os urbanosdiversi&i"ados (ensino, "om'r"io, sade, et"+)

D) a "apa"idade de aceleração da mer"antili2a#o da agri"ultura * vale di2er/ sua"apa"idade de estimular a "omple!i&i"a#o e diversi&i"a#o das atividades b$si"as(e!portadoras) do territit%rios * ' &un#o de determina#ões t'"ni"o*"ompetitivas, ueno podem ser adeuadamente avaliadas em suas "onseu?n"ias so"iais e individuais+

 Nauilo ue nos interessa/ lgumas op#ões produtivas * "omo o &umo * tem &ra"oimpulso a"elerador+ l%gi"a industrial neste setor ' tal ue os elos in&eriores(agrot%!i"os, por e!emplo) e superiores (essen"ialmente, a produ#o de "igarros) somais rent$veis uando instalados em territ%rios distintos dauele ue produ2 o taba"o(bem intermedi$rio)+ i&erentemente, a uva s% pode ser transa"ionada depois de

 bene&i"iada+ es"er a serra "arregando uva in natura para vender em Porto legre era

impossvel no in"io do s'"ulo, sea pela ualidade dos transportes, sea pelas restri#õesdo tamanho do mer"ado urbano para &rutas &res"as, na 'po"a+

: ue se desdobra na assertiva &inal e mais importante/

F) o desenvolvimento s%"io*e"onAmi"o da peri&eria sub*desenvolvida pode se dar de&orma end%gena, via mobili2a#o dos re"ursos disponveis lo"almente (mo de obra eterra por oposi#o a G"apitalG e Gte"nologiaG)+ esde ue o padro &undi$rio seademo"r$ti"o e se "onstitua um sistema lo"al de inova#o estimulador das atividadeslo"ais, de propriedade dos agentes lo"ais+

 No ue interessa/ : desenvolvimento s%"io*e"onAmi"o end%geno da peri&eria s% ' possvel numa determinada institu"ionalidade demo"r$ti"a (no ue tange 6 propriedade)e demo"rati2ante (no ue di2 respeito ao transbordamento, para outras atividades, elos esetores) dos estmulos dinHmi"os do n"leo agrope"u$rio ini"ial+ :s setores tradi"ionaisno podem agir "omo "oron'is ue solapam a diversi&i"a#o+ E um setor pbli"oindependente e aberto a novos atores (vale di2er/ ue no ' "ontrolado por setores einteresses tradi"ionais) ' elemento "ru"ial na "onstru#osustenta#odesenvolvimentodesta institu"ionalidade+

Esta "on"luso &inal s% vai se e!pressar de &orma "lara nos te!tos Ginstitu"ionalistasG de

 North, ue so posteriores 6s suas "ontribui#ões "anAni"as em esenvolvimento0egional (dos anos 5I)+ Jas ela $ se en"ontra l$+ penas estava pressuposta+ Kaledi2er/ Gpr'*sub*postaG+ Jas era absolutamente ine!or$vel+

E, aui voltamos para a Cepal+ Como o ulgamento "epalino das teses de North &oisum$rio e apressado, eles no al"an#aram entender esta determina#o &inal+ :s"epalinos ulgaram ue North &osse "rti"o de polti"as e"onAmi"as desenvolvimentistas+Jas no ' verdade+ North alertava para as "onseu?n"ias perversas do lati&ndio e do"ontrole e!terno (a la &umageiras) da dinHmi"a de diversi&i"a#o industrial do territ%rio+E passa a estudar ual ' o Estado ue ' "apa2 de &a2er a polti"a pbli"a adeuada parao desenvolvido+ Kirando, na ter"eira idade, mais do ue um "ientista polti"o/ um

verdadeiro solapador das "livagens tradi"ionais das Ci?n"ias o"iais+ E aui a outrareei#o da Cepal/ enuanto estruturalistas (e eberianos) ue so, eles s% pensam a

7/17/2019 O North esquecido: um teórico sufocado pelo cepalismo vulgar

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integra#o das Cien"ias o"iais "omo Ginterdis"iplinariedadeG (E"onomia L o"iedade7o"iedade L Cultura7 E"onomia L Polti"a7 et"+)7 e a "i?n"ia "omo sede do dis"urso

 positivo, por oposi#o 6 normati2a#o+ North M na velha tradi#o hegelo*mar!iana M atropela tudo+ E di2 ue a de&esa da re&orma agr$ria e da seletividade industrial (valedi2er/ de polti"as pbli"as de apoio 6 diversi&i"a#o das atividades) podem e devem ser 

levadas 6 &rente "om base em argumentos estritamente positivos+

 North no ' apenas um g?nio, ue introdu2 leituras in%bvias e "ontrastantes "om o senso"omum do "on&lito @positivistas*neo"l$ssivos estruturalistasB, ue dominoutotalmente o debate e"onAmi"o na"ional at' muito pou"o tempo+ Ele ' absolutamenterevolu"ion$rio, a despeito de pare"er absolutamente "onservador (in"lusive em sua

 pr$ti"a polti"o*a"ad?mi"a, avessa a holo&otes e posi"ionamentos pol?mi"os)+ E M a"imade tudo * ele ' absolutamente indigesto para o senso "omum e sua l%gi"a bin$ria, ondetodos os autores t?m ue ser "lassi&i"ados em @bonsB ou @mausB, de @esuerdaB ou @dedireitaB, @aliadosB ou @advers$riosB+ North ' simplesmente ++++ North+